03. Old Ways

Última atualização: 26/05/2016

Capítulo Único

“Foi divertido brincar com facas:
Até ter uma lâmina
Presa no lado esquerdo do meu peito
Surpresa!
E eu estou pra baixo de novo, eu viro a página
A história é minha!
Chega de assistir o mundo pela minha porta:
Passando por mim.”


As fotos do nosso casamento estavam espalhadas pela cama. O dia em que eu tomei a decisão que mudaria minha vida, viveria ao lado de alguém que amaria para sempre. Ou pelo menos eu achava que ia amá-lo. Tive que tomar decisões que me arrependo amargamente, tudo por um amor precoce demais. Apaixonada demais para dizer não. Apaixonada demais para saber que o amor tem limites. Apaixonada demais para saber que o amor não é perfeito. É claro, boba demais por não saber que o amor não é só estar ao lado de quem ama. O sentimento mais puro que Deus nos deu. Era algo além disso.
Já se passava das três da manhã, e nada dele chegar. Meus olhos pesavam, mas eu não iria conseguir dormir sem falar a verdade na sua cara. Há semanas venho sonhando com esse momento, e de hoje não passaria. O barulho das chaves sendo jogadas na mesa de centro me despertaram. Dei um suspiro longo, e juntei toda a coragem que tinha e fui até a sala.
"Quero o divórcio" Disse sem rodeios, direta como uma bala. O silêncio que predominou naquela sala duraram apenas alguns instantes, o abajur foi parar na parede. Liam não era de falar quando estava bravo: ele demonstrava.
"Você está brincando comigo, não é?" O olhar raivoso que ele me lançou me fez querer vacilar e desmentir o que eu acabara de dizer. Por mais que nós não fossemos mais felizes, construímos um amor que era maravilhoso enquanto durou.
"Não. Estou infeliz!" Murmurei irritada. O cansaço era notável, a rotina que vivíamos já́ não era amorosa: mal nos tocávamos. O nosso casamento já está um fracasso.
“Não vamos destruir nosso casamento por um capricho seu.” O tom debochado da sua voz quase me fez querer voltar atrás. Entretanto, eu não vou fazer isso. É a minha felicidade que está em jogo: não quero viver infeliz. Estou cansada de viver uma realidade que não me satisfaz.

“Mas se alguém diz:
Que eu vou voltar para meus velhos hábitos
Eu vou dizer: "De jeito nenhum"
Eu estou fora da porta
Estou ouvindo todos dizendo
Que eu vou voltar para meus velhos hábitos
Não vou voltar para meus velhos hábitos.”


“Nós temos um milhão de dólares em carteira. É só temos hoje para liberar todos os pedidos." A voz grossa do meu chefe ecoou por todo departamento comercial. Tudo estava um caos na empresa, as vendas haviam duplicado nesse Natal. Expor os produtos em um Reality Show havia chamado bastante atenção para a clientela. Produtos de decoração e de bônus ser época festiva, deixará todo o nosso departamento um caos. Entrávamos as sete da manhã e só saímos depois das oito da noite. Eu já não sabia o que era almoçar algo descente há dias.
Por mais que estivesse cansada, me sentia completamente feliz. Há anos eu não tinha liberdade de trabalhar a hora que eu quisesse e não ter ninguém pra controlar à que horas deveria chegar em casa. A minha vida sozinha é de fato muito melhor do que acompanhada. Faz três meses que não o vejo, e tudo mudou tão drasticamente.
Eu havia me mudado de volta para o Loft em uma parte mais simples de Nova York. A primeira sessão do início do divórcio foi há duas semanas atrás. Optei por não ir, mandando apenas meu advogado. Não me sentia bem o suficiente para ver Liam, o medo de ver a sua face ao assinar aqueles papéis me assustava. E também, eu tinha medo de mim mesma: de querer desistir de tudo e voltar pra' ele. Eu me sentia fraca derrotada por um passado que por mais que eu quisesse esquecer: sempre voltava para me assombrar.
“Alguém está pensando demais e trabalhando de menos.” Harry murmurou, sua mesa era do lado da minha. Sorri para ele.
“Esse alguém está cansada demais.” Respondi enquanto pegava uns cookies no pacotinho que ele me estendeu. Harry, além meu vizinho de mesa de trabalho, também era meu amigo desde o colegial.
“Veja pelo lado bom, na próxima semana entramos de férias.” A voz dele estava animada, porque provavelmente ele iria visitar sua irmã que morava na Austrália enquanto eu iria para o Brasil.
“Isso é tudo animação para ver as australianas?” Perguntei enquanto roubava mais um dos cookies deliciosos. Logo depois que a sua ex-noiva lhe deu um pé na bunda, ele vinha aproveitando bastante a vida de solteiro.
“Não, já disse que a minha preferência são às brasileiras.” Me olhou sedutor, segurei-me para não rir da sua cara. Harry é um cara atraente. Porém, aos meus olhos ele é apenas um amigo.
“É você acha que tem chances com elas?” Ri zombando, não perderia a chance de descontrair um pouco mais.
“Eu tenho chance com você?” Ele falou isso com tanta tranquilidade, que por um momento pensei que estava mesmo flertando comigo. Eu ia retrucar, mas Jennifer, nossa supervisora, caminhava em nossa direção.
Um amor para recordar e de bônus uma panela cheia de brigadeiro, é tudo que eu preciso para passar o meu início das férias. Doce era a única coisa que me animaria agora, já que os voos internacionais foram cancelados: eu não iria mais para o Brasil. Infelizmente, eu só conseguiria ir para casa dos meus pais depois do Ano-Novo. Eu só não iria passar o Natal sozinha, porque Harry me chamou para ir para a casa da sua família.
Tirei a atenção da tela da TV, quando o Pretty Hurts começou a tocar no telefone. Peguei o aparelho, que estava na cômoda. Me arrependi, no momento em que vi o nome de quem me ligava: era Liam. Senti todo o meu corpo gelar, minhas mãos já tremiam. Eu não sabia se atendia ou não, me senti insegura demais para poder falar com ele.
“Alô.”por fim atendendo a chamada, uni toda a coragem que eu tinha para conseguir falar.
“Oi”A voz mansa e debochada dele disse. Fechei os olhos e imaginei que ele poderia estar na sua casa. “Fiquei com saudades, amor.”
Revirei os olhos, e desliguei o telefone. Era muita cara de pau dele me ligar para dizer isso. Aquilo tudo era muito ridículo. Aquele ciclo de tentar reconciliação não iria dar certo. Eu havia mudado. Não iria voltar mais. Acabou, e ele tem que aceitar isso. Eu não voltaria atrás. Eu não cairia nos seus caprichos. Agora eu vivo por mim epara mim.

“Eu preenchi o bem com um pouco de água, está transbordando!
Preto se tornando ouro!
Quem imaginaria que seria tão brilhante sem os olhos vendados.”

Nove meses e a minha vida mudara de uma forma incrível. Sentia-me uma mulher totalmente realizada comigo mesma. Minha vida girava em torno do que eu desejava. Não havia mais nada que me fizesse desmoronar.
Confesso que não foi nada fácil, foi uma luta constante comigo mesma: não ceder aos caprichos dos outros. Eu era independe, não precisava mais viver presa a uma rotina. Amor não é simplesmente estar ao lado do cara que você jurou amar a vida inteira. Amar não é só se entregar a uma relação. Eu estava usando o amor de uma maneira errada. Agora tenho consciência do que é amar.
“Obrigado” agradeci a atendente do Starbucks. Procurei por uma mesa vaga, mas infelizmente nenhuma estava. A minha única opção era me juntar a alguém. “Posso me sentar aqui?”
“Claro” o rapaz respondeu, sem tirar a sua atenção do jornal que lia. Me sentei de frente para ele,me senti constrangida por estar incomodando ele, mas não tinha outra opção.
“Tem certeza que quer fazer isso?” Lizzie me olhou apreensiva. Há algumas semanas a minha amizade com Harry havia mudado, digamos que nós estávamos saindo.
“Absoluta, não há nada de errado em nós sairmos” murmurei enquanto colocava o celular dentro da bolsa.
“Sei disso” sei que ela estava preocupada “E se ele te magoar?”.
“Sei me virar”
O vinho já estava fazendo efeito, já que eu ria de qualquer coisa que Harry dissesse. Não sei como, mas nós falávamos agora da nossa época de Ensino Médio.
“Você era a fim de um cara que na verdade era uma garota?” A voz de Harry já se estava mole, é certeza que ele acabaria dormindo no sofá.
“Ela era transgênero” disse enquanto peguei mais alguns canapés. “E as minhas amigas me avisaram logo. E você Styles, quem era a sua paixão no Ensino Médio?”
“Mariana Bueno” quase engasguei com os canapés “Mas você só me notava como amigo.”
“O tempo faz a gente mudar as nossas visões.” É essa é a mais pura verdade.

“E eu continuo mudando
Estas cores, cores, cores, cores.
Eu não estou no mesmo lugar
Que eu estava eu estava eu estava eu estava.”

O céu estava em um azul lindíssimo, não havia nenhuma nuvem, e o sol não estava tão forte. Tudo estava perfeito para fazer aquilo. Harry balançava a perna, sinal de que estava com medo de fazer aquilo, entretanto não iria admitir que quisesse desistir.
“Esta pronta?” Harry me olhou apreensivo, provavelmente ainda achando uma loucura eu querer pular de um avião.
“Sim.” Eu não iria desistir agora, a adrenalina estava tão grande. Então o instrutor começou a nós explicar mais algumas instruções para durante o percurso de saltar do avião até chegar ao chão.
E quando eu menos esperei, nós já estávamos no ar. Apertei a mão de Harry, fazendo com que ele olhasse para mim rapidamente. Eu queria registrar aquele momento e levá-lo para sempre. A sensação de liberdade era incrível.
Se fosse a um tempo atrás, eu não teria feito nada disso. Ter deixando mudado e deixado meus velhos hábitos valeu muito a pena.


Continua...



Nota da autora: Sem nota.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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