03 Lovely

Última atualização: 03/11/2017

Capítulo Único

Em dois mil e alguma coisa, no segundo ano de faculdade, conheci Rebecca Whitaker, que viria a ser uma das minhas pessoas preferidas em todo mundo. Ela era doce, simpática e muito inteligente, mas com um estômago ridiculamente fraco para bebidas. Vamos por um pininho nessa informação, você vai achar ela relevante.
Dois mil e bolinhas também foi o ano em que conheci Sean Coleman, um veterano de algum curso de exatas que não me recordo no momento, o qual eu piamente acreditei — por um breve e ridículo período — que fosse o grande amor da minha vida. Sean era de outra galáxia, disso eu estava convencida, pois aquela pele bronzeada, olhos amendoados e cabelo castanho perfeito não poderiam ser humanos.
Ele era definitivamente bonito demais para ser real.
Você entenderia minha animação exagerada se estivesse em meu lugar quando me parou todo delicioso dentro de um jeans e uma camisa de botões perfeitamente alinhada em um dos corredores da faculdade convidando a minha humilde e ludibriada pessoa para uma festa que teria em sua fraternidade.
— Estarei te esperando lá, .
E eu que já estava totalmente inclinada para a oferta me derreti em uma humilhante poça de hormônios ao seu sussurro sensual ao pé do meu ouvido.
Naquela mesma tarde minha depiladora que a muito não era contatada tinha um encontro marcado comigo em uma posição não muito favorável.

— Pare quieta ou eu vou acabar cutucando seu olho com o pincel. — Becca gritou no auge de sua impaciência com minha inquietação.
Eu estava me retorcendo sobre sua banqueta enquanto ela me maquiava como uma profissional. Havia torturado a garota com meus devaneios sobre meu marciano dourado e delicioso e como teria minhas mãos em seu corpo naquela festa, mas faltando três horas para o esperado evento eu estava virada em uma enorme pilha de ansiedade e negação.
Era uma especialidade da família atiçar e provocar, mas na hora de deixar acontecer correr mais rápido que Usain Bolt em direção a lugar nenhum. E era exatamente isso que eu estava fazendo ao deslizar disfarçadamente pela banqueta irritando Becca novamente.
— Você pode tirar seu cavalinho da chuva se acha que vai me dar um olé nessa festa agora. — ela disse suavemente, como a princesa educada que era, guardando o pincel dentro do rímel novamente. — Não fui pilhada uma semana inteira para ir nessa porcaria machista de fraternidade e gastei horas do meu dia arrumando nós duas pra você ter uma crise de consciência e decidir não ir.
Rebecca era uma boneca ruiva com o rosto oval cheio de sardas, grandes olhos azuis e brilhantes e boca em forma de coração. Ela cursava moda e eu letras espanhol. Não tínhamos exatamente nada em comum, já que Becca era a it-girl que lançava tendências dentro do campus e eu a tia que quando não estava perdida dentro de um livro estava maratonando uma série na Netflix, mas de alguma forma nos encaixávamos perfeitamente nessa amizade improvável.
— Desculpa amiga, é só que… é o Sean Fucking Coleman. Eu estou surtando.
— Não sei por quê! Você é claramente areia demais praquele caminhãozinho engomadinho dele. — desdenhou terminando de aplicar seu batom. — Você tem uns crushes muito nada a ver, . Credo.
— E você só diz isso porque é só você estalar os dedos e a mágica acontece, né. Já eu, mera mortal, tenho que aproveitar cada chance que o destino me dá.
— Eu só queria que você desse um pouquinho de crédito pela mulher linda e maravilhosa que você é. Deus me livre te ver aí hiperventilando por causa de um garoto normal quando você tem potencial pra um astro de Hollywood.
Becca era exatamente o tipo de pessoa que amacia seu ego e te coloca pra cima nas horas certas. Nunca, nem por cinco minutos, tive a oportunidade de ver a ruiva não saber o que falar para alguém, ela simplesmente tinha o dom em usar as palavras certas nas melhores horas possíveis. E por isso eu era extremamente grata por tê-la como amiga.
— Quer saber, — murmurei me levantando bruscamente assustando a garota que ainda estava na frente do espelho — você tem razão. Eu sou uma mulher madura, sexy e confiante e não deveria ficar nervosa com toda essa bobagem adolescente.
— É assim que se fala, irmã! Só limpa esse batom do dente antes de sair, por favor.

A luz negra e o hip hop estourando na caixa de som denunciavam que aquela festa seria realmente épica. Eu só não sabia o quanto.
Becca desapareceu da minha vista no segundo em que passamos o arco da porta sumindo no mar de pessoas que povoavam a sala da fraternidade. Me vi sozinha na mesa de bebidas garimpando algo que não fosse puro álcool de posto com açúcar e groselha, tentando parecer satisfeita com meu copo que era quase todo gelo e um dedinho de refrigerante, afinal se fosse para beijar a boca perfeita de Sean então que eu estivesse plenamente sóbria e alerta.

Mas então já era quase uma da manhã e eu ainda não havia visto nem sequer a sombra de meu futuro namorado passar pela pista de dança improvisada. Estava parada igual uma idiota ali a tempo demais, foi quando fiquei de saco cheio de fingir que estava esperando o destino acontecer, chutei o pau da barraca e decidi me divertir assim como o resto das pessoas ali.
O primeiro copo de vodka com refri desceu quente e afiado, me fazendo sentir um arrepio na base da espinha, mas depois do terceiro não sentia nem cócegas.
Alguém me puxou para a pista de dança e quase como uma bruxaria eu parecia saber a coreografia de todas as músicas que tocavam sem ao menos conhecer a letra. Meus sapatos foram largados em algum canto enquanto eu era incorporada pelo espírito latino de qualquer música da Shakira, senti meu penteado se desfazer e o suor escorrer quente por minha nuca conforme eu rebolava com uma garota que era da turma de Becca sem vergonha alguma.
Só parei quando meus pés já estavam dormentes de tanto rodopiar pela pista e eu precisava urgentemente de uma garrafa d'água ou iria morrer de sede. Avisei Lila, da turma de Becca e que viria a ser outra das minhas pessoas favoritas, que iria buscar água, mas logo retornaria.
Eu menti.
Avistei Sean nos fundos da casa conversando com alguns garotos e bebendo whisky direito da garrafa. Devo ter encarado tempo demais, pois logo ele pareceu notar meu olhar insistente e abriu um sorriso brilhante que minhas pernas bêbadas aceitaram como um convite, quando dei por mim já estava a dois passos do grupo que havia se calado com minha chegada.
— Se não é a lindíssima senhorita . — Sean gracejou passando o braço por meus ombros me puxando para perto como se isso fosse um hábito entre nós.
Podia jurar que ouvi os anjos cantarem naquele momento. Sean Coleman estava me abraçando de lado.
— Não te vi mais cedo. — gaguejei, emocionada demais com o acontecimento.
— Pois é, você estava muito ocupada deslumbrando todo mundo com seu rebolado lá dentro pra poder me ver. — brincou.
— Aliás, que rebolado, hein . — um rapaz que eu nunca vi brincou logo levantando a mão no ar para bater na de outro rapaz que tinha um risinho nojento no rosto.
Não pude segurar a careta de nojo que se apoderou de meu rosto. Eu ao menos conhecia o cara.
— Cala boca, Rusty. — o moreno resmungou azedo lançando um olhar cheio de significados pro amigo. — , você está de mãos vazias. Por que não vamos lá pra dentro te fazer um drink e conversar um pouco longe desses coiotes?
Eu, definitivamente, iria beijar Sean. Agradeceria a Becca por todos os minutos de empenho em me arrumar e a Deus por ter me dado à chance divina de provar aquela boca.

Sean foi me guiando para dentro da casa com a mão, nada inocente, parada a dois dedos da minha bunda. Quando chegamos a cozinha soube que meu drink nunca viria, não que eu estivesse ligando para alguma coisa, mas definitivamente esperava uma cerimônia mais elaborada do que ter sido simplesmente esmagada contra o balcão da pia sem aviso prévio e ter meu pescoço atacado.
— Nossa, você está muito gostosa nesse vestidinho, . — sua voz soou abafada, talvez porque sua boca estar ocupada deixando um rastro nada sensual de saliva em meu pescoço me fazendo ter o tipo de arrepio errado.
Ele escorregou a mão para baixo do meu vestido segurando minha coxa com propriedade, mas eu estava longe de me sentir excitada com aquilo no momento. Se tinha uma coisa que eu odiava, essa coisa era fazer tudo na pressa. Sexo pra mim tinha que ser como cozinhar num fogão a lenha e não como esquentar uma lasanha congelada no microondas.
— Vamos com mais calma, aí. — sussurrei contra seu ouvido aproveitando a oportunidade para passar as mãos em seus cabelos.
Sean murmurou qualquer coisa desconexa e então subiu a mão de minha coxa para meu seio, apertando-o por sobre o vestido, o que despertou outra reação errada em mim, que acabei por empurrá-lo.
— Sean, mais devagar. — resmunguei ajeitando meu vestido e olhando ao redor, me certificando de que ninguém estava vendo aquela cena.
— Desculpa, é que você é muito… — por breves segundos ele olhou nos meus olhos e eu pude ver que ele não estava na mesma atmosfera que eu. Ao menos completou a frase, deixando a mim a chance de completá-la como quisesse.
Ele se inclinou em minha direção, puxando-me pela cintura contra sua já evidente e não solicitada ereção. Por um breve momento eu pensei que quando ele me beijasse as coisas se encaixariam normalmente, afinal ele era o semideus que eu estava esperando. Mas assim que seus lábios encostaram nos meus eu soube que deveria ter ficado em casa assistindo Friends e comendo cheetos.
Sean não me beijou como achei que faria, ao invés disso, ele soltou um sonoro e fétido arroto bem a minha cara que me fez segurar com todas as forças a ânsia que me acometeu.
O complemento da sua frase pipocou em neon na minha cabeça: É que você é muito burra, .
Fiquei tão estupefata que não consegui esboçar uma reação decente. Dentro da minha cabeça eu o empurrei e saí o xingando de todos os nomes possíveis. Mas a dura realidade é que deixei ele enfiar a língua dentro da minha boca e rodopiar lá por dentro algumas vezes enquanto eu ficava com meus olhos abertos sentindo o gosto rançoso do whisky vagabundo tomar conta da minha boca. Naquele momento eu só queria que Deus tivesse piedade da minha alma mortal.
Um rapaz moreno entrou esbaforido pela cozinha procurando por algo, voltou para o arco e gritou em direção a sala:
— Alguém viu a por aí?
Obrigada Deus!, foi o que gritei mentalmente.
O rapaz olhou para a cozinha novamente percebendo meus olhos desesperados em si e um ar de alívio invadiu seu rosto.
?
Não mantive minha classe ao empurrar Sean a fim de libertar minha boca já dolorida. Ele resmungou algo que não entendi e então virou-se para o rapaz atrás dele com raiva.
— Ela está ocupada, não está vendo?
— Foi mal aí. — o outro replicou sarcástico — Mas é que a Becca está passando muito mal, acho que vamos precisar levar ela pra um hospital. Uma menina me disse que você é amiga dela e poderia ajudar.
É nesse momento que eu me sinto uma pessoa horrível por ficar levemente feliz que Becca estava a beira de um coma alcoólico. Olhei para Sean com falsos ares de desculpas e levantei o queixo para o rapaz.
— Claro, claro! — concordei me ajeitando pronta para segui-lo. — Sean, me desculpa, mas Becca é minha melhor amiga, não posso largar ela sozinha.
Ele ao menos se dignou a me responder, apenas deu ombros e arrumou o cabelo perfeito. O rapaz ao meu lado bufou entediado pela cena e logo se pôs a andar.
— Vamos? — me apressou.
O segui por entre as pessoas, indo para o andar de cima. Chegamos ao fim de um enorme corredor, no último quarto e eu pude ouvir claramente, por cima do som alto, o barulho de alguém vomitando.

O quarto estava azedo e abafado e tive que arranjar forças pra não ter me tornar a terceira pessoa gorfando no cômodo. Antes mesmo de atender minha amiga no banheiro me obriguei a abrir a janela e fazer o ar gelado entrar pra tentar amenizar o remake de O Exorcista que aquilo tinha se tornado.
— Alex? — o moreno ao meu lado chamou indo para o banheiro no canto do quarto e eu o segui na ponta dos pés com medo do campo minado que tinha no chão.
Becca estava em posição fetal no chão com uma pequena poça de vômito ao seu lado. Sua pele normalmente era branca como um papel, mas naquele momento eu poderia contar suas veias por conta da palidez. Me ajoelhei ao seu lado para afastar o cabelo de seu rosto e percebi que ela estava suando frio e tremendo.
Não muito longe um rapaz da nossa idade abraçava o vaso sanitário enquanto suas pernas estavam cobertas de vômito. Ele tinha a cabeça encostada no assento e suspirou quando o outro moreno o cutucou no ombro.
— Você nem bebeu tanto pra passar mal, Alex.
— Eu fiquei nervoso com a Becca desmaiando, cara. — se explicou levantando a cabeça com dificuldade. O reconheci na mesma hora, era o namoradinho que Becca não assumia estar namorando. — Você sabe como eu fico quando fico muito ansioso. E ela vomitou em mim, também ajudou.
Rebecca soltou um gemido dolorido e eu a coloquei sentada contra a parede. Seus olhos abriram turvos para mim e ela deu um sorriso misturado com um leve choro.
— Mamãe, você veio! — balbuciou — Eu quero ir pra cama.
— Você vai é pro hospital, cenourinha. — falei me levantando para roubar a toalha de rosto que estava no porta-toalhas e encharca-la na pia. Molhei a nuca de Becca e limpei seu rosto embaixo de seus protestos que estava com frio.
Ao meu lado Alex era arrastado pelo outro rapaz para o quarto. Fui atrás dele para pedir ajuda para levar Becca para dentro de um Uber para que pudesse leva-la para um hospital. Antes que pudesse cutuca-lo para chamar sua atenção ele se virou em minha direção quase esbarrando em mim.
— Ah você está aí. — resmungou — Vou colocar o Alex no carro e já volto buscar a Becca. Você pode pegar duas ou três toalhas pra gente evitar acidentes?
Acenei com a cabeça e não perdi tempo em revirar o armário no banheiro enquanto ele descia com o outro.
Manhêêê… — Becca gemeu tentando voltar a se deitar — Eu tô mal, mãe.
— Eu sei, cenourinha. Vamos levar você pra tomar soro.
— Eu não quero tomar tic! — grunhiu arregalando os olhos azuis em minha direção.
Dei risada da sua reação e fui tentar dar um jeito na bagunça enquanto o rapaz não voltava. Limpei o vaso sanitário todo sujo e o chão com um bolo de papel higiênico.
Torci a toalha que usei para limpar minha amiga e estendi na pia. Peguei o que ele havia pedido e deixei em cima da cama para facilitar e arrastei com dificuldade a ruiva para lá também, onde ela se esticou e tentou se enrolar na coberta.
O moreno retornou em poucos minutos e a pegou no colo como se ela não pesasse nada e eu o segui mudamente por entre os estudantes que dançavam alheios a tudo no andar de baixo. Atravessamos o jardim e andamos metade da quadra para chegarmos onde um carro preto estava estacionado. A porta da frente estava aberta e Alex estava com a cabeça para fora ofegante, o que me fez sentir mal por ele, e enquanto o outro homem ajeitava minha amiga no banco de trás endireitei o moreno no banco passando o cinto por ser tronco e estiquei uma das toalhas em seu colo. Por sorte achei uma sacola plástica e a prendi aberta nas mãos dele que gemeu um agradecimento.
— Podemos ir? — o outro perguntou tomando seu lugar no banco do motorista.
Assenti seguindo para meu lugar ao lado da ruiva que jogou a cabeça no meu colo.
Mal avançamos duas quadras e logo recebi uma pequena carga de vômito espumoso em minhas pernas, onde a ruiva estava. Olhei desesperada para o lado ignorando a ânsia que se rebelou na minha barriga. O motorista me encarou pelo retrovisor e gargalhou do meu desespero para só então abrir as janelas.
— Só mais dois minutos, . Se forre com as toalhas e não deixe ela sujar o carro, por favor. — pediu ainda com um ar de sorriso.
— Eu tô morrendo! — Becca gemeu. Passei minhas mãos por seu rosto frio pensando em quantas promessas sobre nunca mais beber ela se enfiaria na manhã seguinte. Logo estávamos em um centro de emergência onde alguns enfermeiros ajudaram a colocar o casal cachaça em cadeiras de rodas. O médico olhou recriminadoramente para mim e o rapaz que descobri ser irmão de Alex quando entramos na sala de exames para acompanhá-los. Nos dispensou soprando um “esses jovens de hoje em dia” depois de avisar que eles seriam medicados.

— Vamos achar um banheiro pra te limpar e depois tomar um café. — o moreno se pronunciou depois que o médico bateu com a porta em nossas costas. — Você tá só o caco da viola também, né.
Deixei ele me guiar cegamente pelo prédio com sua mão respeitosamente posta no meio das minhas costas. Minha cabeça estava cansada naquela altura e tudo que eu queria era sair do meu vestido, me jogar na cama e dormir até todo aquele fiasco virar a história engraçada na roda dos amigos.
Quando dei por mim estava sentada sozinha em uma das mesas da cafeteria do hospital deselegantemente estendida na cadeira de forma que minha nuca ficava encaixada no encosto das costas da mesma. O moreno chegou e deslizou meu copo sobre a mesa suavemente.
— A pose de uma rainha! — brincou antes de bebericar seu café.
— Rainha do fiasco, eu mesma, sim senhor. — concordei deixando uma risada escapar. Era verdade de qualquer maneira. Tomei um gole tomando o cuidado de não virar tudo em cima de mim acidentalmente.
— Eu sou , aliás. Não tinha tido a chance de me apresentar.
, a seu dispor! — fiz graça.
Me ajeitei na cadeira para então me debruçar na mesa, cotovelos sobre o tampo e meu rosto bem seguro entre as duas mãos. O analisei brevemente, me dando conta de que ele era realmente bonito. Não mais que Sean, o qual mesmo tendo me desencantado com todo o tratamento vip ainda estava na minha lista Top 10.
Mas os olhos que dançavam entre o castanho e o verde eram lindamente profundos, a barba por fazer e os cabelos meio crescidos em um corte moderno faziam parecer muito charmoso.
Ele sorriu ao perceber que eu tinha meus olhos presos em seu rosto. Pigarreei tentando disfarçar o indisfarçável, o que deixou seu sorriso ainda maior e então eu percebi o leve divertimento com meu constrangimento. Ele já sabia que era bonito, óbvio.
— Se você continuar me encarando assim vou ter que fazer uma proposta indecente. — O que? Eu nem estava te encarando! — me defendi deixando o tom agudo da minha voz me entregar.
— Sei. Becca já me alertou para ficar longe de você, não quero ser obrigado a quebrar nosso bro code porque você me achou irresistível. — soltou balançando as sobrancelhas sugestivamente.
— Ew! — exclamei com uma careta de puro nojo para seu ego inflado — Eu nem te conheço, se situa.
— Garanto que você não vai ficar de olhos abertos e com cara de desespero igual estava com o Sean. — lembrou-se do infame episódio de horas atrás, o que me fez querer cair morta.
— Imagina se eu vou querer cometer o mesmo erro duas vezes no mesmo dia. — desdenhei engolindo o resto do meu café, já me sentindo mais desperta. Nada como cafeína e vergonha para trazer energia ao seu corpo.
— Mas amanhã eu vou ser um erro diferente, se você estiver interessada.
, cala boca! — exclamei com preguiça.
apenas riu e se ajeitou na cadeira logo puxando outro assunto, o qual não o fez parecer tão presunçoso. Tínhamos várias coisas em comum, desde séries até o mau gosto culinário - ambos gostávamos de um espirro de catchup na pizza. Logo estava amanhecendo enquanto nós tomávamos o que deveria ser o décimo copo de café, Alex e Becca estavam prontos para irem para casa, mas eu não.

Cobri Rebecca cuidadosamente e chequei sua temperatura, vendo que sua pele finalmente estava morna. Ao meu lado pigarreou tentando chamar minha atenção.
— Abre a porta pra mim, morena? — sussurrou como se não soubesse que Becca estava completamente tombada pelos remédios. Assenti o levando não só até a porta, mas até a entrada do nosso bloco de dormitório.
— Muito obrigada pela ajuda, .
— Não foi nada. — sorriu meigo — Mas se você quiser pode me agradecer de um jeito menos cristão…
— Nah. Agradeço a oportunidade, mas dispenso. — balancei a mão no ar tentando parecer séria, mas deixei uma risada escapar.
— Gostei de você, . Sinto que vamos nos dar muito bem. — soltou profeticamente antes de me abraçar e ir para o carro onde Alex o esperava babando no vidro.
Se ele já sabia, ou não, pouco importava. O fato é que nós realmente nos daríamos muito bem.
Bem até demais.
Nos anos que se seguiram gostava de dizer que nos conhecemos quando ele me salvou de um ataque alienígena. Eu gostava de dizer que nos conhecemos no set de Grey’s Anatomy.
Becca preferia fingir que aquele dia não aconteceu.
Mas o fato é que eu só tenho o que agradecer por Rebecca, Alex e José Cuervo terem colocado a pessoa mais especial minha vida. A única que não me abandonaria nos meus momentos mais difíceis. Mesmo quando estraguei o dia do seu casamento.
Mas isso é história para outro hora.





FIM.



Nota da autora: Como diria DJ Khaled ANOTHER ONE!
Felicia & Charlie voltam em Black Butterflies & Deja Vu, dessa vez com lovezinho e muito dedo no cu e gritaria (porque aqui noix vive de drama, mermão). Espero que se tenham gostado indiquem pras amigas e se não gostou também porque amigas que odeiam fic ruim juntas permanecem juntas. Não esqueça de deixar seu comentariozinho do amor.



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Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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