03. Calendário

Fanfic finalizada: 07/06/2020

Capítulo Único

acorda com um ânimo nunca visto antes, toma um banho pensando em como aquele dia vai ser incrível.
- Bom dia mãe.
- Uau, você está radiante meu filho, um guia turístico, estou tão orgulhosa. - Ela fala colocando as mãos no rosto como se estivesse emocionada, mas seus olhos mostram que é apenas um sorriso simples.
- Para mãe, não precisa fingir, eu sei que você gostaria que eu fosse médico. - Fala lembrando de quantas vezes ela o incentivou a estudar sobre a área e o brilho nos olhos dela enquanto imaginava um filho doutor.
- Ah, fique tranquilo, o meu neto pode ser... ou minha nora talvez, hein? - Ela diz esperançosa de que ele confesse que tem alguém em sua vida, porém não está preocupado com isso no momento.
- Para mãe, eu tenho que ir.
Ele beija a testa da mãe e sai pela rua dando bom dia a todos que encontra, o que nunca fazia ao ir trabalhar, pois geralmente estava de mau humor e atrasado. Todos então sabiam que aquele seria um grande dia para ele.
Ele entra no ônibus, se senta no lugar habitual e vai o caminho todo olhando sua vista preferida no Rio, a garota do ônibus, todos os dias ele tentava ser discreto ao encará-la lendo. Ela era uma pessoa diferente, sua postura demonstrava que não se importava com que os outros pensavam. Sua pele clara contrastava com seus lindos cachos escuros. Ela usava óculos simples sobre olhos verdes vivos.
Ele chegou na agência, todo empolgado esperando sua promoção, ele sabia cada detalhe da agência, além de conhecer do avesso cada canto do Rio de Janeiro, falava perfeitamente 5 línguas, só lhe faltava o cargo no qual se encaixava perfeitamente.
Seu chefe o chamou, era um homem de meia idade, tinha ralos cabelos castanho-claros, que deveriam ter sido loiros quando era mais novo e olhos azuis como piscina.
- , esse é o meu sobrinho, James, ele vai ficar em seu lugar nas vendas. - Disse o homem apontando para um jovem que carregava traços muito parecidos com os do tio.
respirou fundo, se sentiu aliviado, pois pensou que James tomaria o seu lugar.
- Prazer em conhecê-lo James, garanto que você vai gostar do trabalho na agência.
James assentiu. Quando saíram da sala, percebeu que seu chefe não havia falado nada sobre sua promoção. Como se tivesse ouvido o pensamento do colega, James perguntou:
- Está animado com sua promoção? Meu tio disse que você é um dos melhores funcionários dessa agência.
- Sim, eu estou, adoro andar pela cidade e ver gente nova.
- É, tenho certeza que se sairá muito bem.
James conheceu sua parceira de trabalho, Kelly, ela era a recepcionista da agência. Aparentemente ele se encantou por ela e Kelly parecia ter gostado dos olhos de piscina do novo vendedor.
pensou que ali havia nascido um romance e se lembrou que sua mãe mal podia esperar para que ele entrasse em um relacionamento. Ele foi um grande pegador na escola e na faculdade, mas nesse momento se sentia feliz e não tinha a necessidade de encontrar alguém.

A garota desceu do ônibus se lembrando do homem que sempre a encarava durante as viagens do cotidiano. Ele era um homem alto, de corpo definido, moreno e sempre se encontrava com um headphone, pelo seu estilo ela o imaginava escutando um rock, apenas o olhava de soslaio, temendo o que aconteceria caso se encarassem.
Ela deveria parar de pensar nele e se concentrar no trabalho, então ela teve a brilhante ideia de incluí-lo como um personagem de seus romances, que ninguém nunca leu e nunca leria.
Mal adentrou a escola na qual trabalhava e foi chamada pela sua chefe.
- , você sabe que te admiro de todas as formas e que tenho um grande apreço por sua família e todo o trabalho do seu pai como médico.
- Serei demitida? É isso que está tentando me falar? - Disse encarando Denise, amiga de seus pais desde sempre.
- Bom, espero que entenda, embora você negue sua origem, você tem boas condições, ao passo que aqui tem muita gente que não teria o que comer caso perdesse o emprego, e também você é jovem e bonita, anda sempre bem vestida, não terá dificuldade de encontrar um novo emprego.
- Tudo bem, não me deve explicações, eu entendo.
saiu da escola de cabeça baixa, agora que fora demitida teria mais tempo para seus trabalhos voluntários na comunidade. Mas como se sustentaria? Estremecia só de pensar em receber mesada do pai novamente, ela não tinha mais 15 anos, deveria se virar, nem que fosse trabalhar de garçonete.
Chegou em seu bar preferido na cidade, era cedo para beber, mas quem se importa, havia sido demitida. Pegou o caderno no qual escrevia e começou a descrever o cara do ônibus como o herói de seu conto. Seu telefone tocou. Viu que era a última pessoa com a qual queria falar naquele momento.
- Alô?
– Oi filha, acabei falando com a Denise hoje e ela me contou que acabou fechando turmas na escola e ela teve que te demitir.
- É, tanto faz, logo arrumo outra coisa.
- Se você quiser posso falar com alguém que me deve um favor.
– NÃO PAI. - Riu seco. - Não preciso da sua ajuda, já tenho 23 anos, eu posso me virar. - Respondeu, escondendo a mágoa que seu pai sabia que ela carregava, por sempre estar longe cuidando de outras pessoas, enquanto ela recebia presentes caros em compensação. Ela nunca aceitou esse tratamento e exigia a presença do pai para abraçá-la.
- Tudo bem, me desculpe, em três meses eu volto do Nepal. E aí te dou toda a atenção que você merece, sem crianças carentes e sem reuniões da alta sociedade. Está bem? - Ela sorriu ao escutar seu pai lhe dizer tudo o que precisava ouvir, com esperança de que ele cumprisse com sua promessa. - Te amo filha.
– Também te amo pai.
Ela se virou levemente e viu uma garotinha loira no meio da rua, sem pensar duas vezes correu e a levou para a calçada bem a tempo de salvar a garotinha de um atropelamento.
- Tia, você é igual a mulher maravilha, você me salvou.
A garotinha deu um abraço apertado em o que a fez lembrar porque amava crianças. Do outro lado da rua, uma mulher refinada parecia atordoada e preocupada.
- Ei linda, aquela é sua mãe?
O rostinho da garota se iluminou, ela começou a pular e balançar os braços chamando pela mãe.
A mulher atravessou a rua e abraçou apertado a filha. Virou para a outra mulher a sua frente, totalmente confusa e começou a gritar:
- O que você queria com a minha filha? Sua louca, sai pegando crianças dos outros assim?
- Esse é meu trabalho. - respondeu num impulso.
- Mamãe, não brigue com ela! Ela é minha mulher maravilha, eu estava na rua e quando vi um carro ia bater em mim, mas essa moça veio e me tirou da frente do carro. Foi incrível mamãe! Ela pode ser minha babá? - A mulher olhou da cabeça aos pés, e por sorte a mesma estava com roupa de trabalho, uma calça jeans confortável, um sapato baixo, mas elegante.
- Eu sou professora. - Explicou. A mulher começou a falar para a filha que sua heroína já tinha um trabalho. - Na verdade, eu acabei de ficar desempregada senhora. - Disse sem saber muito bem o que queria com essa resposta, não sabia se deveria trabalhar de babá.
- Bom, então teria interesse em fazer uma entrevista? - Perguntou a loira interessada.
- Para babá? - ponderou por um estante e respondeu – Sim, eu tenho interesse em cuidar dessa garotinha linda.
- Meu nome é Melissa. - Disse a menininha.
– O meu é , ao seu dispor. - Fez reverência para Melissa, cumprimentou a mãe da garota, que lhe deu um cartão.
- Vou te entrevistar na empresa do meu marido, não tenho hábito de colocar estranhos dentro de casa. Aí está o endereço. As 8 horas está bom para você?
- Sim, está ótimo, senhora... Villar?
- Isso, Helena Villar. Até amanhã.
voltou para o bar perplexa, mas também feliz, até que viu que havia esquecido seus rascunhos em cima do balcão e tinha um cara lendo-os.
- Ei, ninguém te ensinou que não pode mexer nas coisas dos outros?
O homem se virou e ela viu, era o bonitão do ônibus.
ficou surpreso por encontrar sua musa do ônibus e o pior, que escrevia um romance bem interessante e um personagem exatamente com as suas características físicas.
- Bom, os papéis são seus, mas a história é minha. E só para constar, meu físico definido não é fruto de academia, é fruto do futebol e funcional, odeio musculação.
- Quem disse que isso é sobre você? Está louco? Nem te conheço.
- Não saber meu nome não significa que não me conhece, pegamos ônibus juntos faz uns 3 anos. E é por isso que a não ser que você me mostre que conhece um outro cara de mais ou menos 1 metro e 90 de altura, que sorri de lado e é um grande apreciador de música, eu vou acreditar que esse “Marcos” sou eu. E eu não acho que me pareço com Marcos, a propósito, meu nome é .
é muito mais sonoro” pensou. Mas ainda encarava o homem incrédula, ela nunca se imaginaria nessa cena.
- Então, você pode me devolver meu caderno, Marcos, quer dizer, .
Ele gostou da acidez dela. Ele gostava da versão doce que imaginava, mas um pouco de agressividade era bem atraente.
- Eu devolvo se você se sentar naquela mesa comigo e só sair depois que comermos a maior porção vendida aqui.
Ela queria ser orgulhosa o suficiente para recusar o convite e fingir que tudo aquilo nunca havia acontecido, mas como poderia resistir?
Eles se dirigiram a uma mesinha em um canto discreto, ele com um ar divertido puxou a cadeira para , feliz em poder finalmente conhecer a garota. Ambos eram frequentadores daquele local pequeno, mas confortável com cadeiras de madeira simples e paredes cheia de posters de cantores dos anos 80 e quadros que vaziam alusão à alguma bebida. Então começaram a se encarar, estudando um ao outro.
- Então, senhorita , me conte sobre seu trabalho como escritora. – disse, devolvendo o caderno à garota depois de ler seu nome nele, portanto um sorriso leve.
- Eu não sou escritora, isso é só um hobbie, eu escrevo exclusivamente para mim, não era para vossa excelência ter fuxicado nas minhas coisas - Ele riu do termo que ela usou e rebateu.
- Achado não é roubado, quem perdeu foi relaxado. - Eles riram.
- Parabéns, você reproduziu minhas crianças com êxito.
- Você tem filhos? - Perguntou ainda com a risada no ar, demonstrando que não se importava com o fato.
- Não, eu sou professora. - Respondeu com um sorriso que se recusava a abandoná-la.
Conversaram por um bom tempo, quando se animou de forma extraordinária ao começar tocar uma música que gostava, não perdeu tempo e a convidou para dançar. Eles dançaram rindo pela atitude inoportuna, com todos os olhando.
- Preciso ir, tenho uma entrevista amanhã, não posso perder essa oportunidade e com certeza não vou passar se tiver de ressaca. - Disse encarando o relógio.
Eles riram e ele lembrou que ainda era uma quinta feira, ainda trabalharia no dia seguinte e não poderia responder à promoção chegando no trabalho de ressaca.
- Bom, se pegamos o mesmo ônibus, podemos dividir um taxi, o que me diz?
- Está bem, eu divido um taxi com você, vou me sentir mais segura também.
Ele encarou aquela resposta como um sinal verde, embora fosse algo simples. Ele se viu apaixonado por ela.
olhou para a mulher, seus cabelos balançavam com a brisa naquela noite estrelada, olhou sua boca perfeitamente desenhada, e o que ele mais gostava nela, aqueles olhos verdes por trás dos óculos. Ele nunca achou que alguém ficaria tão bem de óculos.
Ele a beijou e embora ela não quisesse que nada daquilo acontecesse, acabou se deixando envolver por aquele beijo quente e intenso.
- O que foi isso? - Perguntou ainda abobada com o ocorrido.
- Eu estou apaixonado por você.
Ela não sabia no que pensar, ele estava louco? Ou ela estava? Como aquilo poderia estar acontecendo? Ela tinha sim várias fantasias com ele, mas não podia acreditar naquelas palavras.
- Me desculpa, acho que me deixei levar pelo momento. - Ele tentou neutralizar o que havia dito, sendo óbvio que era muito cedo para soltar aquelas palavras, eles acabaram de se conhecer.
Eles entraram no taxi e o clima ficou estranho no começo, tinham várias coisas a serem ditas e ao mesmo tempo não havia nada que poderia ser dito.
- Então, o Marcos corresponde às suas expectativas?
- Não. - Ela disse seco, e não correspondia nenhum pouco, mas não de um jeito negativo. Tudo o que estava acontecendo, a conversa com ele, o beijo, era muito melhor do que suas expectativas.
Ele estava inexpressivo, mas ela sabia que ele ficara chateado.
- Ei, você não é nada como o Marcos, ele não é assim, tão sensível.
Ele sorriu e ela se sentiu melhor. sabia que não tinha consertado a resposta anterior, então pensou sobre o que estava sentindo e o que queria realmente. Ela decidiu então só se entregar ao momento, aquilo não precisava significar algo, apenas que ambos se curtiam. Ela o beijou, ele se surpreendeu, de um jeito bom, e até chegarem foram em meio a carinhos, abraços e beijos.

Já era de manhã e não conseguia parar de pensar na noite anterior. Logo se lembrou que o veria de novo, no ônibus e sentiu borboletas no estomago, droga, ela estava apaixonada, não devia estar, ela tinha que colocar na cabeça que o tipo desses garanhões são loiras turbinadas, e não mulheres como ela. Sim, ele já havia namorado muitas mulheres assim, porém nenhuma despertava nele o mesmo que aquela morena cacheada.
estava no ônibus, mas dessa vez não estava lendo, estava escrevendo. entrou e dessa vez mudou o lugar de se sentar, o banco ao lado de estava vazio, então ele o ocupou.
- Escrevendo sobre mim de novo?
- Se for, você vai invadir minha privacidade de novo?
Ambos riram, ele não sabia o que falar, então ficou em silencio, ela se concentrou no que estava escrevendo.
Ele deu um beijo no rosto da mulher e se levantou, ela então se deu conta que hoje iria descer naquele ponto também.
Ela desceu e, antes de se dirigir ao local, parou em um café, precisava da bebida quente e forte para se preparar para o que viria.
Andou por 3 quarteirões e se viu diante de uma agência de viagens, a frente de vidro com vários anúncios de pacotes. Havia um ônibus esperando pelos turistas que seriam guiados por algum agente.
- Senhorita , você está me seguindo? - Disse encarando em frente ao seu trabalho.
- Não, eu vim para uma entrevista de emprego.
- Achei que seria em alguma escola, você dará aulas de que pra gente? - Perguntou fazendo graça.
- Bom, na verdade me propus a ser babá, e a criança é provavelmente a futura dona do lugar.
- Aaaaah então quer dizer que está me perseguindo tanto que até arrumou um emprego para cuidar da filha do meu patrão? - Ela riu, embora estivesse nervosa, ele a desejou boa sorte e deu-lhe um beijo na testa antes de se dirigir ao grupo de gringos.
No fim da tarde eles se encontraram ocasionalmente de novo, no mesmo bar da noite anterior.
- Consegui o emprego. - Ela disse com um sorriso tímido.
E era impressionante como ele gostava de todos os lados dela, o sério, o divertido, o agressivo e o tímido.
Eles fizeram dessa noite um remake da anterior, comemoraram o emprego de aproveitando a companhia um do outro.
Eles se viam todos os dias em ocasiões diferentes, ora no ônibus, ora na agência, ora no bar. Eles passaram a dividir seus segredos, desejos e sonhos, ambos se apoiavam e se ajudavam. Acima de tudo se desejavam.
Ao alcançarem essa relação, não entendia o porquê de não assumirem logo estarem juntos em um relacionamento sério.
estava assistindo um filme depois de um dia de trabalho, não tinha visto aquele dia, o que podia indicar que o amante havia comprado um carro, ele sempre falava animado que não via a hora de conseguir tal aquisição.
Ela ouviu uma música e foi até a janela ver o que era, estava lá com o violão e tinha um telão passando fotos deles juntos. O coração dela acelerou, não tinha mais como escapar do que sentiam. Ele começou a cantar:

Não se arrisque em tentar
Me escrever nas suas melhores linhas
Eu não preciso de altar
Só vem repousa sua paz na minha
Eu já te disse alguma vez
Tu tem pra mim o nome mais bonito
A boca canta ao te chamar
Teu canto chama o meu sorriso
E 'tá tão fácil de encaixar
Os teus cenários na minha rotina
No calendário passear
O fim de tarde em qualquer esquina
Tão natural que me parece sina
Vem cá
Te sinto seu ao se entregar
Me tenho inteiro pra você
Te guardo solta pra se aventurar
É tão bonito te espiar viver
Se encontra, se perde, se vê
Mas volta pra se dividir
Amor, é que você fica tão bem aqui
É que você fica tão bem aqui comigo


Quando terminou de cantar, o vídeo terminou com os dizeres: NAMORA COMIGO?!





Fim.



Nota da autora: Sem nota.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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