Capítulo Único
tinha saído de casa para comprar absorventes. Quem nunca se esquecia que aqueles dias estavam chegando e precisava correr para a farmácia? Mas quando encontrou o pacotinho desejado, estava impedindo que ela chegasse a ele.
— Com licença — ela pediu educadamente tentando manter uma voz calma e não deixar transparecer a TPM que estava sofrendo.
Ele olhou pra ela sem entender muito bem. Estava tão focado escolhendo uma camisinha que nem prestou atenção na menina do seu lado.
— Qual você quer? — ele perguntou apontando para as embalagens multicoloridas na sua frente. Estranhou um pouco uma garota comprando camisinha, mas não iria questionar.
— Na verdade o que preciso está na prateleira debaixo.
— Oh... — ele então viu o que ela estava procurando e deu espaço para a garota escolher o seu pacote de absorvente.
Quando olhou para o rapaz, ele estava vermelho.
— Está tudo bem? — ela perguntou, tentando não rir do quando ele estava envergonhado.
não ligava para esse tipo de coisa. Já tinha comprado absorventes (e camisinhas) o suficiente na sua vida para isso não ser mais um problema.
— Tá sim. É que… desculpa, eu só deveria ter te dado espaço.
— Tudo bem — sorriu envergonhada. — Acontece.
Ela estava quase dando as costas quando ele a chamou.
— Ei, você pode me ajudar?
olhou estranha para ele, porém curiosa.
— Diga.
— Minha roomate pediu para eu comprar um desodorante pra ela, mas não me disse qual e eu não faço ideia de qual que presta — o rapaz levou a mão nos cabelos loiros, claramente sem graça daquela situação.
olhou para a prateleira de cima, pegou o modelo que ela gostava de usar e entregou para ele.
— Eu gosto desse. Espero que sua namorada goste também — ela respondeu com um sorriso sem graça, os olhos castanhos examinando as expressões dele.
— Oh, ela não é minha namorada não! É irmã de um amigo finlandês, veio estudar aqui em Dallas e como eu tinha um quarto sobrando, resolveu ficar comigo e mais um amigo. A gente quase nunca está na cidade mesmo, é um bom negócio.
tinha achado o rapaz bonitinho, mas depois de saber que ele tinha ido até a farmácia para ajudar a colega de apartamento, não teve como não sorrir. Os olhos do garoto brilhavam na luz da farmácia, o estilo dele também tinha chamado atenção da morena. As botas de couro, a calça rasgada e uma camiseta que parecia que ele não se importava com sua aparência.
— Sou — ela estendeu a mão, assustada com a própria iniciativa.
— — ele aceitou o cumprimento e juntos, foram andando em direção ao caixa.
— Belo nome, .
— Na verdade é . Finlandês.
— Oh — ficou sem saber o que dizer. Era claro que aquele rapaz não seria americano. Ela ficou o analisando enquanto este pagava sua compra. Ele tinha um sotaque, como ela não tinha reparado antes? Porém seu sorriso doce a fizera se distrair. Justo ela, estudante de linguística e viciada em sotaques estrangeiros.
esperou que pagasse seu absorvente. Mesmo morando com uma menina, ele tinha ficado envergonhado. Era uma coisa natural, ele sabia disso, ele mesmo já tinha comprado absorvente para Peppi algumas vezes, mas ele tinha ficado envergonhado. era bonita, talvez tivesse sido este o problema, não a questão do absorvente.
poderia ser jogador de hockey profissional, jogar na NHL e ser a sensação do Dallas Stars pela segunda temporada seguida. Mas quando se tratava de socializar com o sexo oposto, ele era um belo de um fracasso.
Ele observou enquanto vinha em sua direção e, reunindo toda a coragem, que não fazia ideia que tinha, resolveu chamá-la para um café.
— Então, se você não estiver ocupada, quer tomar um café?
pensou por um segundo. Quando saiu de casa, não se preocupou em se arrumar. Tinha calçado um chinelo e ainda vestia uma calça de moletom das mais folgadas possíveis. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo frouxo, mas pelo visto nada disso parecia estar incomodando o rapaz na sua frente. A verdade era que ela não tinha muito o que fazer, iria voltar para sua maratona de séries policiais. Talvez, tomar um café com não fosse má ideia.
— Claro! Eu só preciso passar em um banheiro antes.
— Tudo bem.
…
— Se você fosse um animal, qual seria? — não fazia ideia do porque tinha aceitado o convite. Mas, por algum motivo, ela se encontrava rindo das conversas mais idiotas que já tinha tido com alguém e tudo que ela precisava naquele dia, era alguém que a fizesse rir.
, por outro lado, estava curioso em entender a garota na sua frente. Ela levantava questões que ele nunca tinha parado para pensar antes. Ele estava se divertindo como nunca tinha se divertido em nenhum encontro. E aquilo nem sequer poderia ser chamado de encontro! Ele olhou para a morena na sua frente, tentando entender o que ela queria dizer com sua pergunta, uma coisa que parecia ter virado rotina naquela tarde.
— Um animal? Por quê?
— Não sei. Me pareceu uma boa forma se puxar assunto — ela sorriu, um sorriso cheio de malícia que nem mesmo sabia porque estava usando. Não era do feitio dela aceitar sair para cafés com caras aleatórios que conhecia na rua, mas tinha alguma coisa em que lhe chamava atenção e a fazia querer ficar.
— Hm, deixa eu pensar… Leão, talvez. Toda essa história de Rei da Floresta e tals.
— Interessante, mas não acho que você tenha perfil para ser um leão.
— Ah é? O que eu seria então?
— Um Husky Siberiano — falou colocando o canudo do seu café gelado na boca.
— Um husky? É sério isso? Nem me conhece e já tá chamando de cachorro.
Isso fez com que ela desse uma gargalhada sem nem se importar se estava chamando atenção para si mesma.
— Se a carapulça serviu — deu de ombros.
revirou os olhos.
— Eu nunca entendi isso.
— O que?
— Porque mulheres podem fazer esse tipo de piada e está tudo bem. Não que eu não ache que não seja verdade. Eu vejo no vestiário caras que agem como completos animais, completamente possessivos e irresponsáveis, principalmente quando se trata das namoradas deles, mas nunca entendi porque isso virou piada. Não acho que é algo a ser tratado com graça sabe?
ficou um pouco assustada com a mudança de assunto. Ela jamais iria imaginar que estivesse de frente para um cara que entendesse o quão sério poderia ser este tipo de coisa. Ela nunca foi de levantar a bandeira feminista, mesmo se considerando uma, mas para ela, tinha coisas que eram apenas noções básicas.
— Queria poder lhe dar uma resposta, mas a verdade é que não tenho ideia. Talvez a piada seja uma forma de levar um assunto pesado como algo mais tranquilo? Não sei. Mas você tem razão, não deveríamos tratar como brincadeira — observou enquanto olhava pelo vidro da cafeteria, ele mexeu no cabelo loiro e parecia estar pensando em algo que era impossível decifrar. — Mas esses seus colegas, você tenta alertar que estão errados?
— Gosh, não! Bem que eu queria viu? Sei que nada muda se a gente não começar a mudar o meio que a gente vive, mas esses caras são figurões no time. Gente que mesmo que não fosse tão importante, também não escutaria um jogador novato. Estou apenas na minha segunda temporada, posso ter os melhores números nos Stars, mas ainda sou ninguém lá dentro.
tinha ficado mesmo incomodado com uma conversa de dois de seus colegas de time. Um deles tinha uma namorada de anos, mas aparentemente continuava tratando ela como se ainda fosse apenas um caso de verão. Já o outro era o pior de todos, segundo . Para ele, este colega era tudo que ele abominava em alguém: tinha uma namorada, mas ficava com outras na frente dela, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
não sabia se ele era europeu demais para essas novas formas de relacionamento. Ou talvez ele apenas tivesse nascido velho, porque com 22 anos nada disso fazia sentido para ele. Mas estava certa, como ele esperava que as pessoas mudassem se ele não começasse a chamar atenção quando visse certas atitudes dos colegas? Ele precisava para de se isolar tanto com Miro e talvez melhorar o inglês.
E foi só pensar no amigo, que uma mensagem do mesmo chegou no seu telefone.
“Você está lembrando que tem jogo hoje né?”
— Shit! — tinha esquecido completamente da hora.
— O que foi? — perguntou, sua linguagem corporal mostrava que a garota tinha ficado ansiosa a respeito da mensagem que recebera. Ela sabia que não era da conta dela, que ela tinha acabado de conhecer o rapaz, mas não pode deixar de ficar um pouco chateada. Ele tinha dito que a colega de apartamento não era sua namorada, mas isso significa que ele estava solteiro?
E porque, por cargas d’águas, estava pensando sobre o status civil do garoto na sua frente. Tudo bem que era bonito, mas aquilo era apenas um café com duas pessoas que tinham se entendido. Tinham se entendido até bem demais para ela. Mas ainda assim, ela sabia muito pouco sobre o rapaz na sua frente.
— Eu esqueci totalmente da hora. Me desculpa , eu preciso ir. Tenho jogo agora à noite.
Ele estava mesmo indo embora para assistir algum jogo? não estava conseguindo acreditar naquilo. Trocada por um esporte, quem diria. Era bem típico de garotos mesmo.
— Okay — ela respondeu seca, mais uma vez tomando um gole do seu café que agora estava apenas o gelo e açúcar no fundo do copo.
document.write(Roope) olhou para ela por um segundo. Talvez ainda desse tempo.
— Você tem algum compromisso agora à noite?
— Não.
— Você deveria vir. Eu tenho certeza que ainda consigo um ingresso. A gente sempre ganha ingressos para jogos em casa, mas raramente tenho quem levar. Miro tem a namorada dele que às vezes vem visitar, mas eu nunca levo ninguém. Deixa eu ver.
mandou mensagem para o setor responsável que logo confirmou que poderia retirar o ingresso na bilheteria. Ela, por sua vez, ainda estava estática tentando entender o que estava acontecendo.
— Você está me convidando para ir com você em um jogo? Aliás, jogo de que? — ela estava completamente perdida. Quem era aquele cara, afinal?
— Bem, não comigo porque eu preciso estar lá em outro horário, entrar por outra porta e tals. E eu vou estar no gelo e você na arquibancada, mas é.
— Gelo? — nada estava fazendo sentido na cabeça da garota.
— É — só então que caiu a ficha de . não fazia ideia de quem ele era. Estava tão acostumado das pessoas o reconhecerem que ele nem se preocupara de se explicar. — Eu jogo hockey. No Dallas Stars. Hoje tem jogo e eu estou te convidando para me assistir jogar.
ficou boquiaberta, sem saber o que dizer. Ela não fazia ideia de quem era, mas jogador de hockey famoso e milionário não seria nenhuma dessas opções. Agora toda a conversar sobre vestiários fazia sentido.
— Espera que?
— É — começou a ficar sem graça. Ele não era egocêntrico a ponto de achar que todo mundo sabia quem ele era, mas a falta de expressão de o estava deixando incomodado. Era tão importante assim?
— Desculpa é que… Eu não sei o que dizer, . Mesmo — ela estava sendo sincera. Nunca foi ligada a esportes, tinha aceitado o café porque achou o rapaz bonito nada além. Mas agora parecia que ele estava chamando-a para um segundo encontro onde ele nem sequer estaria presente. Mas talvez sair de casa e assistir um bando de homens se baterem por causa de um pedaço de borracha fosse uma boa diversão para segunda à noite. se levantou e contornou a mesa indo até ele. — Quer saber? Eu animo. Não tenho mais nada para fazer mesmo.
sorriu, um sorriso que foi impossível não ser retribuído por . Pela primeira vez ele estaria levando alguém para assistir o seu jogo. Alguém que estaria torcendo por ele na arquibancada.
— Ótimo. Me passa seu numero que te envio as instruções para retirar o ingresso. Mas agora eu realmente tenho que ir, não estou a fim de ficar na área de imprensa quando eu sei que meu time precisa de mim.
Depois que foi embora, ficou um pouco mais na cafeteria, tentando absorver tudo o que tinha acontecido naquela tarde. Quando ela chegasse na Arena, iria fazer de tudo para entender esse universo que, por hora, era completamente desconhecido por ela.
não sabia explicar. Era absurdo se sentir assim, tinha acabado de conhecer mas, por algum motivo, ela sentia que ele estaria presente na sua vida mais frequente do que ela gostaria. Por algum motivo, ela sabia que o frio da arena de hockey seria sua nova casa. Ela iria se habituar às ausências e também ao quão curiosos jogadores de hockey poderiam ser.
…
3 meses depois
— Você está mesmo pretendendo passar o dia de folga deitado no escuro? — Miro apareceu na porta do quarto de verdadeiramente preocupado com o amigo.
Já tinha três dias que tinha terminado o namoro com . Miro não tinha entendido muito bem, porque desde o início a garota sabia quem era. Sabia de todas as consequências de namorar um jogador de hockey. Não era fácil. Ele mesmo sabia disso, sua namorada estava na Finlândia e se eles se vissem três meses por ano era muito. Mas ambos sabiam que todo o esforço valeria a pena, cada um estava correndo atrás do seus próprios sonhos.
sempre soube disso. Ela sempre soube de como nem sempre estaria na cidade quando ela precisasse, que às vezes uma ligação no facetime seria o máximo contato que eles conseguiriam ter em uma semana. Sabia que mesmo que ele estivesse em Dallas, que nem sempre seus horários iriam coincidir. E, além de tudo isso, ela sabia que todos os dias apareciam as puck bunnies na frente do vestiário. Que todo evento do time, desviava dessas garotas, mesmo antes de conhecer ele já fazia isso. Não era do feitio dele se deixar ir pelas conversas que no fundo nenhuma delas estava interessada nele.
E, depois que entrou em sua vida, nem sequer olhara para essas meninas. Ele tinha feito tudo certo. Tudo que estava ao alcance dele para ter ao seu lado. Mas, por algum motivo que ele desconhecia, ela resolveu terminar tudo. Ele tinha acabado de chegar em casa depois de uma road trip pelo Canadá, estava exausto e só queria dormir. Mas assim que chegou no seu prédio, encontrou com os olhos cheios de lágrimas sentada na calçada.
— Hey babe, o que houve? — ele sentou ao lado dela depois que Miro entrou no prédio. Passou seu braço ao redor da namorada, tentando entender o que sua expressão corporal queria dizer. Mesmo a conhecendo há apenas três meses, já tinha aprendido que a melhor forma dela se comunicar, era pela sua expressão corporal.
não era de palavras. Ela adorava conversar, mas raramente admitia o que estava sentindo. havia aprendido a compreender suas expressões, seu comportamento. Sabia quando ela estava preocupada porque ela prendia e soltava o cabelo repetidamente. Sabia quando ela tava feliz porque ela sorria para qualquer coisa, até mesmo se um cachorro passasse na rua ao seu lado. Ele sabia quando ela estava preocupada ou angustiada sem que ela precisasse falar uma palavra. E, normalmente, ele deixava que ela fosse até ele. não gostava de ser pressionada sobre seus sentimentos, ela apenas soltava eles quando precisasse. havia aprendido também a ter paciência, característica que nunca foi parte dele antes, mas que para ela, ele teria toda a paciência do mundo.
— Eu… — não sabia como colocar em palavras. Nem ela sabia o por que estava fazendo isso. Ela o amava, mas seria isso o suficiente? — , eu quero terminar.
viu quando os olhos azuis dele se arregalaram. Ela esperava que ele reagisse de alguma forma, tentasse discutir. apenas a soltou de seu abraço, desviando o olhar para o meio da rua. Se era o que ela queria, não tinha nada que ele pudesse fazer.
— Tudo bem. Posso saber o que aconteceu de errado? — quando ele voltou a olhar para ela, seus olhos estavam cheios d’água. Ele não iria chorar, ao menos não ali, mas conseguia enxergar toda a emoção que estava no seu rosto. Ele estava machucado, mas não iria questionar. Era este o quanto ele a respeitava.
— Eu não sei — ela sussurrou. realmente não sabia porque estava terminando. Ela só sabia que precisava se afastar. Ela nunca tinha tido um namorado antes. Por algum motivo, tudo isso a estava deixando insegura. Lidar com alguém como não seria fácil. Ela tinha visto como jogadores de hockey namoravam modelos, mulheres com corpos perfeitos, cabelos loiros e extremamente simpáticas. Ou pelo menos deveriam agir assim.
Ela não era nada disso. era apenas uma universitária, tinha zero vontade de tingir o cabelo escuro e seu corpo era o completo oposto do daquelas mulheres. Ela não pertencia àquele mundo. Ela não pertencia ao mundo de .
Antes que ela tivesse outra crise de choro, se levantou e foi andando em direção ao seu prédio. Ela não morava longe, talvez esse teria sido todo o problema. Se ela não tivesse saído correndo para a farmácia naquele dia, não estaria sentindo todo o vazio que sentia no peito agora. Um vazio que ela sabia que jamais seria preenchido.
ficou sentado na calçada observando a garota ir embora. As lágrimas desciam pela sua bochecha sem que ele pudesse impedir. Nada disso fazia sentido. Eles tinham conversado antes dele embarcar no Canadá, estava tudo bem.
A rotina do rapaz passou a ser treinos, jogos, quarto. Ele comia apenas porque precisava. Porque sabia que precisava dar o seu melhor no gelo. Mas ele estava agressivo, fazia shoots com força e precisão. Seus colegas de time haviam elogiado. Eles tinham jogo em casa em poucos dias, aqueles shots poderiam fazer a diferença. Mas de longe, Miro observava o amigo.
Ele era a único que sabia o motivo de estar agindo daquela forma. Era o único que sabia que o jogador chegava em casa e se escondia no quarto, sem reagir a nada. Miro já tinha tentando convidar o amigo para jogar vídeo game, para sair para beber, mesmo que legalmente Miro ainda não pudesse fazer isso nos Estados Unidos. Já tinha oferecido diversos programas, mas nada animava .
Por isso que, naquele dia que abriu a porta do quarto, Miro resolveu que iria dar um basta nisso.
— Você está mesmo pretendendo passar o dia de folga deitado no escuro?
Grunhidos foram a única resposta.
Miro acendeu a luz do quarto, que gerou algumas reclamações do jogador. Como se ele se importasse.
— Você está indo agora para debaixo do chuveiro e depois vai comer do jantar que Peppi fez.
— Não... Me deixa, Miro!
— Não. Chega disso, Rope! Você vai ficar sofrendo até quando? Ficar deitado nessa cama não vai trazer de volta — Miro cruzou os braços, pose que deixava o finlandês bem maior do que ele de fato era.
— Nada vai trazer ela de volta.
— Como você pode ter tanta certeza se nem tentou? Você simplesmente aceitou o término e ficou por isso mesmo. Não é como se tivesse acontecido algo, uma briga ou coisa do tipo.
— Miro, eu não vou atrás dela.
— Por quê? Vai deixar o orgulho tomar conta?
— Não. Porque foi uma escolha que ela fez e não vou me impor a ela. Se ela não estava feliz comigo, o que eu posso fazer?
— E sobre o que você quer?
ficou parado olhando para o teto. Se ele falasse em voz alta o que ele queria, sabia que não teria como voltar atrás. Ele teria que tomar a atitude que deveria ter tomado na noite em que ela apareceu no seu prédio.
— Eu quero ela.
…
estava tentando estudar para a sua prova de literatura. Tentando era a palavra chave da frase porque sua mente estava o tempo inteiro fugindo para . O quanto o olhar do rapaz tinha cortado o coração dela, mais do que suas próprias palavras. Ela nunca achou que fosse sentir tanta dor por terminar um namoro.
Mas agora isso era passado. Ela tinha vivido a sua própria fanfic, mas agora precisava seguir em frente. Focar na prova. Um dia depois do outro.
Seu telefone começou a vibrar em cima da mesa e ela quase desligou a chamada quando viu quem estava telefonando. Nos três dias que seguiram ao término, esperava em algum momento ter notícias de . Mas a única coisa que tinha visto é que ele tinha se metido em uma briga contra um jogador do Avalanche na noite anterior, coisa que nunca tinha feito antes.
Por outro lado, ele também tinha marcado um gol e dado mais duas assistências. estava voando no gelo mais do que o normal. Isso só fez com que pensasse que tinha feito a escolha certa. Ela não cabia na vida dele. Ele não precisava dela.
Mas então por que ele estava ligando? Ela ficou olhando para o celular, sem saber se atendia ou não. Quando a ligação caiu na caixa postal, ela apertou para ouvir. Era mais fácil escutar o recado do que ter que responder.
Porém não estava preparada para o que ia ouvir.
“Babe, eu ainda não entendi o porque você quer terminar. Tem três dias que eu não consigo pensar em outra coisa, apenas vivendo no automático. Mas então eu resolvi que não quero mais ficar nesse limbo. Eu estou indo até sua casa e, se você puder me responder, eu ficaria muito aliviado. Eu só quero entender. De verdade.”
sabia que se deixasse ele entrar naquele apartamento, ela não iria se segurar. Ao mesmo tempo que sentia dentro de si mesma que não poderia deixar isso em aberto. Será um encerramento. Era isso que ela precisava.
Ela escutou a campainha tocando e apenas soltou o cabelo do coque bagunçado que sempre usava para estudar. O curioso é que ela estava com a mesma calça de moletom do dia que eles haviam se conhecido.
Quando girou a maçaneta, tremia. A ansiedade de ver continuava a mesma. As mesmas borboletas no estômago, a mesma necessidade de beijá-lo como se não houvesse dia seguinte. O mesmo sentimento que, por mais que ela tivesse tentando, não tinha conseguido mandar embora. Sentimento esse que ela sabia, poderiam passar anos, mas ela ainda seria totalmente de , mas ela precisava lembrar o porque tinha terminado. O quanto todo esse sentimento não importava.
— Oi — ele disse parado na porta. O cabelo loiro úmido da chuva, os olhos azuis brilhantes como sempre, mas percebeu que estava com olheiras. Ele aparentava apenas um caco do garoto que ela tinha visto três dias atrás.
— Oi — ela respondeu, deixando ele entrar no apartamento ainda sem ter certeza de que era a escolha correta.
olhou em volta. Tinha estado ali várias vezes naqueles três meses, mas de alguma forma, algo parecia diferente. O sofá estava no mesmo lugar, o computador e as folhas de estudo espalhados pela mesa de centro. nunca conseguiu entender como gostava de estudar naquela posição. Ele jamais conseguiria fazer seu 1,91m de altura caber no pequeno espaço entre a mesa e o sofá. Quando ele esteve ali em vésperas de prova de , ele tinha ficado jogado no sofá enquanto ela estudava. Ele jamais se importou de observá-la. Estar com a namorada era o suficiente para ele, e era exatamente por isso que ele tinha ido até ali. Ele precisava parar de se esconder e falar tudo que sentia pela garota.
Ele foi até o sofá e o acompanhou. Ela se sentou em cima do braço do sofá. Ela parecia minúscula ao lado dele, e essa era uma das coisas que ela sempre amou nele. Como poderia abraçá-la e a proteger de tudo de ruim. Só que ele não poderia protegê-la de si mesma.
— , eu não sei por onde começar — ele olhou para o chão. Odiava olhar as pessoas nos olhos, mas sabia que para que ela entendesse o quão era importante para ele, ele precisava ser corajoso. — Desde que você entrou na minha vida, eu ando me sentindo mais seguro. Eu nunca achei que fosse do tipo que iria querer uma namorada, sempre achei a rotina de um jogador na NHL muito confusa para dividir com relacionamentos e sempre admirei meus amigos que conseguem. Mas isso mudou no dia em que te conheci. Por algum motivo que não sei explicar, desde aquele dia, eu sabia que queria ter você na minha vida. Mesmo quando eu tenho dúvidas, quando eu acho que estou fazendo tudo errado, eu sei que é você quem eu quero comigo. A princípio, achei que isso fosse me tirar o foco do hockey, mas isso jamais aconteceu. Saber que você estava me assistindo na arena, me deu uma força que não achei que um dia fosse ter. Eu respeito a sua decisão, se você ainda quiser ficar separado, eu vou entender. Mas eu quero lutar por você. Quero conseguir entender porque você quis terminar e o que preciso fazer diferente, porque sem você, eu fico perdido. Você é quem me faz acordar todos os dias e saber que tenho um objetivo. Tenho um motivo para estar ali. Vencer jogos não faz o menor sentido se eu não tiver você eu meu lado.
estava novamente com os olhos cheios de lágrimas. Como conseguia ser tão perfeito mesmo depois ela ter destruído o coração dele? Destruído o coração deles, porque ela também tinha saído machucada disso.
— , eu não pertenço ao seu mundo. A sua rotina, as namoradas dos outros jogadores, tudo isso não faz parte da minha vida. Eu te amo, . Eu te amo como nunca achei que fosse amar alguém, mas não sei se isso é suficiente para você. Você é a pessoa que mais me trás paz, mas ao mesmo tempo, é o que me trás mais conflitos internos. É quem me faz questionar tudo que eu sempre acreditei, mas ao mesmo tempo, é quem eu sei que vai me trazer segurança. Ao seu lado, eu sei que não preciso de mais nada. Mas não sei se isso é o suficiente. Não sei se eu sou suficiente para você. Com todas as minhas imperfeições, com todas as minhas faltas de ambições. Caramba, você lutou desde criança para estar onde está hoje. Eu estou terminando uma faculdade que não tenho ideia do que vai me trazer no futuro. Eu não sei se posso deixar você passar por isso. Por toda essa bagunça que eu sou.
— Você é minha vida, — ele foi até ela, segurou uma de suas mãos e com a outra, limpou uma lágrima que teimava em escorrer do rosto da garota. — Você é meu mundo. Sem você nele, nada disso faz sentido. Para mim, você é perfeita. E eu sei que você vai ser bem sucedida em qualquer coisa que você queria fazer da vida. E eu espero estar ao seu lado para presenciar quando você chegar lá. Porque eu sei que você vai. Eu te amo, .
se permitiu se aproximar. Ela não sabia se estava fazendo a escolha certa em permitir que ficasse na sua vida, mas ela estava cansada de lutar contra esse sentimento. Ela estava cansada de se auto sabotar todos os dias. Talvez fosse hora dela permitir que ele de fato cuidasse dela.
a puxou para o seu colo, juntando seus lábios em um beijo que não era o primeiro, mas parecia ser. Aquela foi a primeira vez que e foram sinceros sobre o que sentiam. A primeira vez que eles admitiram que não eram nada sem o outro e que aquele era apenas o início de uma história que seria construída com muita paciência, algumas brigas, outras reconciliações, distâncias e abraços, tristezas e felicidades. Porque no final, um não era nada sem o outro.
— Com licença — ela pediu educadamente tentando manter uma voz calma e não deixar transparecer a TPM que estava sofrendo.
Ele olhou pra ela sem entender muito bem. Estava tão focado escolhendo uma camisinha que nem prestou atenção na menina do seu lado.
— Qual você quer? — ele perguntou apontando para as embalagens multicoloridas na sua frente. Estranhou um pouco uma garota comprando camisinha, mas não iria questionar.
— Na verdade o que preciso está na prateleira debaixo.
— Oh... — ele então viu o que ela estava procurando e deu espaço para a garota escolher o seu pacote de absorvente.
Quando olhou para o rapaz, ele estava vermelho.
— Está tudo bem? — ela perguntou, tentando não rir do quando ele estava envergonhado.
não ligava para esse tipo de coisa. Já tinha comprado absorventes (e camisinhas) o suficiente na sua vida para isso não ser mais um problema.
— Tá sim. É que… desculpa, eu só deveria ter te dado espaço.
— Tudo bem — sorriu envergonhada. — Acontece.
Ela estava quase dando as costas quando ele a chamou.
— Ei, você pode me ajudar?
olhou estranha para ele, porém curiosa.
— Diga.
— Minha roomate pediu para eu comprar um desodorante pra ela, mas não me disse qual e eu não faço ideia de qual que presta — o rapaz levou a mão nos cabelos loiros, claramente sem graça daquela situação.
olhou para a prateleira de cima, pegou o modelo que ela gostava de usar e entregou para ele.
— Eu gosto desse. Espero que sua namorada goste também — ela respondeu com um sorriso sem graça, os olhos castanhos examinando as expressões dele.
— Oh, ela não é minha namorada não! É irmã de um amigo finlandês, veio estudar aqui em Dallas e como eu tinha um quarto sobrando, resolveu ficar comigo e mais um amigo. A gente quase nunca está na cidade mesmo, é um bom negócio.
tinha achado o rapaz bonitinho, mas depois de saber que ele tinha ido até a farmácia para ajudar a colega de apartamento, não teve como não sorrir. Os olhos do garoto brilhavam na luz da farmácia, o estilo dele também tinha chamado atenção da morena. As botas de couro, a calça rasgada e uma camiseta que parecia que ele não se importava com sua aparência.
— Sou — ela estendeu a mão, assustada com a própria iniciativa.
— — ele aceitou o cumprimento e juntos, foram andando em direção ao caixa.
— Belo nome, .
— Na verdade é . Finlandês.
— Oh — ficou sem saber o que dizer. Era claro que aquele rapaz não seria americano. Ela ficou o analisando enquanto este pagava sua compra. Ele tinha um sotaque, como ela não tinha reparado antes? Porém seu sorriso doce a fizera se distrair. Justo ela, estudante de linguística e viciada em sotaques estrangeiros.
esperou que pagasse seu absorvente. Mesmo morando com uma menina, ele tinha ficado envergonhado. Era uma coisa natural, ele sabia disso, ele mesmo já tinha comprado absorvente para Peppi algumas vezes, mas ele tinha ficado envergonhado. era bonita, talvez tivesse sido este o problema, não a questão do absorvente.
poderia ser jogador de hockey profissional, jogar na NHL e ser a sensação do Dallas Stars pela segunda temporada seguida. Mas quando se tratava de socializar com o sexo oposto, ele era um belo de um fracasso.
Ele observou enquanto vinha em sua direção e, reunindo toda a coragem, que não fazia ideia que tinha, resolveu chamá-la para um café.
— Então, se você não estiver ocupada, quer tomar um café?
pensou por um segundo. Quando saiu de casa, não se preocupou em se arrumar. Tinha calçado um chinelo e ainda vestia uma calça de moletom das mais folgadas possíveis. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo frouxo, mas pelo visto nada disso parecia estar incomodando o rapaz na sua frente. A verdade era que ela não tinha muito o que fazer, iria voltar para sua maratona de séries policiais. Talvez, tomar um café com não fosse má ideia.
— Claro! Eu só preciso passar em um banheiro antes.
— Tudo bem.
— Se você fosse um animal, qual seria? — não fazia ideia do porque tinha aceitado o convite. Mas, por algum motivo, ela se encontrava rindo das conversas mais idiotas que já tinha tido com alguém e tudo que ela precisava naquele dia, era alguém que a fizesse rir.
, por outro lado, estava curioso em entender a garota na sua frente. Ela levantava questões que ele nunca tinha parado para pensar antes. Ele estava se divertindo como nunca tinha se divertido em nenhum encontro. E aquilo nem sequer poderia ser chamado de encontro! Ele olhou para a morena na sua frente, tentando entender o que ela queria dizer com sua pergunta, uma coisa que parecia ter virado rotina naquela tarde.
— Um animal? Por quê?
— Não sei. Me pareceu uma boa forma se puxar assunto — ela sorriu, um sorriso cheio de malícia que nem mesmo sabia porque estava usando. Não era do feitio dela aceitar sair para cafés com caras aleatórios que conhecia na rua, mas tinha alguma coisa em que lhe chamava atenção e a fazia querer ficar.
— Hm, deixa eu pensar… Leão, talvez. Toda essa história de Rei da Floresta e tals.
— Interessante, mas não acho que você tenha perfil para ser um leão.
— Ah é? O que eu seria então?
— Um Husky Siberiano — falou colocando o canudo do seu café gelado na boca.
— Um husky? É sério isso? Nem me conhece e já tá chamando de cachorro.
Isso fez com que ela desse uma gargalhada sem nem se importar se estava chamando atenção para si mesma.
— Se a carapulça serviu — deu de ombros.
revirou os olhos.
— Eu nunca entendi isso.
— O que?
— Porque mulheres podem fazer esse tipo de piada e está tudo bem. Não que eu não ache que não seja verdade. Eu vejo no vestiário caras que agem como completos animais, completamente possessivos e irresponsáveis, principalmente quando se trata das namoradas deles, mas nunca entendi porque isso virou piada. Não acho que é algo a ser tratado com graça sabe?
ficou um pouco assustada com a mudança de assunto. Ela jamais iria imaginar que estivesse de frente para um cara que entendesse o quão sério poderia ser este tipo de coisa. Ela nunca foi de levantar a bandeira feminista, mesmo se considerando uma, mas para ela, tinha coisas que eram apenas noções básicas.
— Queria poder lhe dar uma resposta, mas a verdade é que não tenho ideia. Talvez a piada seja uma forma de levar um assunto pesado como algo mais tranquilo? Não sei. Mas você tem razão, não deveríamos tratar como brincadeira — observou enquanto olhava pelo vidro da cafeteria, ele mexeu no cabelo loiro e parecia estar pensando em algo que era impossível decifrar. — Mas esses seus colegas, você tenta alertar que estão errados?
— Gosh, não! Bem que eu queria viu? Sei que nada muda se a gente não começar a mudar o meio que a gente vive, mas esses caras são figurões no time. Gente que mesmo que não fosse tão importante, também não escutaria um jogador novato. Estou apenas na minha segunda temporada, posso ter os melhores números nos Stars, mas ainda sou ninguém lá dentro.
tinha ficado mesmo incomodado com uma conversa de dois de seus colegas de time. Um deles tinha uma namorada de anos, mas aparentemente continuava tratando ela como se ainda fosse apenas um caso de verão. Já o outro era o pior de todos, segundo . Para ele, este colega era tudo que ele abominava em alguém: tinha uma namorada, mas ficava com outras na frente dela, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
não sabia se ele era europeu demais para essas novas formas de relacionamento. Ou talvez ele apenas tivesse nascido velho, porque com 22 anos nada disso fazia sentido para ele. Mas estava certa, como ele esperava que as pessoas mudassem se ele não começasse a chamar atenção quando visse certas atitudes dos colegas? Ele precisava para de se isolar tanto com Miro e talvez melhorar o inglês.
E foi só pensar no amigo, que uma mensagem do mesmo chegou no seu telefone.
“Você está lembrando que tem jogo hoje né?”
— Shit! — tinha esquecido completamente da hora.
— O que foi? — perguntou, sua linguagem corporal mostrava que a garota tinha ficado ansiosa a respeito da mensagem que recebera. Ela sabia que não era da conta dela, que ela tinha acabado de conhecer o rapaz, mas não pode deixar de ficar um pouco chateada. Ele tinha dito que a colega de apartamento não era sua namorada, mas isso significa que ele estava solteiro?
E porque, por cargas d’águas, estava pensando sobre o status civil do garoto na sua frente. Tudo bem que era bonito, mas aquilo era apenas um café com duas pessoas que tinham se entendido. Tinham se entendido até bem demais para ela. Mas ainda assim, ela sabia muito pouco sobre o rapaz na sua frente.
— Eu esqueci totalmente da hora. Me desculpa , eu preciso ir. Tenho jogo agora à noite.
Ele estava mesmo indo embora para assistir algum jogo? não estava conseguindo acreditar naquilo. Trocada por um esporte, quem diria. Era bem típico de garotos mesmo.
— Okay — ela respondeu seca, mais uma vez tomando um gole do seu café que agora estava apenas o gelo e açúcar no fundo do copo.
— Você tem algum compromisso agora à noite?
— Não.
— Você deveria vir. Eu tenho certeza que ainda consigo um ingresso. A gente sempre ganha ingressos para jogos em casa, mas raramente tenho quem levar. Miro tem a namorada dele que às vezes vem visitar, mas eu nunca levo ninguém. Deixa eu ver.
mandou mensagem para o setor responsável que logo confirmou que poderia retirar o ingresso na bilheteria. Ela, por sua vez, ainda estava estática tentando entender o que estava acontecendo.
— Você está me convidando para ir com você em um jogo? Aliás, jogo de que? — ela estava completamente perdida. Quem era aquele cara, afinal?
— Bem, não comigo porque eu preciso estar lá em outro horário, entrar por outra porta e tals. E eu vou estar no gelo e você na arquibancada, mas é.
— Gelo? — nada estava fazendo sentido na cabeça da garota.
— É — só então que caiu a ficha de . não fazia ideia de quem ele era. Estava tão acostumado das pessoas o reconhecerem que ele nem se preocupara de se explicar. — Eu jogo hockey. No Dallas Stars. Hoje tem jogo e eu estou te convidando para me assistir jogar.
ficou boquiaberta, sem saber o que dizer. Ela não fazia ideia de quem era, mas jogador de hockey famoso e milionário não seria nenhuma dessas opções. Agora toda a conversar sobre vestiários fazia sentido.
— Espera que?
— É — começou a ficar sem graça. Ele não era egocêntrico a ponto de achar que todo mundo sabia quem ele era, mas a falta de expressão de o estava deixando incomodado. Era tão importante assim?
— Desculpa é que… Eu não sei o que dizer, . Mesmo — ela estava sendo sincera. Nunca foi ligada a esportes, tinha aceitado o café porque achou o rapaz bonito nada além. Mas agora parecia que ele estava chamando-a para um segundo encontro onde ele nem sequer estaria presente. Mas talvez sair de casa e assistir um bando de homens se baterem por causa de um pedaço de borracha fosse uma boa diversão para segunda à noite. se levantou e contornou a mesa indo até ele. — Quer saber? Eu animo. Não tenho mais nada para fazer mesmo.
sorriu, um sorriso que foi impossível não ser retribuído por . Pela primeira vez ele estaria levando alguém para assistir o seu jogo. Alguém que estaria torcendo por ele na arquibancada.
— Ótimo. Me passa seu numero que te envio as instruções para retirar o ingresso. Mas agora eu realmente tenho que ir, não estou a fim de ficar na área de imprensa quando eu sei que meu time precisa de mim.
Depois que foi embora, ficou um pouco mais na cafeteria, tentando absorver tudo o que tinha acontecido naquela tarde. Quando ela chegasse na Arena, iria fazer de tudo para entender esse universo que, por hora, era completamente desconhecido por ela.
não sabia explicar. Era absurdo se sentir assim, tinha acabado de conhecer mas, por algum motivo, ela sentia que ele estaria presente na sua vida mais frequente do que ela gostaria. Por algum motivo, ela sabia que o frio da arena de hockey seria sua nova casa. Ela iria se habituar às ausências e também ao quão curiosos jogadores de hockey poderiam ser.
3 meses depois
— Você está mesmo pretendendo passar o dia de folga deitado no escuro? — Miro apareceu na porta do quarto de verdadeiramente preocupado com o amigo.
Já tinha três dias que tinha terminado o namoro com . Miro não tinha entendido muito bem, porque desde o início a garota sabia quem era. Sabia de todas as consequências de namorar um jogador de hockey. Não era fácil. Ele mesmo sabia disso, sua namorada estava na Finlândia e se eles se vissem três meses por ano era muito. Mas ambos sabiam que todo o esforço valeria a pena, cada um estava correndo atrás do seus próprios sonhos.
sempre soube disso. Ela sempre soube de como nem sempre estaria na cidade quando ela precisasse, que às vezes uma ligação no facetime seria o máximo contato que eles conseguiriam ter em uma semana. Sabia que mesmo que ele estivesse em Dallas, que nem sempre seus horários iriam coincidir. E, além de tudo isso, ela sabia que todos os dias apareciam as puck bunnies na frente do vestiário. Que todo evento do time, desviava dessas garotas, mesmo antes de conhecer ele já fazia isso. Não era do feitio dele se deixar ir pelas conversas que no fundo nenhuma delas estava interessada nele.
E, depois que entrou em sua vida, nem sequer olhara para essas meninas. Ele tinha feito tudo certo. Tudo que estava ao alcance dele para ter ao seu lado. Mas, por algum motivo que ele desconhecia, ela resolveu terminar tudo. Ele tinha acabado de chegar em casa depois de uma road trip pelo Canadá, estava exausto e só queria dormir. Mas assim que chegou no seu prédio, encontrou com os olhos cheios de lágrimas sentada na calçada.
— Hey babe, o que houve? — ele sentou ao lado dela depois que Miro entrou no prédio. Passou seu braço ao redor da namorada, tentando entender o que sua expressão corporal queria dizer. Mesmo a conhecendo há apenas três meses, já tinha aprendido que a melhor forma dela se comunicar, era pela sua expressão corporal.
não era de palavras. Ela adorava conversar, mas raramente admitia o que estava sentindo. havia aprendido a compreender suas expressões, seu comportamento. Sabia quando ela estava preocupada porque ela prendia e soltava o cabelo repetidamente. Sabia quando ela tava feliz porque ela sorria para qualquer coisa, até mesmo se um cachorro passasse na rua ao seu lado. Ele sabia quando ela estava preocupada ou angustiada sem que ela precisasse falar uma palavra. E, normalmente, ele deixava que ela fosse até ele. não gostava de ser pressionada sobre seus sentimentos, ela apenas soltava eles quando precisasse. havia aprendido também a ter paciência, característica que nunca foi parte dele antes, mas que para ela, ele teria toda a paciência do mundo.
— Eu… — não sabia como colocar em palavras. Nem ela sabia o por que estava fazendo isso. Ela o amava, mas seria isso o suficiente? — , eu quero terminar.
viu quando os olhos azuis dele se arregalaram. Ela esperava que ele reagisse de alguma forma, tentasse discutir. apenas a soltou de seu abraço, desviando o olhar para o meio da rua. Se era o que ela queria, não tinha nada que ele pudesse fazer.
— Tudo bem. Posso saber o que aconteceu de errado? — quando ele voltou a olhar para ela, seus olhos estavam cheios d’água. Ele não iria chorar, ao menos não ali, mas conseguia enxergar toda a emoção que estava no seu rosto. Ele estava machucado, mas não iria questionar. Era este o quanto ele a respeitava.
— Eu não sei — ela sussurrou. realmente não sabia porque estava terminando. Ela só sabia que precisava se afastar. Ela nunca tinha tido um namorado antes. Por algum motivo, tudo isso a estava deixando insegura. Lidar com alguém como não seria fácil. Ela tinha visto como jogadores de hockey namoravam modelos, mulheres com corpos perfeitos, cabelos loiros e extremamente simpáticas. Ou pelo menos deveriam agir assim.
Ela não era nada disso. era apenas uma universitária, tinha zero vontade de tingir o cabelo escuro e seu corpo era o completo oposto do daquelas mulheres. Ela não pertencia àquele mundo. Ela não pertencia ao mundo de .
Antes que ela tivesse outra crise de choro, se levantou e foi andando em direção ao seu prédio. Ela não morava longe, talvez esse teria sido todo o problema. Se ela não tivesse saído correndo para a farmácia naquele dia, não estaria sentindo todo o vazio que sentia no peito agora. Um vazio que ela sabia que jamais seria preenchido.
ficou sentado na calçada observando a garota ir embora. As lágrimas desciam pela sua bochecha sem que ele pudesse impedir. Nada disso fazia sentido. Eles tinham conversado antes dele embarcar no Canadá, estava tudo bem.
A rotina do rapaz passou a ser treinos, jogos, quarto. Ele comia apenas porque precisava. Porque sabia que precisava dar o seu melhor no gelo. Mas ele estava agressivo, fazia shoots com força e precisão. Seus colegas de time haviam elogiado. Eles tinham jogo em casa em poucos dias, aqueles shots poderiam fazer a diferença. Mas de longe, Miro observava o amigo.
Ele era a único que sabia o motivo de estar agindo daquela forma. Era o único que sabia que o jogador chegava em casa e se escondia no quarto, sem reagir a nada. Miro já tinha tentando convidar o amigo para jogar vídeo game, para sair para beber, mesmo que legalmente Miro ainda não pudesse fazer isso nos Estados Unidos. Já tinha oferecido diversos programas, mas nada animava .
Por isso que, naquele dia que abriu a porta do quarto, Miro resolveu que iria dar um basta nisso.
— Você está mesmo pretendendo passar o dia de folga deitado no escuro?
Grunhidos foram a única resposta.
Miro acendeu a luz do quarto, que gerou algumas reclamações do jogador. Como se ele se importasse.
— Você está indo agora para debaixo do chuveiro e depois vai comer do jantar que Peppi fez.
— Não... Me deixa, Miro!
— Não. Chega disso, Rope! Você vai ficar sofrendo até quando? Ficar deitado nessa cama não vai trazer de volta — Miro cruzou os braços, pose que deixava o finlandês bem maior do que ele de fato era.
— Nada vai trazer ela de volta.
— Como você pode ter tanta certeza se nem tentou? Você simplesmente aceitou o término e ficou por isso mesmo. Não é como se tivesse acontecido algo, uma briga ou coisa do tipo.
— Miro, eu não vou atrás dela.
— Por quê? Vai deixar o orgulho tomar conta?
— Não. Porque foi uma escolha que ela fez e não vou me impor a ela. Se ela não estava feliz comigo, o que eu posso fazer?
— E sobre o que você quer?
ficou parado olhando para o teto. Se ele falasse em voz alta o que ele queria, sabia que não teria como voltar atrás. Ele teria que tomar a atitude que deveria ter tomado na noite em que ela apareceu no seu prédio.
— Eu quero ela.
estava tentando estudar para a sua prova de literatura. Tentando era a palavra chave da frase porque sua mente estava o tempo inteiro fugindo para . O quanto o olhar do rapaz tinha cortado o coração dela, mais do que suas próprias palavras. Ela nunca achou que fosse sentir tanta dor por terminar um namoro.
Mas agora isso era passado. Ela tinha vivido a sua própria fanfic, mas agora precisava seguir em frente. Focar na prova. Um dia depois do outro.
Seu telefone começou a vibrar em cima da mesa e ela quase desligou a chamada quando viu quem estava telefonando. Nos três dias que seguiram ao término, esperava em algum momento ter notícias de . Mas a única coisa que tinha visto é que ele tinha se metido em uma briga contra um jogador do Avalanche na noite anterior, coisa que nunca tinha feito antes.
Por outro lado, ele também tinha marcado um gol e dado mais duas assistências. estava voando no gelo mais do que o normal. Isso só fez com que pensasse que tinha feito a escolha certa. Ela não cabia na vida dele. Ele não precisava dela.
Mas então por que ele estava ligando? Ela ficou olhando para o celular, sem saber se atendia ou não. Quando a ligação caiu na caixa postal, ela apertou para ouvir. Era mais fácil escutar o recado do que ter que responder.
Porém não estava preparada para o que ia ouvir.
“Babe, eu ainda não entendi o porque você quer terminar. Tem três dias que eu não consigo pensar em outra coisa, apenas vivendo no automático. Mas então eu resolvi que não quero mais ficar nesse limbo. Eu estou indo até sua casa e, se você puder me responder, eu ficaria muito aliviado. Eu só quero entender. De verdade.”
sabia que se deixasse ele entrar naquele apartamento, ela não iria se segurar. Ao mesmo tempo que sentia dentro de si mesma que não poderia deixar isso em aberto. Será um encerramento. Era isso que ela precisava.
Ela escutou a campainha tocando e apenas soltou o cabelo do coque bagunçado que sempre usava para estudar. O curioso é que ela estava com a mesma calça de moletom do dia que eles haviam se conhecido.
Quando girou a maçaneta, tremia. A ansiedade de ver continuava a mesma. As mesmas borboletas no estômago, a mesma necessidade de beijá-lo como se não houvesse dia seguinte. O mesmo sentimento que, por mais que ela tivesse tentando, não tinha conseguido mandar embora. Sentimento esse que ela sabia, poderiam passar anos, mas ela ainda seria totalmente de , mas ela precisava lembrar o porque tinha terminado. O quanto todo esse sentimento não importava.
— Oi — ele disse parado na porta. O cabelo loiro úmido da chuva, os olhos azuis brilhantes como sempre, mas percebeu que estava com olheiras. Ele aparentava apenas um caco do garoto que ela tinha visto três dias atrás.
— Oi — ela respondeu, deixando ele entrar no apartamento ainda sem ter certeza de que era a escolha correta.
olhou em volta. Tinha estado ali várias vezes naqueles três meses, mas de alguma forma, algo parecia diferente. O sofá estava no mesmo lugar, o computador e as folhas de estudo espalhados pela mesa de centro. nunca conseguiu entender como gostava de estudar naquela posição. Ele jamais conseguiria fazer seu 1,91m de altura caber no pequeno espaço entre a mesa e o sofá. Quando ele esteve ali em vésperas de prova de , ele tinha ficado jogado no sofá enquanto ela estudava. Ele jamais se importou de observá-la. Estar com a namorada era o suficiente para ele, e era exatamente por isso que ele tinha ido até ali. Ele precisava parar de se esconder e falar tudo que sentia pela garota.
Ele foi até o sofá e o acompanhou. Ela se sentou em cima do braço do sofá. Ela parecia minúscula ao lado dele, e essa era uma das coisas que ela sempre amou nele. Como poderia abraçá-la e a proteger de tudo de ruim. Só que ele não poderia protegê-la de si mesma.
— , eu não sei por onde começar — ele olhou para o chão. Odiava olhar as pessoas nos olhos, mas sabia que para que ela entendesse o quão era importante para ele, ele precisava ser corajoso. — Desde que você entrou na minha vida, eu ando me sentindo mais seguro. Eu nunca achei que fosse do tipo que iria querer uma namorada, sempre achei a rotina de um jogador na NHL muito confusa para dividir com relacionamentos e sempre admirei meus amigos que conseguem. Mas isso mudou no dia em que te conheci. Por algum motivo que não sei explicar, desde aquele dia, eu sabia que queria ter você na minha vida. Mesmo quando eu tenho dúvidas, quando eu acho que estou fazendo tudo errado, eu sei que é você quem eu quero comigo. A princípio, achei que isso fosse me tirar o foco do hockey, mas isso jamais aconteceu. Saber que você estava me assistindo na arena, me deu uma força que não achei que um dia fosse ter. Eu respeito a sua decisão, se você ainda quiser ficar separado, eu vou entender. Mas eu quero lutar por você. Quero conseguir entender porque você quis terminar e o que preciso fazer diferente, porque sem você, eu fico perdido. Você é quem me faz acordar todos os dias e saber que tenho um objetivo. Tenho um motivo para estar ali. Vencer jogos não faz o menor sentido se eu não tiver você eu meu lado.
estava novamente com os olhos cheios de lágrimas. Como conseguia ser tão perfeito mesmo depois ela ter destruído o coração dele? Destruído o coração deles, porque ela também tinha saído machucada disso.
— , eu não pertenço ao seu mundo. A sua rotina, as namoradas dos outros jogadores, tudo isso não faz parte da minha vida. Eu te amo, . Eu te amo como nunca achei que fosse amar alguém, mas não sei se isso é suficiente para você. Você é a pessoa que mais me trás paz, mas ao mesmo tempo, é o que me trás mais conflitos internos. É quem me faz questionar tudo que eu sempre acreditei, mas ao mesmo tempo, é quem eu sei que vai me trazer segurança. Ao seu lado, eu sei que não preciso de mais nada. Mas não sei se isso é o suficiente. Não sei se eu sou suficiente para você. Com todas as minhas imperfeições, com todas as minhas faltas de ambições. Caramba, você lutou desde criança para estar onde está hoje. Eu estou terminando uma faculdade que não tenho ideia do que vai me trazer no futuro. Eu não sei se posso deixar você passar por isso. Por toda essa bagunça que eu sou.
— Você é minha vida, — ele foi até ela, segurou uma de suas mãos e com a outra, limpou uma lágrima que teimava em escorrer do rosto da garota. — Você é meu mundo. Sem você nele, nada disso faz sentido. Para mim, você é perfeita. E eu sei que você vai ser bem sucedida em qualquer coisa que você queria fazer da vida. E eu espero estar ao seu lado para presenciar quando você chegar lá. Porque eu sei que você vai. Eu te amo, .
se permitiu se aproximar. Ela não sabia se estava fazendo a escolha certa em permitir que ficasse na sua vida, mas ela estava cansada de lutar contra esse sentimento. Ela estava cansada de se auto sabotar todos os dias. Talvez fosse hora dela permitir que ele de fato cuidasse dela.
a puxou para o seu colo, juntando seus lábios em um beijo que não era o primeiro, mas parecia ser. Aquela foi a primeira vez que e foram sinceros sobre o que sentiam. A primeira vez que eles admitiram que não eram nada sem o outro e que aquele era apenas o início de uma história que seria construída com muita paciência, algumas brigas, outras reconciliações, distâncias e abraços, tristezas e felicidades. Porque no final, um não era nada sem o outro.