Capítulo Único
A festa acontecia sem mais delongas. Os funcionários da área de contabilidade conversavam num canto do salão alugado para aquela ocasião. Stephen , o dono de tudo aquilo, conversava com a esposa numa mesa, junto de seus três filhos caçulas, que pareciam ter no máximo dez anos de idade. Ambos estavam jogando em seus celulares, concentrados demais para interagirem no mundo real.
Eu estava enchendo a penúltima taça de champanhe. colocava os canapés corretamente em seus guardanapos, evitando sujar suas mãos com tudo aquilo.
Quando estou virando para voltar a circular pelo salão, esbarro com tudo, derrubando as taças no chão além de, é claro, a bandeja, atraindo a atenção de todos que estavam ali.
Eu não sabia onde enfiar a cara. Eu não sabia como agir, além de pegar a barra de meu avental e tentar, ao máximo, evitar um dano maior.
- Pode deixar. – ela resmunga, dando um sorriso aberto, olhando para seu próprio vestido.
Nem todas as festas do mundo seriam capazes de me fazer pagar pela lavagem daquela roupa! Não mesmo!
- Eu sinto muito. – repito essa frase pela milionésima vez em menos de cinco minutos, evitando tocar demais em seu corpo.
- O que está acontecendo? – ouço indagar quando se aproxima. – O que você fez?
- Ele não fez nada de errado. – a garota diz, passando as mãos na área molhada.
- Eu posso te pagar cada centavo. – falo, implorando para que ela não fizesse algum escândalo.
- Não precisa. Eu já precisava jogá-lo fora de qualquer jeito. E você me ajudou. – ela fala, mandando uma piscadela em seguida.
Eu não sabia se eu estava ficando louco, ou se aquela garota era realmente tão bonita daquele jeito. Não que eu esteja acostumado a ver garotas, pois o meu grau de proximidade era , que namorava meu melhor amigo, mas ela era bonita demais. Não sabia se era sua maquiagem, ou a luz daquele salão. Eu não saberia explicar nem o que vi e tampouco o que senti.
- Vai atrás dela. – sussurra em meu ouvido, enquanto alguém limpava e tirava os cacos de vidro espalhados pelo chão. – Você fez uma cara de idiota quando ela estava aqui.
- Não fiz não. – falo, fazendo uma careta em seguida. – Precisamos trabalhar, esqueceu?
concorda, me arrastando para dentro da cozinha. Ali eu permaneço até o fim da festa, ouvindo somente o discurso que o anfitrião fazia, mesmo que do lado de dentro de um cubículo quente e apertado.
Estava varrendo o chão, quando vejo aquela garota novamente. Ela estava sentada nas cadeiras. Segurava sua bolsa e seu celular, mexendo atentamente nele, dispersa de qualquer movimentação que havia ao seu redor.
Caminhei, tirando qualquer vestígio de sujeira do chão, tentando não me aproximar da garota, que ainda não havia notado que eu estava ali.
- Ah, oi! – ela fala, acenando e sorrindo ao mesmo tempo. Senti minhas bochechas esquentarem e acenei, derrubando a vassoura em seguida. – Tudo bem?
- Eu sinto muito. Eu sou bem desastrado. – falo e ela ri, assentindo com a cabeça. – Mas nem sempre eu sou assim. Só para sua informação.
- Acredito. – ela fala, jogando seus cabelos para trás. Eu senti meu coração dar uma leve acelerada, me fazendo suspirar. – Você deve estar cansado.
- Eu estou acostumado. – falo, pegando a vassoura do chão em seguida. Ela se levanta, vindo em minha direção, pegando o pedaço de madeira de minha mão. – O quê?
- Eu posso fazer isso. – ela diz, me empurrando com a vassoura.
- É o meu trabalho. – falo e ela rola os olhos.
- A festa já acabou. – ela fala, rindo em seguida.
- Nós só saímos daqui depois de tudo limpo. Ordens do chefe. – falo e ela bufou, varrendo em seguida.
Por que ela estava fazendo isso? Por que ela estava sendo tão legal comigo? Aquelas perguntas rondavam minha cabeça.
- ! – ouvimos a voz de alguém chamar, e logo percebo que era o Stephen, anfitrião e dono da empresa. – O que está fazendo?
- Eu só estou varrendo o chão. – ela diz, dando de ombros em seguida.
- Deixe para esse garçom fazer. Ele é pago para isso. – ele diz, e ouço bufar ao meu lado. – Estamos indo. Venha.
- Eu já vou, pode ir à frente. – ela diz e ele hesita, mas logo caminha para fora daquele salão, me deixando sozinho com a garota. – Me desculpe por ele.
- Tudo bem, já estou acostumado. – falo, dando de ombros em seguida.
- Mas não deveria, sabe disso, né? – ela indaga retoricamente, tocando meu ombro em seguida. – Bom, eu preciso ir.
- Adeus. – falo, acenando para ela, que rolou os olhos.
- Você pode me passar seu número? – ela indaga após ficar alguns longos segundos de costas para mim. Concordei, pegando um pedaço do guardanapo limpo em cima da mesa, pegando a caneta que estava em meu bolso, anotando ali o meu telefone. – Obrigada...
- . E até, . – falo e ela concorda, acenando e sumindo do meu campo de visão.
Depois de alguns minutos olhando para a porta do elevador, percebo que fui um idiota, já que não tinha seu número para contatá-la.
- Droga! – resmungo, pegando a vassoura que estava encostada na parede e voltando a limpar o salão, enquanto todos os outros guardavam as louças e os seus pertences.
- Você conseguiu falar com ela? – indaga assim que entra no salão, carregando a minha mochila e a dela nos ombros.
- Por pouco tempo. – falo, vendo minha amiga suspirar. – E já podemos ir? Estou tão cansado.
- Vamos. – ela diz, segurando minha mão e apertando o botão do elevador, que logo apareceu no andar.
Eu não lembrava como foi o restante do caminho, já que minha mente estava focada em somente uma pessoa e no sorriso que ela me deu, mesmo que por poucos segundos.
(...)
Abri a porta do bar, e logo entrou, agarrando sua jaqueta de couro marrom contra seu corpo. O tempo havia fechado, e estava muito frio do lado de fora. Era perfeito para permanecer em casa, mas a garota era o total oposto disso, e me chamou para ir a um bar, numa quarta-feira, para assistir a banda de seu melhor amigo. Quão louco isso é, pensando que, há duas semanas, estávamos agindo como dois desconhecidos?
Sentamos numa das mesas que estavam reservadas. Ela avisou que todos os seus amigos viriam, e a mesa ficaria mais apertada. Não sabia se isso era um aviso para jamais, em alguma hipótese, me aproximar dela, ou para permanecer ao seu lado e vê-la me apresentar para sua lista de amizades.
Depois que todos chegaram – ao todo, dez pessoas –, o show começa. Eles tocavam diversos tipos de música, indo do inglês ao português, do rock ao samba. Segurei sua mão durante duas músicas, o que foi o suficiente para que eu permanecesse feito um idiota durante uma boa parte da noite.
- Você foi garçom da festa da empresa? – Loren, uma das amigas de , indaga, colocando uma batata frita em sua boca.
- Ele que detonou o meu vestido. – diz, apoiando sua mão em meu ombro.
- O seu preferido? – Jack, o vocalista da banda e melhor amigo de , indaga, virando uma latinha de refrigerante.
Era muito louco pensar que, sendo vocalista de uma banda que toca num bar durante a noite, ele não bebe álcool. Nem um pouco.
- Ele era seu preferido? Você disse que iria jogar fora. – falo e ela abaixou o rosto.
- Eu só falei para você não ficar preocupado. – ela fala, acariciando minha mão com o seu polegar.
- Agora eu fico preocupado. Você jogou fora um vestido por um descuido meu. – falo e ela suspirou, pegando uma batata e colocando em sua boca.
- Eu vou pegar mais refrigerante. – Loren diz, levantando-se junto de Jack, me deixando sozinho com , que evitava me olhar ou falar algo.
- Você está bem? – indago e ela concordou.
- Você ficou bravo comigo? – ela indaga, olhando em meus olhos após um longo tempo. E aquilo me fez sentir o coração apertado dentro de meu peito.
- Não. Eu não fiquei. – falo, vendo um sorriso surgir em seu rosto em seguida. – Eu só não quero que minta, ok? Sem mentiras entre nós dois.
- Sem mentiras a partir de agora, . – ela fala, beijando minha bochecha em seguida. – Desculpe.
Gargalhei, beijando a sua bochecha em seguida. Ficamos nos encarando por longos segundos, até que os dois amigos apareceram novamente, acabando totalmente com nossa troca de olhares. Mas, mesmo assim, eu ainda sentia minhas bochechas ruborizadas, e sabia que as dela também estavam assim.
O restante da noite foi divertido. Após algumas horas, ficamos ali cantando no karaokê, que, por sinal, ficava lotado.
- Eu preciso ir embora, tenho que trabalhar amanhã. – falo, abrindo a minha carteira, que estava no bolso do casaco. – Foi um prazer conhecer todos vocês.
- Foi um prazer conhecê-lo também, . – Loren diz, apertando minha mão em seguida. – Apareça mais vezes. Iremos adorar ter você como companhia.
- Idem. – Jack diz, me fazendo sorrir e concordar, deixando algumas notas em cima da mesa.
Caminhei para o lado de fora do bar, e, antes que eu pudesse colocar meu capacete para ir de moto, a porta do bar se abre, e vejo ali, parada, de braços cruzados e me olhando.
- O que houve? – indago, deixando o capacete no banco.
- Você não vai se despedir de mim? – ela indaga, fazendo beicinho.
Às vezes, eu achava que tinha apenas treze anos, e não vinte e cinco.
- Iremos nos ver amanhã, esqueceu, presidente? – indago, ouvindo-a gargalhar.
- Mas mesmo assim. – ela fala, mordendo os lábios em seguida. E, mesmo com todo o frio que fazia ali fora, aquilo fez meu corpo aquecer, mesmo que eu estivesse sentindo frio com aquele moletom.
caminhou em minha direção, beijando minha bochecha em seguida. Beijei a sua, colocando o capacete e sentando na moto, acenando e logo saindo dali.
Quando chego a meu apartamento, coloco meu capacete no sofá, deitando no mesmo e pegando meu celular no bolso, abrindo o aplicativo de mensagens.
: Festa de amanhã foi cancelada e sem nenhuma justificativa. Será que tem a ver com você estar com a filha do patrão?
: Nós somos somente amigos, e nada além. E depois eu descubro o verdadeiro motivo.
parou de me responder, e eu fui ver as mensagens de , olhando as fotos que ela me enviou.
: Espero que já esteja em casa. Precisamos conversar.
: É sobre a festa? Já fui informado.
: Sim, mas eu preciso te contar o motivo. Pode ser pessoalmente?
: Amanhã?
: No restaurante perto do escritório ao meio-dia em ponto. Não se atrase, só tenho uma hora de almoço.
Aquelas mensagens me fizeram ficar nervoso. Será que o motivo para tudo isso era minha aproximação com ?
Deixei de lado, indo para meu quarto trocar de roupa, deitando e dormindo logo em seguida.
(...)
Chego ao restaurante pouco antes do meio-dia, sentando numa mesa que ficava bem no canto, escondido de olhares curiosos dos funcionários de , ou até mesmo de seu pai, que costumava vir à empresa alguns dias.
Pedi por uma água, olhando para o celular de dois em dois segundos, esperando por alguma mensagem ou ligação de , porém nada vinha.
Até que a porta se abre, e ela aparece. Era a primeira vez que a via na roupa de trabalho, e ela ficava extremamente bonita nela, mesmo que ela já soubesse disso.
- Você é bem pontual. – ela diz, puxando uma cadeira a minha frente, sentando-se em seguida. – Preciso falar com você.
- Tem algo a ver comigo o motivo do cancelamento? – indago, tentando não render o assunto.
- Em partes, sim. – ela fala, suspirando em seguida. – Alguém enviou fotos nossas ontem à noite para o papai, que surtou quando cheguei a casa. Agora ele acha que estamos juntos, e isso irá denegrir a imagem da empresa.
- Por que ele pensa algo desse tipo? – indago, acabando com a garrafinha de água em segundos.
- Meu pai tem um pensamento retrógrado, do qual ele acha que só devo ter relacionamentos com alguém... bom, alguém rico. – ela fala num tom de voz contido, como se não quisesse chamar a atenção dos poucos clientes ao nosso redor.
- E você concorda com isso? – indago, segurando sua mão em seguida.
- Claro que não, . – diz, rolando os olhos em seguida. – Eu só não quero prejudicar você. Mas iremos nos encontrar outras vezes. Você irá se cansar de mim.
- Impossível. – falo, fazendo a garota corar em seguida. – Eu preciso ir. Você vai ficar bem?
- Claro que irei. – ela fala, sorrindo em seguida. Beijei sua bochecha, e ela retribuiu, e eu saí do restaurante em seguida.
Aquelas palavras de fez meu estômago ficar embrulhado. Que tipo de pessoa tem esse tipo de pensamento? Infelizmente, o pai de .
Sabia que ela queria amenizar tudo. Sabia que ela preferia não me magoar, mas aquilo me deixava nervoso.
Passei no supermercado, comprando algumas cervejas, enviando uma mensagem para , avisando que passaria lá em cinco minutos, além de falar das bebidas que eu estava levando.
Quando toco a campainha de seu apartamento, , namorado dela, abre a porta. Ele me abraçou, pegando a sacola de minhas mãos.
- está na cozinha fazendo pipoca. – ele fala, colocando as garrafas na mesa de centro.
- Olá, ! – exclamo da porta, acenando com a cabeça. Ela sorri, acenando com as mãos. – Pipoca combina com cerveja?
- Eu não vou beber, . – ela fala, virando a panela num recipiente plástico. – Reunião de família mais tarde.
- Que droga. Mas, se quiser uma carona, pode me falar. – falo e ela nega, apontando para . – Então eu vim ficar de vela?
- Sua namoradinha está no trabalho. – ela diz, rindo em seguida.
- Ela não é minha namoradinha. – falo, fazendo uma careta em seguida. – Somos amigos.
- Que seja, vocês se gostam. – ela fala, caminhando para o outro cômodo em seguida.
A segui, sentando no chão em seguida, ouvindo falar que não poderia derramar nenhum milho de pipoca no tapete, já que ele era muito difícil de limpar e ela sempre precisava mandar lavar, já que não tinha muita paciência.
colocou num filme qualquer, e eu não conseguia prestar atenção, por mais que eu quisesse. Minha mente viajava para a conversa que eu tive mais cedo com , e em como ela ficava bonita naquela roupa, não necessariamente nessa ordem.
Saio do apartamento quase sete da noite, já que os dois tinham que sair. Quando chego, vou para a cozinha, procurando alguma coisa para cozinhar e me alimentar, afinal, pipoca não alimentava ninguém.
Fiz um macarrão com queijo e comi sozinho enquanto assistia The Simpsons, percebendo como eu estava entediado ali. Eu precisava realmente de uma companhia.
(...)
Três semanas se passaram desde o dia da minha conversa com . Desde então, não nos encontramos, mas conversamos quase todos os dias, já que eu estava trabalhando demais como garçom e ela como presidente de sua empresa. Era louco pensar que a mulher que eu conhecia fora daquele império era totalmente diferente da que ela era dentro de tudo aquilo.
Acordo com a campainha de meu apartamento. Era sábado, dia do meu aniversário, mesmo que eu não gostasse de comemorar muito. Mamãe me ligou meia-noite em ponto, como era nosso costume, e cantamos parabéns. Era quase uma tradição nossa e todos os anos fazíamos desde que me mudei.
Calcei meus chinelos, colocando minha calça de moletom e saindo do quarto em seguida. O vento frio da janela quebrada da sala me fez tremer, além de praguejar mentalmente. Não deveria ter levantado sem uma blusa.
Abro a porta, vendo e , a mesma segurava um cachorrinho com um laço rosa no pescoço.
- Feliz aniversário, que tudo esteja azul. Você é gente fina, bacana pra chuchu. – eles cantam, entrando em meu apartamento em seguida.
- O que é isso? – indago quando coloca o cachorro em meu colo.
- É seu presente. Adotamos essa manhã. Pensamos que ele combinaria com essa zona que você chama de apartamento. – ela fala, sendo abraçada de lado pelo namorado. – Vai, escolhe um nome. Mas tem que combinar.
- Pensem num nome, já que eu sou péssimo nisso. – falo, entregando para .
- Eu tenho pena dos seus filhos. – diz, me fazendo gargalhar.
- Filhos? Nem pensar. – falo, pegando uma banana na fruteira, voltando para a sala em seguida.
- Ah, eu sou louca para ter. No máximo dois filhos. – fala, suspirando em seguida. – Mas, para isso, preciso me formar na faculdade, o que está difícil.
- Por isso mesmo. Não quero dar uma vida miserável para meus filhos. – falo e ela rola os olhos. – E você acha que eu estou mentindo?
- Se você parasse de ser tão orgulhoso e voltasse a falar com seu pai, estaria formado. – fala novamente, me fazendo rolar os olhos. – Tudo bem, nada desse assunto.
- Agradeço. – falo.
- Que tal Tarzan? – indaga, chamando nossa atenção. – Ele me lembra um pouco.
- Esse é meu filme favorito. – falo, dando de ombros em seguida. – Então esse será o nome.
- Sua namoradinha vem hoje? – minha amiga indaga, sentando no sofá em seguida.
- Não sei. Estamos sem nos falar desde anteontem. – falo, pegando o filhote de seu colo, colocando em minhas pernas.
- Quanto tempo! – exclama, me fazendo gargalhar junto de .
Antes que eu pudesse retrucar, ouço a campainha tocar, me obrigando a levantar com o filhote em meu colo, caminhando até a porta, abrindo a mesma em seguida.
O susto que levei ao ver , Jack e Loren parados na porta de meu apartamento, carregando algumas cervejas e vodcas. Dei um sorriso ao olhar para , que logo retribuiu, entrando no apartamento em seguida.
- Eu não sabia que viriam. – falo para a garota enquanto fecho a porta, colocando Tarzan no chão. – Esses são e , meus melhores amigos. Gente, esses são: Jack, e Loren.
- É um prazer conhecer os amigos de . – diz, cumprimentando o casal que permanecia sentado no sofá. – E nós viemos mais cedo, pois tenho compromisso mais tarde. E fugi rapidinho de casa para vir até aqui te desejar feliz aniversário.
- Obrigado. – falo enquanto ela me abraça, e eu sinto meu coração acelerar, algo que estava virando rotina na minha vida.
Enquanto eu ajeitava o espaço, ligava para algum lugar que pudesse entregar comida àquela hora do dia. brincava com Tarzan, completamente distraída de tudo o que acontecia ao nosso redor.
- Confesso que eu quase peguei esse cachorrinho pra mim quando o vi. – diz, mexendo nas patinhas dele. – Mas era pra ser um presente seu.
- Você pode vir visitá-lo de vez em quando. – falo, bagunçando os cabelos da garota, que bateu em minha coxa logo em seguida.
- Você sabe que eu viria mesmo sem algum tipo de convite. – ela grita enquanto me afasto, caminhando para perto de , que observava algumas fotos penduradas na parede da sala de estar.
- Esse é você? – ela indaga, colocando a garrafa de cerveja em cima da caixa de som, apontando para a foto em seguida.
Era uma foto minha quando eu tinha sete anos. estava do meu lado, e estávamos sujos de lama, depois de uma brincadeira divertida na fazenda de meu pai.
- Você não mudou muito. – ela comenta, me fazendo rir. – De verdade!
Fico olhando em seus olhos por longos segundos, até que o barulho da campainha corta totalmente o clima, me fazendo caminhar até a porta e abri-la, vendo meu melhor amigo junto de diversas porções de comida.
- Eu esqueci a chave. – ele fala enquanto coloca as comidas na mesa de centro. – Podem se servir.
Todos se aproximaram rapidamente, pegando algumas porções de frango frito e batata frita.
- Deixa o Tarzan aí e vem comer, . – falo para minha amiga, que bufa, pedindo silêncio. – O que houve?
- Ele está dormindo. – ela resmunga, me fazendo gargalhar. – E eu já estava indo.
Ela logo se levanta do chão, caminhando em direção a mesa de centro, pegando além de frango, uma garrafa de cerveja.
- Uma da tarde e todos nós bebendo. – diz, fazendo gargalhar ao seu lado. – Tudo isso por causa de uma garota, .
- Depois fala que não gosta dela. – resmunga, me fazendo bufar.
- Eu já disse que não. – falo, sentindo que estava mentindo para mim mesmo.
Era quase óbvio que eu sentia alguma coisa por , mesmo que seja uma atração física. Ela era bonita demais, e inteligente, e me fazia perder nas minhas próprias palavras de vez em quando.
Droga, eu realmente estou gostando dela.
(...)
Abro a porta de meu apartamento e aparece. Estava com a roupa molhada por causa da chuva, e estava com toda sua maquiagem borrada.
Ela me abraçou, e eu não me importei em ficar molhado. E ali ela começou a chorar até soluçar, apertando-me entre seus braços.
- Se acalma. – sussurro, acariciando seus cabelos molhados.
- Eu posso passar a noite aqui, com você? – ela indaga. – Eu só não quero olhar para ele. Não de novo.
- Eu posso ir lá brigar com ele, se quiser. – falo, fechando a porta em seguida, trancando a mesma. – Sabe que eu sou forte.
- é perigoso demais para você se meter, . Ele é conhecido, qualquer coisinha você terá seu nome manchado em todos os cantos dessa cidade. E isso é tudo que eu não quero. – ela fala, passando as mãos nos olhos.
- Eu vou pegar uma roupa seca para você. – falo, mudando o assunto de repente. Ela concorda, caminhando para perto de Tarzan, que fez uma festa ao vê-la. Ele realmente a adorava.
Caminho para meu quarto, pegando uma muda de roupas para e para mim. Troquei ali mesmo, indo para a sala e encontrando-a sentada numa das cadeiras na sala de jantar.
- O banheiro é no fim do corredor. Sinta-se à vontade para tomar um banho, se quiser. – falo, sorrindo simpático em seguida.
- Está me chamando de fedorenta? – ela indaga, colocando as mãos na cintura, me fazendo corar. – Estou apenas brincando, . Relaxa.
- Eu vou cozinhar alguma coisa para nós dois. – falo e ela concorda, caminhando em direção ao banheiro em seguida.
Enquanto ela tomava um banho, eu olhava para meu estoque limitado de comida na geladeira e no congelador, avistando alguns hambúrgueres para fritar. Resolvi fazer sanduíches, e o tempo que ela levou no banheiro me deixou preparar tudo.
- Eu estou realmente com fome. – ela aparece na cozinha com uma toalha na cabeça, escondendo seus braços por dentro da blusa. – Obrigada.
- Você quer contar sobre o acontecido agora ou depois? – indago indo direto para o assunto, o que a fez suspirar e apoiar sua mão na bancada, tocando meus dedos.
- Eu e namoramos desde o colégio. Nossos pais se adoram, e nosso namoro só serviu como um pontapé inicial para uma parceria entre eles, que montaram o escritório no centro. Acontece que eu fui nomeada presidente, já que meu pai é o sócio majoritário, e o é o vice. E tudo estava bem, até que tudo mudou entre nós dois. Ele não falava comigo durante dias, simplesmente aparecia quando queria algo. Algumas amigas em comum me contavam que ele estava saindo tarde do trabalho, mas eu sabia que não era. Sabia que ele estava me traindo, e tive a confirmação hoje, quando fui visitá-lo no escritório de advocacia que ele construiu. Por mais que eu não sinta absolutamente nada por ele, ainda me sinto mal. Eu não gostaria que as coisas terminassem assim. – ela fala, suspirando em seguida. – Nós tínhamos nossas vidas planejadas. Era quase certo que ficássemos juntos para sempre.
- Você vai encontrar uma pessoa que possa te fazer mais feliz. – falo, tocando sua mão em seguida, a fazendo sorrir.
- Obrigada, . – ela fala, terminando seu sanduíche.
- Vou pegar alguns lençóis para dormir aqui no sofá enquanto você dorme na minha cama, ok? – indago, colocando o copo dentro da pia.
- Você sabe que não precisa. – comenta, colocando as louças sujas na pia.
- Eu faço questão. – falo e ela rola os olhos. – E nem adianta insistir, sabe que eu sou teimoso.
- É, eu sei disso. – ela fala, gargalhando em seguida.
Fui até o meu quarto, pegando alguns lençóis e uma manta para me cobrir durante a noite, já que o frio da capital chegou com força total nesses últimos dias.
Coloquei as coisas no sofá, e estava brincando com Tarzan, que corria com suas patinhas pequenininhas atrás da bolinha de borracha.
- o mima demais. – falo, sentando ao seu lado em seguida. – Ela age como se ele fosse uma criança.
- Vocês são bem íntimos, não? – ela indaga, sorrindo em seguida.
- Ela é minha melhor amiga e namorada do meu melhor amigo. – falo, dando de ombros em seguida.
- Achava que você gostava dela. – ela fala e eu arregalo os olhos. – Desculpe, mas parecia no seu aniversário.
- Eu não gosto de ninguém no momento. – falo e ela suspira, assentindo em seguida. – Bom, pelo menos eu acho que não.
- E o que falta para você se declarar? – ela indaga bem próxima ao meu rosto.
- Saber se ela me corresponde. – sussurro, e logo ela me beija.
Eu não sabia exatamente o que se passava dentro de mim, mas sabia que era uma sensação boa. Enquanto ela me beijava e acariciava meus ombros, eu segurei seu rosto com as duas mãos, impedindo que ela se afastasse.
Ficamos assim por longos segundos. Não houve língua, nem mesmo alguma “mão boba”, mas foi o suficiente para que eu quisesse mais.
- Eu vou dormir. – ela fala, e vejo suas bochechas coradas. As minhas não devem estar tão diferentes. – Boa noite, .
- Boa noite, . – falo e ela acena, caminhando para o meu quarto em seguida, me deixando parado com um sorriso idiota no rosto e o coração acelerado no peito.
(...)
- VOCÊS SE BEIJARAM? – grita enquanto come um salgadinho que sobrou da festa que fizemos. – DE VERDADE?
- Você pode parar de gritar? – indago, rolando os olhos em seguida. – E sim, nos beijamos.
Passaram-se dois meses desde que ocorreu o meu beijo com , e eu não conseguia parar de pensar na garota, o que complicava ainda mais as coisas.
- E aí? Você gosta dela? – ela indaga, sacudindo meus ombros em seguida.
- Eu acho que gosto, . – falo e ela sorriu, comemorando. – Mas eu acho que não daremos certo juntos. Você sabe o motivo.
- Aquele pai babaca dela não precisa saber disso. – ela fala, colocando suas duas pernas por cima das minhas. – Você vai até ela, se declara. Se der certo, tudo bem. Se não der certo, parte para outra.
- Você fala assim porque já tem o . – falo e ela rola os olhos.
- E você pode ter a , se tomar iniciativa. – fala, comendo outro salgadinho. – Agora, você tem pouco tempo. Pode ser que ela encontre outra pessoa e você fica sem ninguém.
Terminamos de arrumar tudo, e eu fui para casa com pressa. Não passava das onze da noite, e eu suspeitava que estivesse acordada.
: Está acordada?
: Estava indo dormir. Aconteceu algo?
: Eu preciso falar com você amanhã, pode me encontrar? Para almoçarmos?
: Claro. Sabe onde fica o meu restaurante preferido. Encontro-te lá ao meio-dia.
: Não vou me atrasar.
: Você já sabe todo o meu discurso, . Ainda bem que me conhece.
: É, agora, boa noite!
: Boa noite, . Durma bem.
Dormir ficou somente na teoria naquela noite. Enquanto eu virava de um lado para o outro na cama, pensava no que falar para e em como ela reagiria.
Será que ela vai fugir? Será que ela vai falar que não gosta de mim da mesma maneira?
Quando percebi, já estava amanhecendo, e eu não havia sequer cochilado.
Levantei pouco depois, preparando um café da manhã reforçado para que eu não durma durante algum momento do nosso dia.
Enquanto me arrumava para ir, eu repassava em frente a um espelho o meu discurso, que eu tenho toda certeza de que me esquecerei dele.
Saio do meu apartamento após alguns minutos, pegando minha moto na garagem e pilotando até o local onde iríamos nos encontrar.
Cheguei primeiro que , e faltava pouco para dar meio-dia. Escolhi uma mesa, ajeitando o girassol que estava no vaso a cada dois minutos, ansioso para vê-la.
Quando a porta se abre pela quinta vez desde que eu cheguei, ela apareceu. Estava com um vestido florido e sapatilha nos pés, além de estar com seus cabelos soltos. Ela estava linda, e todo o discurso que eu havia feito foi embora.
- Oi, ! – ela exclama quando se aproxima, me abraçando assim que fico de pé. – Eu estava sentindo sua falta esses dias.
- Eu também estava. – falo, dando um sorriso de lado. – Podemos pedir nossa comida?
Ela concordou com a cabeça, acenando para um dos garçons, que logo se aproximou com os cardápios. Pedi a mesma coisa que , além de um suco de abacaxi com hortelã, que era meu favorito.
Enquanto nossos pedidos não chegavam, eu ficava em silêncio, apenas observando as pessoas conversando ao nosso redor. Eu estava ansioso, isso era fato, mas aquilo estava passando dos limites.
- Aconteceu algo? – indaga, segurando minha mão em seguida. Droga, . Você não deveria fazer isso.
- Eu estou bem. Só preciso te contar algo. – falo e ela assente, olhando em meus olhos, como se implorasse para que eu continuasse. – Você se lembra da vez que foi dormir lá em casa?
- Quando terminei com o ? – ela indaga e eu concordei. – O que houve?
- A gente se beijou. E você se lembra, né? – indago novamente, apertando suas mãos com as minhas. – , eu estou gostando de você.
Seus olhos se arregalaram, e logo vejo um sorriso começar a surgir em seu rosto.
- Eu queria fazer um discurso mais bonito, mas nada vem em minha mente. – falo e ela gargalha, arrastando sua cadeira para perto da minha.
- Eu também estou gostando de você. – ela sussurra em meu ouvido, antes de beijar minha bochecha, encostando sua cabeça em meu ombro em seguida.
Ficamos naquela posição por um longo tempo. Eu não sabia como explicar essa sensação, e talvez eu nunca vá saber. Ela entrelaçou nossos dedos, e ali eu percebi como aquela garota era importante para mim.
- Podemos tentar algo? – indago a ela, atraindo a sua atenção após alguns minutos em silêncio.
Ela concordou, beijando meu pescoço e logo se afastando. Nossos pedidos chegam, e o almoço correu como sempre: conversando, rindo de piadas e, no melhor dos melhores, trocando carinhos com a minha nova “namorada”.
Aquilo não poderia ser melhor!
(...)
Apertei a campainha do apartamento de . A música estava alta o suficiente para se ouvir do elevador, a metros de distância dali.
abre a porta. Ele segurava um copo azul escuro e estava pintado com tinta fluorescente, além de uma gravata divertida ao redor de seu pescoço.
Ele cumprimentou , que estava ao meu lado segurando o presente de minha melhor amiga. Logo entro no apartamento, procurando pela aniversariante.
- Vocês vieram! – exclama quando chega perto de nós, abraçando primeiramente. – Eu estou tão feliz por vocês dois, e ansiosa para poder finalmente conhecê-la como “namorada” do .
Enquanto gargalhava, eu abaixava a cabeça. Provavelmente estava ficando alterada, já que ela se dispersou e começou a gritar, correndo para o outro lado da sala, que não estava tão vazia quanto eu achei.
- vai arrumar mais um problema com a síndica. – comentou com , que deu de ombros, fechando a porta do apartamento.
Caminhamos por entre as pessoas, logo encontrando o sofá, que estava vazio. Sentei ali com , e logo começamos a conversar, mesmo que a música que tocava nas caixas de som impedisse qualquer contato.
- Vocês não estão se divertindo? – indaga após se jogar em nosso colo, quase derrubando seu copo de bebida.
- Acho que você deveria parar de beber. – falo, pegando o copo de sua mão. Ela bufou, batendo em meu peito. – Você está bêbada, e a festa não começou direito.
- Você é muito careta, me surpreendo por saber que você tem uma namorada tão legal quanto ela. – fala, se embolando em suas próprias palavras, antes de gargalhar. – É, você é muito careta, .
- Cadê o ? – indago, mudando totalmente o assunto. Ela deu de ombros, girando seus dedos. – Ele precisa te ajudar.
- Ele também bebeu. Acho que nós dois bebemos além da conta. – ela fala, se levantando em seguida. – Eu vou ao banheiro.
E logo ela some do meu campo de visão, me deixando ainda mais preocupado.
- Vai atrás dela. – fala. – Ela está bêbada. Sabe-se lá o que ela pode fazer enquanto está por aí, por mais que seja o apartamento dela.
Sorri, dando um selinho na garota e correndo atrás de , que simplesmente sumiu. Dou dois toques na porta do banheiro que, por sorte, estava destrancada, e abro a mesma, encontrando sentada no chão, encolhida.
- O que houve? – indago quando me sento ao seu lado, e logo ouço um soluço, e percebo que ela chorava. – O que aconteceu, ? Fizeram algo?
- Eu e estamos numa crise. – ela fala, levantando seu rosto após alguns segundos de puro silêncio. – Será que ele não gosta mais de mim?
- Que besteira é essa ? – indago, passando meus polegares abaixo de seus olhos, limpando suas lágrimas e alguns vestígios de sua maquiagem, que estava borrada. – É claro que ele gosta de você.
- Então por que estamos em crise? – ela indaga, fazendo beicinho em seguida.
- Acontece com todos os casais. – falo, puxando-a para um abraço. – Agora, você precisa parar de se preocupar com isso, e aproveitar sua festa.
- Eu acho que já está na hora de todos irem. – ela fala, limpando seu rosto com o papel higiênico que eu peguei.
- Eu acabei de chegar! – exclamo e ela ri.
- Não, você fica já que você já é de casa. – ela fala, e eu suspiro aliviado, fazendo a garota gargalhar.
Ela saiu do banheiro, e eu fui logo atrás. anunciou os parabéns e logo todos se reuniram ao redor de uma mesa com um bolo e alguns copos espalhados. , mesmo um pouco alterado, conseguiu não se queimar, tampouco incendiar o apartamento, permitindo que todos nós pudéssemos cantar.
Após o “Com quem será?”, os convidados se dispersaram. Alguns iam embora, outros ainda permaneciam, para o desespero de , que apenas queria terminar sua noite em paz.
Levou algumas horas para que o apartamento ficasse vazio. Eu estava sentado no chão com , e a mesma bebia um pouco de uísque, enquanto eu bebia algum refrigerante, já que era responsável pela direção.
- Vocês são bonitinhos juntos. – fala se aconchegando no colo de , que lutava contra o sono. – É sempre assim no início de namoro. Vocês vão sempre ficar lembrando-se de datas comemorativas.
- Eu me lembro de todas. – fala, recebendo um olhar de . – Ok, quase todas.
- Você esqueceu o aniversário de dois anos. Eu me lembro disso. – falo, gargalhando em seguida. – ficou tão chateada que não falou com você por duas semanas, e você nem sabia o que tinha feito de errado.
- Nem me lembre disso. – fala, rolando os olhos em seguida. – Bom, eu preciso trabalhar amanhã. Boa noite para vocês.
- Está expulsando a gente? – indago após me levantar, colocando as mãos na cintura.
- Estou. – ela fala, empurrando-me para a porta, arrancando algumas risadas de e , que apenas assistiam aquela cena.
- É assim que você trata uma visita? – indago quando ela abre a porta.
- E desde quando você é visita? Só a é, e daqui a pouco deixa de ser. – ela fala, cruzando os braços em seguida. – Agora é sério, eu preciso dormir.
- Já estamos indo, relaxa. – falo, beijando sua testa em seguida.
se despediu de , vindo em minha direção em seguida.
- Obrigada por me receber. – fala enquanto abraça .
- Obrigada pelo presente, e boa sorte com esse idiota aí. – ela fala, apontando para mim. Rolei os olhos, segurando a mão de .
Logo saímos do apartamento, apertando o botão do elevador. Após alguns minutos, as portas se abrem, e entramos. aperta o botão do térreo, abraçando-me de lado.
- O que acha de assistirmos algum filme? – indago enquanto acaricio seus cabelos.
- Eu adoraria, mas amanhã eu tenho uma reunião importante e não posso dormir tarde, amor. – ela fala, e logo vejo seu rosto corado. – Desculpe.
- Não, tudo bem. Estava realmente esperando você falar isso. – falo, segurando seu queixo. Ela sorriu, e logo a beijo, deixando de lado toda dúvida possível de que eu realmente gostava daquela garota.
E, por mais que ela tenha falado disso, sabia que ali ela retribuía.
(...)
Estendi a toalha no gramado do parque. segurava uma cesta, enquanto segurava a outra.
Passaram-se algumas semanas, que originaram meses, desde o aniversário de . Desde então, ela não vinha falando mais nada sobre a crise em seu relacionamento, e eu sabia que eles estavam bem melhor. Bom, pelo menos eu suspeitava.
sentou-se ao meu lado, abrindo a cesta de sanduíches, enquanto abria a de bebidas, distribuindo algumas latinhas de suco e refrigerante entre nós quatro.
- Espero que nenhuma formiga pegue algum pedaço do meu sanduíche. – diz enquanto abre o papel, nos fazendo gargalhar.
- Você quer ir para a mesa de piquenique? – indaga antes de me entregar um sanduíche.
- Esse aí faz muito drama, . Só ignora. – diz, beijando a bochecha do namorado, que gargalhou logo após rolar os olhos.
- É assim que você trata seu namorado? – indaga, fingindo estar irritado, fazendo gargalhar.
- Desculpa, amor. – ela fala, dando um selinho nele em seguida.
E toda aquela cena me fez sorrir, mesmo que minimamente.
Enquanto alternávamos entre comer, rir, namorar e brincar, fico agarrado a durante todo o tempo.
- Nunca me diverti tanto. – diz enquanto o outro casal caminha para a barraca de pipoca que estava a poucos metros de distância.
- Eles realmente gostaram de você. – falo, brincando com seu cabelo.
- Só eles? – ela indaga, fazendo beicinho em seguida.
- Você sabe que não. – falo, dando um selinho nela.
- Eu vou sentir sua falta nessa viagem. – ela sussurra como se estivesse contando um segredo, escondendo seu rosto no meu pescoço.
Como era presidente da empresa de seu pai, tinha que fazer algumas viagens a negócio. Aquela seria sua primeira desde que começamos a namorar.
- Você pode me ligar. – falo, agarrando seu dedo. – Você sabe onde me encontrar quando quiser.
- É, eu sei. – ela fala, beijando minha bochecha em seguida.
Nos endireitamos quando o casal se aproxima. Ficamos conversando por mais algumas horas, até que escurecesse, e precisava ir para sua casa para viajar amanhã, pela manhã.
- Quando chegar por lá, me avisa, ok? – indago quando paro na esquina de sua casa. Era uma regra nossa, afinal, seu pai nem desconfiava de que estejamos juntos.
- Aviso. – ela fala, beijando-me mais uma vez, antes de me entregar o capacete e caminhar rapidamente para sua casa, sumindo do meu campo de visão logo em seguida.
Retornei para meu prédio, que não era tão distante dali. Cheguei, colocando a moto na garagem e indo para o térreo, cumprimentando o porteiro, que assistia a algum jornal que passava naquele horário.
Assim que abro a porta de meu apartamento, vejo sentada no meu sofá. Ela segurava Tarzan, e estava com o rosto vermelho.
- O que aconteceu? – indago, fechando a porta e caminhando em sua direção.
- O ... – ela começa, retornando a chorar logo em seguida. – Ele... Ele...
- O que ele fez? – indago, segurando suas duas mãos.
- Ele tem outra. – ela murmura, e logo se joga em meus braços, chorando por longos minutos, em silêncio. – Eu descobri hoje, pela tarde.
- Como ele tem coragem? – indago, acariciando os cabelos da garota. – E vocês terminaram?
- É quase que óbvio que sim. – ela fala, apoiando sua cabeça em meu ombro. – E depois de tudo o que passamos...
- Eu queria realmente quebrar a cara dele. – falo, arrancando uma risada fraca da garota. – Ele é um babaca, e não merece minha amizade.
- Vocês se conhecem há mais tempo. Eu não deveria estar aqui, mas você é meu único amigo. – ela fala, olhando em meus olhos por um longo tempo.
Eu não sabia se estava ficando louco, ou se estava realmente muito bonita. Seu rosto estava corado, e mesmo que fosse por causa das lágrimas que soltara pelo antigo namorado, ela continuava bonita.
- Você sabe que sempre poderá contar comigo, . Sempre. – falo, beijando sua testa em seguida.
- Se tudo tivesse sido diferente. – ela sussurra, abaixando a cabeça em seguida. – Se não estivéssemos juntos...
- Eu não iria conhecê-la. E isso é bom, não é? Há males que vem para o bem. – falo e ela sorriu de lado, concordando com a cabeça.
ficou ali comigo por um longo tempo, apenas desabafando, abraçada comigo durante toda nossa conversa, enquanto derramava suas lágrimas. Ela foi embora de Uber, mesmo depois de importuná-la falando que a levaria até sua casa, mas recusou mesmo assim.
Fui dormir com a imagem de gargalhando de alguma coisa que eu disse, esquecendo totalmente de responder , ou simplesmente de mandar uma mensagem de boa noite.
(...)
abriu a garrafa de vinho na mesa, enquanto eu pegava a comida tailandesa que encomendei para a noite. Nosso sexto aniversário. Seis meses desde que eu percebi que gosto realmente dessa garota.
Se passaram meses desde o término de e . O mesmo nunca mais veio falar comigo, sabendo que eu poderia lhe dar um sermão. e eu estávamos grudados, vivíamos um na casa do outro, e, de vez em sempre, nos encontrávamos no trabalho. Ela conseguiu retomar os estudos, e estava indo para o penúltimo semestre do curso de Psicologia, e estava cada vez mais evidente que o término a fez bem.
Enquanto eu servia a comida, ouço meu telefone tocar no balcão da cozinha. , que estava por perto, pegou e leu o nome, fazendo uma careta.
- É a . – ela fala, entregando-me o aparelho.
Arqueei uma sobrancelha, confuso, e atendi a ligação.
- ...
- O que houve? – indago, colocando a marmita com comida por cima da mesa.
- Eu preciso de você.
E ela logo encerra a ligação, deixando-me confuso. O que ela quis dizer com aquilo?
- O que ela disse? – indaga, terminando de colocar a comida nos pratos.
- Ela disse que precisa de mim. – falo, suspirando em seguida. – ...
- , você gosta dela. – ela falou, sorrindo de lado.
- Do que você está falando? – indago, segurando a mão de .
- Nos conhecemos há quase um ano, e você nunca percebeu como você muda perto dela? – ela indaga, arqueando as sobrancelhas. – E você precisou entrar em um relacionamento para perceber.
- , eu não...
- , por favor, eu já sabia disso. – ela fala, dando de ombros. – Eu gosto de você, mas sei que você gosta dela.
- Eu não gosto dela. – falo novamente, e ela bufa.
pegou sua bolsa no sofá, vindo em minha direção, segurando meu rosto com as duas mãos, me obrigando a olhar em seus olhos.
- Eu não quero que você desperdice uma chance como essa. é uma garota incrível, e você sabe disso. Eu fico feliz em saber que você gosta dela. – ela fala, beijando minhas bochechas. – Só não quero que você a deixe ir. Você precisa tomar coragem.
E logo que ela sai do meu apartamento, estava na porta. sorriu para mim, dando uma piscadela e sumindo do meu campo de visão em seguida.
- O que aconteceu? – ela indaga, apontando para .
- Você está com fome? – indago, e ela sorri, assentindo e entrando no apartamento, fechando a porta em seguida.
- Você pediu comida tailandesa? – ela indaga, sorrindo abertamente em seguida. – Não acredito que você esqueceu que não pode comer Satay, já que é alérgica a amendoim, e a comida leva molho de amendoim.
- Ela quis terminar comigo. – falo, colocando vinho na sua taça. – E eu estou bem com isso.
- Nenhuma vontade de chorar? – indaga, bebericando o vinho.
- Talvez eu queira beber mais vinhos do que o habitual. – falo, arrancando uma gargalhada da garota.
Comemos em meio a risadas e algumas piadas toscas de minha parte, além de muito vinho.
- Você montou sua árvore de natal? – indaga, caminhando para perto do pequeno pinheiro encostado na parede da sala, que estava enfeitado com bolas e luzes coloridas. – Eu ainda não montei a minha.
- Essa pode ser a nossa. – falo, abraçando-a por trás.
se vira, sorrindo e apertando a ponta do meu nariz.
Ali, com a luz da sala desligada, e somente a luz do poste da rua iluminando, percebi como ela ficava bonita. Suas bochechas coradas pelo vinho, seus lábios avermelhados pela bebida, além de seus olhos estarem com um brilho diferente do habitual.
Antes que ela pudesse se afastar, agarrei sua cintura, beijando-a em seguida. Suas mãos, antes em meus ombros, foram parar em minha nuca, puxando-me para mais perto possível de seu corpo, mesmo eu achando impossível.
Ficamos assim por um tempo, e não passava na minha mente o quão errado aquilo poderia ser. Só passava como aquilo era bom, e como eu queria repetir quantas vezes fosse preciso para confirmar.
- Eu preciso ir embora. – fala num tom de voz contido, embolando-se em suas próprias palavras. Antes que eu pudesse segurar sua mão e impedi-la, ela se solta, olhando em meus olhos e negando com a cabeça. – , por favor, não...
E ela pega sua bolsa, saindo de meu apartamento em seguida, deixando-me parado no meio da sala, junto de um sorriso idiota nos lábios.
Ah, não!
(...)
Três semanas se passaram desde aquilo, e eu não conseguia parar de pensar naquele beijo. Aquilo estava sendo diferente do que com , que foi mais por uma atração física. Com , tudo sentia sua falta.
Era noite de Ano-Novo. Teríamos que trabalhar numa festa de uma empresa. Era a primeira vez que eu a via desde o nosso beijo, e desde que tudo ao nosso redor mudou.
Durante todo o evento, foi inevitável não querer encontrar com ela, mesmo que ela se fizesse de desentendida. Esbarrava nela de vez em quando, segurava sua mão por alguns segundos, mas nada que fosse adiante. E eu precisava conversar com ela.
- Cadê ? – indago a Leia, uma das garçonetes que trabalhava conosco.
- Ela saiu. – ela diz, dando de ombros em seguida. – Disse que ia para o aeroporto, estava atrasada para um voo.
Arregalei os olhos, soltando meu avental e largando o mesmo numa cadeira.
- , o que você está fazendo? – a mulher indaga, cruzando seus braços. – Se você for embora por essa porta, saiba que está demitido.
- Ok, obrigado. – falo, abrindo a porta de vidro, correndo para o elevador.
Apertei freneticamente o botão de descer; minutos depois, as portas se abrem, e eu entro, apertando o botão do térreo. Quando as portas se abrem novamente, corro pelo saguão, esbarrando nas pessoas e pedindo desculpas.
Não sei quantas multas eram suficientes para tirarem minha carteira de motorista, mas, naquele momento, eu corria esse risco. Atravessei diversos sinais vermelhos, apenas esperando poder chegar a tempo no aeroporto e falar com , mesmo sabendo que ela não me ouviria.
Quando cheguei, estacionei de qualquer jeito, esperando que ninguém a roubasse ou fizesse alguma coisa do tipo. E, se fizessem, eu não estava me importando tanto quanto eu pensava que estaria. Não naquele momento.
Corri por todo o aeroporto, procurando pela fisionomia conhecida de . O aeroporto não estava tão cheio, afinal, era noite de Ano-Novo, e faltavam poucos minutos para meia-noite.
Estava subindo num dos bancos, quando a vejo. Ela segurava sua mochila, olhando para o painel de horários e roendo a unha do dedo indicador. Suspirei aliviado, correndo em sua direção em seguida.
- O que você faz aqui? – ela indaga assim que apareço na sua frente.
- O que você acha que está fazendo, ? – indago, tentando recompor minha respiração. – Você não pode fugir de mim eternamente.
- E por que pensa que estou fugindo? – ela indaga, dando de ombros em seguida.
- Então por que me evita tanto? – indago, dando um passo em sua direção, e ela recuou. – E por que não posso chegar perto de você?
- ... – ela começa, suspirando em seguida. – Você estava carente, e eu bebi demais.
- , eu levei quase um ano para perceber o quanto eu realmente gosto de você. – falo, segurando uma de suas mãos. – Eu tive que namorar outra pessoa para saber que, durante todo esse tempo, a pessoa ideal para mim estava bem ao meu lado.
- E por que acha que eu sou ideal para você? – ela indaga, fazendo uma careta.
- Porque eu sei que não viveria sem você. – falo, segurando sua cintura, puxando-a para um beijo.
Deus, como eu gostava dessa garota!
- Por favor, não vá embora. – falo e ela gargalha.
- Eu não vou embora. – ela fala, colocando as mãos em meus ombros. – Eu vim buscar a minha irmã mais nova, Margot, para passar o réveillon comigo, mas os vôos atrasaram, e ela chegou só agora.
- Então você não vai embora? – indago, vendo a garota negar, soltando uma gargalhada em seguida.
- Eu vou ficar aqui, com ou sem você. – fala, me fazendo sorrir.
- Eu prefiro que fique comigo. – falo, beijando a sua testa em seguida.
- Eu também prefiro. – ela sussurra, antes de me beijar novamente.
Separamo-nos quando ouço alguém pigarrear, e vejo uma garota que era um pouco parecida com . Usava as roupas coloridas demais, e tinha um headphone no pescoço, além de um iPod nas mãos.
- Que nojo! – a garota exclama, fazendo uma careta, antes de abraçar a irmã. – Feliz Ano-Novo, maninha.
- Já é meia-noite? – indago, ouvindo a risada de .
- Sim, você passou sua virada de ano comigo. – ela fala após se afastar da irmã.
- Como se eu não quisesse. – falo, pegando uma mala da mais nova.
- Eu tenho uma pergunta. – começa enquanto caminhamos de mãos dadas pelo aeroporto. – Como você saiu da festa se ela nem terminou?
- Podemos dizer que eu não trabalho mais. – falo, dando de ombros em seguida.
- E isso tudo por minha causa? – ela indaga com um sorriso no rosto.
- Eu faria qualquer coisa para impedir sua falsa viagem. – falo e ela gargalha, beijando minha bochecha.
- Você é incrível, ! – exclama, antes de se soltar e ir para o lado da irmã mais nova.
É, eu realmente gostava daquela garota.
Eu estava enchendo a penúltima taça de champanhe. colocava os canapés corretamente em seus guardanapos, evitando sujar suas mãos com tudo aquilo.
Quando estou virando para voltar a circular pelo salão, esbarro com tudo, derrubando as taças no chão além de, é claro, a bandeja, atraindo a atenção de todos que estavam ali.
Eu não sabia onde enfiar a cara. Eu não sabia como agir, além de pegar a barra de meu avental e tentar, ao máximo, evitar um dano maior.
- Pode deixar. – ela resmunga, dando um sorriso aberto, olhando para seu próprio vestido.
Nem todas as festas do mundo seriam capazes de me fazer pagar pela lavagem daquela roupa! Não mesmo!
- Eu sinto muito. – repito essa frase pela milionésima vez em menos de cinco minutos, evitando tocar demais em seu corpo.
- O que está acontecendo? – ouço indagar quando se aproxima. – O que você fez?
- Ele não fez nada de errado. – a garota diz, passando as mãos na área molhada.
- Eu posso te pagar cada centavo. – falo, implorando para que ela não fizesse algum escândalo.
- Não precisa. Eu já precisava jogá-lo fora de qualquer jeito. E você me ajudou. – ela fala, mandando uma piscadela em seguida.
Eu não sabia se eu estava ficando louco, ou se aquela garota era realmente tão bonita daquele jeito. Não que eu esteja acostumado a ver garotas, pois o meu grau de proximidade era , que namorava meu melhor amigo, mas ela era bonita demais. Não sabia se era sua maquiagem, ou a luz daquele salão. Eu não saberia explicar nem o que vi e tampouco o que senti.
- Vai atrás dela. – sussurra em meu ouvido, enquanto alguém limpava e tirava os cacos de vidro espalhados pelo chão. – Você fez uma cara de idiota quando ela estava aqui.
- Não fiz não. – falo, fazendo uma careta em seguida. – Precisamos trabalhar, esqueceu?
concorda, me arrastando para dentro da cozinha. Ali eu permaneço até o fim da festa, ouvindo somente o discurso que o anfitrião fazia, mesmo que do lado de dentro de um cubículo quente e apertado.
Estava varrendo o chão, quando vejo aquela garota novamente. Ela estava sentada nas cadeiras. Segurava sua bolsa e seu celular, mexendo atentamente nele, dispersa de qualquer movimentação que havia ao seu redor.
Caminhei, tirando qualquer vestígio de sujeira do chão, tentando não me aproximar da garota, que ainda não havia notado que eu estava ali.
- Ah, oi! – ela fala, acenando e sorrindo ao mesmo tempo. Senti minhas bochechas esquentarem e acenei, derrubando a vassoura em seguida. – Tudo bem?
- Eu sinto muito. Eu sou bem desastrado. – falo e ela ri, assentindo com a cabeça. – Mas nem sempre eu sou assim. Só para sua informação.
- Acredito. – ela fala, jogando seus cabelos para trás. Eu senti meu coração dar uma leve acelerada, me fazendo suspirar. – Você deve estar cansado.
- Eu estou acostumado. – falo, pegando a vassoura do chão em seguida. Ela se levanta, vindo em minha direção, pegando o pedaço de madeira de minha mão. – O quê?
- Eu posso fazer isso. – ela diz, me empurrando com a vassoura.
- É o meu trabalho. – falo e ela rola os olhos.
- A festa já acabou. – ela fala, rindo em seguida.
- Nós só saímos daqui depois de tudo limpo. Ordens do chefe. – falo e ela bufou, varrendo em seguida.
Por que ela estava fazendo isso? Por que ela estava sendo tão legal comigo? Aquelas perguntas rondavam minha cabeça.
- ! – ouvimos a voz de alguém chamar, e logo percebo que era o Stephen, anfitrião e dono da empresa. – O que está fazendo?
- Eu só estou varrendo o chão. – ela diz, dando de ombros em seguida.
- Deixe para esse garçom fazer. Ele é pago para isso. – ele diz, e ouço bufar ao meu lado. – Estamos indo. Venha.
- Eu já vou, pode ir à frente. – ela diz e ele hesita, mas logo caminha para fora daquele salão, me deixando sozinho com a garota. – Me desculpe por ele.
- Tudo bem, já estou acostumado. – falo, dando de ombros em seguida.
- Mas não deveria, sabe disso, né? – ela indaga retoricamente, tocando meu ombro em seguida. – Bom, eu preciso ir.
- Adeus. – falo, acenando para ela, que rolou os olhos.
- Você pode me passar seu número? – ela indaga após ficar alguns longos segundos de costas para mim. Concordei, pegando um pedaço do guardanapo limpo em cima da mesa, pegando a caneta que estava em meu bolso, anotando ali o meu telefone. – Obrigada...
- . E até, . – falo e ela concorda, acenando e sumindo do meu campo de visão.
Depois de alguns minutos olhando para a porta do elevador, percebo que fui um idiota, já que não tinha seu número para contatá-la.
- Droga! – resmungo, pegando a vassoura que estava encostada na parede e voltando a limpar o salão, enquanto todos os outros guardavam as louças e os seus pertences.
- Você conseguiu falar com ela? – indaga assim que entra no salão, carregando a minha mochila e a dela nos ombros.
- Por pouco tempo. – falo, vendo minha amiga suspirar. – E já podemos ir? Estou tão cansado.
- Vamos. – ela diz, segurando minha mão e apertando o botão do elevador, que logo apareceu no andar.
Eu não lembrava como foi o restante do caminho, já que minha mente estava focada em somente uma pessoa e no sorriso que ela me deu, mesmo que por poucos segundos.
(...)
Abri a porta do bar, e logo entrou, agarrando sua jaqueta de couro marrom contra seu corpo. O tempo havia fechado, e estava muito frio do lado de fora. Era perfeito para permanecer em casa, mas a garota era o total oposto disso, e me chamou para ir a um bar, numa quarta-feira, para assistir a banda de seu melhor amigo. Quão louco isso é, pensando que, há duas semanas, estávamos agindo como dois desconhecidos?
Sentamos numa das mesas que estavam reservadas. Ela avisou que todos os seus amigos viriam, e a mesa ficaria mais apertada. Não sabia se isso era um aviso para jamais, em alguma hipótese, me aproximar dela, ou para permanecer ao seu lado e vê-la me apresentar para sua lista de amizades.
Depois que todos chegaram – ao todo, dez pessoas –, o show começa. Eles tocavam diversos tipos de música, indo do inglês ao português, do rock ao samba. Segurei sua mão durante duas músicas, o que foi o suficiente para que eu permanecesse feito um idiota durante uma boa parte da noite.
- Você foi garçom da festa da empresa? – Loren, uma das amigas de , indaga, colocando uma batata frita em sua boca.
- Ele que detonou o meu vestido. – diz, apoiando sua mão em meu ombro.
- O seu preferido? – Jack, o vocalista da banda e melhor amigo de , indaga, virando uma latinha de refrigerante.
Era muito louco pensar que, sendo vocalista de uma banda que toca num bar durante a noite, ele não bebe álcool. Nem um pouco.
- Ele era seu preferido? Você disse que iria jogar fora. – falo e ela abaixou o rosto.
- Eu só falei para você não ficar preocupado. – ela fala, acariciando minha mão com o seu polegar.
- Agora eu fico preocupado. Você jogou fora um vestido por um descuido meu. – falo e ela suspirou, pegando uma batata e colocando em sua boca.
- Eu vou pegar mais refrigerante. – Loren diz, levantando-se junto de Jack, me deixando sozinho com , que evitava me olhar ou falar algo.
- Você está bem? – indago e ela concordou.
- Você ficou bravo comigo? – ela indaga, olhando em meus olhos após um longo tempo. E aquilo me fez sentir o coração apertado dentro de meu peito.
- Não. Eu não fiquei. – falo, vendo um sorriso surgir em seu rosto em seguida. – Eu só não quero que minta, ok? Sem mentiras entre nós dois.
- Sem mentiras a partir de agora, . – ela fala, beijando minha bochecha em seguida. – Desculpe.
Gargalhei, beijando a sua bochecha em seguida. Ficamos nos encarando por longos segundos, até que os dois amigos apareceram novamente, acabando totalmente com nossa troca de olhares. Mas, mesmo assim, eu ainda sentia minhas bochechas ruborizadas, e sabia que as dela também estavam assim.
O restante da noite foi divertido. Após algumas horas, ficamos ali cantando no karaokê, que, por sinal, ficava lotado.
- Eu preciso ir embora, tenho que trabalhar amanhã. – falo, abrindo a minha carteira, que estava no bolso do casaco. – Foi um prazer conhecer todos vocês.
- Foi um prazer conhecê-lo também, . – Loren diz, apertando minha mão em seguida. – Apareça mais vezes. Iremos adorar ter você como companhia.
- Idem. – Jack diz, me fazendo sorrir e concordar, deixando algumas notas em cima da mesa.
Caminhei para o lado de fora do bar, e, antes que eu pudesse colocar meu capacete para ir de moto, a porta do bar se abre, e vejo ali, parada, de braços cruzados e me olhando.
- O que houve? – indago, deixando o capacete no banco.
- Você não vai se despedir de mim? – ela indaga, fazendo beicinho.
Às vezes, eu achava que tinha apenas treze anos, e não vinte e cinco.
- Iremos nos ver amanhã, esqueceu, presidente? – indago, ouvindo-a gargalhar.
- Mas mesmo assim. – ela fala, mordendo os lábios em seguida. E, mesmo com todo o frio que fazia ali fora, aquilo fez meu corpo aquecer, mesmo que eu estivesse sentindo frio com aquele moletom.
caminhou em minha direção, beijando minha bochecha em seguida. Beijei a sua, colocando o capacete e sentando na moto, acenando e logo saindo dali.
Quando chego a meu apartamento, coloco meu capacete no sofá, deitando no mesmo e pegando meu celular no bolso, abrindo o aplicativo de mensagens.
: Festa de amanhã foi cancelada e sem nenhuma justificativa. Será que tem a ver com você estar com a filha do patrão?
: Nós somos somente amigos, e nada além. E depois eu descubro o verdadeiro motivo.
parou de me responder, e eu fui ver as mensagens de , olhando as fotos que ela me enviou.
: Espero que já esteja em casa. Precisamos conversar.
: É sobre a festa? Já fui informado.
: Sim, mas eu preciso te contar o motivo. Pode ser pessoalmente?
: Amanhã?
: No restaurante perto do escritório ao meio-dia em ponto. Não se atrase, só tenho uma hora de almoço.
Aquelas mensagens me fizeram ficar nervoso. Será que o motivo para tudo isso era minha aproximação com ?
Deixei de lado, indo para meu quarto trocar de roupa, deitando e dormindo logo em seguida.
(...)
Chego ao restaurante pouco antes do meio-dia, sentando numa mesa que ficava bem no canto, escondido de olhares curiosos dos funcionários de , ou até mesmo de seu pai, que costumava vir à empresa alguns dias.
Pedi por uma água, olhando para o celular de dois em dois segundos, esperando por alguma mensagem ou ligação de , porém nada vinha.
Até que a porta se abre, e ela aparece. Era a primeira vez que a via na roupa de trabalho, e ela ficava extremamente bonita nela, mesmo que ela já soubesse disso.
- Você é bem pontual. – ela diz, puxando uma cadeira a minha frente, sentando-se em seguida. – Preciso falar com você.
- Tem algo a ver comigo o motivo do cancelamento? – indago, tentando não render o assunto.
- Em partes, sim. – ela fala, suspirando em seguida. – Alguém enviou fotos nossas ontem à noite para o papai, que surtou quando cheguei a casa. Agora ele acha que estamos juntos, e isso irá denegrir a imagem da empresa.
- Por que ele pensa algo desse tipo? – indago, acabando com a garrafinha de água em segundos.
- Meu pai tem um pensamento retrógrado, do qual ele acha que só devo ter relacionamentos com alguém... bom, alguém rico. – ela fala num tom de voz contido, como se não quisesse chamar a atenção dos poucos clientes ao nosso redor.
- E você concorda com isso? – indago, segurando sua mão em seguida.
- Claro que não, . – diz, rolando os olhos em seguida. – Eu só não quero prejudicar você. Mas iremos nos encontrar outras vezes. Você irá se cansar de mim.
- Impossível. – falo, fazendo a garota corar em seguida. – Eu preciso ir. Você vai ficar bem?
- Claro que irei. – ela fala, sorrindo em seguida. Beijei sua bochecha, e ela retribuiu, e eu saí do restaurante em seguida.
Aquelas palavras de fez meu estômago ficar embrulhado. Que tipo de pessoa tem esse tipo de pensamento? Infelizmente, o pai de .
Sabia que ela queria amenizar tudo. Sabia que ela preferia não me magoar, mas aquilo me deixava nervoso.
Passei no supermercado, comprando algumas cervejas, enviando uma mensagem para , avisando que passaria lá em cinco minutos, além de falar das bebidas que eu estava levando.
Quando toco a campainha de seu apartamento, , namorado dela, abre a porta. Ele me abraçou, pegando a sacola de minhas mãos.
- está na cozinha fazendo pipoca. – ele fala, colocando as garrafas na mesa de centro.
- Olá, ! – exclamo da porta, acenando com a cabeça. Ela sorri, acenando com as mãos. – Pipoca combina com cerveja?
- Eu não vou beber, . – ela fala, virando a panela num recipiente plástico. – Reunião de família mais tarde.
- Que droga. Mas, se quiser uma carona, pode me falar. – falo e ela nega, apontando para . – Então eu vim ficar de vela?
- Sua namoradinha está no trabalho. – ela diz, rindo em seguida.
- Ela não é minha namoradinha. – falo, fazendo uma careta em seguida. – Somos amigos.
- Que seja, vocês se gostam. – ela fala, caminhando para o outro cômodo em seguida.
A segui, sentando no chão em seguida, ouvindo falar que não poderia derramar nenhum milho de pipoca no tapete, já que ele era muito difícil de limpar e ela sempre precisava mandar lavar, já que não tinha muita paciência.
colocou num filme qualquer, e eu não conseguia prestar atenção, por mais que eu quisesse. Minha mente viajava para a conversa que eu tive mais cedo com , e em como ela ficava bonita naquela roupa, não necessariamente nessa ordem.
Saio do apartamento quase sete da noite, já que os dois tinham que sair. Quando chego, vou para a cozinha, procurando alguma coisa para cozinhar e me alimentar, afinal, pipoca não alimentava ninguém.
Fiz um macarrão com queijo e comi sozinho enquanto assistia The Simpsons, percebendo como eu estava entediado ali. Eu precisava realmente de uma companhia.
(...)
Três semanas se passaram desde o dia da minha conversa com . Desde então, não nos encontramos, mas conversamos quase todos os dias, já que eu estava trabalhando demais como garçom e ela como presidente de sua empresa. Era louco pensar que a mulher que eu conhecia fora daquele império era totalmente diferente da que ela era dentro de tudo aquilo.
Acordo com a campainha de meu apartamento. Era sábado, dia do meu aniversário, mesmo que eu não gostasse de comemorar muito. Mamãe me ligou meia-noite em ponto, como era nosso costume, e cantamos parabéns. Era quase uma tradição nossa e todos os anos fazíamos desde que me mudei.
Calcei meus chinelos, colocando minha calça de moletom e saindo do quarto em seguida. O vento frio da janela quebrada da sala me fez tremer, além de praguejar mentalmente. Não deveria ter levantado sem uma blusa.
Abro a porta, vendo e , a mesma segurava um cachorrinho com um laço rosa no pescoço.
- Feliz aniversário, que tudo esteja azul. Você é gente fina, bacana pra chuchu. – eles cantam, entrando em meu apartamento em seguida.
- O que é isso? – indago quando coloca o cachorro em meu colo.
- É seu presente. Adotamos essa manhã. Pensamos que ele combinaria com essa zona que você chama de apartamento. – ela fala, sendo abraçada de lado pelo namorado. – Vai, escolhe um nome. Mas tem que combinar.
- Pensem num nome, já que eu sou péssimo nisso. – falo, entregando para .
- Eu tenho pena dos seus filhos. – diz, me fazendo gargalhar.
- Filhos? Nem pensar. – falo, pegando uma banana na fruteira, voltando para a sala em seguida.
- Ah, eu sou louca para ter. No máximo dois filhos. – fala, suspirando em seguida. – Mas, para isso, preciso me formar na faculdade, o que está difícil.
- Por isso mesmo. Não quero dar uma vida miserável para meus filhos. – falo e ela rola os olhos. – E você acha que eu estou mentindo?
- Se você parasse de ser tão orgulhoso e voltasse a falar com seu pai, estaria formado. – fala novamente, me fazendo rolar os olhos. – Tudo bem, nada desse assunto.
- Agradeço. – falo.
- Que tal Tarzan? – indaga, chamando nossa atenção. – Ele me lembra um pouco.
- Esse é meu filme favorito. – falo, dando de ombros em seguida. – Então esse será o nome.
- Sua namoradinha vem hoje? – minha amiga indaga, sentando no sofá em seguida.
- Não sei. Estamos sem nos falar desde anteontem. – falo, pegando o filhote de seu colo, colocando em minhas pernas.
- Quanto tempo! – exclama, me fazendo gargalhar junto de .
Antes que eu pudesse retrucar, ouço a campainha tocar, me obrigando a levantar com o filhote em meu colo, caminhando até a porta, abrindo a mesma em seguida.
O susto que levei ao ver , Jack e Loren parados na porta de meu apartamento, carregando algumas cervejas e vodcas. Dei um sorriso ao olhar para , que logo retribuiu, entrando no apartamento em seguida.
- Eu não sabia que viriam. – falo para a garota enquanto fecho a porta, colocando Tarzan no chão. – Esses são e , meus melhores amigos. Gente, esses são: Jack, e Loren.
- É um prazer conhecer os amigos de . – diz, cumprimentando o casal que permanecia sentado no sofá. – E nós viemos mais cedo, pois tenho compromisso mais tarde. E fugi rapidinho de casa para vir até aqui te desejar feliz aniversário.
- Obrigado. – falo enquanto ela me abraça, e eu sinto meu coração acelerar, algo que estava virando rotina na minha vida.
Enquanto eu ajeitava o espaço, ligava para algum lugar que pudesse entregar comida àquela hora do dia. brincava com Tarzan, completamente distraída de tudo o que acontecia ao nosso redor.
- Confesso que eu quase peguei esse cachorrinho pra mim quando o vi. – diz, mexendo nas patinhas dele. – Mas era pra ser um presente seu.
- Você pode vir visitá-lo de vez em quando. – falo, bagunçando os cabelos da garota, que bateu em minha coxa logo em seguida.
- Você sabe que eu viria mesmo sem algum tipo de convite. – ela grita enquanto me afasto, caminhando para perto de , que observava algumas fotos penduradas na parede da sala de estar.
- Esse é você? – ela indaga, colocando a garrafa de cerveja em cima da caixa de som, apontando para a foto em seguida.
Era uma foto minha quando eu tinha sete anos. estava do meu lado, e estávamos sujos de lama, depois de uma brincadeira divertida na fazenda de meu pai.
- Você não mudou muito. – ela comenta, me fazendo rir. – De verdade!
Fico olhando em seus olhos por longos segundos, até que o barulho da campainha corta totalmente o clima, me fazendo caminhar até a porta e abri-la, vendo meu melhor amigo junto de diversas porções de comida.
- Eu esqueci a chave. – ele fala enquanto coloca as comidas na mesa de centro. – Podem se servir.
Todos se aproximaram rapidamente, pegando algumas porções de frango frito e batata frita.
- Deixa o Tarzan aí e vem comer, . – falo para minha amiga, que bufa, pedindo silêncio. – O que houve?
- Ele está dormindo. – ela resmunga, me fazendo gargalhar. – E eu já estava indo.
Ela logo se levanta do chão, caminhando em direção a mesa de centro, pegando além de frango, uma garrafa de cerveja.
- Uma da tarde e todos nós bebendo. – diz, fazendo gargalhar ao seu lado. – Tudo isso por causa de uma garota, .
- Depois fala que não gosta dela. – resmunga, me fazendo bufar.
- Eu já disse que não. – falo, sentindo que estava mentindo para mim mesmo.
Era quase óbvio que eu sentia alguma coisa por , mesmo que seja uma atração física. Ela era bonita demais, e inteligente, e me fazia perder nas minhas próprias palavras de vez em quando.
Droga, eu realmente estou gostando dela.
(...)
Abro a porta de meu apartamento e aparece. Estava com a roupa molhada por causa da chuva, e estava com toda sua maquiagem borrada.
Ela me abraçou, e eu não me importei em ficar molhado. E ali ela começou a chorar até soluçar, apertando-me entre seus braços.
- Se acalma. – sussurro, acariciando seus cabelos molhados.
- Eu posso passar a noite aqui, com você? – ela indaga. – Eu só não quero olhar para ele. Não de novo.
- Eu posso ir lá brigar com ele, se quiser. – falo, fechando a porta em seguida, trancando a mesma. – Sabe que eu sou forte.
- é perigoso demais para você se meter, . Ele é conhecido, qualquer coisinha você terá seu nome manchado em todos os cantos dessa cidade. E isso é tudo que eu não quero. – ela fala, passando as mãos nos olhos.
- Eu vou pegar uma roupa seca para você. – falo, mudando o assunto de repente. Ela concorda, caminhando para perto de Tarzan, que fez uma festa ao vê-la. Ele realmente a adorava.
Caminho para meu quarto, pegando uma muda de roupas para e para mim. Troquei ali mesmo, indo para a sala e encontrando-a sentada numa das cadeiras na sala de jantar.
- O banheiro é no fim do corredor. Sinta-se à vontade para tomar um banho, se quiser. – falo, sorrindo simpático em seguida.
- Está me chamando de fedorenta? – ela indaga, colocando as mãos na cintura, me fazendo corar. – Estou apenas brincando, . Relaxa.
- Eu vou cozinhar alguma coisa para nós dois. – falo e ela concorda, caminhando em direção ao banheiro em seguida.
Enquanto ela tomava um banho, eu olhava para meu estoque limitado de comida na geladeira e no congelador, avistando alguns hambúrgueres para fritar. Resolvi fazer sanduíches, e o tempo que ela levou no banheiro me deixou preparar tudo.
- Eu estou realmente com fome. – ela aparece na cozinha com uma toalha na cabeça, escondendo seus braços por dentro da blusa. – Obrigada.
- Você quer contar sobre o acontecido agora ou depois? – indago indo direto para o assunto, o que a fez suspirar e apoiar sua mão na bancada, tocando meus dedos.
- Eu e namoramos desde o colégio. Nossos pais se adoram, e nosso namoro só serviu como um pontapé inicial para uma parceria entre eles, que montaram o escritório no centro. Acontece que eu fui nomeada presidente, já que meu pai é o sócio majoritário, e o é o vice. E tudo estava bem, até que tudo mudou entre nós dois. Ele não falava comigo durante dias, simplesmente aparecia quando queria algo. Algumas amigas em comum me contavam que ele estava saindo tarde do trabalho, mas eu sabia que não era. Sabia que ele estava me traindo, e tive a confirmação hoje, quando fui visitá-lo no escritório de advocacia que ele construiu. Por mais que eu não sinta absolutamente nada por ele, ainda me sinto mal. Eu não gostaria que as coisas terminassem assim. – ela fala, suspirando em seguida. – Nós tínhamos nossas vidas planejadas. Era quase certo que ficássemos juntos para sempre.
- Você vai encontrar uma pessoa que possa te fazer mais feliz. – falo, tocando sua mão em seguida, a fazendo sorrir.
- Obrigada, . – ela fala, terminando seu sanduíche.
- Vou pegar alguns lençóis para dormir aqui no sofá enquanto você dorme na minha cama, ok? – indago, colocando o copo dentro da pia.
- Você sabe que não precisa. – comenta, colocando as louças sujas na pia.
- Eu faço questão. – falo e ela rola os olhos. – E nem adianta insistir, sabe que eu sou teimoso.
- É, eu sei disso. – ela fala, gargalhando em seguida.
Fui até o meu quarto, pegando alguns lençóis e uma manta para me cobrir durante a noite, já que o frio da capital chegou com força total nesses últimos dias.
Coloquei as coisas no sofá, e estava brincando com Tarzan, que corria com suas patinhas pequenininhas atrás da bolinha de borracha.
- o mima demais. – falo, sentando ao seu lado em seguida. – Ela age como se ele fosse uma criança.
- Vocês são bem íntimos, não? – ela indaga, sorrindo em seguida.
- Ela é minha melhor amiga e namorada do meu melhor amigo. – falo, dando de ombros em seguida.
- Achava que você gostava dela. – ela fala e eu arregalo os olhos. – Desculpe, mas parecia no seu aniversário.
- Eu não gosto de ninguém no momento. – falo e ela suspira, assentindo em seguida. – Bom, pelo menos eu acho que não.
- E o que falta para você se declarar? – ela indaga bem próxima ao meu rosto.
- Saber se ela me corresponde. – sussurro, e logo ela me beija.
Eu não sabia exatamente o que se passava dentro de mim, mas sabia que era uma sensação boa. Enquanto ela me beijava e acariciava meus ombros, eu segurei seu rosto com as duas mãos, impedindo que ela se afastasse.
Ficamos assim por longos segundos. Não houve língua, nem mesmo alguma “mão boba”, mas foi o suficiente para que eu quisesse mais.
- Eu vou dormir. – ela fala, e vejo suas bochechas coradas. As minhas não devem estar tão diferentes. – Boa noite, .
- Boa noite, . – falo e ela acena, caminhando para o meu quarto em seguida, me deixando parado com um sorriso idiota no rosto e o coração acelerado no peito.
(...)
- VOCÊS SE BEIJARAM? – grita enquanto come um salgadinho que sobrou da festa que fizemos. – DE VERDADE?
- Você pode parar de gritar? – indago, rolando os olhos em seguida. – E sim, nos beijamos.
Passaram-se dois meses desde que ocorreu o meu beijo com , e eu não conseguia parar de pensar na garota, o que complicava ainda mais as coisas.
- E aí? Você gosta dela? – ela indaga, sacudindo meus ombros em seguida.
- Eu acho que gosto, . – falo e ela sorriu, comemorando. – Mas eu acho que não daremos certo juntos. Você sabe o motivo.
- Aquele pai babaca dela não precisa saber disso. – ela fala, colocando suas duas pernas por cima das minhas. – Você vai até ela, se declara. Se der certo, tudo bem. Se não der certo, parte para outra.
- Você fala assim porque já tem o . – falo e ela rola os olhos.
- E você pode ter a , se tomar iniciativa. – fala, comendo outro salgadinho. – Agora, você tem pouco tempo. Pode ser que ela encontre outra pessoa e você fica sem ninguém.
Terminamos de arrumar tudo, e eu fui para casa com pressa. Não passava das onze da noite, e eu suspeitava que estivesse acordada.
: Está acordada?
: Estava indo dormir. Aconteceu algo?
: Eu preciso falar com você amanhã, pode me encontrar? Para almoçarmos?
: Claro. Sabe onde fica o meu restaurante preferido. Encontro-te lá ao meio-dia.
: Não vou me atrasar.
: Você já sabe todo o meu discurso, . Ainda bem que me conhece.
: É, agora, boa noite!
: Boa noite, . Durma bem.
Dormir ficou somente na teoria naquela noite. Enquanto eu virava de um lado para o outro na cama, pensava no que falar para e em como ela reagiria.
Será que ela vai fugir? Será que ela vai falar que não gosta de mim da mesma maneira?
Quando percebi, já estava amanhecendo, e eu não havia sequer cochilado.
Levantei pouco depois, preparando um café da manhã reforçado para que eu não durma durante algum momento do nosso dia.
Enquanto me arrumava para ir, eu repassava em frente a um espelho o meu discurso, que eu tenho toda certeza de que me esquecerei dele.
Saio do meu apartamento após alguns minutos, pegando minha moto na garagem e pilotando até o local onde iríamos nos encontrar.
Cheguei primeiro que , e faltava pouco para dar meio-dia. Escolhi uma mesa, ajeitando o girassol que estava no vaso a cada dois minutos, ansioso para vê-la.
Quando a porta se abre pela quinta vez desde que eu cheguei, ela apareceu. Estava com um vestido florido e sapatilha nos pés, além de estar com seus cabelos soltos. Ela estava linda, e todo o discurso que eu havia feito foi embora.
- Oi, ! – ela exclama quando se aproxima, me abraçando assim que fico de pé. – Eu estava sentindo sua falta esses dias.
- Eu também estava. – falo, dando um sorriso de lado. – Podemos pedir nossa comida?
Ela concordou com a cabeça, acenando para um dos garçons, que logo se aproximou com os cardápios. Pedi a mesma coisa que , além de um suco de abacaxi com hortelã, que era meu favorito.
Enquanto nossos pedidos não chegavam, eu ficava em silêncio, apenas observando as pessoas conversando ao nosso redor. Eu estava ansioso, isso era fato, mas aquilo estava passando dos limites.
- Aconteceu algo? – indaga, segurando minha mão em seguida. Droga, . Você não deveria fazer isso.
- Eu estou bem. Só preciso te contar algo. – falo e ela assente, olhando em meus olhos, como se implorasse para que eu continuasse. – Você se lembra da vez que foi dormir lá em casa?
- Quando terminei com o ? – ela indaga e eu concordei. – O que houve?
- A gente se beijou. E você se lembra, né? – indago novamente, apertando suas mãos com as minhas. – , eu estou gostando de você.
Seus olhos se arregalaram, e logo vejo um sorriso começar a surgir em seu rosto.
- Eu queria fazer um discurso mais bonito, mas nada vem em minha mente. – falo e ela gargalha, arrastando sua cadeira para perto da minha.
- Eu também estou gostando de você. – ela sussurra em meu ouvido, antes de beijar minha bochecha, encostando sua cabeça em meu ombro em seguida.
Ficamos naquela posição por um longo tempo. Eu não sabia como explicar essa sensação, e talvez eu nunca vá saber. Ela entrelaçou nossos dedos, e ali eu percebi como aquela garota era importante para mim.
- Podemos tentar algo? – indago a ela, atraindo a sua atenção após alguns minutos em silêncio.
Ela concordou, beijando meu pescoço e logo se afastando. Nossos pedidos chegam, e o almoço correu como sempre: conversando, rindo de piadas e, no melhor dos melhores, trocando carinhos com a minha nova “namorada”.
Aquilo não poderia ser melhor!
(...)
Apertei a campainha do apartamento de . A música estava alta o suficiente para se ouvir do elevador, a metros de distância dali.
abre a porta. Ele segurava um copo azul escuro e estava pintado com tinta fluorescente, além de uma gravata divertida ao redor de seu pescoço.
Ele cumprimentou , que estava ao meu lado segurando o presente de minha melhor amiga. Logo entro no apartamento, procurando pela aniversariante.
- Vocês vieram! – exclama quando chega perto de nós, abraçando primeiramente. – Eu estou tão feliz por vocês dois, e ansiosa para poder finalmente conhecê-la como “namorada” do .
Enquanto gargalhava, eu abaixava a cabeça. Provavelmente estava ficando alterada, já que ela se dispersou e começou a gritar, correndo para o outro lado da sala, que não estava tão vazia quanto eu achei.
- vai arrumar mais um problema com a síndica. – comentou com , que deu de ombros, fechando a porta do apartamento.
Caminhamos por entre as pessoas, logo encontrando o sofá, que estava vazio. Sentei ali com , e logo começamos a conversar, mesmo que a música que tocava nas caixas de som impedisse qualquer contato.
- Vocês não estão se divertindo? – indaga após se jogar em nosso colo, quase derrubando seu copo de bebida.
- Acho que você deveria parar de beber. – falo, pegando o copo de sua mão. Ela bufou, batendo em meu peito. – Você está bêbada, e a festa não começou direito.
- Você é muito careta, me surpreendo por saber que você tem uma namorada tão legal quanto ela. – fala, se embolando em suas próprias palavras, antes de gargalhar. – É, você é muito careta, .
- Cadê o ? – indago, mudando totalmente o assunto. Ela deu de ombros, girando seus dedos. – Ele precisa te ajudar.
- Ele também bebeu. Acho que nós dois bebemos além da conta. – ela fala, se levantando em seguida. – Eu vou ao banheiro.
E logo ela some do meu campo de visão, me deixando ainda mais preocupado.
- Vai atrás dela. – fala. – Ela está bêbada. Sabe-se lá o que ela pode fazer enquanto está por aí, por mais que seja o apartamento dela.
Sorri, dando um selinho na garota e correndo atrás de , que simplesmente sumiu. Dou dois toques na porta do banheiro que, por sorte, estava destrancada, e abro a mesma, encontrando sentada no chão, encolhida.
- O que houve? – indago quando me sento ao seu lado, e logo ouço um soluço, e percebo que ela chorava. – O que aconteceu, ? Fizeram algo?
- Eu e estamos numa crise. – ela fala, levantando seu rosto após alguns segundos de puro silêncio. – Será que ele não gosta mais de mim?
- Que besteira é essa ? – indago, passando meus polegares abaixo de seus olhos, limpando suas lágrimas e alguns vestígios de sua maquiagem, que estava borrada. – É claro que ele gosta de você.
- Então por que estamos em crise? – ela indaga, fazendo beicinho em seguida.
- Acontece com todos os casais. – falo, puxando-a para um abraço. – Agora, você precisa parar de se preocupar com isso, e aproveitar sua festa.
- Eu acho que já está na hora de todos irem. – ela fala, limpando seu rosto com o papel higiênico que eu peguei.
- Eu acabei de chegar! – exclamo e ela ri.
- Não, você fica já que você já é de casa. – ela fala, e eu suspiro aliviado, fazendo a garota gargalhar.
Ela saiu do banheiro, e eu fui logo atrás. anunciou os parabéns e logo todos se reuniram ao redor de uma mesa com um bolo e alguns copos espalhados. , mesmo um pouco alterado, conseguiu não se queimar, tampouco incendiar o apartamento, permitindo que todos nós pudéssemos cantar.
Após o “Com quem será?”, os convidados se dispersaram. Alguns iam embora, outros ainda permaneciam, para o desespero de , que apenas queria terminar sua noite em paz.
Levou algumas horas para que o apartamento ficasse vazio. Eu estava sentado no chão com , e a mesma bebia um pouco de uísque, enquanto eu bebia algum refrigerante, já que era responsável pela direção.
- Vocês são bonitinhos juntos. – fala se aconchegando no colo de , que lutava contra o sono. – É sempre assim no início de namoro. Vocês vão sempre ficar lembrando-se de datas comemorativas.
- Eu me lembro de todas. – fala, recebendo um olhar de . – Ok, quase todas.
- Você esqueceu o aniversário de dois anos. Eu me lembro disso. – falo, gargalhando em seguida. – ficou tão chateada que não falou com você por duas semanas, e você nem sabia o que tinha feito de errado.
- Nem me lembre disso. – fala, rolando os olhos em seguida. – Bom, eu preciso trabalhar amanhã. Boa noite para vocês.
- Está expulsando a gente? – indago após me levantar, colocando as mãos na cintura.
- Estou. – ela fala, empurrando-me para a porta, arrancando algumas risadas de e , que apenas assistiam aquela cena.
- É assim que você trata uma visita? – indago quando ela abre a porta.
- E desde quando você é visita? Só a é, e daqui a pouco deixa de ser. – ela fala, cruzando os braços em seguida. – Agora é sério, eu preciso dormir.
- Já estamos indo, relaxa. – falo, beijando sua testa em seguida.
se despediu de , vindo em minha direção em seguida.
- Obrigada por me receber. – fala enquanto abraça .
- Obrigada pelo presente, e boa sorte com esse idiota aí. – ela fala, apontando para mim. Rolei os olhos, segurando a mão de .
Logo saímos do apartamento, apertando o botão do elevador. Após alguns minutos, as portas se abrem, e entramos. aperta o botão do térreo, abraçando-me de lado.
- O que acha de assistirmos algum filme? – indago enquanto acaricio seus cabelos.
- Eu adoraria, mas amanhã eu tenho uma reunião importante e não posso dormir tarde, amor. – ela fala, e logo vejo seu rosto corado. – Desculpe.
- Não, tudo bem. Estava realmente esperando você falar isso. – falo, segurando seu queixo. Ela sorriu, e logo a beijo, deixando de lado toda dúvida possível de que eu realmente gostava daquela garota.
E, por mais que ela tenha falado disso, sabia que ali ela retribuía.
(...)
Estendi a toalha no gramado do parque. segurava uma cesta, enquanto segurava a outra.
Passaram-se algumas semanas, que originaram meses, desde o aniversário de . Desde então, ela não vinha falando mais nada sobre a crise em seu relacionamento, e eu sabia que eles estavam bem melhor. Bom, pelo menos eu suspeitava.
sentou-se ao meu lado, abrindo a cesta de sanduíches, enquanto abria a de bebidas, distribuindo algumas latinhas de suco e refrigerante entre nós quatro.
- Espero que nenhuma formiga pegue algum pedaço do meu sanduíche. – diz enquanto abre o papel, nos fazendo gargalhar.
- Você quer ir para a mesa de piquenique? – indaga antes de me entregar um sanduíche.
- Esse aí faz muito drama, . Só ignora. – diz, beijando a bochecha do namorado, que gargalhou logo após rolar os olhos.
- É assim que você trata seu namorado? – indaga, fingindo estar irritado, fazendo gargalhar.
- Desculpa, amor. – ela fala, dando um selinho nele em seguida.
E toda aquela cena me fez sorrir, mesmo que minimamente.
Enquanto alternávamos entre comer, rir, namorar e brincar, fico agarrado a durante todo o tempo.
- Nunca me diverti tanto. – diz enquanto o outro casal caminha para a barraca de pipoca que estava a poucos metros de distância.
- Eles realmente gostaram de você. – falo, brincando com seu cabelo.
- Só eles? – ela indaga, fazendo beicinho em seguida.
- Você sabe que não. – falo, dando um selinho nela.
- Eu vou sentir sua falta nessa viagem. – ela sussurra como se estivesse contando um segredo, escondendo seu rosto no meu pescoço.
Como era presidente da empresa de seu pai, tinha que fazer algumas viagens a negócio. Aquela seria sua primeira desde que começamos a namorar.
- Você pode me ligar. – falo, agarrando seu dedo. – Você sabe onde me encontrar quando quiser.
- É, eu sei. – ela fala, beijando minha bochecha em seguida.
Nos endireitamos quando o casal se aproxima. Ficamos conversando por mais algumas horas, até que escurecesse, e precisava ir para sua casa para viajar amanhã, pela manhã.
- Quando chegar por lá, me avisa, ok? – indago quando paro na esquina de sua casa. Era uma regra nossa, afinal, seu pai nem desconfiava de que estejamos juntos.
- Aviso. – ela fala, beijando-me mais uma vez, antes de me entregar o capacete e caminhar rapidamente para sua casa, sumindo do meu campo de visão logo em seguida.
Retornei para meu prédio, que não era tão distante dali. Cheguei, colocando a moto na garagem e indo para o térreo, cumprimentando o porteiro, que assistia a algum jornal que passava naquele horário.
Assim que abro a porta de meu apartamento, vejo sentada no meu sofá. Ela segurava Tarzan, e estava com o rosto vermelho.
- O que aconteceu? – indago, fechando a porta e caminhando em sua direção.
- O ... – ela começa, retornando a chorar logo em seguida. – Ele... Ele...
- O que ele fez? – indago, segurando suas duas mãos.
- Ele tem outra. – ela murmura, e logo se joga em meus braços, chorando por longos minutos, em silêncio. – Eu descobri hoje, pela tarde.
- Como ele tem coragem? – indago, acariciando os cabelos da garota. – E vocês terminaram?
- É quase que óbvio que sim. – ela fala, apoiando sua cabeça em meu ombro. – E depois de tudo o que passamos...
- Eu queria realmente quebrar a cara dele. – falo, arrancando uma risada fraca da garota. – Ele é um babaca, e não merece minha amizade.
- Vocês se conhecem há mais tempo. Eu não deveria estar aqui, mas você é meu único amigo. – ela fala, olhando em meus olhos por um longo tempo.
Eu não sabia se estava ficando louco, ou se estava realmente muito bonita. Seu rosto estava corado, e mesmo que fosse por causa das lágrimas que soltara pelo antigo namorado, ela continuava bonita.
- Você sabe que sempre poderá contar comigo, . Sempre. – falo, beijando sua testa em seguida.
- Se tudo tivesse sido diferente. – ela sussurra, abaixando a cabeça em seguida. – Se não estivéssemos juntos...
- Eu não iria conhecê-la. E isso é bom, não é? Há males que vem para o bem. – falo e ela sorriu de lado, concordando com a cabeça.
ficou ali comigo por um longo tempo, apenas desabafando, abraçada comigo durante toda nossa conversa, enquanto derramava suas lágrimas. Ela foi embora de Uber, mesmo depois de importuná-la falando que a levaria até sua casa, mas recusou mesmo assim.
Fui dormir com a imagem de gargalhando de alguma coisa que eu disse, esquecendo totalmente de responder , ou simplesmente de mandar uma mensagem de boa noite.
(...)
abriu a garrafa de vinho na mesa, enquanto eu pegava a comida tailandesa que encomendei para a noite. Nosso sexto aniversário. Seis meses desde que eu percebi que gosto realmente dessa garota.
Se passaram meses desde o término de e . O mesmo nunca mais veio falar comigo, sabendo que eu poderia lhe dar um sermão. e eu estávamos grudados, vivíamos um na casa do outro, e, de vez em sempre, nos encontrávamos no trabalho. Ela conseguiu retomar os estudos, e estava indo para o penúltimo semestre do curso de Psicologia, e estava cada vez mais evidente que o término a fez bem.
Enquanto eu servia a comida, ouço meu telefone tocar no balcão da cozinha. , que estava por perto, pegou e leu o nome, fazendo uma careta.
- É a . – ela fala, entregando-me o aparelho.
Arqueei uma sobrancelha, confuso, e atendi a ligação.
- ...
- O que houve? – indago, colocando a marmita com comida por cima da mesa.
- Eu preciso de você.
E ela logo encerra a ligação, deixando-me confuso. O que ela quis dizer com aquilo?
- O que ela disse? – indaga, terminando de colocar a comida nos pratos.
- Ela disse que precisa de mim. – falo, suspirando em seguida. – ...
- , você gosta dela. – ela falou, sorrindo de lado.
- Do que você está falando? – indago, segurando a mão de .
- Nos conhecemos há quase um ano, e você nunca percebeu como você muda perto dela? – ela indaga, arqueando as sobrancelhas. – E você precisou entrar em um relacionamento para perceber.
- , eu não...
- , por favor, eu já sabia disso. – ela fala, dando de ombros. – Eu gosto de você, mas sei que você gosta dela.
- Eu não gosto dela. – falo novamente, e ela bufa.
pegou sua bolsa no sofá, vindo em minha direção, segurando meu rosto com as duas mãos, me obrigando a olhar em seus olhos.
- Eu não quero que você desperdice uma chance como essa. é uma garota incrível, e você sabe disso. Eu fico feliz em saber que você gosta dela. – ela fala, beijando minhas bochechas. – Só não quero que você a deixe ir. Você precisa tomar coragem.
E logo que ela sai do meu apartamento, estava na porta. sorriu para mim, dando uma piscadela e sumindo do meu campo de visão em seguida.
- O que aconteceu? – ela indaga, apontando para .
- Você está com fome? – indago, e ela sorri, assentindo e entrando no apartamento, fechando a porta em seguida.
- Você pediu comida tailandesa? – ela indaga, sorrindo abertamente em seguida. – Não acredito que você esqueceu que não pode comer Satay, já que é alérgica a amendoim, e a comida leva molho de amendoim.
- Ela quis terminar comigo. – falo, colocando vinho na sua taça. – E eu estou bem com isso.
- Nenhuma vontade de chorar? – indaga, bebericando o vinho.
- Talvez eu queira beber mais vinhos do que o habitual. – falo, arrancando uma gargalhada da garota.
Comemos em meio a risadas e algumas piadas toscas de minha parte, além de muito vinho.
- Você montou sua árvore de natal? – indaga, caminhando para perto do pequeno pinheiro encostado na parede da sala, que estava enfeitado com bolas e luzes coloridas. – Eu ainda não montei a minha.
- Essa pode ser a nossa. – falo, abraçando-a por trás.
se vira, sorrindo e apertando a ponta do meu nariz.
Ali, com a luz da sala desligada, e somente a luz do poste da rua iluminando, percebi como ela ficava bonita. Suas bochechas coradas pelo vinho, seus lábios avermelhados pela bebida, além de seus olhos estarem com um brilho diferente do habitual.
Antes que ela pudesse se afastar, agarrei sua cintura, beijando-a em seguida. Suas mãos, antes em meus ombros, foram parar em minha nuca, puxando-me para mais perto possível de seu corpo, mesmo eu achando impossível.
Ficamos assim por um tempo, e não passava na minha mente o quão errado aquilo poderia ser. Só passava como aquilo era bom, e como eu queria repetir quantas vezes fosse preciso para confirmar.
- Eu preciso ir embora. – fala num tom de voz contido, embolando-se em suas próprias palavras. Antes que eu pudesse segurar sua mão e impedi-la, ela se solta, olhando em meus olhos e negando com a cabeça. – , por favor, não...
E ela pega sua bolsa, saindo de meu apartamento em seguida, deixando-me parado no meio da sala, junto de um sorriso idiota nos lábios.
Ah, não!
(...)
Três semanas se passaram desde aquilo, e eu não conseguia parar de pensar naquele beijo. Aquilo estava sendo diferente do que com , que foi mais por uma atração física. Com , tudo sentia sua falta.
Era noite de Ano-Novo. Teríamos que trabalhar numa festa de uma empresa. Era a primeira vez que eu a via desde o nosso beijo, e desde que tudo ao nosso redor mudou.
Durante todo o evento, foi inevitável não querer encontrar com ela, mesmo que ela se fizesse de desentendida. Esbarrava nela de vez em quando, segurava sua mão por alguns segundos, mas nada que fosse adiante. E eu precisava conversar com ela.
- Cadê ? – indago a Leia, uma das garçonetes que trabalhava conosco.
- Ela saiu. – ela diz, dando de ombros em seguida. – Disse que ia para o aeroporto, estava atrasada para um voo.
Arregalei os olhos, soltando meu avental e largando o mesmo numa cadeira.
- , o que você está fazendo? – a mulher indaga, cruzando seus braços. – Se você for embora por essa porta, saiba que está demitido.
- Ok, obrigado. – falo, abrindo a porta de vidro, correndo para o elevador.
Apertei freneticamente o botão de descer; minutos depois, as portas se abrem, e eu entro, apertando o botão do térreo. Quando as portas se abrem novamente, corro pelo saguão, esbarrando nas pessoas e pedindo desculpas.
Não sei quantas multas eram suficientes para tirarem minha carteira de motorista, mas, naquele momento, eu corria esse risco. Atravessei diversos sinais vermelhos, apenas esperando poder chegar a tempo no aeroporto e falar com , mesmo sabendo que ela não me ouviria.
Quando cheguei, estacionei de qualquer jeito, esperando que ninguém a roubasse ou fizesse alguma coisa do tipo. E, se fizessem, eu não estava me importando tanto quanto eu pensava que estaria. Não naquele momento.
Corri por todo o aeroporto, procurando pela fisionomia conhecida de . O aeroporto não estava tão cheio, afinal, era noite de Ano-Novo, e faltavam poucos minutos para meia-noite.
Estava subindo num dos bancos, quando a vejo. Ela segurava sua mochila, olhando para o painel de horários e roendo a unha do dedo indicador. Suspirei aliviado, correndo em sua direção em seguida.
- O que você faz aqui? – ela indaga assim que apareço na sua frente.
- O que você acha que está fazendo, ? – indago, tentando recompor minha respiração. – Você não pode fugir de mim eternamente.
- E por que pensa que estou fugindo? – ela indaga, dando de ombros em seguida.
- Então por que me evita tanto? – indago, dando um passo em sua direção, e ela recuou. – E por que não posso chegar perto de você?
- ... – ela começa, suspirando em seguida. – Você estava carente, e eu bebi demais.
- , eu levei quase um ano para perceber o quanto eu realmente gosto de você. – falo, segurando uma de suas mãos. – Eu tive que namorar outra pessoa para saber que, durante todo esse tempo, a pessoa ideal para mim estava bem ao meu lado.
- E por que acha que eu sou ideal para você? – ela indaga, fazendo uma careta.
- Porque eu sei que não viveria sem você. – falo, segurando sua cintura, puxando-a para um beijo.
Deus, como eu gostava dessa garota!
- Por favor, não vá embora. – falo e ela gargalha.
- Eu não vou embora. – ela fala, colocando as mãos em meus ombros. – Eu vim buscar a minha irmã mais nova, Margot, para passar o réveillon comigo, mas os vôos atrasaram, e ela chegou só agora.
- Então você não vai embora? – indago, vendo a garota negar, soltando uma gargalhada em seguida.
- Eu vou ficar aqui, com ou sem você. – fala, me fazendo sorrir.
- Eu prefiro que fique comigo. – falo, beijando a sua testa em seguida.
- Eu também prefiro. – ela sussurra, antes de me beijar novamente.
Separamo-nos quando ouço alguém pigarrear, e vejo uma garota que era um pouco parecida com . Usava as roupas coloridas demais, e tinha um headphone no pescoço, além de um iPod nas mãos.
- Que nojo! – a garota exclama, fazendo uma careta, antes de abraçar a irmã. – Feliz Ano-Novo, maninha.
- Já é meia-noite? – indago, ouvindo a risada de .
- Sim, você passou sua virada de ano comigo. – ela fala após se afastar da irmã.
- Como se eu não quisesse. – falo, pegando uma mala da mais nova.
- Eu tenho uma pergunta. – começa enquanto caminhamos de mãos dadas pelo aeroporto. – Como você saiu da festa se ela nem terminou?
- Podemos dizer que eu não trabalho mais. – falo, dando de ombros em seguida.
- E isso tudo por minha causa? – ela indaga com um sorriso no rosto.
- Eu faria qualquer coisa para impedir sua falsa viagem. – falo e ela gargalha, beijando minha bochecha.
- Você é incrível, ! – exclama, antes de se soltar e ir para o lado da irmã mais nova.
É, eu realmente gostava daquela garota.