Capítulo Único
Enquanto eu segurava as sacolas do supermercado e tentava não deixar minha roupa de ginástica mostrar mais do que o necessário, vi as portas do único elevador no prédio começarem a se fechar, me fazendo correr bem mais depressa do que eu estava acostumada.
No que resultou? Além de não chegar a tempo, consegui cair no meio do térreo, com pessoas ao meu redor me olhando e rindo da minha situação: minha bunda para o alto, as frutas, legume, verduras e guloseimas espalhadas pelo chão, e meu telefone jogado do lado da escada.
Não, eu não iria subir de escada. Morava no sétimo andar, era cansativo para caramba, ainda mais com duas sacolas pesadas. Eu merecia subir de elevador ao menos uma vez, né?
– Você quer uma ajuda? – ouvi alguém indagar, e eu levantei o rosto, encarando o ser que estava de pé. Eu poderia saber quem era, se meus óculos de grau não estivessem a alguns metros de distância, provavelmente quebrados. Eu detestava ser tão desastrada.
– Quem é você? – indaguei, forçando a minha vista para poder olhá-lo, mas ele não passava de um borrão com cabelos castanhos.
– , vizinho da frente. – ele falou, e eu prendi a respiração.
Ok, ele era gato, pelo que eu me lembrava dele, mesmo que eu não pudesse ver muito de seu rosto no momento.
se mudou para o apartamento da frente dois meses depois de mim, mas nunca tivemos um contato mais próximo. Nos cumprimentávamos quando nos encontrávamos no elevador, no térreo ou no corredor, mas não passava disso.
– Toma! – ele exclamou, me entregando meus óculos, me fazendo sorrir agradecida e aliviada por saber que ele ainda permanecia inteiro.
– Obrigada. – falei, pegando as coisas que estavam espalhadas pelo chão.
De repente, todo aquele lugar ficou vazio, com exceção, é claro, de e o porteiro, que permanecia concentrado em alguma coisa atrás do balcão, não dando a mínima atenção para mim e para o meu tombo catastrófico.
pegou uma sacola, começando a colocar as coisas dentro e apertando o botão do elevador em seguida.
– Pode deixar. – falei, e ele negou, puxando a sacola para mais perto de seu corpo.
– Moramos no mesmo andar, eu posso te ajudar. – ele falou, apertando mais uma vez o botão do elevador.
A profissão de era óbvia: cantor. Arrastava uma multidão de garotas e fotógrafos para a porta do nosso prédio toda vez que saía algo sobre ele ou saía do prédio mesmo. Quantas vezes já fui parada por algumas garotas que só queriam mandar um bilhete ou presente para ele? Claro que eu não criticava, óbvio, faria o mesmo com meus artistas favoritos. Sempre tentava entregar a ele, mas era quase impossível com sua agenda de shows.
Entramos no elevador, e os segundos antecedentes à chegada ao nosso andar foram longos demais para mim. Eu estava transpirando mais do que qualquer outra coisa no mundo.
– Obrigada pela ajuda. – falei assim que parei na porta de meu apartamento. – Acho melhor você não entrar. Meu cachorro, Merlin, estranha pessoas que não sejam eu ou , minha melhor amiga.
Abri a porta e meu cachorro foi em minha direção, cheirando minhas pernas, antes de ir para cima de , cheirá-lo e levantar a barriga pedindo carinho.
Até aquele cachorro gostava dele, e nem o conhecia.
– Ele só me envergonha! – exclamei, arrancando uma risada de meu vizinho e mais novo queridinho do meu animal de estimação.
Entramos no apartamento e colocou a sacola na bancada, pegando Merlin no colo para acariciar seu pelo.
– Por que Merlin? – ele questionou, após longos minutos de silêncio, enquanto eu arrumava o que comprei nas gavetas, fruteira e geladeira.
– Eu gosto desse nome. – disse, dando de ombros. – É um nome legal para um cachorro.
– Normalmente as pessoas chamam de Bob, Rex, não de Merlin. – ele falou novamente, sorrindo de lado.
– Eu gosto de ser diferente. – disse, e ele gargalhou, assentindo com a cabeça.
– Eu preciso ir. – ele falou, colocando meu cãozinho no chão.
– Obrigada pela ajuda. – agradeci, e ele sorriu, concordando e acenando.
– Quer saber de uma coisa louca? Eu nem ao menos sei o seu nome. – ele disse, rindo fraco.
Como ele conseguia ser tão irresistível não fazendo o mínimo esforço para isso?
– , mas pode me chamar de . – respondi, e ele assentiu. – E o seu é ?
– Sim, de acordo com os jornais e revistas. – ele falou, me fazendo rir. – Nos vemos por aí, .
Caminhei com ele até a porta, vendo-o entrar em seu apartamento e me deixando sozinha, parada e encarando o pedaço de madeira escura do outro lado do corredor.
Bom, queria poder encontrá-lo mais vezes, mas era quase impossível, ainda mais com sua agenda de compromissos de pessoa famosa. Ele mal teria tempo para mim ou para lembrar ao menos o meu nome.
(...)
– Bom dia, . – ouvi meu vizinho falar assim que comecei a trancar a porta de meu apartamento.
Ele estava sem camisa, suado, com roupa de academia e cabelos bagunçados. Como ele conseguia ser tão lindo?
Passaram-se alguns dias, para ser mais exata semanas, desde o meu acidente no térreo do prédio onde morávamos. Desde aquele dia, não nos falávamos tanto quanto eu queria. Nos encontrávamos no corredor, elevador e, de vez em quando, ele pedia para ver Merlin, meu cãozinho, que merecia mais atenção do que eu, na verdade.
– Eu posso te fazer um convite? – ele indagou antes que o elevador aparecesse em nosso andar.
– Ah, sim. – concordei, sentindo meu coração disparar.
– Quer jantar comigo? Aqui no meu apartamento mesmo, ou, se quiser, no seu. – ele falou, gesticulando com as mãos, me fazendo rir fraco. – O quê?
– Você todo nervoso para fazer um convite. – disse, e ele sorriu de lado. – Eu aceito. Que horas?
– Às nove? – ele indagou, e as portas de metal do elevador se abriram.
– Ok. – respondi, e ele concordou, me fazendo entrar no cubículo.
O resto do meu dia no trabalho me fez perder totalmente o foco nos livros que eu teria que revisar, voltando-me para o que poderia acontecer naquela noite. Ou no que poderia não acontecer. Bom, eu queria que acontecesse.
Cheguei em casa pouco depois das sete, correndo para escolher uma roupa adequada para aquela ocasião.
Não, não era somente sair com , o cantor, e sim , o meu vizinho gato.
Tomei um banho demorado, tentando relaxar meu corpo para o jantar em pouco tempo. Coloquei uma roupa, passei perfume, ajeitei meu cabelo diversas vezes, mas nenhum penteado me agradava. O que poderia dar errado, justo agora? Não passei maquiagem, pegando meu celular e indo para fora do quarto.
Contei mentalmente até cem durante o caminho da sala até a porta do apartamento da frente, suspirando quando dei alguns toques na porta. Não tinha como fugir. Ok, talvez eu não quisesse fugir.
Ele abriu, e eu sorri enquanto ele me analisava. Sabia que minhas bochechas deveriam estar vermelhas que nem dois tomates.
– Você veio! – ele exclamou, segurando minha mão e me puxando para dentro de seu apartamento.
O mesmo tinha uma decoração minimalista, além de, é claro, terem prêmios e discos por todos os lados, além de fotos ao longo dos anos. Era quase como um museu, onde muitas de suas fãs adorariam ir para tirar fotos e ter recordações daquilo.
Enquanto eu analisava sua sala, ele colocou uma música para tocar no seu Home Theater, me entregando uma taça de vinho. Sorri agradecida, pegando a taça e dando um gole rápido na bebida.
– Eu esperei você chegar para podermos pedir comida. – ele falou, e eu me sentei no maior sofá. – Eu não sabia o que você gostava e não queria que você tivesse alguma reação alérgica ou passasse mal.
– Tudo bem. – disse, rindo em seguida. – Podemos pedir pizza?
– Essa é sua ideia de comida para um primeiro encontro? – ele indagou, me fazendo corar violentamente.
Ok, então era um encontro? Isso não estava programado.
– Ah, eu acho que é de gosto universal. – respondi, suspirando em seguida.
– Eu pensei em comida japonesa. – ele falou, e eu fiz uma careta.
– Eu detesto comida japonesa. – disse, fazendo o rapaz ao meu lado arregalar os olhos. – Se quiser, pede, mas eu não vou mudar minha opinião sobre essa comida.
– Tudo bem, eu também não sou o maior fã do mundo. – ele falou, me fazendo rir. – Pizza, então?
– Calabresa? – indaguei, e ele concordou, pegando o celular em seu bolso e discando algum número ao caminhar para longe.
Apreciei sua sala antes dele voltar para perto de mim, me servindo com mais um pouco daquele vinho delicioso e de sua agradável companhia.
– Quantas vezes alguma fã te parou para falar algo ou perguntar algo sobre mim? – perguntou, encostando sua mão na minha.
– Nossa, eu já perdi a conta! – exclamei, rindo em seguida. – E eu não crítico, sabe? Eu sei que, se fosse comigo, eu detestaria que alguém fizesse algo assim, me ignorar.
– Você gosta de algum cantor, banda ou ator? – ele indagou, olhando em meus olhos pela primeira vez.
– Sinceramente? Não. Nem ouvi suas músicas. – respondi, dando um longo gole no meu vinho. – Eu sou revisora, meu negócio são livros. Jane Austen, J. K. Rowling, George R. R. Martin.
– Eu devo ficar magoado pelo fato de você nunca ter escutado minhas músicas? – ele perguntou, fazendo beicinho e me fazendo rir.
Antes que eu pudesse dizer algo, batem na porta, quebrando nossa troca de olhares. Ele se levantou, caminhando em direção à porta.
Poucos minutos e uma conversa rápida com o entregador, voltou com a caixa de pizza em seus braços, e eu senti meu estômago implorar por algum pedaço. Aquilo era o paraíso.
Ele colocou na mesa de centro, indo até à cozinha pegar mais algum vinho delicioso. Ele logo o trouxe, abrindo a caixa e pegando um pedaço para si.
– Espero que goste. – ele falou, me fazendo rir e pegar um pedaço.
nos serviu do vinho, e, durante um pedaço e outro de pizza, eu só pensava em duas coisas:
1- Deus, como ele era lindo enquanto falava.
2- No dia seguinte eu teria que ir para um treino pesado na academia.
Conversa para cá, conversa para lá, a nossa pizza acabou, fazendo com que ficássemos com quase metade do vinho.
– Posso te falar algo? – ele indagou, embolando-se em suas próprias palavras, e eu sabia que não era a única que estava ficando alterada. – Eu te acho tão, mas tão bonita.
Não sabia se já estava corada com o vinho ou se era pela vergonha que habitou em meu ser.
– Obrigada. – disse e segurei sua mão. – Eu também te acho bonito.
Ele sorriu, mostrando seus dentes perfeitos e brilhantes. Ah, ele era muito provavelmente o Sr. Perfeitinho, aquele que tudo era lindo demais para ser verdade.
– Ah, você é lindo demais! – exclamei, arrancando uma risada fraca dele.
Foram longos segundos de troca de olhares até que eu tomei a iniciativa, beijando-o.
Meu Deus! Era tudo o que se passava na minha cabeça enquanto sua mão acariciava minha cintura por debaixo do vestido, aumentando ainda mais o calor que emanava de meu corpo.
Ele ficou por cima de mim, acariciando meus cabelos e apertando seus dedos em algumas outras partes de meu corpo, deixando a certeza de que ficariam as marcas. Mas, naquele momento, enquanto seus lábios desciam para meu pescoço e seus dedos procuravam pelo zíper do meu vestido, eu não pensava naquilo.
– Vamos com calma? – indaguei, sentindo minha respiração afetada enquanto ele descia seus lábios para a região entre um seio e outro. – Eu só preciso aproveitar esse momento. Não sei quando irá acontecer novamente.
Ele parou o que fazia, rindo e me fitando nos olhos por longos segundos.
– Se depender de mim, não será a última vez. – ele sussurrou, beijando meus lábios mais uma vez.
(...)
: Estou sentindo sua falta.
: De qual maneira? Como uma amiga ou da maneira sexual?
: Acho que da segunda opção. Você sabe, ninguém me deixa tão bem quanto você.
: Ok, senhor, mas você está na Itália, e eu estou aqui no meu apartamento. Muitos quilômetros de distância, não acha?
: Eu não vejo a hora de voltar para casa. Para você. Para a sua cama durante as nossas aventuras.
Aquela mensagem me fez rir.
Desde que eu e tínhamos entrado numa amizade colorida, era cada vez mais comum mensagens como aquela, o que me faziam dormir com ainda mais vontade de tê-lo perto de mim. Era impossível, já que ele estava viajando para divulgar seu trabalho e eu tinha que trabalhar.
Abri o aplicativo de mensagens e, dessa vez, vi a foto que ele mandou.
Não, ele não fez aquilo.
: Um presentinho de boa noite para você.
E lá tinha uma foto dele, usando apenas uma Calvin Klein preta, deixando todo o seu tronco à mostra.
Deus, estava tão calor assim e eu não percebi?
Minhas bochechas estavam quentes. Nunca havíamos chegado àquele ponto, mas estávamos num estado crítico. Eu estava no meu período fértil, que só terminaria quando voltasse de viagem, e ele não poderia sair e ficar com outras mulheres. Não, era o acordo de confidencialidade que eu fui obrigada a assinar na presença de seu empresário e de uma testemunha. Muitas mulheres o quebravam, divulgando fotos do rapaz a preços absurdos para jornais, o que acarretava em ter que limpar sua imagem.
Suspirei, decidida a dar o troco. Tirei a blusa – que roubei dele, por sinal – e parei em frente ao espelho, ajeitando a lingerie roxa que eu usava.
Tirei e enviei, colocando o celular longe de mim enquanto cozinhava alguma coisa para comer.
Meu telefone logo começa a tocar e eu sabia que era ele, o que me fez rir e pegar o celular, atendendo.
– Você realmente fez isso?
– Você quem começou. – falei, ouvindo sua risada do outro lado da linha.
– Espera quando eu voltar. Para a sua sorte, eu sou legal.
– É mesmo? – perguntei, mordendo a unha do meu dedo indicador. – Eu só acredito vendo.
Ele riu, ficando em silêncio. Segundos de puro silêncio, me fazendo tirar o telefone da orelha para ver se ainda estávamos numa ligação.
– Está tudo bem? – indaguei, rindo em seguida.
– Está, só que eu estou sentindo falta.
– Ah, você disse que não ia se apaixonar! – exclamei, ouvindo sua risada, me fazendo rir. – Eu preciso desligar. Aproveita os seus dias de viagem com essa foto.
– Ah, com certeza ela terá um bom uso nessa viagem!
– Você é um idiota! – disse, sentindo meu rosto esquentar.
– Está com vergonha, é? Não pareceu na hora de mandar essa foto!
– Ok, eu preciso ir. Se cuida. Vê se não fica muito bêbado nas festas, ‘tá? – falei, ouvindo o rapaz bufar do outro lado da linha. – E se lembre, eu sou a única da sua vida.
– Ah, você disse que não iria se apaixonar! Ok, boa noite. Até daqui a quatro dias.
E ele encerrou a ligação, não me dando a oportunidade de me despedir.
: Você quer vir beber comigo? Estou sozinha.
: Já estou na porta do seu apartamento, melhor amiga.
Logo a porta se abriu e apareceu em meu campo de visão, carregando duas garrafas de vinho.
– A noite é toda nossa? – ela indagou enquanto tentava caminhar, mesmo sendo impossível, já que Merlin fazia uma festa ao redor de suas pernas.
– Você sabe que sim. – falei, ligando a TV e colocando num canal de filmes.
– Perfeito! Temos vinho, queijos, filmes de romance e uma fofoca, já que você me chama aqui somente para falar sobre algo que fez. – ela disse, me fazendo rolar os olhos. – O que foi dessa vez?
Pego o telefone do meu lado, entregando o aparelho na mão de minha amiga.
– Lê as mensagens. – falei, indo pegar as taças na cozinha.
– do céu! – ela gritou assim que eu apareci na sala novamente. – O que foi isso? O que é isso?
– Ele não pode saber que eu te contei, ok? Acordo de confidencialidade. – disse, e ela assentiu, tampando a boca com uma das mãos.
– Eu não sei se você é sortuda por ter um corpão desses, ou por ter um homem gostoso e famoso para aparecer na sua casa toda noite para transarem. – ela falou, me fazendo rir. – Olha quantos gominhos tem nesse tanquinho, amiga! Você já contou?
– ! – exclamei, ouvindo minha melhor amiga bufar.
– O que ele te disse? – ela perguntou, segurando minhas duas mãos. – Por favor, me diz que vocês conversaram.
– Ele me ligou e disse que essa foto seria muito bem utilizada durante os próximos dias. – respondi, escondendo meu rosto com a almofada. – E por que estamos tendo esse tipo de conversa?
– Vocês já pensaram em subir o patamar de relacionamento de vocês? – indagou, me fazendo rolar os olhos, negando com a cabeça. – Porque, amiga, isso pode acontecer.
Neguei novamente, encerrando o assunto e tentando não pensar muito em tudo aquilo.
(...)
O relógio estava marcando nove e três da noite. Eu rodava os canais na TV, procurando por algo que pudesse prender minha atenção, o que era difícil, já que estava ansiosa demais para aquele momento.
A porta da sala se abriu, e eu vi Merlin correr em direção à mesma, latindo e fazendo festa. Eu já sabia exatamente quem era.
Levantei do sofá assim que ele entrou em meu campo de visão. Estava suado, seus cabelos estavam bagunçados e estava com um óculos escuros no rosto.
– Me atrasei? – ele indagou, fechando a porta e tirando o par de tênis que usava.
– Só um pouco. – respondi, e ele se aproximou, sentando-se ao meu lado. – Como foi a viagem?
– Foi chata. Tirando que eu conheci fãs. – ele falou, me fazendo sorrir. – E como foram esses dias aqui?
– Eu fiquei com a e o Merlin. – disse, e ele segurou minha cintura, puxando-me para seu colo.
– Será que podemos matar a saudade que tanto sentimos um do outro? – ele perguntou enquanto beijava meu pescoço.
Enquanto ele me beijava e eu acariciava seu cabelo, as palavras de voltaram para minha mente. Me atingiram como um raio, e eu não conseguia deixar aquilo de lado.
Era quase óbvio que eu sentia algo, não sabia decidir o que era exatamente, mas sentia algo. E esperava que fosse recíproco.
– Aconteceu alguma coisa? – ele perguntou, parando de me beijar e olhando em meus olhos.
Beijei seus lábios, agarrando seu rosto com as duas mãos, impedindo que ele separasse nossos lábios.
– Você quer que eu faça algo? – ele indagou assim que separei nossos rostos.
– Eu só quero assistir filme hoje, ok? – respondi, e ele arqueou uma sobrancelha. – Não estou me sentindo bem.
– Quer algum remédio? – perguntou, acariciando meu rosto.
– Não! Eu tô bem, só não estou muito... no clima, sabe? – falei, e ele concordou, beijando minha testa e me puxando para mais perto de seu corpo. Nos cobriu com a manta que estava ali.
Quem visse, de fora, encararia aquilo como algum casal num relacionamento saudável, mas não éramos aquilo. Nunca seríamos aquilo. Nós éramos dois amantes e nunca daríamos certo como um casal.
Não sabia qual filme assistíamos, prestando atenção somente no quão bonito ele ficava quando ria de alguma piada que contavam na TV. Como era fofo quando seus olhos se fechavam e ele colocava a mão na barriga.
Ok, ele de gato e gostoso, foi para bonito e fofo. O que estava acontecendo comigo?
(...)
– O que está acontecendo? – ele perguntou assim que eu abri a porta. – Eu te fiz algo?
– Por que está perguntando? – respondi, ajeitando os óculos de grau no meu rosto.
– Três semanas. Três semanas desde que eu cheguei, e tem um iceberg no corredor nos separando. – ele falou, encostando seu corpo no batente da porta. – Você acha que eu espalhei sua foto?
– O quê? Não! Claro que não. – disse, rolando os olhos em seguida. – Eu estou no meu período...
– Há três semanas? Eu não sou mulher e não sei muitas coisas, mas três semanas é bastante tempo, não acha? – ele indagou, cruzando seus braços. – Acho que nós precisamos conversar.
– Eu estou trabalhando. – disse, apontando para a mesa de centro cheia de livros que precisava revisar naquela semana.
– Você vai conversar comigo. O que está te atormentando? – ele falou, entrando em meu apartamento e sentando-se no sofá.
– Não sei. – respondi, fechando a porta em seguida. – Você já imaginou sentir algo por uma pessoa que, na verdade, não podia?
– Do que está falando? – ele indagou, segurando minha mão.
– Eu acho que estou gostando de alguém. – sussurrei, vendo seus olhos ficarem arregalados.
– E isso é bom? – ele perguntou, me puxando para sentar ao seu lado.
– Não quando eu tenho quase certeza de que ele não corresponde. – falei, e ele suspirou. – Você quer ficar aqui comigo essa noite?
– Eu... tenho um lugar para ir. – disse, soltando-me e levantando.
– Já são quase onze da noite. – falei, e ele assentiu. – Você está fugindo de mim?
– Por que eu faria isso? – ele perguntou, pegando as chaves dele no bolso.
– Porque é o que parece. E eu falei o que me atormenta, por que você não fala? – respondi, ficando na sua frente, impedindo que ele saísse do apartamento.
– Você gosta de mim? – ele questionou, e eu gargalhei, negando. – O que foi?
– Você acreditou nisso? – respondi, gargalhando ainda mais. – Eu estava brincando com você.
– Você me paga, . – ele falou, puxando minha cintura.
– E com o quê, exatamente? – perguntou, passando meus dedos pelo tronco debaixo de sua camisa.
– Pelo tempo, por me fazer pensar em algo assim e por ter me enganado. – ele respondeu, beijando meu colo e desfazendo o nó do roupão que eu vestia.
Caminhamos para meu quarto em meio a beijos e carícias, que faziam meu corpo quase explodir do calor que eu sentia, da saudade que eu sentia do calor dele e, principalmente, dos beijos que só ele tinha.
– Às vezes eu penso que deveríamos formar um casal. – ele falou assim que me deitei em seu peito, olhando para o teto.
– Como assim? – perguntei, e ele deu de ombros. – A regra era não se apaixonar, lembra?
– Eu não estou apaixonado, mas sei que algum dia iremos ficar juntos. – ele disse, sorrindo. – Eu ainda vou me apaixonar por você, .
É, , uma pena que, no meu caso, eu já estivesse me apaixonando por você.
No que resultou? Além de não chegar a tempo, consegui cair no meio do térreo, com pessoas ao meu redor me olhando e rindo da minha situação: minha bunda para o alto, as frutas, legume, verduras e guloseimas espalhadas pelo chão, e meu telefone jogado do lado da escada.
Não, eu não iria subir de escada. Morava no sétimo andar, era cansativo para caramba, ainda mais com duas sacolas pesadas. Eu merecia subir de elevador ao menos uma vez, né?
– Você quer uma ajuda? – ouvi alguém indagar, e eu levantei o rosto, encarando o ser que estava de pé. Eu poderia saber quem era, se meus óculos de grau não estivessem a alguns metros de distância, provavelmente quebrados. Eu detestava ser tão desastrada.
– Quem é você? – indaguei, forçando a minha vista para poder olhá-lo, mas ele não passava de um borrão com cabelos castanhos.
– , vizinho da frente. – ele falou, e eu prendi a respiração.
Ok, ele era gato, pelo que eu me lembrava dele, mesmo que eu não pudesse ver muito de seu rosto no momento.
se mudou para o apartamento da frente dois meses depois de mim, mas nunca tivemos um contato mais próximo. Nos cumprimentávamos quando nos encontrávamos no elevador, no térreo ou no corredor, mas não passava disso.
– Toma! – ele exclamou, me entregando meus óculos, me fazendo sorrir agradecida e aliviada por saber que ele ainda permanecia inteiro.
– Obrigada. – falei, pegando as coisas que estavam espalhadas pelo chão.
De repente, todo aquele lugar ficou vazio, com exceção, é claro, de e o porteiro, que permanecia concentrado em alguma coisa atrás do balcão, não dando a mínima atenção para mim e para o meu tombo catastrófico.
pegou uma sacola, começando a colocar as coisas dentro e apertando o botão do elevador em seguida.
– Pode deixar. – falei, e ele negou, puxando a sacola para mais perto de seu corpo.
– Moramos no mesmo andar, eu posso te ajudar. – ele falou, apertando mais uma vez o botão do elevador.
A profissão de era óbvia: cantor. Arrastava uma multidão de garotas e fotógrafos para a porta do nosso prédio toda vez que saía algo sobre ele ou saía do prédio mesmo. Quantas vezes já fui parada por algumas garotas que só queriam mandar um bilhete ou presente para ele? Claro que eu não criticava, óbvio, faria o mesmo com meus artistas favoritos. Sempre tentava entregar a ele, mas era quase impossível com sua agenda de shows.
Entramos no elevador, e os segundos antecedentes à chegada ao nosso andar foram longos demais para mim. Eu estava transpirando mais do que qualquer outra coisa no mundo.
– Obrigada pela ajuda. – falei assim que parei na porta de meu apartamento. – Acho melhor você não entrar. Meu cachorro, Merlin, estranha pessoas que não sejam eu ou , minha melhor amiga.
Abri a porta e meu cachorro foi em minha direção, cheirando minhas pernas, antes de ir para cima de , cheirá-lo e levantar a barriga pedindo carinho.
Até aquele cachorro gostava dele, e nem o conhecia.
– Ele só me envergonha! – exclamei, arrancando uma risada de meu vizinho e mais novo queridinho do meu animal de estimação.
Entramos no apartamento e colocou a sacola na bancada, pegando Merlin no colo para acariciar seu pelo.
– Por que Merlin? – ele questionou, após longos minutos de silêncio, enquanto eu arrumava o que comprei nas gavetas, fruteira e geladeira.
– Eu gosto desse nome. – disse, dando de ombros. – É um nome legal para um cachorro.
– Normalmente as pessoas chamam de Bob, Rex, não de Merlin. – ele falou novamente, sorrindo de lado.
– Eu gosto de ser diferente. – disse, e ele gargalhou, assentindo com a cabeça.
– Eu preciso ir. – ele falou, colocando meu cãozinho no chão.
– Obrigada pela ajuda. – agradeci, e ele sorriu, concordando e acenando.
– Quer saber de uma coisa louca? Eu nem ao menos sei o seu nome. – ele disse, rindo fraco.
Como ele conseguia ser tão irresistível não fazendo o mínimo esforço para isso?
– , mas pode me chamar de . – respondi, e ele assentiu. – E o seu é ?
– Sim, de acordo com os jornais e revistas. – ele falou, me fazendo rir. – Nos vemos por aí, .
Caminhei com ele até a porta, vendo-o entrar em seu apartamento e me deixando sozinha, parada e encarando o pedaço de madeira escura do outro lado do corredor.
Bom, queria poder encontrá-lo mais vezes, mas era quase impossível, ainda mais com sua agenda de compromissos de pessoa famosa. Ele mal teria tempo para mim ou para lembrar ao menos o meu nome.
– Bom dia, . – ouvi meu vizinho falar assim que comecei a trancar a porta de meu apartamento.
Ele estava sem camisa, suado, com roupa de academia e cabelos bagunçados. Como ele conseguia ser tão lindo?
Passaram-se alguns dias, para ser mais exata semanas, desde o meu acidente no térreo do prédio onde morávamos. Desde aquele dia, não nos falávamos tanto quanto eu queria. Nos encontrávamos no corredor, elevador e, de vez em quando, ele pedia para ver Merlin, meu cãozinho, que merecia mais atenção do que eu, na verdade.
– Eu posso te fazer um convite? – ele indagou antes que o elevador aparecesse em nosso andar.
– Ah, sim. – concordei, sentindo meu coração disparar.
– Quer jantar comigo? Aqui no meu apartamento mesmo, ou, se quiser, no seu. – ele falou, gesticulando com as mãos, me fazendo rir fraco. – O quê?
– Você todo nervoso para fazer um convite. – disse, e ele sorriu de lado. – Eu aceito. Que horas?
– Às nove? – ele indagou, e as portas de metal do elevador se abriram.
– Ok. – respondi, e ele concordou, me fazendo entrar no cubículo.
O resto do meu dia no trabalho me fez perder totalmente o foco nos livros que eu teria que revisar, voltando-me para o que poderia acontecer naquela noite. Ou no que poderia não acontecer. Bom, eu queria que acontecesse.
Cheguei em casa pouco depois das sete, correndo para escolher uma roupa adequada para aquela ocasião.
Não, não era somente sair com , o cantor, e sim , o meu vizinho gato.
Tomei um banho demorado, tentando relaxar meu corpo para o jantar em pouco tempo. Coloquei uma roupa, passei perfume, ajeitei meu cabelo diversas vezes, mas nenhum penteado me agradava. O que poderia dar errado, justo agora? Não passei maquiagem, pegando meu celular e indo para fora do quarto.
Contei mentalmente até cem durante o caminho da sala até a porta do apartamento da frente, suspirando quando dei alguns toques na porta. Não tinha como fugir. Ok, talvez eu não quisesse fugir.
Ele abriu, e eu sorri enquanto ele me analisava. Sabia que minhas bochechas deveriam estar vermelhas que nem dois tomates.
– Você veio! – ele exclamou, segurando minha mão e me puxando para dentro de seu apartamento.
O mesmo tinha uma decoração minimalista, além de, é claro, terem prêmios e discos por todos os lados, além de fotos ao longo dos anos. Era quase como um museu, onde muitas de suas fãs adorariam ir para tirar fotos e ter recordações daquilo.
Enquanto eu analisava sua sala, ele colocou uma música para tocar no seu Home Theater, me entregando uma taça de vinho. Sorri agradecida, pegando a taça e dando um gole rápido na bebida.
– Eu esperei você chegar para podermos pedir comida. – ele falou, e eu me sentei no maior sofá. – Eu não sabia o que você gostava e não queria que você tivesse alguma reação alérgica ou passasse mal.
– Tudo bem. – disse, rindo em seguida. – Podemos pedir pizza?
– Essa é sua ideia de comida para um primeiro encontro? – ele indagou, me fazendo corar violentamente.
Ok, então era um encontro? Isso não estava programado.
– Ah, eu acho que é de gosto universal. – respondi, suspirando em seguida.
– Eu pensei em comida japonesa. – ele falou, e eu fiz uma careta.
– Eu detesto comida japonesa. – disse, fazendo o rapaz ao meu lado arregalar os olhos. – Se quiser, pede, mas eu não vou mudar minha opinião sobre essa comida.
– Tudo bem, eu também não sou o maior fã do mundo. – ele falou, me fazendo rir. – Pizza, então?
– Calabresa? – indaguei, e ele concordou, pegando o celular em seu bolso e discando algum número ao caminhar para longe.
Apreciei sua sala antes dele voltar para perto de mim, me servindo com mais um pouco daquele vinho delicioso e de sua agradável companhia.
– Quantas vezes alguma fã te parou para falar algo ou perguntar algo sobre mim? – perguntou, encostando sua mão na minha.
– Nossa, eu já perdi a conta! – exclamei, rindo em seguida. – E eu não crítico, sabe? Eu sei que, se fosse comigo, eu detestaria que alguém fizesse algo assim, me ignorar.
– Você gosta de algum cantor, banda ou ator? – ele indagou, olhando em meus olhos pela primeira vez.
– Sinceramente? Não. Nem ouvi suas músicas. – respondi, dando um longo gole no meu vinho. – Eu sou revisora, meu negócio são livros. Jane Austen, J. K. Rowling, George R. R. Martin.
– Eu devo ficar magoado pelo fato de você nunca ter escutado minhas músicas? – ele perguntou, fazendo beicinho e me fazendo rir.
Antes que eu pudesse dizer algo, batem na porta, quebrando nossa troca de olhares. Ele se levantou, caminhando em direção à porta.
Poucos minutos e uma conversa rápida com o entregador, voltou com a caixa de pizza em seus braços, e eu senti meu estômago implorar por algum pedaço. Aquilo era o paraíso.
Ele colocou na mesa de centro, indo até à cozinha pegar mais algum vinho delicioso. Ele logo o trouxe, abrindo a caixa e pegando um pedaço para si.
– Espero que goste. – ele falou, me fazendo rir e pegar um pedaço.
nos serviu do vinho, e, durante um pedaço e outro de pizza, eu só pensava em duas coisas:
1- Deus, como ele era lindo enquanto falava.
2- No dia seguinte eu teria que ir para um treino pesado na academia.
Conversa para cá, conversa para lá, a nossa pizza acabou, fazendo com que ficássemos com quase metade do vinho.
– Posso te falar algo? – ele indagou, embolando-se em suas próprias palavras, e eu sabia que não era a única que estava ficando alterada. – Eu te acho tão, mas tão bonita.
Não sabia se já estava corada com o vinho ou se era pela vergonha que habitou em meu ser.
– Obrigada. – disse e segurei sua mão. – Eu também te acho bonito.
Ele sorriu, mostrando seus dentes perfeitos e brilhantes. Ah, ele era muito provavelmente o Sr. Perfeitinho, aquele que tudo era lindo demais para ser verdade.
– Ah, você é lindo demais! – exclamei, arrancando uma risada fraca dele.
Foram longos segundos de troca de olhares até que eu tomei a iniciativa, beijando-o.
Meu Deus! Era tudo o que se passava na minha cabeça enquanto sua mão acariciava minha cintura por debaixo do vestido, aumentando ainda mais o calor que emanava de meu corpo.
Ele ficou por cima de mim, acariciando meus cabelos e apertando seus dedos em algumas outras partes de meu corpo, deixando a certeza de que ficariam as marcas. Mas, naquele momento, enquanto seus lábios desciam para meu pescoço e seus dedos procuravam pelo zíper do meu vestido, eu não pensava naquilo.
– Vamos com calma? – indaguei, sentindo minha respiração afetada enquanto ele descia seus lábios para a região entre um seio e outro. – Eu só preciso aproveitar esse momento. Não sei quando irá acontecer novamente.
Ele parou o que fazia, rindo e me fitando nos olhos por longos segundos.
– Se depender de mim, não será a última vez. – ele sussurrou, beijando meus lábios mais uma vez.
: Estou sentindo sua falta.
: De qual maneira? Como uma amiga ou da maneira sexual?
: Acho que da segunda opção. Você sabe, ninguém me deixa tão bem quanto você.
: Ok, senhor, mas você está na Itália, e eu estou aqui no meu apartamento. Muitos quilômetros de distância, não acha?
: Eu não vejo a hora de voltar para casa. Para você. Para a sua cama durante as nossas aventuras.
Aquela mensagem me fez rir.
Desde que eu e tínhamos entrado numa amizade colorida, era cada vez mais comum mensagens como aquela, o que me faziam dormir com ainda mais vontade de tê-lo perto de mim. Era impossível, já que ele estava viajando para divulgar seu trabalho e eu tinha que trabalhar.
Abri o aplicativo de mensagens e, dessa vez, vi a foto que ele mandou.
Não, ele não fez aquilo.
E lá tinha uma foto dele, usando apenas uma Calvin Klein preta, deixando todo o seu tronco à mostra.
Deus, estava tão calor assim e eu não percebi?
Minhas bochechas estavam quentes. Nunca havíamos chegado àquele ponto, mas estávamos num estado crítico. Eu estava no meu período fértil, que só terminaria quando voltasse de viagem, e ele não poderia sair e ficar com outras mulheres. Não, era o acordo de confidencialidade que eu fui obrigada a assinar na presença de seu empresário e de uma testemunha. Muitas mulheres o quebravam, divulgando fotos do rapaz a preços absurdos para jornais, o que acarretava em ter que limpar sua imagem.
Suspirei, decidida a dar o troco. Tirei a blusa – que roubei dele, por sinal – e parei em frente ao espelho, ajeitando a lingerie roxa que eu usava.
Tirei e enviei, colocando o celular longe de mim enquanto cozinhava alguma coisa para comer.
Meu telefone logo começa a tocar e eu sabia que era ele, o que me fez rir e pegar o celular, atendendo.
– Você realmente fez isso?
– Você quem começou. – falei, ouvindo sua risada do outro lado da linha.
– Espera quando eu voltar. Para a sua sorte, eu sou legal.
– É mesmo? – perguntei, mordendo a unha do meu dedo indicador. – Eu só acredito vendo.
Ele riu, ficando em silêncio. Segundos de puro silêncio, me fazendo tirar o telefone da orelha para ver se ainda estávamos numa ligação.
– Está tudo bem? – indaguei, rindo em seguida.
– Está, só que eu estou sentindo falta.
– Ah, você disse que não ia se apaixonar! – exclamei, ouvindo sua risada, me fazendo rir. – Eu preciso desligar. Aproveita os seus dias de viagem com essa foto.
– Ah, com certeza ela terá um bom uso nessa viagem!
– Você é um idiota! – disse, sentindo meu rosto esquentar.
– Está com vergonha, é? Não pareceu na hora de mandar essa foto!
– Ok, eu preciso ir. Se cuida. Vê se não fica muito bêbado nas festas, ‘tá? – falei, ouvindo o rapaz bufar do outro lado da linha. – E se lembre, eu sou a única da sua vida.
– Ah, você disse que não iria se apaixonar! Ok, boa noite. Até daqui a quatro dias.
E ele encerrou a ligação, não me dando a oportunidade de me despedir.
: Já estou na porta do seu apartamento, melhor amiga.
Logo a porta se abriu e apareceu em meu campo de visão, carregando duas garrafas de vinho.
– A noite é toda nossa? – ela indagou enquanto tentava caminhar, mesmo sendo impossível, já que Merlin fazia uma festa ao redor de suas pernas.
– Você sabe que sim. – falei, ligando a TV e colocando num canal de filmes.
– Perfeito! Temos vinho, queijos, filmes de romance e uma fofoca, já que você me chama aqui somente para falar sobre algo que fez. – ela disse, me fazendo rolar os olhos. – O que foi dessa vez?
Pego o telefone do meu lado, entregando o aparelho na mão de minha amiga.
– Lê as mensagens. – falei, indo pegar as taças na cozinha.
– do céu! – ela gritou assim que eu apareci na sala novamente. – O que foi isso? O que é isso?
– Ele não pode saber que eu te contei, ok? Acordo de confidencialidade. – disse, e ela assentiu, tampando a boca com uma das mãos.
– Eu não sei se você é sortuda por ter um corpão desses, ou por ter um homem gostoso e famoso para aparecer na sua casa toda noite para transarem. – ela falou, me fazendo rir. – Olha quantos gominhos tem nesse tanquinho, amiga! Você já contou?
– ! – exclamei, ouvindo minha melhor amiga bufar.
– O que ele te disse? – ela perguntou, segurando minhas duas mãos. – Por favor, me diz que vocês conversaram.
– Ele me ligou e disse que essa foto seria muito bem utilizada durante os próximos dias. – respondi, escondendo meu rosto com a almofada. – E por que estamos tendo esse tipo de conversa?
– Vocês já pensaram em subir o patamar de relacionamento de vocês? – indagou, me fazendo rolar os olhos, negando com a cabeça. – Porque, amiga, isso pode acontecer.
Neguei novamente, encerrando o assunto e tentando não pensar muito em tudo aquilo.
O relógio estava marcando nove e três da noite. Eu rodava os canais na TV, procurando por algo que pudesse prender minha atenção, o que era difícil, já que estava ansiosa demais para aquele momento.
A porta da sala se abriu, e eu vi Merlin correr em direção à mesma, latindo e fazendo festa. Eu já sabia exatamente quem era.
Levantei do sofá assim que ele entrou em meu campo de visão. Estava suado, seus cabelos estavam bagunçados e estava com um óculos escuros no rosto.
– Me atrasei? – ele indagou, fechando a porta e tirando o par de tênis que usava.
– Só um pouco. – respondi, e ele se aproximou, sentando-se ao meu lado. – Como foi a viagem?
– Foi chata. Tirando que eu conheci fãs. – ele falou, me fazendo sorrir. – E como foram esses dias aqui?
– Eu fiquei com a e o Merlin. – disse, e ele segurou minha cintura, puxando-me para seu colo.
– Será que podemos matar a saudade que tanto sentimos um do outro? – ele perguntou enquanto beijava meu pescoço.
Enquanto ele me beijava e eu acariciava seu cabelo, as palavras de voltaram para minha mente. Me atingiram como um raio, e eu não conseguia deixar aquilo de lado.
Era quase óbvio que eu sentia algo, não sabia decidir o que era exatamente, mas sentia algo. E esperava que fosse recíproco.
– Aconteceu alguma coisa? – ele perguntou, parando de me beijar e olhando em meus olhos.
Beijei seus lábios, agarrando seu rosto com as duas mãos, impedindo que ele separasse nossos lábios.
– Você quer que eu faça algo? – ele indagou assim que separei nossos rostos.
– Eu só quero assistir filme hoje, ok? – respondi, e ele arqueou uma sobrancelha. – Não estou me sentindo bem.
– Quer algum remédio? – perguntou, acariciando meu rosto.
– Não! Eu tô bem, só não estou muito... no clima, sabe? – falei, e ele concordou, beijando minha testa e me puxando para mais perto de seu corpo. Nos cobriu com a manta que estava ali.
Quem visse, de fora, encararia aquilo como algum casal num relacionamento saudável, mas não éramos aquilo. Nunca seríamos aquilo. Nós éramos dois amantes e nunca daríamos certo como um casal.
Não sabia qual filme assistíamos, prestando atenção somente no quão bonito ele ficava quando ria de alguma piada que contavam na TV. Como era fofo quando seus olhos se fechavam e ele colocava a mão na barriga.
Ok, ele de gato e gostoso, foi para bonito e fofo. O que estava acontecendo comigo?
– O que está acontecendo? – ele perguntou assim que eu abri a porta. – Eu te fiz algo?
– Por que está perguntando? – respondi, ajeitando os óculos de grau no meu rosto.
– Três semanas. Três semanas desde que eu cheguei, e tem um iceberg no corredor nos separando. – ele falou, encostando seu corpo no batente da porta. – Você acha que eu espalhei sua foto?
– O quê? Não! Claro que não. – disse, rolando os olhos em seguida. – Eu estou no meu período...
– Há três semanas? Eu não sou mulher e não sei muitas coisas, mas três semanas é bastante tempo, não acha? – ele indagou, cruzando seus braços. – Acho que nós precisamos conversar.
– Eu estou trabalhando. – disse, apontando para a mesa de centro cheia de livros que precisava revisar naquela semana.
– Você vai conversar comigo. O que está te atormentando? – ele falou, entrando em meu apartamento e sentando-se no sofá.
– Não sei. – respondi, fechando a porta em seguida. – Você já imaginou sentir algo por uma pessoa que, na verdade, não podia?
– Do que está falando? – ele indagou, segurando minha mão.
– Eu acho que estou gostando de alguém. – sussurrei, vendo seus olhos ficarem arregalados.
– E isso é bom? – ele perguntou, me puxando para sentar ao seu lado.
– Não quando eu tenho quase certeza de que ele não corresponde. – falei, e ele suspirou. – Você quer ficar aqui comigo essa noite?
– Eu... tenho um lugar para ir. – disse, soltando-me e levantando.
– Já são quase onze da noite. – falei, e ele assentiu. – Você está fugindo de mim?
– Por que eu faria isso? – ele perguntou, pegando as chaves dele no bolso.
– Porque é o que parece. E eu falei o que me atormenta, por que você não fala? – respondi, ficando na sua frente, impedindo que ele saísse do apartamento.
– Você gosta de mim? – ele questionou, e eu gargalhei, negando. – O que foi?
– Você acreditou nisso? – respondi, gargalhando ainda mais. – Eu estava brincando com você.
– Você me paga, . – ele falou, puxando minha cintura.
– E com o quê, exatamente? – perguntou, passando meus dedos pelo tronco debaixo de sua camisa.
– Pelo tempo, por me fazer pensar em algo assim e por ter me enganado. – ele respondeu, beijando meu colo e desfazendo o nó do roupão que eu vestia.
Caminhamos para meu quarto em meio a beijos e carícias, que faziam meu corpo quase explodir do calor que eu sentia, da saudade que eu sentia do calor dele e, principalmente, dos beijos que só ele tinha.
– Às vezes eu penso que deveríamos formar um casal. – ele falou assim que me deitei em seu peito, olhando para o teto.
– Como assim? – perguntei, e ele deu de ombros. – A regra era não se apaixonar, lembra?
– Eu não estou apaixonado, mas sei que algum dia iremos ficar juntos. – ele disse, sorrindo. – Eu ainda vou me apaixonar por você, .
É, , uma pena que, no meu caso, eu já estivesse me apaixonando por você.