Finalizada em: 18/03/2018

Prólogo

“Samantha Rynes e Cassandra Anderson estão mais uma vez entre os dez nomes mais procurados da lista da Interpol. As ladras responsáveis por vinte e dois assaltos de grande repercussão por toda Europa estão aparentemente inativas há seis meses, a polícia acredita que as foragidas devem estar armando um novo golpe...”

- Adivinha quem está no jornal de novo, Cassandra? – Virei-me na cadeira para olhar minha melhor amiga, que agora terminava de coar o café e servia-o em uma xícara. A careta que assumiu seu rosto quando a chamei por esse nome me fez rir.
- Pare de me chamar assim. – Resmungou ao se aproximar e me entregar à bebida fumegante. – Lembra-se da merda que deu com esse nome? – Questionou com uma sobrancelha arqueada, balancei a cabeça e ri.
- O problema não foi o nome, foi sua ideia de beijar um italiano e se apresentar com o nome de disfarce. – Dei de ombros, ela bufou. Olhei a hora e notei que já passava das três da tarde, precisava checar os últimos detalhes para noite de hoje, a primeira parte de um plano triplo. – Vou verificar os disfarces e dormir um pouco. – Alertei me levantando e seguindo para fora da sala. – Não esquece que a noite promete. – Pisquei, ouvi sua risada enquanto passava pela sala e ia para o quarto.



1.



She was more like a beauty queen from a movie scene
I said don't mind, but what do you mean I am the one
Who will dance on the floor in the round
She said I am the one who will dance on the floor in the round

Tudo estava encaminhado, perfeito conforme a primeira parte do plano. O pub estava cheio e diversas pessoas passavam por nós como se não existíssemos, e eu havíamos ido com roupas discretas e perucas, algo cotidiano para nossas ações. A música que tocava era parcialmente agitada e mantinha alguns corajosos entretidos com danças sem sentido. Eu já estava no terceiro drink sem álcool quando os dois passaram pela porta e atraíram atenção de mais da metade da ala feminina. Sorri para minha companheira e ela parecia empolgada com seu alvo, o detetive . 1,78 de altura, olhos claros e um sorriso capaz de molhar calcinhas sem esforços, minha amiga não estava nada mal. Acompanhamos o detetive e seu companheiro, o negociador sentarem-se a dois bancos de distância de onde estávamos, o negociador chamou atenção do barman e pediu o que me parecia ser uma Heinicken, sorri diante de sua escolha. Tão comedido quanto esperava que fosse.
era o negociador do setor especial da Scotland Yard, responsável por resolver mais de trinta casos complexos em uma carreira de pouco mais de cinco anos. Alto, sorriso meigo e enganador e um olhar capaz de fazer a mais pura das mulheres pecar, o castanho de seus olhos parecia uma lagoa profunda e sem fim. Não negaria que em qualquer outra situação eu adoraria me perder neles, mas agora o motivo para estarmos ali era mais importante do que nos agarrarmos com dois homens lindíssimos, precisávamos estudar seus comportamentos para completar as fichas que havíamos montado sobre eles.
- Ora essa, , seja razoável, te conheci no segundo ano da faculdade e me lembro muito bem da sua fama. – O comentário de em dado momento da conversa atraiu nossa atenção, fingi mexer na franja ruiva da peruca e projetei mais meu corpo para conseguir escutar claramente.
- Isso já faz tempo, e você não era nenhum santo também. – Devolveu o negociador sorrindo por trás da garrafa que levara aos lábios.
- Nunca neguei. – deu de ombros. – Mas pelo menos aceite o fato de que muitos corações foram quebrados pelo corredor de Cambridge. – Ele sorriu maldoso. – Oh, , eu te amo tanto, acreditei que ficaríamos juntos para sempre. – Vi enrubescer enquanto atirava a tampinha da garrafa no amigo. – Essa seria Lissa McConnor, lembra dela?
- Claro que sim, a loira bonita do segundo ano que me perseguiu até o fim do curso. – deu de ombros. – Como eu disse isso ficou para trás, não iludo mais menininhas ou veteranas em festas de fraternidade, gosto da ideia de ser um cara responsável.
- Hum... – depositou o copo de Campari sobre o balcão e após engolir o líquido apontou para o amigo. – Mas você sabe que uma hora isso vai voltar para você, certo? – revirou os olhos. – Não, é serio, lembra do que Joanne fez comigo? Hoje sei que é a lei do retorno.
Troquei um breve olhar com que me olhava com a mesma intensidade, prendi o riso com a ironia do destino e balancei a cabeça em um gesto negativo. Talvez estivesse mesmo na hora de mostrar ao nosso querido negociador que a lei do retorno é mais forte do que se imagina, e de quebra daríamos uma palhinha para o detetive . Já que aqui se faz, aqui se paga.
Os dois continuavam a conversar sobre banalidades enquanto mulheres passavam por eles como gatas no cio, extremamente vergonhoso, diga-se de passagem. sorriu para uma morena próxima a nós e ela praticamente se derreteu, reprimi a vontade de bater em minha própria testa diante da cena.
- Acho melhor seguirmos com o plano antes que uma delas se atire sobre eles. – Ouvi murmurar, olhei por sobre o ombro e um grupo com três mulheres cochichavam e apontavam para os homens em questão, bufei. Talvez devêssemos ter vindo com as roupas que ela havia sugerido, saltos e vestidos curtos o bastante para chamar atenção. Vi minha melhor amiga levantar e dar um último gole em sua bebida, de longe parecia gim, mas era apenas água com gás. Ela caminhou decidida até onde os dois estavam e parou ao lado de , o sorriso que lançou para me fez abaixar a cabeça para abafar o riso, ela parecia uma atriz pornô em ação.
Tentei me esticar um pouco mais para saber o que ela dizia, mas graças ao DJ que chegara a pouco e aumentara o som essa tarefa ficou quase impossível. Soube que era o momento para me aproximar quando a vi apontar em minha direção e gesticular, fiz-me de desentendida e apontei para mim mesma, ela afirmou. Levantei-me e caminhei até onde os três estavam e parei do lado oposto ao dela.
- Essa é minha amiga Billie. – Apresentou-me, acenei para os dois e demorei um pouco mais o olhar em , que como eu esperava me fitou curioso de volta.
- Billie, que nome diferente, você é daqui? – Indagou . – A propósito, meu nome é , este é , meu amigo. – Sorri ameno.
- Não, nasci no Texas. – Respondi de pronto, o sotaque que aprendera seria de grande utilidade, eu só esperava que eles não conhecessem alguém que realmente viveu no Texas ou eu estaria perdida.
O som de Who’s that chick preencheu o ambiente com uma batida envolvente demais para ser ignorada, olhei para minha melhor amiga e a vi passando a mão por entre os cabelos loiros da peruca que usava, ri com a ironia da música.
- Ei, vamos dançar. – Chamou , que se apresentara como Candy. Assenti de pronto e a segui para pista, eu não sei exatamente o que ela fez, mas conseguiu trazer consigo. Dancei mais afastada dos dois, não queria atrapalhar a conquista dela, ao invés disso mantive minha atenção presa em . Seus olhos mudaram de curiosos para desejosos enquanto meu corpo respondia com sutileza e sensualidade aos versos da canção. Sorri quando o último verso chegou e “Quem é essa garota? ” Soou pela última vez dos lábios da cantora, mordeu o lábio ao me ver piscar em sua direção.

She told me her name was Billie Jean
as she caused a scene
Then every head turned with eyes that dreamed
of being the one
Who will dance on the floor in the round
People always told me be careful of what you do

Olhei discretamente o relógio do celular e vi que era hora de ir, precisávamos deixar algum mistério no ar ou estragaríamos a segunda parte do plano. Dei as costas para o negociador e me aproximei de , ela estava agarrada a e quase o beijando, puxei-a pelo ombro e sorri para o rapaz.
- Desculpe, precisamos ir. – Declarei, notei a confusão passar pelo rosto dele; soltou-se de seus braços e acenou como se tivesse visto um conhecido. Em poucos segundos havíamos sumido da vista dos policiais. Embrenhamo-nos por entre a multidão e nos escondemos no beco ao lado da boate. Vimos o momento exato em que os dois passaram pela porta principal a nossa procura e ficaram desapontados ao se darem conta de que havíamos partido.

People always told me be careful of what you do
And don't go around breaking young girls' hearts
And mother always told me be careful of who you love
And be careful of what you do 'cause the lie becomes the truth

- Você poderia ao menos ter esperado eu dar uns beijos no detetive, né ? – Minha parceira falava revoltada enquanto refazíamos o caminho até o carro.
- Abaixa o fogo que amanhã tem mais, Candy. – Dei ênfase ao nome fictício que ela criara e recebi uma careta em troca. Adentramos o Chevelle 85 preto e partimos para nosso atual esconderijo/endereço.



2.



Acordei com o barulho de panelas caindo na cozinha, abri os olhos contra minha vontade e bufei ao perceber que já passava do meio dia, não me culpava, havíamos chegado às três. Depois que deixamos a boate seguimos para uma lanchonete 24 horas onde comemos como se não houvesse amanhã e juntamos os últimos detalhes do plano. Segundo nossa ida ao pub não fora apenas para vermos os dois de perto, até porque isso já havíamos feito em outras situações quando eles se envolveram em um assalto com reféns que o antigo grupo em que trabalhávamos se envolveu.
Fomos até lá ver de perto para encaixar os últimos dados da personalidade dos dois, tinha um arquivo só com esses dados no notebook que usávamos. Segundo ela , apesar de ser o negociador, era a mente por trás da investigação, já que depois de algumas investigações descobrimos que fora convidado para trabalhar como investigador na polícia de Paris e exerceu essa função nos três anos em que viveu na Itália, as abrira mão dessa tarefa para retornar à Londres e integrar-se à Scotaland Yard. Diferente de que ao se formar estagiou no departamento de polícia de Essex e em seguida foi enviado para SY por recomendação do inspetor responsável pelo estágio dele.
- Se não levantar não poderemos nos arrumar. - Ouvi a voz de minha parceira cantarolar próximo a porta, olhei em sua direção e ela tinha farinha no rosto e um avental em torno da cintura, com um pano de prato preso no ombro e um prato do que parecia panquecas na mão estava o retrato perfeito da mãe de família que ela nunca desejara ser. Desatei a rir e vi o sorriso murchar de sua face. - Qual é a graça?
- Você precisava ver a sua cara, com esse traje e essa pose, parece uma mãezona. - Debochei. Vi seus olhos estreitarem, ela atirou o pano de prato em cima de mim e sumiu.
Balancei a cabeça e resolvi que era hora de levantar, se bem me lembrava precisaríamos nos arrumar para noite de hoje, e isso com certeza não seria rápido. Joguei o edredom de lado e fui para o banheiro, escovei os dentes e penteei os cabelos com os dedos, naquele momento nada resolveria o ninho de rato que havia em minha cabeça.
Sentei-me à mesa quando cheguei à cozinha e me servi com uma xícara de café forte, havia alguns pães caseiros dentro de uma cesta ao lado das panquecas, franzi o cenho. Cozinhar não era algo típico dela, só fazia algo assim em duas situações, ou ela estava extremamente irritada com algo e descontava em sua limitada habilidade de cozinhar, ou muito ansiosa e isso surtia o mesmo efeito, o que certamente me rendia cinquenta por cento de chance de comer bem e os outros cinquentas de sair com dor de barriga.
- Senhora Masterchef. - Chamei apenas para irritá-la e ouvi seu resmungo vindo do quartinho onde guardávamos os produtos de limpeza. - Vamos ao salão que achamos na internet? - Questionei depois de engolir um pedaço do pão, que para minha surpresa estava realmente bom.
- Claro. - Vi sua cabeça aparecer na soleira e um cartão de créditos em mão. - Por conta de Mckayla Archibald. - Piscou marota me fazendo rir, esse era outro dom que tínhamos, clonar cartões. - Termina logo aí e vai se trocar. - Piscou e sumiu mais uma vez para mexer em sabe-se lá o quê.

Passamos o dia inteiro no salão, fizemos unhas, cabelos, maquiagem e conseguimos comprar a máscara, o único item que faltava para nosso disfarce ficar completo. Quando chegamos em casa já passava das sete da noite, me apressou dizendo que tínhamos apenas vinte minutos para estarmos prontas. Corri para colocar o vestido da noite; azul e cheio de pedras brilhantes, o traje era longo e com um decote generoso nas costas, os saltos dourados combinavam perfeitamente com a máscara dourada que me cobriria metade da face no estilo Fantasma da ópera.
Apressei-me em descer as escadas e encontrei colocando os brincos, ela usava um vestido preto longo, de alças finas e com uma fenda mais do que generosa na perna direita. Os saltos e a máscaras em forma de gatinho eram do mesmo tom, ela se assemelhava muito com Anne Hathaway em Batman, O cavaleiro das trevas ressurge. Com um sorriso de aprovação deixamos a casa e fomos em busca de um táxi, que graças ao plano meticuloso dela já estava a nossa espera.
Adentramos o veículo e entregamos o endereço para o motorista, pela graça dos céus não havia trânsito. passou mais uma camada do batom vermelho enquanto eu retocava o Gloss. Sorrimos cúmplices ao descer em frente a mansão de Mister Johnson, o mais novo bilionário de Londres e o dono de nosso alvo. Passamos pelas portas da mansão com passos confiantes. Olhares curiosos nos seguiram em cada passo dado, ignoramos cada um deles e nos dirigimos para antessala, a mesma em que o quadro da Menina com brincos de pérola estava exposto na parede, e por uma infeliz coincidência o mesmo lugar onde o detetive e o negociador também se encontravam. Olhei rapidamente para minha parceira, ela sabia exatamente o que precisávamos fazer. Peguei uma taça de champanhe e ela outra, nos encostamos à parede oposta à do quadro e esquadrinhamos o lugar em busca de câmeras, alarmes e sensores.
Com os olhares treinados não demoramos a encontrar as seis câmeras, três sensores de movimento e pressão e dois alarmes que ficavam nas portas, para nossa sorte não havia nada nas janelas.
Uma música lenta e sensual começou a tocar, mordi o lábio ao ver minha melhor amiga se descolar por entre as pessoas e parar perto dos dois homens que víramos noite passada, ela ia fazer exatamente o que eu disse que ela faria. Era hora de seduzir.

Billie Jean is not my lover
She's just a girl who claims that I am the one
But the kid is not my son
She says I am the one, but the kid is not my son

Quando a batida da música que eu realmente desconhecia se tornou mais intensa vi o negociador tomá-la pela mão e conduzi-la para pista, os olhos deles não se desgrudaram por nenhum segundo. Havia faíscas suficientes para explodir o quarteirão entre aqueles dois. Peguei-me rindo da situação, e foi nesse momento que me viu. Engoli em seco quando notei sua aproximação.
- Boa noite. – Cumprimentou-me galante. – Você está belíssima, eu poderia saber o seu nome? – Perguntou fitando-me com intensidade, mordi o lábio para prender o riso.
- Pode me chama de Oasis. – Sussurrei não lhe dando tempo de raciocinar sobre a resposta; com uma piscadela o puxei pela mão em direção à pista de dança abandonando a taça com um garçom que passava.



3.



For forty days and forty nights
The law was on her side
But who can stand when she's in demand
Her schemes and plans
'Cause we danced on the floor in the round
So take my strong advice
Just remember to always think twice
(Do think twice)


As mãos do negociador eram quentes e macias, eu conseguia senti-las através do tecido fino do vestido. Os olhos escuros me olhavam com um misto de desejo e devoção que por um instante tive medo que ele soubesse quem eu era, ainda que isso fosse quase impossível. Ah, já fazia tanto tempo.
Ignorei o pensamento sobre meu passado e continuei movimentando enquanto uma ópera italiana soava cada vez mais alta pelo salão, os demais convidados haviam parado de conversar para olhar os dois únicos casais da pista. não perdera tempo em agarrar o investigador, ela parecia uma predadora grudada com a presa enquanto os passos eram reduzidos. Prendi o riso e me concentrei na tentação de homem que me conduzia com sutileza pelo ambiente. Senti meu corpo ser girado e puxado para seus braços rápidos demais.
- Seu nome não é nada comum. – Ouvi seu comentário em certo momento, nossos corpos estavam colados. As batidas de seu coração contra o meu pareciam acompanhar a música, aspirei seu perfume profundamente.
- Acho que meus pais eram fãs de Michael. – Zombei ao me lembrar do dia em que decidimos usar nomes de música, já que de cidade seria muito óbvio. não poderia me julgar, assistir La casa de papel dava muitas ideias. – Billie Jean é uma homenagem. – Inventei vendo-o assentir com um gesto. – Mas sabe o que eu acho, ? – Sorri maldosa diante da menção de seu nome; ele negou. – Que estamos perdendo tempo demais.
Não esperei uma resposta, grudei meus lábios nos dele sem dá-lo chance de escolha, a maciez de sua pele sob minhas mãos era tentadora, o sabor do champanhe misturado a algo doce me fazia querer devorá-lo. Pelos céus, esse homem era enlouquecedor. Por um momento eu quis esquecer tudo, o plano, o roubo e o passado, principalmente este, mas ao abrir meus olhos e avistar o quadro reluzindo sob a luz especial eu soube que não valia a pena. seria uma ótima noite, mas não valeria os anos de esforço para aquilo. Olhei uma última vez o lugar antes de soltá-lo.
- Uou.
Ri de sua frase pouco original.
- Tive a sensação que te conheço de algum lugar. – Prendi a respiração brevemente.
- Você me disse que ontem conheceu uma Billie com sotaque, vai ver é isso. – Brinquei tentando sair da situação.
- Não, por um instante jurei que te conheço há mais tempo. – Seus olhos ganharam ainda mais intensidade. Respirei fundo e me lembrei que estávamos todos de máscara, e eu só havíamos reconhecido os dois graças a nossa pesquisa meticulosa sobre suas vidas.
- Seria um sonho, não é mesmo? – Sussurrei ao me afastar. – Vou à toalete. – Anunciei na tentativa dele não me seguir. – Por que não pega um drink para nós? – Sugeri. Com a tez franzida ele assentiu. Olhei no relógio e notei que já passava de uma da manhã, era o momento de irmos embora. Fiz sinal para , que agora conversava com em um canto afastado, ela assentiu de leve.
Tomei rumo pela saída lateral, que com a ajuda do mapa da propriedade que conseguimos na imobiliária, e liguei para o táxi que viera nos trazer, ele havia sido alertado que nos levaria de volta. Escondi-me nas sombras do muro e aguardei a vinda de .
Cinco minutos depois ela surgiu, um pouco descabelada e com ar de quem havia aprontado. Limitei-me a balançar a cabeça e adentramos o veículo que chegara com rapidez.

She told my baby that's a threat
As she looked at me
Then showed a photo of a baby crying
Eyes were like mine
Go on dance on the floor in the round, baby


Dizer que consegui dormir quando chegamos em casa seria mentira. Rolei na cama a noite inteira, as imagens da dança, do beijo e as lembranças de um passado que eu gostaria de escrever enchiam minha mente.
Bufei e levantei, se precisava rever o passado que fosse logo. Abri a porta do guarda-roupa e peguei a caixa de madeira no fundo falso, depositei-a sobre o colchão e liguei a luz do abajur. Respirei fundo antes de abrir e começar a mexer nos objetos que havia ali dentro. Todas as minhas lembranças da antiga vida que tive estavam ali; tudo o que eu conhecia foi deixado para trás no momento em que me uni à e roubei a primeira joalheria com ela. Minha família acreditava que eu estava morta, o que era melhor do que ser um desgosto para meus pais. Minha irmã mais era um exemplo, a dona de toda atenção e carisma, se tornara veterinária e tinha sua própria clínica, a do meio se tornara advogada, minha melhor amiga. Ah, se ela soubesse que parte do que estou fazendo é por ela talvez não me odiasse tanto quanto odeia agora.
- Escolhas são escolhas, , lide com as suas. – Sussurrei para mim mesma ao ver uma fotografia em especial. Na imagem minha irmã mais nova estava ao lado de um rapaz bonito, de olhos profundos e sorriso meigo e enganador, em segundo plano estava eu ao lado de meus pais. Balancei a cabeça ainda descrente pelas ironias do destino.
Os primeiros raios de Sol começavam a entrar pela janela, hoje eu finalmente colocaria tudo o que estivera guardado por anos à prova. Hoje seria o último dia de McConnor, a partir deste dia serei apenas Billie Jean.

People always told me be careful of what you do
And don't go around breaking young girls' hearts
She came and stood right by me
Then the smell of sweet perfume
This happened much too soon
She called me to her room




4.



Billie Jean is not my lover
She's just a girl who claims that I am the one
But the kid is not my son

Eu estava a ponto de derrubar a porta do quarto, não seria possível que ainda estivesse dormindo. Já havia batido, chutado, esmurrado e tentado abrir com um grampo, técnica essa sem sucesso já que ela deixara a chave na fechadura. Olhei no relógio pela vigésima vez e decidi que pularia a janela, cinco e cinquenta era a hora que o relógio apontava.
- O que é? – A voz rouca de minha melhor amiga soou através da porta antes que a mesma fosse aberta revelando a cara amassada da individua.
- Você cheirou meia sem lavar? Sabe que horas são?
Ela ainda me olhava confusa até que eu mostrei o visor do celular, foram necessários mais alguns minutos até que a ficha caísse e corresse como uma insana para o banheiro. A porta foi batida com tanta força que temi pelas dobradiças, balancei a cabeça e fui me sentar em sua cama, precisaria dela para repassar o plano e comer antes de irmos. Olhei para bagunça ao meu redor e arregalei os olhos para alguns papéis que havia espalhados sobre o colchão. Uma foto em especial atraiu meus olhos, abraçada ao que deveria ser seus pais e mais à frente uma moça loira, que parecia muito com a suposta mãe de , estava abraçada com... Pelas máscaras de Dalí! Na foto o negociador estava abraçado a moça loira e sorria, virei a foto e achei uma dedicatória que enfim colocaria um ponto final em todas as minhas dúvidas acerca do passado de minha parceira.
“Para minha querida irmã M, com todo carinho e amor. Lissa McConnor.”

Meu cérebro começou a trabalhar mais rápido do que eu esperava. Lissa McConnor, a garota de quem falara duas noites atrás que tivera o coração partido por era na verdade irmã de .
- Achei mesmo que já era hora de você saber. – Ouvi sua voz perto, pulei de susto com sua figura ao meu lado. Estava tão entretida que sequer notei sua aproximação.
- , o quê...
- Ele era o namorado da Lissa, ela tinha vinte e dois e eu dezoito. Quando o vi pela primeira vez me senti atraída por ele, mas ignorei, é claro. Em que mundo alguém como ele ficaria com alguém como eu? Mais nova, boba e pouco querida na sociedade. – Ela sorriu triste. – O completo oposto de minhas irmãs. Lutei contra o sentimento durante dois anos, até que em uma tarde Lissa chegou dizendo que eles haviam terminado porque ela não o amava mais e estava apaixonada por outro cara.
Eu não conseguia falar nada, aquilo parecia uma versão inglesa de “A Usurpadora”.
- e eu nos tornamos amigos quando entrei na faculdade, ele me levava para festas e estudava comigo. Até que um dia, tarde da noite, ele disse que gostava de mim e me beijou. – Ouvi o barulho de uma cadeira sendo arrastada e notei que era se sentando perto do computador. – Começamos a namorar e eu realmente o amava, até então achei que ele sentia o mesmo. Um mês depois que estávamos juntos chegou à bomba, Lissa estava grávida dele. – Arregalei ainda mais os olhos e prendi a respiração. – Eu não podia ficar com ele, apesar de Lissa dizer que estava tudo bem, eu sabia que no fundo não estava. disse que assumiria o bebê, mas nada impediria nosso namoro, e foi quando meu pai disse que não aceitava.
Ela deu de ombros.
- ... eu...
- Ele sumiu por sete meses, e quando finalmente deu notícias soube que Lissa havia perdido o bebê. – levantou e seguiu para perto do espelho. – A culpa não foi dele, eu sei disso, mas o ódio que minha irmã passou a alimentar de nós dois misturado a sensação de abandono que ele me deixou fez com que eu aceitasse a invasão à joalheira e viesse com você.
- Espera, você tá me dizendo que se tornou a melhor ladra de joias e arte do mundo graças a um policial? – Indaguei histérica, ela assentiu. – Minha nossa.
- Pois é.
- Mas se você sabe que ele não tem culpa, então por que não foi falar com ele? – Questionei ainda atônita.
- fugiu para Paris, foi em busca da carreira e me deixou sozinha no olho do furacão. Ele partiu mais do que meu coração, transformou quem eu sou. – E após essa frase ela abriu um sorriso. – Agora, vamos ao trabalho, aquele quadro não vai se roubar sozinho.

Billie Jean is not my lover
She's just a girl who claims that I am the one
But the kid is not my son
She says I am the one, but the kid is not my son
She says I am the one, but the kid is not my son
Billie Jean is not my lover

Concordei e a segui para fora do cômodo. E eu achando que tinha problemas porque meu irmão quis me dar como pagamento de um jogo de dominó.



5.



She's just a girl who claims that I am the one
But the kid is not my son
She says I am the one, but the kid is not my son
She says I am the one, she says he is my son
She says I am the one

Chegamos à mansão meia noite e trinta em ponto, desligamos os alarmes com a ajuda de um código que conhecia e entramos pela janela. Usamos uma corda para escalar e pulamos para dentro com cuidado para não pisar no sensor. As máscaras de mulher gato seria de grande utilidade já que eu ainda estava desativando as câmeras.
- Pega o celular e trava o sensor. – Alertei minha parceira, havíamos estudado aquele tipo de sensor e descobrimos que havia um código secreto capaz de travá-los sem precisar colocar as mãos. Tirei a pistola com silenciador do bolso e atirei nas quatro câmeras restantes, o som do aparelho se quebrando fora encoberto pelos esguichos do jardim que mais pareciam cachoeiras.
- Sobe logo e pega o quadro. – Chamou . – Guardei a arma e me afastei, tomei impulso e corri, apoiei os pés na parede e retirei o quadro com agilidade. Com a botinha de algodão que trouxéramos não havia como ficar marcas de sapato. Retirei a peça da moldura com os instrumentos que trouxera e enrolei a tela, guardei no protetor e em seguida recoloquei a moldura na parede junto com um bilhetinho especial, riu da mensagem.
- Vamos. – Chamei.
Deixamos a casa e refizemos o caminho pelo muro leste, havíamos colocado os dois guardas daquele lado para dormir com dardos tranquilizantes de caçar elefantes. Pulamos o muro com a ajuda da corda e corremos pela rua em direção ao Chevelle 85 que fora encapado com tinta branca e a placa trocada. Nossas malas já ocupavam o banco traseiro. Depositei a tela no chão do veículo embaixo do assento do motorista e ocupei o carona, assumiu a direção e logo estávamos partindo para um lugar onde ninguém jamais nos acharia.
Agora era só questão de tempo até aparecer à notícia nos jornais.

_o_

3 dias depois, em algum lugar do mundo...

- Liga a televisão rápido! – O grito de me assustou, liguei o aparelho e me aconcheguei melhor sobre o colchão, logo ela estava ao meu lado com a cara cheia de creme verde e uma toalha na cabeça.
... E mais uma vez a dupla de ladras anteriormente conhecidas pelos falsos nomes de Samantha Ryne e Cassandra Anderson atacam. Na noite de catorze de fevereiro a casa do bilionário Johnson Castle foi invadida e teve o quadro “A menina com o brinco de pérola” de Vermeer levado pelas ladras, e em seu lugar a moldura com um bilhete inusitado foi achado. Acompanhem o conteúdo.

“Nunca brinque com o coração de uma garota, B.
Billie Jean is not my lover...”

A polícia diz não saber do que se trata a mensagem, mas as investigações continuam.
Ao fundo a imagem de ao lado de nos fez rir, os dois pareciam saber exatamente do que se tratava a mensagem. Melhor do que isso, eles sabiam que havíamos ganhado o jogo.

Billie Jean is not my lover








FIM!



Nota da autora: E nos 45 do segundo tempo eis que a fic saiu! Meus amores muito obrigada por cada leitura e todo amor que vocês me dão. Espero que curtam a história e comentem bastante para deixar essa autora feliz. Nos vemos em breve.
Xx






Nota da beta: Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.


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