Fanfic finalizada.

Prólogo

Amor. O doce, puro e adorado amor.
Para uns, o sentimento mais lindo, mais sincero, mais intenso que poderia existir.
Para outros, o mais destrutivo, desastroso e dilacerador quando escolhe a pessoa errada.
Ao mesmo tempo que constrói sonhos e planos, ele mesmo pode fazê-los morrer.
Em minha humilde opinião, é o sentimento mais complexo, duro e contraditório de se sentir, mas apesar de ser difícil de entender, ele é até previsível. Sempre termina do mesmo jeito: com as lágrimas e um coração partido.
De um jeito ou de outro, isso é inevitável.
Em alguns momentos é claro, as lágrimas podem aparecer para expressar a felicidade, mas, no meu caso, elas se resumiam à expressão da dor.
No entanto, não era dor de não ser correspondido, a dor de perder alguém para a morte, ou a dor do desprezo de quem se ama. Era a dor da traição.
Durante toda a minha vida, eu fui o tipo de cara que sonhava que encontraria a mulher perfeita. Aquela que tornaria qualquer problema um mero detalhe, que viria me salvar até de mim mesmo nos dias ruins, que me amaria incondicionalmente e que ficaria comigo para sempre, aquela história de “na alegria e na tristeza” e todo o pacote incluído.
Com o tempo e com as frustrações e ciladas que a vida me forçava a enfrentar, eu acabei aprendendo que tudo que eu sonhava não passava de uma mera fantasia. E quer saber o porquê? Eu lhe digo.
Pessoas perfeitas não existem! Logo, toda aquela baboseira de felizes para sempre é tudo conto de fadas, coisa de cinema e nada além disso.
Conclusões feitas, lição aprendida. E meu chão? Desabou junto com o meu coração partido.
Eu, que era o cara mais romântico e sonhador que se possa imaginar, daquele tipo que as pessoas maldosamente chamavam de ingênuo, entendi como as coisas funcionavam de verdade da pior maneira.
Sinceramente, eu queria não ter perdido toda essa inocência. Era infinitamente mais fácil viver iludido com a ideia de que contos de fada podiam ser reais.
Talvez isso soe dramático e drástico demais, mas eu realmente não ligo.
Foi o amor que me cegou para algo que estava debaixo do meu nariz o tempo todo. Foi o amor que fez com que eu me visse nas nuvens e me entregasse de corpo e alma apenas para que a queda fosse ainda mais dolorosa.
A mulher perfeita para mim se chamava Alexia Stanton.
E de uma forma cruel a realidade me derrubou de meu castelo encantado.
A verdade então se chocou contra meu peito, rasgando-o por completo ao me fazer constatar o que era óbvio, mas eu não enxergava.
Alexia não era romântica. Na verdade, só sabia as palavras certas para se dizer a alguém simplesmente por estar acostumada a fazê-lo o tempo todo.
Alexia não era compreensiva. Quando eu achava que me ouvia e entendia meus problemas, ela apenas fingia que se importava para depois conseguir o que tanto desejava.
Alexia não era dedicada, pelo menos não a mim, como eu ingenuamente pensava. Se ela se dedicava a alguma coisa, era a ser manipuladora e dissimulada.
Alexia não era fiel e isso eu comprovei quando vi os lábios que eu tanto amava e achava que eram só meus se chocando com os de uma outra pessoa qualquer enquanto braços, que também não eram os meus, envolviam as curvas dela de um jeito tão sujo que eu cheguei a me questionar se não estava tendo algum tipo de alucinação, porque aquela não poderia ser ela. Não a minha Alexia.
Então, por fim, me veio a verdade mais dolorosa que eu poderia constatar.
Alexia não era perfeita e obviamente não me amava.


Parte I

Algumas semanas antes

A ansiedade tomava conta de tudo o que eu fazia naquele dia. Não era uma data qualquer, era uma data especial. Era o aniversário da pessoa mais importante da minha vida: Alexia Stanton.
Nada poderia dar errado.
Eu organizava os últimos detalhes da festa surpresa que havia preparado com a ajuda de nossos amigos. Na verdade, tudo já estava pronto, mas algo me dizia que faltava alguma coisa e eu andava de um lado para o outro, tentando buscar em minha mente a mínima falha que tanto me incomodava.
, pelo amor de Deus. Deixe de ser neurótico! — Lucy, namorada de Josh, dizia visivelmente irritada.
— Mas…
— Meu amigo, olhe à sua volta! Está tudo mais que perfeito! Na verdade, eu estou até ficando com inveja da Alexia por ganhar uma festa tão linda. Acho até que vou dispensar o Charles e te roubar dela — disse Sophie de um jeito doce que me fez sorrir involuntariamente, mesmo que o nervosismo ainda estivesse presente. Nós éramos amigos demais para que sua última frase fosse levada a sério pelo meu amigo, que se limitou a também sorrir de forma compreensiva em nossa direção.
— Ah, só você mesmo, Sophie — eu disse e adquiri uma expressão esperta. — Uma hora dessas eu é que vou te roubar dele. Já disse milhares de vezes que Charles tem sorte de ter encontrado alguém como você.
— Ok, o que vocês acham de acabar com a sessão ‘somos perfeitos’ de uma vez? Você ainda precisa se arrumar, — Lucy retrucou revirando os olhos.
— Eita que a TPM está imperando nesse corpinho hoje, né? — Sophie interviu em tom de brincadeira. Ela bufou e eu fiquei completamente confuso por aquela reação. Lucy sempre era muito tranquila.
— Não é TPM. Eu só fico indignada com a cara de pau de… Deixa pra lá! É melhor eu ficar quieta. — E saiu em seguida, sem dar tempo para qualquer resposta.
— O que será que deu nela? — eu disse, olhando confuso para meus amigos. Charles deu de ombros enquanto Josh abriu a boca e a fechou logo em seguida, como se estivesse prestes a dizer algo, mas desistisse imediatamente. — Josh?
— Como a Sophie disse, deve ser a TPM mesmo, . Vamos logo antes que ela resolva descer e nos arrastar pelos cabelos — Josh disfarçou, coçando a nuca desconfortável.
— Espera aí. Tem alguma coisa acontecendo? — questionei, mas meu amigo apenas negou com a cabeça e seguiu o caminho atrás da namorada. — Sophie?
— Não faço ideia, , mas ele tem razão. Vai se arrumar de uma vez.


💔


Estávamos todos no apartamento de Alexia. A qualquer momento, ela chegaria e a expectativa dominava cada um ali presente.
Ou as horas estavam demorando demais para passar ou Alex estava muito atrasada.
— Alguém sabe que horas são? — perguntei impaciente.
— Meia noite e quinze, — disse Charles sem jeito.
— Merda, será que aconteceu alguma coisa? — me preocupei. Alexia nunca demorava tanto tempo assim para chegar do trabalho, mesmo quando eu dizia que teria algum compromisso de última hora, como havia sido o caso — planejado para que ela pensasse que eu havia esquecido do seu aniversário.
— Claro que aconteceu, com certeza ela foi atrás d… — Lucy foi interrompida por Josh, que a olhou com repreensão. Aquilo me deixou ainda mais desconfiado. O dia todo aqueles dois andavam de segredos e eu não estava gostando nada daquilo.
— Atrás do que, Lucy? — perguntei, arqueando uma sobrancelha.
— De nada, . A Lucy que anda muito estressada e não sabe o que diz — Josh respondeu por ela.
— Não sei o que digo? Joshua Davis, ele precisa saber! — Lucy disse indignada.
— Preciso saber o quê? — Olhei para os outros presentes e enquanto Joshua parecia me esconder algo, eu via um olhar confuso vindo de Charles e Sophie. Mesmo assim, acabei a questionando. — Sophie, você sabe de alguma coisa?
— Eu juro que não, . Se eu soubesse…
Não houve tempo para que ela concluísse sua frase e nem precisaria que Lucy dissesse mais nada. A resposta entrou pela porta naquele exato momento.
Nós estávamos tão entretidos pela pequena discussão que não havíamos escutado a chave girar na fechadura, mas foi inevitável deixar de ouvir a porta se abrir bruscamente e a risada alta que ecoou por todo o cômodo. A risada que iluminaria meus dias, se não fosse acompanhada por uma outra mais grave.
Eu paralisei na hora, sem conseguir acreditar no que estava vendo. Era a minha Alexia ali, sendo envolvida por braços que não eram os meus. Com uma certa pressa, ela já tentava arrancar as roupas de outro alguém que eu não fiz questão de saber quem era enquanto meu coração se rasgava em mil pedaços. Os lábios dela, que eu achava que fossem só meus, procuravam os dele com urgência e Alexia nem parecia se dar conta de que eles não estavam sozinhos.
Como ela podia estar fazendo aquilo comigo? E logo ali, na casa dela, como se eu não frequentasse aquele lugar o tempo todo.
Quantas vezes Alexia já havia o levado até ali?
Afastei os pensamentos enquanto meus olhos pareciam vidrados. Eu sentia os olhares de meus amigos oscilando de mim para o “casal”, mas simplesmente não conseguia me mover ou dizer qualquer coisa.
Charles veio ao meu auxílio e soltou um pigarro alto, chamando a atenção de Alexia, que prontamente se virou em nossa direção e paralisou quando seus olhos encontraram os meus.
Minha visão embaçou na mesma hora, como se o contato visual com ela atingisse meus olhos dolorosamente. Eu nada disse, apenas permaneci a encarando enquanto as lágrimas teimosas escorreram pelo meu rosto.
Precisava reagir, precisava gritar, esmurrar alguma coisa, deixar claro o quanto a traição dela estava machucando, mas simplesmente perdi as forças e não me via capaz de nada além de me concentrar em manter minhas pernas firmes ao chão.
Eu nunca imaginei que ela seria capaz de me causar tamanha dor.
, meu amor. Eu posso explicar — ela disse rapidamente e consegui encontrar minha voz para soltar uma risada de puro escárnio.
Aquela frase clichê e o fato de ela parecer mais do que preparada para explicar uma situação como aquela me fez soltar aquela risada. A compreensão já me atingia. A conclusão de que cinco anos de namoro não haviam significado nada para ela. Que continuava com outras pessoas além daquele cara e o pior de tudo era que eu fui ingênuo e acreditei nela em todas as vezes que dizia que estava estudando ou qualquer outra desculpa esfarrapada.
Mas hoje não. Hoje eu não seria o tolo.
A raiva percorreu minhas veias e borbulhou por meu sistema. Eu só conseguia encará-la transparecendo todo o meu ódio e dor. Alexia se soltou da mão que ainda segurava sua cintura, enquanto o cara apenas nos encarava indiferente. Veio em minha direção rapidamente, então tentou tocar meu rosto, mas eu me afastei, sem permitir que aquilo acontecesse.
— Nunca mais ouse chegar perto de mim, Stanton. Você é a pessoa mais suja e desprezível que eu já conheci.
, por favor…
— Eu não vou te escutar, não quero mais ouvir suas mentiras. Some da minha vida! Finge que eu nunca passei por ela, porque é exatamente isso que eu vou fazer com você — eu disse aquelas palavras com todo o rancor e ódio que eu sentia naquele momento. — Eu te odeio, Alexia Stanton.
Sem sequer olhar na direção dos meus amigos, ou de qualquer pessoa que seja, eu saí daquele lugar.
Eu só conseguia sentir as lágrimas descerem sem controle pelo meu rosto e me odiava por isso porque sabia que ela não merecia nenhuma delas. Não imagino como consegui chegar até a minha casa e também não prestei atenção se algum dos meus amigos veio atrás de mim. Na verdade, não queria saber.
Agora fazia sentido todas aquelas tentativas de Lucy em me dizer alguma coisa, bem como a forma como Josh me olhava vez ou outra.
Há quanto tempo eles sabiam? E por que hesitaram tanto em me contar? Isso eu só saberia se questionasse, mas naquele momento eu só queria sumir.
Eu me sentia traído de todas as formas. Traído por minha ingenuidade, por confiar cegamente nas pessoas. Traído pelo meu coração, por ter feito a pior escolha achando que aquela era a certa. Traída por aquela que eu pensava ser a mulher perfeita para mim.


Parte II

O que me guiou até a minha casa ainda é uma incógnita. Porém, assim que cheguei diante dos portões, toda a vontade que eu sentia de entrar e ficar sozinho no meu quarto foi embora. Realmente era uma péssima ideia ir para o lugar que me traria mais lembranças de Alexia, porque era ali onde eu mais achava que me sentia amado por ela.
Soltei um urro de frustração e então eu segui para uma pequena praça que havia nos arredores. Procurei uma parte mais afastada do local, onde eu sabia que não seria incomodado, e me sentei em um banco que havia lá.
E chorei.
Sim, eu já estava chorando desde o momento em que tinha descoberto aquela verdade cruel, porém somente quando me vi sozinho foi que eu realmente coloquei pra fora tudo o que eu sentia.
Eu me entreguei de vez àquela dor, esperando que só a sentindo por completo ela poderia se cansar e me abandonar por fim.
Mas uma eternidade parecia ter passado e a dor ainda estava presente. Eu me recusava a acreditar em tudo aquilo. Queria mais do que tudo que tivesse sido só um sonho ruim. O pior deles.
O desespero que me fazia grunhir frustrado foi se dissipando. Eu então permaneci estático, sentindo que as lágrimas aos poucos foram secando. Fiquei ali entorpecido, sem ter certeza nem menos do rumo que meus pensamentos tomavam, desconfiava de que nem respirar eu não respirava direito.
E por isso não notei o exato momento em que deixei de estar sozinho.
Tomei um susto leve quando percebi alguém se sentar ao meu lado e pelo canto de olho percebi ser uma mulher. Olhei em sua direção e vi que ela olhava fixamente para um ponto no céu e fumava um cigarro lentamente, como se nem ao menos tivesse percebido que eu estava ali até eu ouvir sua voz um tanto rouca ecoar.
— A lua esta noite parece estar ainda mais bonita, mesmo com o ar melancólico, não acha? — ela disse sem desviar o olhar. Não me senti incomodado com sua presença, como eu imaginava que ficaria, até porque naquele instante eu não conseguia sentir nada além do torpor.
— Me desculpa se eu estiver te incomodando. Eu costumo vir aqui sempre que preciso esvaziar meus pensamentos e, para ser sincera, também achei que você precisava de companhia. — Pela primeira vez ela desviou seu olhar para mim e eu me surpreendi com o quanto suas íris brilhavam.
Não evitei o contato visual mesmo sabendo que meus olhos estavam completamente inchados e minha aparência nada convidativa pelo choro todo.
Suspirei longamente e tentei sorrir fraco para ela, mas tenho certeza de que não consegui formar nada além de uma careta.
— Se não quiser, não precisa dizer nada. Às vezes o silêncio pode confortar mais do que as palavras. — Ela abriu um pequeno sorriso, então voltou a encarar a lua. Imitei seu gesto e percebi que por mais destruído que eu estivesse por dentro, a mulher tinha razão.
A lua estava mesmo encantadora.
O que era uma grande ironia, as coisas não podiam estar belas quando tudo dentro de mim estava uma completa bagunça.
Suspirei mais uma vez, sentindo vontade de chorar, mas não conseguindo mais porque minhas lágrimas simplesmente haviam se esgotado.
Respeitando o meu espaço, ela simplesmente continuou ali, fumando seu cigarro e encarando o céu. Não me incomodei com o cheiro da nicotina e na verdade pela primeira vez aquilo me agradou.
Não sei dizer exatamente quanto tempo eu permaneci ali, apenas olhando a lua com uma completa desconhecida em plena madrugada e provavelmente deveria me considerar louco por isso, já que não fazia ideia de quem ela era ou de onde havia surgido.
E se fosse uma psicopata?
Lhe lancei mais um olhar pelo canto dos olhos e sua expressão mais uma vez estava perdida, como se os pensamentos tomassem conta de seu ser.
De alguma forma, eu soube que ela não me faria mal. Ninguém poderia me ferir mais do que Alexia Stanton.
A mulher deve ter percebido que eu lhe encarava, porque de repente seu rosto se virou para o meu, ao mesmo tempo em que ela apagava a bituca do cigarro.
— Não faço ideia do que aconteceu para que você esteja tão triste, mas, acredite, uma hora tudo vai ficar bem. Como dizem, há sempre um arco-íris depois de uma tempestade.
— Obrigado — me vi balbuciando, sem ter certeza de que realmente minha voz havia ecoado.
Então ela simplesmente se levantou e abriu um último sorriso de canto.
— Quem sabe a gente se vê por aí.
Seus olhos me analisaram demoradamente e era como se ela estivesse tentando gravar aquilo em sua memória antes de sair dali e me deixar mais uma vez sozinho naquele banco.
Eu fiquei ali por mais um tempo, digerindo o que tinha acabado de acontecer e me dei conta de que nem o nome dela eu havia perguntado.
Não sabia se ela era mesmo real e muito menos se eu realmente queria encontrá-la novamente. Tudo o que eu mais queria, para ser sincero, era que ela estivesse certa e tudo aquilo passasse.


💔


Atualmente

Não sei dizer ao certo quanto tempo passou desde aquela noite. Só sei que todos os dias pareciam os mesmos, eu envolvido numa atmosfera onde só existia aquela dor, como se um pedaço de mim tivesse sido arrancado e acredito que realmente tenha sido. A parte mais importante, a que me dava força e vitalidade.
Constatei o óbvio, eu estava oco por dentro. Meu coração não tinha sido apenas estraçalhado, ele simplesmente não existia mais.
As lágrimas voltaram a me acompanhar, mas por pouco tempo. Os suspiros também se foram com o passar dos dias.
Então eu passei a fazer tudo mecanicamente, como se apenas assistisse alguém muito parecido comigo realizar todas as atividades diárias que me eram obrigatórias.
Recebi incontáveis ligações e todas elas não foram atendidas. Eu só ouvia os recados deixados na secretária eletrônica porque era uma ação automática. Aquela ação fazia parte de minha rotina sempre que chegava em casa.
A maioria das ligações eram de Alexia.
Pedidos e mais pedidos de desculpas, explicações atrás de explicações.
No começo, ela dizia que aquele cara não significava nada e que me amava mais do que tudo. Depois simplesmente acusou-o de ser um ex louco que não a deixava em paz. Diversas vezes, só ligava para dizer que me adorava e sentia minha falta. Admitiu que era uma completa idiota, mas que precisava de mim.
Implorou que eu lhe atendesse, lhe desse uma chance de se explicar, depois prometeu que faria tudo diferente.
Então um dia as ligações cessaram.
E mesmo sabendo que tudo o que eu tinha vivido com Alexia havia sido ilusão, aquilo voltou a doer como o inferno. Eu chorei de novo porque ainda sentia falta dela e depois senti raiva de mim mesmo por isso. Voltei a repetir que Alexia não merecia minhas lágrimas, ela não merecia nada além do meu desprezo.
As palavras daquela mulher desconhecida ecoavam em minha mente na maior parte do tempo e eu desejei encontrá-la só para perguntar quando que tudo aquilo iria acabar, porque eu simplesmente não aguentava mais.
Me peguei várias vezes lembrando do olhar dela fixo no meu e o sorriso que me lançou.
Algo me dizia que aquele encontro inusitado ficaria marcado na minha memória para sempre, mesmo que eu nunca mais fosse vê-la e depois de um tempo não conseguisse mais dar uma forma ao seu rosto.
Ouvi Charles e Sophie me convidarem para ir com eles a uma festa qualquer e minha melhor amiga enfatizava pela milésima vez que eu precisava seguir em frente e pela primeira vez em vários dias eu resolvi lhes dar ouvidos.
Sorri fraco, com uma determinação que eu não sabia que tinha surgindo.
Eu ia esquecer Alexia Stanton. Buscaria minha felicidade novamente e tiraria aquela mulher do meu sistema.


Parte III

Não soube dizer o motivo, mas no mesmo instante em que tomei minha decisão, a imagem daquela mesma mulher voltou a aparecer em meus pensamentos e eu até senti um impulso de ir correndo até aquela praça.
Seria loucura demais?
Definitivamente seria.
Talvez ela estivesse apenas passeando por ali aleatoriamente ou quem sabe nem fosse real. Eu estava tão atordoado naquela noite que tudo o que aconteceu podia muito bem ser apenas fruto da minha imaginação fértil.
Sacudi a cabeça, espantando aquelas ideias. Retomaria meu plano inicial e iria até aquela festa com Charles e Sophie.
Era muito provável que Lucy e Josh também estivessem presentes e no fim das contas eu não podia guardar mágoa deles para sempre, afinal, eles haviam tentado me avisar.
Definitivamente, ficar em casa trancado em um sábado à noite não me ajudaria a superar nada.
Superação. Essa era a palavra que definia a fase que se iniciaria.
Eu podia sentir que, a partir daquele momento, Alexia Stanton não significaria mais nada para mim.
Encarei o telefone demoradamente e então decidi ligar para Charles, confirmando que aceitava o convite que haviam me feito. Ele pareceu bastante contente por ver que finalmente eu estava reagindo e Sophie tratou logo de roubar o telefone para me passar todas as informações. Nós iríamos a um pub que não ficava muito longe da minha casa. Era um lugar muito agradável, onde algumas bandas e cantores locais costumavam se apresentar.


💔


Eram onze da noite quando nos encontramos em frente ao pub. Sophie tratou logo de vir me abraçar demoradamente, murmurando diversos pedidos de desculpas.
— Você não precisa pedir perdão, Sophie. Vocês dois não sabiam de nada e eu não guardo mágoas nem de Lucy e Josh. Sei que eles tentaram me contar à maneira deles. — Sorri ao me desvencilhar e vi que Charles me retribuía um pouco atrás da namorada.
— Mesmo assim, eu devia imaginar que aquela garota era uma falsa. Costumo ter faro para essas coisas, . — Sophie fez uma cara triste.
— Ela enganou a todos nós, mas não é hora de pensar em Alexia. Eu vim aqui justamente fazer o oposto. — Pisquei para minha amiga, vendo-a soltar uma risada e até dar um pequeno pulo de animação.
— Ótimo, esse é o bom e velho . — Charles se aproximou e me abraçou pelos ombros ao passo que entrávamos no pub.
… — De repente, Sophie me chamou e eu parei para lhe encarar. Ela parecia sem jeito.
— Lucy e Josh também estão vindo. Você… você se importa? — ela disse hesitante.
Neguei com a cabeça.
— De maneira alguma. Eu realmente não guardei mágoa deles. — Dei de ombros e ela pareceu voltar a respirar aliviada.
Retomamos nossos passos e então encontramos uma mesa próxima ao pequeno palco, pois gostávamos de curtir as músicas ao máximo e até interagir com os artistas.
Me sentei de forma que pudesse ver tanto a banda quanto as outras pessoas do lugar e aceitei quando Charles se ofereceu para buscar cervejas para nós.
Era estranho voltar a sair sozinho, embora fizesse um tempo que eu e Alexia não íamos mais àquele tipo de lugar. No entanto, eu estava animado. A ideia de que eu podia sim fazer aquilo me deixava assim.
— É bom ver você sorrindo de novo, . Fiquei muito preocupada — Sophie confessou, estendendo sua mão para tocar a minha, que estava em cima da mesa.
Olhei para ela e acabei sorrindo de novo. Desde sempre, era Sophie que me entendia como ninguém. Era como se tivéssemos uma ligação de irmãos mesmo.
— Não vou mentir pra você e dizer que estou cem por cento, mas estou melhor do que estava ontem e nos dias anteriores a ele.
— Isso é bom. Você merece ser feliz. Tenho certeza de que vai encontrar alguma garota legal e que vai conseguir te aturar. — Riu ao brincar no final, fazendo com que eu estreitasse os olhos.
— Vou fingir que não ouvi essa última parte aí. Mas eu nem sei se quero encontrar essa garota que você disse. Talvez esse negócio de amor não seja pra mim. — Dei de ombros, em uma constatação totalmente sincera.

— Sophie — retruquei seu nome como se estivesse teimando com ela. — Eu só quero curtir um pouco a minha vida sem ficar pensando em sentimentos ou amarras. Dediquei cinco anos da minha vida a isso. Acho bom tirar do meu sistema.
— Pensando por esse lado, acho que você tem razão — ela admitiu.
— Você sabe que eu sempre tenho. — Pisquei.
— Daí você já está exagerando, né? — gargalhou e nossa conversa foi interrompida com a chegada de Charles.
Peguei uma das cervejas que me oferecia e tomei um gole generoso.
— Josh e Lucy acabaram de chegar — informou. — Encontrei com eles no bar.
— E eles estão esperando o que para se juntarem a nós? — questionei sem entender.
— Na verdade, os dois estão sem graça depois de tudo, mesmo depois de eu ter dito que você está tranquilo — Charles contou, me fazendo franzir o cenho.
— Não acredito que vou ter que buscá-los pelos cabelos. — Dei risada, então olhei na direção do bar e notei o casal de amigos me encarando com receio. Acenei para que se aproximassem e eles acabaram o fazendo, mesmo relutantes.
, eu nem sei por onde começar… — Josh iniciou assim que chegaram à nossa mesa.
— Comecem puxando cadeiras pra vocês. — Beberiquei minha cerveja. — E vamos deixar o assunto Alexia no passado, onde pertence, o que vocês acham? — prossegui ao ver Lucy fazer menção de dizer algo.
— Acho perfeito — concordou por fim.


💔


A primeira banda da noite subiu ao palco e me virei para prestar atenção, disposto a relaxar um pouco e curtir uma boa música. Sorri com o fato de que meus amigos estavam tão determinados quanto eu a curtir aquela noite sem pensar mais em tudo o que havia acontecido com Alexia.
Observei o guitarrista e o baixista tomarem posições, afinando brevemente seus instrumentos e eu tive a impressão de que conhecia aquela banda. Na verdade, percebi que era uma eu gostava bastante e costumava vir assistir nas raras vezes em que frequentava aquele pub. Eles tocavam de tudo no quesito rock ‘n roll: Elvis Presley, Green Day, Ramones, The Beatles… Enfim, era exatamente aquilo que eu precisava.
Ouvi os primeiros acordes de ‘She’ do Green Day e sorri largamente, notando que o vocalista fazia uma entrada enérgica no maior estilo Billie Joe Armstrong, ao passo que o baterista começou a tocar.
Eu nunca prestava atenção neles, confesso que curtia mais ficar acompanhando a guitarra e me imaginando como um rockstar, mas, por algum motivo, eu senti meu olhar se direcionando para a bateria.
Então lá estava ela. A garota que eu havia encontrado naquela praça, que fumava seu cigarro tranquilamente e olhava para a lua como se conversasse com ela através de seus olhos.
O motivo de eu sentir vontade de olhar em sua direção era porque ela fazia o mesmo comigo e no exato momento em que nossos olhos se encontraram, a mulher abriu um sorriso divertido, girando as baquetas em seus dedos e voltando a se concentrar no que fazia.
Não sabia se ela era parte daquela banda desde sempre porque eu sinceramente não me lembrava dela, mas, preciso admitir, aquela mulher era sensacional.
Não que eu fosse um expert da música, mas ela tocava com tanta paixão que era até um crime não olhar apenas para ela.
Me sentindo animado como não acontecia há algum tempo, eu até me levantei para cantar cada verso da música e meus amigos me acompanharam na deixa, felizes com o fato de que eu estava mesmo me divertindo.
Perdi as contas de quantas cervejas eu tomei ou do quanto eu cantei e dancei, mas a cada minuto eu me sentia mais leve, despreocupado e aquele peso no meu peito nem parecia doer mais. Nem sei se era obra da garota misteriosa, que eu descobri ser baterista de uma banda, mas se era, eu tinha que agradecê-la de alguma forma.
Quando a última música deles chegou ao fim, fiz coro ao público para que tocassem mais de tão bons que eles eram, mas não teve jeito porque ainda teria uma segunda banda para subir ao palco naquela noite.
— Sinceramente, eles quebraram tudo! Acho difícil superarem essa banda de hoje, hein? — Joshua comentou e vi Charles assentir freneticamente.
— E aquela baterista? Ela é incrível. Eu quero ser como ela quando crescer — Sophie entrou na conversa e eu adoraria ficar ali tecendo elogios, mas percebi a baterista caminhando na direção do bar e senti que não podia perder aquela oportunidade.
— Querem mais cerveja? — perguntei, vendo meus amigos concordarem e dispensando Charles quando se ofereceu para ir comigo.
— Relaxa, cara. Você pagou a primeira rodada. Essa é comigo. — Pisquei antes de me afastar.
Vi a garota encostada no bar e, por Deus, eu realmente estava cego naquela fatídica noite, porque ela era linda pra caramba.
Me apoiei no balcão do lado dela, como quem não quer nada, então acenei para o barman e pedi minhas cervejas enquanto a observava pelo canto do olho.
— Eu disse que tudo ficaria bem. — De repente, ouvi aquela voz um tanto rouca e senti um arrepio engraçado.
— E estava certa. Obrigado por isso, de verdade… Acho que se não fosse por você, eu teria feito alguma besteira naquela noite — eu disse sincero.
— Eu não fiz nada demais. Apenas abri seus olhos para que percebesse que nem sempre tudo está perdido — respondeu ao me direcionar seu olhar. Suas íris cintilavam como da outra vez e eu até me senti um tanto hipnotizado.
Eu realmente não sabia como não havia reparado de verdade naquela mulher.
… Meu nome é — pigarreei ao me apresentar, sentindo que tinha a encarado por muito mais tempo do que o recomendado.
— ela sorriu. — E é um prazer te conhecer de novo, .
Não consegui evitar retribuí-la.
— O prazer é meu, acredite.
Ficamos alguns segundos em silêncio, até que o barman trouxe minhas bebidas, mas eu não queria sair dali, não ainda.
— Você é sensacional… Digo, na bateria. Eu e meus amigos ficamos impressionados — elogiei.
— Ah, muito obrigada. Tento dar sempre o meu melhor em cada um dos nossos shows — agradeceu, tomando um gole do drinque que segurava.
— Quer se juntar a nós? Claro, se não tiver mais nada pra fazer e tudo mais. — Cocei minha nuca, me sentindo até um tanto tímido, o que não era muito comum, para ser sincero.
— Eu adoraria. — Ela voltou a sorrir e então eu indiquei para que me acompanhasse.
Mais uma vez ficamos em silêncio e assim que chegamos até minha mesa, senti os olhares surpresos e diria que até animados de meus amigos.
— Pessoal, essa daqui é a , ela… — comecei a apresentar, mas Sophie me interrompeu.
— É a baterista mais foda que eu já vi. Me ensina a tocar daquele jeito? Eu sou a Sophie e esse aqui é o Charles, meu namorado — minha amiga se apressou a dizer, totalmente empolgada e eu sorri com aquilo.
Percebi então que me olhava enquanto respondia meus amigos com o mesmo entusiasmo.
E ali eu senti que não importava mais as minhas ressalvas contra o amor ou qualquer tipo de sentimento romântico.
Não tinha ideia do que aconteceria comigo e naquela noite, se acabaríamos nos beijando, se apenas nos tornaríamos bons amigos ou se tudo não passaria de um momento.
Mas eu estava feliz e me sentia absolutamente encantado por ela.
Pessoas perfeitas realmente não existiam, então eu ficaria satisfeito apreciando as imperfeições.


FIM



Nota da autora: Recuperei essa short que eu escrevi há muitos anos e modifiquei algumas coisas. Gostei do resultado e espero que vocês também. Quem sabe aparece mais algo com esse casal.
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Beijos e até a próxima.
Ste.



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