Finalizada em: 25/05/2015

Capítulo Único

Música 1
Música 2

O despertador tocou e eu demorei alguns segundos para finalmente abrir os olhos. Cocei minha barba rala, adorava quando eu a deixava crescer, mesmo seus pais me achando um desleixado, e olhei as horas no celular, eram nove horas da manhã e eu ainda não acreditava que tinha concordado com isso. Bem, na hora foi uma ótima ideia – e realmente era. Só que eu odiava acordar cedo e me arrependia um pouco.
Coloquei os pés para fora da cama e pisei em algo macio, bem diferente do chão de madeira que eu estava acostumado. Olhei para baixo, peguei o objeto nas mãos e automaticamente sorri, percebendo que ter acordado cedo valeu a pena. A faixa de cabelo de que em algum momento da sua visita surpresa havia caído no chão e nenhum de nós percebeu. Era a única evidência de que ela tinha aparecido por lá e, por isso, eu caminhei até a cômoda e a coloquei em uma das gavetas.
Caminhei até o banheiro e me olhei no espelho notando que por mais que eu tentasse disfarçar com cerveja e cigarros - e acredite, eu fiz muito isso – nada iria mudar o fato de que estava indo para a faculdade naquela manhã e que nosso namoro estava acabado porque assim como ela iria embora, eu sairia da cidade para ir até New York tentar a sorte com minha música.
Fiz a barba porque sabia que seus pais entrariam em pânico se eu aparecesse com essa expressão de perdedor que eu tinha, e a barba deixava tudo ainda pior. Coloquei uma camiseta de manga cumprida para esconder algumas tatuagens, jeans e tênis.
Nós morávamos em Kingston a quase 96 quilômetros de Chicago e perto de Harvard; e tentou entrar nessas duas faculdades, mas não foi aceita. Contudo, ela conseguiu passar em uma universidade que fica em... Denver, Colorado. O que era ainda mais longe e tornava tudo mais impossível. Eu sempre soube que isso iria acontecer, ela sempre teve o futuro perfeito, com pais perfeitos, com a universidade perfeita e a única coisa que eu sabia do meu futuro era que eu tinha que tocar em bares suficientes para pagar o aluguel. Eu era dois anos mais velho que ela e nós nos conhecemos de um jeito inusitado e ao caminhar para a pequena cozinha do meu apartamento de um quarto, eu me lembrei e sorri.

Um ano antes

Era mais um dia em que eu precisava tocar o dia inteiro nas ruas e depois em algum bar para conseguir dinheiro para o supermercado. Eu tinha acabado de sair da casa dos meus pais, havia decidido morar sozinho já que eu não poderia ir para a faculdade e não queria ser um problema para os dois. Eles não podiam pagar e o máximo que eles conseguiram me dar foi um carro usado do meu tio Jack, que praticamente deu de presente para os dois e eu sabia que ficar morando com eles significaria sofrimento e a constatação de que eles não podiam me oferecer o sonho americano.
Então, eu fui morar em um apartamento de um quarto, em um prédio ao lado de uma lavanderia e que sempre acabava ficando barulhento demais durante o dia.
Era o horário de almoço e eu decidi ficar na avenida principal perto dos restaurantes já que muitas pessoas passavam por lá e quando eu dava sorte, conseguia notas de cinco pratas.

- The world was on fire and no one could save me but you. It's strange what desire make foolish people do. I never dreamed that I'd meet somebody like you. I never dreamed that I'd lose somebody like you...*.

Eu fazia um cover de Chris Isaak enquanto tocava no violão e tentava impressionar os transeuntes quando um grupo de garotas passou dando risada e nem prestaram atenção em mim. Exceto uma. Ela ficou parada ao redor e ficou ali até a música acabar, e ainda bateu palmas. Ela era bonita, usava uma calça jeans, uma camisa polo branca e carregava uma bolsa de lado, provavelmente vinha da escola.

- Wicked Game, certo? – ela perguntou se aproximando, dando um sorriso.
- Isso mesmo, conhece? – eu perguntei sorrindo de volta e me aproximei dela.
- Chris Isaak é um clássico e ele tem uma das vozes mais lindas que já existiu – ela respondeu – Conhece alguma do Johhny Cash?
- You are my Sunshine, serve? – eu disse e ela sorriu empolgada.
- É a minha favorita.

- The other night, dear, as I lay sleeping I dreamed I held you in my arms. When I awoke, dear, I was mistaken so I bowed my head and I cried...**

E ela ficou até a segunda música acabar, cantarolando junto comigo e chamando outras pessoas para ouvir. Quando eu acabei, ela bateu palmas e as pessoas jogaram algumas moedas e notas de um dólar para mim. Eu me abaixei para guarda-las em meu bolso e quando levantei a garota ainda estava lá.

- Você canta e toca muito bem – ela elogiou.
- Obrigada – eu respondi e estendi minha mão e ela apertou – Sou .
- – ela disse sorrindo – Eu tenho que ir, foi um prazer conhece-lo, .
- Foi um prazer pra mim também.

Ela se abaixou e jogou uma nota de dez dólares enrolada no case do meu violão e saiu andando apressada pela rua. Eu me abaixei para pegar a nota e quando a desenrolei, um pedaço de papel estava dentro.

“Me liga:
555 – 151601
xx

Eu sorri e guardei o papel no bolso. Então, ela tinha gostado de mim também e não faria mal nenhum se eu fizesse uma ligação só para marcar um café ou coisa parecida. Eu olhei para frente tentando vê-la, mas ela já tinha ido embora. E eu sabia que deveria ligar. E eu liguei.

Agora analisando a primeira vez em que nos vimos, eu poderia ter captado todos os sinais de que mudaria minha história, meus gostos e escolhas. Depois daquela dia, eu liguei pra ela e ficamos semanas trocando mensagens e telefonemas. Ela me fazia rir e eu vivia cantando para ela, até que depois de um bom tempo eu a chamei para sair, e aceitou. Enquanto esquentava uma xícara de café do dia anterior no micro-ondas e olhava pela janela, eu me recordei do nosso primeiro encontro oficial. E foi um desastre.

Um ano antes

Era um dia frio em Kingston e por isso marcamos em um café da cidade num dia que eu sabia que não conseguiria uma única moeda tocando nas ruas. Eu cheguei primeiro porque estava nervoso e curioso com o que iríamos conversar e pedi um café preto para mim e um cappuccino para , afinal, qualquer pessoa gosta de cappuccino.

E para começar as desgraças da noite, chegou quase uma hora atrasada para o nosso encontro, justo quando eu estava prestes a ir embora. Eu tive que pedir outro cappuccino para ela, o que me custou o dinheiro da passagem de volta, mas eu jamais diria isso para ninguém. Antes de eu vê-la, eu ouvi um barulho forte do lado de fora e logo notei que quando foi estacionar, ela acabou derrubando uma lixeira. Nota mental: Ela dirigia muito mal.
desceu do carro rapidamente e entrou no estabelecimento batendo a porta com força e caminhando até mim com um sorriso gigante nos lábios. Nota mental 2: Ela tinha um sorriso lindo.
Beijou-me no rosto quando chegou e em seguida sentou-se em minha frente soltando um riso sem razão.
- Por que está rindo? – eu perguntei me olhando discretamente para ver se tinha algo de errado.
- Eu finalmente consegui chegar aqui, me atrasei quase uma hora, derrubei uma lixeira e você não foi embora ou fez algum comentário sobre o incidente do lado de fora – ela respondeu e eu tive que rir – Isso foi muito legal, sabia?
- Bem, não há nada para eu comentar, eu só quero saber o motivo do atraso – eu disse – Assassinou mais algumas lixeiras no caminho?
- Sabe o que eu falei antes? Eu retiro – nós rimos juntos com sua resposta – Bem, eu estava prestes a sair quando meu cachorro resolveu que iria roubar minhas meias, eu tive que trocá-las por salame. Feito isso, eu já estava atrasada quando acabei me distraindo e me perdi. E bem, o resto você já sabe. Eu atropelei a lixeira porque estava dirigindo muito rápido e não consegui parar antes de assassinar a pobre coitada lá fora.

Começamos a conversar sobre amenidades, ela me disse um pouco mais sobre a escola, sua família, os amigos e mostrou fotos do seu cachorro chamado Olaf, por causa de algum filme infantil que eu desconhecia, quando um garçom trouxe o cappuccino que eu havia pedido minutos antes.

- Você pediu pra mim? – ela disse com os olhos brilhando – Obrigada!
- Bem, está frio e eu pensei que você iria querer alguma coisa quente – eu respondi um pouco envergonhado.
- Obrigada mais uma vez, – ela sorriu antes de dar um gole na xícara que estava com tanta espuma que era impossível ver o conteúdo – O que é isso?
- Bem é um cappuccino de chocolate, todas as pessoas amam capucci... – eu não pude terminar porque afastou a xícara com pressa e me olhou assustada.
- Tem leite nesse negócio? – ela perguntou com uma voz séria.
- Tem, por quê?
- Eu sou alérgica a lactose – ela respondeu assustada – Não posso comer ou beber nada que tenha leite ou derivados.
- Ai meu Deus – eu disse assustado e com uma dor no coração por saber que eu havia perdido o dinheiro da passagem à toa. – Me desculpe, . Eu realmente não sabia.
- Não é uma coisa que tem como adivinhar – ela respondeu e depois riu – Eu só vou sentir os efeitos depois, estamos bem por agora.
- O que vai acontecer, você vai ter que ir para o hospital? – eu perguntei preocupado e ela riu. Como ela podia rir com uma coisa séria dessa?
- Bem, não vou precisar ir para o hospital, – ela riu novamente – Vou ter que ficar em outro lugar por um booom tempo.
- Ah tá – eu respondi captando sua mensagem e nós começamos a rir feito idiotas – Quer pedir outra coisa?
- Vamos andar pela cidade? – ela disse de repente – Podemos andar um pouco e depois eu te deixo em casa.
- Não precisa... – ela me cortou de novo.
- Você pediu dois cappuccinos para mim e me esperou chegar com paciência, é o mínimo que eu podia fazer. – ela sorriu e se levantou da mesa me puxando pela mão.

Depois que eu paguei a conta, agora sem achar tão ruim porque teria uma carona, nós começamos a andar pelo bairro. Um silêncio pairou sobre nós, mas não foi desconfortável, na verdade, eu estava silêncio, já que segundos depois começou a cantarolar enquanto olhava as vitrines das lojas que se preparavam para fechar. Ela era linda, não tinha uma beleza perfeita, já que seus dentes da frente eram um pouco para frente e ela tinha algumas olheiras, mas eu também tinha o cabelo ruivo – e não o ruivo bonito de famosos, aquele que mais parece ferrugem mesmo – usava óculos porque era míope e assim como , também tinha olheiras. Mas voltando ao assunto, ela era linda. Tinha um espírito lindo, uma alma linda e isso já era o bastante.

- O que está pensando? – ela perguntou de supetão enquanto andávamos.
- Por que quer saber? – eu perguntei olhando para o chão.
- Porque você ficou me encarando com um sorriso e eu fiquei curiosa – ela respondeu e sorriu – Estava pensando em mim, é?
- Na verdade, eu estava – eu respondi sinceramente – Estava pensando em como você é linda por dentro e por fora.
- Wow, não esperava um elogio desses – ela disse ficando vermelha – E por que você acha isso?
- Porque você parou para me ouvir quando quase ninguém o fazia e eu sei que você pediu desculpas para a lixeira, deu pra ler seus lábios – eu expliquei e suas bochechas ficaram ainda mais vermelhas – E mesmo eu te envenenando com lactose, você ainda vai me levar para a casa depois.
- Ninguém me notou desse jeito, – ela disse olhando para o chão, nós estávamos parados perto de uma esquina – Todos me olham como a garota mais engraçada da sala, a garota que não para de falar e vive no mundo dos sonhos – ela deu uma risada sem graça – Mas você me viu de um jeito diferente. Você conhece tudo isso e ainda está aqui comigo, a maioria das pessoas não fica muito tempo.
- E por quê?
- Eu não sei – ela disse desviando o olhar – Elas se cansam de tantos sonhos e tantas risadas.
- Sabe essas pessoas? – eu disse me aproximando e a puxando mais perto pelo casaco – Elas são umas idiotas porque todas as pessoas precisam de sonhos e bom humor. Não liga para o que elas dizem, sério.
- Posso te pedir uma coisa? – ela disse colocando as mãos em meu pescoço e sussurrando perto o bastante para eu sentir seu hálito que misturava cappuccino e pasta de dente.
- O que? – eu sussurrei também.
- Você pode me beijar? – ela pediu envergonhada e eu ri antes de unir nossos lábios naquele primeiro beijo de muitos que vieram naquele dia e no dia depois daquele e no outro e no outro...

Eu ri lembrando-me de como fiquei envergonhado por ver onde eu morava, mas ela sorriu e tratou como se não fosse nada demais, e sempre que podia passava tardes e tardes naquele lugar.

Oito meses antes

- Tudo bem, repita o seu repertório – disse enquanto estava deitada com a cabeça em meu colo.
- Eu vou começar com With Arms Wide Open, do Creed – eu respondi olhando para meu celular – Depois vou para Imagine, do John Lennon, em seguida para Confortable do John Mayer, John Legend...
- All of Me, certo? – ela perguntou.
- É a que você mais gosta e eu vou tocar bem no dia dos namorados, vai fazer sucesso – eu respondi – Bem, depois de John Legend vem Johnny Cash, You Are My Sunshine e eu finalizo com Always do Bon Jovi.
- Eu acho que você poderia trocar Imagine – ela sugeriu – Por alguma autoral sua, já que Imagine não tem nada a ver com amor.
- Uma minha? – eu disse – Nah.
- Por que não? – ela perguntou me olhando séria – Suas músicas são lindas, eu pelo menos amo cada uma delas...
- Qual música, eu poderia tocar, então? – eu perguntei.
- Give Me Love? – ela sugeriu – Eu sei que você escreveu para aquela sua ex, mas eu acho maravilhosa e eu tenho certeza que será essa que te transformará num astro.
- Você sonha demais, – eu disse sem pensar e no mesmo momento eu percebi que tinha falado merda – Desculpa, eu sei que você odeia que eu fale isso...
- Como você quer ser famoso, sair desse lugar se você não faz nada para mudar isso, ? – ela se sentou e me olhou com seus olhos sérios – Eu tenho muitos sonhos, mas eu luto por eles também. O que você está fazendo pelos seus?

Depois disso um silêncio instalou-se no apartamento. podia ser doce na maioria do tempo, mas quando queria conseguia usar suas palavras como facas certeiras. E eu me sentia um bosta, uma pessoa estagnada, sem qualquer chance de crescer na vida e ser alguém diferente. Querendo ou não, eu havia aceitado de que aquela era minha vida e que eu jamais seria alguém melhor. E ouvir minha namorada dizendo tudo isso, ainda que indiretamente, doeu mais que qualquer coisa.

- Me desculpe – ouvi dizer – Eu não deveria ter dito essas coisas para você, não tenho esse direito...
- Você está certa – eu disse – Eu não posso me conformar com essa vida, eu preciso de mais.
- , você merece muito mais do que Kingston têm a oferecer – ela disse – Nós dois merecemos muito mais.
- Eu nunca te perguntei o que você vai fazer quando acabar a escola – eu disse de supetão – Já que estamos falando de futuro e tudo o mais, o que pretende fazer?
- Bem, eu quero passar na Universidade de Chicago ou Harvard – respondeu com os olhos brilhando – E ser a melhor psicóloga da região.
- Por que essas duas?
- Não é tão longe de casa e é o sonho dos meus pais desde sempre – ela respondeu.
- E qual é o seu sonho? – eu perguntei – Para onde você quer ir?
- Harvard ou Chicago, eu já respondi – ela disse como se fosse óbvio.
- Não, esses são os sonhos dos seus pais – eu expliquei e percebi seu sorriso vacilar – Pra onde você quer realmente ir?
- Europa – ela respondeu – Não queria fazer faculdade agora, queria ficar seis meses ou um ano na Inglaterra e só depois vir para cá.
- E por que não faz isso?
- Porque meus pais ficariam arrasados comigo – ela respondeu – Eu tenho cinco anos, até seis para a faculdade. São os planos desde que eu era pequena.
- E depois? – eu a instiguei a falar.
- O que você acha? Casar e ter uma casa perto da deles – ela respondeu e pareceu murchar totalmente – Bem, esses são os planos.
- Seus pais não vão te amar menos se fizer algo que você queira – eu disse somente para trazer o sorriso de volta àquele rosto.
- Minha mãe não pôde ir para a faculdade – ela disse de repente olhando para o nada – E nem meu pai. Eles cresceram na vida por causa da loja de material de construção que começaram aqui em Kingston. As coisas melhoraram e hoje eles têm várias pela região. Meu irmão Trevor, estava destinado a cuidar de tudo isso, mas acabou sendo convocado para o Iraque e não terminou o segundo período.
- Você perdeu um irmão no Iraque? – eu perguntei perplexo, sem saber o que dizer, além disso. Não parecia ser verdade, era feliz demais para quem tinha perdido alguém.
- Eu perdi, eu tinha doze anos – ela disse olhando para um ponto qualquer da minha sala – Trevor ir para o Iraque foi um orgulho para toda a família, mas acabou saindo errado. O tempo passa e nós aprendemos a lidar com a dor. Cada um lida de um jeito, o meu jeito de lidar é sonhar. E deveria ser o seu também.
- New York – eu respondi sem encará-la – Esse é o meu sonho.
- Então, faça seus planos para New York a partir de agora porque eu quero que você realize seus sonhos – sem eu perceber, pulou para o meu colo e me deu um sorriso lindo – Eu torço muito por você. E você vai tocar Give Me Love, não vai?
- Vou – eu respondi antes de juntar nossos lábios em um beijo cheio de carinho e sentimentos.

O restaurante onde fui contratado estava relativamente cheio e decorado com balões em forma de coração que havia gentilmente ajudado aos garçons a colocar enquanto eu passava o som para a apresentação. Ela estava sentada no bar com uma garrafa de cerveja nos dedos e sorria para mim cada vez que eu olhava para ela, e de vez em quando levantava uma plaquinha escrita: MEU NAMORADO É O CANTOR! só para espantar algumas garotas que me olhavam diferente. Eu só podia rir e mandar beijos para porque se eu pensasse em sorrir para alguma delas, eu era um homem morto.

- Boa noite para todos – eu respondi quando percebi que cada vez mais casais entravam pela porta e o gerente já estava com os olhos fixos em mim esperando alguma coisa – Meu nome é e eu vim aqui para cantar algumas músicas para fazer o dia dos namorados de vocês muito especial – eu sorri percebendo que a maioria não prestava atenção em mim.

Comecei a tocar Creed e percebi algumas pessoas olhando para mim, mas nada muito sério, o foco delas eram seus parceiros para aquela noite. Olhei para entre uma música outra e ela não tirava o sorriso do rosto e sempre conversava com alguém ao seu lado para dizer: Olha, ele é meu namorado! Não importava se minha condição financeira era pior que a dela ou se seu futuro já estava traçado e destinado a ser brilhante, ela tinha orgulho de mim. E demonstrava isso todos os dias quando não tinha vergonha de me esperar junto com suas amigas quando eu aparecia com minha picape velha ou em momentos como esse quando ninguém prestava atenção em mim e ela permanecia sorrindo e enchendo a boca para falar que tínhamos alguma coisa. E foi naquele momento que eu percebi que eu precisava ser alguém melhor para , precisava ter sonhos, precisava ser alguém. Por nós dois.

- Bem, essa música é autoral – eu disse e percebi que as pessoas olharam para mim com um interesse, já estava quase no fim da primeira sessão do dia e eu já tinha atendido aos pedidos de alguns, tocado as músicas planejadas e bebido muita água para me hidratar – O nome dela é Give Me Love. – Olhei para que estava com um sorriso maior ainda e cutucando a garota ao seu lado apontando para mim. Comecei a tocar os primeiros acordes e comecei a cantar – Give me love like her ‘cause lately I've been waking up alone. Pain splattered teardrops on my shirt, told you I'd let them go***...

- Assim eu não consigo abrir a porta, amor – eu disse contra os lábios de que me beijavam com voracidade enquanto ela segurava meu pescoço com as mãos e não me deixava pensar em outra coisa se não usar as minhas mãos para outras coisas, mas antes eu precisava abrir a maldita porta – Eu não consigo encaixar a chave – nós rimos juntos e ela se afastou um pouco, mas não deixou de me beijar um segundo. Ouvi o clique da porta abrindo e entrei rapidamente puxando comigo e a encostando na porta rapidamente e a beijando de novo. colocou suas mãos em minhas costas e beijou meu pescoço e maxilar enquanto eu fazia um carinho em sua cintura e descia minha mão para a sua bunda. Pronto, agora era a prova real, se ela queria sexo, não ligaria, mas se não quisesse me empurraria para longe. Ela travou em meus braços por alguns instantes e quando eu pensava que ela iria embora de vez, ela pegou minha mão e a guiou até sua bunda novamente e me beijou com mais vontade ainda.

- Você tem certeza que quer agora? – eu perguntei recebendo mais um beijo molhado e senti as mãos da minha namorada dentro da minha camiseta – Porque nós nunca...
- , eu estou aqui passando minhas mãos por seu corpo e quase pegando uma das suas e colocando dentro da minha calça – ela disse desesperada e eu ri – Você quer realmente parar para perguntar se eu tenho certeza?
- Eu só estava tentando ser um cavalheiro – eu respondi e recebi uma risada.
- Seja um cavalheiro depois que transamos, mas agora não precisamos disso – ela respondeu antes de puxar minha camiseta com as mãos e me jogar na cama sentando em meu colo.

Aquela tinha sido a primeira vez que nós tínhamos feito sexo e eu digo que muitas músicas foram feitas inspiradas naquele momento e em tudo o que eu senti.
Eu só posso dizer que nosso relacionamento foi crescendo cada vez mais depois daquele dia e que nada trazia problemas ou conflitos até nós.
Conversávamos todos os dias e sempre que dava passava onde eu estava tocando e me dava um beijo, o que sempre atraia mais pessoas que eram loucas por casais sendo casais. Eu conseguia mais dinheiro e era sempre bom voltar para casa cantando junto com no carro. Tudo corria muito bem até que um jantar foi marcado. E a nossa primeira briga veio.

Oito meses antes

Fazia tempo que eu não me sentia ansioso, nervoso ou inseguro. Eu havia aprendido a lidar com os problemas que apareciam, aprendi a lidar com pessoas gritando comigo para eu sair da rua ou de frente de seu restaurante. Aprendi a lidar com gente que não me escutava mesmo quando eu dava o melhor de mim para fazer um bom som. A única coisa que eu não tinha aprendido era lidar com pais de namorada. E principalmente com pais que são perfeitos, típicos americanos e que a chance de me odiar era alta.
não havia falado comigo direito o dia todo, o único pedido que ela tinha feito foi que eu usasse uma camiseta que cobrisse as tatuagens dos meus braços. E bem, eu fiz isso, mas odiava usar camisas e como só tinha uma que eu não usava há anos, ela ficou um pouco apertada debaixo dos braços. O jantar era às oito da noite e eu estava saindo de casa quando recebi uma mensagem no celular.

Pedi pra mamãe fazer macarronada porque eu sei que você adora e faz tempo que não come. Fique calmo, eu já falei muito bem de você pra eles. Vai dar tudo certo, meu amor.
- xx

Eu sorri com a mensagem e fiquei mais calmo, iria ter macarronada e nada poderia dar errado. “Calma, era só um jantar. Não há motivos para ficar nervoso.” E com esse pensamento eu saí de casa para ir com conhecer os pais da minha namorada.

Eu toquei a campainha e abriu a porta usando um vestido florido e um sorriso lindo. Ela me abraçou apertado e eu pude sentir o cheiro de seus cabelos, o que me acalmou. Beijei sua testa em sinal de respeito e ela pegou em minha mão nos guiando até a sala de estar. Nas paredes eu percebi fotos da família e de um garoto que era muito parecido com , e eu logo constatei de que deveria ser Trevor, seu irmão morto no Iraque.

A primeira coisa que eu percebi era que o pai de bebia vinho. Talvez para combinar com o macarrão que iríamos comer, mas ele bebia vinho, o que mostrava que ele era sofisticado já que eu vivia de cervejas. soltou minha mão e foi até seu pai sorrindo.

- Pai, esse é o – ela disse e eu estendi minha mão para apertar o do senhor em minha frente, ele deu um sorriso de lado e apertou minha mão – , esse é meu pai Peter .
- É um prazer conhecê-lo, senhor – eu disse dando um sorriso mínimo.
- É um prazer conhece-lo também, filho – ele disse segurando a taça de vinho na mão – Minha filha não para de falar de você e sobre como você toca violão tão bem...
- Não precisa me expor desse jeito, disse e o pai dela riu – Vamos indo para a mesa?
- Claro – eu disse e sorri para minha namorada que estava com as bochechas vermelhas.

A casa de era muito clara, muito acolhedora e totalmente diferente da minha. O cheiro que vinha da cozinha fez meu estômago roncar e eu torci para que ninguém tivesse ouvido o barulho. A mãe de entrou por outro lado no exato momento em que chegávamos à sala de jantar e ela me olhou com um olhar surpreso. Provavelmente esperava um modelo da Calvin Klein e não um ruivo magrelo.

- Mamãe, esse é o me apresentou e sua mãe veio até mim e apertou minha mãe e sorriu seco.
- Um prazer recebê-lo em minha casa, – ela disse e se virou rapidamente para sentar. Eu me sentei ao lado de e ela colocou um pouco de macarrão no meu prato e depois se serviu – Então, você gosta de macarronada, não é?
- Depois de pizza é a minha comida preferida – eu respondi sentindo o cheiro do macarrão do meu prato – Macarrão é uma das melhores coisas da vida.
- Isso eu concordo com você, meu rapaz – Peter disse sorrindo e eu senti que poderia dar tudo certo.

E realmente deu certo. Por um momento eu achei que eles estavam gostando de mim, nós rimos juntos, falamos sobre e até tiramos sarro da cara dela um pouco. Até que o assunto “meus pais e meu futuro” chegou à tona.

- E os seus pais, ? – Sue, mãe de , perguntou para mim – Em que eles trabalham?
- Bem, meu pai trabalha em construção e minha mãe é dona de casa – eu respondi simplesmente.
- já os conhece? – Peter perguntou.
- Ainda não. – eu pigarreei limpando minha garganta – Meu pai trabalha demais, é quase impossível encontra-lo em casa.
- Mas sua mãe já? – Sue perguntou.
- Também não.
- Mas disse que já foi várias vezes em sua casa – ela disse com uma expressão confusa.
- Eu moro sozinho – eu expliquei e senti ficar tensa ao meu lado – Faz pouco tempo, não queria ser um peso para meus pais, então decidi sair da casa deles e trilhar meu próprio caminho.
- E você trabalha com o que? – Peter perguntou.
- toca em bares – respondeu por mim e eu a olhei intrigado – É provisório, só para juntar dinheiro para a faculdade.
- Você vai para a faculdade? – Sue perguntou interessado e eu olhei para minha namorada e me deparei com seus olhos desesperados. Foi naquele momento que eu percebi que o que eu respondesse naquele momento definiria se seus pais gostariam de mim ou não.
- Em alguns anos, provavelmente – eu menti e senti soltar um suspiro. Não, eu não planejava ir para a faculdade nunca. Tinha outros planos.
- Isso é muito bom – Peter disse – Em quantos anos?
- Pai, vai para a faculdade quando ele quiser ir para a faculdade – disse com uma voz cansada.
- Eu sei, querida, mas é sempre ter um bom planejamento da vida como um todo, certo? – ele disse e eu percebi que a garota ao meu lado voltara a ser aquela garotinha que se acanhava em frente aos planos dos pais – Por exemplo, minha linda , já tem sua vida traçada. Planejamos tudo com muito cuidado desde que ela é uma garotinha.
- Mas e o que quer? – eu perguntei e senti o ar da sala mudar rapidamente – Digo, ela já disse o que ela acha sobre todos esses planos? Nós sabemos como é sonhadora e ele é cheia de sonhos...
- Os sonhos dela já são nossos planos, – Peter disse dando uma risada forçada – O que você quer dizer com isso?
- NADA – disse alto – Ele não quis dizer nada, pai.
- Mas...
- Eu já terminei de comer e também, nós vamos sair – ela disse cansada e se levantou pegando seu prato indo para a cozinha.
- Com licença – eu disse pegando meu prato e seguindo . (n/a: coloque a música 1 para tocar)

Eu cheguei até a cozinha e a encontrei de costas para mim, com as mãos apoiadas na pia. Eu fui até ela e coloquei minhas mãos em seus ombros, mas fui afastado de supetão quando ela me empurrou e abriu outra porta que dava para o quintal, eu a segui para o lado de fora e quando me aproximei ela explodiu.

- O que foi aquela cena ridícula lá dentro? – ela perguntou brava.
- Como assim?
- Como assim? – ela disse nervosa e eu percebi alguns fios escapando de seu penteado – Você praticamente disse para os meus pais tudo o que eu te disse naquele dia!
- E qual foi o problema? – eu perguntei, mas me arrependi no exato momento.
- Isso não é da sua conta, ! – ela gritou e veio até mim apontando o dedo para mim – Nada disso é da sua conta, você não tinha o direito de me expor daquele jeito!
- Quer falar de exposição? – eu perguntei irritado. Odiava quando as pessoas apontavam o dedo para mim. – E o que foi aquela mentira básica ali? Eu não tenho planos de ir para a faculdade, nunca tive e você sabe disso!
- Aquilo foi uma estratégia para não termos problema com eles – ela tentou se explicar e se afastou de mim – Eles não querem que eu namore alguém que...
- Que seja pobre? – eu completei – Que não tenha pais com carros do ano ou um futuro brilhante estudando em Harvard? É isso que você iria dizer?
- Não! – ela disse desesperada – De onde você tirou isso?
- De onde eu tirei isso? Provavelmente de toda a cena que você fez para tentar mentir sobre quem eu sou, talvez eu tenha tirado daí! – eu disse mais alto – Eu errei sobre ter falado aquilo de você, mas você não é uma santa, você fez merda lá dentro também.
- Eu sei, me desculpe – ela disse com uma voz embargada e se aproximou colocando as mãos em meu rosto e beijando meus lábios rapidamente – Eu não deveria ter falado nada, eu fui uma idiota, eu fiquei nervosa e você sabe que eu respeito muito meus pais.
- Eu sei disso, – eu disse e a beijei também quando me beijou mais uma vez, eu coloquei minhas mãos em sua cintura e a puxei para um abraço.

Olhei ao redor e vi um balanço pequeno junto com uma casinha de criança. Olhei o céu estrelado daquele dia de outono e me senti pequeno. Pela primeira vez eu me senti pequeno diante de tudo, diante do universo, do mundo, diante dos pais de minha namorada. E acho que isso foi o pior. Eu não era o cara que eles teriam escolhido para , não era em nada o namorado perfeito. E eu soube no exato momento que a mãe dela me viu e deu um sorriso seco para mim. Provavelmente ela percebeu que minha roupa era comprada em brechó, dizem que mães sabem quem vale a pena entrar na vida de seus filhos, e bem, provavelmente ela chegou a conclusão de que eu não era uma opção saudável.
E Peter... Ele foi gentil comigo, mas ficou chocado quando disse que eu tocava em bares. Sua expressão foi de relaxada para tensa em milésimos e aposto que ele imaginou sua filha única e perfeita, cuidando de filhos ruivos em um bar sujo enquanto eu tentava ganhar alguns trocados.
Eu não me encaixava na vida de , não servia para a garota de futuro brilhante. Por Deus, o irmão dela tinha morrido no Iraque! Eu jamais poderia competir com algum soldado amigo do irmão dela que aparecesse naquela porta dizendo que Trevor não parava de falar de enquanto estava na guerra. Eu não tinha chance contra qualquer riquinho de Harvard, eu sabia disso. Era um relacionamento fadado ao fracasso e eu não podia atrasar os planos daquela garota que eu amava.

- Eu te amo – eu disse para e a senti levantar a cabeça do ombro e me olhar.
- Eu também te amo – ela sorriu e me beijou devagar. Era a primeira vez que dizíamos aquilo um para o outro – Eu prometo que nunca mais faço aquilo que eu fiz hoje.
- Eu te amo, mas isso não vai dar certo, – eu disse e olhei seus olhos passarem de calmos para assustados rapidamente – Eu não sou um cara certo para você.
- Não começa, por favor... – ela disse com os olhos fechados e quando ela os abriu eu os percebi úmidos – Não importa o que aconteceu hoje, não deixe isso atrapalhar o que nós temos.
- O que eu posso dar para você? – eu perguntei sério – Eu não posso te dar NADA, ! Eu sou um cara fodido que não sabe nem o que vai comer no próximo dia. Eu canto em ruas, o que eu posso te dar? Eu não vou para a faculdade, não vou ganhar um apartamento do meu pai quando eu me formar ou qualquer outra coisa desse tipo – eu parei de falar e ouvi chorar perto de mim – , eu – eu dei uma risada forçada – Eu não sou ninguém.
- Para. Com. Isso. – ela disse e limpou as lágrimas – , eu não me importo com nada dessas coisas que você falou. Eu me importo com você e somente com você. Eu não estou procurando ninguém que me dê coisas porque eu quero conquista-las sozinhas. Foda-se se você não vai para a faculdade ou canta nas ruas. FODA-SE! – ela gritou e se aproximou – Eu amo você e quem você é e não o que você tem.
- Mas...
- Não tem mas nessa história – ela me cortou e se aproximou – Para de pensar no futuro, okay? Nós temos tempo, eu tenho 18 anos e você 20 e parece que estamos decidindo nosso casamento, pelo amor de Deus – ela riu e se aproximou de mim – Não deixe nada que meus pais falem ou qualquer outra pessoa fale te impeça de sonhar. Você vai ser um grande artista e só precisa acreditar nisso. Pode ser agora ou amanhã, eu não sei! Eu só sei que não quero você sendo negativo sobre si mesmo. – ela se aproximou, colocou as mãos em meu pescoço e beijou meu nariz, meus olhos e minha testa – Você é tudo, . Você é tudo.

E finalizado seu discurso me beijou. Beijou como nunca tinha feito antes, beijou-me de um jeito novo. Beijou-me com esperança. Beijou-me para mostrar que acreditava em mim, que acreditava em nós. Depois daquele dia ficamos o resto da noite no quintal contando estrelas, conversando bobagens e esquecendo totalmente do futuro e de qualquer outra coisa que nos deixasse tenso. O futuro não importava naquele momento, só o presente. E ele era lindo.


Foi naquele momento que eu percebi que também era tudo. Tudo o que eu queria, tudo o que eu sempre procurei e o mais importante: Ela acreditava em sonhos, em mim e em tudo de bom que podíamos ser. Eu queria poder dizer que nosso problema em relação aos seus pais tinha sido resolvido, mas isso seria totalmente mentira. Na verdade só piorou.
Foram brigas e mais brigas de com os pais e toda vez uma dúvida pairava sobre mim se aquilo realmente era certo. Eu me punia depois, mas a sensação de ser um peso morto para minha garota era muito grande.
Eu desci as escadas do meu prédio e encontrei minha vizinha de porta pegando a correspondência, ela sorriu para mim e eu me apressava para ir embora quando ela me chamou e perguntou de , dizendo que “ era tão doce que até iluminava o prédio quando passava por lá”. Eu tive que sorrir, agradecer e prometer que diria isso a ela. Mas eu não iria dizer por que se ouvisse algo desse tipo, ela desistiria de ir para a faculdade e viria até aqui para ficar abraçada com a senhorinha.
Passei na lanchonete da esquina e comprei dois cafés para levar para a casa dela. Coloquei os cafés no console para não cair quando reparei na mancha de café que havia no carpete. Automaticamente uma sensação ruim se apossou de mim e eu resolvi ignorar ligando o carro, mas logicamente não consegui.

Seis meses antes

Nós estávamos em nosso melhor momento. Juro. Eu a buscava em casa depois de ter tocado nas ruas e nós dividíamos copos de café e bolinhos sem lactose que ela trazia de casa e, depois de eu tocar violão, fazia as lições de casa e nós transávamos em todos os lugares possíveis da minha casa.
Então, estávamos em nossa melhor época.
Naquele dia de novembro o frio que anunciava o inverno castigava Kinsgton com ventos gelados e depois de comprarmos nossos cafés decidimos ficar sentados no carro para nos aquecermos antes de ir para a casa. Eric Clapton tocava no rádio e um silêncio gostoso nos cercava. Estávamos abraçados somente sentindo a presença um do outro quando disse:

- Podemos tentar 69 algum dia?
- O que? – eu perguntei exasperado e nos separamos para que eu a olhasse – O que?
- Não fique chocado, mas eu queria tentar alguma vez – ela disse um pouco vermelha – Mas se você não quiser...
- Não! – eu disse rápido – Digo, eu quero! Podemos fazer quando você quiser.
- Então você quer 69, hum? – ela perguntou e se aproximou de mim com um sorriso safado e colocou as mãos dento do meu casaco.
- Com você eu topo qualquer coisa – eu respondi antes de puxá-la para um beijo quente.

Nossas mãos não se decidiam em qual lugar do corpo do outro ficar e nossas bocas já estavam tão acostumadas uma com a outra que se encaixavam sem hesitação. Puxei seus lábios com os dentes e finalizei o beijo com vários selinhos. Ela riu e pegou o café em cima do painel e deu um gole.
- Nós podíamos fazer isso agora – ela sugeriu sem me olhar e eu pigarrei.
- Vou ligar o carro – eu respondi e nós rimos juntos quando ouvimos batidas fortes no vidro. gritou assustada e olhou para fora congelando no lugar.
- O que você está fazendo aqui? – ela perguntou abaixando o vidro e encontrando o olhar duro de sua mãe do outro lado da janela.
- Eu vim fazer umas compras – ela respondeu e me ignorou completamente – Desça do carro, nós vamos para a casa.
- Não, eu não vou – respondeu firme – Eu vou para a casa do e, como sempre combinamos, eu volto para casa as oito.
- Não, eu preciso de você em casa – Sue disse com uma voz impassível.
- Pra que? Assistir televisão enquanto eu ouço você falar futilidades com suas amigas no telefone? – disse e eu sabia que se fosse minha mãe, ela com certeza teria tomado um tapa no rosto – Eu não vou com você.
- Vai sim – Sue então puxou a maçaneta da porta e a abriu com força puxando o braço de com força – Vamos logo para a casa!
- EU NÃO VOU! – gritou e me olhou com os olhos úmidos e tomou mais um puxão no braço que derrubou metade de seu copo de café no chão do meu carro – , eu não quero ir.
- , é melhor você ir – eu disse e saí do carro dando a volta e indo até Sue – Você não precisa fazer essa cena se não a quer que ela fique comigo, eu não estou forçando sua filha a estar aqui.
- Eu não quero uma palavra de você! – ela disse grossa para mim e arrancou de dentro do meu carro com força – E nós vamos conversar sobre seu comportamento em casa, !
- , eu te ligo – disse com os olhos cheios de lágrimas e se afastou de mim com sua mãe segurando seu braço com força. Ela me olhou uma última vez antes de abaixar a cabeça com vergonha.

Eu fui para casa arrasado e com a vontade de passar na casa de , arrancá-la de lá e mandar Sue para o inferno. Logicamente, eu não podia fazer isso, mas a vontade me seguiu até eu chegar em casa. Eu decidi limpar tudo, então lavei a louça, levei minhas roupas para a lavandeira ao lado e quando eu voltava com as roupas, percebi o carro de virando a esquina e parando todo torto perto de mim. Uma com o rosto inchado e olhos molhados correu em minha direção e se jogou em meu peito chorando alto. Eu tive que deixar minhas coisas no banco perto de mim e a apertei com força em meus braços. Seu choro inundou meus ouvidos com força e só o que eu pude fazer foi abraçá-la ainda mais e esperar seu choro minimizar.

- O que houve, meu amor? – eu perguntei baixinho e ela levantou seu rosto e eu percebi um lado bem mais vermelho que o outro – Ela bateu em você?
- Podemos entrar? Faz um café pra mim? – ela pediu e eu peguei minhas roupas e juntos subimos para meu apartamento.

Depois de ter feito um café, ter pegado um moletom meu para usar e ter sentado na minha cama enquanto segurava minha mão, ela resolveu falar e se eu fosse uma pessoa curiosa teria ficado decepcionado.

- Eu não quero falar sobre isso, – ela disse baixo sem me olhar – Eu só sei que minha mãe acabou virando um monstro estúpido e preconceituoso e eu não quero reproduzir seu discurso.
- Tá tudo bem, – eu disse sentando mais perto e a puxando para deitar a cabeça em meu peito.
- Eu te amo muito – ela disse beijando meu pescoço e eu senti seu hálito de café batendo em meu rosto.
- Eu te amo muito também – eu respondi e junto ficamos deitados até ela parar de chorar e se acalmar.

Eu sabia que o motivo da briga fui eu e o tapa que ela levou foi por algo que disse querendo me defender e, bem, Sue não deve ter gostado muito. O fato foi que dormiu na minha casa naquele dia e ninguém ligou para saber como ela estava. Nem seu pai ou sua mãe. Acho que eles também estavam cansados de brigas e ao perceberem que não iria mudar de ideia, eles precisavam de um tempo dela e de mim.
Durante a noite toda, não largou minha camisa, sempre a segurando pela barra ou dormindo com o rosto apoiado em minhas costas e em algumas vezes, ela acordava para pedir que eu a abraçasse forte porque ela estava sentindo-se sozinha.

O sol inundou meu carro quando eu parei em um sinal vermelho e meus olhos doeram com a luz, abri o porta-luvas para pegar um cigarro e caiu uma touca de lá dentro. E eu percebi que seria quase impossível acabar com todos os traços de da minha vida porque aonde eu ia havia alguma coisa dela lá. Peguei a toca em mãos e percebi que ela estava ali há muito tempo esquecida. Deixei o objeto no banco e voltei a dirigir lembrando-me do dia em que ela usou. Foi um dia bem frio e para completar a equação tinham pais envolvidos. E graças a Deus não eram os dela.

Seis meses antes

Eu não deveria estar nervoso. Não tinha necessidade nenhuma do meu nervoso, mas mesmo assim, lá estava eu com a síndrome das pernas inquietas, batucando os dedos no volante e respirando fundo umas trezentas vezes. Era só um jantar com os meus pais, deveria ficar nervosa, não eu. Eu parei em frente a sua casa e desci para espera-la quando a porta abriu e Peter apareceu com um olhar sério.
- Boa noite, senhor – eu disse e coloquei as mãos nos bolsos para esquentar as pontas dos dedos já que minha luva era cortada nas pontas.
- Boa noite, – ele respondeu – Quer entrar? Está frio aqui fora e ainda não está pronta.
- Claro – eu disse por que estava com muito frio.

Passei pela porta e o ar quente fez meu corpo relaxar, o cheiro de chá vinha da cozinha e eu fiquei ali no corredor encostado junto com as fotos de Trevor.

- Ele era um bom garoto, sabe? – Peter disse de repente parando ao meu lado e olhando as fotos junto comigo. Uma delas e Trevor estavam em uma daquelas fazendas de pinheiros e seguravam um pinheirinho enquanto sorriam – Ele era um prodígio e nos matou de orgulho quando decidiu que não iria para a faculdade e sim para o exército. – ele deu uma pausa – Assim que ele morreu, havia decidido que iria para o exército também, mas nós não permitimos, não poderíamos perder nossa filha também. – ele suspirou e eu me senti totalmente sem graça e sem entender porque ele estava falando aquilo – Por isso os planos, porque não poderíamos perder mais um filho. Então traçamos o futuro inteiro dela para que ela estivesse segura. – ele se virou e me olhou sério – , o problema não é você. Minha esposa está profundamente arrependida por ter feito aquela cena no meio da rua. O problema é que não podemos perder nossa filha, não podemos deixar seu futuro acabar antes mesmo de começar.
- E por que você acha que eu atrapalharia tudo isso? – eu perguntei – Com todo o respeito, senhor, mas eu mais do que ninguém quero que a tenha um futuro brilhante porque ela merece. Essa é a segunda vez que nós nos encontramos, então não venha dizer que eu estou atrapalhando o futuro de porque eu não estou. Pelo contrário, foi graças aos sonhos dela que agora eu estou batalhando pelo meu. O que quer que vocês dois tenham pensado de mim, estão totalmente errados. Não é porque eu toco em bares, moro no subúrbio que vou levar sua filha para o buraco.
- , não pense que...
- Me desculpe, mas vocês são preconceituosos – eu disse a verdade e pareceu que um peso saiu de minhas costas – E eu não me importo se vocês vão me odiar mais ainda, mas vocês não me conhecem e não tem direito nenhum de supor algo sobre mim ou minha vida. está comigo porque ela sabe quem eu sou e não se importa nem um pouco com isso. Acho que isso já deveria ser o suficiente para vocês.

A conversa acabou no exato momento em que apareceu no topo da escada, ela sorriu para mim, mas percebeu que tinha algo errado já que sua expressão ficou confusa quando ela se aproximou. Ela estava com uma touca, um casaco preto e aquelas botas que toda as garotas amavam e que começava com U, mas eu não lembrava o nome.
- Bem, eu vou conhecer os pais de , eu volto até as onze, estou levando minha chave – ela disse rápido e pegou minha mão – Tchau pai.
Antes que eu pudesse responder, ela já estava me empurrando para o lado de fora e fechando a porta com força. Caminhamos em silêncio até o carro e assim que eu bati a porta, ela se jogou em mim e me beijou com vontade. No início eu fiquei surpreso, mas depois correspondi com a mesma intensidade colocando minhas mãos em seu corpo e a puxando para mais perto. Ela finalizou o beijo mordendo meu lábio inferior.

- Por que isso? – eu perguntei meio abobado.
- Porque eu ouvi sua conversa com meu pai e eu estou morrendo de orgulho de você – ela respondeu e me abraçou beijando meu pescoço – Eu te amo tanto, .
- Eu também te amo muito – eu respondi e roubei um selinho – E quer dizer que você queria ir para o Iraque, hum? – eu perguntei e ela já começou a rir – Você se assusta com fogos de artificio, imagina se estivesse no Iraque.
- Eu seria um ótimo soldado, viu? – ela disse e colocou o cinto – Agora vamos logo porque eu quero conhecer seus pais. – ela tirou a touca e arrumou os cabelos rapidamente – Vou deixar a toca aqui, tá?
- Por quê? Você está tão linda.
- Porque não se usa touca quando vai conhecer os sogros, – ela respondeu como se eu fosse um idiota – E nem está tão frio ao ponto de usar touca – ela abriu o porta-luvas e deixou o objeto lá – Vamos?

Eu fiquei um pouco envergonhado com o fato de que a casa dela era grande, com vários quartos, com dois andares e um quintal grande, e a minha ser uma casa térrea com dois quartos e um quintal que só cabia uma mesa com um guarda-sol que minha mãe insistia que dava um ar melhor para aquele lugar.
Parei o carro e nós descemos juntos e eu segurei a mão de forte enquanto a guiei para dentro de casa. Abri a porta e o cheiro de frango assado invadiu meu nariz e por um instante eu quis voltar para a casa deles e nunca mais sair. Meu pai levantou do sofá e veio nos receber com um sorriso gigante nos lábios.

- Finalmente eu conheci a garota dos sonhos do – ele disse e cumprimentou minha namorada com um beijo no rosto – Prazer querida, eu sou o Charles.
- – ela respondeu um pouco envergonhada – É um prazer conhecer o senhor.
- Pode me chamar de você – meu pai disse sorrindo – Não me deixe mais velho que eu já sou.
- Cadê a mamãe? – eu perguntei.
- Deve estar na cozinha tirando o frango do forno – ele respondeu e nos guiou para a mesa de jantar que ficava ao lado do sofá – Mary, chegou.
- Eu estou indo! – minha mãe gritou e apareceu com o frango em mãos – Olá queridos. você não me disse que ela é tão linda assim.
- É o que dizem, Deus cega o bonito para ajudar o justo – meu pai disse e gargalhou – Vamos comer?
- Charles, o frango é para , não seja afobado – mamãe disse e se sentou à mesa junto conosco.
- Eu posso dividir – brincou e arrancou risada de todos.
- , eu já estou gostando dessa garota – papai disse e fez rir.

O jantar foi o mais agradável possível. Meus pais nos fizeram rir tanto que teve que parar de comer várias vezes para não se engasgar. E o mais importante: Eles a adoraram. Na verdade, eles me ignoraram completamente, o foco foi todo para e como ela era linda, inteligente e o que ela tinha visto em mim. O assunto futuro nem foi mencionado, eles estavam mais interessados em saber coisas do presente, onde estudava, como nós nos conhecemos e essas coisas mais leves. No final do jantar, minha mãe fez questão de mostrar aquelas fotos ridículas de quando eu era bebê, inclusive aquela foto em que eu estou pelado tomando banho na banheira e que todo mundo tem uma dessa. riu, elogiou algumas e me zoou em outras. A noite foi leve e quando ela se despediu, minha mãe a convidou para almoçar lá domingo prometendo que iria ter sobremesa.

- Seus pais são as pessoas mais legais desse mundo – ela disse quando já estávamos no carro voltando para a sua casa – E seu pai é ruivo e sua mãe também. Nós vamos ter bebês ruivos, certo? Nós temos que ter bebês ruivos porque você era lindo quando era bebê e você também é agora, mas bebês ruivos são as coisas mais lindas e eu amei aquela foto do seu primeiro dia da escola... – Ela não parava de falar e eu somente ouvia porque uma das coisas que eu mais amava era ouvi-la quando estava empolgada. – E eu vou almoçar na sua casa domingo mesmo, okay? Combine com a sua mãe e diga que eu levo a sobremesa.
- Ela vai adorar você – eu respondi e peguei sua mão entrelaçando com a minha e beijando seus dedos – Eles amaram você.
- Sério? Bem, porque eu também amei os dois! – ela respondeu sorrindo e foi o caminho todo elogiando meus pais.

Parei o carro em frente em sua casa e ela veio até mim deitando em meu ombro e fazendo um carinho em minha barba rala. Eu a olhei e nossos olhos se conectaram como tantas vezes, mas sempre de um jeito único. Nossas mãos se entrelaçaram automaticamente e ficamos ali juntos no silêncio. respirava calmamente e eu sabia que ela estava assimilando tudo o que acontecera naquela noite e provavelmente comparando meus pais aos seus. A puxei para mais perto e beijei o topo de sua cabeça sentindo o cheiro tão conhecido de seus cabelos.

- Eu acho que se Trevor estivesse vivo – ela começou a dizer – Meus pais seriam iguais aos seus. Trevor jamais deixaria essa situação acontecer e ele ainda te levaria para tomar cerveja toda vez porque ele amava cerveja e eu sei que você ama também. Vocês se dariam bem. Eu tenho certeza.
- Eu também acho – eu completei – A cerveja sempre une as pessoas. – ela riu – Eu acho melhor você entrar, . Seu pai está abrindo a cortina de cinco em cinco minutos desde que paramos aqui.
- Eu sei, só não quero ir – ela respondeu – Se eu pudesse ficar aqui com você pra sempre, eu ficaria.
- Nós acabaríamos atrofiados, mas eu também ficaria – eu respondi e ela me deu um tapa antes de rir.
- Tudo bem – ela me deu um selinho longo e me abraçou – Me ligue quando chegar em casa, tá?
- Tudo bem – eu respondi e a puxei para um beijo de verdade – Eu te amo.
- Eu te amo.
Ela desceu do carro e entrou em casa depois de acenar com a mão para mim uma última vez.

O jantar com meus pais foi o marco que fez tudo ficar mais sério. Nosso namoro foi ficando mais forte, nossos laços mais estreitos e quando eu percebi não havia nada que eu fazia que não estivesse junto. Ela era minha melhor amiga, minha namorada, minha companheira e tudo entre nós ficou melhor. Os pais dela começaram a me aceitar, não fingiam que eu não existia mais. O que era uma coisa boa. Mas você sabe o que dizem, não é? Quando tudo está muito bom, é sinal de que algo vai acontecer, a calmaria que precede a tempestade. E bem, a tempestade que estava vindo para nós faria qualquer barquinho virar.

Quatro meses antes

Só o que eu consegui notar pelo telefone foi que algo muito horrível tinha acontecido. não parava de chorar por um minuto enquanto tentava falar. Era uma quinta-feira à noite e eu estava montando uma setlist para me apresentar no final de semana em um bar quando ela ligou e não parava de chorar.

- , você pode vir aqui? – ela pediu depois de ter parado de chorar.
- O que aconteceu, ? – eu perguntei preocupado.
- Só vem aqui – ela pediu – Por favor.
- Eu chego em meia hora.

Eu parei na porta e antes que eu pudesse bater, ela foi aberta e encontrei uma Sue com os olhos mareados e um lenço em mãos. No exato momento em que vi essa cena, eu percebi que tinha algo muito errado.

- Sue, me ligou e...
- Ela está no quarto dela – a mulher me cortou e fungou enquanto falava – Ela não quer falar com ninguém, não nos deixa entrar.
- O que aconteceu? – eu perguntei preocupado.
- Ela não passou. – Sue disse e eu senti como se tivessem jogado um balde de água fria em mim.
- Chicago? – eu perguntei e Sue negou com a cabeça – Harvard? – ela negou novamente e o pânico aumentou – Em nenhuma das duas?
- Só fale com ela, por favor – ela pediu e indicou a escada com a cabeça.

Eu subi as escadas e já conhecia o quarto de , mas sempre adorava observar o pôster de Harry Potter na parede junto com a estante de livros, as medalhas de campeonatos de inglês e soletração e as várias fotos em seu mural. Fotos nossas, de Trevor e de suas amigas. Porém, não pude entrar. A porta estava trancada.
- , sou eu. – eu disse – Posso entrar?
Ouvi o barulho do trinco sendo girado e abri a porta entrando devagar. O abajur estava ligado e uma caixinha de música tocava melancolicamente. estava sentada na cama e me olhou com tristeza em seu olhar. Seus olhos ficaram cheios de lágrimas no exato momento em que eu entrei no quarto e só piorou quando eu me sentei ao seu lado e a puxei para meus braços. Sua respiração era calma, mas eu sabia que ela queria explodir, só não tinha como. Seus dedos seguraram minha camisa xadrez e eu senti meu peito ser molhado por algumas lágrimas. Ficamos em silêncio juntos por alguns segundos até que ela levantou a cabeça e me olhou.

- O que eu vou fazer? – ela perguntou baixinho e limpou os olhos com as costas da mão direita – , o que eu vou fazer? Minha vida foi planejada para essas duas universidades, e eu não fui aceita em nenhuma.
- Eu vou te dizer o que você irá fazer – eu disse e sorri – Você vai desligar essa caixinha de música que deixa tudo pior, vai chorar até amanhã cedo e depois nós vamos para a Starbucks tomar todo café que pudermos, dirigir até outra cidade, passar a noite acordados em bares bebendo tudo o que pudermos e depois que fizermos tudo isso você vai pensar no seu futuro.
- Mas...
- Não tem mas, – eu a interrompi – Não há nada que você possa fazer, chorar adianta só por um instante. Você vai ter um ano livre, vai poder fazer seu intercâmbio, viajar comigo para New York e depois entrar na faculdade. Você é nova, só tem 18 anos.
- Você vai me amar se eu não tiver um futuro? – ela perguntou com os olhos mareados novamente.
- Você me amou quando eu não tinha nem presente – eu sorri e beijei sua testa – Você realmente achou que eu não iria te amar em qualquer ocasião?
- Você é tão lindo que eu tenho vontade de chorar – ela disse e sorriu logo depois – Mas chega de lágrimas, eu estou chorando desde as cinco da tarde.
- E por que não me ligou antes? – eu perguntei sério
- Porque eu achei que iria passar, mas não passou – ela respondeu – Vamos fazer maratona de filmes?
- Nada de coisa triste – eu disse e ela conseguiu rir um pouco – Comédia?
- Todo mundo em pânico? – ela sugeriu.
- É uma bosta, mas vai nos fazer rir – eu disse e ela riu novamente levantando e indo até a mesa para pegar o notebook.
- Vou fazer pipoca – ela disse e levantou – Obrigada .
- Pelo que? – eu perguntei confuso.
- Por me dar uma perspectiva de vida nova – ela respondeu – Você me mostrou que existe vida sem fazer planos e que às vezes precisamos perder o controle um pouco.

Ela sorriu e saiu do quarto fechando a porta, eu liguei o notebook e quando percebi ele estava bloqueado e uma página estava aberta. Era um texto e eu comecei a ler percebendo que era um romance sobre uma garota rica, um cara pobre e um oceano de problemas entre os dois. Eu li algumas páginas e aquilo era realmente muito bom. Minimizei e dei olhada em outros arquivos de e percebi uma série de histórias, crônicas guardadas e eu sabia que todas eram de . Abri uma crônica que o título era: Porque vermelho é minha cor favorita. E bem, o texto era sobre mim e como ela me amava e como passou a amar vermelho, tequila e sardas. E bem, eu tinha tudo isso em casa e em mim.

- Colocou o filme? – ela perguntou enquanto entrava no quarto com um balde de pipoca.
- Ainda não – eu respondi – Não me mate, mas eu acabei sem querer vendo um dos seus textos e...
- Você o que? – ela perguntou e no mesmo momento ficou vermelha.
- Eu sei, você quer me matar, mas seus textos são muito bons para ficarem guardados no seu computador. – eu disse – Por que você não posta em algum lugar? Comece um blog, poste suas histórias no wattpadd, eu sei lá.
- Eu nunca pensei nisso – ela se sentou ao meu lado e passou o balde de pipoca para mim – Você estava lendo a crônica sobre você?
- Eu achei linda – eu sorri e beijei sua têmpora rapidamente – Isso é muito bom. , você pode ser a nova J.K Rowling ou tomar o lugar do Nicholas Sparks.
- Agora você está falando exatamente igual a mim – nós rimos juntos – Eu vou pensar nisso, . Nós podemos ver o filme?
- Claro que sim – eu respondi e coloquei o filme para vermos.

Eu sabia que não estava prestando atenção em nada do filme. Ela não estava nem aí para como a Cindy tinha uma calcinha que dava choque ou qualquer coisa idiota desse filme. Eu quase podia ouvir seus pensamentos e todos eles diziam: EU FALHEI. Não importava o que eu dissesse ou o quanto de incentivo eu pudesse dar, não tiraria de sua cabeça o fato de que não passara na faculdade e que seus planos de anos foram pelo ralo. No fim da noite, ela acabou dormindo ao meu lado e eu tive que ir embora. Tirei o computador, o balde de pipoca e a cobri com um cobertor quente que havia no pé da cama. Beijei sua testa e saí pela porta fora tentando não fazer nenhum barulho.

- .
Alguém chamou e quando eu me virei Sue estava parada no corredor com um olhar sério. Ela se aproximou de mim e falou baixo:
- Como ela está?
- Ela dormiu – eu respondi baixo – Só dê um tempo para ela, não fale sobre futuro, faculdade ou planos por enquanto. Ela precisa de um tempo.
- Não me diga como falar com minha filha – ela retrucou rápido – Digo, eu conheço , eu sei que ela precisa dê um tempo.
- Bem, então eu já vou – eu me virei para andar quando ouvi algo que eu jamais pensei que poderia ouvir.
- Obrigada. – Sue disse – Obrigada por ter vindo.
- Sem problemas.

Aqueles dias depois da notícia de que não tinha passado foram turbulentos. Minha namorada perdeu a razão de viver, basicamente. Nada a animava e ela nem quis sair de casa para ir até outra cidade como eu havia sugerido. entrou em uma depressão tremenda e eu não sabia o que fazer para ajuda-la. A levei para todos os lugares que ela gostava, assisti aos filmes que ela amava e tentei agradá-la de todos os jeitos na hora do sexo. E bem, todas essas coisas a fizeram feliz por alguns momentos, mas no fundo, eu sabia que a perspectiva de seu futuro praticamente falido, era o que mais a assombrava.
Mais um sinal vermelho e minha mente não conseguia descansar nem por um minuto. Naquele caminho já tão conhecido, eu lembrava todas as coisas por nós vividas e meu coração já ficava pequeno. E, além disso, o tsunami de saudade que eu iria sentir, já estava esperando para começar dentro de mim. Antes eu jamais teria imaginado o nosso fim. Se ela passasse em Chicago, eu iria vê-la. Em Harvard seria ainda mais perto, por isso o fim nunca fora cogitado. E bem, ele havia chegado. Quando percebi meus olhos estavam mareados e com John Mayer tocando deixava aquela situação ainda mais melancólica.
Virei uma esquina e uma das várias praças em Kingston era iluminada pelo sol e invadida pelas pessoas e pombos que faziam a cidade ficar ainda mais familiar. Automaticamente, o momento em que tudo mudou apareceu em minhas lembranças e as lágrimas, antes seguradas, finalmente caíram. E mesmo sendo um momento feliz, meu coração doía toda vez que eu lembrava.

Dois meses antes

Era um daqueles dias em que a primavera deixa tudo mais bonito, sabe? Aquele dia em que quando a gente olha para o lado de fora, vê uma árvore coberta de flores e pensa em como a vida era bela. Mas como eu era uma pessoa que não ia para um lugar que não tivesse internet, eu estava sentado no sofá de casa, com um cigarro acesso pendurado na boca, um caderno aberto na mesa de centro e meu violão em meu colo.
Eu e havíamos assistido a aquele filme clichê em que a garota diz que se ela fosse um pássaro, o garoto disse que também seria um e bem, minha namorada teve a ideia de reproduzir a cena e me fez dizer as mesmas palavras que o cara no filme. E sabe o que eu fiz? Eu fui melhor do que o ator. foi embora e agora uma música era feita na minha cabeça e a pior parte era passar para o papel.

- 'Cause that leads to regret, diving in too soon and I'll owe it all to you, oh, my little bird. my little Bird****...

Anotei mais esse pedaço da música nova e já estava dedilhando outro pedaço quando minha porta foi aberta com violência e uma feliz e pulando entrou pela porta e veio até mim, empurrando o violão do meu colo e me beijando com vontade. Coloquei minhas mãos em sua cintura e correspondi o beijo a altura, deslizando minhas mãos pelo seu corpo e puxando seus lábios para mim no final.
- Por que isso? – eu perguntei com um sorriso.
- Eu consegui – ela disse sorrindo – Fui aceita em uma universidade.
- Como é? – eu perguntei sorrindo – Meu Deus, ! Parabéns! Mas como foi isso, o que aconteceu...
- Eu te dou os detalhes depois, mas agora eu quero sexo de comemoração – ela disse e depois riu da minha cara de espanto – , você vem sendo o melhor namorado do mundo ao longo dessas semanas e eu estava sendo uma depressiva. Agora precisamos comemorar o fim dessa fase negra com muito sexo e cerveja.
- Eu te amo tanto – eu disse e nós rimos antes de juntarmos nossas bocas em um beijo cheio de desejo.

Nossas bocas já se encaixavam automaticamente e nossos corpos já sabiam se adaptar ao outro. passou suas pernas ao lado da minha cintura e sentou em meu colo ainda me beijando e já segurando a barra da minha camiseta a puxando para cima. Sua camiseta foi tirada também e em segundos nada mais existia entre nós, só pele com pele e várias posições, carícias e beijos para aproveitar.

- Nossa – eu disse ofegante e deu uma risada – Precisamos comemorar mais vezes, vamos comemorar até coisas idiotas a partir de agora.
- Você é um idiota – ela retrucou, mas riu novamente e veio até mim beijando meu ombro e meu pescoço – E eu amo você. – Eu me virei e coloquei meus braços ao redor de seu rosto e a beijei mais uma vez.
- Pra onde você vai? Explique essa história melhor – eu pedi e beijei seu pescoço.
- Eu estava morrendo em casa como vinha fazendo – ela começou a explicar e fez um carinho em minhas costas – Quando minha mãe entrou correndo no meu quarto com uma carta em mãos – ela beijou meu ombro e meus lábios antes de voltar a falar – Ela me deu a carta e eu abri só de curiosidade porque já tinha certeza que teria que trabalhar no McDonalds do centro da cidade.
- Para de ser dramática – eu pedi e nós rimos juntos – Continue a história.
- Eu abri a carta e li que eles tinham entrado em contato com a minha escola e a direção me indicou, eles viram meu histórico escolar e resolveram me aceitar – ela disse e me olhou sorrindo tendo os olhos mais cheios de vida que eu já vira – Agora eu tenho para onde ir, é meio longe, mas...
- Onde é? – eu perguntei despreocupado.
- Em Denver, Colorado – ela disse e eu travei.
- Mas isso é do outro lado do país – eu disse e me sentei na cama já sentindo meu coração pesar – Como nós ficamos?
- Bem, eu não sei, – ela disse e se sentou – Mas eu não quero pensar nisso, eu só quero ficar com você até dormir e depois acordar no meio da noite pra dormir de conchinha com você.
- Sem pensar no futuro? – eu perguntei e já a puxava para perto de mim mais uma vez.
- Sem pensar no futuro.

estava dormindo há algumas horas e eu não conseguia desligar. Ela estava radiante e eu me sentia totalmente egoísta por estar mal enquanto ela estava tão feliz. Ela finalmente havia conseguido uma boa universidade, seus planos finalmente estavam se concretizando e lá estava eu sentado no sofá fumando e me sentindo um tremendo idiota. Dedilhava alguma música qualquer bem baixinho para não acordar e tentava parar de bufar frustrado a cada segundo.
Senti mãos em meus ombros e uma chuva de cabelos caindo em mim quando se abaixou para beijar minha testa. Caminhou até minha frente e se sentou olhando-me séria. Ela sabia que tinha algo errado. Ela sempre sabia.

- Você não me parece feliz – ela comentou e eu sabia que essa era a deixa para eu falar o que estava sentindo.
- Eu queria muito ficar feliz por você, – eu disse e larguei o violão ao meu lado e dei um trago no cigarro. estendeu a mão e pegou o cigarro de minha mão dando um trago – Eu me sinto um tremendo egoísta, mas só o que consigo pensar é que o Colorado fica há milhas de distâncias.
- Nada dura para sempre, – ela disse de um jeito calmo e eu quase desconfiava que a maconha do cigarro a estava deixando alta – Eu não planejava isso. Nunca quis ir para muito longe de casa e quando você apareceu, não queria ficar longe você. Mas não importa o quanto planejamos a vida consegue transformar nossos planos em coisas inúteis. – ela suspirou e seus olhos encheram-se de lágrimas. – Eu te amo pra caralho, mas se essa é a única chance que me restou, então eu vou agarrá-la com todas as minhas forças.
- Eu sei disso, – eu disse e cheguei mais perto dela – Você não merece ficar aqui somente por causa de mim. Você tem sonhos, precisar busca-los. Talvez agora seja a hora de eu também sair daqui, ir para New York, procurar uma gravadora.
- Eu acho que esse é o momento certo para nós dois – ela disse e deitou a cabeça no espaço entre meu ombro e meu pescoço, e eu a abracei de lado – Chegou nosso momento de sair da zona de conforto. Você não pode cantar em bares para sempre e eu não posso ficar para sempre ao redor dos meus pais. Vamos buscar nossos sonhos.
- Buscar nossos sonhos – eu disse – Vamos fazer isso.
- Sim, e em alguns anos nós vamos nos encontrar e você será o maior artista da atualidade e eu vou ser a melhor psicóloga do país – ela disse e só o que eu fiz foi rir de seu otimismo.
- Então terminamos? – eu perguntei com um peso no lugar do coração.
- Só vamos terminar quando eu estiver dentro do avião indo para o Colorado, meu bem – ela disse e eu ri – Não precisamos terminar agora. E não vamos terminar agora.
- Eu nunca namorei com prazo de validade – eu comentei e recebi um tapinha fraco em resposta.
- Eu sou a dramática do relacionamento, – ela disse e já estava beijando meu pescoço mais uma vez e se jogando no meu colo.

Depois daquele dia, foram dias e dias, nós dois tentando agir como se nada estivesse acontecendo, mas várias vezes enquanto eu tocava em algum bar ou acordava no meio da noite, eu via chorando sozinha em algum canto. Aquilo acabava comigo cada dia mais e quando ela disse que iria embora no começo do verão, uma semana depois de sua formatura, eu quis que nada daquilo estivesse acontecendo, eu quis tê-la conhecido anos antes, queria mais tempo. Era somente o que eu queria. Tempo. Não acreditava em Deus, mas estava quase pedindo para ele atrasar o tempo como ele havia feito uma vez, assim como me disseram na igreja dos meus pais.
Cada vez que desmarcava algum compromisso porque algum parente havia chegado a sua casa para dar os parabéns ou quando dizia que tinha que fazer compras para levar embora, meu peito doía cada vez mais.

Um dia antes

Para meu total desespero já estava sem ver há uma semana. Depois de sua formatura e o jantar com seus pais, que fora um tanto desconfortável, me despachou para casa e ao longo dos dias não pôde me ver. A documentação para a faculdade, junto com as despedidas das amigas e da família ocuparam todo o seu tempo e eu só iria vê-la no outro dia antes de ela ir embora.
Eu fingia dizendo que estava tudo bem, tentava tranquiliza-la dizendo que tudo daria certo, mas bem lá no fundo, nada estava bem e nada daria certo. E ouvia cada palavra minha, mas sabia que era mentira. Na verdade era a única que percebia a dor em meu olhar e meus sorrisos falsos.

- That's why you and I ended over U-N-I and I said that's fine but you're the only one that knows I lied*****...

Esse verso apareceu em minha mente e eu rapidamente o anotei no bloco de notas do celular junto com os acordes que eu toquei no violão e que eu saberia que ficariam ótimos. Toquei e cantei esse verso e quando estava apertando o gravador para capturar esse trecho, a porta da minha casa foi aberta com violência e uma entrou rapidamente. Ela adorava entradas triunfais.

- ? – eu disse colocando o violão de lado e levantei para abraçá-la com força – O que veio fazer aqui?
- Você acha mesmo que eu iria embora amanhã sem antes me despedir de você direito? – ela disse sorrindo e seus olhos encheram-se de lágrimas. – Você faz parte da melhor fase da minha vida, . Você está em minhas melhores lembranças. Você é parte de mim. Eu jamais vou me esquecer de você.
- Eu te amo – foi só o que eu consegui dizer antes de juntar nossos lábios num beijo calmo.

Nossos corpos já estavam acostumados um com o outro, mas naquele dia, daquela vez tudo parecia novo. Eu estava nervoso como se fosse a primeira vez e, talvez, eu estava nervoso porque era a última vez. Eu não veria nos próximos dias ou não iriamos nos encontrar no meio da tarde para tocar violão, beber café e comer muffins de banana com chocolate. Todos os momentos se tornariam lembranças em alguns anos e não teríamos mais a possibilidade de criar novas.
deixou suas mãos em meu pescoço enquanto me beijava com vontade e eu a puxei para mim numa tentativa de senti-la mais perto. Minhas mãos foram para seu casaco, que foi jogado ao chão, junto com minha touca e minha camiseta foi retirada junto com as outras peças de roupas que impediam nossas peles de se encontrarem.
Deitei em minha cama e a admirei uma vez mais, antes de descer meus lábios para seu pescoço e colo deixando um rastro de beijos. envolveu meu corpo com suas pernas e beijou meu queixo antes de me dar mais um beijo molhado. Bagunçou meus cabelos com os dedos e depois de me lançar um olhar pervertido, colocou a mão direita dentro da minha cueca. Eu levantei a sobrancelha, entretido, e gargalhou.

- Qual é – ela começou a dizer enquanto me masturbava bem devagar – Vai reclamar?
- Pode continuar – eu disse, ela riu e me beijou novamente.

Coloquei minhas mãos em seu seio e o massageei devagar por cima do sutiã preto que ela usava. respirou fundo e juntos continuamos naquele noite dando prazer um ao outro. Prazer de despedida, prazer com sensação de ser a última vez. E realmente era.

- Isso foi... Wow! – ela disse ofegante deitada ao meu lado e eu ri – Com certeza entra em nosso top 10.
- Top 10? – eu perguntei – Nem sabia que tínhamos um.
- Nós temos, e essa acabou de desbancar a vez em que transamos no seu carro – respondeu e eu ri antes de ir até ela e a apertar em meus braços sentindo o cheiro que emanava de seu pescoço. Depositei um beijo casto ali e a sentir tremer em meus braços com o carinho. – Será que vamos nos encontrar durante esse tempo?
- Você pode ir me visitar em New York – eu sussurrei em seu ouvido enquanto a apertava mais ainda – Nós vamos visitar todos aqueles lugares que vemos em fotos. O que acha?
- Nós podemos ir visitar o Museu de Ciência de Denver – ela comentou – Lá tem uma sessão de dinossauros que eu sei que você iria amar.
- Já temos nossos planos para as próximas férias – eu disse e nós rimos juntos – Vai dar tudo certo, .
- Vai sim. – ela respondeu antes de me beijar e com uma voz que não soou nada convincente.

Eu levei para casa depois disso e do momento em que entramos no carro até o momento em que ela bateu a porta do carro, tentamos agir como se nada estivesse mudando. Ela disse para eu ir de manhã para a casa dela e eu concordei somente para vê-la mais um pouco.
Estacionei meu carro em frente a sua casa e percebi a porta da frente aberta e o porta-malas do carro de seu pai também aberta. Eles já tinham começado a arrumar as coisas.
Depois de descer, caminhei até sua casa e entrei no tempo exato em que descia as escadas com um sorriso no rosto e carregando uma mochila nas costas.

- Oi, meu amor – ela disse e me deu um selinho rápido – Nós estamos um pouco atrasados, coisa pouca.
- Quer ajuda? – eu perguntei pegando a mochila de seu ombro – O que eu preciso fazer?
- Vamos levar essa mochila no carro e depois subimos para pegar a última mala – ela respondeu
- Onde estão seus pais? – eu perguntei enquanto saíamos juntos porta afora.
- Estão na cozinha, minha mãe teve uma crise de choro e meu pai está tentando confortá-la – ela respondeu e deu uma risada falsa. Aquilo doía nela tanto quando doía em sua mãe.

Nós saímos da casa e caminhamos até o carro em silêncio. Olhei para e seus olhos estavam adquirindo um tom vermelho rapidamente, logo, ela iria chorar.

- Isso não está certo – ela se virou para mim depois de ter colocado a mochila no carro – Isso não está certo, não está...
- Fica calma – eu disse e a puxei para um abraço muito forte.
- Nós deveríamos ficar juntos – ela disse com a voz embargada – Todo mundos sempre disse que éramos perfeitos um para o outro, nós deveríamos ficar juntos! – ela disse mais alto e depois desatou a chorar em meu ombro.
- , é assim que as coisas devem ser – eu disse e segurei seu rosto com minhas mãos – Eu sei que nós deveríamos ficar juntos, eu sei disso. Só que o destino quis outra coisa. Você vai construir o seu futuro e eu o meu. Estaremos felizes e um dia quando nos encontrarmos e ficarmos juntos de novo, vamos rir de todo esse desespero – eu disse e ela deu uma risada nasalada. – Fique calma, tudo bem?
- Tudo bem – ela disse e ia dizer mais alguma, mas seu pai chegou com a última mala.
- Filha, nós temos que ir para o aeroporto – Peter disse baixo e eu me separei de sua filha indo para trás para dar espaço para ele passar e guardar a mala. – Nós vamos entrar no carro.
olhou para o carro e assim que as portas bateram me beijou com vontade, passando suas mãos por meu cabelo e sua língua acariciando a minha. Correspondi com a mesma intensidade e deixei minhas mãos em sua cintura, depois de segundos que eu queria que fossem horas, nos separando e eu beijei seus lábios mais uma vez antes de beijar sua testa, bochechas e olhos.
- Nos encontramos em quatro anos e eu espero que seja em um show lotado seu. – ela disse dando um sorriso confiante e depois entrou no carro.

Eu me afastei para o carro sair e até virar a esquina, ficou me olhando e acenando como naqueles filmes românticos que sempre assistíamos juntos. Eu sorri até o final e acenei também, mas quando o carro virou, eu não aguentei e deixei o choro sair em um grito de dor. Sentei na calçada e só o que eu conseguia fazer era chorar feito um bebê. Gritei, chutei meu carro, chorei mais um pouco e depois enxuguei as lágrimas e saí de lá prometendo que iria atrás dos meus sonhos também.

Cheguei em casa e contei todo o meu dinheiro, descobrindo que ele daria para uma passagem só de ida para New York. Era hora de agir, finalmente havia chegado o momento de sair de Kingston e voar para bem longe dali. Sentei no sofá, peguei o violão e naquela tarde toquei e gravei todas as minhas músicas autorais. Fiz a edição de cada uma do jeito que eu achava que ficaria bom e passei tudo para algumas pen-drives. Comprei a passagem só de ida para daqui alguns dias e respirei fundo depois que terminei. Peguei uma cerveja, acendi um cigarro de maconha que estava escondido na minha gaveta há alguns dias e fui para a minha janela dando uma olhada na rua tão conhecida.

- Foi bom ficar com você por tanto Kingston, mas New York me aguarda.

Cinco anos depois

(n/a: Coloque a música 2 para tocar.)

Era o momento pelo qual eu esperei. Foram cincos anos difíceis que incluíam muitas portas fechadas, muitos bares, muita cerveja, muita música e uma tremenda esperança de que as coisas iriam dar certo. E bem, finalmente estavam dando.
Eu já estava adquirindo uma boa fama pelo ramo da música e tudo melhorou quando o mito John Mayer ouviu minhas músicas e pediu para eu abrir seu show da próxima turnê que ele iria fazer. E bem, lá estava eu no backstage esperando o sinal para eu entrar no palco.
Afinava meu violão quando um dos produtores entrou no camarim e disse que eu tinha uma entrevista com uma blogueira famosa do mundo teen que estava começando a ser reconhecida também e que tinha uma história surpreendente de sair da zona de conforto, o que era bem parecida com a minha história. Eu concordei porque qualquer publicidade era bem vinda. A porta foi aberta e eu travei no lugar.
Era ela. Os cabelos estavam cortados bem curtinhos e uma tatuagem de rosa marcava seu ombro. Ela estava totalmente diferente e ao mesmo tempo era a mesma. Quero dizer, seu sorriso para mim era o mesmo. Nos olhamos e seus olhos estavam cheios de lágrimas.

- ... – eu murmurei e caminhei em sua direção ainda um pouco perplexo.
- Eu volto da Europa e quando entro na internet para comprar o ingresso para o show do meu artista favorito, eu vejo que alguém muito conhecido vai abrir o show. Eu estou orgulhosa de você, . – ela disse com uma voz calma e depois soltou aquela gargalhada gostosa que eu tanto amava antes de se jogar em meus braços para um abraço apertado.





Fim!



Nota da autora: Escrevi essa short com o Ed ou não? Vocês nunca saberão hahahahaha Mentira, está bem visível que Edinho foi a inspiração maior para o personagem principal.
Eu espero que vocês tenham gostado dessa história de amor que foi uma das mais lindas e uma das que eu mais gostei de escrever porque bem, inspirada em U.N.I que é uma das minhas músicas favoritas dele.
Foi um grande prazer participar desse ficstape, eu realmente amei escrever e quero agradecer a minha beta Anny que leu um pedaço dessa história antes que todo mundo e surtou no snapchat hahahaha
Encontramo-nos em outras histórias, beijos!


Nota da beta: I’m SO IN LOVE ♥ Eu morri de amores de página em página. Sou completamente apaixonada por esse PP. Amo U.N.I e, caramba, amei muitoooo essa fic. Parabéns Vica meu amor, arrasou (como sempre). Espero ver a caixa de comentários aqui em baixo lotada de surtos e elogios (assim como eu fiz no snap haha) porque a fic super merece. Let’s Go. Xoxo-A





Outras Fanfics:
A Hopeless Place
Heart On Fire


Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


CAIXINHA DE COMENTÁRIOS

O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.


comments powered by Disqus