Capítulo Único
- Eu não aguento mais bebida, Rafe. – Eu ri, ligeiramente tonto. A musica, as luzes, a dança... tudo induzia aos drinks que já haviamos tomado. Ele riu, virando o ultimo shot de tequila que haviamos comprado e deu de ombros.
- Fraco. – Ele provocou, me fazendo rir, e virar o meu shot. Apertei os olhos, passando a mão na boca logo após de chupar o pedaço de limão que me foi oferecido junto à bebida. Torci a boca em seguida, fazendo uma careta. Odiava a bebida, amava a sensação que ela me proporcionava.
- ... Eu preciso mijar! – Rafe disse, dando um tapinha no meu ombro, já partindo em retirada em direção ao banheiro, e eu ri, parado confortavelmente recostado no balcão da boate em que estávamos. Olhei ao redor procurando meus amigos. Lucas se agarrava com uma morena que eu conhecia de vista... Ela estava no meu curso de ciências políticas, mas eu não sabia seu nome. Jhonny havia sumido no minuto em que chegamos, e muito provavelmente, ele já havia saído da festa com alguma garota randômica. E então, do nada, em meio aos primeiros acordes de We found love, da Rihanna com o Calvin Harris, eu a vi... Linda, uma obra perfeita de Deus. O cabelo longo balançava ao ritmo da música, que tomava seu corpo num movimento ritmado que, ao menos aos meus olhos, era extremamente sensual. E quando ela virou-se em minha direção e eu vi seus olhos e sorriso, eu fui arrebatado. Ela irradiava luz própria no meio de todas aquelas luzes estroboscópicas, por mais incrível que pareça. Ela continuava dançando, uma garrafa de tequila na mão, o que me fez sorrir. Antes que eu mesmo percebesse, eu já me movia em sua direção, parando ao seu lado, encarando a completa estranha que havia me encantado em questão de segundos.
- ? – Fui ligeiramente balançado, soltando um resmungo incompreensível, mas a mão que me balançava era insistente demais para desistir. – Cara, acorda. Já são quase duas da tarde... – Abri os olhos lentamente, enquanto a dor de cabeça me invadia sem pedir licença. Maldita ressaca! Sentei na cama, tentando manter os olhos abertos, mas era basicamente uma missão impossível. O sol lá fora já não brilhava tão intensamente, mas a claridade ainda me incomodava. Algo estava faltando naquela cena... E então, eu dei um pulo na cama, olhando ao redor. Ela estava ali comigo, eu não podia ter sonhado com a presença dela. Levantei apenas em minhas boxers, ignorando a manifestação do Rafe para que eu vestisse uma roupa. Foda-se, o quarto é meu, ele não devia me incomodar, independente da hora. Caminhei em direção ao banheiro, mas estava vazio. Voltei para o quarto, e sentei-me na cama, um tanto confuso. Rafe me olhou, levantando a sobrancelha.
- Algum problema?
- Eu tenho quase toda a certeza do mundo de que eu trouxe uma garota pra cá ontem a noite...
- Oi. – Eu disse, o mais alto que pude, olhando para ela. Estúpido, eu sei. Ela se virou, e os olhos bem marcados pela maquiagem cuidadosamente aplicada fizeram algo se revirar dentro de mim.
- Oi. – Ela respondeu com um sorriso contido, as sobrancelhas levemente franzidas ao me olhar. No mínimo, ela devia pensar que eu era um louco ou algo do tipo. As amigas dela – cinco, pelo que eu pude contar – riam, agrupadas num canto, cochichando uma no ouvido da outra ocasionalmente, e eu continuava ali, travado, olhando a menina, até o momento em que ela me estendeu a mão. – . Mas todo mundo me chama de .
- . Mas todo mundo me chama de . É um prazer te conhecer, . – Apertei a mão dela gentilmente entre os meus dedos, segurando-a por mais tempo do que o necessário, e ela riu, tomando um gole da tequila diretamente da garrafa, fazendo uma careta logo em seguida, esticando a garrafa em minha direção.
- Eu sei quem você é, . Aliás, todo mundo sabe quem você é... – Franzi a sobrancelha, como ela havia feito anteriormente, e ela riu. – Presidente de uma das fraternidades mais concorridas da universidade, prodígio esportivo do nosso time de basquete, médias altissimas e um womanizer/heartbreaker, com milhares de casinhos de verão espalhados pelos quatro cantos do mundo...
- Eu dispensaria a ultima parte. Não faz bem para minha reputação... – Eu ri, piscando o olho e segurando a garrafa de tequila que ela havia me oferecido. Ela riu também e eu tomei um gole direto da garrafa, como ela havia feito anteriormente.
- Eu acho que a ultima parte é o que faz a sua reputação. E algo me diz que é essa sua reputação que mantem sua cama movimentada durante praticamente todas as noites, estou certa? – Eu ri alto, e ela me empurrou pelo ombro, rindo junto comigo. – Aliás, eu acho que conheço mais de meia dúzia de meninas que gostariam de comprovar as teorias levantadas quanto à sua reputação... -
Por algum motivo – estupidez, talvez. – eu achei que ela estava se referindo a ela mesma, e apoiei minha mão na cintura da menina, sorrindo para ela. Ela riu, se afastando um pouco e deu de ombros.
- Não é o meu caso, . – Ela sorriu, mordiscando o canto da boca e olhou uma das amigas em seguida, erguendo as sobrancelhas (o que me permite ressaltar que se ela tentou ser discreta, não funcionou muito bem). Olhei a amiga que ela tinha direta ou indiretamente indicado, e dei de ombros.
- Não faz o meu tipo, . – Ela riu, virando para a amiga e erguendo as mãos em rendição. “Eu tentei!” – ela disse, e mesmo com o barulho alto da musica e a distancia, a amiga entendeu, pois eu a vi ruborizar intensamente e puxar outra delas pela mão, caminhando na direção oposta da que estávamos, o que a fez rir ainda mais.
- Então você tem um tipo? – Ela perguntou, e eu a encarei, olhando-a de cima a baixo, o que a fez rir e me dar um tapinha no braço, me chamando de sem vergonha. Eu ri também, indicando o bar com a cabeça e ela sorriu, me acompanhando até lá de bom grado.
- Eu juro, Rafe! Não é possível que eu tenha sonhado com isso! Foi... –
- Incrível? – Rafe riu, piscando os olhos seguidamente. Gay. – Inesquecível? Intenso? Memorável? –
- Tá, tá, chega... – Eu desci as escadas, já vestido, com ele em meu encalço, fazendo piada de mim. – Foi real demais pra ser um sonho, satisfeito? –
- Me diz você... Foi satisfatório? –
- Esqueçe, Rafe... – Ele consegue me tirar do sério, é fato. Por sorte, antes que ele pudesse falar qualquer coisa, Lucas apareceu com um copo gigante de café, nos olhando com apenas um olho aberto. Ressaca. Eu reconheço os sinais...
- Procurando a presa de ontem, ? – Ele disse, encostando-se no sofá, e eu olhei para o Rafe, erguendo as sobrancelhas, e ele apenas riu. – Ela saiu daqui há uma hora, mais ou menos... Descalça, maquiagem borrada... a noite foi boa?
Ignorei a provocação dele, coçando a cabeça.
- Bom, se serve pra alguma coisa, ela foi pro lado dos dormitórios da universidade... Não pegou taxi nem nada, e saiu descalça. Acho que ela não deve morar muito longe daqui...
- Sério? E o que você disse? –
- Ah, eu dei uma desculpa qualquer e deixei as duas se encarando... Depois disso, eu tive que sumir por um bom tempo... Aliás, desde então eu não fui pra casa novamente. Minha mãe reclama disso sempre que me liga... – Ela riu, secando uma lágrima que escorria, de tanta risada que tinha dado.
- Você é uma figura, ! – Ela disse, e eu sorri, finalizando um copo de whisky.
- E eu não sei porque eu te contei essas coisas todas. Aliás, chance zero de qualquer coisa rolar agora, né? –
- Uma figura, e muito descarado, devo acrescentar! – Ela continuava rindo, apoiada no balcão do bar, passando o canudo de seu refrigerante entre os dedos.
- Figura, descarado e bêbado pra caralho. – eu disse, completamente sério, o que a fez rir ainda mais.
- Okay, ... Você acabou de perder o direito de voltar pra casa dirigindo... – ela disse, estendendo a mão em minha direção e eu fiz um bico, botando a minha mão sobre a dela.
- Tô bem, eu juro... –
- Sim, eu imagino que sim... Mas eu vou dirigindo e te deixo em casa. –
- Você quer me levar pra casa? – Perguntei, erguendo uma sobrancelha sugestivamente e ela riu, me dando outro tapinha no braço.
- Pervertido. Vou te levar em casa sim, e garantir que você chega vivo. De lá, eu pego um táxi e vou pra casa... – Ela insistiu novamente, erguendo a mão mais uma vez e eu ri, dando de ombros e entregando as chaves.
- Sabe, ajudaria muito se você ao menos soubesse dizer o nome da menina... – Lucas provocou, se espalhando confortavelmente no sofá da sala, enquanto eu andava de um lado para o outro, pensando na melhor maneira de encontrar a garota.
- . – Eu disse, cruzando os braços sobre o peito e me encostando numa poltrona, fitando meus amigos idiotas que se divertiam com minha situação.
- Certo, . Mas devem haver milhões de s aqui na faculdade, ... Não é de muita ajuda! – Rafe disse, e eu bufei, jogando os braços pro ar, me rendendo. Ela sumiu propositalmente. Talvez fosse o sinal de que não queria ser encontrada... Caminhei em direção a escada, decidido a voltar pra cama e dormir novamente. Estava quase no topo, quando a lembrança me tomou por completo.
- ! – Eu gritei, descendo o mais rápido que pude e voltando para perto dos meus amigos. – O nome dela é !
Os dois se entreolharam, me dirigindo o olhar logo em seguida, e eu apenas peguei as chaves do carro de cima do aparador que ficava ao lado da porta, fitando-os.
- Vocês vem? – Mais uma vez ele se entreolharam, mas levantaram logo em seguida, indo até o carro, logo atrás de mim.
- E aonde, exatamente, você pensa em ir? – Lucas perguntou, sentando no banco de trás.
- Você disse que a viu indo em direção aos dormitórios, certo? Vou começar por lá... –
- E então? – Rafe perguntou assim que eu entrei no carro novamente. Recostei no banco, os olhos fechados e respirei fundo.
- Descobri o número do quarto... Fui até lá e um cara abriu a porta. Tinha alguém no banho, e o vestido de ontem estava jogado sobre a cama... Pra bom entendedor, meia palavra basta, né? -
Dei a partida no carro, ignorando os olhares – até piedosos, devo dizer – dos meus amigos. Dirigi guiado pela mão de Deus, pois a ultima coisa em que eu estava prestando atenção era a pista à minha frente. Flashs da noite anterior corriam soltos na minha cabeça, e eu não podia evitar me sentir frustrado. Nossa conexão havia sido diferente de todas as experiências da minha vida. Eu me senti livre nos breves momentos que desfrutamos juntos. Pela primeira vez na minha vida, eu tinha me sentido realmente bem com alguém, e de repente...
- Você está completamente bêbado... – Ela disse, tentando me dar suporte para que eu conseguisse me manter de pé ao menos o suficiente para entrarmos em casa. Eu me limitei apenas a rir com a observação dela, o que a fez rir também, e por pouco não demos de cara com o chão. Me joguei no sofá assim que entramos em casa, e ela fechou a porta, voltando a atenção para mim em seguida.
- Acho que você precisa de um banho... –
- Vamos? – Convidei, e ela riu, negando com a cabeça.
- Você vai tomar banho. Eu vou preparar algo que você possa comer antes de ir dormir...
- Não vou conseguir tomar banho sozinho... –
- Boa tentativa. – Ela piscou o olho e eu ri, me rebocando até o andar de cima, praticamente agarrado ao corrimão para não cair e quebrar um braço, perna ou nariz enquanto tentava chegar ao meu quarto. Não demorei muito no banho... E por incrível que pareça, água gelada consegue fazer milagres comigo. Principalmente depois de ficar cerca de meia hora deixando a água correr livremente sobre o meu rosto. Eu ainda estava um tanto enjoado, e iria ter uma puta ressaca no dia seguinte, isso era fato, mas a tontura já havia passado e eu me sentia bem mais racional. Vesti algo confortável e desci as escadas, sentindo o cheiro do que quer que fosse que ela estava preparando me invadir, fazendo meu estômago se revirar. Eu não havia notado até então o quão faminto eu estava. Me aproximei sorrateiramente, envolvendo-a pela cintura, encostando meu peito nu à pele das costas dela, exposta pelo decote generoso do vestido que ela usava, e lhe beijei o pescoço, o que a fez arrepiar.
- ... – Ela me advertiu, encolhendo o pescoço entre os ombros e eu ri, cruzando meus braços na linha da cintura dela, as mãos posicionadas sobre seu umbigo.
- Eu não fiz nada demais... Foi só um agradecimento por toda a gentileza... –
Ela riu, fugindo do meu abraço e me empurrando até o balcão da cozinha, onde colocou um prato com a comida que ela havia preparado. Eu comi calmamente, ela me fazendo companhia, enquanto falavamos amenidades, e assim que terminei de comer, eu a guiei até a sala. Sentamos no sofá em um daqueles momentos de silêncio constrangedor, quando nenhum dos dois sabe realmente o que dizer, apenas ouvindo o barulho do ambiente. Passaram alguns minutos até que ela quebrasse o silêncio.
- Eu acho que já está na minha hora... Tá tarde! – Eu apenas balancei a cabeça, sem saber ao certo o que dizer. Ela levantou, e eu a acompanhei, sequer me lembrando no momento que ela havia vindo até aqui dirigindo o meu carro. Eu a acompanhei até a porta, e paramos de frente a ela, novamente em silêncio.
- Bom, eu já... – E eu a interrompi, tomando-a em meus braços e beijando-a sem sequer me importar em pedir permissão. Eu queria aquilo desde que a vi pela primeira vez. Ela hesitou por um momento, antes de envolver meu pescoço com os braços, colando o corpo ainda mais ao meu. Eu a abraçei assim que partimos o beijo, roubando-lhe um selinho e ela sorriu, me fitando. Segurei a mão dela, dando o primeiro passo em direção à escada e ela me acompanhou, um tanto ruborizada. Subimos em silêncio, e voltamos a nos beijar no exato momento em que fechei a porta, não demorando muito para que nossas roupas fossem jogadas pelo quarto e nossos corpos se envolvessem sobre a cama...
- Tá bem, cara? – Rafe colocou apenas a cabeça para dentro do quarto, me fitando. Eu havia me deitado assim que chegamos em casa, e desde então eu fitava o teto, tentando entender o que estava acontecendo comigo. Como uma garota havia conseguido mexer tanto comigo em tão pouco tempo? Nem eu conseguia explicar... – Você quer, sei lá, conversar ou algo do tipo?
Eu ri comigo mesmo. O Rafe fazendo o tipo prestativo era, no mínimo, hilário. Ou desesperador. Talvez a minha cara não fosse das melhores...
- Tô bem... – Eu disse, e ele abriu a porta, entrando no quarto e sentando num canto da cama, colocando os pés quase na minha cara. Eu o empurrei e ele riu, quase caindo da cama, quando um telefone comecou a tocar. Fitei o Rafe, esperando que ele atendesse logo e ele apenas deu de ombros, sussurrando um ‘não é meu’. Enfim, não era o meu também, e logo parou de tocar, não demorando muito para que recomecasse. Levantamos e começamos a procurar pelo quarto. Demorou tempo suficiente para que ele parasse de tocar e recomecasse novamente em seguida, até que o Rafe o encontrou entre a cama e o criado mudo, e jogou o aparelho pra mim. Olhei a tela e a foto de uma menina piscava insistentemente.
- Atende logo isso! – Rafe praticamente gritou e eu, de pronto, deslizei o dedo sobre a tela do telefone. Antes mesmo que eu pudesse falar qualquer coisa, a voz do outro lado me bombardeou, falando tão rápido que foi até dificil entender de primeira.
- , sua vaca! Achei que você não ia atender... Onde é que você tá? Aliás, não quero saber. O que eu quero saber, na verdade, é onde você estava ontem a noite e por -que motivo esteve aqui mais cedo a sua procura! Eu estava no banho, mas o Patrick abriu a porta e eles trocaram poucas palavras, e aquele idiota que não entende nada do mundo não soube nem dizer quem era. A minha sorte é que eu corri pra porta e o vi entrar no elevador no exato minuto em que eu abri, ou eu nunca saberia que era ele. Aliás, nunca nem saberia que você e o se conhecem, né... porque você nunca me contou! Ai, eu tive uma vontade tão grande de bater no Patrick! Tipo, eu sabia que meu namorado era meio desligado, mas não achei que seria a esse ponto... Até porque a gente basicamente viu todos os jogos do time da universidade desde que a Zoe descobriu aquela crush no , e... ? Você tá aí ainda? –
- Errm... Quem fala? –
- Não é a , de certeza! –
- É, não mesmo. É o ... – Fez-se um momento de silêncio do outro lado, e o Rafe, do meu lado, me cutucava pra saber o que estava acontecendo. – Enfim, a deixou o telefone aqui ontem a noite e eu acabei de achá-lo... Aliás, eu o teria levado para entregar a ela mais cedo se eu soubesse que ele estava aqui... –
- A Zoe vai me matar por te falar da crush dela. – A voz do outro lado falou e eu ergui as sobrancelhas. Quem é Zoe? – E eu vou matar a . Aliás, não vou. A Zoe vai querer fazer isso antes... –
- Eu posso saber quem está falando? –
- Er, oi . Eu sou a Annabelle. Eu divido quarto com a ... –
- Então existe alguma probabilidade de você saber onde ela está? Porque eu meio que queria falar com ela... –
- Eu nem sabia que vocês se conheciam! –
- É, bom... A gente se conheceu ontem a noite, numa festa, e... –
- A rave, né? Ela me disse que... ESPERA! Vocês se conheceram ontem, e o telefone dela está na sua casa... Quer dizer que vocês... errr... assim... Você sabe! – Articulada demais, eu sei. Só que não. Eu ri, rodando nervosamente pelo quarto, sob os olhares atensiosos do Rafe e do Lucas, que havia acabado de entrar.
- Alguma possibilidade de você me dizer onde ela pode estar?
- De acordo com o Patrick, ela esteve em casa mais cedo, tomou um banho e saiu. Eu não estava em casa e ele não é realmente do tipo que faz muitas perguntas, sabe? Mas enfim, alguma possibilidade de você me dizer o que aconteceu ontem à noite?
Eu ri novamente, coçando a nuca. Então o cara não era namorado dela e o vestido sobre a cama era apenas uma simples piada do destino com a minha cara?
- E então? – Ela perguntou de novo, insistente.
- Nós dormimos juntos, satisfeita?
- , SUA VADIA! – Ela gritou do outro lado e começou a rir logo em seguida, o que me fez rir também. A garota era louca, fato. – Bom, tendo em vista que hoje é domingo, não tem muito o que fazer... Vou tentar encontrar ela, ligar para umas amigas e depois ligo de novo. Aliás, não desgruda do telefone.
E ela desligou. Respirei fundo, sentindo a esperança me tomar novamente e sorri comigo mesmo antes de começar a explicar toda a história do telefonema para os meus amigos, que estavam quase tendo um derrame de tanta curiosidade, quando o telefone tocou.
- Annabelle? –
- Eu prefiro Belle. Eu sei onde ela está. –
- Okay, Belle. Onde eu a encontro? –
- Não tão rápido, cowboy! Você sabe onde me encontrar, certo? Apartamento com a e tal... Passa por aqui para me pegar e eu te levo até ela. Não perderia isso por nada! – Eu ri novamente, dizendo que passaria em 5 minutos para pegá-la e desliguei o telefone, enfiando-o no bolso do meu jeans. Calcei um tênis e peguei meu casaco e as chaves do carro, descendo em direção à porta, com Rafe e Lucas em meu encalço. Eles entraram no carro e eu os olhei, uma sobrancelha erguida.
- O que? A gente quer saber como a história vai terminar! – Lucas disse e Rafe apenas concordou com a cabeça, me fazendo revirar os olhos, partindo em direção ao alojamento universitário para pegar a amiga maluca da . Nem precisei descer do carro e a menina da foto veio em minha direção, abrindo a porta do carona e olhando Rafe – que estava ali sentado – de cara feia, antes de abrir a porta de trás. Ela entrou no carro, cumprimentando meus amigos com um olá bem seco e empurrou Lucas para o lado, tomando para si o espaço entre os dois bancos da frente.
- E então? - Eu perguntei, olhando-a por sobre o ombro.
- Nem precisa ir muito longe... Ela tá no café em frente a biblioteca, nerd que é! A Allyson me disse que... esquece. Enfim, ela tá lá, lendo alguma coisa chata, tomando o mesmo café de todos os dias... E se deixar, a noite inteira passa e ela nem vê!
Ignorei o falatório dela, e deixei que Rafe e Lucas se encarregassem de ouví-la enquanto eu guiava em direção ao tal café. Minhas mãos suavam e eu estava verdadeiramente nervoso por causa de uma mulher pela primeira vez na vida. Me perguntava a cada segundo o que eu iria dizer a ela quando a encontrasse. Não tinha muito o que dizer, na verdade. Dizer que eu estava meio obsecado ia soar muito doentio, mas foi a expressão que um dos meus amigos usou que mais se encaixava no que se passava na minha cabeça agora. Poucos minutos se passaram ate que eu estacionasse o carro numa das vagas da biblioteca, e desci do carro ainda mais nervoso do que estive durante todo o caminho, respirando fundo. Uma outra garota se aproximou de nós, cruzando o braço ao da Annabelle, e eu presumi que essa devia ser Allyson. Mesmo tentando encontrar na minha cabeça as palavras que eu precisaria na minha conversa com a , não pude ignorar o sorriso galanteador do Lucas para a loira que havia acabado de se juntar ao nosso grupo. Lucas sendo Lucas. Ri comigo mesmo, ignorando-os à medida que me aproximava da porta de entrada do tal café. E ela realmente estava lá... Eu parei, bloqueando a passagem, e a fitei por um longo momento, perdido em meus próprios pensamentos, até que alguém – Annabelle, é claro – me deu um beliscão (na bunda, devo acrescentar).
- Quer parar de ficar olhando pra ela feito um babaca e realmente fazer alguma coisa? Eu ri da ousadia dela e respirei fundo antes de caminhar na direção da garota. Sentei em frente a ela, separados apenas pela pequena mesa de madeira da cafeteria, e cruzei os braços sobre a mesa. Ela estava absorta em sua leitura de “Eat, Pray, Love”, enquanto mechia o café – já frio, posso imaginar – com uma pequena colher de porcelana. Observei seus movimentos calmos em silêncio, sentindo um arrepio percorrer meu corpo quando ela largou a colher e levou a mão a boca, umidificando a ponta do dedo médio com a língua para passar a página do livro, e em seguida, voltou a segurar a colher e mecher o café novamente. Annabelle, sentada numa mesa paralela a nossa, me fazia sinais, tentando chamar minha atenção. Eu a fitei, e ela sussurrou um ‘o que que você tá esperando, idiota?’ para mim, e eu apenas dei de ombros, me sentindo impotente. Eu não tinha a minima idéia do que dizer à ainda, e estava me dando um tempo para pensar, apenas a observando. Não que isso fosse agradar Annabelle, que acompanhava todo e qualquer movimento como se nós fossemos personagens de uma novela. Novela essa que ela pretendia dirigir, é claro. E talvez tenha sido exatamente por isso que ela acertou com uma bolinha de papel feita com guardanapos, bem na cabeça, fazendo com que a menina parasse de ler imediatamente, sobressaltando-se ao me ver sentado de frente a ela. Annabelle sorriu, satisfeita, e voltou a fingir que não estava prestando a mínima atenção em nós, embora eu soubesse que os ouvidos dela estariam bem ligados na nossa conversa.
- Oi . – Eu disse, e ela continuou me fitando, muda. Tirei o celular dela do bolso, colocando-o sobre a mesa e o empurrei na direção dela, que nem sequer se mecheu. Eu a fitei por mais alguns minutos, antes de resolver optar por uma abordagem mais leve e infomal, embora a ‘leveza’ estivesse apenas na superfície, porque eu estava tremendo por dentro e suando frio. – Sabe, não é muito educado fugir... – eu brinquei e ela mordeu o lábio, me fitando.
- Desculpa. – Ela disse depois de alguns segundos, que mais me pareceram horas. – Eu não sabia como lidar com tudo, então eu... –
- Você fugiu. – Eu completei, ao vê-la lidar com a tão familiar falta de palavras que havia me assolado também.
- Eu fugi. – Ela concordou, baixando o olhar para o café. Estendi a mão sobre a mesa, pensando em segurar a mão dela, mas apenas cruzei os braços, me contendo. - Eu te procurei feito um louco... –
- Eu esqueci meu celular... –
- Não só por isso. Eu já tinha saído pra te procurar antes mesmo de achar seu telefone. –
Ela me olhou novamente, ruborizada, e eu sorri para ela, que devolveu um sorriso tímido.
- Eu só... Eu nunca tinha feito isso, sabe? Nunca dormi com alguém que eu tinha acabado de conhecer, e... Sei lá, acho que me intimidou um pouco. Não queria que você ficasse pensando que eu sou uma qualquer, ou... E a gente tava muito bêbado, não acho que...
- Se você for culpar a bebida pela noite que tivemos ontem, pode parar. Eu acho que nós dois somos adultos o suficiente para lidar com qualquer coisa que tenhamos feito. E eu sou a ultima pessoa no mundo que iria te julgar por dormir com alguém na primeira noite ou qualquer coisa do tipo... –
- Pode ser normal pra você, , mas pra mim... –
- A última palavra que eu pensaria para descrever o que aconteceu entre a gente ontem seria normal, . Aliás, não nego que até poderia ter sido algo casual... Acontece, você sabe. Mas não foi. –
Ela me olhou, erguendo as sobrancelhas e eu respirei fundo. O sol já havia se posto, a lua cheia iluminava todo o exterior lindamente, e a minha busca por ela havia se extendido durante todo o dia. Observei a lua por alguns segundos, olhando-a em seguida, e não pude dizer que era mais bonito. Sorri com o pensamento, e finalmente extendi a mão sobre a mesa, tocando a dela.
- Eu não passaria o dia inteiro correndo atrás do ‘normal’, acredite. Eu passei o dia buscando o extraordinário. O inexplicável. – Ela mordeu o lábio, me fitando, e eu levantei, dando a volta na mesa para me sentar ao lado dela, que abriu espaço para mim. Toquei o rosto dela, passando o polegar sobre a boca da menina, que me fitava. – Eu sei que a gente mal se conhece, e que isso parece loucura... Mas eu te achei aqui, quando tudo o que você fez foi se esconder, e eu tenho plena certeza que eu mereço mais do que isso. Aliás, que nós merecemos mais do que isso... Por hora, a gente pode conversar e se conhecer melhor, mas eu tenho quase toda a certeza de que sei onde isso vai parar... –
Ela deu um sorriso tímido, ainda mordendo o lábio e olhou para o a lua também, evitando me olhar, mas a mão ainda segurando a minha.
- Ah, beija ela logo! – Annabelle gritou, da outra mesa, o que nos fez rir, e deu de ombros, voltando a me olhar, com aquele sorriso contido que havia me encantando desde a primeira vez que eu a vi. E então, eu a beijei como se toda minha vida dependesse desse beijo, que pra mim, poderia durar para sempre.
Fim
Nota da autora: Eita, que foi quase um parto: Sofri, mas nasceu! Kkkkkkkkkkkkk Admito que não fiquei muito feliz com o final, mas... Aliás, Sing é uma ótima música, mas nunca achei que fosse ser tão difícil escrever uma fic pra ela! Anyway, só queria prestar meus devidos agradecimentos as pessoas que me ajudaram (E olha que não foram poucas!) a terminar isso. Primeiro, as quatro outras pessoas que deixaram Sing passar para que ela fosse minha na quinta chamada. Eu entendo vocês agora! Kkkkkk Ao Ed Morzi Sheeran, que é a coisa mais fofa de todo o universo e me deixou babando porque não pude ir no show. A todas as meninas que estão no grupo da minha próxima ficstape, por todos os Spoilers e opiniões dadas durante o tempo que eu sofri passei escrevendo a fic, principalmente à Kals e a Mari. E a você, que “perdeu” seu tempo lendo e comentando, só pra me deixar feliz em saber o que você achou, seja o comentário bom ou ruim, é sempre construtivo. ;)
Nota da Beta: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI
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