03.Stars Dance

Última atualização: 27/04/2020

Capítulo Único

Dizem que os olhos são a porta da alma ou alguma baboseira mortal como essa. Bom, levando em consideração os eventos passados, estou começando a acreditar em todo o tipo de baboseira apenas para passar o tempo.
Cruzei minhas pernas na cela escura. Meus ombros tremiam devido ao frio, meus lábios estavam tão secos que o mero movimento de passar minha língua para umedecê-los era impossível sem um arquejo de dor. Não havia lágrimas para cair, não havia sequer voz para falar, mas eu ainda sabia que daria algum jeito de encontrá-lo.
Estava presa há dias, ou meses, não sabia exatamente. Eu contava o tempo através das vindas do carcereiro, um elfo negro de olhos azuis que carregava uma lamparina de óleo em uma mão e minha cumbuca na outra. Ele acabara de deixar minha última refeição, um copo de água insalubre – provavelmente salgada, como da última vez – e biscoitos secos. Soltei uma risada seca e deitei-me no chão de pedra que havia se tornado meu novo companheiro.
Havia cometido o crime mais absurdo para Corte dos Sonhos, o amor irrealista e traíra. Balancei a cabeça, tentando tirar do meu corpo as memórias dos momentos que procederam meu cárcere.
me encarava, seus olhos rodeados por um aro dourado me fitavam com tanto amor que eu sentia poder explodir em bilhões de partículas de luz. Sua mão esquerda tocou meu ombro nu e seguiu em direção ao meu ventre, onde nosso bebê habitava. Achei válido colocar no passado. Deixei que uma lágrima quente, a única até então, caísse por minha bochecha, o único traço de calor em meu corpo. Eles haviam matado meu bebê. Claro, quem aceitaria o amor de um membro da Corte dos Sonhos com o desertor da Corte Solar?
Antes de ser levada, disse que me buscaria e que fugiríamos para outra Corte, ele serviria como cavaleiro. Eu poderia ser mercenária. Sua ideia me pareceu fofa, mas talvez as pessoas eventualmente reconheceriam a futura rainha de Berne. Eu estava pronta, pelo menos até ser raptada. Havíamos marcado dois dias após nosso último encontro.
– Sob as estrelas. – sussurrou.
Assenti e beijei o canto de sua boca.
– Mas as estrelas estão em todo o céu, meu amor. – Encostei meu nariz ao seu, meus olhos fechados.
A brisa batia em meus cabelos, em meu vestido esvoaçante, mas nada daquilo me distraía dele.
– Então me encontre lá. – Ri e assenti.
– Que aventura. – maneou com a cabeça e beijou meus lábios mais uma vez.
– Nosso filho vai nascer com a mistura mais bela que toda a nação já viu, .
– Filha.
– Oi?
– Vai ser uma menina, . E ela vai ser a maior cavaleira que a nação já viu. A Destruidora de Reinos. O que acha? – riu e assentiu.
– A Destruidora de Reinos.
Nos últimos dias, quando levantei para usar o cantinho da cela e vi o sangue, percebi instantaneamente o que havia acontecido. Ao questionar o guarda, ele apenas sorriu e deu de ombros.
– Sinto muito pela sua perda. – E saiu.
Cheirei novamente o resquício do copo e um arquejo exasperado subiu por meu peito ao perceber que a água tinha cheiro de algo estranho, que eu havia visto somente uma vez em meus trezentos anos de vida: óleo de estrela. Eles haviam me envenenado com uma relíquia do meu próprio povo, o que me fazia pensar que os Solares que me colocaram ali com certeza não estavam sozinhos. Alguém da Corte dos Sonhos estava traindo o povo. Só não sabia quem. Mas nada daquilo importava no momento.
Fechei os olhos mais uma vez e imaginei as estrelas caindo, cada uma delas anunciando a que eu estava viva. Mas ao dormir, caí em um sono sem sonho algum.

Acordei com o som de água corrente. Abri meus olhos e foi necessário um certo tempo para adaptar-me novamente à escuridão. O breu permanecia ali, a água vinha do lado esquerdo. Minhas orelhas ficaram animadas por terem algo pelo qual procurar após tanto tempo. Permiti-me ir mais fundo. O barulho vinha de dentro da cela.
– Quem está aí? – Sussurrei, a boca doendo para falar.
Estranhei o som de minha voz, rouca, cansada, quebradiça. Há quanto tempo estava sem sequer abrir a boca?
– Não tema. – Meu corpo inteiro foi cruzado por um arrepio vertiginoso.
Meus lábios pararam de doer, meus ombros doloridos e gélidos estavam mais ávidos e eu consegui enxergar um pouco melhor. Observei uma grande ave negra deitada ao lado de uma fonte que jorrava direto da parede. Pisquei algumas vezes, totalmente incrédula. Estava alucinando. Mas não, a presença parecia despertar vida em mim de uma maneira que sequer achava ter sentido antes. Senti como se pudesse gritar mas, ao mesmo tempo, queria esconder-me. Eu estava diante de algo antigo, antigo demais para ser compreendido. Coloquei-me de joelhos e abaixei a cabeça.
– A que devo sua divina presença? – Ouvi os barulhos das penas do animal batendo contra seu corpo, o som da água jorrando mais forte.
Senti meus joelhos cobertos por água. Apesar de todo o tempo sem comer, sequer senti vontade de beber daquilo. A ave parecia o suficiente.
– Levante-se, pequena guerreira. – Apoiei-me sobre meus joelhos e levantei.
A ave parecia ainda maior quando me colocava em pé. O bico curvado, os olhos claros como o dia, as penas negras ainda mais negras que a escuridão ao meu redor mas, ainda assim, sentia como se pudesse enxergar tudo.
– Está chegando o momento de sua libertação. A criança em seu ventre vive.
– Como é possível? Eu vi sair de mim. – Calei-me ao ouvir o gralhar alto e potente.
O temor atingiu-me e apenas calei-me.
– O que cabe a você saber, pequena guerreira? O bebê vive em seu ventre. Deverá chamá-la Aoife. Ela será chamada Destruidora de Reinos, a ruína de tudo o que conhecemos hoje. Sofrerá por toda a vida, mas eu a amarei como amaria o ventre do meu ventre. – Engoli em seco e assenti. – Levante o rosto. – Mal percebi estar com o rosto abaixado, mas levantei-o.
Uma brisa quente foi soprada em meu corpo. Lágrimas de alegria surgiram em meu rosto ao sentir algo em meu interior revirar e, ao encarar a ave novamente, sabia que a Destruidora estava em mim.
– Ouvi seu choro sem lágrimas, pequena guerreira. Saiba que sempre ouço. A criança nascerá das ondas, será criada como mortal e rasgará o corpo dessa terra ingrata.
– Seja como dizes. – Praticamente murmurei, meu corpo paralisado pela majestade da ave.
Ao levantar a cabeça, a fonte de água continuava a jorrar, mas o animal havia desaparecido, deixando para trás um rastro que não sabia descrever, mas poderia dizer com as palavras mais mortais que conhecia: esperança.
Sabia que sairia dali, apenas não sabia como. Bebi a água, mas não precisei de muito. De alguma forma, a ave havia feito com que meu corpo inteiro fosse renovado. Quando olhei novamente para a fonte, observei um ponto brilhante na escuridão. Abri um sorriso felino ao tocar o objeto, a espada em minhas mãos. Tinha detalhes prata e vermelho que reviravam dentro da cápsula em que estavam aprisionados. Parecia lava. Quando observei mais perto, percebi que eram estrelas. Estrelas encapsuladas. Segurei a espada em mãos e sorri ao ver a sombra do guarda voltando.
Fui para o mais fundo possível na cela, onde sua luz não poderia me alcançar, e ao senti-lo perto da grade, corri de meu esconderijo, a espada atravessando o pescoço do guarda. Sangue respingou em meu rosto e ombros enquanto o corpo caía em direção ao chão, a chama do fogo acesa mas de lado. A luz acabaria rápido. Usei a parte limpa da espada para refletir a luz no corpo do guarda. Com as mãos trêmulas, alcancei seu bolso e peguei as chaves. Gritei de dor ao encostar no cadeado, o material de ferro queimou em minhas mãos, mas ao abrir a cela, meu corpo finalmente pareceu ceder à liberdade.
Virei-me para trás e a fonte jorrava ainda mais forte pela fresta, que havia se tornado em uma abertura gigante. O som me lembrava as ondas. Peguei a lamparina do guarda, sua espada e seu elmo vermelho. Limpei a espada porcamente em suas vestes quando a água atingiu meus pés novamente.
Corri pela caverna, meus pés voltando a acostumar-se com o que era correr. Observei uma luz ao fim, talvez a um quilômetro de onde eu estava. Olhei para trás e acelerei o passo. A água vinha como uma onda em minha direção. Acima do local onde eu estava dois segundos atrás, a água explodiu por alguns buracos. Quando atingi o ar livre da noite, quis chorar de alívio. Entretanto, a onda atrás de mim gritava em selvageria. Olhei para cima da caverna onde estava e escalei com as unhas sujas enfiadas em cada buraco disponível. Parte do teto da caverna havia cedido e eu conseguia ver a água despejar para o abismo.
Suspirei ao perceber que havia escapado por pouco. Haviam me prendido na beira de um precipício. Se eu tivesse corrido um pouco mais, estaria estatelada contra as rochas. Coloquei-me em pé nas pedras restantes do teto e pus-me a caminhar na direção contrária ao precipício. Observei ao redor. Um gramado plano, a relva estava grande e eu podia ver apenas grama e montanhas ao longe, no ponto em que o céu parecia se unir à terra.
Respirei o máximo de ar possível, meus olhos se adaptando novamente à normalidade. Ao sentir a rocha abaixo de meus pés tremer, corri em direção ao espaço em que a grama e as rochas se divergiam.
Deitei-me na terra, o cheiro da natureza, do ar, das estrelas, enchendo-me por dentro. Comecei a rir como nunca ri antes. Rolei na grama, abracei uma pequena cobra que passava por ali. O réptil mostrou as presas para mim, mas não liguei. Estava aliviada demais. Em pânico demais.
Olhei para o céu e meu sorriso sumiu. As estrelas nunca haviam estado tão fortes. O brilho azulado e magnífico, como de uma estrela nova, tomava algumas constelações. Quanto tempo eu havia passado ali dentro? Procurei alguma constelação que eu conhecesse e suspirei aliviada ao achar a que estava acostumada a analisar com quando éramos apenas crianças. Meu peito se encheu de tristeza. Olhei ao redor mais uma vez, mas não sabia sequer onde estava. Pus-me a caminhar para o norte, a noite fria assolando minha pele descoberta, o sangue seco em meu corpo dando sinais de que precisava ser lavado urgentemente. Atravessei algumas colinas, afastando-me das montanhas e do precipício de meu cárcere. Estava exausta, mas precisava continuar até que achasse algum lugar para dormir e que fosse longe de uma caverna, de preferência.
Após alguns minutos em silêncio, observei uma floresta se formar à minha direita. Estreitei os olhos e empertiguei minhas orelhas. Água! Deveria haver alguma nascente por ali, já que estava no topo de muitas colinas e despenhadeiros. Caminhei pela relva, meus pés mal faziam barulho contra o chão. Ao atingir o local próximo à água, escondida entre as árvores, segurei a respiração. Ali, bebendo água perto da nascente do rio, estava um feérico ajoelhado, lavando o pescoço. Olhei para o lado direito, atrás do feérico, dentro da floresta, e enxerguei a pelugem de um tigre escuro como a noite. Nunca havia visto um daqueles. Os olhos amarelos fitavam obviamente o feérico tomando água. Segurei a espada em minha mão. Poderia defender o feérico e matar o tigre, mas ser morta em seguida pelo feérico. Mas se havia alguém ali era porque havia civilização por perto, ou pelo menos não tão distante.
Saquei a lâmina com o silêncio mais mortal que poderia ter, o feérico despreocupado com a mão sob as axilas, se refrescando. Revirei os olhos. Só sendo burro para fazer aquilo. Ele nem parecia estar ouvindo. Observei o tigre colocar-se sobre as patas dianteiras, seus olhos fixos na futura presa. Ao ouvir seu rosnado, corri de minha localização e atravessei a nascente em um salto, minha lâmina na altura de minha cabeça. Minha espada atravessou o tronco do animal em meio ao seu salto, o baque do corpo contra o solo lamacento da beira da nascente. Removi a lâmina rapidamente e mal tive tempo de respirar antes que uma faca estivesse posta em meu pescoço. Não vi o rosto do feérico, mas sua mão estava firme.
– Você pegou o meu jantar, querida. – Sua voz sussurrou em meu ouvido.
Segurei a lâmina com mais força em minha mão.
– Fiz isso para salvar sua vida, ingrato. – Houve silêncio por alguns instantes, o aperto afrouxou em meu corpo, então desvencilhei-me e levantei a espada, pronta para atravessar o corpo do feérico, mas não consegui fazer nada além de largá-la no chão ao perceber quem me encarava.
? – A voz quebradiça de me chamou.
Sentia minhas mãos tremendo. Encarei seus olhos violeta e mal pude me mexer. Poderia ser a névoa.
– Não se aproxime. – Rosnei e peguei minha espada mais uma vez.
Minha voz cansada e trêmula quebrava com todo o meu porte feérico. Seria apedrejada se estivesse em casa. Os olhos de se arregalaram e ele largou a faca, jogando-a no chão atrás de si, e levantou as mãos.
– Sou eu, estrela. – Ele afirmou, com os olhos fixos nos meus. – Por onde você andou? – Balancei minha cabeça, a voz dele penetrando meu ser, meu corpo reagindo imediatamente aos estímulos.
– Por que estaria aqui? Quem é você e que feitiço usou para tomar parte do corpo de ? Que demônio você é? – Ameacei com a espada mais uma vez, meu pé apoiado na cabeça do tigre morto aos meus pés.
– Demônio? – Seus olhos confusos me fitaram.
Os olhos violeta mais bonitos que eu já via visto. Os ombros altos estavam cobertos por um manto preto. O cabelo preto estava preso de uma trança embutida, havia um pequeno osso atravessado em sua orelha esquerda, algo que a Corte dos Ossos costumava usar, e a pele negra como a noite estava manchada de sangue seco, o tronco coberto por um gibão rubro.
– Você está usando o símbolo da Corte dos Ossos! era um desertor da Corte Solar. – Rosnei.
O falso apenas respirou fundo.
– Eu fui acolhido na Corte dos Ossos depois que achei que você tinha sumido, ! Por favor, deixe-me provar que eu não sou um demônio. – Ponderei por alguns milésimos, os pensamentos se chocando uns com os outros.
Se aquele não fosse , eu o mataria tão rápido quanto poderia. Se fosse ... Meu coração mal batia ao pensar nessa possibilidade.
– Você tem um minuto. – Cuspi.
Tentei disfarçar ao máximo o nervosismo, e funcionou, pois um lampejo de medo atravessou os olhos do impostor.
– Você e eu temos um bebê, lembra? Não sei se está enfeitiçada ou algo do tipo, mas sou eu! Nós dois prometemos nos encontrar sob as estrelas dois dias depois da Festa da Meia-Lua. Você me contou que estava grávida lá! Ninguém mais nos viu, não tem como outra pessoa saber disso além de mim. Você é Oko, futura rainha do Reino Berce. Nossa filha se chama Violet e nós já a amamos muito. – Meus lábios tremiam, as lágrimas escorriam livremente pelo meu rosto.
Larguei a espada ao chão e joguei-me nos braços de , o verdadeiro . Seu abraço era igual aos meus devaneios, iguais aos meus sonhos primários, a sensação de aconchego que eu clamava por receber todas as noites enquanto estava encarcerada. Afundei meu rosto contra seu pescoço, as lágrimas quentes contra sua roupa. Por minutos e minutos, ficamos abraçados no meio da floresta, a nascente correndo ao nosso lado esquerdo, o animal jazia morto à nossa direita. Vida e morte, mas estávamos entre ambos.
Quando os lábios de encontraram os meus, suspeitei que as estrelas acima de nós estivessem dançado. O gosto das lágrimas misturado com sangue e saudade tomavam nosso beijo. Agarrei-me contra seu pescoço, minhas mãos desesperadas se segurando em sua nuca.
– Eu senti tanto a sua falta, . – Ele confessou.
Segurei seu rosto em minhas mãos pálidas, meu corpo ainda compreendendo o que acontecia.
– Sei que nosso povo não costuma se declarar, mas eu sinto por você o amor mais visceral que eu poderia conhecer. – Assenti com um murmúrio, ainda incapaz de falar tudo o que queria.
Havia tanto, mas meus lábios não processavam o suficiente.
– Você é tudo o que eu preciso, . Você é meu marido, meu parceiro, você é o que a eternidade me reservou. – puxou-me para outro abraço, suas mãos me segurando como se eu pudesse evaporar ou fugir, mas eu estava ali e ficaria ali por um bom tempo. – A Corte Solar mandou me prender. – Murmurei após um tempo.
– Vamos falar disso depois, eu só preciso te sentir aqui comigo. – Assenti e beijei-o novamente.
Lembrei-me do bebê em minha barriga, mas não sabia como contar a ele tudo o que havia acontecido, então dei-me por satisfeita quando uma luz branca refletiu na água parada no rio. Afastei-me do abraço e olhei para cima.
– Pela Mãe. – Sussurrei em espanto completo.
Abracei de lado enquanto olhávamos para cima. As estrelas caíam do céu, o brilho tremendo cruzando o horizonte e se perdendo no sol nascente. Senti o poder revirar dentro de mim.
– Há constelações novas no céu? – Questionei ao observar alguns padrões que nunca havia visto antes. – Quanto tempo fiquei aprisionada? – Virei-me para ele com os olhos arregalados.
me encarou com um sorriso triste.
? Por que está me encarando assim?
– Eu contei mais de um século para ver seu sorriso, .
– Eu estive presa por mais de um século? – Ele assentiu e colocou sua mão em minha bochecha esquerda, mas apenas senti frio onde deveria haver calor.
Encarei seus olhos mais uma vez. O tempo havia passado tão rápido enquanto eu estava presa?
– Eu não tenho muito tempo, meu amor. – comentou com uma expressão que eu conhecia bem.
Pesar. Dor.
– O quê? Para onde tem que ir? O que está acontecendo?
– Eu sabia que te encontraria sob as estrelas. – Ele sorriu. – Apenas não sabia quando. – Abaixei meu olhar para sua mão, a compreensão atingindo meu corpo como um baque.
– Você casou?
– Não. Nunca faria isso. – Suspirei aliviada.
– E o que é isso em sua mão? Parece uma tatuagem de casamento. Se não for isso, então... – Calei-me ao perceber como as peças se juntavam. – Você fez um acordo. – Murmurei, seus olhos mal encaravam os meus. – Qual é esse acordo, ? – Seu silêncio me desestabilizou. – Diga-me, qual foi o acordo?! – Gritei dessa vez, exasperada, meu peito doendo e medo reverberando pelo meu corpo.
– Disseram que você havia morrido. – Ele murmurou, as lágrimas surgindo no canto de seus olhos. – Eu não tinha escolha a não ser procurar. Revirei todos os reinos, passei os últimos cem anos vagando. Então, em uma noite dessas, com a queda das estrelas, eu fiz uma promessa a seus ancestrais.
A mão de tremia ao segurar a minha, as palavras saindo espaçadas devido às lagrimas.
– Quando acreditei que estava morta, pedi a eles que me dessem uma chance apenas de te ver, então minha vida seria deles para iluminar o céu. – Balancei a cabeça diversas vezes, o choque da realidade atingindo meu corpo. – Todo nascer do sol, enquanto as estrelas são cobertas e o sol está no alto, posso caminhar pela terra para te procurar, mas ao crepúsculo, subo aos céus novamente. Durante o dia, sirvo na Corte dos Ossos como mensageiro, mas é apenas pretexto para te procurar em todos os lugares, e durante à noite, te procuro nos céus. Pedi aos ancestrais que me dessem a chance, e eles me deram. – segurou meus ombros e virou-me para o horizonte das colinas à leste de onde eu estava.
O céu era pintado de rosa e laranja conforme o sol subia mas, acima dele, na linha do horizonte, observei uma constelação totalmente nova tomar forma diante dos meus olhos. As formas foram sumindo até que uma única estrela permaneceu intacta, mesmo com o brilho do sol.
– Aquela estrela é visível apenas aos que buscam algo que perderam, e claro, a nós dois. – Balancei a cabeça em descrença.
– Eles tiveram pena de nós?
– Algo do tipo.
– Temos uma estrela para nós, representando nossa história? – Estava incrédula, cada informação parecia ferver meu cérebro.
– Ela é um guia. E todos os dias enquanto eu viver, serei seu. Todas noites, ainda serei seu. Mesmo que distante. – Meus lábios estavam tremendo pelo frio ou pela dor, eu não sabia dizer, mas apenas agarrei seu corpo mais uma vez, meu amor transbordando como nunca imaginava ser possível.
– Se as estrelas movem com o nosso amor, o que é um século distante? – Murmurei enquanto beijava seus lábios.
– Eu faria todas as estrelas do mundo dançarem apenas para te ter de volta em meus braços, poderia me tornar pó de estrela para iluminar seu caminho, poderia passar a vida nos céus te encarando, cuidando de você, se isso significasse te ter aqui comigo por um segundo sequer. Nunca mais vou te perder, porque a estrela sempre me levará de volta a você.


Fim.



Nota da autora: "Olá, chicas! Obrigada por terem lido, apesar de eu imaginar que deva ter ficado confuso. Essa oneshot é uma preparação pra uma fic que eu vou lançar em breve! Não vou dizer nada por enquanto, mas fiquem espertas! A Destruidora de Reinos já vem 😉
Podem me cobrar no twitter, eu vou amar! Hahahaha "



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05.Fancy
Reggaeton Lento
Zoo

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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