Capítulo único
JiHee era, na opinião nada neutra de BaekHyun, a coisa mais fofa que já havia pisado na face da Terra. Os grandes olhos castanhos fixos nos dele eram idênticos aos da esposa, e os cabelos escuros, quase pretos, presos em duas marias-chiquinhas no topo da cabeça faziam-na parecer uma boneca de pano. Já tinha dois dias que a menina desfilava por toda a casa com o uniforme de balé, sem ver a hora de finalmente chegar na aula e poder dançar como a mãe, e BaekHyun, obviamente, não desgrudou da câmera por um minuto que fosse.
Não gostava de ser chamado de pai coruja, e muito menos de pai babão, mas qualquer pessoa que o visse com JiHee por dez minutos poderia dizer que ele era exatamente assim. Toda a ideia da paternidade era nova para o cantor, mesmo que JiHee tivesse sido planejada pelo casal por pelo menos dois anos antes de realmente nascer. Agora, seis anos depois, ele ainda se sentia tão empolgado e assustado quanto no começo.
Ver JiHee bem e sorrindo era o ápice da felicidade do cantor, mas vê-la triste era o mesmo que levar uma apunhalada no coração. Estranhamente, aquele era um desses momentos. andava pela casa com a filha manhosa no colo, tentando relembrar a menina da empolgação dos últimos dias, mas nada funcionava. JiHee simplesmente não queria ir para a aula de balé.
- Mas, meu amor, você gostou tanto da sua professora e da sua roupa. Por que não quer mais ir?
BaekHyun suspirou, angustiado, vendo a esposa perguntar pela enésima vez o motivo do desânimo da menina. Colocou uma mão no ombro de que não estava ocupado pela cabeça de JiHee e esticou os braços na direção da filha, pedindo permissão para pegá-la, a qual cedeu alegremente. JiHee não era mais um bebezinho, afinal de contas.
- Jiji, você não quer mais fazer aula de dança? - BaekHyun perguntou, calmo, e recebeu um resmungo em resposta. - Tudo bem se você não quiser, você não precisa ir. É sua escolha.
JiHee se remexeu no colo do pai, visivelmente incomodada.
- Mas se você quiser fazer aula, precisa ir hoje. É o primeiro dia! Você vai conhecer seus amiguinhos e a professora vai se apresentar e passar uma lição. Se você perder, vai ser mais difícil de acompanhar, depois.
A pequena levantou a cabeça, ainda sem olhar para os pais, matutando como dizer o que estava sentido. Enrolou os dedinhos uns nos outros, encabulada.
- Mas, papai, e se eu não fizer nenhum amigo?
Bingo! BaekHyun virou-se para a esposa, a compreensão e o alívio transparentes no olhar dos dois. Sentando-se com a filha no grande sofá macio da sala, acompanhado de , o cantor tentou pensar na melhor forma de contornar aquela situação.
- Conhecer gente nova pode ser assustador, mas também é muito legal. Sabia que eu conheci seu tio Chanyeol quando tinha a sua idade?
- É verdade? Isso já faz uns mil anos! - os olhos da menina brilharam de curiosidade.
- É, sim! Ele também estava com medo de ir para a escola porque tinha um rato de estimação e não queria que achassem ele estranho, mas na verdade, eu e outros dois garotos não podíamos ter animais de estimação e achamos muito legal ele ter um rato - explicou, lembrando que Chanyeol tinha, na verdade, um furão, mas JiHee ainda não conhecia furões e não seria ele a apresentar e despertar na menina a vontade incontrolável de ter um de estimação, também.
- Ninguém achou o tio Yeol estranho?
- Ah, acharam sim. Eu acho até hoje. Mas foi isso que fez ele virar amigo de todo mundo. Seu tio e eu éramos os alunos mais engraçados da escola.
- Isso é o que você diz - alfinetou, arrancando uma risadinha de JiHee e deixando um BaekHyun muito indignado na outra ponta do sofá.
- Você também conheceu o papai quando tinha a minha idade, mamãe?
- Não, nós nos conhecemos depois, mas foi no meu primeiro dia de aula, também. Eu era aluna nova, e não conhecia ninguém, até que o papai veio conversar comigo.
entrou no vagão do trem parado na plataforma da estação Rodeo, dando play na música e ajustando os fones confortavelmente. Suspirou, observando ao redor e torceu para que o assento ao seu lado permanecesse vazio pelas próximas estações. Suspirou novamente, agora em lamentação, quando o garoto barulhento se sentou, puxando conversa, animado, com a senhorinha do banco ao lado.
Como ele tagarelava! aumentou o volume da música, mas o som já estava no limite. Precisava se lembrar de comprar fones novos assim que pudesse. Duas estações à frente, notou que o garoto não conversava mais, o que seria bom, se ele não estivesse estudando-a há diversos minutos.
- Oi.
Droga.
-Desculpa, falou comigo? - se fez de desentendia, retirando um dos fones e encarando o garoto que sorria simpático.
- Disse oi! Acho que nós somos colegas de classe.
- Oi. Acho que sim - deu um breve sorriso e voltou a olhar pela janela. Ia colocando o fone de volta, esperando que a conversa encerrasse por ali, mas o tagarela continuou.
- Que legal! Você é nova, não é? Eu sou BaekHyun - esticou a mão, ainda com aquele sorriso na cara. não admitiria tão cedo, mas até que ele não era tão desagradável. Ela sabia que estava cansada da mudança e frustrada pelo péssimo primeiro dia de aula, e o coitado não tinha nada a ver com isso.
- - apertou a mão do colega de classe, que sorriu ainda mais. Ele não sentia dor nas bochechas, não?
- Você mora por aqui, também?
- Não, moro do outro lado da cidade. Faço aulas de dança aqui perto.
- Ah, é? Moro aqui desde que eu nasci e não sabia que tinha escola de dança pela região, vê se pode! - o garoto riu, coçando a nuca, desajeitado. BaekHyun observou o painel do trem e ajeitou a mochila nos ombros, se levantando. - Eu fico por aqui. Te vejo amanhã, na escola.
- Até amanhã, então - sem perceber, sorriu, se despedindo do novo amigo de trem.
Quando as portas do vagão se fecharam novamente e BaekHyun sumiu de vista, ouviu uma vozinha delicada chamando sua atenção. Virou-se para a senhorinha no bando ao lado, que encarava a menina com o olhar meigo.
- Ele é um bom garoto, menina. Ele é um bom garoto.
Sentada sozinha à mesa do refeitório, repassava mentalmente a lista de todos os pecados que devia ter cometido na vida anterior para merecer ser a aluna nova no último ano da escola. Sentia falta dos amigos da outra escola, da comida da cantina, dos professores e de não se sentir sozinha. Arrumou o fone esquerdo que havia caído e pulou uma música no celular. Mal terminou de ajeitar o aparelho e ele caiu de novo.
- Mas que droga!
Recolocou o fone, e dessa vez, o direito saiu.
- Hoje é dia...
Distraída, não viu a bandeja de comida sendo colocada ao seu lado, seguida de outras cinco bandejas ao redor da mesa, e tomou um belo de um susto quando ouviu a voz aguda de BaekHyun.
- Chanyeol, me passa o ketchup, vai.
- Tá na mão.
BaekHyun sentiu o olhar da garota queimando sobre si, e riu da confusão dela.
- Tudo bem com os seus fones?
cerrou os olhos, assustando BaekHyun.
- Então foi você? Acho que é isso que eu ganho por ser simpática com um doido no trem.
- Ca-amba, Baek - o tal Chanyeol se intrometeu, a boca cheia de batata frita. Tentou continuar, mas ninguém entendeu uma palavra do que ele disse, então o garoto engoliu e repetiu. - Eu disse que eles mal se conhecem, e ela já sabe que ele é doido.
- Ha ha ha o BaekHyun é doido, ha ha ha - BaekHyun devolveu, debochado. - E vocês são o quê, hein?
- Doidos, também, ué. Somos seus amigos - o outro garoto barulhento, JongDae, retrucou, no tom mais blasé que conseguiu.
Naquele momento, sabia que estava selando seu destino pelo resto do ano letivo. Ela só não sabia que estava selando, também, pelo resto da vida.
JiHee olhava de BaekHyun para , encantada. Quer dizer, quem imaginaria que a amizade do papai e da mamãe fosse TÃO pré-histórica? Ocorreu à menina que eles poderiam morrer a qualquer momento, eles eram velhos! Mas não tinha problema, ela cuidaria deles. Bom, tentaria. Será que conseguiria? Ah, meleca! Nessa espiral de pensamentos, a empolgação de JiHee logo se dissipou, e a menina ficou amuada de novo.
- O que foi, Jiji? Ainda está com medo de não conseguir fazer amigos?
- Não, mamãe - mais uma vez, a menina respondeu baixinho, brincando com os dedos. - Mas, e se eu não conseguir fazer os passos? E se eu fizer tudo errado e a turma rir de mim?
- Ah, mas isso é impossível - BaekHyun abriu um sorriso enorme, e apontou para a coleção de álbuns do EXO na estante da sala. - Você tem o sangue do seu pai, e eu sou um dançarino de altíssima categoria! AI, !
Esfregando a parte do braço onde tinha, merecidamente, levado um belo tapa ardido da esposa, BaekHyun parecia tão infantil quanto JiHee. só conseguia balançar a cabeça de um lado para o outro, descrente do que tinha acabado de ouvir.
- Jiji, é normal errar, principalmente no começo. Seu pai, mesmo sendo um "dançarino de altíssima categoria", na opinião dele, começou sem saber nada. Aliás, a primeira aula de dança dele foi engraçadíssima de assistir.
- Você estava lá, mamãe? Na primeira aula do papai?
- Claro que estava! - BaekHyun se intrometeu novamente. - Foi ela que me levou para a aula. Sua mãe é a melhor bailarina que eu já vi, e ela reconheceu meu potencial, sabe?
- Eu reconheci um cara convencido que se achava o rei da pista de dança, isso sim.
- Olha isso, JiHee! Sua mãe está dizendo que eu era o rei da pista de dança. Não se esqueça desse momento.
JiHee riu, olhando do pai para a mãe, se divertindo com as provocações.
- Não foi nada disso que aconteceu - rebateu, rindo junto com a filha. - Vou te contar a história, Jiji.
O trem saiu da estação Rodeo chacoalhando os passageiros. e BaekHyun, agora já acostumados a fazer o trajeto juntos, se seguravam nas barras de apoio, recuperando o ar depois da explosão de risadas que Chanyeol havia causado no grupo. aproveitou o tempo para começar a arrumar o cabelo em um rabo de cavalo bem preso que transformaria em um coque assim que chegasse na academia de dança, usando BaekHyun como suporte de espelho.
- Para de mexer, Baek!
- Não sou eu, é o trem - o garoto riu, fazendo zigue-zagues com a mão e atrapalhando a amiga.
- Você é péssimo! A pior penteadeira que eu já usei.
- Poxa, não vou poder colocar essa no currículo, então.
mostrou a língua para BaekHyun sem conseguir ficar brava com o garoto. Abaixada, começou a tirar as sapatilhas e o uniforme do fundo da mochila, só para guardá-los novamente, por cima dos materiais da escola. BaekHyun, curioso, observava a tudo com atenção.
- Onde você faz aula de dança? - perguntou, puxando assunto.
- Em uma escola pequena, duas estações depois da sua. Eu fazia aulas com a irmã da minha professora na outra cidade, e quando falei que ia parar porque vinha para Seoul, ela me indicou essa academia.
- Você gosta?
- De dançar? - levantou-se, pendurando a mochila de volta no ombro. - É tudo o que eu sei fazer. Minha vida gira em torno do balé desde que eu era criança.
- A minha também! - BaekHyun exclamou, empolgado. - Digo, não o balé. Eu pratico hapkido desde criança, sabe? Sou muito bom, apesar de o hapkido ser bem mais difícil que balé e essas coisas.
cruzou os braços encarando o garoto convencido com uma das sobrancelhas arqueadas. Era competição que ele queria, então? Era competição que ele ia ter.
- Você deve ser excelente dançarino, então, não é?
- Ah, com certeza - BaekHyun respondeu, observando o painel do trem. Sua estação era a próxima. - Dou conta de qualquer coreografia com os pés amarrados.
- Por que você não vem comigo para a aula, hoje, então? Eu estou com dificuldade em uma parte da coreografia. Você pode observar e me ajudar, depois.
BaekHyun passou os sessenta segundos seguintes sem piscar.
- Cl-claro - viu as portas do vagão se abrirem na sua estação, sentindo o coração apertar quando elas se fecharem e o trem seguiu viagem. - Por que não, não é mesmo?
Sorriu o maior sorriso amarelo que conseguiu, xingando-se mentalmente por nunca conseguir controlar a própria língua.
- Em posição, pessoal, vamos lá.
entrou na sala logo atrás da professora, já completamente vestida e acompanhada de BaekHyun, que parecia uma criança perdida.
- Professora, com licença. Esse é BaekHyun, meu amigo da escola. Ele é muito talentoso, sabe, e gostaria de fazer uma aula experimental. Será que ele pode acompanhar nosso ensaio hoje?
- Ah, que boa notícia! Bailarinos são sempre muito bem-vindos. Fique à vontade, BaekHyun. Espero que goste da aula.
O coitado do garoto estava pálido. , por outro lado, já posicionada para os aquecimentos no chão, segurava a risada, e torcia para que aquilo ensinasse uma lição ao ego do amigo.
Ao longo da aula, depois de passar toda a primeira parte do ensaio atrás de , tentando copiar seus passos, embora completamente fora de ritmo, BaekHyun conseguiu cair três vezes, acertar um belo tapa em outra bailarina no meio de uma pirueta desajeitada, quase torcer um tornozelo e desconcentrar toda a turma. O alívio no rosto da professora era visível ao dispensar a classe.
- O que achou da aula? - provocou.
- Sabe, apesar de tudo, eu gostei - surpreso com a própria conclusão, BaekHyun sorriu, honesto. - Eu provavelmente preciso fazer aulas com a turma da pré-escola, mas garanto que te alcanço em seis meses.
Entre alfinetadas, a dupla voltou para o trem, caminhando com calma pela rua e curtindo a tarde quente. O bom humor de BaekHyun durou somente até a manhã seguinte, mas deu boas gargalhadas na escola com as caretas de dor que o garoto fazia por conta dos alongamentos puxados.
- Quer dizer que o papai começou sem saber nada, que nem eu, e hoje ele é tão bom quanto a mamãe, e o tio Nini, e o tio Chanyeol, e todo mundo?
JiHee mal podia acreditar.
- Bom, eu não incluiria o tio Chanyeol nessa lista, mas...
- Mas é isso, mesmo, Jiji - lançou outro olhar mortal para BaekHyun, que ficou quietinho. - Todos nós começamos sem saber nada. Todo mundo começa assim, e com prática e paciência, vai melhorando a cada dia.
Parecendo mais animada, a menina franziu a testa, como fazia quando estava muito pensativa. Pensou até quase sair fumaça, então virou-se para o pai, com os olhinhos brilhantes que cativavam.
- Papai, o que é "haquipidô"?
Controlando a vontade de morder as bochechas da filha, BaekHyun tratou de explicar.
- É hapkido, meu amor. É uma arte marcial, que nem a do Kung Fu Panda.
- Papai - levantando-se do sofá, a menina colocou as mãos na cintura e, batendo o pezinho no chão, encarou o pai, muito séria -, o Kung Fu Panda luta kung fu! Não é ha- pensou um pouco e continuou com calma - pi-qui-dô.
BaekHyun, rendido, ergueu as mãos, sorrindo.
- Tudo bem, você tem razão. Não é a mesma coisa. Agora me diz: você ainda não quer ir para a aula de balé?
- Quero! - JiHee deu um pulo, animada. Ainda estava ansiosa, mas achou melhor começar logo do que passar pelo que o pai passou.
- Então vai terminar de se trocar e pegar as suas coisas, se não a gente vai chegar atrasada - pediu, alegre por JiHee estar empolgada de novo.
- O papai não vai também? - a menina perguntou, manhosa.
- Hoje eu tenho que trabalhar, meu amor, mas quando você voltar, posso te mostrar uns golpes de hapkido. O que você acha?
- Eba! Vou aprender hapiquidô!
JiHee correu para o quarto, deixando os pais para trás.
- Ela está esperta demais. Daqui a pouco, não vou mais saber como responder as perguntas dela.
riu, se aproximando do marido. Deu um beijo rápido, e colocou a mão na própria barriga, sendo imitada por BaekHyun logo em seguida.
- Então acho melhor a gente começar a se preparar para quando ela perguntar como o irmãozinho veio parar na minha barriga!
Não gostava de ser chamado de pai coruja, e muito menos de pai babão, mas qualquer pessoa que o visse com JiHee por dez minutos poderia dizer que ele era exatamente assim. Toda a ideia da paternidade era nova para o cantor, mesmo que JiHee tivesse sido planejada pelo casal por pelo menos dois anos antes de realmente nascer. Agora, seis anos depois, ele ainda se sentia tão empolgado e assustado quanto no começo.
Ver JiHee bem e sorrindo era o ápice da felicidade do cantor, mas vê-la triste era o mesmo que levar uma apunhalada no coração. Estranhamente, aquele era um desses momentos. andava pela casa com a filha manhosa no colo, tentando relembrar a menina da empolgação dos últimos dias, mas nada funcionava. JiHee simplesmente não queria ir para a aula de balé.
- Mas, meu amor, você gostou tanto da sua professora e da sua roupa. Por que não quer mais ir?
BaekHyun suspirou, angustiado, vendo a esposa perguntar pela enésima vez o motivo do desânimo da menina. Colocou uma mão no ombro de que não estava ocupado pela cabeça de JiHee e esticou os braços na direção da filha, pedindo permissão para pegá-la, a qual cedeu alegremente. JiHee não era mais um bebezinho, afinal de contas.
- Jiji, você não quer mais fazer aula de dança? - BaekHyun perguntou, calmo, e recebeu um resmungo em resposta. - Tudo bem se você não quiser, você não precisa ir. É sua escolha.
JiHee se remexeu no colo do pai, visivelmente incomodada.
- Mas se você quiser fazer aula, precisa ir hoje. É o primeiro dia! Você vai conhecer seus amiguinhos e a professora vai se apresentar e passar uma lição. Se você perder, vai ser mais difícil de acompanhar, depois.
A pequena levantou a cabeça, ainda sem olhar para os pais, matutando como dizer o que estava sentido. Enrolou os dedinhos uns nos outros, encabulada.
- Mas, papai, e se eu não fizer nenhum amigo?
Bingo! BaekHyun virou-se para a esposa, a compreensão e o alívio transparentes no olhar dos dois. Sentando-se com a filha no grande sofá macio da sala, acompanhado de , o cantor tentou pensar na melhor forma de contornar aquela situação.
- Conhecer gente nova pode ser assustador, mas também é muito legal. Sabia que eu conheci seu tio Chanyeol quando tinha a sua idade?
- É verdade? Isso já faz uns mil anos! - os olhos da menina brilharam de curiosidade.
- É, sim! Ele também estava com medo de ir para a escola porque tinha um rato de estimação e não queria que achassem ele estranho, mas na verdade, eu e outros dois garotos não podíamos ter animais de estimação e achamos muito legal ele ter um rato - explicou, lembrando que Chanyeol tinha, na verdade, um furão, mas JiHee ainda não conhecia furões e não seria ele a apresentar e despertar na menina a vontade incontrolável de ter um de estimação, também.
- Ninguém achou o tio Yeol estranho?
- Ah, acharam sim. Eu acho até hoje. Mas foi isso que fez ele virar amigo de todo mundo. Seu tio e eu éramos os alunos mais engraçados da escola.
- Isso é o que você diz - alfinetou, arrancando uma risadinha de JiHee e deixando um BaekHyun muito indignado na outra ponta do sofá.
- Você também conheceu o papai quando tinha a minha idade, mamãe?
- Não, nós nos conhecemos depois, mas foi no meu primeiro dia de aula, também. Eu era aluna nova, e não conhecia ninguém, até que o papai veio conversar comigo.
entrou no vagão do trem parado na plataforma da estação Rodeo, dando play na música e ajustando os fones confortavelmente. Suspirou, observando ao redor e torceu para que o assento ao seu lado permanecesse vazio pelas próximas estações. Suspirou novamente, agora em lamentação, quando o garoto barulhento se sentou, puxando conversa, animado, com a senhorinha do banco ao lado.
Como ele tagarelava! aumentou o volume da música, mas o som já estava no limite. Precisava se lembrar de comprar fones novos assim que pudesse. Duas estações à frente, notou que o garoto não conversava mais, o que seria bom, se ele não estivesse estudando-a há diversos minutos.
- Oi.
Droga.
-Desculpa, falou comigo? - se fez de desentendia, retirando um dos fones e encarando o garoto que sorria simpático.
- Disse oi! Acho que nós somos colegas de classe.
- Oi. Acho que sim - deu um breve sorriso e voltou a olhar pela janela. Ia colocando o fone de volta, esperando que a conversa encerrasse por ali, mas o tagarela continuou.
- Que legal! Você é nova, não é? Eu sou BaekHyun - esticou a mão, ainda com aquele sorriso na cara. não admitiria tão cedo, mas até que ele não era tão desagradável. Ela sabia que estava cansada da mudança e frustrada pelo péssimo primeiro dia de aula, e o coitado não tinha nada a ver com isso.
- - apertou a mão do colega de classe, que sorriu ainda mais. Ele não sentia dor nas bochechas, não?
- Você mora por aqui, também?
- Não, moro do outro lado da cidade. Faço aulas de dança aqui perto.
- Ah, é? Moro aqui desde que eu nasci e não sabia que tinha escola de dança pela região, vê se pode! - o garoto riu, coçando a nuca, desajeitado. BaekHyun observou o painel do trem e ajeitou a mochila nos ombros, se levantando. - Eu fico por aqui. Te vejo amanhã, na escola.
- Até amanhã, então - sem perceber, sorriu, se despedindo do novo amigo de trem.
Quando as portas do vagão se fecharam novamente e BaekHyun sumiu de vista, ouviu uma vozinha delicada chamando sua atenção. Virou-se para a senhorinha no bando ao lado, que encarava a menina com o olhar meigo.
- Ele é um bom garoto, menina. Ele é um bom garoto.
Sentada sozinha à mesa do refeitório, repassava mentalmente a lista de todos os pecados que devia ter cometido na vida anterior para merecer ser a aluna nova no último ano da escola. Sentia falta dos amigos da outra escola, da comida da cantina, dos professores e de não se sentir sozinha. Arrumou o fone esquerdo que havia caído e pulou uma música no celular. Mal terminou de ajeitar o aparelho e ele caiu de novo.
- Mas que droga!
Recolocou o fone, e dessa vez, o direito saiu.
- Hoje é dia...
Distraída, não viu a bandeja de comida sendo colocada ao seu lado, seguida de outras cinco bandejas ao redor da mesa, e tomou um belo de um susto quando ouviu a voz aguda de BaekHyun.
- Chanyeol, me passa o ketchup, vai.
- Tá na mão.
BaekHyun sentiu o olhar da garota queimando sobre si, e riu da confusão dela.
- Tudo bem com os seus fones?
cerrou os olhos, assustando BaekHyun.
- Então foi você? Acho que é isso que eu ganho por ser simpática com um doido no trem.
- Ca-amba, Baek - o tal Chanyeol se intrometeu, a boca cheia de batata frita. Tentou continuar, mas ninguém entendeu uma palavra do que ele disse, então o garoto engoliu e repetiu. - Eu disse que eles mal se conhecem, e ela já sabe que ele é doido.
- Ha ha ha o BaekHyun é doido, ha ha ha - BaekHyun devolveu, debochado. - E vocês são o quê, hein?
- Doidos, também, ué. Somos seus amigos - o outro garoto barulhento, JongDae, retrucou, no tom mais blasé que conseguiu.
Naquele momento, sabia que estava selando seu destino pelo resto do ano letivo. Ela só não sabia que estava selando, também, pelo resto da vida.
JiHee olhava de BaekHyun para , encantada. Quer dizer, quem imaginaria que a amizade do papai e da mamãe fosse TÃO pré-histórica? Ocorreu à menina que eles poderiam morrer a qualquer momento, eles eram velhos! Mas não tinha problema, ela cuidaria deles. Bom, tentaria. Será que conseguiria? Ah, meleca! Nessa espiral de pensamentos, a empolgação de JiHee logo se dissipou, e a menina ficou amuada de novo.
- O que foi, Jiji? Ainda está com medo de não conseguir fazer amigos?
- Não, mamãe - mais uma vez, a menina respondeu baixinho, brincando com os dedos. - Mas, e se eu não conseguir fazer os passos? E se eu fizer tudo errado e a turma rir de mim?
- Ah, mas isso é impossível - BaekHyun abriu um sorriso enorme, e apontou para a coleção de álbuns do EXO na estante da sala. - Você tem o sangue do seu pai, e eu sou um dançarino de altíssima categoria! AI, !
Esfregando a parte do braço onde tinha, merecidamente, levado um belo tapa ardido da esposa, BaekHyun parecia tão infantil quanto JiHee. só conseguia balançar a cabeça de um lado para o outro, descrente do que tinha acabado de ouvir.
- Jiji, é normal errar, principalmente no começo. Seu pai, mesmo sendo um "dançarino de altíssima categoria", na opinião dele, começou sem saber nada. Aliás, a primeira aula de dança dele foi engraçadíssima de assistir.
- Você estava lá, mamãe? Na primeira aula do papai?
- Claro que estava! - BaekHyun se intrometeu novamente. - Foi ela que me levou para a aula. Sua mãe é a melhor bailarina que eu já vi, e ela reconheceu meu potencial, sabe?
- Eu reconheci um cara convencido que se achava o rei da pista de dança, isso sim.
- Olha isso, JiHee! Sua mãe está dizendo que eu era o rei da pista de dança. Não se esqueça desse momento.
JiHee riu, olhando do pai para a mãe, se divertindo com as provocações.
- Não foi nada disso que aconteceu - rebateu, rindo junto com a filha. - Vou te contar a história, Jiji.
O trem saiu da estação Rodeo chacoalhando os passageiros. e BaekHyun, agora já acostumados a fazer o trajeto juntos, se seguravam nas barras de apoio, recuperando o ar depois da explosão de risadas que Chanyeol havia causado no grupo. aproveitou o tempo para começar a arrumar o cabelo em um rabo de cavalo bem preso que transformaria em um coque assim que chegasse na academia de dança, usando BaekHyun como suporte de espelho.
- Para de mexer, Baek!
- Não sou eu, é o trem - o garoto riu, fazendo zigue-zagues com a mão e atrapalhando a amiga.
- Você é péssimo! A pior penteadeira que eu já usei.
- Poxa, não vou poder colocar essa no currículo, então.
mostrou a língua para BaekHyun sem conseguir ficar brava com o garoto. Abaixada, começou a tirar as sapatilhas e o uniforme do fundo da mochila, só para guardá-los novamente, por cima dos materiais da escola. BaekHyun, curioso, observava a tudo com atenção.
- Onde você faz aula de dança? - perguntou, puxando assunto.
- Em uma escola pequena, duas estações depois da sua. Eu fazia aulas com a irmã da minha professora na outra cidade, e quando falei que ia parar porque vinha para Seoul, ela me indicou essa academia.
- Você gosta?
- De dançar? - levantou-se, pendurando a mochila de volta no ombro. - É tudo o que eu sei fazer. Minha vida gira em torno do balé desde que eu era criança.
- A minha também! - BaekHyun exclamou, empolgado. - Digo, não o balé. Eu pratico hapkido desde criança, sabe? Sou muito bom, apesar de o hapkido ser bem mais difícil que balé e essas coisas.
cruzou os braços encarando o garoto convencido com uma das sobrancelhas arqueadas. Era competição que ele queria, então? Era competição que ele ia ter.
- Você deve ser excelente dançarino, então, não é?
- Ah, com certeza - BaekHyun respondeu, observando o painel do trem. Sua estação era a próxima. - Dou conta de qualquer coreografia com os pés amarrados.
- Por que você não vem comigo para a aula, hoje, então? Eu estou com dificuldade em uma parte da coreografia. Você pode observar e me ajudar, depois.
BaekHyun passou os sessenta segundos seguintes sem piscar.
- Cl-claro - viu as portas do vagão se abrirem na sua estação, sentindo o coração apertar quando elas se fecharem e o trem seguiu viagem. - Por que não, não é mesmo?
Sorriu o maior sorriso amarelo que conseguiu, xingando-se mentalmente por nunca conseguir controlar a própria língua.
- Em posição, pessoal, vamos lá.
entrou na sala logo atrás da professora, já completamente vestida e acompanhada de BaekHyun, que parecia uma criança perdida.
- Professora, com licença. Esse é BaekHyun, meu amigo da escola. Ele é muito talentoso, sabe, e gostaria de fazer uma aula experimental. Será que ele pode acompanhar nosso ensaio hoje?
- Ah, que boa notícia! Bailarinos são sempre muito bem-vindos. Fique à vontade, BaekHyun. Espero que goste da aula.
O coitado do garoto estava pálido. , por outro lado, já posicionada para os aquecimentos no chão, segurava a risada, e torcia para que aquilo ensinasse uma lição ao ego do amigo.
Ao longo da aula, depois de passar toda a primeira parte do ensaio atrás de , tentando copiar seus passos, embora completamente fora de ritmo, BaekHyun conseguiu cair três vezes, acertar um belo tapa em outra bailarina no meio de uma pirueta desajeitada, quase torcer um tornozelo e desconcentrar toda a turma. O alívio no rosto da professora era visível ao dispensar a classe.
- O que achou da aula? - provocou.
- Sabe, apesar de tudo, eu gostei - surpreso com a própria conclusão, BaekHyun sorriu, honesto. - Eu provavelmente preciso fazer aulas com a turma da pré-escola, mas garanto que te alcanço em seis meses.
Entre alfinetadas, a dupla voltou para o trem, caminhando com calma pela rua e curtindo a tarde quente. O bom humor de BaekHyun durou somente até a manhã seguinte, mas deu boas gargalhadas na escola com as caretas de dor que o garoto fazia por conta dos alongamentos puxados.
- Quer dizer que o papai começou sem saber nada, que nem eu, e hoje ele é tão bom quanto a mamãe, e o tio Nini, e o tio Chanyeol, e todo mundo?
JiHee mal podia acreditar.
- Bom, eu não incluiria o tio Chanyeol nessa lista, mas...
- Mas é isso, mesmo, Jiji - lançou outro olhar mortal para BaekHyun, que ficou quietinho. - Todos nós começamos sem saber nada. Todo mundo começa assim, e com prática e paciência, vai melhorando a cada dia.
Parecendo mais animada, a menina franziu a testa, como fazia quando estava muito pensativa. Pensou até quase sair fumaça, então virou-se para o pai, com os olhinhos brilhantes que cativavam.
- Papai, o que é "haquipidô"?
Controlando a vontade de morder as bochechas da filha, BaekHyun tratou de explicar.
- É hapkido, meu amor. É uma arte marcial, que nem a do Kung Fu Panda.
- Papai - levantando-se do sofá, a menina colocou as mãos na cintura e, batendo o pezinho no chão, encarou o pai, muito séria -, o Kung Fu Panda luta kung fu! Não é ha- pensou um pouco e continuou com calma - pi-qui-dô.
BaekHyun, rendido, ergueu as mãos, sorrindo.
- Tudo bem, você tem razão. Não é a mesma coisa. Agora me diz: você ainda não quer ir para a aula de balé?
- Quero! - JiHee deu um pulo, animada. Ainda estava ansiosa, mas achou melhor começar logo do que passar pelo que o pai passou.
- Então vai terminar de se trocar e pegar as suas coisas, se não a gente vai chegar atrasada - pediu, alegre por JiHee estar empolgada de novo.
- O papai não vai também? - a menina perguntou, manhosa.
- Hoje eu tenho que trabalhar, meu amor, mas quando você voltar, posso te mostrar uns golpes de hapkido. O que você acha?
- Eba! Vou aprender hapiquidô!
JiHee correu para o quarto, deixando os pais para trás.
- Ela está esperta demais. Daqui a pouco, não vou mais saber como responder as perguntas dela.
riu, se aproximando do marido. Deu um beijo rápido, e colocou a mão na própria barriga, sendo imitada por BaekHyun logo em seguida.
- Então acho melhor a gente começar a se preparar para quando ela perguntar como o irmãozinho veio parar na minha barriga!
Fim.
Nota da autora: Oi! Tudo bem?
Vou admitir: foi um sufoco achar plot para essa música hahaha mas a ideia do BaekHyun papai me persegue há tempos, e funcionou.
Espero que você tenha gostado!
See ya ♥
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