Capítulo Único
null, null e null conversavam em uma mesa de bar. Era sempre assim, sempre que um deles voltava a cidade, eles se reuniam o máximo que podiam. null acabara de voltar de um mochilão de um ano, havia decido por conta própria conhecer diferentes culturas e línguas, além de sair fotografando tudo aquilo que ele achava de interessante.
- Você precisava conhecer ela, só assim entenderia o porquê de eu ter ficado assim - null explicava para null o motivo de estar encantando pela menina que conheceu em sua ida à Roma.
- Ela deve ser só mais uma que você pegou e daqui uns dias vai esquecer - null bebia sua cerveja como se nada estivesse acontecendo.
- null, com ela foi diferente, eu não sei explicar, só sei que não foi igual as outras… - null respirou fundo, queria que os amigos entendessem que o quê aconteceu na viagem não foi algo bobo - Com ela não foi só físico, entende? Não foi só sexo, foi algo a mais. Foram os melhores seis meses da minha vida, ela realmente é a mulher para mim.
- null, o cara está apaixonado, não adianta você falar nada.- null voltou do balcão do bar, que era próximo a mesa em que estavam, segurando duas cervejas e dando uma delas a null, se sentou e encarou null - Quando você disse que tinha começado um “namoro” – fez aspas com as mãos - com a menina da sua viagem de negócios, foi a mesma coisa... “Ela é diferente”, “Nunca me senti assim” - Imitou a voz de null e riu.
- Sério, um dia vocês vão conhecer ela e entender do quê eu estou falando - null deu um gole na cerveja que segurava e mais uma vez respirou fundo, recordando tudo que passara com a garota dos seus sonhos.
- Falando na minha namorada, ela vai vir me visitar – null deu um último gole na sua cerveja e tomou coragem para falar- Eu sei lá, sei que é cedo, mas estou pensando em pedir ela em casamento.
Nem era preciso dizer como null ficou ao ouvir aquilo, null era conhecido por tomar decisões ruins e precipitadas o tempo inteiro, ele era o famoso tipo de “pego mais não me apego”, era impossível imagina-lo casando e sossegando com uma única pessoa.
- null, você não acha que vai fazer uma cagada? – null perguntou.
- Nisso eu tenho que concordar com o null, você nem conheceu ela direito ainda, seu relacionamento é a distância - null concordou.
- Aí que está, estou cansado de ter esse relacionamento a distância, quero que ela pare de rodar o mundo, quero que ela fique aqui comigo. Cansei de ficar por aí, pulando de galho em galho – null explicava e null só conseguia pensar na merda que ele queria fazer - Mesmo que vocês achem idiotice, eu vou pedir ela em casamento assim que ela botar os olhos em mim...
- Igual foi com Sasha... – começou null.
- E com a Ingrid - Continuou null.
- Eu não sabia o que queria naquela época- null levantou da mesa e foi até o balcão.
- Cara, o lance com a Ingrid não foi tipo... há uns meses atrás? – null perguntou.
- Foi antes dele conhecer essa garota no intercâmbio e a Sasha antes da Ingrid - null lembrava das ex namoradas de null e como ele agia com as mesmas.
null pedia a cerveja, enquanto secava uma garota a sua frente.
- Ele não muda, vai sempre meter os pés pelas mãos - null observando a cena comentou com null, que apenas assentiu.
null acordou no apartamento de null, se lembrava de ter saído do bar, mas não fazia a mínima ideia de como havia chegado no local. Ao caminhar em direção a sala, encontrou null jogado no sofá com a maior cara de ressaca do mundo.
- Beberia um galão inteiro de água se conseguisse - Comentou o amigo sobre a ressaca, sentindo a presença do amigo.
- null, fique a vontade para beber o tanto de água que quiser – null riu da cara do amigo e foi para a cozinha.
- Cara, você voltou de vez ou já está pensando na próxima viagem? – null o seguiu, conhecia o amigo e sabia que este não ficaria parado.
null preparava algo para comer, os anos que havia passado sozinho viajando de um lugar para outro, fizeram com que o rapaz aprendesse a se virar, cozinhar, lavar, passar, limpar... nunca haviam sido tarefas complicadas para ele, ainda mais depois das inúmeras viagens que fez.
- Você sabe que eu não sei... - null respondeu meio inseguro - Às vezes penso em ficar por aqui e, sei lá, abrir um negócio... estaria mais perto da minha família, dos meus amigos, mas ao mesmo tempo fico pensando se vale a pena, existe tantos lugares que eu ainda não fui, tantas coisas que ainda não fiz.
- Você sabe que pode ficar aqui o tempo que quiser, até decidir o que vai querer - null entendeu a indecisão do amigo - E de acordo com o cheiro disso aí que você está preparando, deveria investir na sua carreira de chefe de cozinha - null riu, se levantou e foi até o fogão ver o que o amigo preparava.
- Como se você não fosse mil vezes melhor - null sabendo o que o amigo iria fazer a seguir, deu espaço para o mesmo experimentar o que estava fazendo.
- A diferença, meu amigo, é que eu estudei para fazer o que faço, o seu dom é natural – null era um chef de sucesso, seus pratos atraíam gente do mundo inteiro - Mas, e aí, vamos jogar futebol ou não?
Os amigos comeram, se arrumaram para o futebol. Quando null saía do quarto com sua mochila, viu null conversando com alguém ao telefone.
- Quem é? – Perguntou.
- Está bom, null - null respondeu no telefone e para null ao mesmo tempo - a gente vai, relaxa, você está muito nervoso, isso afasta as mulheres. A gente se encontra lá então. Uhum. Ok.
- A mina dele chegou? – Perguntou null já sabendo a resposta.
- Sim, e ele quer que a gente vá na casa dele para conhecer ela - null respondia enquanto se jogava no sofá.
- O jogo já era, então?- null deduzia jogando a mochila no chão.
- Se a gente não for lá, capaz dele arrastar a pobre coitada até aqui, então melhor a gente ir e acabar com essa afobação toda dele.
null era amigo do null e do null desde que se dava por gente, cresceram juntos, estudaram juntos até o ensino médio e depois se separaram para fazer faculdade. null e null permaneceram na cidade e fizeram suas faculdades, depois de um tempo, null se cansou do lugar onde cresceu e decidiu rodar o mundo em busca de inspirações para suas fotos, enquanto null continuou na cidade e assumiu a empresa de sua família, que era muito rica, por sinal. null foi estudar gastronomia em Paris, assim que se formou decidiu voltar. Ele sempre dizia que amava Paris, mas que nada se comparava com o lugar de onde veio. Os três tinham muitas coisas em comum, mas ambos queriam coisas diferentes; o objetivo de null era abrir seu restaurante e fazer aquilo que ele amava, null pensava em se aventurar e conhecer tantas coisas quanto fosse possível. Já null, era ambicioso, sempre teve aquilo que quis, não desistia até conseguir aquilo que almejava, e bem, quando não conseguia, as coisas ficavam feias.
null e null seguiam em direção à casa de null, não ficava tão longe de onde null morava, que era mais para o centro da cidade, mas ficava numa região mais tranquila, sem trânsito ou barulho de carro a todo momento.
- Quero só ver se ele vai pedir essa menina em casamento mesmo - null comentava a todo momento sobre a decisão do amigo.
- Ele é louco, está sendo precipitado - null respondia - Ele pode até pedir, mas vai acabar desistindo ou pisando na bola, como fez com as outras.
null já havia se comprometido com duas outras mulheres no passado, a primeira havia sido um romance de passagem de adolescência para vida adulta, que durou por longos quatro anos e acabou se transformando em um relacionamento turbulento, graças ao pai de null que prometeu que se ele largasse a garota, assumiria a empresa da família. O segundo relacionamento de null, acabou em muito choro; dias antes do casamento, null saiu da empresa e foi para um bar, assim como acontecia quando os amigos se juntavam, lá ele acabou ficando com uma garota que nem ao menos sabia o nome, a levou para sua casa, no dia seguinte, quando sua noiva chegou da casa dos pais, encontrou null e a tal garota na cama. Não é necessário nem dizer o que aconteceu depois disso. null e null gostavam muito do amigo, mas o conheciam demais a ponto de saber que o que null realmente gostava era de festas e mulheres, para eles era muito difícil imaginar uma vida em que null resolvesse ficar com apenas uma e ser fiel à ela.
null estacionou na frente da casa de null e tocou a campainha. Liza, uma mulher de meia idade que trabalhava para o rapaz, veio atendê-los. Liza trabalhava para a família de null há muito tempo, e quando o garoto decidiu morar sozinho, ela quis acompanha-lo.
- Oi, meninos, quanto tempo! - Os cumprimentou e pegou no braço de null - você está muito magrinho, menino. Não é porque você faz comida para outros que não deve comer também, viu - Liza achava que os meninos eram adolescentes ainda, pois se preocupava com eles.
- Ah, Liza, vocêsabe que como pouco e nem estou tão magro assim - null respondia enquanto abraçava a senhora.
- null, você voltou, nem acredito - quando seu olhar caiu sobre o outro, a senhora simplesmente abriu o maior sorriso que podia, o que foi correspondido.
- Voltei, estava com saudades da senhora - Respondeu - Liza, o null já chegou com a futura noiva?
- Ah, então vocês já sabem? - Liza fechou a cara - Esse menino não sabe o que está fazendo, mal conhece essa moça e já quer pedir ela em casamento. Não que seja feia ou não pareça ser uma boa pessoa, muito pelo contrário... mas na minha época, a gente namorava a pessoa por anos, com o pai na sala ainda, e depois de um certo tempo, casávamos.
- A gente também falou para ele que era loucura, mas a senhora sabe muito bem como ele é, só faz o que quer - null dizia para a mulher, que prestava atenção.
- Quem só faz o que quer? – null apareceu do nada, interrompendo a conversa.
- Quem você acha? – Liza respondeu sem medo o rapaz e saiu andando para dentro da casa.
- Que bom que chegaram, ainda não fiz o pedido, estava esperando vocês - null dizia animado enquanto entrava na casa junto com os outros.
A casa do rapaz era enorme e mostrava a riqueza que o mesmo tinha. Eles caminharam pelo hall de entrada até chegar a sala, onde puderam avistar uma moça com cabelos castanhos claros de costas, observando um dos quadros pendurados na parede.
- Caras, essa aqui é a null - null sorriu para os rapazes que sorriram de volta.
- null, por favor - a moça virou e paralisou.
- Finalmente estamos te conhecendo, mal sabe o quanto tivemos que ouvir sobre você nesses últimos meses - null, sempre muito humorado, tomou iniciativa de cumprimentar a moça - Eu sou null.
null não conseguia se mover, encarava a moça que o encarava de volta, ele não acreditava na visão que estava tendo, simplesmente não conseguia. null voltou e deu um leve empurrão em null.
- Prazer, null - o rapaz se esforçava para as palavras saírem.
- O prazer é todo meu - null o respondeu sorrindo de um jeito cúmplice, sorrindo de uma forma que fez null se arrepiar, um sorriso que o fez voltar para Roma.
“Flashback ON
null fotografava a multidão perto da Fontana di Trevi¹, ele se maravilhava com a fé que as pessoas jogavam moedas naquela simples fonte, ria sozinho só de imaginar qual seria o pedido se jogasse uma de suas moedas na fonte.
- Sabe, é difícil de entender porque tantas pessoas vêm até aqui e jogam suas moedas - O rapaz ouviu uma voz feminina e tirou o visor da câmera dos olhos.
- Talvez elas não consigam entender a sua falta de fé - null virou para o lado que vinha a voz, viu surgir no rosto da garota um sorriso e simplesmente não teve como não retribuir.
- Sou null - a garota estendeu a mão.
- null - repetiu o gesto.
Flashback OFF”
O clima que se instalara na sala não era dos melhores, null mostrava toda a casa a null, enquanto os dois rapazes esperavam na sala.
- O quê foi aquilo? - null perguntou, percebendo o clima que havia ficado.
- Nada - o outro respondeu.
- Qual é, null. Crescemos juntos, te conheço, cara - null insistia. null rolava os toda a vez que o amigo falava essa frase e dessa vez não foi diferente, null o encarava a fim de obter uma resposta, ficaram assim por um tempo até que null cedeu.
- Ok, ok - respirou fundo - eu já conhecia a null - respondeu.
- Ela é da cidade e eu não estou lembrado? Porque ela é bem bonita, seria difícil de esquecer... - o rapaz falava, mas foi interrompido.
- Não, null, ela não é daqui. - null respirou fundo mais uma vez - Lembra da menina que falei? A que eu conheci na viagem... - Foi interrompido pelo amigo.
- A “com ela foi diferente, eu não sei explicar, só sei que não foi igual as outras”? - O amigo repetia as palavras que o amigo havia dito anteriormente.
- Sim, essa mesmo - riu da imitação do amigo.
- Tá, o quê tem ela? – null perguntou e null o olhou como quem diz “sério que você ainda não ligou uma coisa com a outra”, o amigo finalmente havia entendido, arregalou os olhos e abriu a boca - Não... é sério, mesmo? A mina do null e a sua é a mesma?
null apenas assentiu e null ficou pasmo, null voltou a sala. Era possível ver a felicidade de null estampada em seu rosto, uma felicidade diferente daquelas que eles já haviam presenciado o amigo demonstrar quando havia uma namorada nova na parada.
- Caras, preciso atender uma ligação, quando null voltar, conversem com ela. – null ia se retirando da sala, quando virou para trás - E null, o que está acontecendo com você hoje? Nunca foi calado, logo hoje inventou de ser? – Virou e seguiu o caminho que seguia antes.
Os amigos apenas se olharam rolando os olhos. null descia as escadas e null percebendo, quis logo deixar o amigo e a moça sozinhos.
- Eu vou ali na cozinha ver o quê a Liza está fazendo, pegar umas dicas... - e foi se retirando.
Ela sorria para null, que possuía um misto de sensações. Ele não sabia muito bem o quê dizer, como agir... afinal, seu amigo iria pedir a mão daquela mulher em casamento em poucos minutos. Mas, null, ela sabia bem o que estava sentindo.
- Oi, “Baby”, estava com saudades - o abraçou, passou a mão em seus cabelos do jeito que o fazia lembrar das noites que passaram juntos em diferentes lugares do mundo, e todas as sensações estranhas de null se converteram em saudades, alegria, paixão.
- Eu também - o rapaz a envolveu em um abraço apertado e respirou fundo, a fim de sentir todos os aromas que a moça carregava e ele esteve longe por tanto tempo.
Ficaram ali, abraçados por mais alguns segundos, até null se soltar do abraço e ir para o outro lado da sala. null o olhou sem entender, tentou sonda-lo pelos seus movimentos e sorriu derrotada.
- null... – começou. - null, null vai pedi-la em casamento - Era possível ver a tristeza em seus olhos.
- Eu sei, eu vim para cá sabendo disso já - Ela sorria.
- Então você vai aceitar se casar com ele? - Perguntou.
- Sim, eu gosto do null, mas também gosto de você... - o rapaz encarava a moça, ele sabia que não podia interferir no que os dois tinham, afinal o futuro noivo dela era um de seus melhores amigos e mesmo ele sendo do jeito que era, jamais seria capaz de passar por cima dele.
- Olha - respirou fundo - eu vou continuar fingindo que não te conheço, você continua fingindo que não me conhece e fica tudo certo, tá bom? – Propôs à null.
null voltava a sala com null em seu encalço, a moça só teve tempo de assentir discretamente para que só null percebesse. O rapaz a abraçou, o que fez null dar as costas a eles.
- Vamos comer, Liza já está chamando.- null percebendo o clima que ficara no ar, decidiu intervir.
O grupo seguiu para a sala de estar, onde a mesa já estava posta e sentaram-se. Durante a refeição, não houve muitas conversas, apenas null perguntando um pouco sobre os amigos do seu futuro noivo. Apesar de já saber tudo sobre null, a moça interpretava bem e fazia caras e bocas dignas de um Oscar, isso divertia um pouco o rapaz e deixava null confiante de que deveria realmente pedi-la em casamento, já que ela havia se dado tão bem com seus amigos. Após comerem, ficaram ali sentados na mesa conversando, agora era null que perguntava sobre Rebbeca.
- Eu tenho um pedido a fazer. - null chamara a atenção para si - Eu sei que é pouco tempo ainda, mas para o amor não existe tempo certo ou errado, - começou seu discurso - eu conheci uma garota incrível em uma das viagens mais difíceis que fiz. Sem enrolar muito - tirou uma caixinha aveludada do bolso da calça - null, quer casar comigo?
null assistia a cena em silêncio, null observava a cara dos amigos, um parecia que estava soltando fogos de artificio e o outro tentava disfarçar a tristeza com um sorriso que mais parecia uma careta.
- É claro que eu aceito. - A moça fazia cara de surpresa, como se não soubesse que seria pedida em casamento.
Beijaram-se, a cena que null via parecia não ter fim, ele queria ir embora dali o mais rápido possível... Sabia que estava apaixonado, mas não imaginava que era tanto a ponto de querer roubar aquela mulher para ele e fugir.
null chegou em casa sentindo um gosto amargo na boca, null tentara puxar assunto com o amigo durante todo o caminho de volta, mas entendeu que não adiantasse o que falasse, o amigo continuaria no silêncio profundo, imerso em seus pensamentos.
-null, acho que viajo semana que vem - pesaroso, null avisou ao amigo.
- null, você acabou de chegar, não deu tempo nem de visitar sua mãe e você já quer sair por aí? - o amigo sabia o porquê de toda essa pressa de null em rodar o mundo - Eu sei que vai ser tenso, mas cara, você não pode querer ir embora por causa de uma garota.
- null, já falei que não é uma garota qualquer - null gritou e abaixou seu tom de voz - Ela me faz sentir como um adolescente de novo, me acalma, me faz ser uma versão melhor de mim mesmo, - riu - enquanto viajamos por aí, até o nome dos nossos filhos a gente já havia escolhido.
- Então, foi algo sério, mesmo? – O amigo perguntou já sabendo a resposta.
- Foi. Foi intenso, verdadeiro - explicou.
- Será que ela já estava com o null quando vocês se conheceram? – null havia abordado uma questão que o outro não pensara antes.
- Não sei, acho que prefiro nem saber - respondeu.
null passara o fim do dia todo jogado no sofá, não se animou em fazer nada depois do almoço que teve com seus amigos e ela, a razão de seus pensamentos estarem tão bagunçados. Tentava buscar em sua memória algo que acontecera durante o tempo que viajaram juntos, que mostrasse ou lhe desse alguma pista do que null o perguntara mais cedo. Nunca havia ouvido ela mencionar o nome de alguém, muito menos falar ao telefone, tudo que ela fazia era pelo computador, e sabia que null gostava de resolver tudo pelo telefone. Buscava entender também o que ele havia visto nela que atraiu a atenção do amigo também, seus gostos e os dele eram bem diferentes, o amigo sempre gostara das meninas tímidas, das meninas mais fáceis de lidar, já que não tinha muito tempo para drama, como ele mesmo costuma dizer, null já gostava das meninas de personalidade forte, misteriosas... ele gostava das garotas que o surpreendiam até nas pequenas coisas, de meninas que gostassem de se aventurar com ele, que além de namorada fosse companheira para todas as horas e, null, bem... null era tudo isso que ambos gostavam. null passou tanto tempo pensando em tudo, que acabou pegando no sono ali no sofá mesmo.
“null e null estavam no Parque Keukenhof² e passeavam pelo jardim de tulipas, ele com sua câmera tentava tirar uma foto dela, que se escondia da lente do fotógrafo.
- Vai, null, deixa eu tirar uma foto sua... - ele pedia risonho.
- Baby, já disse que não gosto de fotos - ela ria tentando esconder seu rosto com uma tulipa.
Foram tantas as tentativas de null, que em um de seus cliques ele conseguiu uma boa foto de null com uma tulipa no rosto. Era possível ver o contraste que a flor fazia com o rosto misterioso de null.
- null, quando tivermos nossos filhos vamos traze-los aqui e eu vou contar para eles o quanto o pai deles é um teimoso - Sorria e fazia cócegas em null.
- Filhos? - O rapaz curioso.
- É, Jackie e Wilson, já escolhi os nomes por você - riu.
- E como eles vão ser? - Perguntou null se sentando em um dos bancos.
- Bem, ela vai ter seus olhos verdes e ele os meus olhos castanhos - começou - ela vai adorar dançar e ele vai tocar, ter uma banda, sabe?
null apenas assentia e a observava, pensava se aquilo realmente aconteceria, se eles realmente teriam uma vida juntos, se teriam filhos. null sentou na perna de null e ia beija-lo...”
-null, acorda- null chamava o amigo, tentando acorda-lo.
null despertou do sonho que mais era uma lembrança. Seu sonho parecia tão real que quase conseguiu sentir a textura da boca da moça, acordou devastado pelo sonho daquela noite.
- Pela cara que você estava fazendo, parecia que você estava sonhando com algo bom - Sugeriu o amigo.
- Algo bom e ruim. - sentou no sofá e encarou null - Sonhei com ela.
null andava pela casa de null, ela se perguntava o porquê de uma pessoa morar numa casa tão grande. null nunca teve uma casa para chamar de lar, ela nunca tinha vincado raízes em um único lugar, desde sua infância ela se mudara com bastante frequência por conta do emprego dos seus pais, que eram investigadores e a cada caso terminado decidiam por se mudar. Ela enxergava isso como algo negativo e positivo ao mesmo tempo; negativo porque sempre que arrumava novos amigos já era hora de ir embora, e positivo porque ela sempre conhecia gente nova e lugares também, tudo era sempre uma novidade. Essas mudanças moldaram a personalidade de null e fizeram ser quem ela era, decidiu ser jornalista justamente por causa das novidades, poderia trabalhar em qualquer lugar do mundo, falando sobre qualquer coisa. A moça tentava se imaginar morando naquela casa, pois seria o que iria acontecer depois de seu casamento com null, todo aquele luxo, casa enorme, empregados, nada ali fazia o tipo de vida que queria levar, mas como seu pai dizia; “uma hora a gente tem que parar, ficar quietinho, ouvindo um blues, sentar e assistir o mundo passar”.
null procurava a noiva pela casa e finalmente a encontrou no jardim, sorriu ao vê-la e a beijou.
- Estava pensando, em que data você quer marcar nosso casamento? – Perguntou a ela.
- Bom, eu não sei... você decide isso, o quê acha? - Respondeu e viu surgir no rosto do rapaz um largo sorriso.
- Por mim poderia ser agora, - brincou - mas vou marcar para o início do mês.
Assim como chegou no jardim, null logo adentrou a casa. null não acreditava que realmente iria casar, uma felicidade sem tamanho lhe invadia até que pensou em null e tudo virou confusão. Lembrava do dia que tinham se conhecido e como os dois ficaram próximos daquele dia em diante, lembrava de quando conhecera null e tentava comparar o que sentiu em ambas as ocasiões. Com null, tudo era muito físico, selvagem e luxuoso, até se assustaria se não fosse, ele era lindo, inteligente, charmoso. Com null tudo era uma surpresa, ela gostava de surpreende-lo e ele amava corresponder, com ele era físico, intelectual, fogo, suave, era uma atração fatal e completa. Lembrou-se do dia em que fingiram roubar o próprio carro dela, um Lexus preto e sair por aí buscando pistas de coisas estranhas que aconteciam nos lugares em que eles passavam, ela riu da lembrança, eles não tinham nascido para aquilo, não era para eles, o que eles gostavam mesmo era de aproveitar cada momento como se fosse o último.
null ajudava null em seu restaurante, o amigo queria que o outro tirasse algumas fotos dos pratos para colocar em seu site, o que foi interrompido pelo telefone de null tocando.
- É o null - falou para o outro e atendeu o telefone - E aí, null? ... Tudo... Já? Não acha que está fazendo tudo muito rápido? ... Você quem sabe! ... Como assim, você precisa viajar? Seu casamento é daqui a quatro semanas ... Está bom, então. Eu aviso. Abraço.
- E aí? – O amigo questionou.
- Tirando a parte que ele marcou o casamento para quatro semanas e quer que você se vire com as comidas do casamento e que eu arrume um bom fotografo para o “evento”- fez aspas com as mãos -, ele vai viajar para resolver umas coisas da empresa - null explicou.
- Até aí, tudo bem, dou um jeito aqui no restaurante - null respondeu compreensivo. - A null vai viajar com ele?
- Aí que vem a pior, ou melhor... a melhor parte, não estou sabendo mais... - respirou fundo, estava apreensivo, desconfortável - A null vai ficar para resolver as coisas do casamento e nós vamos ter que ajudar ela, já que ela não conhece ninguém, nem mesmo a família dele.
null entendeu o desconforto de null, que passava as mãos pelos cabelos de minuto a minuto demonstrando ainda mais seu nervosismo. Desde o dia em que null chegara, ele não havia falado com null e nem ido à casa dele, permanecia no apartamento de null e tudo que precisava fazer na rua, fazia em um período em que sabia que não os encontraria. As lembranças das viagens que tinham feito juntos estavam mais vivas que nunca e, volta e meia, null pegava null observando algumas das fotos que havia tirado da moça ou lendo alguns e-mails que haviam trocado.
- Olha, null, se você quiser eu ajudo ela em tudo, assim você não fica no meio de toda essa confusão - null coçou a cabeça e sugeriu ao amigo.
- Ou eu posso fingir que não sinto nada por ela, ajudar o mais rápido possível e cair no mundo de novo - respondeu cansado - Eu já pensei nisso, null, só que se eu não ajudar vai ficar estranho me entende? null vai começar a achar estranho, suspeitar de alguma coisa, e não quero... - gaguejou - não quero que ele saiba que eu e ela tivemos algo, quero que ela seja feliz com ele e ponto. Vou continuar fingindo que não conheço ela, que não tivemos nada.
- Acho bom você começar a fingir desde agora então - gesticulou com a cabeça que null e Liza tinham acabado de entrar no restaurante.
As duas mulheres entraram no estabelecimento, Liza pediu para a outra aguardar e seguiu rumo a cozinha que tanto já conhecia. null pedia muitos conselhos à Liza e essa o tratava como se fosse um filho. Os três retornaram ao salão, null não queria tomar partido na situação, ao mesmo tempo que se sentia lisonjeado por null ter deixado a responsabilidade da comida para ele, se sentia triste pelo outro amigo que veria seu outro melhor amigo e a garota por quem estava apaixonado se casando.
- O quê você está pensando para o casamento? – null com o um bloco de anotações e caneta perguntou.
- Boa pergunta, não sei bem o que é servido em casamentos - a noiva respondeu. - Isso é extremamente novo para mim, acredite.
- Geralmente servimos aperitivos, entrada, prato principal e sobremesas diversas aqui no restaurante, não sou de fazer casamentos, mas como é do null estou abrindo uma exceção, então você pode pedir o que quiser - null sorriu.
- Ainda bem que trouxe Liza, ela vai resolver esses negócios da comida - Sorriu de volta e olhou em direção a null - Sobre as fotos, null... – Hesitou - null - corrigiu - eu queria que você fizesse algumas fotos durante a escolha do vestido de noiva, para eu olha-los depois e escolher com calma.
O rapaz ficou por um momento pensando, momento que foi quebrado por uma tosse discreta de null que percebeu que o amigo estava longe.
- Ok, pode ser - aceitou - quando você começar a procurar, você me avisa, e aí, eu tiro as fotos.
- Bem, podíamos começar hoje, o quê acha? - Sugeriu.
- Bem... ok - null não tinha escolha, não poderia dar para trás depois de ter aceitado.
null foi ao apartamento do amigo, pegou seu equipamento e partiu com null rumo às lojas de vestidos da cidade. Eles adentraram em cada uma das lojas e nada tinha aquilo que a moça queria.
- Esse ficou bom. Não acha null? – Perguntou ao rapaz que se preocupava em tirar as fotos.
- Ficou - respondia a cada vez que ela o perguntava sobre vestidos.
- Você fala isso para todos - rebatia sempre que escutava a resposta dele.
A tarde passou voando, o que fazia tempo que não acontecia para ambos. No começo, ficaram meio receosos com o contato que estavam tendo, as vezes em que se tocavam acidentalmente sentiam o que o corpo de um provocava no do outro, noutras eles só se perdiam em pensamentos, em lembranças que os faziam perder o foco do que estavam fazendo, lembranças que davam saudade não só do toque, mas da textura que o outro tinha. Naquela noite ela dormiu pensando nele e sonhou com ele, sonhou com os beijos de null, com os toques dele, com aqueles meios sorrisos que ele dava quando ficava encarando ela, sonhou com suas mãos passeando pelos cabelos dele.
Dia após dia, null passava mais e mais tempo com null e null, o objetivo da sua ida até aquela cidade era passar mais tempo com seu futuro marido, futuro marido que ela nunca tivera certeza que amava, futuro marido que viajou assim que ela colocou seus pés em sua casa. Seu convívio com os meninos fazia com que ela gostasse ainda mais dos dois e começasse a entender o porquê de eles serem tão amigos.
- Fala sério, vocês cresceram juntos mesmo? - Interrogava curiosa durante um dos jantares com eles.
- Sim, nossas famílias eram amigas então foi bem fácil nosso convívio - explicava null - Eu e null sempre nos demos bem, sempre foi como se fossemos irmãos.
- Irmãos de pais diferentes - completou null.
- Queria ter tido isso - suspirou tristonha.
- E por que não teve? - null também curioso.
- Eu e meus pais sempre nos mudamos muito, nunca nos prendemos as pessoas - começou a explicar - até um tempo atrás eu até acompanhava eles, mas depois que fiz dezoito anos, eles me deixaram livre para escolher se ia de lugar em lugar com eles ou se fazia o que eu queria, e bem, a resposta vocês já devem saber... - riu.
- Mas você mantém contato com eles, certo? - null resolveu perguntar também, assim ele desvendava alguns dos mistérios dela.
- Ah, sim, com certeza - respondeu sem hesitar - vocês vão conhecê-los, virão para o casamento.
Assim que a última palavra foi dita, null simplesmente mudou de atitude, voltou a ficar em silêncio, o rapaz havia esquecido o porquê passava tanto tempo com ela. Na verdade, estava passando mais tempo do que realmente deveria, ele estava a ajudando com todo o casamento praticamente, enquanto null estava não sabia onde, resolvendo problemas da empresa.
null buscava o vestido perfeito, o que estava cada vez mais difícil. Decidiu arrastar null para a cidade vizinha, o rapaz já não estava aguentando ficar tanto tempo com ela.
- Olha null - começou...
- Já sei o que vai dizer - o interrompeu - e eu sei que está foda para você, se minha mãe estivesse aqui, seria ela que estaria me ajudando, mas eu não conheço ninguém, tirando você e null. Eu sei que tudo isso está sendo doloroso para você, null.
- Não, não é por isso não... - o rapaz se fez de desentendido - eu só preciso começar a organizar minha viagem.
A garota sorriu, null achou que ela tinha acreditado naquela mentira que nem ele mesmo conseguia acreditar, mal sabia ele que ela via a mentira estampada em seu rosto tanto quanto ele. Estacionaram o carro assim que avistaram uma loja de vestidos, null foi entrando enquanto null arrumava os equipamentos que ia usar. Vendo que a garota estava demorando, resolveu adentrar a loja e viu pelo reflexo do espelho o que ele achou ser um anjo. null vestia um vestido branco simples rendado, nada desses vestidos volumosos cheio de aplicações, ele simplesmente moldava seu busto e quando chegava a cintura possuía uma pequena abertura, o vestido lhe caia como uma luva, parecia que havia sido feito para ela, que podia ser comparada a uma princesa. A vendedora colocou uma pequena tiara em sua cabeça com o véu, null estava sem palavras para descrever o que via, sem palavras para descrever o que estava sentindo, ele só tinha uma certeza, a certeza de que ela era o ser mais bonito e maravilhoso do mundo.
- null, - chamou - o quê achou desse?
null não conseguia responder, ele só conseguia observar com desejo a imagem da mulher vestida de noiva, o que fez a moça sorrir constrangida. Saíram da loja, ambos calados, depois de comprarem o vestido o clima ficou um pouco tenso, era possível ver de longe a tensão sexual da dupla. Pegaram o carro e decidiram voltar para a cidade, iam encontrar null para mais uma vez jantarem juntos, mas antes, null decidiu passar em casa para tomar um banho. Deu a ideia de deixar null em casa e depois passar lá para pega-la, o que ela recusou.
- Bom, fique à vontade - abriu o apartamento do amigo - só vou tomar um banho e volto já.
Enquanto null seguiu para o banheiro, ela decidiu assistir TV, o que logo a cansou. Passou então a ver os quadros da casa de null, que eram bem diferentes dos da casa de null, eram fotos de quando ele e seus amigos eram jovens, algumas fotos ela reconhecia ser de null, outras eram da família, de festas. null foi observando tudo cuidadosamente e acabou dando em um corredor com três portas. No momento em que ela percebeu onde estava, umas das portas foi aberta revelando um null só de toalha. Os olhos da garota foram de encontro com o corpo bem estruturado de null e depois voltaram aos olhos do rapaz, que estava parado imóvel.
- Eu esqueci minha roupa no quarto - sussurrou.
- Eu... Eu... - null gaguejava, tentando não prestar atenção em como o moço estava - estava vendo os quadros.
Ela ficou sem jeito, em silêncio, sua mente gritava para beija-lo, agarra-lo ali mesmo e, sem pensar, ela o fez. Colou seus lábios nos dele, levou sua mão em seus cabelos e como um imã as mãos dele foram para o corpo dela. Ele passava suas mãos como se ela fosse sua escultura, parou de acariciar o corpo de null quando suas mãos encontraram a cintura dela. Ela o beijava com voracidade e ele correspondia, finalmente haviam se entregado aquilo que haviam evitado a dias, não havia mais distância entre eles, não havia mais mentiras, eram só os dois. null fez null enlaçar suas pernas na cintura dele e a levou para o quarto, onde se amaram até ambos ficarem soados e exaustos.
- Você não sabe como eu estava com saudade disso, do seu cheiro, da sua boca - null sussurrava no ouvido de null, que acariciava seus cabelos.
- Você não sabe o quanto eu esperei por isso... - Ela respondeu.
- null, eu estou para te falar isso desde quando você chegou... - null estava calmo, há dias pensava em falar o que pensava do casamento dela com null e naquele momento havia tomado coragem - Eu te conheço e sei como você é, você não vai se acostumar com a vida que null quer que você tenha, não estou dizendo para você deixa-lo e vir ficar comigo, só estou dizendo que você não é assim, do jeito que ele quer que você seja. null é meu melhor amigo, quase um irmão, mas eu o conheço e eu conheço você, o que ele espera de você é algo impossível, ele quer que você seja a esposa perfeita...
- null, o quê você quer que eu faça? - Perguntou - Que eu largue ele e vá viajar o mundo com você? Eu amo rodar o mundo, mas acho que preciso de alguém que me faça criar raízes em um só lugar.
- null... - Aquilo havia doído em null, doído mais que o esperado - Eu só quero que você seja feliz e eu sei que com ele você não vai ser completamente, porque você não estará sendo você mesma.
- Só passamos seis meses juntos, como você acha que pode me conhecer? - Ela levantou da cama e começou a pegar as roupas.
- Você tem razão, mas se olha no espelho e tenta ver se o quê você é agora, é realmente você - null levantou também e repetiu o gesto dela.
Nem parecia que haviam ficado ali por vários minutos, ela com a mão no cabelo dele e ele abraçando-a, tão rápido como tudo aconteceu, tudo acabou. Vestiram-se e foram de encontro a null, sem nem trocar uma palavra sequer. Quando chegaram no restaurante tiveram uma surpresa inesperada. null havia retornado de viagem.
- Por que demoraram? null disse que vocês deveriam estar aqui há uma hora atrás - Indagou.
- Trânsito - responderam a primeira coisa que veio à cabeça dos dois.
null foi em direção a null e deu um beijo digno de filme nela, havia algo estranho nele, ele estava beijando-a de forma exibida e tanto null quanto null percebiam aquilo, até quem estava sendo beijada percebeu.
- Eu vou no banheiro - disse assim que null a soltou.
Os três rapazes foram até uma mesa que estava reservada para eles, null tinha um sorriso de orelha a orelha, null e null sabiam que quando ele estava sorrindo boa coisa não era.
- Vocês não vão acreditar - começou - Lembram da Clara? - Aquela que todos queriam pegar na faculdade - lembrou null.
- Essa mesma - sorriu vencedor.
Os outros dois amigos se olharam, sabiam o que aquilo significava. Ele havia transado com essa Clara, mesmo estando noivo ele continuava a ser o grande pegador que era.
- Você não muda mesmo, né, null? – null foi o primeiro a falar - enquanto a null está aqui arrumando tudo para esse casamento que você inventou, você vai e pega outra? Mano, essa menina é legal, aceitou casar com você porque imaginou que você fosse um cara decente...
- null, não adianta falar, ele não vai mudar - interrompeu null -. Ele acha lindo ser assim, acha que vai sempre pegar todas, que vai ser o garanhão.
- Olha caras, a null é bem gostosa e eu amo ela - Ele não teve tempo de terminar o que queria dizer, null o socou no rosto.
null voltava do banheiro quando viu a movimentação no restaurante, null saía pela porta do local e null estava sentado com o nariz sangrando. A princípio, null achou que null tinha descoberto o que acontecera com ela e o outro naquela tarde, por isso resolveu nem perguntar o que havia acontecido ali, apenas foi para perto de null esperando uma recusa que não veio, muito pelo contrário, ele parecia querer provar o amor dele por ela como quem não tinha feito nada.
Os dias se passaram e null seguiu sem notícias de null, vez ou outra tentava falar com ele pelo celular, o que não dava certo, já que o aparelho sempre estava desligado. null queria se manter pacífico no meio da confusão, o que a moça não achava errado, já que ele era amigo dos dois e havia se tornado dela também. Os pais de null haviam chegado para o casamento, ela tentava se mostrar o mais feliz possível, mas desde aquele dia com null não havia sido mais a mesma, vivia no mundo da lua, pensava se casar com null era mesmo uma boa decisão.
- Querida, você está meio aérea não acha? - A mãe dela a conhecia como ninguém, não havia como esconder nada dela.
- Estou confusa apenas mãe... não sei se estou tomando a decisão certa - revelou.
- Querida, você nunca teve medo de arriscar- a mãe a lembrou - sempre foi a menina mais corajosa do parquinho, nunca teve medo de nada.
- Eu sei - riu com o que a mãe falava - só que acho que isso não é para mim, não sei... papai dizia que uma hora a gente deve parar e ver a vida passar, acabei pegando isso como exemplo para mim...
- Querida, seu pai diz isso, mas você deve interpretar da maneira que lhe for conveniente - Explicou a mãe - parar e ver a vida passar não é só ficar parada no mesmo lugar, parar e ver a vida passar também pode ser esperar o momento certo para segui-la.
Por um breve momento, null entendeu o que a frase que seu pai tanto falava queria dizer, mas talvez para ela aquilo já não funcionasse mais.
O tão esperado dia chegou, null terminava de se arrumar em uma sala reservada da igreja, em outra null também parecia nervoso, null tentava acalma-lo, mas não funcionava.
- null não vem? - Perguntou ao amigo.
- Não, ele está no aeroporto, decidiu ir viajar...- respondeu chateado.
- null, você sabe como ele, não gosta de ver a felicidade de ninguém - null falava ríspido - quando ele vê alguém mais feliz que ele, ele fica revoltado e vai embora, foi assim quando assumi a empresa da minha família e ele inventou a história de que ia conhecer coisas diferentes.
- Cara, chega - null abriu a porta e simplesmente saiu, havia passado os últimos dias aguentando os comentários maldosos de null sobre null e simplesmente havia se cansado daquilo.
O momento havia chegado, o pai de null já estava ali segurando o buquê de orquídeas da filha, mas ele sentia que faltava algo no olhar dela, algo como paixão. Como um pai que sempre ensinou sua filha a assumir as consequências dos seus atos, nada falou, primeiro por que sabia como a filha assumia os seus compromissos, segundo, por que mesmo que falasse nada adiantaria se ela não percebesse o erro que estava cometendo. E lá estava ela, de braço dado com o pai, com um buquê que ela não fazia a mínima questão, caminhando pelo tapete vermelho da igreja, usando o vestido que lhe caía perfeito no corpo, indo de encontro com seu futuro. Ela não sabia o que esperar dali em diante, sempre foi muito decidida, mas naquele momento seu coração batia forte e não era de emoção.
O caminho até o altar parecia mais uma estrada de mil quilômetros que nunca acabava, a cada passo ela se questionava ainda mais. Passou os olhos por todas aquelas pessoas da igreja e teve vontade de gritar quando não encontrou quem procurava. Quando viu null, se alegrou, pois pelo menos havia um amigo ali com ela, e era realmente o que ele estava fazendo ali, não havia ido aquele casamento por null, mas sim por null que em pouquíssimo tempo conquistou null e o fez entender o porquê de null tanto admirá-la.
Nem havia percebido, mas já havia chegado ao altar e recebia um abraço caloroso do pai e escutado ele sussurrar em seu ouvido:
- Nunca se esqueça quem você é e o que você quer para si!
Assim que o pai a soltou do abraço, a entregou para null pedindo que o rapaz a fizesse feliz. null ouviu o Padre começar a cerimônia, mas ouvia tudo embaralhado, não esboçava uma reação sequer, em determinado momento começou a se sentir presa, lembrava da conversa que havia tido com null, os beijos, da mão dele passeando pelo seu corpo, do seu sorriso, lembrava também da conversa que tinha tido com a mãe e o que seu pai acabara de falar ecoava por sua cabeça. Tudo o quê aquelas pessoas que ela não fazia a mínima de quem eram viram, foi ela deixar o buquê de flores escorregar para o chão e correr pelo caminho que ela havia acabado de fazer ao som da marcha nupcial em direção à saída e nunca mais ninguém, tirando os pais e null, a viu de novo.
Fazia calor, mais uma vez null estava parado próximo a Fontana di Trevi, como fazia sempre que ia a Roma. Ele gostava de observar as pessoas jogando as moedas ali acreditando que iam voltar ao lugar ou que achariam o amor no lugar.
- Sabe - null escutou uma voz feminina -, dizem que se você jogar uma moeda você, retornará à Roma e que se você jogar duas moedas ao invés de uma encontrará o amor em Roma.
- Que bom então que joguei duas - null virou na direção da voz feminina. Seu olhar e o de null se encontraram e ela sem rodeios e sem medo, diminuiu a distância que ainda restava entre eles.
ADICIONAIS:
¹ A Fontana di Trevi é a maior das fontes barrocas de Roma, e tem elementos que lembram sua origem romana (embora a sua localização não era a atual, mas que se encontrava a uns metros de onde está), e é, sem dúvida, a fonte mais conhecida e mágica do mundo, provavelmente também a mais impressionante e bela. Existe uma lenda urbana que diz que quem joga uma moeda na Fontana di Trevi (o ritual exige que se faça de costas, com a mão direita e por cima do ombro esquerdo) vai acabar regressando a Roma, e a verdade é que não há um turista que não cumpra com o ritual, a tal ponto que as moedas são coletadas todos os dias e destinadas à caridade (antes as recolhiam outros também diariamente, mas para benefício próprio). O que não é tão conhecido por quem visita Roma, é que se você jogar duas moedas ao invés de uma encontrara o amor em Roma, e se você jogar três moedas que se casará em Roma.
² Parque Keukenhof fica na Holanda e é maior jardim do mundo, abre apenas dois meses por ano durante a primavera européia: entre março e maio. Aproximadamente 800 mil visitantes podem apreciar lagos ornamentais, alamedas entre árvores seculares e os canteiros de flores do parque.
- Você precisava conhecer ela, só assim entenderia o porquê de eu ter ficado assim - null explicava para null o motivo de estar encantando pela menina que conheceu em sua ida à Roma.
- Ela deve ser só mais uma que você pegou e daqui uns dias vai esquecer - null bebia sua cerveja como se nada estivesse acontecendo.
- null, com ela foi diferente, eu não sei explicar, só sei que não foi igual as outras… - null respirou fundo, queria que os amigos entendessem que o quê aconteceu na viagem não foi algo bobo - Com ela não foi só físico, entende? Não foi só sexo, foi algo a mais. Foram os melhores seis meses da minha vida, ela realmente é a mulher para mim.
- null, o cara está apaixonado, não adianta você falar nada.- null voltou do balcão do bar, que era próximo a mesa em que estavam, segurando duas cervejas e dando uma delas a null, se sentou e encarou null - Quando você disse que tinha começado um “namoro” – fez aspas com as mãos - com a menina da sua viagem de negócios, foi a mesma coisa... “Ela é diferente”, “Nunca me senti assim” - Imitou a voz de null e riu.
- Sério, um dia vocês vão conhecer ela e entender do quê eu estou falando - null deu um gole na cerveja que segurava e mais uma vez respirou fundo, recordando tudo que passara com a garota dos seus sonhos.
- Falando na minha namorada, ela vai vir me visitar – null deu um último gole na sua cerveja e tomou coragem para falar- Eu sei lá, sei que é cedo, mas estou pensando em pedir ela em casamento.
Nem era preciso dizer como null ficou ao ouvir aquilo, null era conhecido por tomar decisões ruins e precipitadas o tempo inteiro, ele era o famoso tipo de “pego mais não me apego”, era impossível imagina-lo casando e sossegando com uma única pessoa.
- null, você não acha que vai fazer uma cagada? – null perguntou.
- Nisso eu tenho que concordar com o null, você nem conheceu ela direito ainda, seu relacionamento é a distância - null concordou.
- Aí que está, estou cansado de ter esse relacionamento a distância, quero que ela pare de rodar o mundo, quero que ela fique aqui comigo. Cansei de ficar por aí, pulando de galho em galho – null explicava e null só conseguia pensar na merda que ele queria fazer - Mesmo que vocês achem idiotice, eu vou pedir ela em casamento assim que ela botar os olhos em mim...
- Igual foi com Sasha... – começou null.
- E com a Ingrid - Continuou null.
- Eu não sabia o que queria naquela época- null levantou da mesa e foi até o balcão.
- Cara, o lance com a Ingrid não foi tipo... há uns meses atrás? – null perguntou.
- Foi antes dele conhecer essa garota no intercâmbio e a Sasha antes da Ingrid - null lembrava das ex namoradas de null e como ele agia com as mesmas.
null pedia a cerveja, enquanto secava uma garota a sua frente.
- Ele não muda, vai sempre meter os pés pelas mãos - null observando a cena comentou com null, que apenas assentiu.
null acordou no apartamento de null, se lembrava de ter saído do bar, mas não fazia a mínima ideia de como havia chegado no local. Ao caminhar em direção a sala, encontrou null jogado no sofá com a maior cara de ressaca do mundo.
- Beberia um galão inteiro de água se conseguisse - Comentou o amigo sobre a ressaca, sentindo a presença do amigo.
- null, fique a vontade para beber o tanto de água que quiser – null riu da cara do amigo e foi para a cozinha.
- Cara, você voltou de vez ou já está pensando na próxima viagem? – null o seguiu, conhecia o amigo e sabia que este não ficaria parado.
null preparava algo para comer, os anos que havia passado sozinho viajando de um lugar para outro, fizeram com que o rapaz aprendesse a se virar, cozinhar, lavar, passar, limpar... nunca haviam sido tarefas complicadas para ele, ainda mais depois das inúmeras viagens que fez.
- Você sabe que eu não sei... - null respondeu meio inseguro - Às vezes penso em ficar por aqui e, sei lá, abrir um negócio... estaria mais perto da minha família, dos meus amigos, mas ao mesmo tempo fico pensando se vale a pena, existe tantos lugares que eu ainda não fui, tantas coisas que ainda não fiz.
- Você sabe que pode ficar aqui o tempo que quiser, até decidir o que vai querer - null entendeu a indecisão do amigo - E de acordo com o cheiro disso aí que você está preparando, deveria investir na sua carreira de chefe de cozinha - null riu, se levantou e foi até o fogão ver o que o amigo preparava.
- Como se você não fosse mil vezes melhor - null sabendo o que o amigo iria fazer a seguir, deu espaço para o mesmo experimentar o que estava fazendo.
- A diferença, meu amigo, é que eu estudei para fazer o que faço, o seu dom é natural – null era um chef de sucesso, seus pratos atraíam gente do mundo inteiro - Mas, e aí, vamos jogar futebol ou não?
Os amigos comeram, se arrumaram para o futebol. Quando null saía do quarto com sua mochila, viu null conversando com alguém ao telefone.
- Quem é? – Perguntou.
- Está bom, null - null respondeu no telefone e para null ao mesmo tempo - a gente vai, relaxa, você está muito nervoso, isso afasta as mulheres. A gente se encontra lá então. Uhum. Ok.
- A mina dele chegou? – Perguntou null já sabendo a resposta.
- Sim, e ele quer que a gente vá na casa dele para conhecer ela - null respondia enquanto se jogava no sofá.
- O jogo já era, então?- null deduzia jogando a mochila no chão.
- Se a gente não for lá, capaz dele arrastar a pobre coitada até aqui, então melhor a gente ir e acabar com essa afobação toda dele.
null era amigo do null e do null desde que se dava por gente, cresceram juntos, estudaram juntos até o ensino médio e depois se separaram para fazer faculdade. null e null permaneceram na cidade e fizeram suas faculdades, depois de um tempo, null se cansou do lugar onde cresceu e decidiu rodar o mundo em busca de inspirações para suas fotos, enquanto null continuou na cidade e assumiu a empresa de sua família, que era muito rica, por sinal. null foi estudar gastronomia em Paris, assim que se formou decidiu voltar. Ele sempre dizia que amava Paris, mas que nada se comparava com o lugar de onde veio. Os três tinham muitas coisas em comum, mas ambos queriam coisas diferentes; o objetivo de null era abrir seu restaurante e fazer aquilo que ele amava, null pensava em se aventurar e conhecer tantas coisas quanto fosse possível. Já null, era ambicioso, sempre teve aquilo que quis, não desistia até conseguir aquilo que almejava, e bem, quando não conseguia, as coisas ficavam feias.
null e null seguiam em direção à casa de null, não ficava tão longe de onde null morava, que era mais para o centro da cidade, mas ficava numa região mais tranquila, sem trânsito ou barulho de carro a todo momento.
- Quero só ver se ele vai pedir essa menina em casamento mesmo - null comentava a todo momento sobre a decisão do amigo.
- Ele é louco, está sendo precipitado - null respondia - Ele pode até pedir, mas vai acabar desistindo ou pisando na bola, como fez com as outras.
null já havia se comprometido com duas outras mulheres no passado, a primeira havia sido um romance de passagem de adolescência para vida adulta, que durou por longos quatro anos e acabou se transformando em um relacionamento turbulento, graças ao pai de null que prometeu que se ele largasse a garota, assumiria a empresa da família. O segundo relacionamento de null, acabou em muito choro; dias antes do casamento, null saiu da empresa e foi para um bar, assim como acontecia quando os amigos se juntavam, lá ele acabou ficando com uma garota que nem ao menos sabia o nome, a levou para sua casa, no dia seguinte, quando sua noiva chegou da casa dos pais, encontrou null e a tal garota na cama. Não é necessário nem dizer o que aconteceu depois disso. null e null gostavam muito do amigo, mas o conheciam demais a ponto de saber que o que null realmente gostava era de festas e mulheres, para eles era muito difícil imaginar uma vida em que null resolvesse ficar com apenas uma e ser fiel à ela.
null estacionou na frente da casa de null e tocou a campainha. Liza, uma mulher de meia idade que trabalhava para o rapaz, veio atendê-los. Liza trabalhava para a família de null há muito tempo, e quando o garoto decidiu morar sozinho, ela quis acompanha-lo.
- Oi, meninos, quanto tempo! - Os cumprimentou e pegou no braço de null - você está muito magrinho, menino. Não é porque você faz comida para outros que não deve comer também, viu - Liza achava que os meninos eram adolescentes ainda, pois se preocupava com eles.
- Ah, Liza, vocêsabe que como pouco e nem estou tão magro assim - null respondia enquanto abraçava a senhora.
- null, você voltou, nem acredito - quando seu olhar caiu sobre o outro, a senhora simplesmente abriu o maior sorriso que podia, o que foi correspondido.
- Voltei, estava com saudades da senhora - Respondeu - Liza, o null já chegou com a futura noiva?
- Ah, então vocês já sabem? - Liza fechou a cara - Esse menino não sabe o que está fazendo, mal conhece essa moça e já quer pedir ela em casamento. Não que seja feia ou não pareça ser uma boa pessoa, muito pelo contrário... mas na minha época, a gente namorava a pessoa por anos, com o pai na sala ainda, e depois de um certo tempo, casávamos.
- A gente também falou para ele que era loucura, mas a senhora sabe muito bem como ele é, só faz o que quer - null dizia para a mulher, que prestava atenção.
- Quem só faz o que quer? – null apareceu do nada, interrompendo a conversa.
- Quem você acha? – Liza respondeu sem medo o rapaz e saiu andando para dentro da casa.
- Que bom que chegaram, ainda não fiz o pedido, estava esperando vocês - null dizia animado enquanto entrava na casa junto com os outros.
A casa do rapaz era enorme e mostrava a riqueza que o mesmo tinha. Eles caminharam pelo hall de entrada até chegar a sala, onde puderam avistar uma moça com cabelos castanhos claros de costas, observando um dos quadros pendurados na parede.
- Caras, essa aqui é a null - null sorriu para os rapazes que sorriram de volta.
- null, por favor - a moça virou e paralisou.
- Finalmente estamos te conhecendo, mal sabe o quanto tivemos que ouvir sobre você nesses últimos meses - null, sempre muito humorado, tomou iniciativa de cumprimentar a moça - Eu sou null.
null não conseguia se mover, encarava a moça que o encarava de volta, ele não acreditava na visão que estava tendo, simplesmente não conseguia. null voltou e deu um leve empurrão em null.
- Prazer, null - o rapaz se esforçava para as palavras saírem.
- O prazer é todo meu - null o respondeu sorrindo de um jeito cúmplice, sorrindo de uma forma que fez null se arrepiar, um sorriso que o fez voltar para Roma.
“Flashback ON
null fotografava a multidão perto da Fontana di Trevi¹, ele se maravilhava com a fé que as pessoas jogavam moedas naquela simples fonte, ria sozinho só de imaginar qual seria o pedido se jogasse uma de suas moedas na fonte.
- Sabe, é difícil de entender porque tantas pessoas vêm até aqui e jogam suas moedas - O rapaz ouviu uma voz feminina e tirou o visor da câmera dos olhos.
- Talvez elas não consigam entender a sua falta de fé - null virou para o lado que vinha a voz, viu surgir no rosto da garota um sorriso e simplesmente não teve como não retribuir.
- Sou null - a garota estendeu a mão.
- null - repetiu o gesto.
Flashback OFF”
O clima que se instalara na sala não era dos melhores, null mostrava toda a casa a null, enquanto os dois rapazes esperavam na sala.
- O quê foi aquilo? - null perguntou, percebendo o clima que havia ficado.
- Nada - o outro respondeu.
- Qual é, null. Crescemos juntos, te conheço, cara - null insistia. null rolava os toda a vez que o amigo falava essa frase e dessa vez não foi diferente, null o encarava a fim de obter uma resposta, ficaram assim por um tempo até que null cedeu.
- Ok, ok - respirou fundo - eu já conhecia a null - respondeu.
- Ela é da cidade e eu não estou lembrado? Porque ela é bem bonita, seria difícil de esquecer... - o rapaz falava, mas foi interrompido.
- Não, null, ela não é daqui. - null respirou fundo mais uma vez - Lembra da menina que falei? A que eu conheci na viagem... - Foi interrompido pelo amigo.
- A “com ela foi diferente, eu não sei explicar, só sei que não foi igual as outras”? - O amigo repetia as palavras que o amigo havia dito anteriormente.
- Sim, essa mesmo - riu da imitação do amigo.
- Tá, o quê tem ela? – null perguntou e null o olhou como quem diz “sério que você ainda não ligou uma coisa com a outra”, o amigo finalmente havia entendido, arregalou os olhos e abriu a boca - Não... é sério, mesmo? A mina do null e a sua é a mesma?
null apenas assentiu e null ficou pasmo, null voltou a sala. Era possível ver a felicidade de null estampada em seu rosto, uma felicidade diferente daquelas que eles já haviam presenciado o amigo demonstrar quando havia uma namorada nova na parada.
- Caras, preciso atender uma ligação, quando null voltar, conversem com ela. – null ia se retirando da sala, quando virou para trás - E null, o que está acontecendo com você hoje? Nunca foi calado, logo hoje inventou de ser? – Virou e seguiu o caminho que seguia antes.
Os amigos apenas se olharam rolando os olhos. null descia as escadas e null percebendo, quis logo deixar o amigo e a moça sozinhos.
- Eu vou ali na cozinha ver o quê a Liza está fazendo, pegar umas dicas... - e foi se retirando.
Ela sorria para null, que possuía um misto de sensações. Ele não sabia muito bem o quê dizer, como agir... afinal, seu amigo iria pedir a mão daquela mulher em casamento em poucos minutos. Mas, null, ela sabia bem o que estava sentindo.
- Oi, “Baby”, estava com saudades - o abraçou, passou a mão em seus cabelos do jeito que o fazia lembrar das noites que passaram juntos em diferentes lugares do mundo, e todas as sensações estranhas de null se converteram em saudades, alegria, paixão.
- Eu também - o rapaz a envolveu em um abraço apertado e respirou fundo, a fim de sentir todos os aromas que a moça carregava e ele esteve longe por tanto tempo.
Ficaram ali, abraçados por mais alguns segundos, até null se soltar do abraço e ir para o outro lado da sala. null o olhou sem entender, tentou sonda-lo pelos seus movimentos e sorriu derrotada.
- null... – começou. - null, null vai pedi-la em casamento - Era possível ver a tristeza em seus olhos.
- Eu sei, eu vim para cá sabendo disso já - Ela sorria.
- Então você vai aceitar se casar com ele? - Perguntou.
- Sim, eu gosto do null, mas também gosto de você... - o rapaz encarava a moça, ele sabia que não podia interferir no que os dois tinham, afinal o futuro noivo dela era um de seus melhores amigos e mesmo ele sendo do jeito que era, jamais seria capaz de passar por cima dele.
- Olha - respirou fundo - eu vou continuar fingindo que não te conheço, você continua fingindo que não me conhece e fica tudo certo, tá bom? – Propôs à null.
null voltava a sala com null em seu encalço, a moça só teve tempo de assentir discretamente para que só null percebesse. O rapaz a abraçou, o que fez null dar as costas a eles.
- Vamos comer, Liza já está chamando.- null percebendo o clima que ficara no ar, decidiu intervir.
O grupo seguiu para a sala de estar, onde a mesa já estava posta e sentaram-se. Durante a refeição, não houve muitas conversas, apenas null perguntando um pouco sobre os amigos do seu futuro noivo. Apesar de já saber tudo sobre null, a moça interpretava bem e fazia caras e bocas dignas de um Oscar, isso divertia um pouco o rapaz e deixava null confiante de que deveria realmente pedi-la em casamento, já que ela havia se dado tão bem com seus amigos. Após comerem, ficaram ali sentados na mesa conversando, agora era null que perguntava sobre Rebbeca.
- Eu tenho um pedido a fazer. - null chamara a atenção para si - Eu sei que é pouco tempo ainda, mas para o amor não existe tempo certo ou errado, - começou seu discurso - eu conheci uma garota incrível em uma das viagens mais difíceis que fiz. Sem enrolar muito - tirou uma caixinha aveludada do bolso da calça - null, quer casar comigo?
null assistia a cena em silêncio, null observava a cara dos amigos, um parecia que estava soltando fogos de artificio e o outro tentava disfarçar a tristeza com um sorriso que mais parecia uma careta.
- É claro que eu aceito. - A moça fazia cara de surpresa, como se não soubesse que seria pedida em casamento.
Beijaram-se, a cena que null via parecia não ter fim, ele queria ir embora dali o mais rápido possível... Sabia que estava apaixonado, mas não imaginava que era tanto a ponto de querer roubar aquela mulher para ele e fugir.
null chegou em casa sentindo um gosto amargo na boca, null tentara puxar assunto com o amigo durante todo o caminho de volta, mas entendeu que não adiantasse o que falasse, o amigo continuaria no silêncio profundo, imerso em seus pensamentos.
-null, acho que viajo semana que vem - pesaroso, null avisou ao amigo.
- null, você acabou de chegar, não deu tempo nem de visitar sua mãe e você já quer sair por aí? - o amigo sabia o porquê de toda essa pressa de null em rodar o mundo - Eu sei que vai ser tenso, mas cara, você não pode querer ir embora por causa de uma garota.
- null, já falei que não é uma garota qualquer - null gritou e abaixou seu tom de voz - Ela me faz sentir como um adolescente de novo, me acalma, me faz ser uma versão melhor de mim mesmo, - riu - enquanto viajamos por aí, até o nome dos nossos filhos a gente já havia escolhido.
- Então, foi algo sério, mesmo? – O amigo perguntou já sabendo a resposta.
- Foi. Foi intenso, verdadeiro - explicou.
- Será que ela já estava com o null quando vocês se conheceram? – null havia abordado uma questão que o outro não pensara antes.
- Não sei, acho que prefiro nem saber - respondeu.
null passara o fim do dia todo jogado no sofá, não se animou em fazer nada depois do almoço que teve com seus amigos e ela, a razão de seus pensamentos estarem tão bagunçados. Tentava buscar em sua memória algo que acontecera durante o tempo que viajaram juntos, que mostrasse ou lhe desse alguma pista do que null o perguntara mais cedo. Nunca havia ouvido ela mencionar o nome de alguém, muito menos falar ao telefone, tudo que ela fazia era pelo computador, e sabia que null gostava de resolver tudo pelo telefone. Buscava entender também o que ele havia visto nela que atraiu a atenção do amigo também, seus gostos e os dele eram bem diferentes, o amigo sempre gostara das meninas tímidas, das meninas mais fáceis de lidar, já que não tinha muito tempo para drama, como ele mesmo costuma dizer, null já gostava das meninas de personalidade forte, misteriosas... ele gostava das garotas que o surpreendiam até nas pequenas coisas, de meninas que gostassem de se aventurar com ele, que além de namorada fosse companheira para todas as horas e, null, bem... null era tudo isso que ambos gostavam. null passou tanto tempo pensando em tudo, que acabou pegando no sono ali no sofá mesmo.
“null e null estavam no Parque Keukenhof² e passeavam pelo jardim de tulipas, ele com sua câmera tentava tirar uma foto dela, que se escondia da lente do fotógrafo.
- Vai, null, deixa eu tirar uma foto sua... - ele pedia risonho.
- Baby, já disse que não gosto de fotos - ela ria tentando esconder seu rosto com uma tulipa.
Foram tantas as tentativas de null, que em um de seus cliques ele conseguiu uma boa foto de null com uma tulipa no rosto. Era possível ver o contraste que a flor fazia com o rosto misterioso de null.
- null, quando tivermos nossos filhos vamos traze-los aqui e eu vou contar para eles o quanto o pai deles é um teimoso - Sorria e fazia cócegas em null.
- Filhos? - O rapaz curioso.
- É, Jackie e Wilson, já escolhi os nomes por você - riu.
- E como eles vão ser? - Perguntou null se sentando em um dos bancos.
- Bem, ela vai ter seus olhos verdes e ele os meus olhos castanhos - começou - ela vai adorar dançar e ele vai tocar, ter uma banda, sabe?
null apenas assentia e a observava, pensava se aquilo realmente aconteceria, se eles realmente teriam uma vida juntos, se teriam filhos. null sentou na perna de null e ia beija-lo...”
-null, acorda- null chamava o amigo, tentando acorda-lo.
null despertou do sonho que mais era uma lembrança. Seu sonho parecia tão real que quase conseguiu sentir a textura da boca da moça, acordou devastado pelo sonho daquela noite.
- Pela cara que você estava fazendo, parecia que você estava sonhando com algo bom - Sugeriu o amigo.
- Algo bom e ruim. - sentou no sofá e encarou null - Sonhei com ela.
null andava pela casa de null, ela se perguntava o porquê de uma pessoa morar numa casa tão grande. null nunca teve uma casa para chamar de lar, ela nunca tinha vincado raízes em um único lugar, desde sua infância ela se mudara com bastante frequência por conta do emprego dos seus pais, que eram investigadores e a cada caso terminado decidiam por se mudar. Ela enxergava isso como algo negativo e positivo ao mesmo tempo; negativo porque sempre que arrumava novos amigos já era hora de ir embora, e positivo porque ela sempre conhecia gente nova e lugares também, tudo era sempre uma novidade. Essas mudanças moldaram a personalidade de null e fizeram ser quem ela era, decidiu ser jornalista justamente por causa das novidades, poderia trabalhar em qualquer lugar do mundo, falando sobre qualquer coisa. A moça tentava se imaginar morando naquela casa, pois seria o que iria acontecer depois de seu casamento com null, todo aquele luxo, casa enorme, empregados, nada ali fazia o tipo de vida que queria levar, mas como seu pai dizia; “uma hora a gente tem que parar, ficar quietinho, ouvindo um blues, sentar e assistir o mundo passar”.
null procurava a noiva pela casa e finalmente a encontrou no jardim, sorriu ao vê-la e a beijou.
- Estava pensando, em que data você quer marcar nosso casamento? – Perguntou a ela.
- Bom, eu não sei... você decide isso, o quê acha? - Respondeu e viu surgir no rosto do rapaz um largo sorriso.
- Por mim poderia ser agora, - brincou - mas vou marcar para o início do mês.
Assim como chegou no jardim, null logo adentrou a casa. null não acreditava que realmente iria casar, uma felicidade sem tamanho lhe invadia até que pensou em null e tudo virou confusão. Lembrava do dia que tinham se conhecido e como os dois ficaram próximos daquele dia em diante, lembrava de quando conhecera null e tentava comparar o que sentiu em ambas as ocasiões. Com null, tudo era muito físico, selvagem e luxuoso, até se assustaria se não fosse, ele era lindo, inteligente, charmoso. Com null tudo era uma surpresa, ela gostava de surpreende-lo e ele amava corresponder, com ele era físico, intelectual, fogo, suave, era uma atração fatal e completa. Lembrou-se do dia em que fingiram roubar o próprio carro dela, um Lexus preto e sair por aí buscando pistas de coisas estranhas que aconteciam nos lugares em que eles passavam, ela riu da lembrança, eles não tinham nascido para aquilo, não era para eles, o que eles gostavam mesmo era de aproveitar cada momento como se fosse o último.
null ajudava null em seu restaurante, o amigo queria que o outro tirasse algumas fotos dos pratos para colocar em seu site, o que foi interrompido pelo telefone de null tocando.
- É o null - falou para o outro e atendeu o telefone - E aí, null? ... Tudo... Já? Não acha que está fazendo tudo muito rápido? ... Você quem sabe! ... Como assim, você precisa viajar? Seu casamento é daqui a quatro semanas ... Está bom, então. Eu aviso. Abraço.
- E aí? – O amigo questionou.
- Tirando a parte que ele marcou o casamento para quatro semanas e quer que você se vire com as comidas do casamento e que eu arrume um bom fotografo para o “evento”- fez aspas com as mãos -, ele vai viajar para resolver umas coisas da empresa - null explicou.
- Até aí, tudo bem, dou um jeito aqui no restaurante - null respondeu compreensivo. - A null vai viajar com ele?
- Aí que vem a pior, ou melhor... a melhor parte, não estou sabendo mais... - respirou fundo, estava apreensivo, desconfortável - A null vai ficar para resolver as coisas do casamento e nós vamos ter que ajudar ela, já que ela não conhece ninguém, nem mesmo a família dele.
null entendeu o desconforto de null, que passava as mãos pelos cabelos de minuto a minuto demonstrando ainda mais seu nervosismo. Desde o dia em que null chegara, ele não havia falado com null e nem ido à casa dele, permanecia no apartamento de null e tudo que precisava fazer na rua, fazia em um período em que sabia que não os encontraria. As lembranças das viagens que tinham feito juntos estavam mais vivas que nunca e, volta e meia, null pegava null observando algumas das fotos que havia tirado da moça ou lendo alguns e-mails que haviam trocado.
- Olha, null, se você quiser eu ajudo ela em tudo, assim você não fica no meio de toda essa confusão - null coçou a cabeça e sugeriu ao amigo.
- Ou eu posso fingir que não sinto nada por ela, ajudar o mais rápido possível e cair no mundo de novo - respondeu cansado - Eu já pensei nisso, null, só que se eu não ajudar vai ficar estranho me entende? null vai começar a achar estranho, suspeitar de alguma coisa, e não quero... - gaguejou - não quero que ele saiba que eu e ela tivemos algo, quero que ela seja feliz com ele e ponto. Vou continuar fingindo que não conheço ela, que não tivemos nada.
- Acho bom você começar a fingir desde agora então - gesticulou com a cabeça que null e Liza tinham acabado de entrar no restaurante.
As duas mulheres entraram no estabelecimento, Liza pediu para a outra aguardar e seguiu rumo a cozinha que tanto já conhecia. null pedia muitos conselhos à Liza e essa o tratava como se fosse um filho. Os três retornaram ao salão, null não queria tomar partido na situação, ao mesmo tempo que se sentia lisonjeado por null ter deixado a responsabilidade da comida para ele, se sentia triste pelo outro amigo que veria seu outro melhor amigo e a garota por quem estava apaixonado se casando.
- O quê você está pensando para o casamento? – null com o um bloco de anotações e caneta perguntou.
- Boa pergunta, não sei bem o que é servido em casamentos - a noiva respondeu. - Isso é extremamente novo para mim, acredite.
- Geralmente servimos aperitivos, entrada, prato principal e sobremesas diversas aqui no restaurante, não sou de fazer casamentos, mas como é do null estou abrindo uma exceção, então você pode pedir o que quiser - null sorriu.
- Ainda bem que trouxe Liza, ela vai resolver esses negócios da comida - Sorriu de volta e olhou em direção a null - Sobre as fotos, null... – Hesitou - null - corrigiu - eu queria que você fizesse algumas fotos durante a escolha do vestido de noiva, para eu olha-los depois e escolher com calma.
O rapaz ficou por um momento pensando, momento que foi quebrado por uma tosse discreta de null que percebeu que o amigo estava longe.
- Ok, pode ser - aceitou - quando você começar a procurar, você me avisa, e aí, eu tiro as fotos.
- Bem, podíamos começar hoje, o quê acha? - Sugeriu.
- Bem... ok - null não tinha escolha, não poderia dar para trás depois de ter aceitado.
null foi ao apartamento do amigo, pegou seu equipamento e partiu com null rumo às lojas de vestidos da cidade. Eles adentraram em cada uma das lojas e nada tinha aquilo que a moça queria.
- Esse ficou bom. Não acha null? – Perguntou ao rapaz que se preocupava em tirar as fotos.
- Ficou - respondia a cada vez que ela o perguntava sobre vestidos.
- Você fala isso para todos - rebatia sempre que escutava a resposta dele.
A tarde passou voando, o que fazia tempo que não acontecia para ambos. No começo, ficaram meio receosos com o contato que estavam tendo, as vezes em que se tocavam acidentalmente sentiam o que o corpo de um provocava no do outro, noutras eles só se perdiam em pensamentos, em lembranças que os faziam perder o foco do que estavam fazendo, lembranças que davam saudade não só do toque, mas da textura que o outro tinha. Naquela noite ela dormiu pensando nele e sonhou com ele, sonhou com os beijos de null, com os toques dele, com aqueles meios sorrisos que ele dava quando ficava encarando ela, sonhou com suas mãos passeando pelos cabelos dele.
Dia após dia, null passava mais e mais tempo com null e null, o objetivo da sua ida até aquela cidade era passar mais tempo com seu futuro marido, futuro marido que ela nunca tivera certeza que amava, futuro marido que viajou assim que ela colocou seus pés em sua casa. Seu convívio com os meninos fazia com que ela gostasse ainda mais dos dois e começasse a entender o porquê de eles serem tão amigos.
- Fala sério, vocês cresceram juntos mesmo? - Interrogava curiosa durante um dos jantares com eles.
- Sim, nossas famílias eram amigas então foi bem fácil nosso convívio - explicava null - Eu e null sempre nos demos bem, sempre foi como se fossemos irmãos.
- Irmãos de pais diferentes - completou null.
- Queria ter tido isso - suspirou tristonha.
- E por que não teve? - null também curioso.
- Eu e meus pais sempre nos mudamos muito, nunca nos prendemos as pessoas - começou a explicar - até um tempo atrás eu até acompanhava eles, mas depois que fiz dezoito anos, eles me deixaram livre para escolher se ia de lugar em lugar com eles ou se fazia o que eu queria, e bem, a resposta vocês já devem saber... - riu.
- Mas você mantém contato com eles, certo? - null resolveu perguntar também, assim ele desvendava alguns dos mistérios dela.
- Ah, sim, com certeza - respondeu sem hesitar - vocês vão conhecê-los, virão para o casamento.
Assim que a última palavra foi dita, null simplesmente mudou de atitude, voltou a ficar em silêncio, o rapaz havia esquecido o porquê passava tanto tempo com ela. Na verdade, estava passando mais tempo do que realmente deveria, ele estava a ajudando com todo o casamento praticamente, enquanto null estava não sabia onde, resolvendo problemas da empresa.
null buscava o vestido perfeito, o que estava cada vez mais difícil. Decidiu arrastar null para a cidade vizinha, o rapaz já não estava aguentando ficar tanto tempo com ela.
- Olha null - começou...
- Já sei o que vai dizer - o interrompeu - e eu sei que está foda para você, se minha mãe estivesse aqui, seria ela que estaria me ajudando, mas eu não conheço ninguém, tirando você e null. Eu sei que tudo isso está sendo doloroso para você, null.
- Não, não é por isso não... - o rapaz se fez de desentendido - eu só preciso começar a organizar minha viagem.
A garota sorriu, null achou que ela tinha acreditado naquela mentira que nem ele mesmo conseguia acreditar, mal sabia ele que ela via a mentira estampada em seu rosto tanto quanto ele. Estacionaram o carro assim que avistaram uma loja de vestidos, null foi entrando enquanto null arrumava os equipamentos que ia usar. Vendo que a garota estava demorando, resolveu adentrar a loja e viu pelo reflexo do espelho o que ele achou ser um anjo. null vestia um vestido branco simples rendado, nada desses vestidos volumosos cheio de aplicações, ele simplesmente moldava seu busto e quando chegava a cintura possuía uma pequena abertura, o vestido lhe caia como uma luva, parecia que havia sido feito para ela, que podia ser comparada a uma princesa. A vendedora colocou uma pequena tiara em sua cabeça com o véu, null estava sem palavras para descrever o que via, sem palavras para descrever o que estava sentindo, ele só tinha uma certeza, a certeza de que ela era o ser mais bonito e maravilhoso do mundo.
- null, - chamou - o quê achou desse?
null não conseguia responder, ele só conseguia observar com desejo a imagem da mulher vestida de noiva, o que fez a moça sorrir constrangida. Saíram da loja, ambos calados, depois de comprarem o vestido o clima ficou um pouco tenso, era possível ver de longe a tensão sexual da dupla. Pegaram o carro e decidiram voltar para a cidade, iam encontrar null para mais uma vez jantarem juntos, mas antes, null decidiu passar em casa para tomar um banho. Deu a ideia de deixar null em casa e depois passar lá para pega-la, o que ela recusou.
- Bom, fique à vontade - abriu o apartamento do amigo - só vou tomar um banho e volto já.
Enquanto null seguiu para o banheiro, ela decidiu assistir TV, o que logo a cansou. Passou então a ver os quadros da casa de null, que eram bem diferentes dos da casa de null, eram fotos de quando ele e seus amigos eram jovens, algumas fotos ela reconhecia ser de null, outras eram da família, de festas. null foi observando tudo cuidadosamente e acabou dando em um corredor com três portas. No momento em que ela percebeu onde estava, umas das portas foi aberta revelando um null só de toalha. Os olhos da garota foram de encontro com o corpo bem estruturado de null e depois voltaram aos olhos do rapaz, que estava parado imóvel.
- Eu esqueci minha roupa no quarto - sussurrou.
- Eu... Eu... - null gaguejava, tentando não prestar atenção em como o moço estava - estava vendo os quadros.
Ela ficou sem jeito, em silêncio, sua mente gritava para beija-lo, agarra-lo ali mesmo e, sem pensar, ela o fez. Colou seus lábios nos dele, levou sua mão em seus cabelos e como um imã as mãos dele foram para o corpo dela. Ele passava suas mãos como se ela fosse sua escultura, parou de acariciar o corpo de null quando suas mãos encontraram a cintura dela. Ela o beijava com voracidade e ele correspondia, finalmente haviam se entregado aquilo que haviam evitado a dias, não havia mais distância entre eles, não havia mais mentiras, eram só os dois. null fez null enlaçar suas pernas na cintura dele e a levou para o quarto, onde se amaram até ambos ficarem soados e exaustos.
- Você não sabe como eu estava com saudade disso, do seu cheiro, da sua boca - null sussurrava no ouvido de null, que acariciava seus cabelos.
- Você não sabe o quanto eu esperei por isso... - Ela respondeu.
- null, eu estou para te falar isso desde quando você chegou... - null estava calmo, há dias pensava em falar o que pensava do casamento dela com null e naquele momento havia tomado coragem - Eu te conheço e sei como você é, você não vai se acostumar com a vida que null quer que você tenha, não estou dizendo para você deixa-lo e vir ficar comigo, só estou dizendo que você não é assim, do jeito que ele quer que você seja. null é meu melhor amigo, quase um irmão, mas eu o conheço e eu conheço você, o que ele espera de você é algo impossível, ele quer que você seja a esposa perfeita...
- null, o quê você quer que eu faça? - Perguntou - Que eu largue ele e vá viajar o mundo com você? Eu amo rodar o mundo, mas acho que preciso de alguém que me faça criar raízes em um só lugar.
- null... - Aquilo havia doído em null, doído mais que o esperado - Eu só quero que você seja feliz e eu sei que com ele você não vai ser completamente, porque você não estará sendo você mesma.
- Só passamos seis meses juntos, como você acha que pode me conhecer? - Ela levantou da cama e começou a pegar as roupas.
- Você tem razão, mas se olha no espelho e tenta ver se o quê você é agora, é realmente você - null levantou também e repetiu o gesto dela.
Nem parecia que haviam ficado ali por vários minutos, ela com a mão no cabelo dele e ele abraçando-a, tão rápido como tudo aconteceu, tudo acabou. Vestiram-se e foram de encontro a null, sem nem trocar uma palavra sequer. Quando chegaram no restaurante tiveram uma surpresa inesperada. null havia retornado de viagem.
- Por que demoraram? null disse que vocês deveriam estar aqui há uma hora atrás - Indagou.
- Trânsito - responderam a primeira coisa que veio à cabeça dos dois.
null foi em direção a null e deu um beijo digno de filme nela, havia algo estranho nele, ele estava beijando-a de forma exibida e tanto null quanto null percebiam aquilo, até quem estava sendo beijada percebeu.
- Eu vou no banheiro - disse assim que null a soltou.
Os três rapazes foram até uma mesa que estava reservada para eles, null tinha um sorriso de orelha a orelha, null e null sabiam que quando ele estava sorrindo boa coisa não era.
- Vocês não vão acreditar - começou - Lembram da Clara? - Aquela que todos queriam pegar na faculdade - lembrou null.
- Essa mesma - sorriu vencedor.
Os outros dois amigos se olharam, sabiam o que aquilo significava. Ele havia transado com essa Clara, mesmo estando noivo ele continuava a ser o grande pegador que era.
- Você não muda mesmo, né, null? – null foi o primeiro a falar - enquanto a null está aqui arrumando tudo para esse casamento que você inventou, você vai e pega outra? Mano, essa menina é legal, aceitou casar com você porque imaginou que você fosse um cara decente...
- null, não adianta falar, ele não vai mudar - interrompeu null -. Ele acha lindo ser assim, acha que vai sempre pegar todas, que vai ser o garanhão.
- Olha caras, a null é bem gostosa e eu amo ela - Ele não teve tempo de terminar o que queria dizer, null o socou no rosto.
null voltava do banheiro quando viu a movimentação no restaurante, null saía pela porta do local e null estava sentado com o nariz sangrando. A princípio, null achou que null tinha descoberto o que acontecera com ela e o outro naquela tarde, por isso resolveu nem perguntar o que havia acontecido ali, apenas foi para perto de null esperando uma recusa que não veio, muito pelo contrário, ele parecia querer provar o amor dele por ela como quem não tinha feito nada.
Os dias se passaram e null seguiu sem notícias de null, vez ou outra tentava falar com ele pelo celular, o que não dava certo, já que o aparelho sempre estava desligado. null queria se manter pacífico no meio da confusão, o que a moça não achava errado, já que ele era amigo dos dois e havia se tornado dela também. Os pais de null haviam chegado para o casamento, ela tentava se mostrar o mais feliz possível, mas desde aquele dia com null não havia sido mais a mesma, vivia no mundo da lua, pensava se casar com null era mesmo uma boa decisão.
- Querida, você está meio aérea não acha? - A mãe dela a conhecia como ninguém, não havia como esconder nada dela.
- Estou confusa apenas mãe... não sei se estou tomando a decisão certa - revelou.
- Querida, você nunca teve medo de arriscar- a mãe a lembrou - sempre foi a menina mais corajosa do parquinho, nunca teve medo de nada.
- Eu sei - riu com o que a mãe falava - só que acho que isso não é para mim, não sei... papai dizia que uma hora a gente deve parar e ver a vida passar, acabei pegando isso como exemplo para mim...
- Querida, seu pai diz isso, mas você deve interpretar da maneira que lhe for conveniente - Explicou a mãe - parar e ver a vida passar não é só ficar parada no mesmo lugar, parar e ver a vida passar também pode ser esperar o momento certo para segui-la.
Por um breve momento, null entendeu o que a frase que seu pai tanto falava queria dizer, mas talvez para ela aquilo já não funcionasse mais.
O tão esperado dia chegou, null terminava de se arrumar em uma sala reservada da igreja, em outra null também parecia nervoso, null tentava acalma-lo, mas não funcionava.
- null não vem? - Perguntou ao amigo.
- Não, ele está no aeroporto, decidiu ir viajar...- respondeu chateado.
- null, você sabe como ele, não gosta de ver a felicidade de ninguém - null falava ríspido - quando ele vê alguém mais feliz que ele, ele fica revoltado e vai embora, foi assim quando assumi a empresa da minha família e ele inventou a história de que ia conhecer coisas diferentes.
- Cara, chega - null abriu a porta e simplesmente saiu, havia passado os últimos dias aguentando os comentários maldosos de null sobre null e simplesmente havia se cansado daquilo.
O momento havia chegado, o pai de null já estava ali segurando o buquê de orquídeas da filha, mas ele sentia que faltava algo no olhar dela, algo como paixão. Como um pai que sempre ensinou sua filha a assumir as consequências dos seus atos, nada falou, primeiro por que sabia como a filha assumia os seus compromissos, segundo, por que mesmo que falasse nada adiantaria se ela não percebesse o erro que estava cometendo. E lá estava ela, de braço dado com o pai, com um buquê que ela não fazia a mínima questão, caminhando pelo tapete vermelho da igreja, usando o vestido que lhe caía perfeito no corpo, indo de encontro com seu futuro. Ela não sabia o que esperar dali em diante, sempre foi muito decidida, mas naquele momento seu coração batia forte e não era de emoção.
O caminho até o altar parecia mais uma estrada de mil quilômetros que nunca acabava, a cada passo ela se questionava ainda mais. Passou os olhos por todas aquelas pessoas da igreja e teve vontade de gritar quando não encontrou quem procurava. Quando viu null, se alegrou, pois pelo menos havia um amigo ali com ela, e era realmente o que ele estava fazendo ali, não havia ido aquele casamento por null, mas sim por null que em pouquíssimo tempo conquistou null e o fez entender o porquê de null tanto admirá-la.
Nem havia percebido, mas já havia chegado ao altar e recebia um abraço caloroso do pai e escutado ele sussurrar em seu ouvido:
- Nunca se esqueça quem você é e o que você quer para si!
Assim que o pai a soltou do abraço, a entregou para null pedindo que o rapaz a fizesse feliz. null ouviu o Padre começar a cerimônia, mas ouvia tudo embaralhado, não esboçava uma reação sequer, em determinado momento começou a se sentir presa, lembrava da conversa que havia tido com null, os beijos, da mão dele passeando pelo seu corpo, do seu sorriso, lembrava também da conversa que tinha tido com a mãe e o que seu pai acabara de falar ecoava por sua cabeça. Tudo o quê aquelas pessoas que ela não fazia a mínima de quem eram viram, foi ela deixar o buquê de flores escorregar para o chão e correr pelo caminho que ela havia acabado de fazer ao som da marcha nupcial em direção à saída e nunca mais ninguém, tirando os pais e null, a viu de novo.
Fazia calor, mais uma vez null estava parado próximo a Fontana di Trevi, como fazia sempre que ia a Roma. Ele gostava de observar as pessoas jogando as moedas ali acreditando que iam voltar ao lugar ou que achariam o amor no lugar.
- Sabe - null escutou uma voz feminina -, dizem que se você jogar uma moeda você, retornará à Roma e que se você jogar duas moedas ao invés de uma encontrará o amor em Roma.
- Que bom então que joguei duas - null virou na direção da voz feminina. Seu olhar e o de null se encontraram e ela sem rodeios e sem medo, diminuiu a distância que ainda restava entre eles.
ADICIONAIS:
¹ A Fontana di Trevi é a maior das fontes barrocas de Roma, e tem elementos que lembram sua origem romana (embora a sua localização não era a atual, mas que se encontrava a uns metros de onde está), e é, sem dúvida, a fonte mais conhecida e mágica do mundo, provavelmente também a mais impressionante e bela. Existe uma lenda urbana que diz que quem joga uma moeda na Fontana di Trevi (o ritual exige que se faça de costas, com a mão direita e por cima do ombro esquerdo) vai acabar regressando a Roma, e a verdade é que não há um turista que não cumpra com o ritual, a tal ponto que as moedas são coletadas todos os dias e destinadas à caridade (antes as recolhiam outros também diariamente, mas para benefício próprio). O que não é tão conhecido por quem visita Roma, é que se você jogar duas moedas ao invés de uma encontrara o amor em Roma, e se você jogar três moedas que se casará em Roma.
² Parque Keukenhof fica na Holanda e é maior jardim do mundo, abre apenas dois meses por ano durante a primavera européia: entre março e maio. Aproximadamente 800 mil visitantes podem apreciar lagos ornamentais, alamedas entre árvores seculares e os canteiros de flores do parque.
FIM
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