Capítulo Único
Olhei nos olhos daquela doce criatura que estava à minha frente, o sorriso bobo, os cabelos caindo sobre os ombros, os olhos cheios de ternura molhados por toda a situação que estava à nossa volta: Eu, do outro lado da pequena mesa redonda, dando o maior discurso da minha vida. Retirei do bolso do meu terno uma caixinha aveludada vermelha muito velha e gasta e notei que algumas pessoas ao redor seguraram o ar sem muita discrição.
Notei também que a mulher que estava na minha frente mordeu o lábio inferior de maneira quase imperceptível, por dentro da boca.
- Bom, , você aceita se casar comigo? – perguntei por fim. E notei que os olhos antes molhados, agora derramavam pequenas lágrimas que eu supus serem de nervosismo e entusiasmo.
nunca gostou de declarações de afeto em público, principalmente pelo fato de não termos muito sossego em nossa vida particular. Porém, em minha cabeça, aquele pedido de casamento merecia algo mais. Aquela mulher merecia algo mais, já não bastava todo o assédio que vivíamos tendo em nossa vida amorosa... Eu queria que ela tivesse um pedido que representasse a mulher que ela era: maravilhosa e incrível, algo simples e bonito de recordar.
Eu podia ter pedido ela em casamento na nossa sala de estar, assistindo um programa qualquer na TV após um ótimo sexo, ou podíamos ter ido à Disney e eu faria um pedido na frente do Pato Donald, seu personagem preferido, mas eu queria algo bonito e à moda antiga, assim como o anel que agora eu estava lhe oferecendo.
- É claro que quero. – Ela respondeu, com a voz embargada pelo choro. Algumas pessoas ao nosso redor aplaudiram e fingimos não notar, enquanto eu me levantava para colocar a aliança com o diamante solitário, que foi de minha mãe e de minha avó antes disso, em seu dedo.
Colei nossos lábios por um instante enquanto analisava o seu dedo com o anel, ficou largo e ela riu, ainda meio desnorteada com todo o acontecimento.
sabia que eu ia pedir a sua mão em casamento, soltei pequenas pistas durante todo o inverno, perguntando o tamanho do seu dedo, que tipo de anel ela gostava e até se ela ligava para balões ou champagne. Não precisava ser Sherlock Holmes para decifrar as pequenas coisas, porém deixei que ela ficasse curiosa com o dia, o momento e a ocasião. Me ajoelhei à sua frente diversas vezes, apenas para vê-la assustada e logo depois fingia amarrar o sapato ou juntar algo do chão, aquilo acabou virando uma rotina que ela achou banal e acabou “esquecendo-se” de que eu poderia pedir a sua mão em casamento a qualquer momento. Mas no fundo ela sabia que era só uma questão de tempo.
Tomamos uma garrafa de vinho e jantamos feito o casal bobo e apaixonado que éramos. Próximo da meia-noite, seguimos até o meu carro para voltarmos até nossa casa, onde, provavelmente teríamos o nosso primeiro sexo como noivos. se ofereceu para dirigir, já que eu havia tomado algumas taças de vinho a mais do que ela. Apenas dei de ombros, lhe entregando a chave. Seguimos nossa rota, com ela analisando o dedo à luz do luar dentro do carro, seu riso frouxo invadia o ambiente, cruzando com a voz de Paul McCartney que tocava no rádio local.
- Sua mãe realmente aceitou que você me desse este anel? – Perguntou desconfiada, pois ela sabia que a preferência era que Gemma, minha irmã, o usasse.
- Sim, depois de algumas conversas bem-feitas, ela percebeu que eu estava falando sério. – Expliquei. Minha mãe gostava de , gostava principalmente que ela não estava comigo pelo meu dinheiro, já que ela também era rica. Mas este também era o motivo pelo qual minha mãe não gostava o suficiente dela. Na verdade, ninguém nunca estaria a minha altura, segundo ela. - Não quero ser motivo para brigas na sua família, Harry. Você sabe disso, certo?
- Ei, esquece isso. Está tudo bem. – Respondi sorrindo.
- Tá bem, tá bem. É que eu estou nervosa. – Admitiu ela, dando um sorrisinho sem graça.
O que aconteceu a seguir foi tão rápido que não tive tempo para absolutamente nada: um caminhão que estava na rodovia desviou seu percurso por conta de um cervo que atravessou na sua frente, e ele invadiu a nossa pista por um milésimo de segundos, segundos estes que foram o suficiente para que perdesse o controle do volante e batesse o seu lado do carro de frente com o caminhão. Os air-bags foram acionados imediatamente e ficou inconsciente com a batida, o caminhão nos carregou de ré por alguns metros até pararmos. Eu estava acordado durante todo o percurso.
As pessoas não estão brincando quando dizem que a vida passa diante dos nossos olhos quando este tipo de coisa acontece.
Eu me vi em terceira pessoa, sendo segurado por minha mãe em seu colo, vi meus primeiros passos e até minha primeira volta de bicicleta. Acompanhei minha irmã mais nova nos mesmos momentos, conheci o amor da minha vida, me formei no terceiro grau e entrei para o One Direction. Conheci pessoas, comecei carreira solo e cantei em estádios lotados.
Tudo isso em um milésimo de segundos.
Os estilhaços do vidro ao lado de voaram na direção de seu rosto, enquanto meu peito doía com a força do empuxo do cinto de segurança; juro que senti o craque das minhas costelas quebrando. Os cabelos de cobriam seu rosto e sua cabeça estava pendurada inerte, seu tronco sendo segurado apenas pelo cinto enquanto. Minha garganta rasgava em um berro que não consegui soltar enquanto tudo estava em movimento.
- ? – Perguntei quando me recompus. O carro estava destruído, a parte da frente estava tão amassada que eu não podia ver nada pelo para-brisa, apenas um amontoado de ferro amassado. Tentei soltar meu cinto, mas estava emperrado.
Respirei fundo, eu não podia pirar nesse momento. Procurei meu celular, e encontrei-o entre minhas pernas, lugar onde estava desde que entrei no carro.
Disquei 911.
- 911, qual a sua emergência? – a voz feminina perguntou.
- Meu nome é Harry Styles e eu sofri um acidente de carro na interestadual. – Respondi o mais calmo que pude.
- Ok, Sr. Styles, continue na linha para que eu possa lhe rastrear. O senhor está sozinho? – Perguntou ela, ouvi cliques como se estivesse digitando.
- Não, estou com a minha noiva e batemos de frente com um caminhão. – Nunca imaginei que a primeira vez que me referisse a ela como “noiva” seria em uma situação dessas.
- Entendo. O senhor está com algum ferimento que possa sentir ou ver?
- Não, estou com dor nas costelas, mas visivelmente não tem nada. – Expliquei analisando meu tronco.
- Ok. O senhor está dentro ou fora do veículo?
- Estou dentro. Estou preso! – Respondi com certa urgência.
- E você consegue ver algum vestígio de fumaça? Algum cheiro de gasolina ou gás? – Perguntou novamente com a voz calma, eu sabia que acima de tudo, ela estava tentando ganhar tempo para que eu não pirasse. Estava dando certo.
- Não. Sinto apenas cheiro de borracha queimada. – Admiti, depois de analisar melhor os odores a minha volta.
- Ok. E a sua noiva está acordada?
- Não, ela desmaiou com a batida.
- Você consegue alcançá-la? – Perguntou a atendente.
- Acho que sim.
- Então toque com o dedo indicador e o do meio juntos, no pescoço dela, logo abaixo do maxilar. Tem que ser com força e concentre-se para tentar sentir a pulsação.
Fiz o que ela me pediu, e senti muito lentamente o seu batimento cardíaco. Meus olhos se encheram de água. Era como se seu coração já estivesse dando os últimos suspiros de vida.
- Está muito fraco! – Respondi exasperado.
- Não se preocupe Sr. Styles, a ambulância já está a caminho e deverá chegar em no máximo cinco minutos. Tente abrir mais uma vez o cinto de segurança e ver se o senhor consegue sair do veículo, pois o perigo maior agora é que ocorra um engavetamento.
Aquilo nem havia passado pela minha cabeça, então avisei-a que soltaria o celular, mas o manteria em viva-voz e tentei soltar o cinto mais uma vez, com mais calma.
Meus punhos tremiam e quase não consegui acionar a trava, tentei novamente sem sucesso e acabei lembrando que tinha um kit de unhas no porta luvas. “Uma mulher prevenida vale por dois”, eu conseguia ouvir sua voz dizendo.
Narrei meus atos para a mulher do 911, enquanto abria o porta-luvas e alcançava com certa dificuldade a necessaire. Encontrei um cortador de unhas no formato de um alicate e tentei cortar o cinto com ele. Deu certo.
- Sugiro que você não mexa no corpo da sua noiva, Sr. Styles. Deixe para os profissionais que já estão a quatro minutos da sua localização.
Saí pela janela que consegui quebrar com facilidade junto dos instrumentos de unha que haviam no estojo de . Fiz um rasgo na parte de trás da minha coxa durante a fuga, porém a adrenalina não me deixou sentir dor.
Corri até o caminhão, e o motorista estava desacordado assim como . Ele usava um boné de algum time de futebol e a cabeça encostava no vidro da janela fechada. Dei a volta por seu caminhão e encontrei dois cones e um triângulo encaixados na parte lateral traseira do veículo, assim como a moça do 911 me disse que teria. Posicionei os cones e o triângulo como ela me informou e segui para o lado de , para aguardar a ambulância que eu já conseguia ouvir a uma certa distância.
Sentei-me ao seu lado e finalmente desatei a chorar. Seu lado esquerdo tinha vários cortes por conta dos estilhaços do vidro e sua testa sangrava.
A ambulância chegou e perguntei o nome da atendente antes de desligar o telefone.
- Amber.
- Amber, muito obrigada. Não sei o que seria de mim sem você.
Os paramédicos chegaram até mim, e perdi completamente a noção do tempo, enquanto eles me examinavam e colocavam-me na maca enquanto eu pedia para que dessem atenção à noiva que estava desacordada.
Eles perderam a caminho do hospital. Acompanhei o momento com um grito engasgado, enquanto via-os aplicando injeções em seu braço, e apertavam seu peito fazendo massagem cardíaca. Sua mão caiu para fora da maca e vi o anel largo escorregando para o chão da ambulância, não havia costelas quebradas no mundo que doessem tanto quanto aquela cena.
🍷🍷🍷
Acordei respirando alto, meus pulmões pareciam não ter ar o suficiente para mim e senti as mãos quentes de em minhas costas.
Porra! Senti lágrimas encherem meus olhos e me virei para abraçá-la.
- Pesadelo? - perguntou, envolvendo seus braços em minhas costas, entendendo perfeitamente o que se passava em minha cabeça.
- O pior de todos. - respondi ainda me sentindo sufocado pelo sonho ultra realista que eu havia acabado de ter.
- Está tudo bem. - sua voz doce entrou em meus ouvidos e eu respirei fundo me acalmando.
Informei-a que havia sonhado em que ela havia falecido na minha frente e ela me abraçou novamente, passando suas mãos por meu rosto e apertando minhas bochechas.
- Está tudo bem, bobinho. Foi só um pesadelo. - notei que lá fora a luz já estava forte e pulei da cama. Não queria ficar ali e ter a chance do mesmo pesadelo me assombrar.
Espiei pela janela e vi nosso vizinho cortando grama, exatamente como ele havia feito ontem. Virei os olhos xingando-o mentalmente por ser o tipo de pessoa que atrapalha o sono matinal dos vizinhos. Olhei no relógio: 10:30 h. Ok, talvez ele não esteja tão fora assim do horário.
Me peguei pensando no pesadelo novamente, enquanto fumava meu último cigarro da carteira e tomava um café na varanda de trás da casa, onde eu tinha um pouco mais de privacidade. Eu realmente ia pedir a mão de hoje, eu realmente tinha marcado um jantar romântico em um dos nossos restaurantes preferidos e eu realmente esperava que ela dissesse sim, como na parte agradável do sonho. Provavelmente sua morte estava relacionada ao meu medo de rejeição. Bom, pelo menos foi o que o meu terapeuta disse.
Não é o primeiro pesadelo que tenho com ela desse tipo, mas esse com certeza foi o mais vívido e nítido, e de alguma maneira eu não conseguia esquecer dos detalhes, coisa que sempre acontece nos sonhos.
Massageei minhas têmporas, em busca do meu momento de paz com meu café.
Ouvi a porta se abrir devagarinho:
- Harry, está tudo bem? - sua mão tocou a base das minhas costas e subiu até meu ombro, a medida que ela se posicionava ao meu lado. Ela acariciou o local.
- Está sim, só estou meio zonzo por conta do pesadelo. Logo passa. - dei um sorriso fraco, enquanto dava uma tragada.
- Tá bem, qualquer coisa é só chamar ok? Vou pintar um pouco. - é isso, era aqueles simples gestos que me faziam me apaixonar todos os dias por ela. Ela depositou um beijo em meu ombro e saiu.
A observei pintar sua tela, enquanto segurava um papel e caneta e compunha algo interessante para meu novo álbum.
usava um roupão de microfibra branco que lhe caía pelos ombros, os cabelos estavam presos desastrosamente em uma bola de fios em sua nuca, com mais fios soltos do que presos. Senti meu peito apertar, lembrando da sua cabeça pendurada de qualquer jeito em meu sonho.
Ela pintava um quadro que parecia ser a vista de um hotel que fomos no mês passado, tinha um lago, hortênsias e grama verde. Estava lindo, assim como tudo que ela fazia. Ela amava pintar quadros como este, paisagens lindas que remetiam a sua memória mais doce, e eu amava ter como levá-la em lugares como este, para que sua memória fotográfica gravasse tudo com perfeição e depois ela pudesse reproduzir com maestria. tinha uma galeria de arte no centro de Manhattan, a reencontrei quando fez uma exposição dos quadros de uma artista local que recriava capaz de álbuns de artistas com um toque contemporâneo e artístico que eu nem tenho capacidade de descrever. Meu álbum Fine Line estava incluso na sua lista e foi o que chamou a atenção de minha agente, que me chamou para vê-lo. Porém eu a conhecia de muito antes.
Escrevi na folha de papel:
There's just no getting through without you
A bottle of rouge
Just me and you
🍷🍷🍷
Flashback
Observei da varanda do meu quarto a nova família levando sua mudança para dentro de casa. Havia uma cadeira de madeira que eu gostava de usar para dedilhar algumas notas em meu violão, pensando na vida.
Eu tinha 15 anos.
Havia um Golden Retriever andando de um lado ao outro balançando o rabo, um homem alto com a pele morena e uma mulher negra, eles deviam ter uns 40 e poucos anos. Um menino brincava de carrinho na varanda da casa e uma garota com aparentemente a minha idade usava um headphone enquanto levava suas coisas para dentro. Não demorou muito para eu perceber que seu quarto era de frente para o meu.
Sua primeira aparição na janela foi alguns minutos depois do caminhão de mudança ir embora. Ela foi até o batente, suspirou alto e só então me avistou. Acenei com a mão querendo ser mais maneiro do que realmente era. Ela devolveu o aceno sorrindo timidamente, mostrando-me seu sorriso metálico. Ela era linda.
Era isso, eu estava oficialmente apaixonado.
Desci as escadas correndo e pedi para minha mãe fazer um bolo de boas-vindas enquanto segui para a casa dos novos vizinhos. Escalei pelo lado de fora e cheguei em sua janela.
- Oi, vizinha. – falei entrando em seu quarto. A garota se assustou por um segundo e depois sorriu como se aquilo fosse normal. Eu sabia que não era.
- Oi, vizinho, isso vai se tornar algo recorrente? – perguntou, se referindo à minha entrada pela janela.
- Creio que sim, meu melhor amigo morava aqui e eu tinha esse costume. – Expliquei, enquanto ela retirava algumas coisas das caixas e colocava sobre a cama.
- Ele nunca reclamou de você ser intrometido ou inconveniente? – perguntou afiada e eu dei uma risada. Seu cabelo tinha várias trancinhas e deslizavam por seus ombros como uma cachoeira.
- Na verdade sim, mas nunca levei muito a sério. – dei de ombros e ela rolou os olhos, mas com um semblante divertido no rosto. – Sou Harry.
- , mas todos me chamam de . – Apertamos as mãos.
- É um prazer te conhecer, , seja bem-vinda à vizinhança.
Apertamos as mãos.
- Obrigada, mas não se apegue. Meu pai é militar e provavelmente estarei me mudando em breve.
A mudança nunca aconteceu e minhas idas em seu quarto pulando a janela viraram um hábito e nossa marca registrada.
Fim do flashback
Aquele dia continuou estranho quando fui pegar uma nova carteira de cigarros no bolso da minha jaqueta e não encontrei.
- , você viu a carteira de cigarros que comprei ontem? – perguntei rapidamente no batente da porta, não querendo atrapalhar sua concentração enquanto pintava.
- Querido, não lembro de você ter comprado cigarros ontem. Mas posso estar enganada. – ela disse, apenas virando o rosto para mim.
- Ok, vou sair para comprar e já aproveito para trazer um almoço. O que você quer comer? – perguntei, encostando o rosto no batente da porta do seu estúdio de pintura.
- Sushi. – respondeu rápido.
- Sushi então. – concordei e ela mandou um beijo no ar enquanto eu já me virava para sair.
Ainda meio traumatizado pelo pesadelo, resolvi ir de bicicleta. Pus meus óculos escuros, um boné que usava nesse tipo de situação e segui à mercearia.
Pedi meu Malboro vermelho de costume e acabei comprando um isqueiro, pois deixei o meu em casa. Acendi um e pus na boca enquanto saía.
Na volta, passei em nosso restaurante japonês favorito e comprei um combo de sushi que achei que nos agradaria. Aproveitei o bom humor que o cigarro me proporcionou e comprei um buquê improvisado de magnólias de uma senhorinha que estava na rua. Era improvisado pois tratava-se de três galhos com duas flores cada, misturavam-se as cores entre brancas e rosa.
- Harry! É lindo! – Disse ela, encostando o nariz na flor. Seus olhos doces encontraram os meus e ela empurrou meu ombro enquanto ainda sorria bobo; tenho certeza de que meu sorriso era ainda mais bobo. Almoçamos tranquilamente na bancada da cozinha.
- Você está melhor? – me perguntou, beijando o topo de minha cabeça enquanto colocava a louça na pia.
- Na verdade, não. Não consigo esquecer esse pesadelo, foi horrível. Não é como a maioria dos sonhos que logo que você acorda, já esquece e segue o dia normalmente. E ainda tem essa sensação estranha de dejavù que não passa. Sabe quando você pensa que já viveu aquele momento? Eu estou preso nessa sensação o dia inteiro. – Admiti a ela. era minha melhor amiga, minha amante e minha confidente, eu sabia que ela saberia o que dizer para me fazer sentir melhor, não tinha motivos para esconder aquilo dela.
- Vamos fazer algo a tarde para você tentar esquecer isso, que tal darmos uma volta no parque? Irmos no museu, ou bebermos algumas taças de vinho... – sugeriu ela, entranhando seus dedos em meus cabelos, coisa que ela sabia que eu gostava. Fechei os olhos apreciando o momento.
puxou minha cabeça para trás delicadamente e beijou meus lábios, como ela estava atrás de mim, a sensação do beijo era como se estivéssemos de cabeça para baixo.
Fizemos tudo que ela sugeriu, passeamos com nossa cachorra no parque, depois seguimos para um museu que ela adorava ir. Museus não eram muito a minha praia, mas eu gostava de acompanhá-la assim como ela gostava de me acompanhar em eventos que eu sabia que não eram a praia dela. não gostava de como as pessoas olhavam para mim nesses eventos.
“Eles não te olham com o coração, olham como se você fosse uma pilha de dinheiro ou um pedaço de carne que podem cortar e levar um pedacinho para casa”.
Ela não se importava com o assédio de fãs ou até de algumas famosas, era decidida, confiante e ponto, ela sabia que meu coração era seu e não se importava em quantas músicas Taylor Swift havia escrito com meu nome.
🍷🍷🍷
Flashback
- Harry, esta é , a dona do estabelecimento. – Tiff disse, me apresentando uma mulher negra, linda e indescritivelmente cheirosa. Meu coração deu um baque surdo e senti todos os membros do meu corpo formigarem. Era , a minha .
Seus dentes eram grandes e brancos, seu nariz era empinado e seus lábios eram carnudos e convidativos, como sempre.
Tiff provavelmente notou que fiquei boquiaberto com a entrada da mulher e pigarreou, me fazendo sair do transe.
- ? – perguntei ainda boquiaberto enquanto ela abria um largo sorriso.
- Fiquei com medo de que você não fosse me reconhecer! – Admitiu ela e eu simplesmente a abracei. O aconchego do seu abraço ainda era o mesmo, e meu coração descompassado também. era o meu amor de infância. Nunca tivemos a chance de nos despedirmos direito. Eu simplesmente tive que me mudar para iniciar a 1D e no dia que fiz minhas malas correndo, não estava em casa. Cansei-me de dormir em seu quarto, conversando sobre qualquer aleatoriedade de adolescentes e secretamente escrevi várias músicas para ela. Todas aquelas sensações chegaram em meu corpo em um turbilhão quando lembrei-me de estar no carro e ver a sua casa afastando-se até virar um pontinho branco.
- Eu nunca te esqueceria. – a frase fugiu da minha boca feito um foguete e não consegui segurar. Até Tiff ficou sem graça. apenas riu. Ela não parecia tão entorpecida com o reencontro quanto eu.
- Obrigada por ter encontrado um tempinho na sua agenda para vir. Fico muito feliz.
- Está brincando? Este lugar é incrível! – Falei e Tiff concordou com a cabeça, provavelmente pensando “Este miserável nunca viria aqui se não fosse por mim”.
O lugar realmente era incrível, o chão era de madeira, tão encerado e lustroso que daria para comer o que caísse ali. As paredes onde as artes eram expostas eram brancas e os pilares que separavam elas eram vermelho-sangue, em um canto ou outro havia uma planta dando um ar de comodidade e os holofotes estavam posicionados nos locais certos.
- Então vamos dar uma voltinha, posso te mostrar um pouco da exposição de hoje? – perguntou, colocando as mãos na cintura, atraindo minha atenção para sua roupa: um vestido vermelho elegante o suficiente para uma dona de galeria de arte, mas despojado o bastante para não ser levada tão a sério. Tinha um decote em forma de coração, tiras largas nos ombros, era apertado em seu tronco e mais soltinho na parte das pernas, o comprimento batia abaixo dos joelhos. Nos pés ela usava um tênis com a base alta colorido que quebrava completamente o contraste do vestido bonito.
Não foi novidade para simplesmente ninguém de que fiquei de quatro por ela, Tiff veio me pedir para fechar a boca umas quatro vezes durante a noite inteira e eu podia simplesmente ficar ouvindo-a falar sobre as obras a noite inteira, e provavelmente parte do dia seguinte também.
Me machucou o peito quando tive que me despedir dela e engoli seco quando notei que o meu interesse não parecia ser recíproco. Mesmo assim, pedi seu número de celular e ela sorriu educadamente ao me passar.
Parecia humilhação pedir o seu número de telefone, vendo que seu interesse em mim era tão baixo quanto o meu em qualquer outra mulher que estava no ambiente, mas eu não consegui me segurar.
Fim do Flashback
🍇🍇🍇
À noite, coloquei uma camisa branca com o colarinho aberto e um terno preto por cima. Peguei a pequena caixinha de veludo e coloquei em um bolso interno.
desceu as escadas quinze minutos depois de eu ficar pronto, ela usava um vestido preto colado no corpo, com um decote quadrado com mangas compridas, nos pés ela usava um sapato alto com o salto quadrado, que ela costumava dizer que era o seu salto Ariana Grande e seus cabelos estavam soltos, com os cachos lindos e volumosos do jeito que eu amava.
Me deu um selinho antes de seguirmos, e minhas mãos suavam.
Seguimos ao nosso restaurante preferido, que era mais afastado do centro da cidade e tinha que pegar a interestadual para chegar no local. Pensei em mudar os planos durante o dia, mas era paranoia, certo? Não me parecia correto cancelar uma reserva de quase um mês de antecedência por conta de um sonho besta que no momento eu nem lembrava mais direito. e eu mudamos o nosso plano durante a tarde e isto pareceu fazer com que o pesadelo estivesse bem mais longe do que realmente estava. Durante nosso passeio vespertino, tive a sensação de tudo novo, como se eu não tivesse feito aquilo no sonho, e por algum motivo isso fez minha cabeça desestressar.
Chegamos ao restaurante e fiz questão de abrir a porta do carro para ela, que saiu do veículo dando risada.
- Você está surpreendentemente galante hoje Harry, o que houve? – Perguntou segurando a mão que eu estendia a ela.
- Só estou te tratando como você deve ser tratada sempre. É um crime? – Respondi sua pergunta com outra pergunta e ela riu mais ainda. Eu amava seu riso frouxo, algo que tinha desde jovem.
- Não mesmo. Eu adoro esse Harry cuidadoso, inclusive acho que ele pode aparecer com mais frequência. - Não fala assim, parece que sou um monstro o resto do tempo! – Me defendi e ela passou as mãos pelo meu braço.
- Não é isso! – Deu uma risada. – Você é um amor, só não abre sempre a porta do carro e me dá a mão.
Entramos no restaurante com seu braço enganchado no meu, o recepcionista nos guiou até nossa mesa reservada e chamou o garçom.
- Boa noite, sou Viktor, serei o garçom de vocês esta noite. – Falou me entregando a cartela de vinhos, que encaminhei diretamente para . Pedi duas saladas caesar e duas bruschettas caprese de entrada, pois já era nosso prato favorito do local.
escolheu o vinho e pediu duas taças.
- Por favor, me traga apenas uma. Estou meio indisposto com álcool hoje. Você consegue me trazer um suco de uva no lugar?
O garçom apenas assentiu.
- Ainda vestígios do pesadelo? – Perguntou delicada, não querendo realmente trazer o assunto à tona. Apenas concordei com a cabeça.
Em menos de um minuto, Viktor já estava nos servindo. Serviu o vinho de e meu suco que era integral e estava tão bom quanto um vinho verdadeiro.
- . – Chamei-a e minhas mãos suaram. – Preciso te falar algo que está preso dentro de mim há muito tempo.
Seus olhos me acompanharam e ela esticou a mão sobre a mesa para que eu segurasse, se ela notou que minhas mãos suavam, fingiu não notar. Eu estava mais nervoso do que minha primeira apresentação no X Factor.
- O dia que eu escalei aquela janela, depois de ter escalado tantas outras vezes para visitar meu amigo, foi o dia que mudou a minha vida para sempre. Você não sabe o quanto aquele aceno devolvido foi importante para a pessoa que eu sou hoje. Minha cabeça girou, meu coração disparou e minha mão suou quando vi sua família se mudando e principalmente quando te vi na janela ao lado da minha. A sua amizade foi algo que me fortaleceu de modo inimaginável, e quando eu tive que partir sem me despedir, foi algo que me despedaçou por dentro. Foi bom, pois consegui escrever algumas boas músicas com aquele sentimento. Você sempre foi uma inspiração para mim. – Ela me olhava com seus olhos doces, com a cabeça levemente inclinada e seu dedão fazia um carinho completamente involuntário em minha mão.
- Quando eu finalmente te reencontrei, adulta, foi como se tudo que havia despedaçado dentro de mim finalmente fizesse sentido. Eu finalmente lembrei o motivo de tantos pedaços e senti meu corpo ir unindo-os parte por parte. Você estava tão linda naquele vestido, e eu nunca te quis tanto. Meu corpo clamava pelo seu toque, e eu ainda sentia que para você o sentimento não era recíproco, o que só me deixava mais frustrado! Como foi difícil para mim ver que você havia criado uma vida perfeita sem mim... Como eu iria aceitar que minha vida era incompleta sem você, sendo que a sua era perfeita sem mim? Minha mente virou um turbilhão até o momento que você me beijou de maneira completamente inconsequente debaixo de uma tempestade que podia nos deixar gravemente feridos em um hospital. Era o que eu mais queria. E o furacão podia nos levar embora que eu simplesmente morreria feliz, sabendo que nossos caminhos estavam finalmente cruzados. – Algumas pessoas ao nosso redor pararam o que estavam fazendo para prestar atenção no meu discurso. Aquilo me irritava, mas eu não queria estragar nosso momento ou o meu discurso para brigar com estranhos.
- , eu me sinto completo quando estou contigo. Você é a minha melhor amiga, sempre foi. Você é a pessoa que sabe todos os meus segredos, me conhece melhor do que ninguém, é incrivelmente talentosa e perfeitamente sensata. Eu amo estar com você mais do que com qualquer pessoa no mundo. – Falei, fazendo seus olhos marejarem. Soltei sua mão delicadamente sobre a mesa, e usei minha mão para pegar a caixinha no bolso interno do meu paletó. Abri-o na sua frente, fazendo-a colocar as duas mãos sobre o peito.
- Bom, , você aceita se casar comigo? – Perguntei por fim, analisando seu sorriso absolutamente perfeito.
- É claro que quero. – Disse, com a voz falha e embargada pelo choro.
Na volta para casa, fui dirigindo mesmo odiando dirigir do lado errado da pista. Liguei o rádio e a mesma música de Paul McCartney tocava, meu coração descompassou, fazendo-me lembrar do maldito pesadelo.
🍇🍇🍇
Ponto de vista da
Harry estava desacordado ao meu lado, sua cabeça pendia inerte sendo segurada apenas pelo seu tronco preso pelo cinto de segurança.
Respirei fundo.
Ok, um, dois, três. Você teve treinamento militar do seu pai. Respira .
Meu cinto de segurança estava emperrado, mas lembrei do meu kit de unhas que ficava no porta-luvas. Cortei o cinto com facilidade e procurei meu celular que escapou da minha mão na batida. Lembrei-me da mania de Harry de sempre ficar com o celular no meio das pernas, e por sorte seu celular estava ali. Disquei 911 enquanto saía pela janela do carro. Corri para o lado de Harry para checar seu pulso. Estava fraco, e inconstante. Chequei as vértebras de seu pescoço e analisei seu corpo: seu ombro parecia estar deslocado.
- 911, qual a sua emergência? – Uma voz feminina atendeu.
- Meu nome é , uma unidade de emergência está indo ao seu local. Você está dentro do veículo?
- Não. – Respondi me levantando e me afastando de Harry, retirei a chave da ignição e abri o porta-malas. – Estou dispondo as sinalizações de emergência.
Coloquei um triângulo na posição correta atrás de nosso carro e segui até o caminhão, pegando as sinalizações dele para ajudar enquanto falava com Amber, a mulher que me atendeu.
O motorista do caminhão também estava desacordado, mas seus batimentos estavam mais fortes e constantes.
- Perfeito. O ideal agora é aguardar até que a unidade chegue ao local, Sra.
🍇🍇🍇
veio me visitar algumas horas depois que saí da sala de observação. Ela estava bem. Apenas um arranhão na têmpora.
- Você me salvou, Styles. – Ela disse, os olhos marejados sentando-se ao meu lado na cama.
Eu não conseguia falar, e meu rosto estava completamente enfaixado, mas não consegui conter as lágrimas, vendo-a tão vulnerável e viva.
Fiz sinal com as mãos, para que ela entendesse que ela havia me salvado.
- Não, você mudou o seu sonho. Foi isso que me manteve viva.
Tentei abrir os braços para que ela me abraçasse, mas meu ombro doeu. Ela deu uma risada tristonha e me abraçou de um jeito que não me machucasse tanto.
- Vai ficar tudo bem, Harry. Estamos juntos, como deveríamos estar desde o início.
There's never been someone who's so perfect for me
Notei também que a mulher que estava na minha frente mordeu o lábio inferior de maneira quase imperceptível, por dentro da boca.
- Bom, , você aceita se casar comigo? – perguntei por fim. E notei que os olhos antes molhados, agora derramavam pequenas lágrimas que eu supus serem de nervosismo e entusiasmo.
nunca gostou de declarações de afeto em público, principalmente pelo fato de não termos muito sossego em nossa vida particular. Porém, em minha cabeça, aquele pedido de casamento merecia algo mais. Aquela mulher merecia algo mais, já não bastava todo o assédio que vivíamos tendo em nossa vida amorosa... Eu queria que ela tivesse um pedido que representasse a mulher que ela era: maravilhosa e incrível, algo simples e bonito de recordar.
Eu podia ter pedido ela em casamento na nossa sala de estar, assistindo um programa qualquer na TV após um ótimo sexo, ou podíamos ter ido à Disney e eu faria um pedido na frente do Pato Donald, seu personagem preferido, mas eu queria algo bonito e à moda antiga, assim como o anel que agora eu estava lhe oferecendo.
- É claro que quero. – Ela respondeu, com a voz embargada pelo choro. Algumas pessoas ao nosso redor aplaudiram e fingimos não notar, enquanto eu me levantava para colocar a aliança com o diamante solitário, que foi de minha mãe e de minha avó antes disso, em seu dedo.
Colei nossos lábios por um instante enquanto analisava o seu dedo com o anel, ficou largo e ela riu, ainda meio desnorteada com todo o acontecimento.
sabia que eu ia pedir a sua mão em casamento, soltei pequenas pistas durante todo o inverno, perguntando o tamanho do seu dedo, que tipo de anel ela gostava e até se ela ligava para balões ou champagne. Não precisava ser Sherlock Holmes para decifrar as pequenas coisas, porém deixei que ela ficasse curiosa com o dia, o momento e a ocasião. Me ajoelhei à sua frente diversas vezes, apenas para vê-la assustada e logo depois fingia amarrar o sapato ou juntar algo do chão, aquilo acabou virando uma rotina que ela achou banal e acabou “esquecendo-se” de que eu poderia pedir a sua mão em casamento a qualquer momento. Mas no fundo ela sabia que era só uma questão de tempo.
Tomamos uma garrafa de vinho e jantamos feito o casal bobo e apaixonado que éramos. Próximo da meia-noite, seguimos até o meu carro para voltarmos até nossa casa, onde, provavelmente teríamos o nosso primeiro sexo como noivos. se ofereceu para dirigir, já que eu havia tomado algumas taças de vinho a mais do que ela. Apenas dei de ombros, lhe entregando a chave. Seguimos nossa rota, com ela analisando o dedo à luz do luar dentro do carro, seu riso frouxo invadia o ambiente, cruzando com a voz de Paul McCartney que tocava no rádio local.
- Sua mãe realmente aceitou que você me desse este anel? – Perguntou desconfiada, pois ela sabia que a preferência era que Gemma, minha irmã, o usasse.
- Sim, depois de algumas conversas bem-feitas, ela percebeu que eu estava falando sério. – Expliquei. Minha mãe gostava de , gostava principalmente que ela não estava comigo pelo meu dinheiro, já que ela também era rica. Mas este também era o motivo pelo qual minha mãe não gostava o suficiente dela. Na verdade, ninguém nunca estaria a minha altura, segundo ela. - Não quero ser motivo para brigas na sua família, Harry. Você sabe disso, certo?
- Ei, esquece isso. Está tudo bem. – Respondi sorrindo.
- Tá bem, tá bem. É que eu estou nervosa. – Admitiu ela, dando um sorrisinho sem graça.
O que aconteceu a seguir foi tão rápido que não tive tempo para absolutamente nada: um caminhão que estava na rodovia desviou seu percurso por conta de um cervo que atravessou na sua frente, e ele invadiu a nossa pista por um milésimo de segundos, segundos estes que foram o suficiente para que perdesse o controle do volante e batesse o seu lado do carro de frente com o caminhão. Os air-bags foram acionados imediatamente e ficou inconsciente com a batida, o caminhão nos carregou de ré por alguns metros até pararmos. Eu estava acordado durante todo o percurso.
As pessoas não estão brincando quando dizem que a vida passa diante dos nossos olhos quando este tipo de coisa acontece.
Eu me vi em terceira pessoa, sendo segurado por minha mãe em seu colo, vi meus primeiros passos e até minha primeira volta de bicicleta. Acompanhei minha irmã mais nova nos mesmos momentos, conheci o amor da minha vida, me formei no terceiro grau e entrei para o One Direction. Conheci pessoas, comecei carreira solo e cantei em estádios lotados.
Tudo isso em um milésimo de segundos.
Os estilhaços do vidro ao lado de voaram na direção de seu rosto, enquanto meu peito doía com a força do empuxo do cinto de segurança; juro que senti o craque das minhas costelas quebrando. Os cabelos de cobriam seu rosto e sua cabeça estava pendurada inerte, seu tronco sendo segurado apenas pelo cinto enquanto. Minha garganta rasgava em um berro que não consegui soltar enquanto tudo estava em movimento.
- ? – Perguntei quando me recompus. O carro estava destruído, a parte da frente estava tão amassada que eu não podia ver nada pelo para-brisa, apenas um amontoado de ferro amassado. Tentei soltar meu cinto, mas estava emperrado.
Respirei fundo, eu não podia pirar nesse momento. Procurei meu celular, e encontrei-o entre minhas pernas, lugar onde estava desde que entrei no carro.
Disquei 911.
- 911, qual a sua emergência? – a voz feminina perguntou.
- Meu nome é Harry Styles e eu sofri um acidente de carro na interestadual. – Respondi o mais calmo que pude.
- Ok, Sr. Styles, continue na linha para que eu possa lhe rastrear. O senhor está sozinho? – Perguntou ela, ouvi cliques como se estivesse digitando.
- Não, estou com a minha noiva e batemos de frente com um caminhão. – Nunca imaginei que a primeira vez que me referisse a ela como “noiva” seria em uma situação dessas.
- Entendo. O senhor está com algum ferimento que possa sentir ou ver?
- Não, estou com dor nas costelas, mas visivelmente não tem nada. – Expliquei analisando meu tronco.
- Ok. O senhor está dentro ou fora do veículo?
- Estou dentro. Estou preso! – Respondi com certa urgência.
- E você consegue ver algum vestígio de fumaça? Algum cheiro de gasolina ou gás? – Perguntou novamente com a voz calma, eu sabia que acima de tudo, ela estava tentando ganhar tempo para que eu não pirasse. Estava dando certo.
- Não. Sinto apenas cheiro de borracha queimada. – Admiti, depois de analisar melhor os odores a minha volta.
- Ok. E a sua noiva está acordada?
- Não, ela desmaiou com a batida.
- Você consegue alcançá-la? – Perguntou a atendente.
- Acho que sim.
- Então toque com o dedo indicador e o do meio juntos, no pescoço dela, logo abaixo do maxilar. Tem que ser com força e concentre-se para tentar sentir a pulsação.
Fiz o que ela me pediu, e senti muito lentamente o seu batimento cardíaco. Meus olhos se encheram de água. Era como se seu coração já estivesse dando os últimos suspiros de vida.
- Está muito fraco! – Respondi exasperado.
- Não se preocupe Sr. Styles, a ambulância já está a caminho e deverá chegar em no máximo cinco minutos. Tente abrir mais uma vez o cinto de segurança e ver se o senhor consegue sair do veículo, pois o perigo maior agora é que ocorra um engavetamento.
Aquilo nem havia passado pela minha cabeça, então avisei-a que soltaria o celular, mas o manteria em viva-voz e tentei soltar o cinto mais uma vez, com mais calma.
Meus punhos tremiam e quase não consegui acionar a trava, tentei novamente sem sucesso e acabei lembrando que tinha um kit de unhas no porta luvas. “Uma mulher prevenida vale por dois”, eu conseguia ouvir sua voz dizendo.
Narrei meus atos para a mulher do 911, enquanto abria o porta-luvas e alcançava com certa dificuldade a necessaire. Encontrei um cortador de unhas no formato de um alicate e tentei cortar o cinto com ele. Deu certo.
- Sugiro que você não mexa no corpo da sua noiva, Sr. Styles. Deixe para os profissionais que já estão a quatro minutos da sua localização.
Saí pela janela que consegui quebrar com facilidade junto dos instrumentos de unha que haviam no estojo de . Fiz um rasgo na parte de trás da minha coxa durante a fuga, porém a adrenalina não me deixou sentir dor.
Corri até o caminhão, e o motorista estava desacordado assim como . Ele usava um boné de algum time de futebol e a cabeça encostava no vidro da janela fechada. Dei a volta por seu caminhão e encontrei dois cones e um triângulo encaixados na parte lateral traseira do veículo, assim como a moça do 911 me disse que teria. Posicionei os cones e o triângulo como ela me informou e segui para o lado de , para aguardar a ambulância que eu já conseguia ouvir a uma certa distância.
Sentei-me ao seu lado e finalmente desatei a chorar. Seu lado esquerdo tinha vários cortes por conta dos estilhaços do vidro e sua testa sangrava.
A ambulância chegou e perguntei o nome da atendente antes de desligar o telefone.
- Amber.
- Amber, muito obrigada. Não sei o que seria de mim sem você.
Os paramédicos chegaram até mim, e perdi completamente a noção do tempo, enquanto eles me examinavam e colocavam-me na maca enquanto eu pedia para que dessem atenção à noiva que estava desacordada.
Eles perderam a caminho do hospital. Acompanhei o momento com um grito engasgado, enquanto via-os aplicando injeções em seu braço, e apertavam seu peito fazendo massagem cardíaca. Sua mão caiu para fora da maca e vi o anel largo escorregando para o chão da ambulância, não havia costelas quebradas no mundo que doessem tanto quanto aquela cena.
Acordei respirando alto, meus pulmões pareciam não ter ar o suficiente para mim e senti as mãos quentes de em minhas costas.
Porra! Senti lágrimas encherem meus olhos e me virei para abraçá-la.
- Pesadelo? - perguntou, envolvendo seus braços em minhas costas, entendendo perfeitamente o que se passava em minha cabeça.
- O pior de todos. - respondi ainda me sentindo sufocado pelo sonho ultra realista que eu havia acabado de ter.
- Está tudo bem. - sua voz doce entrou em meus ouvidos e eu respirei fundo me acalmando.
Informei-a que havia sonhado em que ela havia falecido na minha frente e ela me abraçou novamente, passando suas mãos por meu rosto e apertando minhas bochechas.
- Está tudo bem, bobinho. Foi só um pesadelo. - notei que lá fora a luz já estava forte e pulei da cama. Não queria ficar ali e ter a chance do mesmo pesadelo me assombrar.
Espiei pela janela e vi nosso vizinho cortando grama, exatamente como ele havia feito ontem. Virei os olhos xingando-o mentalmente por ser o tipo de pessoa que atrapalha o sono matinal dos vizinhos. Olhei no relógio: 10:30 h. Ok, talvez ele não esteja tão fora assim do horário.
Me peguei pensando no pesadelo novamente, enquanto fumava meu último cigarro da carteira e tomava um café na varanda de trás da casa, onde eu tinha um pouco mais de privacidade. Eu realmente ia pedir a mão de hoje, eu realmente tinha marcado um jantar romântico em um dos nossos restaurantes preferidos e eu realmente esperava que ela dissesse sim, como na parte agradável do sonho. Provavelmente sua morte estava relacionada ao meu medo de rejeição. Bom, pelo menos foi o que o meu terapeuta disse.
Não é o primeiro pesadelo que tenho com ela desse tipo, mas esse com certeza foi o mais vívido e nítido, e de alguma maneira eu não conseguia esquecer dos detalhes, coisa que sempre acontece nos sonhos.
Massageei minhas têmporas, em busca do meu momento de paz com meu café.
Ouvi a porta se abrir devagarinho:
- Harry, está tudo bem? - sua mão tocou a base das minhas costas e subiu até meu ombro, a medida que ela se posicionava ao meu lado. Ela acariciou o local.
- Está sim, só estou meio zonzo por conta do pesadelo. Logo passa. - dei um sorriso fraco, enquanto dava uma tragada.
- Tá bem, qualquer coisa é só chamar ok? Vou pintar um pouco. - é isso, era aqueles simples gestos que me faziam me apaixonar todos os dias por ela. Ela depositou um beijo em meu ombro e saiu.
A observei pintar sua tela, enquanto segurava um papel e caneta e compunha algo interessante para meu novo álbum.
usava um roupão de microfibra branco que lhe caía pelos ombros, os cabelos estavam presos desastrosamente em uma bola de fios em sua nuca, com mais fios soltos do que presos. Senti meu peito apertar, lembrando da sua cabeça pendurada de qualquer jeito em meu sonho.
Ela pintava um quadro que parecia ser a vista de um hotel que fomos no mês passado, tinha um lago, hortênsias e grama verde. Estava lindo, assim como tudo que ela fazia. Ela amava pintar quadros como este, paisagens lindas que remetiam a sua memória mais doce, e eu amava ter como levá-la em lugares como este, para que sua memória fotográfica gravasse tudo com perfeição e depois ela pudesse reproduzir com maestria. tinha uma galeria de arte no centro de Manhattan, a reencontrei quando fez uma exposição dos quadros de uma artista local que recriava capaz de álbuns de artistas com um toque contemporâneo e artístico que eu nem tenho capacidade de descrever. Meu álbum Fine Line estava incluso na sua lista e foi o que chamou a atenção de minha agente, que me chamou para vê-lo. Porém eu a conhecia de muito antes.
Escrevi na folha de papel:
There's just no getting through without you
A bottle of rouge
Just me and you
Flashback
Observei da varanda do meu quarto a nova família levando sua mudança para dentro de casa. Havia uma cadeira de madeira que eu gostava de usar para dedilhar algumas notas em meu violão, pensando na vida.
Eu tinha 15 anos.
Havia um Golden Retriever andando de um lado ao outro balançando o rabo, um homem alto com a pele morena e uma mulher negra, eles deviam ter uns 40 e poucos anos. Um menino brincava de carrinho na varanda da casa e uma garota com aparentemente a minha idade usava um headphone enquanto levava suas coisas para dentro. Não demorou muito para eu perceber que seu quarto era de frente para o meu.
Sua primeira aparição na janela foi alguns minutos depois do caminhão de mudança ir embora. Ela foi até o batente, suspirou alto e só então me avistou. Acenei com a mão querendo ser mais maneiro do que realmente era. Ela devolveu o aceno sorrindo timidamente, mostrando-me seu sorriso metálico. Ela era linda.
Era isso, eu estava oficialmente apaixonado.
Desci as escadas correndo e pedi para minha mãe fazer um bolo de boas-vindas enquanto segui para a casa dos novos vizinhos. Escalei pelo lado de fora e cheguei em sua janela.
- Oi, vizinha. – falei entrando em seu quarto. A garota se assustou por um segundo e depois sorriu como se aquilo fosse normal. Eu sabia que não era.
- Oi, vizinho, isso vai se tornar algo recorrente? – perguntou, se referindo à minha entrada pela janela.
- Creio que sim, meu melhor amigo morava aqui e eu tinha esse costume. – Expliquei, enquanto ela retirava algumas coisas das caixas e colocava sobre a cama.
- Ele nunca reclamou de você ser intrometido ou inconveniente? – perguntou afiada e eu dei uma risada. Seu cabelo tinha várias trancinhas e deslizavam por seus ombros como uma cachoeira.
- Na verdade sim, mas nunca levei muito a sério. – dei de ombros e ela rolou os olhos, mas com um semblante divertido no rosto. – Sou Harry.
- , mas todos me chamam de . – Apertamos as mãos.
- É um prazer te conhecer, , seja bem-vinda à vizinhança.
Apertamos as mãos.
- Obrigada, mas não se apegue. Meu pai é militar e provavelmente estarei me mudando em breve.
A mudança nunca aconteceu e minhas idas em seu quarto pulando a janela viraram um hábito e nossa marca registrada.
Fim do flashback
Aquele dia continuou estranho quando fui pegar uma nova carteira de cigarros no bolso da minha jaqueta e não encontrei.
- , você viu a carteira de cigarros que comprei ontem? – perguntei rapidamente no batente da porta, não querendo atrapalhar sua concentração enquanto pintava.
- Querido, não lembro de você ter comprado cigarros ontem. Mas posso estar enganada. – ela disse, apenas virando o rosto para mim.
- Ok, vou sair para comprar e já aproveito para trazer um almoço. O que você quer comer? – perguntei, encostando o rosto no batente da porta do seu estúdio de pintura.
- Sushi. – respondeu rápido.
- Sushi então. – concordei e ela mandou um beijo no ar enquanto eu já me virava para sair.
Ainda meio traumatizado pelo pesadelo, resolvi ir de bicicleta. Pus meus óculos escuros, um boné que usava nesse tipo de situação e segui à mercearia.
Pedi meu Malboro vermelho de costume e acabei comprando um isqueiro, pois deixei o meu em casa. Acendi um e pus na boca enquanto saía.
Na volta, passei em nosso restaurante japonês favorito e comprei um combo de sushi que achei que nos agradaria. Aproveitei o bom humor que o cigarro me proporcionou e comprei um buquê improvisado de magnólias de uma senhorinha que estava na rua. Era improvisado pois tratava-se de três galhos com duas flores cada, misturavam-se as cores entre brancas e rosa.
- Harry! É lindo! – Disse ela, encostando o nariz na flor. Seus olhos doces encontraram os meus e ela empurrou meu ombro enquanto ainda sorria bobo; tenho certeza de que meu sorriso era ainda mais bobo. Almoçamos tranquilamente na bancada da cozinha.
- Você está melhor? – me perguntou, beijando o topo de minha cabeça enquanto colocava a louça na pia.
- Na verdade, não. Não consigo esquecer esse pesadelo, foi horrível. Não é como a maioria dos sonhos que logo que você acorda, já esquece e segue o dia normalmente. E ainda tem essa sensação estranha de dejavù que não passa. Sabe quando você pensa que já viveu aquele momento? Eu estou preso nessa sensação o dia inteiro. – Admiti a ela. era minha melhor amiga, minha amante e minha confidente, eu sabia que ela saberia o que dizer para me fazer sentir melhor, não tinha motivos para esconder aquilo dela.
- Vamos fazer algo a tarde para você tentar esquecer isso, que tal darmos uma volta no parque? Irmos no museu, ou bebermos algumas taças de vinho... – sugeriu ela, entranhando seus dedos em meus cabelos, coisa que ela sabia que eu gostava. Fechei os olhos apreciando o momento.
puxou minha cabeça para trás delicadamente e beijou meus lábios, como ela estava atrás de mim, a sensação do beijo era como se estivéssemos de cabeça para baixo.
Fizemos tudo que ela sugeriu, passeamos com nossa cachorra no parque, depois seguimos para um museu que ela adorava ir. Museus não eram muito a minha praia, mas eu gostava de acompanhá-la assim como ela gostava de me acompanhar em eventos que eu sabia que não eram a praia dela. não gostava de como as pessoas olhavam para mim nesses eventos.
“Eles não te olham com o coração, olham como se você fosse uma pilha de dinheiro ou um pedaço de carne que podem cortar e levar um pedacinho para casa”.
Ela não se importava com o assédio de fãs ou até de algumas famosas, era decidida, confiante e ponto, ela sabia que meu coração era seu e não se importava em quantas músicas Taylor Swift havia escrito com meu nome.
Flashback
- Harry, esta é , a dona do estabelecimento. – Tiff disse, me apresentando uma mulher negra, linda e indescritivelmente cheirosa. Meu coração deu um baque surdo e senti todos os membros do meu corpo formigarem. Era , a minha .
Seus dentes eram grandes e brancos, seu nariz era empinado e seus lábios eram carnudos e convidativos, como sempre.
Tiff provavelmente notou que fiquei boquiaberto com a entrada da mulher e pigarreou, me fazendo sair do transe.
- ? – perguntei ainda boquiaberto enquanto ela abria um largo sorriso.
- Fiquei com medo de que você não fosse me reconhecer! – Admitiu ela e eu simplesmente a abracei. O aconchego do seu abraço ainda era o mesmo, e meu coração descompassado também. era o meu amor de infância. Nunca tivemos a chance de nos despedirmos direito. Eu simplesmente tive que me mudar para iniciar a 1D e no dia que fiz minhas malas correndo, não estava em casa. Cansei-me de dormir em seu quarto, conversando sobre qualquer aleatoriedade de adolescentes e secretamente escrevi várias músicas para ela. Todas aquelas sensações chegaram em meu corpo em um turbilhão quando lembrei-me de estar no carro e ver a sua casa afastando-se até virar um pontinho branco.
- Eu nunca te esqueceria. – a frase fugiu da minha boca feito um foguete e não consegui segurar. Até Tiff ficou sem graça. apenas riu. Ela não parecia tão entorpecida com o reencontro quanto eu.
- Obrigada por ter encontrado um tempinho na sua agenda para vir. Fico muito feliz.
- Está brincando? Este lugar é incrível! – Falei e Tiff concordou com a cabeça, provavelmente pensando “Este miserável nunca viria aqui se não fosse por mim”.
O lugar realmente era incrível, o chão era de madeira, tão encerado e lustroso que daria para comer o que caísse ali. As paredes onde as artes eram expostas eram brancas e os pilares que separavam elas eram vermelho-sangue, em um canto ou outro havia uma planta dando um ar de comodidade e os holofotes estavam posicionados nos locais certos.
- Então vamos dar uma voltinha, posso te mostrar um pouco da exposição de hoje? – perguntou, colocando as mãos na cintura, atraindo minha atenção para sua roupa: um vestido vermelho elegante o suficiente para uma dona de galeria de arte, mas despojado o bastante para não ser levada tão a sério. Tinha um decote em forma de coração, tiras largas nos ombros, era apertado em seu tronco e mais soltinho na parte das pernas, o comprimento batia abaixo dos joelhos. Nos pés ela usava um tênis com a base alta colorido que quebrava completamente o contraste do vestido bonito.
Não foi novidade para simplesmente ninguém de que fiquei de quatro por ela, Tiff veio me pedir para fechar a boca umas quatro vezes durante a noite inteira e eu podia simplesmente ficar ouvindo-a falar sobre as obras a noite inteira, e provavelmente parte do dia seguinte também.
Me machucou o peito quando tive que me despedir dela e engoli seco quando notei que o meu interesse não parecia ser recíproco. Mesmo assim, pedi seu número de celular e ela sorriu educadamente ao me passar.
Parecia humilhação pedir o seu número de telefone, vendo que seu interesse em mim era tão baixo quanto o meu em qualquer outra mulher que estava no ambiente, mas eu não consegui me segurar.
Fim do Flashback
À noite, coloquei uma camisa branca com o colarinho aberto e um terno preto por cima. Peguei a pequena caixinha de veludo e coloquei em um bolso interno.
desceu as escadas quinze minutos depois de eu ficar pronto, ela usava um vestido preto colado no corpo, com um decote quadrado com mangas compridas, nos pés ela usava um sapato alto com o salto quadrado, que ela costumava dizer que era o seu salto Ariana Grande e seus cabelos estavam soltos, com os cachos lindos e volumosos do jeito que eu amava.
Me deu um selinho antes de seguirmos, e minhas mãos suavam.
Seguimos ao nosso restaurante preferido, que era mais afastado do centro da cidade e tinha que pegar a interestadual para chegar no local. Pensei em mudar os planos durante o dia, mas era paranoia, certo? Não me parecia correto cancelar uma reserva de quase um mês de antecedência por conta de um sonho besta que no momento eu nem lembrava mais direito. e eu mudamos o nosso plano durante a tarde e isto pareceu fazer com que o pesadelo estivesse bem mais longe do que realmente estava. Durante nosso passeio vespertino, tive a sensação de tudo novo, como se eu não tivesse feito aquilo no sonho, e por algum motivo isso fez minha cabeça desestressar.
Chegamos ao restaurante e fiz questão de abrir a porta do carro para ela, que saiu do veículo dando risada.
- Você está surpreendentemente galante hoje Harry, o que houve? – Perguntou segurando a mão que eu estendia a ela.
- Só estou te tratando como você deve ser tratada sempre. É um crime? – Respondi sua pergunta com outra pergunta e ela riu mais ainda. Eu amava seu riso frouxo, algo que tinha desde jovem.
- Não mesmo. Eu adoro esse Harry cuidadoso, inclusive acho que ele pode aparecer com mais frequência. - Não fala assim, parece que sou um monstro o resto do tempo! – Me defendi e ela passou as mãos pelo meu braço.
- Não é isso! – Deu uma risada. – Você é um amor, só não abre sempre a porta do carro e me dá a mão.
Entramos no restaurante com seu braço enganchado no meu, o recepcionista nos guiou até nossa mesa reservada e chamou o garçom.
- Boa noite, sou Viktor, serei o garçom de vocês esta noite. – Falou me entregando a cartela de vinhos, que encaminhei diretamente para . Pedi duas saladas caesar e duas bruschettas caprese de entrada, pois já era nosso prato favorito do local.
escolheu o vinho e pediu duas taças.
- Por favor, me traga apenas uma. Estou meio indisposto com álcool hoje. Você consegue me trazer um suco de uva no lugar?
O garçom apenas assentiu.
- Ainda vestígios do pesadelo? – Perguntou delicada, não querendo realmente trazer o assunto à tona. Apenas concordei com a cabeça.
Em menos de um minuto, Viktor já estava nos servindo. Serviu o vinho de e meu suco que era integral e estava tão bom quanto um vinho verdadeiro.
- . – Chamei-a e minhas mãos suaram. – Preciso te falar algo que está preso dentro de mim há muito tempo.
Seus olhos me acompanharam e ela esticou a mão sobre a mesa para que eu segurasse, se ela notou que minhas mãos suavam, fingiu não notar. Eu estava mais nervoso do que minha primeira apresentação no X Factor.
- O dia que eu escalei aquela janela, depois de ter escalado tantas outras vezes para visitar meu amigo, foi o dia que mudou a minha vida para sempre. Você não sabe o quanto aquele aceno devolvido foi importante para a pessoa que eu sou hoje. Minha cabeça girou, meu coração disparou e minha mão suou quando vi sua família se mudando e principalmente quando te vi na janela ao lado da minha. A sua amizade foi algo que me fortaleceu de modo inimaginável, e quando eu tive que partir sem me despedir, foi algo que me despedaçou por dentro. Foi bom, pois consegui escrever algumas boas músicas com aquele sentimento. Você sempre foi uma inspiração para mim. – Ela me olhava com seus olhos doces, com a cabeça levemente inclinada e seu dedão fazia um carinho completamente involuntário em minha mão.
- Quando eu finalmente te reencontrei, adulta, foi como se tudo que havia despedaçado dentro de mim finalmente fizesse sentido. Eu finalmente lembrei o motivo de tantos pedaços e senti meu corpo ir unindo-os parte por parte. Você estava tão linda naquele vestido, e eu nunca te quis tanto. Meu corpo clamava pelo seu toque, e eu ainda sentia que para você o sentimento não era recíproco, o que só me deixava mais frustrado! Como foi difícil para mim ver que você havia criado uma vida perfeita sem mim... Como eu iria aceitar que minha vida era incompleta sem você, sendo que a sua era perfeita sem mim? Minha mente virou um turbilhão até o momento que você me beijou de maneira completamente inconsequente debaixo de uma tempestade que podia nos deixar gravemente feridos em um hospital. Era o que eu mais queria. E o furacão podia nos levar embora que eu simplesmente morreria feliz, sabendo que nossos caminhos estavam finalmente cruzados. – Algumas pessoas ao nosso redor pararam o que estavam fazendo para prestar atenção no meu discurso. Aquilo me irritava, mas eu não queria estragar nosso momento ou o meu discurso para brigar com estranhos.
- , eu me sinto completo quando estou contigo. Você é a minha melhor amiga, sempre foi. Você é a pessoa que sabe todos os meus segredos, me conhece melhor do que ninguém, é incrivelmente talentosa e perfeitamente sensata. Eu amo estar com você mais do que com qualquer pessoa no mundo. – Falei, fazendo seus olhos marejarem. Soltei sua mão delicadamente sobre a mesa, e usei minha mão para pegar a caixinha no bolso interno do meu paletó. Abri-o na sua frente, fazendo-a colocar as duas mãos sobre o peito.
- Bom, , você aceita se casar comigo? – Perguntei por fim, analisando seu sorriso absolutamente perfeito.
- É claro que quero. – Disse, com a voz falha e embargada pelo choro.
Na volta para casa, fui dirigindo mesmo odiando dirigir do lado errado da pista. Liguei o rádio e a mesma música de Paul McCartney tocava, meu coração descompassou, fazendo-me lembrar do maldito pesadelo.
Ponto de vista da
Harry estava desacordado ao meu lado, sua cabeça pendia inerte sendo segurada apenas pelo seu tronco preso pelo cinto de segurança.
Respirei fundo.
Ok, um, dois, três. Você teve treinamento militar do seu pai. Respira .
Meu cinto de segurança estava emperrado, mas lembrei do meu kit de unhas que ficava no porta-luvas. Cortei o cinto com facilidade e procurei meu celular que escapou da minha mão na batida. Lembrei-me da mania de Harry de sempre ficar com o celular no meio das pernas, e por sorte seu celular estava ali. Disquei 911 enquanto saía pela janela do carro. Corri para o lado de Harry para checar seu pulso. Estava fraco, e inconstante. Chequei as vértebras de seu pescoço e analisei seu corpo: seu ombro parecia estar deslocado.
- 911, qual a sua emergência? – Uma voz feminina atendeu.
- Meu nome é , uma unidade de emergência está indo ao seu local. Você está dentro do veículo?
- Não. – Respondi me levantando e me afastando de Harry, retirei a chave da ignição e abri o porta-malas. – Estou dispondo as sinalizações de emergência.
Coloquei um triângulo na posição correta atrás de nosso carro e segui até o caminhão, pegando as sinalizações dele para ajudar enquanto falava com Amber, a mulher que me atendeu.
O motorista do caminhão também estava desacordado, mas seus batimentos estavam mais fortes e constantes.
- Perfeito. O ideal agora é aguardar até que a unidade chegue ao local, Sra.
veio me visitar algumas horas depois que saí da sala de observação. Ela estava bem. Apenas um arranhão na têmpora.
- Você me salvou, Styles. – Ela disse, os olhos marejados sentando-se ao meu lado na cama.
Eu não conseguia falar, e meu rosto estava completamente enfaixado, mas não consegui conter as lágrimas, vendo-a tão vulnerável e viva.
Fiz sinal com as mãos, para que ela entendesse que ela havia me salvado.
- Não, você mudou o seu sonho. Foi isso que me manteve viva.
Tentei abrir os braços para que ela me abraçasse, mas meu ombro doeu. Ela deu uma risada tristonha e me abraçou de um jeito que não me machucasse tanto.
- Vai ficar tudo bem, Harry. Estamos juntos, como deveríamos estar desde o início.
There's never been someone who's so perfect for me
FIM
Nota da autora: Eu nunca tinha escrito uma fic com Harry Styles, na verdade comecei a apreciar as suas músicas faz pouco tempo. Ainda não o vejo como um amor da minha vida, mas confesso que essa fic me fez querer escrever uma long com ele. Sei lá, ele simplesmente tem esse rostinho de quem sabe que é lindo e que todo mundo ama ele hahahahahah
Pra quem chegou até aqui, meu sincero muito obrigada por ter lido, e se puder, comente o que achou! <3
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