Capítulo único
Os passos em um dos corredores do prédio das Comunicações da NYU chamaram a atenção dos outros alunos logo cedo, que sabiam muito bem de quem se tratava; o barulho pesado que soava no piso de madeira, causado por botas de combate e o assovio leve, típico de quem se distraía, pertenciam a ninguém mais, ninguém menos que . Aquilo, para qualquer pessoa normal, significaria nada com coisa nenhuma, entretanto, tinha um tratamento especial ― o qual ele simplesmente odiava; ele era o irmão mais novo de , superestrela do pop desde os dezesseis anos, sensação internacional e uma febre de sete anos que simplesmente não passava. Por causa da fama do irmão, era famoso por tabela ― afinal, já que ficou famoso adolescente, ele também atraiu muitas fãs da mesma idade e até mais novas, aqueles tipos de fãs que cometem stalk contra a família inteira da celebridade com a qual se é obcecada.
Esse tipo de situação pesa em qualquer garoto de quatorze anos e, agora, com vinte e um, tentava ao máximo ser muito diferente do irmão. era um cara correto e que tentava sempre manter sua imagem de bom moço e , depois dos dezesseis anos e toda a pressão a qual lhe foi cometida, passou a ser alguém fechado, misterioso, cheio de tatuagens, que abusava do álcool e cigarro, além de se meter em confusão o tempo inteiro.
E não, isso não era causado apenas por sua fama forçada, era também causado pelos seus próprios pais. Beatrice e Frederich , logo ao avistarem seu filho mais velho como sendo uma sensação, aproveitaram-se disso e viraram seus próprios agentes. Eles também tentaram lançar como cantor, mas o garoto simplesmente recusou o papel, arruinando a sua relação com os pais, que passaram a olhar para ele como uma abominação, uma falha no sistema.
Contudo, isso não significa que tudo se acalmou. Na escola, na rua, nas redes sociais e agora na faculdade, os olhares de todos se voltavam para . A maioria de suas relações, amigáveis e românticas, não passaram de interesse destes que tentaram se aproximar dele, para tentarem se aproximar de . Isso também fez o garoto ter ainda mais nojo de sua fama e, por extensão, ter nojo do irmão, a quem ele culpou por tudo aquilo.
Deixando isso de lado, jogou a bituca de cigarro no chão em frente a sala onde teria aula de Comunicação e Cidadania e entrou, com todo o seu estilo de garoto malcriado e ajeitando sua franja oleosa, que já cutucava seus olhos.
― Atrasado de novo, sr. . ― o Professor Hawkins olhou ameaçadoramente para o aluno com seus pequenos óculos quase na ponta do nariz.
― Sinto muito, sr. Hawkins, prometo que nunca acontecerá de novo. ― retrucou com uma voz cansada e sarcástica, pois todos sabiam que sim, aquilo aconteceria novamente. Ele escolheu a última classe encostada na parede do lado esquerdo do recinto, praticamente o lugar mais isolado daquela sala de aula.
― Sabe, seu estrelismo algum dia irá desaparecer, e logo não haverá nada para te salvar do mundo real, sr. . ― o professor tentou chamar a atenção do garoto, que só conseguiu bufar e revirar os olhos.
― É, eu estou esperando por esse dia tanto quanto você. ― retrucou, enquanto cruzava os braços e se ajeitava na classe de um jeito extremamente relaxado.
O professor decidiu apenas ignorar , como de costume, e prosseguir com a aula. Por incrível que parecesse, mesmo com todos os problemas que se envolvia e com todo o seu jeito, ele era um bom aluno. Gostava muito do seu curso de Publicidade e Propaganda, e estava determinado a se formar, arranjar um emprego com pagamento no mínimo razoável e ter uma vida muito longe de sua família, então prestou bastante atenção na aula daquele professor desagradável.
Ele devidamente prestou atenção na aula, anotando tudo que o professor escrevia no quadro ou ditava, com sua letra desleixada que apenas o mesmo entendia. O tempo estava fazendo seu curso tranquilamente, até que alguém chegou correndo na sala de aula, assustando , que quase riscou o papel do caderno inteiro.
Uma garota de cabelo preto com californiana roxa, muito bagunçado, vestindo um moletom que aparentava ser muito velho e uma calça de pijama chegou ali como um furacão. O sr. Hawkins não mostrou tanta irritação com ela quanto mostrou com o atraso de , que achou aquilo completamente injusto, mas o professor parecia chocado com a presença da menina.
― Quem diabos é você? ― ele perguntou com as sobrancelhas juntas.
― Sinto muito, professor... ― a garota pegou um papel no seu bolso e leu. ― Hawkins! Eu realmente sinto, senhor. Meu nome é , sou uma aluna transferida da UCLA. Novamente, desculpe-me pelo atraso, meu alarme não tocou, e aí me apressei para me vestir, aí fui para o prédio errado, atravessei o campus correndo e agora estou aqui.
O professor ergueu sua mão como um sinal para que ela parasse de falar.
― Está tudo bem, srta. , eu deixarei isso acontecer apenas hoje por você ser nova. Depois disso, nada de moleza, está certo?
A garota assentiu.
― Obrigada, professor Hawkins.
― Agora, vá se sentar em qualquer lugar que quiser.
Completamente perdida entre aquele enorme recinto, aleatoriamente escolheu um lugar perto de , que não deixou de reparar nela, é claro. A pobre novata parecia ser tão desorganizada e desorientada, mas também tão gata. Assim que ela sentou ao seu lado, a olhou de canto e conseguiu observar um piercing de argola na sua narina direita e que, embora tenha dito que mal deu tempo de se arrumar, estava usando delineador e um batom cinza-arroxeado. Talvez roupas não fossem sua prioridade, e o garoto não sabia o porquê, mas gostara muito disso.
Mesmo com o vestuário modesto e o cabelo bagunçado, provavelmente de tanto correr, não conseguiu prestar atenção no resto da aula de tanto tempo que gastava olhando para , que nem notou ele. gostou tanto do jeito que sua testa ficava franzida enquanto estava concentrada, e como dava pequenas mordidinhas em seu lábio inferior enquanto olhava para o quadro, enquanto seus pequenos olhos verdes encolhiam e semicerravam para que ela enxergasse melhor.
Como não era um cara de enrolar, quando o sinal tocou para o intervalo entre classes, saiu dois passos depois dela, e acabou empurrando ela de propósito ― mas fingiu o contrário, é claro.
― Ah céus, me desculpe por ter te empurrado, estava meio distraído. ― mostrou o celular e sorriu um tanto quanto pretensiosamente, atuando como nunca antes na vida para chegar em uma garota.
― Está tudo bem, afinal você deve ter visto meu pequeno show quando entrei na sala, isso é nada. ― ela riu baixinho, parecendo envergonhada com o que fez mais cedo.
― Ah, qual é, você é nova, isso é mais do que normal. Eu estou aqui desde meu primeiro ano e até hoje chego atrasado nas aulas, hoje eu cheguei apenas uns minutos antes de você. ― ele tentou consolá-la e, pelo sorriso dela, aquilo funcionou. inclinou-se um pouco mais, para cumprimentá-la com maior charme. ― Meu nome é , mas você pode me chamar de .
― Muito prazer, . Meu nome é , mas já que eu o odeio e odeio minha mãe por ter me colocado esse nome estúpido, sempre me apresento como . ― ela acenou com a cabeça, mas logo se arrependeu de ter explicado tanta coisa para o primeiro estranho com quem conversou.
― Ah, se tem algo que eu entendo é o ódio a progenitores. ― ele riu levemente. ― Qual é a sua próxima aula?
pegou outro papel no bolso do moletom e passou os olhos por ele meticulosamente, procurando não se misturar.
― Ciências Políticas III, na sala 203 no prédio Borough. ― ela citou como fosse um robô, sem tirar os olhos do papel, mas depois mostrou uma expressão confusa. ― Eu realmente não sei onde isso fica. ― ela riu da própria desgraça.
― Ah, não é minha próxima aula, mas é no mesmo prédio, também. ― dessa vez, não mentiu apenas pela arte da conquista, pois realmente a sua próxima aula era no prédio Borough. Ele sorriu um tanto quanto sedutoramente. ― Posso te mostrar onde fica.
― Isso seria ótimo. ― a garota sorriu de volta e acanhou-se um pouco com o sorriso do menino estranho, porém bonito.
pegou os livros que ela estava carregando, como um ato de cavalheirismo, e por um segundo suas mãos se tocaram. Um ato normal para a maioria das pessoas, porém aquilo pareceu ativar um campo de energia extremamente intenso, como se eles tivessem tomado um choque, mas um choque bom, muito bom. Os olhos castanhos dele encontraram os verdes dela, fazendo não acreditar já estar com o coração acelerando e com a respiração cortada no seu primeiro dia de aula em uma universidade nova.
― Então... ― ela tentou pensar em algo para falar para sair daquela situação, mas não conseguiu achar nada.
― Você é da Califórnia, hein? Uma mudança bem radical da sua parte, vir para a agitação de Nova York quando se é de um estado tão cowabunga, dude. ― zoou o jeito tranquilão de ser dos californianos, mas não pareceu se ofender.
― É, é bem estranho, mas sempre foi meu sonho vir para cá. ― ficou olhando ao redor do campus, já que eles estavam atravessando um lindo jardim cheio de árvores e arbustos bem-cuidados, praticamente uma bênção para sua vista.
― E até agora está sendo tudo que você esperava que fosse? ― ele perguntou e recebeu um olhar bem sugestivo da garota.
― Muito melhor do que isso, na verdade. ― foi a vez dela de dar uma flertada. Só porque estava em uma nova cidade, nova faculdade com um estranho completo, não quer dizer que ela tinha que ser acanhada o tempo inteiro, certo?
― Que bom. ― assentiu lentamente e sorriu de canto.
Pouco tempo depois das últimas palavras ditas, eles chegaram na sala que seria a aula de , que por sorte ainda não tinham começado.
― Bom, agora você veio cedo. ― ele fez a observação.
― Verdade. ― ela concordou. ― Mas tudo por causa da sua ajuda, muito obrigada...
Parecendo esquecer momentaneamente o nome do garoto, ele riu e aproximou o seu rosto do dela.
― . ― ele disse.
― Isso, . ― riu com um toque de acanhamento e colocou uma mecha do seu lindo cabelo atrás de uma orelha. ― Muito obrigada pela sua ajuda.
― De nada. Se precisar de mais alguma coisa... ― pegou um papel na sua pasta e rasgou o final, depois pegou uma caneta e anotou seu número ali. ― Aqui tem como falar comigo.
Ela pegou o papel e sorriu, agradecendo e entrando na sala. Ele sorriu de volta; conseguiu dar seu número para uma garota sem nem ter que diretamente a chamar para sair. A sua felicidade estava no ponto alto com tal conquista.
Os seus caminhos demoraram a se cruzar novamente; por três dias, não ouviu nada sobre ou a viu, mas isso não quer dizer que ele parou de pensar nela. Algo sobre ela o intrigou; seu cabelo que parecia normal, mas com um toque de rebeldia nas suas pontas, seu jeito um pouco tímido e perdido, porém concentrado e um tanto galanteador.
Entretanto, nesses três dias, ele não a procurou. Qual é, para agarrar-se ao seu jeito “diferente” e “descolado”, isso envolvia não sair atrás de garotas feito um cachorrinho, certo?
Certo.
Até que o seu celular vibrou, às oito e vinte da noite, numa quinta-feira, assim que ele saiu do banho com apenas uma toalha branca escondendo suas partes.
Número desconhecido
Oi, . (8:20 P.M)
Você sabe de alguma hamburgueria realmente boa aqui perto do campus? (8.20 P.M)
Eu e a minha colega de quarto estamos com vontade de comer hambúrguer, mas na última que fomos eles tinham gosto de mofo. (8:21 P.M)
Ah, é a , aliás. (8:21 P.M)
Lembrei que salvei seu número mas você não salvou o meu :P (8:21 P.M)
Quando ele leu aquelas mensagens, o garoto sorriu de canto. Pronto, Deus colocou uma oportunidade muito boa em sua frente, aquela era sua chance de a chamar para sair sutilmente.
Bem, aquilo não foi nada sutil. Mas tudo bem, os mísseis já haviam sido atirados. Agora era só esperar pela sua resposta.
Ah, é claro! (8:24 P.M)
Não querendo ser atirada nem nada, mas eu estava há alguns dias pensando em uma maneira de te chamar. Você foi um dos únicos que foi legal comigo nesses primeiros dias. (8:25 P.M)
Enfim, eu e Charlotte moramos no prédio Kennedy. Estaremos te esperando ;) (8:26 P.M)
se surpreendeu como nunca lendo as últimas mensagens de . Ela foi tão direta, mais do que ele na verdade, então ela não era tão tímida quanto ele pensava, afinal. Entretanto, ele gostou muito disso, mais do que deveria. Ele pegou seu celular pela última vez para mandar as últimas mensagens para ela.
Ele olhou para o teto como alguém olhar para o céu estrelado, feliz por ter conseguido concluir mais uma conquista, mas mal ele sabia que aquilo se tornaria muito mais do que um simples flerte.
(...)
olhava com atenção para o reflexo de seus lábios no espelho enquanto delicadamente passava um batom de cor roxa. Pressionando o inferior contra o superior, se afastou um pouco para observar o resultado; sua maquiagem contrastava suas californianas coloridas em seu cabelo preto e ondulado. Além disso, o suéter cinza com o ombro direito caído e seus jeans rasgados com uma meia-arrastão por baixo, sobrepostos pela bota de couro preta a fizeram olhar a si mesma de cima a baixo e ter a autoconfiança de que estava sim, muito bonita.
― E aí, já achou uma hamburgueria? ― Charlotte, sua colega de quarto, perguntou enquanto mexia no celular, sentada em sua cama, já bem arrumada.
― Sim, falei com o meu amigo. Ele vai com a gente, aliás. Espero que isso esteja tudo bem por você. ― respondeu, enquanto arrumava sua bolsa.
― Claro, desde que você me fale o nome dele. ― Charlotte ergueu apenas uma de suas sobrancelhas ruivas, olhando para a colega.
― É . ― deu de ombros, recebendo um olhar estranho da outra garota.
― , é um dos nomes mais populares da América! ― riu. ― Você precisa ser mais específica.
― . .
não soube exatamente o que aconteceu para Charlotte ter quase entrado em estado de choque depois de ouvir aquelas palavras saírem de sua boca.
― ? Ele não tem amigos, . ― Charlotte riu, mas foi mais uma risada nervosa do que engraçada. ― O cara é uma bagunça total, você não tem ideia no que se meteu!
― Mas ele foi tão legal comigo no meu primeiro dia... ― a menina pareceu confusa com o que a colega disse, comparando com o jeito do garoto no dia em que o conheceu.
― Ele provavelmente está apenas tentando te levar para a cama... ― Charlotte bufou. ― Além de tudo, ele é irmão de , o que faz ele ser um dos caras mais observados da NYU. Os olhos de todo mundo estarão voltados a você, por tabela.
Ignorando tudo que a colega disse, tirando a parte do parentesco de , ficou completamente chocada com o fato. Ela era uma fã assídua de música, mas odiava o pop genérico que tocava, além de achar toda a fama dele muito enjoada, ele era extremamente superestimado. Pensando nisso, ficou mais chocada ainda ao notar como parecia ser diferente dele. E, de alguma maneira, sentiu-se muito atraída por isso.
Sem tempo de pensar mais, as garotas ouviram alguém batendo na porta.
― Agora é tarde demais para falar mal dele, Charlotte, ele chegou. Se comporte. ― ela avisou a colega e foi abrir a porta.
usava uma jaqueta de couro enorme, mas diferente da que ele usara três dias antes. Seu cabelo já não estava mais oleoso, mas era bagunçado de um jeito charmoso, e notou ele muito mais do que no último dia que se viram. Depois de descobrir um pouco sobre ele, tudo que ela queria era saber ainda mais.
― Oi, garotas. Vocês estão prontas? ― ele perguntou com sua voz que era sexy sem um pingo de esforço.
― Eu estou, só vou pegar a minha jaqueta. ― sorriu e se virou para fazer o que tinha dito.
Chocado com a beleza da garota ainda mais relevada, já que no dia em que se viram ela estava de pijamas e um pouco bagunçada, não sabia o que fazer. Sua aparência era praticamente como ele imaginava a sua garota perfeita, e aproveitaria essa noite para descobrir se sua personalidade também era.
Para ele, praticamente ofuscou a sua colega de quarto que, embora fosse atraente, não chegava aos pés de aos olhos de .
― Vamos? ― ela perguntou tanto para o garoto parado na porta quanto para a colega completamente entediada sentada na cama. Os dois assentiram, e logo estavam todos atravessando o campus em direção ao estacionamento.
A conversa entre eles foi serena e calma, e foi tão legal que até Charlotte cedeu e passou a ser mais legal com ele. Pareceu tão certo, os três ali, agindo como se fossem amigos há um tempão, mesmo que sua conversa se resumia em perguntas sobre suas vidas para se conhecerem melhor.
― Então, em que cursos vocês pretendem se formar? ― perguntou, já quando eles estavam na hamburgueria e ele comia uma batata frita.
― Eu quero Jornalismo, deve ser por isso que temos algumas aulas juntos, mas não todas. ― respondeu enquanto provava seu milk-shake.
― Pretendo me formar em dois cursos, Biologia e Saúde, para depois passar em uma faculdade de Medicina. ― Charlotte disse, impressionando o garoto.
― Pois é, essa garota é um crânio. ― riu, enquanto olhava para a amiga, que ficou um pouco sem graça com o elogio dela.
― Isso deve exigir muitos estudos. ― ele parecia impressionado, mas logo se corrigiu. ― Claro que não é como se o meu curso e o da não exijam, mas você deve passar quase o dia inteiro estudando.
― É, é praticamente isso. ― a ruiva riu fraco enquanto assentia lentamente.
― Bem, então nos sentimos honrados por ter nos encaixado nessa agenda cheia, certo, ? ― brincou carinhosamente, olhando para o garoto logo após.
― É claro, muito honrados. ― assentiu e entrou na brincadeira, retribuindo o olhar de com um sorriso que fez os joelhos da garota enfraquecerem.
Mesmo que ele estivesse usando ela apenas para anotar mais um nome no seu bloquinho, havia uma coisa que não mentiu para elas; aquela hamburgueria de nome ridículo era realmente muito boa. Não apenas o hambúrguer, mas as batatas e o milk shake eram de morrer de tão gostosos. E, como se não bastasse, o ambiente era bem jovial e bonito.
Agradecidas pela sugestão e pela companhia do garoto, Charlotte e elogiaram a ChowChow Burger durante o caminho inteiro de volta ao campus. Além de tudo, a primeira sentiu-se muito mal por ter julgado o garoto tão precipitadamente, pois tudo que ela falara fora coisas que ela ouvira de outros alunos e, bem, a faculdade às vezes pode ser tão maldosa quanto o ensino médio.
levou as duas garotas até a entrada do prédio, mas, quando elas chegaram ao dormitório, apenas Charlotte entrou.
― Ei, Lotte, você se importa se eu for tomar um ar? ― perguntou à colega, e ela apenas assentiu, mas com um sorriso um pouco malicioso, já sabendo do que aquilo se tratava.
― Claro que não, pode ir. ― Charlotte confirmou.
― Quer ir comigo? ― bem direta, virou para e fez a pergunta que ele pensava meticulosamente em fazer apenas em alguns dias, pois achava que ela não aceitaria de imediato. Surpreso, ele apenas assentiu.
― Sim, quero. ― sorriu sugestivamente.
Se despedindo temporariamente de Charlotte, foi com até os arredores do campus. De início, eles ficaram um pouco sem jeito; nem pareciam que flertaram tanto por mensagem e se trocaram olhares galanteadores durante a janta. estranhou tanto que até achou que estava perdendo seu jeito com garotas, mas aquela em particular o intimidava.
Mesmo com uns momentos sem saber o que falar, a conversa não demorou a começar e a fluir. descobriu que nasceu e cresceu em São Francisco, até se formar e ir para Los Angeles. Ela gostava de lá, mas não sentia que combinava com o estilo californiano de ser, em nenhuma cidade, fosse São Francisco, Los Angeles, Los Santos, tanto faz. Cresceu assistindo séries e filmes que se passavam em New York, então desde novinha tinha o sonho de pelo menos visitar a cidade. Teve a oportunidade de fazer isso nas férias entre seu primeiro e segundo ano da faculdade, então decidiu que, quando terminasse o segundo ano, tentaria transferir-se para uma Universidade de New York, e conseguiu ir para a NYU.
Também descobriu que ela tinha dois irmãos; um mais velho, que já estava noivo, e um mais novo, ainda no meio do ensino médio. Sua mãe é uma cirurgiã e seu pai um advogado, e ela nunca foi próxima deles, apenas do irmão mais velho, pois pelos empregos seus pais sempre foram distantes, algo que a afetou um pouco.
também conseguiu arrancar dela algumas informações sobre sua vida amorosa; namorou sério duas vezes, por um ano no segundo ano do Ensino Médio e por oito meses no primeiro da faculdade, mas nunca sentiu que amasse de verdade algum dos seus ex. Teve alguns casos de uma noite e saídas de alguns encontros, mas nada que tenha se apegado.
― Então, conte-me um pouco mais sobre você. Já falei tanto sobre mim... ― pediu, olhando para ele de uma maneira um tanto quanto insistente e ao mesmo tempo romântica.
― Ah, não há muito a falar... ― coçou a nuca e riu fraco, tentando se desvencilhar desse assunto.
― Qual é? Falei sobre uma boa essência da sua vida, quero saber um pouco mais sobre você! ― ela continuou insistindo e deu um pulinho. ― Embora eu já saiba de uma coisa...
― O que você sabe? ― ele perguntou de maneira galanteadora, mas estava com medo de a resposta ser o que ele achava que era.
― Que você é o irmão do “grande” . ― fez pouco caso do irmão daquele que estava ao seu lado e, embora a resposta dela tenha sido o que ele temia, o garoto sentiu-se um pouco melhor quando ela caçoou .
― É, é difícil escapar do meu parentesco... ― ele riu de nervoso. ― tudo que meu irmão tem de “grande” é que ele é um grande idiota.
revirou os olhos ao relembrar do irmão, mas não deixou se frustrar por causa disso. Era uma noite linda e ele estava com uma garota linda; já bastava ele destruir outras áreas da sua vida.
― Sabe, confesso que quando me falaram eu fiquei um pouco chocada. ― ela riu fraco. ― Vocês parecem muito diferentes, pelo menos do que vejo de na televisão e na internet.
― Não poderíamos ser mais diferentes do que somos. ― ele suspirou. ― não é um bom moço, mas faz de tudo para construir a imagem de que é, enquanto eu... bem, eu sou a ovelha negra.
― Então deixa eu ver se eu entendi... ― fez uma expressão pensante e ficou na frente dele, fazendo com o que o garoto parasse de caminhar. ― Seu irmão é um cara que se finge de bom moço quando na verdade ele não é, então você é um bom moço que se finge de mau?
riu e mexeu no próprio cabelo após a sugestão dela, e o seu gesto fez com que a garota se fixasse nele, cada vez mais impressionada com a beleza simplória do garoto.
― Nah, eu sou o que sou. ― ele deu de ombros.
― Bem, se quiser a minha opinião, você parece ser um cara bem legal, mas talvez um pouco afetado pela fama do irmão. ― mesmo não sendo a intenção dela, suas palavras atingiram um pouco. Não porque elas estavam erradas, mas porque eram mais verdadeiras do que nunca.
pressionou os lábios um contra o outro e respirou fundo, ainda um tanto quanto abalado.
― Não é só a fama dele, sabe? ― disse um pouco cabisbaixo, e passou a entender que aquele era um assunto delicado. ― Desde que éramos crianças, sempre fui a sombra dele. Ele era o garoto prodígio enquanto eu era apenas... um garoto. Um garoto normal, sem algo de especial. Meus pais sempre focaram muito mais nele do que em mim, e com a fama dele isso só piorou. Aí eles começaram a prestar mais atenção em mim, mas só porque queriam que eu fosse como , um produto.
prestou atenção em cada letra, cada palavra que escapava da boca daquele ao seu lado e não pôde evitar sentir pena dele. Ser a sombra de alguém qualquer já era ruim, mas ser a sombra do próprio irmão? Que tipo de pais eram aqueles que incentivavam a rivalidade entre seus filhos?
― Bem, mas você precisa saber que quem você realmente é já é mais do que o suficiente, embora seja difícil ignorar a própria família, isso vai muito além do que seus pais e seu irmão pensam de você. ― ela olhou diretamente em seus olhos, hipnotizando-o com eles e com sua fala. ― Eu sei que nos conhecemos apenas recentemente, mas você já parece ser um cara bem interessante.
sorriu de canto e tentou esconder o fato de que tudo que ele precisava era alguém para falar algo daquele tipo para ele. Que ele precisava de ajuda e conselhos, mas nunca ninguém ficou ali tempo o suficiente, ou se importou o suficiente para fazer isso.
― E você é uma garota bem interessante. ― ele inclinou-se em direção ao rosto dela, ainda retribuindo seu olhar e falou tão perto dela que suas respirações começaram a se misturar.
baixou o seu olhar para os lábios dele. Eles eram rosados, com o tamanho na medida certa e muito, mas muito atraentes. Na verdade, era atraente no geral; seus olhos magnetizavam qualquer um que fosse sua vítima, seu jeitão um pouco rebelde porém doce era eletrizante, sua voz arrepiava e ele sempre sabia quando dizer a coisa certa.
Ela estava lá há três dias. Três dias em New York e ela já havia encontrado o significado de magia dentro daquele garoto.
Então ela deixou tudo de lado. O tempo que estava ali, seus relacionamentos falhos e o conselho de Charlotte, ela queria tanto ele; ou pelo menos um pedaço dele.
E ? Ele também deixou muita coisa de lado. Seus medos, suas inseguranças e ativou seu modo um tanto mulherengo, mesmo no fundo sabendo que aquilo seria muito mais do que apenas uma noite, ele queria só um pouco de diversão.
O beijo entre eles foi... inexplicável. Era algo que encaixava, que parecia pertencer ali, sabe? Foi praticamente um jogo de quem estava com mais fome daquele ato. Quando sentiu as mãos fortes do garoto em sua cintura a puxando mais para perto, percebeu seu corpo inteiro arrepiando-se. A pegada de era a melhor que ela já viu ― ou sentiu.
Os dois cansaram de ficarem ali, então sem nem olhar, a empurrou até uma viga e a deixou encostada ali, possibilitando que apenas os seus lábios se movessem enquanto eles ficavam cada vez mais grudados, chegando a um ponto que era capaz de seus corpos emergirem de tão juntos que estavam. Sua mão direita desceu da cintura da garota até a barra do seu suéter e pôs a mão dentro dele, agora subindo a mão até o sutiã que apenas pelo toque pôde notar que era de renda. soltou um suspiro e um gemido fraco de prazer, sentindo uma energia ainda maior com a mão do garoto no lugar onde estava.
Infelizmente, uma luz foi ligada justamente no lugar onde estavam e eles tiveram que se separar quase que imediatamente antes que fossem pegos. Olhando um para o outro com os cabelos e roupas bagunçadas, os lábios molhados e as bochechas coradas, e riram um do outro e da situação em que se encontravam.
― Então... ― olhou para os lados e notou alguns alunos passando pelo corredor ao lado deles rindo de provavelmente alguma bobagem qualquer, mas logo estes começaram a fofocar entre si.
“Ei, aquele não é com uma garota?” foi possível ouvir a voz de uma das garotas do grupinho sussurrando isso para seus amigos.
“Com certeza é. Olha o jeito deles, provavelmente estavam a ponto de transarem ali mesmo” dessa vez foi um menino que falou, dando pequenas risadinhas entre sua fala.
A partir dali, passou a entender o que passava quase todos os dias ― mas talvez numa versão um tanto quanto reduzida. Entretanto, quando olhou para ele, só notou uma revirada de olhos e mais nada, como se ele já estivesse acostumado e não se importasse mais com aquilo. Muito pelo contrário, a única coisa que o garoto fez foi aproximar-se novamente dela e pegar sua mão, logo curvando-se para falar em seu ouvido.
― Quer ir ao meu dormitório? Não tenho nenhum colega de quarto.
Ao ouvir a voz dele tão perto do seu ouvido, que ficava ainda mais sexy quando sussurrada, deixou o grupo de idiotas de lado e voltou a se concentrar em e no momento que eles estavam tendo. Ela sabia muito bem o que aquele pedido significava, afinal não era burra, mas tudo que ela sentiu durante o beijo deles voltou para ela, e sentiu certas partes de seu corpo pulsarem com a possibilidade, então não demorou a responder.
― Sim, quero. ― ela aceitou e sorriu de canto enquanto olhava nos olhos castanhos do garoto, que brilharam após ela falar e ele sorriu da mesma maneira que ela.
O tempo que levou do centro do campus até o dormitório de não foi pouco, mas o fogo entre eles continuou do mesmo jeito e não se apagou por segundo algum. Eles paravam em alguns momentos para se beijarem um pouco mais, mas não no mesmo ritmo de antes, pois queriam poupar energia para mais tarde.
À medida que os minutos passavam, a adrenalina no sangue de parecia aumentar e, quando pegou as chaves e abriu a porta de madeira do seu dormitório, ela quase perdeu o ar em seus pulmões. Qual era a desse nervosismo, afinal? Ela tinha perdido a virgindade com dezesseis anos e transou com uma certa quantidade de homens em sua vida, por que ela estava nervosa com aquele em particular?
Quando eles entraram, sequer ligou a luz do quarto, afinal as que refletiam da lua e dos postes do lado de fora eram o suficiente. Ele pegou a mão da menina que ainda não tinha entrado e a colocou para dentro, logo fechando a porta. Lentamente, ele a puxou para mais perto e olhou em seus olhos verdes cheios de selvageria ― pelo menos na medida do possível, considerando a escuridão dentro do cômodo.
Suas mãos dessa vez foram parar no quadril de e as mãos dela na nuca dele. O beijo começou de forma devagar, porém profunda. Ele foi mudando sua velocidade gradativamente, de um jeito que os dois gostavam bastante. O toque do garoto desceu até o bolso da calça jeans de , diretamente tocando no seu traseiro, enquanto ela arranhava levemente a nuca dele. parou de beijá-la e pousou seus lábios no pescoço de cheiro muito agradável da garota, que suspirou com o gesto.
Ele pôs a mão no fim do suéter dela, esperando pela permissão para tirá-la, que logo lhe foi concedida. também mudou a mão de lugar, querendo, com muita urgência, tirar aquela jaqueta de couro e a blusa que ele usava e não demorou em obter sucesso.
― Você tem certeza que quer fazer isso? Apenas checando. ― ofegante, ele perguntou isso assim que ficou sem camisa; uma paisagem para os olhos da garota.
― Absoluta. ― quase sem fôlego, assentiu e voltou nos braços de imediatamente.
Deitando-a na cama, deu início a uma das melhores noites da sua vida, mesmo que não sabia disso no momento em que aconteceu. O calor da pele de o fez sentir-se mais vivo do que nunca e ela também nunca sentiu tanta excitação e urgência de ter alguém na cama com ela.
Não importava se ele achava que aquilo era algo de uma noite e se ela achava que aquilo nunca se tornaria sério. O destino guardava algo muito além disso para eles dois. Algo emocionante e devastador ao mesmo tempo.
(...)
As semanas e os meses se passaram, e se adaptava cada vez mais à rotina da cidade que nunca dormia e da NYU. Muito daquilo ela devia a , que agora era seu namorado ― mas tanto ele quanto ela tinham um pouco de receio daquele termo.
Com um emprego na cafeteria local, conseguiu juntar um pouco de dinheiro e conseguiu comprar um apartamento minúsculo, praticamente um estúdio, ao redor do campus. A cozinha, o quarto e a sala de estar eram todos juntos, o único cômodo separado era o banheiro.
E lá estava ele, deitado embaixo de seus lençóis brancos que já estavam bem manchados, com sua garota ao seu lado, dormindo como um anjo depois de uma transa extremamente prazerosa. Enquanto ela fazia isso, lia um dos livros da matéria de Comunicação Social; ele mal tinha tempo livre com o emprego e os exames finais chegando, precisava estudar bastante.
Assim que terminou de ler uma página, ouviu a porta de entrada sendo batida e ficou frustrado por ter que interromper os seus estudos temporariamente para atender algo que talvez fosse até um trote dos garotos que moravam no andar de baixo.
Apenas usando uma cueca preta e sem se importar com isso, ele foi até a porta e a abriu, surpreendendo-se com quem realmente era. Ali estava, de boné e óculos escuros, moletom e jeans surrados ninguém menos que seu irmão mais velho, , fazendo ficar ainda mais frustrado por ter atendido a maldita da porta.
― O que está fazendo aqui? ― perguntou sem felicidade, tristeza e raiva, apenas transparência.
― Uau, que jeito de receber seu irmão mais velho que não vê há quase dois anos. ― repreendeu o mais novo, tirando seus óculos.
― Você está com seu disfarce, o que houve para a superestrela não querer a atenção e o grito de fãs desesperadas? ― mesmo esse sendo realmente seu pensamento, o questionou usando muita ironia em sua voz.
Sem nem ser convidado, entrou no apartamento, invocando cada vez mais a ira de que poderia explodir a qualquer momento. Ao ver a garota na cama, o irmão arregalou os olhos e apontou para ela, olhando para .
― Essa é a e se você acordar ela, eu te mato. ― ele sussurrou mas ainda assim fez a sua versão mais ameaçadora possível. ― Você não respondeu a minha pergunta.
passou a mão pelos seus cabelos castanho-claros depois de tirar o boné e deu de ombros.
― Eu só queria ver o meu irmão. ― respondeu.
― Legal, fofo. ― sarcasticamente fez uma careta. ― O que você quer, ?
― Nada, é sério! Eu tenho um show no Madison Square Garden hoje e quis dar uma escapada para te ver, já que faz tanto tempo. ― ele se justificou. ― Eu nem sabia que você estava namorando! Eu nunca quis isso para nós dois.
― Primeiro de tudo, eu não estou namorando! E segundo, pena que não quis isso para nós dois, mas o estrago está feito. ― se segurava para não gritar e deixar seu sangue subir, mas estava difícil.
― , por favor, isso foi há dois anos, vamos deixar isso para trás. ― sussurrou um pouco mais perto do irmão, que teria o dado um soco se não fosse pela voz que ouviu assim que parou de falar.
― ? O que está acontecendo? ― perguntou, sonolenta e se espreguiçando na cama, acordada pela conversa que ficava cada vez mais calorosa entre os irmãos.
― Nada, , pode voltar a dormir. ― o pedido de não adiantou nada, porque quando a visão dela ficou mais clara depois de esfregar seus olhos, ela se surpreendeu com a presença do homem que ela sabia muito bem quem era.
― Oi, eu sou o . ― ele acenou e sorriu para a garota que se enrolou ainda mais nos lençóis, pois estava usando apenas uma camisa que pertencia a e uma calcinha.
― , mas me chame de . ― ela cumprimentou de volta um pouco sem graça pelo jeito que se apresentava.
― Vá embora. ― com certa grosseria, interrompeu as apresentações e virou para o irmão.
― Tudo bem, eu irei. ― disse. ― Mas saiba que não vai ser assim que deixarei as coisas entre nós. Eu ainda me arrependo das minhas ações.
― É, até parece. ― revirou os olhos e foi assim que ele se despediu do irmão mais velho, fechando a porta assim que ele ficou atrás dela.
Mais calmo, voltou para a cama, recebendo o olhar de uma aparentemente muito confusa. Assim que ele ficou embaixo dos lençóis novamente e pegou seu livro, a garota decidiu interromper.
― O que o fez? ― perguntou, franzindo o cenho.
― Nasceu. ― secamente respondeu enquanto passava os olhos pelo livro e riu fraco.
― Ok, mas o que ele fez de verdade? ― perguntou novamente. ― Vocês estavam ali falando sobre ações passadas e deixar algumas coisas para trás e eu estava lá, boiando cheia de sono.
Sem paciência depois da conversa com e a lembrança dos acontecimentos do passado, bufou.
― Nada, . ― ele respondeu defensivamente, fazendo a garota estranhar.
― Você pode falar comigo, ! Já estamos juntos há tempo suficiente e a única vez que você falou abertamente sobre a sua relação com seu irmão foi na nossa primeira noite e agora eu sinto que você ou mentiu ou omitiu coisas de mim. ― ela cruzou os braços e parecia determinada a arrancar palavras da boca dele, mas tudo que conseguiu foi deixar ele mais irritado.
― Eu não quero falar sobre isso , que merda! ― a voz dele se alterou, assustando-a.
― Mas talvez você precise! ― ela sugeriu e aumentou a sua voz ao volume da dele.
― Não, , não preciso! Eu sei muito bem o que aconteceu e não preciso falar para ninguém e ter a lembrança disso! ― irritou-se e se levantou da cama, fechando os olhos e massageando as têmporas. ― Honestamente, não estou com paciência para lidar com isso agora. Pode ir embora?
― Ah, então você acha que pode me expulsar como se eu fosse seu cachorrinho? Se toca, ! ― passou a se irritar também e levantou da cama logo após ele, chegando mais perto do garoto e pegando suas mãos assim que se acalmou. ― Eu só quero saber o que faz você odiá-lo tanto, quando ele parece tão disposto a voltar atrás, e o que faz o seu humor piorar quase todos os dias com tanta intensidade. , eu quero te conhecer, mesmo que isso já tenha acontecido há sete meses, mas ainda te sinto distante.
Olhando nos olhos verdes um tanto quanto tristes da garota, sentiu tanta vontade de falar a verdade para ela, de beijá-la, abraçá-la e nunca deixá-la ir embora. Mas seu orgulho falou mais alto, e as palavras não conseguiram sair da garganta dele.
― Eu não quero falar sobre isso. ― ele disse dessa vez quase sussurrando e de cabeça baixa, mas aquilo não foi o suficiente para , que voltou a se irritar.
― Tudo bem, , ― ela tirou a camisa dele e o entregou, logo pegando suas próprias roupas e as vestindo. ― Eu vou embora. Ligue-me quando seu juízo voltar.
A batida forte da porta quando ela foi embora cortou o coração de , que só conseguiu pensar em como ele sempre deixava seu irmão e seus pais destruírem suas vidas mesmo quando eles não estavam diretamente envolvidos.
Mas ele não queria encontrar-se sozinho e sem rumo novamente. Ele faria ela perdoá-lo, nem que seu orgulho fosse quebrado em milhares de pedaços.
(...)
Carregando o violão pesado e empoeirado em suas costas, bateu na porta do dormitório de e Charlotte, assim como fez exatamente há sete meses. A diferença é que, dessa vez, muita música e risadas podiam ser ouvidas de dentro do recinto.
― Ah, oi, . ― Charlotte o cumprimentou de má vontade e supôs que ela já sabia da briga entre ele e a amiga.
― Feliz aniversário, Charlotte! ― ele tentou mostrar animação, mas seu sorriso estava mais amarelado do que nunca, e a entregou um pequeno pacote embrulhado.
― Obrigada, pode entrar. ― ela abriu caminho para o garoto e não procurou trocar mais nenhuma palavra com ele.
tentou não se estressar quando sentiu o aglomerado de pessoas naquele pequeno dormitório, então respirou fundo para se acalmar. Estava ali por e ninguém mais.
Encontrou a garota, mais linda que nunca, encostada no raque da televisão bebendo algo de um copo vermelho. Seus olhares se encontraram e pareceu surpresa em vê-lo ali, pois mostrou uma expressão surpresa e foi possível observar que sua respiração estava pesando em seu peito. Esperançoso, foi até ela mas acabou a perdendo no meio da multidão, suspirando em frustração.
Ele queria falar com ela, conversar, resolver as coisas, mas não a achou por muito tempo durante a festa; ela parecia ter evaporado. Ele realmente não queria usar seu último recurso para chamar sua atenção, mas pelo jeito teria. Depois de terminar de fumar um cigarro, jogou a fumaça para fora e pegou seu violão, procurando pelo assento mais próximo, até encontrar um banquinho.
Não precisou nem se esforçar para chamar a atenção dos convidados da festa; ver sentado em um banquinho, segurando um violão era o suficiente para todos pousarem seus olhares nele e abaixarem a música do som, curiosos com seu próximo ato.
― Oi, gente. Eu sou o , para aqueles que não sabem... ― ele parecia um tanto quanto tímido, algo bem incomum, mas o trauma da fama do irmão fez ele odiar ser o centro das atenções. ― Antes de tudo, feliz aniversário, Charlotte. Agora, preciso dizer algo. Eu fui um tonto, um idiota com uma garota que só me fez bem nos últimos meses. Mas, vejam, eu tenho meus motivos para não querer me apegar, motivos particulares, mas acabei me apegando a ela. Essa garota foi minha única alegria nos últimos sete meses e, sinceramente, nos últimos dois anos também. Odeio fazer isso, porque não pego no meu violão há um tempo, então se eu estiver um pouco enferrujado, sinto muito. Porém, , essa é para você.
pigarreou e começou a dedilhar o violão como se nunca tivesse parado e soltou sua voz com Wonderwall, do Oasis. Foi uma das únicas músicas que ele conseguiu pensar como perfeita para aquele momento e situação, e não estava errado. Sua voz combinou tanto com a música, mas aquilo não era novidade; alguns diziam que ela era tão boa ou até melhor do que a de , mas isso não era importante no momento. O importante é que ouviu, viu e se emocionou. Nunca alguém tinha feito algo do porte para ela e ela aprovou a escolha de música do garoto.
There are many things that I would like to say to you, but I don’t know how.
Because maybe, you’re gonna be the one that saves me.
And after all, you’re my wonderwall.
A garota sorriu especialmente com aquela parte, identificando com a atual situação do casal. Assim que ele terminou de tocar, enfrentou a multidão que a rodeava e correu até ele, beijando-o como nunca antes.
― Obrigada por isso, . ― ela sussurrou. ― Sei que deve ter sido difícil fazer isso no meio de tanta gente.
sorriu e, assim que eles se separaram, ele tocou em suas mãos e olhou nos olhos dela, pronto para dizer o que havia praticado por dois dias.
― Eu sinto muito, . Fui fraco e egoísta e inseguro, deveria confiado em você, porque eu confio, eu juro, é só que... são tantas coisas que eu nem sei como começar a te contar. Tudo que sei que é eu te amo e que vou fazer de tudo para que isso dê certo, começando por te contar lentamente o que realmente aconteceu entre eu e . E quero fazer as coisas entre nós oficiais.
não conseguia tirar o sorriso do seu rosto, principalmente depois do “eu te amo” e “quero fazer as coisas entre nós oficiais”. Ela tocou na bochecha dele, que fechou os olhos com a delicadeza do toque.
― Eu também te amo, . E quero ouvir tudo que você tem a dizer... um passo de cada vez. ― ela disse, arrancando o sorriso mais lindo de que ela já tinha visto. ― Eu serei paciente, eu prometo.
Passado o momento de grude, o garoto jogou o braço em volta dela e a olhou com carinho.
― Quer ir beber um pouco, namorada? ― ele perguntou, divertindo-se com o termo.
― Quero sim, namorado. ― ela respondeu, fazendo o mesmo que ele e rindo.
O ― oficialmente ― casal nunca sentira felicidade como aquela. Era algo que consumia seus corpos inteiros, como eletricidade fluindo em uma cidade grande. Entretanto, não procurou medir o peso de seus atos em relação às suas consequências, nem imaginando o que aconteceria a seguir.
Um pouco bêbados depois da festa, não ficou em seu próprio dormitório após ajudar Charlotte a limpá-lo e, ao invés disso, foi até o apartamento do namorado aproveitar o que restava da noite com ele. Depois de fazer o que era usual, conectaram umas caixinhas de som ao notebook do garoto e colocaram The Strokes para tocar em um volume um tanto quanto alto.
Eles pularam na cama, usando apenas uma calça de pijama e uma blusa branca que ia até um pouco abaixo do seu umbigo e uma calcinha de mesma cor, enquanto gritavam a letra de Last Nite e bebiam o resto de vodka que sobrara da festa e que eles roubaram.
Infelizmente, aquela euforia só duraria pelo resto do dia, pois no seguinte ambos foram bombardeados em suas redes sociais.
Esquecendo completamente da existência do seu celular, apenas lembrou de carregá-lo no intervalo entre o almoço e o primeiro horário da tarde; já que tinha um tempo livre depois de comer, decidiu passar no seu dormitório para fazer justamente isso. Quando o ligou, ele quase explodiu de tantas notificações, sobretudo do Twitter.
“Feliz em descobrir o user da nova cunhada do , @_. Ela parece legal”
Aquela menção até a fez sorrir, mas sabia que não parava por ali.
“Ei, vocês viram a nova namorada do irmão do ? Ela é muito gostosa! @_”
“@_ você é tão sortuda por ser a namorada de , pois assim você pode conhecer o ! Será que poderia mandar meu user para ele seguir????? 980”
“Ugh, espero que @_ não chegue perto do meu ! Ela parece uma vadia”
A partir daquele momento, a garota nem sabia mais porque estava fazendo aquilo consigo mesma, só sabia que não conseguia parar de passar o dedo sobre a tela. Ela já estava determinada a parar, até que viu algo que a intrigou.
“Honestamente, acho que @ merece felicidade. Mesmo sendo fã do @, o que ele fez com o próprio irmão foi muito errado, não importa o quão apaixonado ele esteja pela Victoria. Roubar ela dele foi péssimo, espero que @_ o faça mais feliz.”
“A vida de : Tudo que sabemos, desde quando seu irmão ficou famoso, o fracasso da sua carreira musical, o triângulo amoroso entre ele, e Victoria James até agora, com a sua mais nova namorada, @_: buzzfeed.com/article/12947289”
não entendeu nada daquilo. Triângulo amoroso? Roubar namoradas? O que diabos isso significava? Ao mesmo tempo que queria e não queria fazer isso, ela acabou clicando no link do artigo para saber mais.
Ela devia perguntar aquilo para o próprio , mas a sua curiosidade estava a matando. Como que sobreviveria sem saciá-la?
Então ela leu o artigo, provavelmente cheio de furos e mentiras, mas não conseguiu parar. Seus olhos devoraram as linhas sem misericórdia de si mesmos ou do coração da própria dona.
Aparentemente, e se davam muito bem, embora o primeiro fosse ressentido pela relação sempre ruim com os pais e por ter tido uma carreira fracassada, os dois eram mais unidos que um “feat entre Pitbull e JLo”, segundo o buzzfeed. Faziam tudo juntos; o Instagram de um era cheio de fotos com o outro. Viajavam juntos, o mais novo estava sempre nos shows do mais velho, que cancelou um concerto em Seattle para poder comparecer à formatura do caçula. , em um dos shows do irmão, conheceu Victoria James, atriz da famosa série Intertwined, da ABC, que estava lá apenas por diversão com suas colegas de elenco. se apaixonou perdidamente por ela e eles namoraram por um tempo, até Victoria e se apaixonarem um pelo outro, jogando para o escanteio. Assim se deu o começo entre a longa briga entre os dois irmãos, com sempre escondendo o fato de que seu ódio foi porque ele roubara a namorada a qual ele olhava como se fosse a última gota d’água num deserto com temperatura de 50ºC, como viu nas fotos do artigo.
Então era isso que ele queria dizer nos últimos meses sobre “suas relações e amizades serem arruinadas por ”. Entretanto, ele nunca foi claro sobre isso, então nunca achou que fosse algo tão grave, achando que o ódio de pelo irmão mais velho foi crescendo durante os anos ― quando, na verdade, esse sentimento veio em apenas uma onda enorme e devastadora, causando um tsunami na sua relação fraterna.
Mas o pior ainda estava por vir.
Enquanto descobria todas essas coisas sobre o namorado, teve uma surpresa durante o intervalo entre uma de suas aulas. O som de Smells Like Teen Spirit, que era o toque de seu celular, chamou sua atenção, mas não tanto quanto ele leu “Mãe” no identificador de chamadas. Desconfiado, mesmo assim ele atendeu a chamada.
― Alô?
― Oi querido, quanto tempo! ― a voz doce e maternal de Beatrice era tão mal fingida que não enganaria absolutamente ninguém. ― O que está fazendo?
― Estou no intervalo entre uma aula e outra, por quê? ― ele estranhava cada vez mais aquele contato e, se ela pudesse ver sua careta pelo telefone, ela certamente teria apagado um de seus cigarros no braço do filho para tentar “ensiná-lo uma lição”.
― Ah, nada, só queria saber como estava... ― respondeu com a voz pomposa. ― E te dizer que eu e seu pai vimos o seu vídeo.
O coração de congelou. Qual vídeo dele fazendo algo embaraçoso e comprometedor colocaram na internet dessa vez?
― Qual, mãe? ― ele perguntou, tentando soar inocente.
― A de você tocando violão numa festa e se declarando para sua nova namorada. ― o tom de Beatrice estava tão presunçoso e sugestivo que já sentia o que estava por vir. ― Seu pai e eu, embora não surpresos por termos noção do seu talento, ficamos tão tocados com o gesto e nos arrependemos de ter parado em investir no seu futuro. Você ficou viral na internet, e muitas pessoas nas redes sociais tem pedido o seu retorno.
― Vocês não pararam de investir no meu futuro, mãe. ― ele disse a última palavra até com certo desgosto. ― Vocês pagam a NYU, que é o futuro que eu quero.
― Pois é, mas é por justamente isso que estou te ligando, meu bem. Seu pai e eu não pagaremos mais pela universidade a partir do mês que vem. Queremos que você volte a cantar. Talvez, com esse vídeo, você fique mais famoso dessa vez.
Assim que ouviu tudo aquilo, congelou completamente. Ele não sentiu raiva, tristeza ou fúria; ele sentiu nada, como se toda a sua mente tivesse se esvaziado depois daquelas palavras tão prejudiciais que a própria mãe lhe disse. Aquele era seu pior pesadelo ― que seus pais voltassem a arruinar sua vida, tentando forçá-lo a voltar para palcos intimidadores e sessões de autógrafo horríveis, com entrevistadores que só sabiam perguntar sobre seu irmão e sua vida pessoal, como aquilo fosse um assunto importantíssimo. Ele não queria aquela vida.
Seu estado estático dissipou-se e sua vontade agora era de quebrar, estraçalhar e passar o rosto de quem divulgou seu vídeo no asfalto até que ele se esfoliasse por completo. queria quebrar todas aquelas estátuas de pedra em sua volta, cerrar os bancos de madeira, destruir as plantas.
― Vocês são loucos, psicopatas ou só fingem?! ― gritou no telefone. ― Vocês sabem que eu odeio tudo isso, vocês sabem que eu estou finalmente sentindo que estou no caminho certo! Eu sou o filho de vocês, caralho, não sou seu fantoche!
― Querido, por favor, se acalme! É exatamente por sermos seus pais que sabemos que isso é o melhor para você, para nós, para a família! ― a víbora tentou se justificar, mas tudo aquilo só fez sentir-se mais atacado.
― Vão se foder, então!
Sem nem deixar a mãe falar mais, desligou a chamada e jogou o celular para muito longe, tendo um acesso de raiva. Ele não conseguiu ir para mais nenhuma aula depois daquilo; qual era o ponto de ir se ele já estava sendo forçado a sair, não é mesmo? Então ele ficou no seu apartamento o dia inteiro, deitado depois de destruir todas as coisas feitas de vidro que avistou.
O garoto sentiu como se tivessem tirado a própria alma dele. Queria saber um jeito de consertar aquilo, de poder ele mesmo pagar a própria faculdade, mas seu emprego de caixa na cafeteria quase não cobria suas próprias contas, imagine a universidade.
estava perdido. E ele sabia disso.
também não lidou bem com a notícia. Ela mesma não tinha os melhores pais do universo, mas tinha certeza que nunca a tratariam como um mero experimento ou como uma boneca, então não conseguia entender por que os pais de estavam fazendo isso com ele.
Ela aturou os outros surtos de fúria do garoto, os choros na madrugada, os longos dias de mau humor, e aquilo não foi nada fácil; afinal, essa situação também a irritava profundamente.
Assisti-lo indo embora no seu último dia de aula quebrou o coração da namorada. Vê-lo com sua mala na mão e entrando em um limusine, com a cara mais desolada do universo sem poder fazer nada a destruiu. Um dia, expressou sua vontade de ela mesma ir falar com os pais do namorado pessoalmente, pedir para que eles não fizessem aquilo ― mas a cortou na hora. Disse que, na primeira vez que aquilo aconteceu, pediu ajuda para o irmão, para que ele conversasse com os pais e dissesse o quão odiava cantar como uma profissão, mas que até mesmo a voz do garoto de ouro não bastou para eles, apenas o fracasso comercial de sua carreira, algo que com certeza eles estavam dispostos a consertar dessa vez.
assistiu a cada show que podia quando estava de férias, mas nunca parecia que o verdadeiro estava lá de coração e alma, apenas o corpo físico, mesmo com a presença da garota. Ele parecia morto, ou pelo menos inconsciente por dentro.
Seus pais estavam certos, sua carreira decolou. Não tinha o mesmo público que o irmão, é claro, mas era um número considerável; os ingressos dos seus shows esgotavam frequentemente. Entretanto, ele não estava feliz; bebia quase todos os dias, inclusive nos shows, fumava como uma chaminé e brigava com toda a sua equipe, desde a banda de apoio até o pessoal do som. Quando acontecia a raridade de ele não faltar uma entrevista, era grosso com os entrevistadores, desconcertado com todas aquelas pessoas o observando e querendo saber sobre sua vida.
O namoro entre e ficou incerto. Ele mal tinha tempo para ligar para ela ou sequer mandar uma mensagem, então tudo ficou muito difícil para os dois, mas nunca tinham falado as palavras “vamos terminar”. Tudo foi apagando aos poucos, até que a garota realmente expressou sua preocupação na primeira ligação que pôde fazer em quase um mês.
― Você não pode ver o que está acontecendo conosco, ? ― a voz de parecia chorosa pelo telefone. ― Eu não posso mais fazer isso. Eu sei que tem sido difícil para você também, mas eu não sei... mesmo se tudo isso acabasse, você realmente acha que voltaríamos a ser como éramos?
― , por favor, não faça isso. ― tentava se forçar a não chorar ou parecer muito triste, mas isso era praticamente impossível. ― Isso vai acabar algum dia, e quando acabar, irei direto para os seus braços.
― Sinto muito, , mas... Preciso fazer isso. Tenta me entender, isso é muito difícil para mim também, mas mais difícil ainda é ficar semanas sem ouvir sua voz e, ao invés de ficar triste, me acostumar com isso. E isso não é um namoro de verdade.
Uma das piores coisas na vida é quando alguém que você ama, admira, que é a razão a qual você ainda está de pé dizer que se acostumou a ficar sem você. Seu coração aperta, mas você não consegue pensar em algo para amenizar ou melhorar isso, porque tal coisa não existe. Quando alguém diz que se acostumou a ficar sem você, você está perdido.
E esse era o caso de , mas ele estava determinado a não deixar aquilo acontecer.
― Odeio isso, sabe? ― desabafou, suspirando. ― Mas isso não está acabado, . Eu te prometo que não está.
desligou e jogou o celular na sua cama temporária no quarto de hotel em que estava hospedado. Ele respirou fundo e tentou pensar em algo para fazer, até ter uma ideia.
Ele estava cansado, e o que ele tinha pensado era a melhor coisa a se fazer. Para ele mesmo, para , para todo mundo.
, não acreditando no que estava fazendo, vestiu-se igual ao seu irmão quando tentava se disfarçar: o boné preto, os óculos escuros, o moletom preto, calça preta e coturno. Como seu cabelo grande era sua maior característica, foi até uma loja de conveniências perto do hotel e comprou uma máquina de raspar, e cortou tudo, sem arrependimentos. Até se achou um pouco mais bonito.
Tudo que ele fez depois disso foi colocar algumas roupas numa mochila, pegar uma boa quantia de dinheiro e pegar um táxi até o aeroporto, sem ninguém notar. Entrou no primeiro avião para New York e foi embora. Decepcionaria seus fãs que foram até Austin, no Texas, para vê-lo? Decepcionaria. Mas qualquer pessoa em sã consciência que tinha visto suas últimas entrevistas e suas atitudes tinha a noção de que aquilo simplesmente não era para ele.
No JFK, ele pôde ouvir um pouco uma notícia que passava na televisão sobre o desaparecimento de . Mas isso não o fez ter outros pensamentos ou voltar atrás, muito pelo contrário; ele sorriu. Só isso, sorriu. Sabia que seus pais não o perdoariam depois daquilo, mas honestamente? Ele não dava a mínima. Tinha arrecadado dinheiro o suficiente para voltar para a universidade por conta própria, afinal já que ele já era adulto, seus pais não controlavam mais suas finanças. E ele se sentiu libertado.
Depois de refazer sua matrícula na NYU, atravessou o campus e foi até o prédio onde ele esperava que sua namorada ainda vivesse. nunca sentiu-se tão nervoso, do jeito bom, na vida inteira quanto naquele momento.
Ele bateu na porta, e foi atendido por justamente a única pessoa a qual queria ser atendido; pela garota de cabelos pretos com californianas roxas, moletom cinza com bolso rasgado, calça jeans e botas de cano alto e com os olhos mais verdes que ele já tinha visto, e o único que queria ver, na vida.
Lá estava . E, mesmo que estivessem o observando e o procurando, mesmo que um dia lhe achassem, não desistiria de sempre achar seu caminho de volta para ela. Pois agora ele sabia, ela era o amor de sua vida, e ele nunca queria encontrar-se sozinho novamente.
Esse tipo de situação pesa em qualquer garoto de quatorze anos e, agora, com vinte e um, tentava ao máximo ser muito diferente do irmão. era um cara correto e que tentava sempre manter sua imagem de bom moço e , depois dos dezesseis anos e toda a pressão a qual lhe foi cometida, passou a ser alguém fechado, misterioso, cheio de tatuagens, que abusava do álcool e cigarro, além de se meter em confusão o tempo inteiro.
E não, isso não era causado apenas por sua fama forçada, era também causado pelos seus próprios pais. Beatrice e Frederich , logo ao avistarem seu filho mais velho como sendo uma sensação, aproveitaram-se disso e viraram seus próprios agentes. Eles também tentaram lançar como cantor, mas o garoto simplesmente recusou o papel, arruinando a sua relação com os pais, que passaram a olhar para ele como uma abominação, uma falha no sistema.
Contudo, isso não significa que tudo se acalmou. Na escola, na rua, nas redes sociais e agora na faculdade, os olhares de todos se voltavam para . A maioria de suas relações, amigáveis e românticas, não passaram de interesse destes que tentaram se aproximar dele, para tentarem se aproximar de . Isso também fez o garoto ter ainda mais nojo de sua fama e, por extensão, ter nojo do irmão, a quem ele culpou por tudo aquilo.
Deixando isso de lado, jogou a bituca de cigarro no chão em frente a sala onde teria aula de Comunicação e Cidadania e entrou, com todo o seu estilo de garoto malcriado e ajeitando sua franja oleosa, que já cutucava seus olhos.
― Atrasado de novo, sr. . ― o Professor Hawkins olhou ameaçadoramente para o aluno com seus pequenos óculos quase na ponta do nariz.
― Sinto muito, sr. Hawkins, prometo que nunca acontecerá de novo. ― retrucou com uma voz cansada e sarcástica, pois todos sabiam que sim, aquilo aconteceria novamente. Ele escolheu a última classe encostada na parede do lado esquerdo do recinto, praticamente o lugar mais isolado daquela sala de aula.
― Sabe, seu estrelismo algum dia irá desaparecer, e logo não haverá nada para te salvar do mundo real, sr. . ― o professor tentou chamar a atenção do garoto, que só conseguiu bufar e revirar os olhos.
― É, eu estou esperando por esse dia tanto quanto você. ― retrucou, enquanto cruzava os braços e se ajeitava na classe de um jeito extremamente relaxado.
O professor decidiu apenas ignorar , como de costume, e prosseguir com a aula. Por incrível que parecesse, mesmo com todos os problemas que se envolvia e com todo o seu jeito, ele era um bom aluno. Gostava muito do seu curso de Publicidade e Propaganda, e estava determinado a se formar, arranjar um emprego com pagamento no mínimo razoável e ter uma vida muito longe de sua família, então prestou bastante atenção na aula daquele professor desagradável.
Ele devidamente prestou atenção na aula, anotando tudo que o professor escrevia no quadro ou ditava, com sua letra desleixada que apenas o mesmo entendia. O tempo estava fazendo seu curso tranquilamente, até que alguém chegou correndo na sala de aula, assustando , que quase riscou o papel do caderno inteiro.
Uma garota de cabelo preto com californiana roxa, muito bagunçado, vestindo um moletom que aparentava ser muito velho e uma calça de pijama chegou ali como um furacão. O sr. Hawkins não mostrou tanta irritação com ela quanto mostrou com o atraso de , que achou aquilo completamente injusto, mas o professor parecia chocado com a presença da menina.
― Quem diabos é você? ― ele perguntou com as sobrancelhas juntas.
― Sinto muito, professor... ― a garota pegou um papel no seu bolso e leu. ― Hawkins! Eu realmente sinto, senhor. Meu nome é , sou uma aluna transferida da UCLA. Novamente, desculpe-me pelo atraso, meu alarme não tocou, e aí me apressei para me vestir, aí fui para o prédio errado, atravessei o campus correndo e agora estou aqui.
O professor ergueu sua mão como um sinal para que ela parasse de falar.
― Está tudo bem, srta. , eu deixarei isso acontecer apenas hoje por você ser nova. Depois disso, nada de moleza, está certo?
A garota assentiu.
― Obrigada, professor Hawkins.
― Agora, vá se sentar em qualquer lugar que quiser.
Completamente perdida entre aquele enorme recinto, aleatoriamente escolheu um lugar perto de , que não deixou de reparar nela, é claro. A pobre novata parecia ser tão desorganizada e desorientada, mas também tão gata. Assim que ela sentou ao seu lado, a olhou de canto e conseguiu observar um piercing de argola na sua narina direita e que, embora tenha dito que mal deu tempo de se arrumar, estava usando delineador e um batom cinza-arroxeado. Talvez roupas não fossem sua prioridade, e o garoto não sabia o porquê, mas gostara muito disso.
Mesmo com o vestuário modesto e o cabelo bagunçado, provavelmente de tanto correr, não conseguiu prestar atenção no resto da aula de tanto tempo que gastava olhando para , que nem notou ele. gostou tanto do jeito que sua testa ficava franzida enquanto estava concentrada, e como dava pequenas mordidinhas em seu lábio inferior enquanto olhava para o quadro, enquanto seus pequenos olhos verdes encolhiam e semicerravam para que ela enxergasse melhor.
Como não era um cara de enrolar, quando o sinal tocou para o intervalo entre classes, saiu dois passos depois dela, e acabou empurrando ela de propósito ― mas fingiu o contrário, é claro.
― Ah céus, me desculpe por ter te empurrado, estava meio distraído. ― mostrou o celular e sorriu um tanto quanto pretensiosamente, atuando como nunca antes na vida para chegar em uma garota.
― Está tudo bem, afinal você deve ter visto meu pequeno show quando entrei na sala, isso é nada. ― ela riu baixinho, parecendo envergonhada com o que fez mais cedo.
― Ah, qual é, você é nova, isso é mais do que normal. Eu estou aqui desde meu primeiro ano e até hoje chego atrasado nas aulas, hoje eu cheguei apenas uns minutos antes de você. ― ele tentou consolá-la e, pelo sorriso dela, aquilo funcionou. inclinou-se um pouco mais, para cumprimentá-la com maior charme. ― Meu nome é , mas você pode me chamar de .
― Muito prazer, . Meu nome é , mas já que eu o odeio e odeio minha mãe por ter me colocado esse nome estúpido, sempre me apresento como . ― ela acenou com a cabeça, mas logo se arrependeu de ter explicado tanta coisa para o primeiro estranho com quem conversou.
― Ah, se tem algo que eu entendo é o ódio a progenitores. ― ele riu levemente. ― Qual é a sua próxima aula?
pegou outro papel no bolso do moletom e passou os olhos por ele meticulosamente, procurando não se misturar.
― Ciências Políticas III, na sala 203 no prédio Borough. ― ela citou como fosse um robô, sem tirar os olhos do papel, mas depois mostrou uma expressão confusa. ― Eu realmente não sei onde isso fica. ― ela riu da própria desgraça.
― Ah, não é minha próxima aula, mas é no mesmo prédio, também. ― dessa vez, não mentiu apenas pela arte da conquista, pois realmente a sua próxima aula era no prédio Borough. Ele sorriu um tanto quanto sedutoramente. ― Posso te mostrar onde fica.
― Isso seria ótimo. ― a garota sorriu de volta e acanhou-se um pouco com o sorriso do menino estranho, porém bonito.
pegou os livros que ela estava carregando, como um ato de cavalheirismo, e por um segundo suas mãos se tocaram. Um ato normal para a maioria das pessoas, porém aquilo pareceu ativar um campo de energia extremamente intenso, como se eles tivessem tomado um choque, mas um choque bom, muito bom. Os olhos castanhos dele encontraram os verdes dela, fazendo não acreditar já estar com o coração acelerando e com a respiração cortada no seu primeiro dia de aula em uma universidade nova.
― Então... ― ela tentou pensar em algo para falar para sair daquela situação, mas não conseguiu achar nada.
― Você é da Califórnia, hein? Uma mudança bem radical da sua parte, vir para a agitação de Nova York quando se é de um estado tão cowabunga, dude. ― zoou o jeito tranquilão de ser dos californianos, mas não pareceu se ofender.
― É, é bem estranho, mas sempre foi meu sonho vir para cá. ― ficou olhando ao redor do campus, já que eles estavam atravessando um lindo jardim cheio de árvores e arbustos bem-cuidados, praticamente uma bênção para sua vista.
― E até agora está sendo tudo que você esperava que fosse? ― ele perguntou e recebeu um olhar bem sugestivo da garota.
― Muito melhor do que isso, na verdade. ― foi a vez dela de dar uma flertada. Só porque estava em uma nova cidade, nova faculdade com um estranho completo, não quer dizer que ela tinha que ser acanhada o tempo inteiro, certo?
― Que bom. ― assentiu lentamente e sorriu de canto.
Pouco tempo depois das últimas palavras ditas, eles chegaram na sala que seria a aula de , que por sorte ainda não tinham começado.
― Bom, agora você veio cedo. ― ele fez a observação.
― Verdade. ― ela concordou. ― Mas tudo por causa da sua ajuda, muito obrigada...
Parecendo esquecer momentaneamente o nome do garoto, ele riu e aproximou o seu rosto do dela.
― . ― ele disse.
― Isso, . ― riu com um toque de acanhamento e colocou uma mecha do seu lindo cabelo atrás de uma orelha. ― Muito obrigada pela sua ajuda.
― De nada. Se precisar de mais alguma coisa... ― pegou um papel na sua pasta e rasgou o final, depois pegou uma caneta e anotou seu número ali. ― Aqui tem como falar comigo.
Ela pegou o papel e sorriu, agradecendo e entrando na sala. Ele sorriu de volta; conseguiu dar seu número para uma garota sem nem ter que diretamente a chamar para sair. A sua felicidade estava no ponto alto com tal conquista.
Os seus caminhos demoraram a se cruzar novamente; por três dias, não ouviu nada sobre ou a viu, mas isso não quer dizer que ele parou de pensar nela. Algo sobre ela o intrigou; seu cabelo que parecia normal, mas com um toque de rebeldia nas suas pontas, seu jeito um pouco tímido e perdido, porém concentrado e um tanto galanteador.
Entretanto, nesses três dias, ele não a procurou. Qual é, para agarrar-se ao seu jeito “diferente” e “descolado”, isso envolvia não sair atrás de garotas feito um cachorrinho, certo?
Certo.
Até que o seu celular vibrou, às oito e vinte da noite, numa quinta-feira, assim que ele saiu do banho com apenas uma toalha branca escondendo suas partes.
Número desconhecido
Oi, . (8:20 P.M)
Você sabe de alguma hamburgueria realmente boa aqui perto do campus? (8.20 P.M)
Eu e a minha colega de quarto estamos com vontade de comer hambúrguer, mas na última que fomos eles tinham gosto de mofo. (8:21 P.M)
Ah, é a , aliás. (8:21 P.M)
Lembrei que salvei seu número mas você não salvou o meu :P (8:21 P.M)
Quando ele leu aquelas mensagens, o garoto sorriu de canto. Pronto, Deus colocou uma oportunidade muito boa em sua frente, aquela era sua chance de a chamar para sair sutilmente.
Ah, oi . (8:22 P.M)
Embora o nome seja uma merda, a ChowChow Burger
é a melhor ao redor do campus. (8:22 P.M)
Mas é um pouco longe, se quiser eu posso levar vocês lá.
(8:23 P.M)
Honestamente, estou com um pouco de fome também. :X
(8:23 P.M)
Bem, aquilo não foi nada sutil. Mas tudo bem, os mísseis já haviam sido atirados. Agora era só esperar pela sua resposta.
Ah, é claro! (8:24 P.M)
Não querendo ser atirada nem nada, mas eu estava há alguns dias pensando em uma maneira de te chamar. Você foi um dos únicos que foi legal comigo nesses primeiros dias. (8:25 P.M)
Enfim, eu e Charlotte moramos no prédio Kennedy. Estaremos te esperando ;) (8:26 P.M)
se surpreendeu como nunca lendo as últimas mensagens de . Ela foi tão direta, mais do que ele na verdade, então ela não era tão tímida quanto ele pensava, afinal. Entretanto, ele gostou muito disso, mais do que deveria. Ele pegou seu celular pela última vez para mandar as últimas mensagens para ela.
Ah, fico muito feliz em ouvir isso. ;-) (8:26 P.M)
Eu recém saí do banho, então me arrumarei e daqui
a pouco estarei aí. (8:26 P.M)
Ele olhou para o teto como alguém olhar para o céu estrelado, feliz por ter conseguido concluir mais uma conquista, mas mal ele sabia que aquilo se tornaria muito mais do que um simples flerte.
olhava com atenção para o reflexo de seus lábios no espelho enquanto delicadamente passava um batom de cor roxa. Pressionando o inferior contra o superior, se afastou um pouco para observar o resultado; sua maquiagem contrastava suas californianas coloridas em seu cabelo preto e ondulado. Além disso, o suéter cinza com o ombro direito caído e seus jeans rasgados com uma meia-arrastão por baixo, sobrepostos pela bota de couro preta a fizeram olhar a si mesma de cima a baixo e ter a autoconfiança de que estava sim, muito bonita.
― E aí, já achou uma hamburgueria? ― Charlotte, sua colega de quarto, perguntou enquanto mexia no celular, sentada em sua cama, já bem arrumada.
― Sim, falei com o meu amigo. Ele vai com a gente, aliás. Espero que isso esteja tudo bem por você. ― respondeu, enquanto arrumava sua bolsa.
― Claro, desde que você me fale o nome dele. ― Charlotte ergueu apenas uma de suas sobrancelhas ruivas, olhando para a colega.
― É . ― deu de ombros, recebendo um olhar estranho da outra garota.
― , é um dos nomes mais populares da América! ― riu. ― Você precisa ser mais específica.
― . .
não soube exatamente o que aconteceu para Charlotte ter quase entrado em estado de choque depois de ouvir aquelas palavras saírem de sua boca.
― ? Ele não tem amigos, . ― Charlotte riu, mas foi mais uma risada nervosa do que engraçada. ― O cara é uma bagunça total, você não tem ideia no que se meteu!
― Mas ele foi tão legal comigo no meu primeiro dia... ― a menina pareceu confusa com o que a colega disse, comparando com o jeito do garoto no dia em que o conheceu.
― Ele provavelmente está apenas tentando te levar para a cama... ― Charlotte bufou. ― Além de tudo, ele é irmão de , o que faz ele ser um dos caras mais observados da NYU. Os olhos de todo mundo estarão voltados a você, por tabela.
Ignorando tudo que a colega disse, tirando a parte do parentesco de , ficou completamente chocada com o fato. Ela era uma fã assídua de música, mas odiava o pop genérico que tocava, além de achar toda a fama dele muito enjoada, ele era extremamente superestimado. Pensando nisso, ficou mais chocada ainda ao notar como parecia ser diferente dele. E, de alguma maneira, sentiu-se muito atraída por isso.
Sem tempo de pensar mais, as garotas ouviram alguém batendo na porta.
― Agora é tarde demais para falar mal dele, Charlotte, ele chegou. Se comporte. ― ela avisou a colega e foi abrir a porta.
usava uma jaqueta de couro enorme, mas diferente da que ele usara três dias antes. Seu cabelo já não estava mais oleoso, mas era bagunçado de um jeito charmoso, e notou ele muito mais do que no último dia que se viram. Depois de descobrir um pouco sobre ele, tudo que ela queria era saber ainda mais.
― Oi, garotas. Vocês estão prontas? ― ele perguntou com sua voz que era sexy sem um pingo de esforço.
― Eu estou, só vou pegar a minha jaqueta. ― sorriu e se virou para fazer o que tinha dito.
Chocado com a beleza da garota ainda mais relevada, já que no dia em que se viram ela estava de pijamas e um pouco bagunçada, não sabia o que fazer. Sua aparência era praticamente como ele imaginava a sua garota perfeita, e aproveitaria essa noite para descobrir se sua personalidade também era.
Para ele, praticamente ofuscou a sua colega de quarto que, embora fosse atraente, não chegava aos pés de aos olhos de .
― Vamos? ― ela perguntou tanto para o garoto parado na porta quanto para a colega completamente entediada sentada na cama. Os dois assentiram, e logo estavam todos atravessando o campus em direção ao estacionamento.
A conversa entre eles foi serena e calma, e foi tão legal que até Charlotte cedeu e passou a ser mais legal com ele. Pareceu tão certo, os três ali, agindo como se fossem amigos há um tempão, mesmo que sua conversa se resumia em perguntas sobre suas vidas para se conhecerem melhor.
― Então, em que cursos vocês pretendem se formar? ― perguntou, já quando eles estavam na hamburgueria e ele comia uma batata frita.
― Eu quero Jornalismo, deve ser por isso que temos algumas aulas juntos, mas não todas. ― respondeu enquanto provava seu milk-shake.
― Pretendo me formar em dois cursos, Biologia e Saúde, para depois passar em uma faculdade de Medicina. ― Charlotte disse, impressionando o garoto.
― Pois é, essa garota é um crânio. ― riu, enquanto olhava para a amiga, que ficou um pouco sem graça com o elogio dela.
― Isso deve exigir muitos estudos. ― ele parecia impressionado, mas logo se corrigiu. ― Claro que não é como se o meu curso e o da não exijam, mas você deve passar quase o dia inteiro estudando.
― É, é praticamente isso. ― a ruiva riu fraco enquanto assentia lentamente.
― Bem, então nos sentimos honrados por ter nos encaixado nessa agenda cheia, certo, ? ― brincou carinhosamente, olhando para o garoto logo após.
― É claro, muito honrados. ― assentiu e entrou na brincadeira, retribuindo o olhar de com um sorriso que fez os joelhos da garota enfraquecerem.
Mesmo que ele estivesse usando ela apenas para anotar mais um nome no seu bloquinho, havia uma coisa que não mentiu para elas; aquela hamburgueria de nome ridículo era realmente muito boa. Não apenas o hambúrguer, mas as batatas e o milk shake eram de morrer de tão gostosos. E, como se não bastasse, o ambiente era bem jovial e bonito.
Agradecidas pela sugestão e pela companhia do garoto, Charlotte e elogiaram a ChowChow Burger durante o caminho inteiro de volta ao campus. Além de tudo, a primeira sentiu-se muito mal por ter julgado o garoto tão precipitadamente, pois tudo que ela falara fora coisas que ela ouvira de outros alunos e, bem, a faculdade às vezes pode ser tão maldosa quanto o ensino médio.
levou as duas garotas até a entrada do prédio, mas, quando elas chegaram ao dormitório, apenas Charlotte entrou.
― Ei, Lotte, você se importa se eu for tomar um ar? ― perguntou à colega, e ela apenas assentiu, mas com um sorriso um pouco malicioso, já sabendo do que aquilo se tratava.
― Claro que não, pode ir. ― Charlotte confirmou.
― Quer ir comigo? ― bem direta, virou para e fez a pergunta que ele pensava meticulosamente em fazer apenas em alguns dias, pois achava que ela não aceitaria de imediato. Surpreso, ele apenas assentiu.
― Sim, quero. ― sorriu sugestivamente.
Se despedindo temporariamente de Charlotte, foi com até os arredores do campus. De início, eles ficaram um pouco sem jeito; nem pareciam que flertaram tanto por mensagem e se trocaram olhares galanteadores durante a janta. estranhou tanto que até achou que estava perdendo seu jeito com garotas, mas aquela em particular o intimidava.
Mesmo com uns momentos sem saber o que falar, a conversa não demorou a começar e a fluir. descobriu que nasceu e cresceu em São Francisco, até se formar e ir para Los Angeles. Ela gostava de lá, mas não sentia que combinava com o estilo californiano de ser, em nenhuma cidade, fosse São Francisco, Los Angeles, Los Santos, tanto faz. Cresceu assistindo séries e filmes que se passavam em New York, então desde novinha tinha o sonho de pelo menos visitar a cidade. Teve a oportunidade de fazer isso nas férias entre seu primeiro e segundo ano da faculdade, então decidiu que, quando terminasse o segundo ano, tentaria transferir-se para uma Universidade de New York, e conseguiu ir para a NYU.
Também descobriu que ela tinha dois irmãos; um mais velho, que já estava noivo, e um mais novo, ainda no meio do ensino médio. Sua mãe é uma cirurgiã e seu pai um advogado, e ela nunca foi próxima deles, apenas do irmão mais velho, pois pelos empregos seus pais sempre foram distantes, algo que a afetou um pouco.
também conseguiu arrancar dela algumas informações sobre sua vida amorosa; namorou sério duas vezes, por um ano no segundo ano do Ensino Médio e por oito meses no primeiro da faculdade, mas nunca sentiu que amasse de verdade algum dos seus ex. Teve alguns casos de uma noite e saídas de alguns encontros, mas nada que tenha se apegado.
― Então, conte-me um pouco mais sobre você. Já falei tanto sobre mim... ― pediu, olhando para ele de uma maneira um tanto quanto insistente e ao mesmo tempo romântica.
― Ah, não há muito a falar... ― coçou a nuca e riu fraco, tentando se desvencilhar desse assunto.
― Qual é? Falei sobre uma boa essência da sua vida, quero saber um pouco mais sobre você! ― ela continuou insistindo e deu um pulinho. ― Embora eu já saiba de uma coisa...
― O que você sabe? ― ele perguntou de maneira galanteadora, mas estava com medo de a resposta ser o que ele achava que era.
― Que você é o irmão do “grande” . ― fez pouco caso do irmão daquele que estava ao seu lado e, embora a resposta dela tenha sido o que ele temia, o garoto sentiu-se um pouco melhor quando ela caçoou .
― É, é difícil escapar do meu parentesco... ― ele riu de nervoso. ― tudo que meu irmão tem de “grande” é que ele é um grande idiota.
revirou os olhos ao relembrar do irmão, mas não deixou se frustrar por causa disso. Era uma noite linda e ele estava com uma garota linda; já bastava ele destruir outras áreas da sua vida.
― Sabe, confesso que quando me falaram eu fiquei um pouco chocada. ― ela riu fraco. ― Vocês parecem muito diferentes, pelo menos do que vejo de na televisão e na internet.
― Não poderíamos ser mais diferentes do que somos. ― ele suspirou. ― não é um bom moço, mas faz de tudo para construir a imagem de que é, enquanto eu... bem, eu sou a ovelha negra.
― Então deixa eu ver se eu entendi... ― fez uma expressão pensante e ficou na frente dele, fazendo com o que o garoto parasse de caminhar. ― Seu irmão é um cara que se finge de bom moço quando na verdade ele não é, então você é um bom moço que se finge de mau?
riu e mexeu no próprio cabelo após a sugestão dela, e o seu gesto fez com que a garota se fixasse nele, cada vez mais impressionada com a beleza simplória do garoto.
― Nah, eu sou o que sou. ― ele deu de ombros.
― Bem, se quiser a minha opinião, você parece ser um cara bem legal, mas talvez um pouco afetado pela fama do irmão. ― mesmo não sendo a intenção dela, suas palavras atingiram um pouco. Não porque elas estavam erradas, mas porque eram mais verdadeiras do que nunca.
pressionou os lábios um contra o outro e respirou fundo, ainda um tanto quanto abalado.
― Não é só a fama dele, sabe? ― disse um pouco cabisbaixo, e passou a entender que aquele era um assunto delicado. ― Desde que éramos crianças, sempre fui a sombra dele. Ele era o garoto prodígio enquanto eu era apenas... um garoto. Um garoto normal, sem algo de especial. Meus pais sempre focaram muito mais nele do que em mim, e com a fama dele isso só piorou. Aí eles começaram a prestar mais atenção em mim, mas só porque queriam que eu fosse como , um produto.
prestou atenção em cada letra, cada palavra que escapava da boca daquele ao seu lado e não pôde evitar sentir pena dele. Ser a sombra de alguém qualquer já era ruim, mas ser a sombra do próprio irmão? Que tipo de pais eram aqueles que incentivavam a rivalidade entre seus filhos?
― Bem, mas você precisa saber que quem você realmente é já é mais do que o suficiente, embora seja difícil ignorar a própria família, isso vai muito além do que seus pais e seu irmão pensam de você. ― ela olhou diretamente em seus olhos, hipnotizando-o com eles e com sua fala. ― Eu sei que nos conhecemos apenas recentemente, mas você já parece ser um cara bem interessante.
sorriu de canto e tentou esconder o fato de que tudo que ele precisava era alguém para falar algo daquele tipo para ele. Que ele precisava de ajuda e conselhos, mas nunca ninguém ficou ali tempo o suficiente, ou se importou o suficiente para fazer isso.
― E você é uma garota bem interessante. ― ele inclinou-se em direção ao rosto dela, ainda retribuindo seu olhar e falou tão perto dela que suas respirações começaram a se misturar.
baixou o seu olhar para os lábios dele. Eles eram rosados, com o tamanho na medida certa e muito, mas muito atraentes. Na verdade, era atraente no geral; seus olhos magnetizavam qualquer um que fosse sua vítima, seu jeitão um pouco rebelde porém doce era eletrizante, sua voz arrepiava e ele sempre sabia quando dizer a coisa certa.
Ela estava lá há três dias. Três dias em New York e ela já havia encontrado o significado de magia dentro daquele garoto.
Então ela deixou tudo de lado. O tempo que estava ali, seus relacionamentos falhos e o conselho de Charlotte, ela queria tanto ele; ou pelo menos um pedaço dele.
E ? Ele também deixou muita coisa de lado. Seus medos, suas inseguranças e ativou seu modo um tanto mulherengo, mesmo no fundo sabendo que aquilo seria muito mais do que apenas uma noite, ele queria só um pouco de diversão.
O beijo entre eles foi... inexplicável. Era algo que encaixava, que parecia pertencer ali, sabe? Foi praticamente um jogo de quem estava com mais fome daquele ato. Quando sentiu as mãos fortes do garoto em sua cintura a puxando mais para perto, percebeu seu corpo inteiro arrepiando-se. A pegada de era a melhor que ela já viu ― ou sentiu.
Os dois cansaram de ficarem ali, então sem nem olhar, a empurrou até uma viga e a deixou encostada ali, possibilitando que apenas os seus lábios se movessem enquanto eles ficavam cada vez mais grudados, chegando a um ponto que era capaz de seus corpos emergirem de tão juntos que estavam. Sua mão direita desceu da cintura da garota até a barra do seu suéter e pôs a mão dentro dele, agora subindo a mão até o sutiã que apenas pelo toque pôde notar que era de renda. soltou um suspiro e um gemido fraco de prazer, sentindo uma energia ainda maior com a mão do garoto no lugar onde estava.
Infelizmente, uma luz foi ligada justamente no lugar onde estavam e eles tiveram que se separar quase que imediatamente antes que fossem pegos. Olhando um para o outro com os cabelos e roupas bagunçadas, os lábios molhados e as bochechas coradas, e riram um do outro e da situação em que se encontravam.
― Então... ― olhou para os lados e notou alguns alunos passando pelo corredor ao lado deles rindo de provavelmente alguma bobagem qualquer, mas logo estes começaram a fofocar entre si.
“Ei, aquele não é com uma garota?” foi possível ouvir a voz de uma das garotas do grupinho sussurrando isso para seus amigos.
“Com certeza é. Olha o jeito deles, provavelmente estavam a ponto de transarem ali mesmo” dessa vez foi um menino que falou, dando pequenas risadinhas entre sua fala.
A partir dali, passou a entender o que passava quase todos os dias ― mas talvez numa versão um tanto quanto reduzida. Entretanto, quando olhou para ele, só notou uma revirada de olhos e mais nada, como se ele já estivesse acostumado e não se importasse mais com aquilo. Muito pelo contrário, a única coisa que o garoto fez foi aproximar-se novamente dela e pegar sua mão, logo curvando-se para falar em seu ouvido.
― Quer ir ao meu dormitório? Não tenho nenhum colega de quarto.
Ao ouvir a voz dele tão perto do seu ouvido, que ficava ainda mais sexy quando sussurrada, deixou o grupo de idiotas de lado e voltou a se concentrar em e no momento que eles estavam tendo. Ela sabia muito bem o que aquele pedido significava, afinal não era burra, mas tudo que ela sentiu durante o beijo deles voltou para ela, e sentiu certas partes de seu corpo pulsarem com a possibilidade, então não demorou a responder.
― Sim, quero. ― ela aceitou e sorriu de canto enquanto olhava nos olhos castanhos do garoto, que brilharam após ela falar e ele sorriu da mesma maneira que ela.
O tempo que levou do centro do campus até o dormitório de não foi pouco, mas o fogo entre eles continuou do mesmo jeito e não se apagou por segundo algum. Eles paravam em alguns momentos para se beijarem um pouco mais, mas não no mesmo ritmo de antes, pois queriam poupar energia para mais tarde.
À medida que os minutos passavam, a adrenalina no sangue de parecia aumentar e, quando pegou as chaves e abriu a porta de madeira do seu dormitório, ela quase perdeu o ar em seus pulmões. Qual era a desse nervosismo, afinal? Ela tinha perdido a virgindade com dezesseis anos e transou com uma certa quantidade de homens em sua vida, por que ela estava nervosa com aquele em particular?
Quando eles entraram, sequer ligou a luz do quarto, afinal as que refletiam da lua e dos postes do lado de fora eram o suficiente. Ele pegou a mão da menina que ainda não tinha entrado e a colocou para dentro, logo fechando a porta. Lentamente, ele a puxou para mais perto e olhou em seus olhos verdes cheios de selvageria ― pelo menos na medida do possível, considerando a escuridão dentro do cômodo.
Suas mãos dessa vez foram parar no quadril de e as mãos dela na nuca dele. O beijo começou de forma devagar, porém profunda. Ele foi mudando sua velocidade gradativamente, de um jeito que os dois gostavam bastante. O toque do garoto desceu até o bolso da calça jeans de , diretamente tocando no seu traseiro, enquanto ela arranhava levemente a nuca dele. parou de beijá-la e pousou seus lábios no pescoço de cheiro muito agradável da garota, que suspirou com o gesto.
Ele pôs a mão no fim do suéter dela, esperando pela permissão para tirá-la, que logo lhe foi concedida. também mudou a mão de lugar, querendo, com muita urgência, tirar aquela jaqueta de couro e a blusa que ele usava e não demorou em obter sucesso.
― Você tem certeza que quer fazer isso? Apenas checando. ― ofegante, ele perguntou isso assim que ficou sem camisa; uma paisagem para os olhos da garota.
― Absoluta. ― quase sem fôlego, assentiu e voltou nos braços de imediatamente.
Deitando-a na cama, deu início a uma das melhores noites da sua vida, mesmo que não sabia disso no momento em que aconteceu. O calor da pele de o fez sentir-se mais vivo do que nunca e ela também nunca sentiu tanta excitação e urgência de ter alguém na cama com ela.
Não importava se ele achava que aquilo era algo de uma noite e se ela achava que aquilo nunca se tornaria sério. O destino guardava algo muito além disso para eles dois. Algo emocionante e devastador ao mesmo tempo.
As semanas e os meses se passaram, e se adaptava cada vez mais à rotina da cidade que nunca dormia e da NYU. Muito daquilo ela devia a , que agora era seu namorado ― mas tanto ele quanto ela tinham um pouco de receio daquele termo.
Com um emprego na cafeteria local, conseguiu juntar um pouco de dinheiro e conseguiu comprar um apartamento minúsculo, praticamente um estúdio, ao redor do campus. A cozinha, o quarto e a sala de estar eram todos juntos, o único cômodo separado era o banheiro.
E lá estava ele, deitado embaixo de seus lençóis brancos que já estavam bem manchados, com sua garota ao seu lado, dormindo como um anjo depois de uma transa extremamente prazerosa. Enquanto ela fazia isso, lia um dos livros da matéria de Comunicação Social; ele mal tinha tempo livre com o emprego e os exames finais chegando, precisava estudar bastante.
Assim que terminou de ler uma página, ouviu a porta de entrada sendo batida e ficou frustrado por ter que interromper os seus estudos temporariamente para atender algo que talvez fosse até um trote dos garotos que moravam no andar de baixo.
Apenas usando uma cueca preta e sem se importar com isso, ele foi até a porta e a abriu, surpreendendo-se com quem realmente era. Ali estava, de boné e óculos escuros, moletom e jeans surrados ninguém menos que seu irmão mais velho, , fazendo ficar ainda mais frustrado por ter atendido a maldita da porta.
― O que está fazendo aqui? ― perguntou sem felicidade, tristeza e raiva, apenas transparência.
― Uau, que jeito de receber seu irmão mais velho que não vê há quase dois anos. ― repreendeu o mais novo, tirando seus óculos.
― Você está com seu disfarce, o que houve para a superestrela não querer a atenção e o grito de fãs desesperadas? ― mesmo esse sendo realmente seu pensamento, o questionou usando muita ironia em sua voz.
Sem nem ser convidado, entrou no apartamento, invocando cada vez mais a ira de que poderia explodir a qualquer momento. Ao ver a garota na cama, o irmão arregalou os olhos e apontou para ela, olhando para .
― Essa é a e se você acordar ela, eu te mato. ― ele sussurrou mas ainda assim fez a sua versão mais ameaçadora possível. ― Você não respondeu a minha pergunta.
passou a mão pelos seus cabelos castanho-claros depois de tirar o boné e deu de ombros.
― Eu só queria ver o meu irmão. ― respondeu.
― Legal, fofo. ― sarcasticamente fez uma careta. ― O que você quer, ?
― Nada, é sério! Eu tenho um show no Madison Square Garden hoje e quis dar uma escapada para te ver, já que faz tanto tempo. ― ele se justificou. ― Eu nem sabia que você estava namorando! Eu nunca quis isso para nós dois.
― Primeiro de tudo, eu não estou namorando! E segundo, pena que não quis isso para nós dois, mas o estrago está feito. ― se segurava para não gritar e deixar seu sangue subir, mas estava difícil.
― , por favor, isso foi há dois anos, vamos deixar isso para trás. ― sussurrou um pouco mais perto do irmão, que teria o dado um soco se não fosse pela voz que ouviu assim que parou de falar.
― ? O que está acontecendo? ― perguntou, sonolenta e se espreguiçando na cama, acordada pela conversa que ficava cada vez mais calorosa entre os irmãos.
― Nada, , pode voltar a dormir. ― o pedido de não adiantou nada, porque quando a visão dela ficou mais clara depois de esfregar seus olhos, ela se surpreendeu com a presença do homem que ela sabia muito bem quem era.
― Oi, eu sou o . ― ele acenou e sorriu para a garota que se enrolou ainda mais nos lençóis, pois estava usando apenas uma camisa que pertencia a e uma calcinha.
― , mas me chame de . ― ela cumprimentou de volta um pouco sem graça pelo jeito que se apresentava.
― Vá embora. ― com certa grosseria, interrompeu as apresentações e virou para o irmão.
― Tudo bem, eu irei. ― disse. ― Mas saiba que não vai ser assim que deixarei as coisas entre nós. Eu ainda me arrependo das minhas ações.
― É, até parece. ― revirou os olhos e foi assim que ele se despediu do irmão mais velho, fechando a porta assim que ele ficou atrás dela.
Mais calmo, voltou para a cama, recebendo o olhar de uma aparentemente muito confusa. Assim que ele ficou embaixo dos lençóis novamente e pegou seu livro, a garota decidiu interromper.
― O que o fez? ― perguntou, franzindo o cenho.
― Nasceu. ― secamente respondeu enquanto passava os olhos pelo livro e riu fraco.
― Ok, mas o que ele fez de verdade? ― perguntou novamente. ― Vocês estavam ali falando sobre ações passadas e deixar algumas coisas para trás e eu estava lá, boiando cheia de sono.
Sem paciência depois da conversa com e a lembrança dos acontecimentos do passado, bufou.
― Nada, . ― ele respondeu defensivamente, fazendo a garota estranhar.
― Você pode falar comigo, ! Já estamos juntos há tempo suficiente e a única vez que você falou abertamente sobre a sua relação com seu irmão foi na nossa primeira noite e agora eu sinto que você ou mentiu ou omitiu coisas de mim. ― ela cruzou os braços e parecia determinada a arrancar palavras da boca dele, mas tudo que conseguiu foi deixar ele mais irritado.
― Eu não quero falar sobre isso , que merda! ― a voz dele se alterou, assustando-a.
― Mas talvez você precise! ― ela sugeriu e aumentou a sua voz ao volume da dele.
― Não, , não preciso! Eu sei muito bem o que aconteceu e não preciso falar para ninguém e ter a lembrança disso! ― irritou-se e se levantou da cama, fechando os olhos e massageando as têmporas. ― Honestamente, não estou com paciência para lidar com isso agora. Pode ir embora?
― Ah, então você acha que pode me expulsar como se eu fosse seu cachorrinho? Se toca, ! ― passou a se irritar também e levantou da cama logo após ele, chegando mais perto do garoto e pegando suas mãos assim que se acalmou. ― Eu só quero saber o que faz você odiá-lo tanto, quando ele parece tão disposto a voltar atrás, e o que faz o seu humor piorar quase todos os dias com tanta intensidade. , eu quero te conhecer, mesmo que isso já tenha acontecido há sete meses, mas ainda te sinto distante.
Olhando nos olhos verdes um tanto quanto tristes da garota, sentiu tanta vontade de falar a verdade para ela, de beijá-la, abraçá-la e nunca deixá-la ir embora. Mas seu orgulho falou mais alto, e as palavras não conseguiram sair da garganta dele.
― Eu não quero falar sobre isso. ― ele disse dessa vez quase sussurrando e de cabeça baixa, mas aquilo não foi o suficiente para , que voltou a se irritar.
― Tudo bem, , ― ela tirou a camisa dele e o entregou, logo pegando suas próprias roupas e as vestindo. ― Eu vou embora. Ligue-me quando seu juízo voltar.
A batida forte da porta quando ela foi embora cortou o coração de , que só conseguiu pensar em como ele sempre deixava seu irmão e seus pais destruírem suas vidas mesmo quando eles não estavam diretamente envolvidos.
Mas ele não queria encontrar-se sozinho e sem rumo novamente. Ele faria ela perdoá-lo, nem que seu orgulho fosse quebrado em milhares de pedaços.
Carregando o violão pesado e empoeirado em suas costas, bateu na porta do dormitório de e Charlotte, assim como fez exatamente há sete meses. A diferença é que, dessa vez, muita música e risadas podiam ser ouvidas de dentro do recinto.
― Ah, oi, . ― Charlotte o cumprimentou de má vontade e supôs que ela já sabia da briga entre ele e a amiga.
― Feliz aniversário, Charlotte! ― ele tentou mostrar animação, mas seu sorriso estava mais amarelado do que nunca, e a entregou um pequeno pacote embrulhado.
― Obrigada, pode entrar. ― ela abriu caminho para o garoto e não procurou trocar mais nenhuma palavra com ele.
tentou não se estressar quando sentiu o aglomerado de pessoas naquele pequeno dormitório, então respirou fundo para se acalmar. Estava ali por e ninguém mais.
Encontrou a garota, mais linda que nunca, encostada no raque da televisão bebendo algo de um copo vermelho. Seus olhares se encontraram e pareceu surpresa em vê-lo ali, pois mostrou uma expressão surpresa e foi possível observar que sua respiração estava pesando em seu peito. Esperançoso, foi até ela mas acabou a perdendo no meio da multidão, suspirando em frustração.
Ele queria falar com ela, conversar, resolver as coisas, mas não a achou por muito tempo durante a festa; ela parecia ter evaporado. Ele realmente não queria usar seu último recurso para chamar sua atenção, mas pelo jeito teria. Depois de terminar de fumar um cigarro, jogou a fumaça para fora e pegou seu violão, procurando pelo assento mais próximo, até encontrar um banquinho.
Não precisou nem se esforçar para chamar a atenção dos convidados da festa; ver sentado em um banquinho, segurando um violão era o suficiente para todos pousarem seus olhares nele e abaixarem a música do som, curiosos com seu próximo ato.
― Oi, gente. Eu sou o , para aqueles que não sabem... ― ele parecia um tanto quanto tímido, algo bem incomum, mas o trauma da fama do irmão fez ele odiar ser o centro das atenções. ― Antes de tudo, feliz aniversário, Charlotte. Agora, preciso dizer algo. Eu fui um tonto, um idiota com uma garota que só me fez bem nos últimos meses. Mas, vejam, eu tenho meus motivos para não querer me apegar, motivos particulares, mas acabei me apegando a ela. Essa garota foi minha única alegria nos últimos sete meses e, sinceramente, nos últimos dois anos também. Odeio fazer isso, porque não pego no meu violão há um tempo, então se eu estiver um pouco enferrujado, sinto muito. Porém, , essa é para você.
pigarreou e começou a dedilhar o violão como se nunca tivesse parado e soltou sua voz com Wonderwall, do Oasis. Foi uma das únicas músicas que ele conseguiu pensar como perfeita para aquele momento e situação, e não estava errado. Sua voz combinou tanto com a música, mas aquilo não era novidade; alguns diziam que ela era tão boa ou até melhor do que a de , mas isso não era importante no momento. O importante é que ouviu, viu e se emocionou. Nunca alguém tinha feito algo do porte para ela e ela aprovou a escolha de música do garoto.
There are many things that I would like to say to you, but I don’t know how.
Because maybe, you’re gonna be the one that saves me.
And after all, you’re my wonderwall.
A garota sorriu especialmente com aquela parte, identificando com a atual situação do casal. Assim que ele terminou de tocar, enfrentou a multidão que a rodeava e correu até ele, beijando-o como nunca antes.
― Obrigada por isso, . ― ela sussurrou. ― Sei que deve ter sido difícil fazer isso no meio de tanta gente.
sorriu e, assim que eles se separaram, ele tocou em suas mãos e olhou nos olhos dela, pronto para dizer o que havia praticado por dois dias.
― Eu sinto muito, . Fui fraco e egoísta e inseguro, deveria confiado em você, porque eu confio, eu juro, é só que... são tantas coisas que eu nem sei como começar a te contar. Tudo que sei que é eu te amo e que vou fazer de tudo para que isso dê certo, começando por te contar lentamente o que realmente aconteceu entre eu e . E quero fazer as coisas entre nós oficiais.
não conseguia tirar o sorriso do seu rosto, principalmente depois do “eu te amo” e “quero fazer as coisas entre nós oficiais”. Ela tocou na bochecha dele, que fechou os olhos com a delicadeza do toque.
― Eu também te amo, . E quero ouvir tudo que você tem a dizer... um passo de cada vez. ― ela disse, arrancando o sorriso mais lindo de que ela já tinha visto. ― Eu serei paciente, eu prometo.
Passado o momento de grude, o garoto jogou o braço em volta dela e a olhou com carinho.
― Quer ir beber um pouco, namorada? ― ele perguntou, divertindo-se com o termo.
― Quero sim, namorado. ― ela respondeu, fazendo o mesmo que ele e rindo.
O ― oficialmente ― casal nunca sentira felicidade como aquela. Era algo que consumia seus corpos inteiros, como eletricidade fluindo em uma cidade grande. Entretanto, não procurou medir o peso de seus atos em relação às suas consequências, nem imaginando o que aconteceria a seguir.
Um pouco bêbados depois da festa, não ficou em seu próprio dormitório após ajudar Charlotte a limpá-lo e, ao invés disso, foi até o apartamento do namorado aproveitar o que restava da noite com ele. Depois de fazer o que era usual, conectaram umas caixinhas de som ao notebook do garoto e colocaram The Strokes para tocar em um volume um tanto quanto alto.
Eles pularam na cama, usando apenas uma calça de pijama e uma blusa branca que ia até um pouco abaixo do seu umbigo e uma calcinha de mesma cor, enquanto gritavam a letra de Last Nite e bebiam o resto de vodka que sobrara da festa e que eles roubaram.
Infelizmente, aquela euforia só duraria pelo resto do dia, pois no seguinte ambos foram bombardeados em suas redes sociais.
Esquecendo completamente da existência do seu celular, apenas lembrou de carregá-lo no intervalo entre o almoço e o primeiro horário da tarde; já que tinha um tempo livre depois de comer, decidiu passar no seu dormitório para fazer justamente isso. Quando o ligou, ele quase explodiu de tantas notificações, sobretudo do Twitter.
“Feliz em descobrir o user da nova cunhada do , @_. Ela parece legal”
Aquela menção até a fez sorrir, mas sabia que não parava por ali.
“Ei, vocês viram a nova namorada do irmão do ? Ela é muito gostosa! @_”
“@_ você é tão sortuda por ser a namorada de , pois assim você pode conhecer o ! Será que poderia mandar meu user para ele seguir????? 980”
“Ugh, espero que @_ não chegue perto do meu ! Ela parece uma vadia”
A partir daquele momento, a garota nem sabia mais porque estava fazendo aquilo consigo mesma, só sabia que não conseguia parar de passar o dedo sobre a tela. Ela já estava determinada a parar, até que viu algo que a intrigou.
“Honestamente, acho que @ merece felicidade. Mesmo sendo fã do @, o que ele fez com o próprio irmão foi muito errado, não importa o quão apaixonado ele esteja pela Victoria. Roubar ela dele foi péssimo, espero que @_ o faça mais feliz.”
“A vida de : Tudo que sabemos, desde quando seu irmão ficou famoso, o fracasso da sua carreira musical, o triângulo amoroso entre ele, e Victoria James até agora, com a sua mais nova namorada, @_: buzzfeed.com/article/12947289”
não entendeu nada daquilo. Triângulo amoroso? Roubar namoradas? O que diabos isso significava? Ao mesmo tempo que queria e não queria fazer isso, ela acabou clicando no link do artigo para saber mais.
Ela devia perguntar aquilo para o próprio , mas a sua curiosidade estava a matando. Como que sobreviveria sem saciá-la?
Então ela leu o artigo, provavelmente cheio de furos e mentiras, mas não conseguiu parar. Seus olhos devoraram as linhas sem misericórdia de si mesmos ou do coração da própria dona.
Aparentemente, e se davam muito bem, embora o primeiro fosse ressentido pela relação sempre ruim com os pais e por ter tido uma carreira fracassada, os dois eram mais unidos que um “feat entre Pitbull e JLo”, segundo o buzzfeed. Faziam tudo juntos; o Instagram de um era cheio de fotos com o outro. Viajavam juntos, o mais novo estava sempre nos shows do mais velho, que cancelou um concerto em Seattle para poder comparecer à formatura do caçula. , em um dos shows do irmão, conheceu Victoria James, atriz da famosa série Intertwined, da ABC, que estava lá apenas por diversão com suas colegas de elenco. se apaixonou perdidamente por ela e eles namoraram por um tempo, até Victoria e se apaixonarem um pelo outro, jogando para o escanteio. Assim se deu o começo entre a longa briga entre os dois irmãos, com sempre escondendo o fato de que seu ódio foi porque ele roubara a namorada a qual ele olhava como se fosse a última gota d’água num deserto com temperatura de 50ºC, como viu nas fotos do artigo.
Então era isso que ele queria dizer nos últimos meses sobre “suas relações e amizades serem arruinadas por ”. Entretanto, ele nunca foi claro sobre isso, então nunca achou que fosse algo tão grave, achando que o ódio de pelo irmão mais velho foi crescendo durante os anos ― quando, na verdade, esse sentimento veio em apenas uma onda enorme e devastadora, causando um tsunami na sua relação fraterna.
Mas o pior ainda estava por vir.
Enquanto descobria todas essas coisas sobre o namorado, teve uma surpresa durante o intervalo entre uma de suas aulas. O som de Smells Like Teen Spirit, que era o toque de seu celular, chamou sua atenção, mas não tanto quanto ele leu “Mãe” no identificador de chamadas. Desconfiado, mesmo assim ele atendeu a chamada.
― Alô?
― Oi querido, quanto tempo! ― a voz doce e maternal de Beatrice era tão mal fingida que não enganaria absolutamente ninguém. ― O que está fazendo?
― Estou no intervalo entre uma aula e outra, por quê? ― ele estranhava cada vez mais aquele contato e, se ela pudesse ver sua careta pelo telefone, ela certamente teria apagado um de seus cigarros no braço do filho para tentar “ensiná-lo uma lição”.
― Ah, nada, só queria saber como estava... ― respondeu com a voz pomposa. ― E te dizer que eu e seu pai vimos o seu vídeo.
O coração de congelou. Qual vídeo dele fazendo algo embaraçoso e comprometedor colocaram na internet dessa vez?
― Qual, mãe? ― ele perguntou, tentando soar inocente.
― A de você tocando violão numa festa e se declarando para sua nova namorada. ― o tom de Beatrice estava tão presunçoso e sugestivo que já sentia o que estava por vir. ― Seu pai e eu, embora não surpresos por termos noção do seu talento, ficamos tão tocados com o gesto e nos arrependemos de ter parado em investir no seu futuro. Você ficou viral na internet, e muitas pessoas nas redes sociais tem pedido o seu retorno.
― Vocês não pararam de investir no meu futuro, mãe. ― ele disse a última palavra até com certo desgosto. ― Vocês pagam a NYU, que é o futuro que eu quero.
― Pois é, mas é por justamente isso que estou te ligando, meu bem. Seu pai e eu não pagaremos mais pela universidade a partir do mês que vem. Queremos que você volte a cantar. Talvez, com esse vídeo, você fique mais famoso dessa vez.
Assim que ouviu tudo aquilo, congelou completamente. Ele não sentiu raiva, tristeza ou fúria; ele sentiu nada, como se toda a sua mente tivesse se esvaziado depois daquelas palavras tão prejudiciais que a própria mãe lhe disse. Aquele era seu pior pesadelo ― que seus pais voltassem a arruinar sua vida, tentando forçá-lo a voltar para palcos intimidadores e sessões de autógrafo horríveis, com entrevistadores que só sabiam perguntar sobre seu irmão e sua vida pessoal, como aquilo fosse um assunto importantíssimo. Ele não queria aquela vida.
Seu estado estático dissipou-se e sua vontade agora era de quebrar, estraçalhar e passar o rosto de quem divulgou seu vídeo no asfalto até que ele se esfoliasse por completo. queria quebrar todas aquelas estátuas de pedra em sua volta, cerrar os bancos de madeira, destruir as plantas.
― Vocês são loucos, psicopatas ou só fingem?! ― gritou no telefone. ― Vocês sabem que eu odeio tudo isso, vocês sabem que eu estou finalmente sentindo que estou no caminho certo! Eu sou o filho de vocês, caralho, não sou seu fantoche!
― Querido, por favor, se acalme! É exatamente por sermos seus pais que sabemos que isso é o melhor para você, para nós, para a família! ― a víbora tentou se justificar, mas tudo aquilo só fez sentir-se mais atacado.
― Vão se foder, então!
Sem nem deixar a mãe falar mais, desligou a chamada e jogou o celular para muito longe, tendo um acesso de raiva. Ele não conseguiu ir para mais nenhuma aula depois daquilo; qual era o ponto de ir se ele já estava sendo forçado a sair, não é mesmo? Então ele ficou no seu apartamento o dia inteiro, deitado depois de destruir todas as coisas feitas de vidro que avistou.
O garoto sentiu como se tivessem tirado a própria alma dele. Queria saber um jeito de consertar aquilo, de poder ele mesmo pagar a própria faculdade, mas seu emprego de caixa na cafeteria quase não cobria suas próprias contas, imagine a universidade.
estava perdido. E ele sabia disso.
também não lidou bem com a notícia. Ela mesma não tinha os melhores pais do universo, mas tinha certeza que nunca a tratariam como um mero experimento ou como uma boneca, então não conseguia entender por que os pais de estavam fazendo isso com ele.
Ela aturou os outros surtos de fúria do garoto, os choros na madrugada, os longos dias de mau humor, e aquilo não foi nada fácil; afinal, essa situação também a irritava profundamente.
Assisti-lo indo embora no seu último dia de aula quebrou o coração da namorada. Vê-lo com sua mala na mão e entrando em um limusine, com a cara mais desolada do universo sem poder fazer nada a destruiu. Um dia, expressou sua vontade de ela mesma ir falar com os pais do namorado pessoalmente, pedir para que eles não fizessem aquilo ― mas a cortou na hora. Disse que, na primeira vez que aquilo aconteceu, pediu ajuda para o irmão, para que ele conversasse com os pais e dissesse o quão odiava cantar como uma profissão, mas que até mesmo a voz do garoto de ouro não bastou para eles, apenas o fracasso comercial de sua carreira, algo que com certeza eles estavam dispostos a consertar dessa vez.
assistiu a cada show que podia quando estava de férias, mas nunca parecia que o verdadeiro estava lá de coração e alma, apenas o corpo físico, mesmo com a presença da garota. Ele parecia morto, ou pelo menos inconsciente por dentro.
Seus pais estavam certos, sua carreira decolou. Não tinha o mesmo público que o irmão, é claro, mas era um número considerável; os ingressos dos seus shows esgotavam frequentemente. Entretanto, ele não estava feliz; bebia quase todos os dias, inclusive nos shows, fumava como uma chaminé e brigava com toda a sua equipe, desde a banda de apoio até o pessoal do som. Quando acontecia a raridade de ele não faltar uma entrevista, era grosso com os entrevistadores, desconcertado com todas aquelas pessoas o observando e querendo saber sobre sua vida.
O namoro entre e ficou incerto. Ele mal tinha tempo para ligar para ela ou sequer mandar uma mensagem, então tudo ficou muito difícil para os dois, mas nunca tinham falado as palavras “vamos terminar”. Tudo foi apagando aos poucos, até que a garota realmente expressou sua preocupação na primeira ligação que pôde fazer em quase um mês.
― Você não pode ver o que está acontecendo conosco, ? ― a voz de parecia chorosa pelo telefone. ― Eu não posso mais fazer isso. Eu sei que tem sido difícil para você também, mas eu não sei... mesmo se tudo isso acabasse, você realmente acha que voltaríamos a ser como éramos?
― , por favor, não faça isso. ― tentava se forçar a não chorar ou parecer muito triste, mas isso era praticamente impossível. ― Isso vai acabar algum dia, e quando acabar, irei direto para os seus braços.
― Sinto muito, , mas... Preciso fazer isso. Tenta me entender, isso é muito difícil para mim também, mas mais difícil ainda é ficar semanas sem ouvir sua voz e, ao invés de ficar triste, me acostumar com isso. E isso não é um namoro de verdade.
Uma das piores coisas na vida é quando alguém que você ama, admira, que é a razão a qual você ainda está de pé dizer que se acostumou a ficar sem você. Seu coração aperta, mas você não consegue pensar em algo para amenizar ou melhorar isso, porque tal coisa não existe. Quando alguém diz que se acostumou a ficar sem você, você está perdido.
E esse era o caso de , mas ele estava determinado a não deixar aquilo acontecer.
― Odeio isso, sabe? ― desabafou, suspirando. ― Mas isso não está acabado, . Eu te prometo que não está.
desligou e jogou o celular na sua cama temporária no quarto de hotel em que estava hospedado. Ele respirou fundo e tentou pensar em algo para fazer, até ter uma ideia.
Ele estava cansado, e o que ele tinha pensado era a melhor coisa a se fazer. Para ele mesmo, para , para todo mundo.
, não acreditando no que estava fazendo, vestiu-se igual ao seu irmão quando tentava se disfarçar: o boné preto, os óculos escuros, o moletom preto, calça preta e coturno. Como seu cabelo grande era sua maior característica, foi até uma loja de conveniências perto do hotel e comprou uma máquina de raspar, e cortou tudo, sem arrependimentos. Até se achou um pouco mais bonito.
Tudo que ele fez depois disso foi colocar algumas roupas numa mochila, pegar uma boa quantia de dinheiro e pegar um táxi até o aeroporto, sem ninguém notar. Entrou no primeiro avião para New York e foi embora. Decepcionaria seus fãs que foram até Austin, no Texas, para vê-lo? Decepcionaria. Mas qualquer pessoa em sã consciência que tinha visto suas últimas entrevistas e suas atitudes tinha a noção de que aquilo simplesmente não era para ele.
No JFK, ele pôde ouvir um pouco uma notícia que passava na televisão sobre o desaparecimento de . Mas isso não o fez ter outros pensamentos ou voltar atrás, muito pelo contrário; ele sorriu. Só isso, sorriu. Sabia que seus pais não o perdoariam depois daquilo, mas honestamente? Ele não dava a mínima. Tinha arrecadado dinheiro o suficiente para voltar para a universidade por conta própria, afinal já que ele já era adulto, seus pais não controlavam mais suas finanças. E ele se sentiu libertado.
Depois de refazer sua matrícula na NYU, atravessou o campus e foi até o prédio onde ele esperava que sua namorada ainda vivesse. nunca sentiu-se tão nervoso, do jeito bom, na vida inteira quanto naquele momento.
Ele bateu na porta, e foi atendido por justamente a única pessoa a qual queria ser atendido; pela garota de cabelos pretos com californianas roxas, moletom cinza com bolso rasgado, calça jeans e botas de cano alto e com os olhos mais verdes que ele já tinha visto, e o único que queria ver, na vida.
Lá estava . E, mesmo que estivessem o observando e o procurando, mesmo que um dia lhe achassem, não desistiria de sempre achar seu caminho de volta para ela. Pois agora ele sabia, ela era o amor de sua vida, e ele nunca queria encontrar-se sozinho novamente.
Fim
Nota da autora: Oi pessoal, muito muito muito obrigada se você leu até aqui! Essa foi a maior short que eu já escrevi, meu Deus HAHAHAHHAH
Espero que tenham gostado desse ficstape tanto quanto eu amei participar dele! E se vocês gostaram, lá vem...
EVERBODY'S WATCHING ME VAI TER CONTINUAÇÃO SIMMMMM! E vai ser sobre o irmão do PP e a história dele com a Victoria (que no caso na continuação vai ser interativa), então fiquem ligados no meu grupo do facebook (https://www.facebook.com/groups/564226630611368/) que eu vou avisar quando a continuação entrar!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Espero que tenham gostado desse ficstape tanto quanto eu amei participar dele! E se vocês gostaram, lá vem...
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