Última atualização: 11/01/2018

Capítulo Único


atravessou o pátio do colégio com pressa. Estava longe de estar atrasado naquele dia como de costume, mas fora convocado para uma reunião com a diretora junto de sua mãe.
A senhora , vinha logo atrás tentando acompanhar os passos apressados do filho, mas sem sucesso. só parou ao chegar na porta da sala da senhora Collins e encarou - a garota por quem nutria uma paixão secreta – sentada em um banco perto da escadaria. É claro que a menina certinha nunca lhe daria bola, ele pensou. Nunca trocaram mais do que algumas poucas palavras, nunca ousara se aproximar muito da menina, só olhar já era o suficiente. deu duas batidinhas na porta e evitou encarar sua mãe, que lhe deu um sermão daqueles logo que soube da reunião particular.
- Pode entrar. – ouviu a voz rouca dizer, então adentrou o cômodo com cara de poucos amigos e ficou em pé em frente a mulher que o encarava por cima dos óculos redondos.
- Senhora , seja bem vinda. – a diretora ignorou a presença do garoto de primeira e ele sorriu descrente. - Sente-se, por favor.
O garoto cruzou os braços ainda de pé, sem fazer menção de sentar na cadeira vazia ao lado da mãe. Estava achando ridículo ter que estar ali, mas só entraria naquele lugar sob o acompanhamento de um de seus pais e já que seu pai havia ido embora quando ele ainda era uma criança, só sobrara sua mãe.
- Eu queria dizer que é um prazer estar aqui, diretora Collins, mas diante das circunstâncias... – a senhora deu uma olhada breve no filho que encarava os próprios pés entediado.
- Eu lamento ter que lhe tirar de seus afazeres, imagino que a senhora esteja muito ocupada administrando seus negócios, mas é um assunto de extrema importância. – Collins ajeitou o óculos no rosto e entregou uma folha nas mãos da mãe de . – Como pode ver, a lista de frequência de seu filho há muitas faltas
- Mas isso é um absurdo! sai de casa todos os dias para vir ao colégio! – ela exclamou furiosa. As duas continuavam a ignorar a presença do garoto ali, o que acabou o deixando furioso.
- está fora dos eixos, senhora . E não é só a frequência dele que está péssima, as notas também estão.
Ele finalmente resolveu sentar ao lado da mãe e direcionou o olhar para a senhora Collins.
- Vão continuar falando como se eu não estivesse aqui? Porque eu posso me retirar. Tenho uma aula importante pra assistir, afinal de contas, é errado um aluno matar aula, não é senhora Collins? – o garoto riu vitorioso da cara de tacho de Collins e já ia levantar quando a mãe segurou seu braço.
- , eu não admito que você seja mal educado dessa forma. – ela ralhou.
- Obrigada. – Collins agradeceu e revirou os olhos diante de tanta baboseira, como ele mesmo costumava dizer. Era perda de tempo tudo aquilo. Ele nunca mudaria.
- Eu lamento que meu filho esteja se comportando dessa maneira e saber que eu pago uma fortuna para que ele nem assista as aulas é um disparate. Sabe, senhora Collins, tem passado por uma fase ruim, até marquei consulta com psicólogo e ele não foi. Mas é claro que isso não justifica o que vem acontecendo, portanto acredito que podemos resolver da melhor forma. – ela segurou a mão do garoto, mas ele fingiu indiferença.
- Acredito que juntos poderemos chegar a uma solução, não é, ? - ele suspirou e encarou a diretora Collins.
- Eu odeio esse lugar, Morgan, o único amigo que tenho é Julian e você me trata diferente, então você quer mesmo que eu finja que está tudo bem e prometa que serei um aluno exemplar? – Collins pigarreou, mas logo se recompôs. Era verdade que tratava com indiferença na maioria das vezes, não por mal, só era seu jeito de lidar com a rebeldia do garoto. Mas sabia que lá no fundo, ele só precisava de alguém que lhe colocasse no caminho certo.
- , o meu dever como diretora é garantir aos pais dos alunos que seus filhos terão a melhor educação e que estejam seguros aqui, que aprendam e que futuramente possam ingressar nas melhores universidades, seja qual escolherem. Você pode não gostar daqui, nem das pessoas que convivem com você, mas não é justo que sua mãe gaste pra que você não desfrute dos serviços do colégio, não acha? – a senhora Collins apenas observava em silêncio a conversa entre os dois.
- Injusto é eu ser obrigado a estar aqui, quando eu poderia estar com a minha avó no Texas, – ele resmungou e sua mãe o olhou feio.
- Sua avó não tem mais condições de cuidar de você, , você sabe muito bem. Eu sou sua mãe e responsável por você, mesmo que não queira. Então, vou ser muito prática quanto ao seu comportamento: ou você entra nos eixos ou serei obrigada a te mandar pro internato na Suíça! – ficou estático diante da ameaça da mãe. Abriu a boca para protestar, mas sabia que não adiantaria usar da sua rebeldia naquele momento, pois a senhora sempre cumpria o que prometia. Um dos motivos pelo qual nunca batia de frente com a mãe. Ela era louca. Era ela quem precisava de um psicólogo e não ele.
- Mas antes de chegar nesse extremo, , eu tenho algumas coisas a te propor. Você só precisa me dizer se irá colaborar comigo, certo? – a diretora lançou-lhe um olhar encorajador e olhou para a mãe, que mantinha a pose firme e então voltou sua atenção para a senhora Collins.
- E eu tenho escolha?
Morgan sorriu vitoriosa e então os três passaram os próximos vinte minutos conversando sobre todas as formas de não perder o último ano do ensino médio.

***


Depois de uma manhã intensa e de ter assistido todas as aulas do dia, guardou o material dentro da mochila e já estava se preparando para sair da sala quando foi abordado por Izzie, a melhor amiga de .
- Ei, . – ela o cumprimentou sorridente e ele sorriu fraco, estranhando a fala repentina da garota já que poderia contar nos dedos as vezes que se falaram por ali.
- Hum, oi? – Izzie riu da confusão do garoto, então foi direto ao assunto.
- Tá afim de ir a uma festa? – perguntou, entregando um panfleto nas mãos dele. estava prestes a recusar, mas Izzie não lhe deu a chance de falar. – É pra arrecadar fundos pra nossa festa de formatura. Você deveria ir, é uma oportunidade pra se enturmar.
abriu a boca para dizer algo, mas desistiu ao ver se aproximar. Ela ficava absurdamente linda com aquele uniforme e seus cabelos castanhos ondulados que balançavam conforme ela se movimentava, realçavam ainda mais a sua beleza extraordinária.
- Izzie, nós já estamos indo pra lanchonete. Você vem? – a morena então olhou para , que fitava a garota de um jeito que a fez corar. – Ah. Oi, .
- Oi.
- Você pode vir com a gente se quiser, ... – ele balançou a cabeça em negativa e viu Izzie o olhar triste.
- Eu realmente preciso ir pra casa, mas obrigado. E quanto a festa, pode ser que eu apareça. Sexta, né?
- Sexta! – Izzie respondeu animada e ele sorriu, acenando para as duas.
Então rapidamente se dirigiu a saída da escola se despedindo do porteiro e fazendo o caminho até sua casa que não ficava muito longe dali. Sorriu ao lembrar da proximidade de há alguns minutos atrás. Evitava a todo custo chegar perto da garota, só que nem sempre poderia evitar o contato. Mas sabia que deveria se contentar com isso, já que a menina parecia não ir muito com a sua cara. Era nítido que garotas como não se envolviam com garotos feito . E nem ele desejava trazer para seu mundo obscuro. Se contentava em gostar dela em silêncio, logo o ano terminaria e ele poderia voltar pro Texas, já que não entraria pra nenhuma universidade. E então nunca mais veria nem precisaria mais conviver com as loucuras da mãe.

***


Izzie e chegaram na lanchonete e juntaram-se a mesa com Kevin, Luke, Caleb, Maya e Georgina, que já conversavam animadamente sobre a festa na casa de Kevin na sexta. É claro que a arrecadação de fundos para a festa de formatura era só uma desculpa para que Caleb e seus amigos dessem uma grande festa, já que os pais viajariam para o Havaí por uma semana. E é claro que o garoto omitiu alguns detalhes dos pais, como a entrada de bebidas alcoólicas. Eles surtariam se soubessem que vários adolescentes estavam consumindo álcool e até drogas ilícitas dentro de sua residência.
- Eu convidei o . – Izzie disse animada e revirou os olhos. Não entendia o que a amiga via naquele garoto cheio de marra que não fazia questão de ser simpático com ninguém.
- Não se anime tanto, Izzie, ele disse que talvez vá, não é nenhuma certeza. – a amiga retrucou.
- é o maior gato! Aqueles olhos verdes são como uma extensão do mar e você sabe, eu adoro mergulhar em águas fundas... – Georgina confessou e Izzie jogou uma batata frita na garota, que a olhou incrédula.
- Cuidado pra não se afogar, fofa. – Maya deu uma piscadela e todos riram.
- Eu coloquei o olho nele primeiro!
- Garotas, contenham-se, por favor. É sério que vocês estão brigando por aquele esquisito? – Kevin mantinha a expressão horrorizada. Mas só por puro recalque. A verdade era que era dono de uma beleza fora do comum e todos sabiam disso.
- Cala a boca, Kevin. É claro que vocês homens odeiam admitir quando um cara é mais bonito que vocês, então a sua opinião não conta, ok? – Georgina deu de ombros e levou um cutucão do garoto.
- Mas a real é que nosso assunto aqui não é o e sim a festa de sexta. Precisamos definir o que cada um tem que levar, então eu e Luke concordamos em que meninas levam comidas e meninos bebida. E Caleb vai cuidar da música e da decoração, já que a casa é dele. – Kevin disse e todos concordaram.
- Ei, eu não entendo nada de decoração, isso é coisa de mulherzinha! – Caleb protestou e levou um tapa de .
- Deixa de ser ridículo, garoto! Eu te ajudo com a decoração, porque se depender de você aquela casa vai virar um grande pesadelo. – disse referindo-se aos gostos sombrios do garoto.
- Então, estamos combinados. Meus pais viajam na quinta de manhã, depois da aula podemos começar os trabalhos! – todos assentiram em silêncio e voltaram a atenção para seus lanches que haviam acabado de chegar.

***


Na manhã de quarta, enquanto ainda faltavam pouco mais de quinze minutos para o sinal tocar, estava sentado num banco mais afastado do tumulto que os alunos causavam todos os dias antes da aula começar. Percorreu o olhar procurando pelo amigo Julian, mas nem sinal e então supus que o garoto ainda estava de atestado. Então colocou os fones de ouvido e aumentou o volume no máximo, pois não tinha paciência pra tanto assunto fútil. Ficou algum tempo distraído, observando o local e batucando os dedos sobre o banco, que acabou não se dando conta quando a senhora Collins se aproximou e sentou-se ao seu lado. Ela puxou um lado do fone e sorriu para ele que retribuiu.
- Fico feliz que esteja se esforçando, . – ela foi sincera em suas palavras e o garoto assentiu ainda em silêncio. – Mas ainda acho que você deveria repensar sobre não ir para a universidade.
- Obrigado. Mas quanto a isso eu não tenho o que repensar, senhora Collins, eu só estou me esforçando porque quero me livrar do colégio e ir pro Texas com a minha avó. – ele foi categórico. Estava decidido quanto ao seu futuro e ninguém o faria mudar de ideia.
- Tudo bem, já foi um grande avanço fazer você começar a frequentar as aulas normalmente, então eu não vou mais tocar nesse assunto, mas pense com carinho! – ela piscou para ele que sorriu fraco. Viu se aproximar do grupinho que estava perto da escadaria e dar um beijo na bochecha de Kevin e então pensou em quanto o garoto era sortudo.
- Eu vou pensar.
O sinal tocou e a senhora Collins deu um aceno breve para o garoto, então seguiu em direção a sua sala, mas antes de entrar, com o seu tom autoritário, pediu para que os alunos fossem para suas salas. riu. Sabia que no fundo Morgan Collins tinha um bom coração. O garoto levantou, pendurou a mochila nas costas, guardou o celular no bolso da calça e ao passar pelo grupinho de , ouviu alguém o cumprimentar.
- Oi, ! – era Izzie. Por que diabos aquela garota estava no seu pé?
apenas acenou brevemente, subiu as escadas e ao entrar na segunda sala avistou Julian sentado na penúltima carteira. Estava de olhos fechados e com a cabeça encostada na parede.
O garoto se aproximou devagar, chegou perto o suficiente para assustar Julian e quase fazer o garoto cair da cadeira.
- Porra, ! – Julian colocou a mão no peito e arfou de susto, o que fez gargalhar da expressão pálida do amigo.
- Achei que ainda estivesse doente, não te vi no pátio quando cheguei. – Julian balançou a cabeça em negação.
- Cheguei cedo pra passar na biblioteca e falar com a senhora Collins. – assentiu.
O professor Alaric entrou na sala, sendo seguido por Kevin e cia, que riam de alguma piada feita por Luke.
- Acomodem-se em silêncio, por favor. – Alaric pediu massageando as têmporas.
- Professor...
- Diga, Elizabeth! – ele olhou diretamente para a menina que tinha um jeito desengonçado e era considerada a nerd da turma.
- O s-senhor vai corrigir a lista de exercícios da aula passada? – perguntou um pouco sem graça sob alguns protestos vindos do fundão.
- Shhhh!
- Caleb, tenha modos! – Alaric encarou o garoto que apenas se encolheu atrás de Maya.
- Senhor ? – Alaric chamou a atenção do garoto e ele se perguntou mentalmente o que tinha feito de errado. Mas nada vinha a sua mente naquele momento. – Recolha os exercícios para mim, por gentileza.
respirou aliviado e levantou, passando de carteira em carteira para recolher os exercícios.
- E é bom que tenham feito, vai valer nota para a prova. – Alaric sorriu vitorioso. Podia apostar que metade da turma não tinha feito. Sentou em sua mesa e ficou observando recolher os exercícios. A senhora Collins tinha pedido para que os professores dessem uma atenção especial a e tentassem fazer com que o garoto se enturmasse com o restante dos alunos.
- Aqui está, professor Alaric. – o garoto entregou a pilha de papéis nas mãos do professor e ele sorriu satisfeito.
- Obrigado, , pode voltar ao seu lugar.
sentiu um olhar sob ele e quase podia jurar que era , mas não se deu ao trabalho de virar para verificar, então voltou a sentar em sua carteira e prestou atenção em Alaric que se pôs de pé para começar a aula.
- Bom, meus queridos, hoje teremos uma dinâmica diferente... – ele começou a falar. – Quantos de vocês se conhecem? Digo, de verdade?
Os alunos se entreolharam, tentando entender onde Alaric queria chegar.
- Como assim, professor? – Georgina perguntou curiosa.
- A maioria de vocês andam em grupos, sentam sempre no mesmo lugar e conversam sempre com as mesmas pessoas. Por exemplo, nunca vi a senhorita Georgina conversando com Elizabeth. – algumas risadinhas ecoaram pela sala e Elizabeth ficou vermelha parece um pimentão. Odiava ser o centro das atenções.
- Ela é uma nerd, não temos assuntos em comum! – Georgina deu de ombros e Alaric franziu o cenho.
- É aí que você se engana, minha cara aluna. – ele apontou para a menina e virou para que suspirou. Poderia deixá-lo fora dessa dinâmica ridícula, não poderia?
- , por exemplo, quase não o vejo interagindo com nenhum de vocês.
- Não temos culpa se é meio esquisitinho, né? – a sala inteira explodiu em risadas e Kevin bateu a mão com o amigo. riu descrente, mas não iria deixar barato aquela provocação.
- Melhor ser esquisito do que ser burro. Sabe, Caleb, não costumo andar com pessoas desprovidas de inteligência. Primeiro coloca pra funcionar isso que você chama de cérebro e depois a gente conversa, valeu? – a sala inteira ficou estática já que ninguém esperava esse tipo de resposta vinda de . Caleb bufou e quando ia abrir a boca para falar algo, Alaric foi mais rápido.
- Quem fala o que quer, ouve o que não quer. Bom, chega de provocações e vamos ao que realmente interessa. – Alaric pegou um papel que estava dentro de sua pasta e deu uma analisada. – Eu vou formar duplas entre vocês e quero que durante uma semana convivam juntos o máximo que puderem. O interessante é que troquem informações sobre o que gostam, o que não gostam, sobre futuro e tudo mais o que quiserem saber. E no último dia quero que escrevam um texto sobre o que vocês descobriram sobre o outro. Alguma dúvida?
Os alunos cochichavam entre si, estavam eufóricos. Alguns gostaram da ideia e outros, como , odiaram.
- Será que não podemos escolher nossas duplas? – Maya perguntou esperançosa.
- É claro que não. A ideia é interagir com pessoas que vocês ainda não conhecem, parece que vocês não captaram o espírito da coisa. – Alaric bufou. – Eu analisei vocês e já escolhi as duplas. Hum, deixem-me ver...
A sala ficou em silêncio esperando o pronunciamento de Alaric. estava achando tudo um saco, só queria estar em casa ou em qualquer outro lugar que não fosse aquela sala de aula.
- Maya Torres e Elizabeth White. – ele anunciou a primeira dupla e Maya fez cara feia. – Luke, troque de lugar com a senhorita, Elizabeth por favor.
- Droga... – Maya cochichou baixinho.
- Kevin Foster e Tom Hughes.
Alaric continuou a chamar as duplas, organizando a sala de forma que ficassem lado a lado. apenas observava em silêncio torcendo para que não o colocasse ao lado de Caleb. Seria um martírio passar tempo demais com um cara extremamente fútil. Mas por coincidência ou por pura ironia do destino, fora escolhido para fazer par com .
- e , vocês são a minha última dupla. Já sabem, lado a lado. – Alaric largou o papel em cima da mesa, esperando que a última dupla anunciada se juntasse como o restante da turma já havia feito. O garoto não de moveu e esperou que juntasse seu material e sentasse na carteira vazia ao lado da sua.
- Vocês tem exatamente quinze minutos para conversar e combinar de que forma irão se conhecer melhor. E eu espero que vocês se esforcem e todos, sem exceção, precisam apresentar o texto na aula de quarta-feira da semana que vem, vocês estão sendo avaliados e essa atividade pode salvar vocês no final do semestre. – Alaric voltou a sentar e então uma mistura de vozes ecoou pela sala. Alguns engataram uma conversa com facilidade e outros apenas ignoravam a presença um do outro. se sentiu inseguro quanto a puxar assunto com e por um breve momento sentiu-se um completo idiota.
que estava incomodada com todo aquele silêncio, resolveu quebrar o gelo.
- Então, , o que eu preciso saber sobre você? – ela encarou o garoto de forma que o deixou intimidado, mas ela não precisava saber disso, é claro.
- A questão é o que você pode saber, . – ele abriu o caderno e arrancou duas folhas em branco, entregando uma para ela. franziu o cenho, fazendo o garoto rir.
- Hall , dezoito anos, morava no Texas, filho de Erin , uma das maiores empresárias de Bradford. Não costuma frequentar as aulas, odeia matemática, não gosta de interagir com a turma, com a exceção de Julian Gray, um cara totalmente neutro.
- Neutro? – ele arqueou a sobrancelha, achando engraçado a definição dela ao seu amigo.
- Julian não é nerd, mas também não é popular, senta no fundão, mas tira notas boas e além de tudo ele costuma ser simpático com as pessoas. Me admira ele andar na companhia de um bad boy igual a você!
- Obrigado pela parte que me toca, mas não ache que você me conhece apenas por essas informações. Qualquer um sabe isso e você não disse nada de extraordinário sobre mim. – a fala de soou um tanto quanto arrogante e isso deixou bastante irritada. Mas é claro que ela não entregaria os pontos assim tão fácil. Iria jogar o mesmo jogo que , se era assim que ele queria.
- Oh, certo senhor mistério, o que há de extraordinário em você? – ela rolou os olhos impaciente. Aquilo seria mais irritante do que poderia imaginar.
- Descubra você, não é assim que funciona a dinâmica?
- Se você não fosse tão petulante e babaca nós já poderíamos ter progredido um pouco, não acha? – não fez questão de esconder a raiva em seu tom de voz, só queria socar a cara do garoto e xingá-lo dos piores nomes possíveis. Mas respirou fundo e juntou todos os resquícios de paciência que ainda tinha dentro de si.
- Você tem razão, . Você pode pedir pra Alaric trocar sua dupla, já que não está satisfeita e eu juro que não vou me sentir nenhum pouco ofendido, de verdade. – evitou encarar a garota que agora o olhava incrédula. Mas apesar disso não estava surpresa com o comportamento do garoto. Só desejou que Alaric não a tivesse escolhido como dupla de . Porém, se ele achava que ela iria se dar por vencida ele estava muito enganado. nunca negava um bom desafio.
- Eu espero que você colabore comigo, , porque eu não estou nenhum pouco afim de perder nota por sua causa – ela o encarou séria e continuou fitando o nada até a voz de Alaric chamar a atenção de todos.
- Fim da aula, meus caros alunos. E eu espero que vocês levem a sério essa dinâmica pois eu serei muito exigente na hora de avaliar, entenderam?
Os alunos apenas assentiram. Alaric juntou suas coisas e saiu da sala em seguida. por sua vez ficou esperando alguma palavra sair da boca do garoto, mas ele apenas a olhou de relance e sorriu fraco.
- O quê? – ele perguntou.
- Você não me respondeu, .
- Você não perguntou nada, . – respirou fundo e então sem dizer mais nenhuma palavra juntou suas coisas e voltou ao seu lugar sem nem olhar para trás. a observou se acomodar novamente em sua carteira e trocar algumas palavras com Kevin. Sentiu um pouco de culpa por ter tratado daquela forma, sabia que a garota não merecia, mas já estava ferrado demais para se deixar levar por uma paixão que não duraria por muito tempo. Em alguns meses tudo acabaria e ficaria no seu passado assim como tudo aquilo ao seu redor.

***


Julian apressou o passo para alcançar na saída do colégio. Queria saber o porquê do amigo estar estranho e calado desde a aula de Alaric.
- ! – gritou para chamar a atenção do garoto que logo se virou para ver quem era. Julian correu até onde o amigo estava e o olhou feio.
- Está fora de forma, meu amigo. – zombou, recebendo um gesto nada amigável de Julian que estava ofegante.
- O que houve? Você não disse uma palavra desde a aula do Alaric. Eu pensei que estivesse feliz porque é sua dupla e você enfim teve a chance de conhecê-la melhor. – riu como se o amigo tivesse falado alguma bobagem e Julian não entendeu o comportamento do garoto.
- Dinâmica idiota, eu não tenho tempo pra perder com esse tipo de coisa e você também não deveria. – Julian arregalou os olhos e o olhou incrédulo. – Não vai me dizer que você está gostando?
Eles começaram a caminhar lado a lado quando avistou Caleb carregando em suas costas e revirou os olhos diante da cena. Estúpidos. Era isso que todos eles eram.
- Ah, eu achei legal e além do mais, Izzie é a maior gata. Eu a convidei para ir comigo na festa de sexta e ela aceitou, apesar de ter me pedido milhões de vezes pra te levar junto! – Julian rolou os olhos, foi irritante o quanto Izzie insistiu para que o garoto convencesse de ir na tal festa também. Mas apesar disso, achou a menina divertida.
- Pode ficar com ela pra você, Gray, é um favor que você me faz. – deu de ombros.
- Então, o que você descobriu sobre ela? - Julian estava curioso quanto a conversa de e , mas ele sorriu sem humor, não queria lembrar do quão estúpido havia sido, mas tentou se convencer de que era realmente necessário para o bem de todos.
- Nada.
- Ah, qual é, ? Não me diz que você agiu feito um imbecil com a sua garota, por favor, não me diz!
fez um gesto com os braços como quem pedia desculpas e recebeu um soco no braço do amigo. Ele protestou, mas em troca recebeu um olhar furioso.
- Eu não te entendo, sabe? Você é apaixonado pela garota desde que colocou os olhos nela e quando tem a oportunidade de fazer ela te notar você age feito um babaca! Não da pra acreditar. – encarou o chão, sabia que o amigo tinha razão, mas sua vida já era complicada demais para ter que lidar com sentimentos por uma garota que o odiava.
não pertencia ao mundo perfeito de , ele era uma pessoa extremamente difícil de lidar e seu histórico de vida não era dos melhores. E ainda que a garota sentisse algo por ele, não iria envolvê-la em sua confusão mental. Era melhor deixar as coisas do jeito que estavam, não queria bagunçar nada nem causar sofrimentos desnecessários.
- Eu tenho meus motivos, mas relaxa que eu não vou ser babaca aponto de fazer se ferrar nesse maldito trabalho. Porém vou fazer as coisas do meu jeito, ok? – Julian não tinha outra saída a não ser concordar com o amigo.
Andaram duas quadras até pararem em frente a lanchonete dos pais de onde Julian trabalhava, ia se despedindo quando viu a garota e sua turma através do vidro.
- Quer entrar? O lanche é por minha conta. – negou.
- Fica pra uma outra hora, mas obrigado cara. Falou! – ele deu um tapinha nas costas do amigo e seguiu caminho.
Julian, por sua vez, adentrou a lanchonete sob o olhar atento de . Izzie acenou para o garoto que retribuiu com um sorriso.
O garoto foi até o pequeno vestiário dos funcionários, guardou sua mochila e trocou o uniforme branco do colégio pelo azul bebê do trabalho. Ao sair notou que agora estava sentada sozinha no balcão mexendo seu milk-shake com o canudinho e mal se deu conta quando Julian se aproximou.
- Oi, ! – ele disse, fazendo a garota se assustar e quase derrubar a taça. Ela o olhou feio, mas logo riu, quebrando a tensão.
- Eu estava distraída. – ela empurrou a taça para o lado e encarou Julian de uma maneira que o intimidou. – Você conhece muito bem, não conhece?
Julian foi pego de surpresa com a pergunta de e ficou um pouco desconcertado.
Não queria de modo algum se intrometer na vida do amigo, sabia que era muito reservado e mesmo que tenha lhe confidenciado vários detalhes de sua vida porquê confiava em sua amizade, não era de direito seu entregar um relatório a caso ela pedisse.
- Sinto muito, mas não posso te ajudar nisso. – ele evitou olhar nos olhos de por saber que ela faria uma cara de cachorro abandonado. Não tinha como resistir dessa forma e se entregasse os pontos assim tão facilmente, talvez perdesse a amizade de .
- Julian, por favor, é importante! – ela insistiu. – Você sabe que Alaric pediu aquele maldito texto sobre a nossa dupla e o seu amiguinho não está colaborando comigo. Você é a minha salvação!
- Tenho certeza que não irá ser tão mal com você, espere um pouco e então vai saber tudo o que precisa, está bem? – ela o olhou desconfiada. Queria pensar em alguma forma de fazer o garoto falar, mas talvez ele fosse mesmo muito fiel ao amigo.
- Três dias de folga e não se fala mais nisso, hum? – ela bateu a mão na mesa e sorriu sapeca. Era uma proposta irrecusável visto que Julian só folgava uma vez por semana.
- Tentador... – ela abriu ainda mais o sorriso e bateu palminhas animadas. – Mas, não. Eu não posso aceitar e se você me permite, não tenho mais tempo pra ficar aqui conversando com você. Daqui a pouco Tristan aparece aí e não vai gostar nada de me ver aqui. Tchau, !
bufou, vendo o garoto se afastar sem dar tempo dela falar mais nenhuma palavra. Tudo bem, ela iria conseguir outras formas de saber mais sobre e já até sabia como. Qualquer coisa era melhor do que ir atrás do garoto e implorar para que ele fosse mais gentil.

***


estava deitado na cama ouvindo música. Aproveitava o raro momento de paz enquanto sua mãe não estava em casa. Era difícil lidar com seus ataques fúteis e extremamente desnecessários, mal conseguia falar sobre si mesmo enquanto ela relatava sobre seus problemas, como: cabelo ressecado, unhas por fazer e não ter nenhum sapato para combinar com a sua roupa nova. Erin era irritante e não via a hora de poder voltar a morar com sua avó no Texas. Ela sim se importa com ele e suas necessidades, mas precisava esperar mais alguns longos meses para acabar o colégio. Se ao menos tivesse a figura de um pai dentro de casa, talvez as coisas fossem mais fáceis e não havia um dia que não imaginasse como seria se o cara que ajudou a lhe colocar no mundo estivesse presente.
Ele balançou a cabeça, tentando afastar aqueles pensamentos melancólicos e resolveu ir até a casa de Julian jogar conversa fora. Pegou um moletom pendurado atrás da porta, vestiu e colocou o celular no bolso da calça. ouviu um barulho de carro e agradeceu por ter tido a ideia de sair de casa naquele exato momento, pois muito provável que sua mãe encheria sua cabeça com questões que não lhe interessavam.
Estranhou o fato de não ter escutado o barulho da porta muito menos a voz irritante de sua mãe chamando por seu nome como ela fazia todos os dias ao pisar dentro de casa. Então, o garoto foi até a sala e olhou pela janela.
- Não pode ser... – ele falou para si mesmo um tanto quanto surpreso com a figura parada ali bem em frente a sua porta. Logo ouviu a campainha tocar e pensou alguns segundos antes de abrir.
encarou Joe sem esboçar nenhum tipo de reação, o que deixou o homem um pouco confuso quanto se aproximar ou proferir algumas palavras, então o garoto tratou de quebrar aquela tensão que pairava no ar.
- Joe Hall, que bons ventos o trazem? – perguntou.
- ... Filho! – o homem puxou o garoto para um abraço, mas não se moveu.
- O que você quer, Joe? – foi bem direto. O sorriso desapareceu do rosto de Joe e ele se recompôs.
- Posso entrar?
não disse nada, apenas abriu espaço para que o mais velho entrasse e assim que o fez, fechou a porta e fez um gesto para que ele se acomodasse no sofá.
- Seja breve, eu estava de saída e a minha mãe não vai gostar nada de te ver aqui. –ele sentou no outro sofá, ficando de frente para o homem que tinha um olhar piedoso.
- Sua mãe, como ela está? – revirou os olhos. Estava sem a mínima paciência para rodeios.
- Sem rodeios, Joe, direto ao ponto!
- Filho... Eu sei que eu não sou o pai mais presente de todos e que não mereço que você me trate da melhor forma, mas eu quero mudar isso, e... – gargalhou de forma exagerada. Como era possível aquele homem passar anos sem entrar em contato e aparecer do nada querendo ajeitar as coisas entre eles?
- Sabe, Joe, as vezes eu penso em como seria se eu tivesse tido um pai presente e atencioso, que me ajudasse com as minha dúvidas e que sanasse os meus medos. – ele fez uma pausa dramática. –E que me desse a atenção que a minha mãe não me dá porque ela se importa mais com os negócios do que com o próprio filho. Mas eu tive um pai muito pior, que me abandonou quando eu ainda era uma criança.
Joe estava estático, era doloroso ouvir todas aquelas acusações vindas do próprio filho quando ele se importava sim e muito. Mas era difícil lidar com Erin, sua ex-mulher e mãe de . Ela nunca aceitara muito bem que ele tivesse se apaixonado por outra mulher e formado uma nova família.
- Você está sendo injusto, , eu não abandonei você, eu só me separei da sua mãe. Ela é louca! – o garoto assentiu.
- Nisso nós concordamos, mas só nisso. Só que mesmo ela sendo louca e uma péssima mãe, ela está aqui, não está? – fez menção de levantar, mas Joe fez sinal para que ele ficasse sentado. Ainda tinha muito o que dizer.
- , desde quando eu saí do Texas, nunca deixei de manter contato com a Erin e mandar dinheiro para ajudar nos seus custos, mas sua mãe nunca deixava eu falar com você e sempre recusava meu pedido pra que você fosse passar as férias comigo lá na França. Ela não queria que você tivesse nenhum tipo de contato com a minha atual mulher e com a minha filha, sua irmã. – Joe explicou e o olhou surpreso. Era novidade para ele que tivesse uma irmã.
- Minha mãe nunca me contou que mantinha contato com você. – de repente já estava interessado no que o pai tinha a dizer, já que inclinou o corpo para frente e o encarou de forma curiosa.
- Sua mãe entrava em crise sempre que eu mencionava ir ao Texas ver você, ela ameaçou sumir no mundo... E então eu pensei em entrar na justiça pra ter meus direitos, mas a sua mãe é muito imprevisível, você deve saber melhor do que eu. Então eu tive que me contentar em saber apenas por ela sobre você, mas aí um dia nós brigamos por telefone e eu disse que ia comprar uma passagem e ia levar você comigo e foi aí que ela trouxe você pra Bradford. Eu só soube algum tempo depois quando sua avó achou que eu tinha o direito de saber e me ligou. – abaixou a cabeça e encarou os próprios pés. Era muita informação para a sua mente assimilar, mas não sabia se podia confiar no que Joe Hall dizia, apesar de que conhecendo Erin como ele conhecia, era provável que ela tenha se vingado de Joe por ele tê-la deixado.
- Minha mãe sempre fez questão de dizer que você não ligava pra mim e que desde o dia em que você saiu de casa, nunca mais nos procurou. E eu não entendi muito bem quando ela disse que precisávamos vir pra Bradford, eu pedi pra que ela deixasse eu ficar com a vovó, mas ela não deixou. – Joe estava incrédulo. Agora entendia bem o porquê das acusações de contra ele.
- Eu vim até aqui, , porque a sua avó me contou que você está passando por um momento difícil, seu desempenho na escola está ruim e sua mãe parece não enxergar que você precisa de atenção e ajuda. Me deixa te ajudar, filho, eu posso te levar comigo, lá você vai ter tudo o que merece, eu prometo. Sophie é uma ótima pessoa e vai cuidar de você como um filho e Claire quer muito conhecer você. – Joe estava sendo sincero e esperava que percebesse isso. O amava com todo o coração e sentia muito que ele tivesse passando por todas essas dificuldades sem atenção e amor. Erin nunca quis engravidar, mas só o fez para tentar salvar seu casamento, o que até deu certo até certo ponto, mas o homem não aguentou as crises constantes da mulher e pediu o divórcio. Mas jamais teve a intenção de deixar para trás, só teve medo do que Erin podia fazer caso ele tirasse o menino dela.
, por sua vez, não sabia o que pensar, sua mente estava fervilhando em pensamentos e sua vida parecia ser toda uma mentira. Como sua mãe pôde mentir daquele jeito? Como pôde privá-lo da presença do pai? De amor e de carinho? Era extremamente egoísta da parte dela agir assim. O garoto deixou algumas lágrimas rolarem, então Joe se ajoelhou na frente dele e sentiu pena, como queria que fosse feliz assim como Claire é.
- Eu... Eu... Tô confuso, preciso ficar sozinho. – foi tudo o que ele conseguiu dizer. Joe não queria deixá-lo naquele estado, então insistiu para que o deixasse ficar um pouco mais, mas em vão.
- Você promete que vai me ligar assim que estiver em condições de conversar mais? – assentiu em silêncio. –Vai ficar bem?
- Não se preocupe, Joe, eu não vou fazer nenhuma loucura, eu só preciso ficar sozinho e pensar em tudo, deixa seu telefone e assim que der eu entro em contato. – Joe prontamente deixou o seu cartão em cima da mesa de centro e levantou seguido de , que o acompanhou até a porta.
- Até logo, filho, qualquer coisa que precisar, me liga, tá bem?
- Ok. – Joe deu um beijo na testa do filho e caminhou até o carro, onde acenou para o garoto e então partiu.
ficou alguns minutos parado na porta de casa fitando a rua tranquila a sua frente. Esperava que onde quer que sua mãe estivesse agora, que ela demorasse bastante a chegar, pois não sabia como iria conseguir agir normalmente depois de tantas revelações. Precisava extravasar aquela raiva que estava sentindo e gritar.
Desistiu de ir até a casa de Julian e voltou para dentro. Pegou o cartão que Joe deixou em cima da mesa e colocou no bolso. Então correu até o quarto e trancou a porta. Ficou ali parado e se permitiu chorar pra lavar a alma. Eram tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo e ele só era um adolescente que se sentia desprotegido e inseguro. Aquilo chegava a beirar o ridículo e por um momento se sentiu um completo idiota por se sentir daquela maneira. Será que Erin tinha alguma noção de como ele se sentia? Será que ela ao menos se preocupava de verdade? Num acesso de fúria esmurrou a porta do quarto até sentir dor, então pegou um porta retrato e atirou contra a parede. Precisava extravasar sua raiva de qualquer maneira ou então iria pirar. Então se jogou na cama e afundou o rosto no travesseiro abafando um grito, era quase como um pedido de socorro. Se permitiu chorar um pouco mais até não ter mais forças e decidir que precisava sair sem rumo. A vida era mesmo uma droga.

decidiu sair de casa para pegar um ar e pensar em uma forma melhor de saber mais sobre , já que ele mal havia olhado na sua cara no colégio. Pensou até em ir ao salão de beleza da mãe do garoto e fingir que precisava dos serviços dela só pra fazer perguntas, de forma discreta é claro. Então percebeu que a sua fissura por estava indo além da dinâmica proposta por Alaric. Havia algo em que a fazia querer chegar perto, apesar de achar ele um imbecil. Mas o olhar do garoto trazia um quê de mistério que fazia querer desvendar cada pedaço dele e isso irritava até. Sabia que não deveria sentir isso, era inútil e já havia provado que não fazia a mínima questão de tê-la por perto. Não era justo que ela corresse atrás dele por causa de um trabalho idiota. Adorava Alaric, mas queria xingar até a última geração dele por ter tido a brilhante ideia de juntar a turma em duplas e colocá-la justamente com o cara mais metido do colégio. Só podia ser um grande carma.
Depois de andar três quarteirões acabou se dando conta que involuntariamente estava na direção da casa de , mas nem sabia dizer ao certo porquê. Sem pensar duas vezes decidiu que não iria deixar o garoto intimidá-la daquela forma e que querendo ou não ele ia fazer a parte dele naquele trabalho nem que ela tivesse que montar acampamento na porta da casa dele. desceu a rua confiante e ensaiou algumas falas em sua mente, afinal de contas não queria parecer despreparada na frente dele. Dar o braço a torcer já estava sendo em partes uma grande humilhação. Mas o que não faria por alguns pontos na sua média, não é mesmo? Tá, não era só pelos pontos, mas era uma boa desculpa para estar perto de . Avistou a casa do menino e viu que a luz de fora estava acesa, mas o carro de Erin não estava na garagem. Quando se aproximou mais, viu um extremamente atônito sair cambaleando. Ele não parecia bem.
Sem raciocinar direito, correu até onde ele estava e chamou por seu nome.
- ! Meu Deus, sua mão está sangrando, o que aconteceu? – ele se assustou por ver a menina ali. Não queria que ela o visse naquele estado.
- Vai embora, ! – ele pediu irritado e saiu andando o mais rápido que pôde, mas não se deu por vencida e começou a segui-lo.
- Me deixa te ajudar, , que droga! – ele parou para olhá-la e pedir mais uma vez que ela o deixasse em paz, mas de repente a sua visão ficou turva e lhe faltou o ar. começou a ficar pálido e ficou desesperada, sem saber ao certo o que fazer.
- Respira, , por favor, respira!
- ... Eu... Tô sufocando. – estava sem forças e tentava puxar o ar. passou um braço do garoto pelo seu ombro e tentou gritar por socorro na tentativa de que algum vizinho de a escutasse.
- Eu preciso te levar pro hospital, agora! - ela colocou a mão no bolso e bufou por perceber que estava sem o celular. Rezou para que ao menos não tivesse saído de casa sem o dele.
- Não precisa. – ele falou baixinho, recuperando o fôlego, mas sua mão estava sangrando e ele ainda estava pálido demais.
- Cala a boca e me deixa fazer o certo, tá ok? Cadê o seu celular? – ela perguntou num tom autoritário e a encarou, estava fraco.
- Bolso. – ele sussurrou.
A menina tateou os bolsos do garoto e agradeceu pelo celular dele estar no bolso. Puxou o aparelho e rapidamente discou o número de emergência.
- Alô, por favor, é uma emergência! – ela disse e viu desmaiar em seus braços. Ela se desesperou, mas conseguiu repassar todas as informações necessárias para que viessem resgatá-lo.

Uma hora mais tarde enquanto andava de um lado a outro na recepção do hospital, a garota checou o celular de mais uma vez só para ter a certeza de que Erin não havia retornado suas ligações. Pensou em ligar para Julian, mas só iria criar mais tumulto por ali e tudo o que eles precisavam era de um responsável do garoto. Estava aflita pois ninguém havia aparecido para dar nenhuma notícia de e porque seus pais poderiam estar preocupados sem saber onde ela estava aquela hora da noite. Resolveu usar o celular de para avisar aos pais e então discou o número de sua mãe.
- Alô?
- Mãe, sou eu. Só tô ligando pra avisar que eu tô no hospital...
- Hospital? O quê? , o que aconteceu?
- Calma, mãe, um amigo passou mal e eu vim acompanhar até a mãe dele chegar, eu tô bem. Assim que ela chegar, se for tarde, eu ligo pra você vir me buscar, está bem?
- Me dê notícias, amo você. E melhoras pro seu amigo, querida!
- Obrigada, mãe, também amo você.
desligou e viu o nome de Erin aparecer na tela do aparelho. Respirou fundo e atendeu.
- , cadê você? O que aconteceu no seu quarto? – ela perguntou preocupada.
- Oi, senhora Erin, aqui quem fala é , amiga do . – ela respondeu cautelosa.
- Hum? Onde está meu filho?
- Senhora , o passou mal e desmaiou na porta de casa, por sorte eu cheguei a tempo de ajudá-lo e trazê-lo pro hospital da cidade. A senhora precisa vir pra cá, precisam de um responsável.
- Oh meu Deus, meu filho! Como ele está? Eu estou indo!
- Eu realmente não sei, senhora, mas é necessário que venha pra cá o mais rápido.
Erin desligou sem dizer mais nada e respirou aliviada por ter conseguido contatar a mãe de . Não saberia o que fazer caso tivesse que cuidar de tudo sozinha. Viu uma enfermeira caminhar pelo corredor e foi até ela tentar conseguir informações.
- Ahn, oi. Eu estou acompanhando . Hall . Eu preciso saber notícias dele, por favor.
- Você é parente dele? – ela olhou a prancheta em suas mãos.
- Sou irmã, . – ela mentiu, mas era por uma boa causa.
- Nós cuidamos do seu machucado, senhorita , e agora ele está sendo medicado, estava muito fraco. Pode ir vê-lo, quarto dez no final do corredor a direita. – a enfermeira indicou e sorriu agradecendo. Andou rapidamente até o quarto onde o garoto estava. Girou a maçaneta devagar e empurrou a porta. estava deitado na cama com os olhos fechados. Não sabia se ele estava dormindo, então entrou devagar sem fazer barulho, mas ele abriu os olhos e a encarou.
- Eu não queria acordar você, desculpa. – ele sorriu fraco. sentou na beirada da cama e o olhou. Estava pálido e com os cabelos bagunçados, mas ainda continuava bonito.
- Tudo bem. Obrigado por me ajudar... – ela sorriu. E antes que pudesse falar algo, ouviu a porta se abrir e Erin entrar desesperada.
- , meu filho, o que aconteceu com você? – o garoto revirou os olhos. Estava bem até ver a mãe chegar, então sentiu vontade de gritar para que a tirassem dali.
- Eu vou esperar lá fora. – saiu do quarto sob o olhar piedoso de , mas Erin estava muito agitada e talvez quisesse ficar sozinha com o filho.
A menina foi até a lanchonete e pediu um café duplo e voltou a sentar na sala de espera. Só sairia dali quando tivesse a certeza que estava realmente bem. A imagem do garoto desmaiado e com as mãos machucadas não saiam da sua mente, queria saber o que tinha acontecido para deixar daquele jeito, mas teria que ser cautelosa. Quinze minutos exatamente se passaram desde que Erin entrara no quarto, checou no celular de e então pensou em ligar para a mãe e pedir para que fosse buscá-la. Mas um tumulto no corredor chamou sua atenção.
bastante alterado passou feito um furacão com Erin em seu encalço e não entendeu o que estava acontecendo.
- ! – Erin gritou e o garoto parou para olhá-la.
- Ei, garoto, você não terminou a sua medicação! – a mesma enfermeira que havia falado com mais cedo repreendeu por ter saído sem a permissão do médico.
- Que se dane a medicação! – ele esbravejou e voltou a caminhar rapidamente a até a saída do hospital. o seguiu enquanto Erin observava a cena boquiaberta.
- , para aí, olha só o seu estado, garoto! – gritou o mais alto que pôde a fim de fazer o garoto voltar para dentro do hospital, mas ele nem sequer se deu ao trabalho de responder. – Hall , mas que inferno!
Ele parou e olhou para trás furioso. Não precisava de mais ninguém pegando no seu pé.
- Eu só quero ir pra casa, dá pra entender?
- Depois que você terminar a medicação, certo? – ela tentou argumentar, mas sem sucesso.
- vai pra casa e esquece o que aconteceu, por favor... – fechou os olhos e respirou fundo. Mas balançou a cabeça em negativa, o que deixou o garoto realmente irritado. – Quer saber? Que se dane você também!
- Por que você age assim? – ela perguntou e a fitou.
- Eu sou louco, fique longe de mim. – ele virou e continuou caminhando para longe de que estava parada, sem saber como agir. Até que parou e olhou para a garota novamente. – E , isso não é um pedido. É uma ordem!

+++


A movimentação na casa de Caleb era grande. Muitas pessoas circulavam por ali com suas bebidas em mãos e conversando animadamente. Izzie olhava de um lado para o outro esperando alguém em especial e ao seu lado sabia bem quem era. Mas ele não apareceria. Não depois do ocorrido da noite anterior, porém a garota não disse nada sobre o episódio do hospital a amiga.
- Julian não vem? – perguntou, bebendo o último resquício de bebida de seu copo.
- Ele teve um imprevisto, disse que se atrasaria um pouco. – Izzie deu de ombros e começou a mexer o corpo no ritmo da música. – Vamos dançar?
- Eu vou pegar outra bebida, vou depois tá? – Izzie assentiu e foi para a pista de dança, deixando para trás. A menina olhou em volta desejando ver por ali, mas sabia que seria impossível. O garoto nem tinha aparecido no colégio e ela havia ficado com seu celular. Uma hora ou outra ele teria que aparecer para pegá-lo de volta.
balançou a cabeça tentando afastar aqueles pensamentos ridículos e seguiu até o pequeno bar improvisado dentro da casa de Caleb e pegou mais um copo de cerveja. Avistou Izzie se divertindo na pista com Georgina e Maya, mas não sentiu a mínima vontade de ir até lá, então seguiu até os fundos da casa e abriu a porta de vidro que dava para a área da piscina. Haviam combinado de não usarem o local para segurança e para evitarem mais bagunça e agradeceu por aquilo, pois precisava ficar um pouco sozinha, aquela altura do campeonato já estava achando uma péssima ideia ter ido naquela festa já que ela estava sem clima nenhum. Mas Izzie havia insistido tanto que ela não teve coragem de dizer não a melhor amiga.
Se amaldiçoou por não conseguir tirar da cabeça, só queria saber se ele tinha ficado bem depois de ontem, mas nem Julian soube dizer, já que estava sem celular. A menina ficou alguns minutos fitando a piscina e ouvindo a música que vinha do lado de dentro da casa e quando resolveu voltar e esquecer todos aqueles pensamentos inúteis, viu que estava parado na porta a observando. Ela piscou algumas vezes só para ter a certeza de que não era nenhuma pegadinha da sua mente atordoada, mas ele continuava ali, impecável com uma jaqueta de couro e o os cabelos bagunçados de forma proposital. Os olhos verdes que na maioria das vezes pareciam sombrios, agora brilhavam de forma inexplicável. sentiu um arrepio percorrer sua espinha quando fechou a porta de vidro e deu alguns passos até onde ela estava.
- Oi. – ele beijou a bochecha de e sorriu. Mas ela não conseguiu esboçar nenhuma reação, por que era um cara extremamente imprevisível e isso a deixava bastante confusa.
- Você veio.
- É o que parece. – ela riu. Estava se sentindo uma completa idiota.
- Está tudo bem? – balançou a cabeça positivamente. Estava longe de estar bem, mas não queria transmitir suas preocupações a , não pelo menos naquele momento.
- Está. – ela assentiu em silêncio. Tinha tanto pra falar, mas não sabia por onde começar.
- Eu fiquei com o seu celular ontem, e como você não foi na aula hoje, eu trouxe na esperança de que você viesse e eu pudesse te entregar. – puxou o aparelho do bolso da calça e entregou na mão dele. enfiou no bolso sem dar muita atenção. Logo uma música lenta pôde ser ouvida dentro da casa e sem pensar, o garoto estendeu a mão para que o olhou confusa.
- Dança comigo?
- Eu tenho que voltar, Izzie deve estar me procurando e...
- Por favor? – ele pediu de forma que cedeu. A quem ela estava querendo enganar? Queria aquilo mais do que tudo. a puxou e colou o corpo da menina ao seu e começaram a se remexer no ritmo lento da música. inspirou o cheiro de , como era bom. Ele sorriu e depositou um beijo carinhoso na testa da garota.
- Desculpa por aquele dia na aula e por ontem, eu fui um estúpido com você quando na verdade eu não deveria. Você não merece ser tratada daquela forma. – ela levantou o rosto para encará-lo. a deixava confusa com as suas mudanças drásticas de humor, mas estava gostando daquela versão simpática do garoto.
- Você foi bem babaca e me deixou irritada. – ela confessou e riu. Sabia que havia conseguido tirar a menina do sério.
- Eu sei, foi de propósito. – ela o olhou incrédula e deu um tapa em seu braço. fez careta e passou a mão por ali, fingindo dor.
- Porquê? – ela quis saber e ele ponderou se deveria contar sobre o sentimento que nutria por ela. Mas preferiu fazer algo muito melhor. Não era bom com palavras.
segurou o rosto da menina e sem pensar, a beijou. E para a alegria do garoto retribuiu e aprofundou o beijo. Ela abraçou o garoto pela cintura enquanto ele puxava de leve o seu cabelo.
- Uau! – ela disse, partindo o beijo quando ficaram sem fôlego para continuar.
Ele colocou uma mecha do cabelo dela para trás da orelha e sorriu. Parecia inacreditável que estivesse beijando sob um céu estrelado com a lua como única testemunha. Clichê.
- , eu gosto de você, mesmo que não pareça. Mas a minha vida sempre foi muito complicada e a minha mente é uma confusão. Eu nunca quis envolver ninguém nisso, muito menos você. Por isso eu te afastava sempre, desde quando você resolveu se aproximar de mim na minha segunda semana de aula, no ano passado. Eu tinha acabado de chegar do Texas e estava em Bradford contra a minha vontade, estava tudo confuso... – ela deu um selinho em e acariciou o rosto do garoto. Ainda estava um pouco pálido.
- Eu acho que entendo, hm, eu sempre quis me aproximar de você por algum motivo que eu não sei qual é, mas quando eu finalmente consegui, naquele dia na aula do Alaric, eu comecei a pensar que era inútil da minha parte tentar.
- Ainda acha isso depois disso aqui? – ela pensou por alguns segundos.
- Você acredita que a gente possa se apaixonar por alguém rápido demais? – ela retribuiu a pergunta e sorriu.
- Eu acredito. Me apaixonei por você no mesmo instante em que coloquei os olhos em você, ! – estava surpresa com a revelação de , não poderia imaginar, já que ele nunca fazia questão de ser simpático.
- É difícil imaginar porque... Bem... – riu do jeito que tentava se explicar.
- Porque eu sou petulante e babaca! – ele usou as mesmas palavras que usou na aula de Alaric. Eles se entreolharam e explodiram em risadas. Quão estranho seria aquela cena para alguém que estivesse vendo do lado de fora? nunca ria, era sempre tão sério.
- O que te fez mudar de ideia? – perguntou enquanto brincava com os dedos do garoto entre os seus.
- Julian. Mas isso é assunto pra uma outra conversa, certo? Eu só vim aqui buscar meu celular, bem, na verdade o celular era só uma desculpa pra ver você e pedir desculpas, mas amanhã é sábado e eu acho que podemos fazer algo, não acha?
- Tipo um encontro? – ele concordou. – Isso é ótimo!
- Então passo amanhã na sua casa pela parte da tarde. – beijou os lábios de de forma suave. Como era bom, ele pensou.
Então se despediram e ficou observando passar pela porta de vidro. Aquilo tinha sido mesmo real? A revelação do garoto sobre seus sentimentos pegaram de surpresa, mas as palavras de haviam aquecido seu coração de uma forma gostosa e ela se deu conta que também sentia o mesmo por ele, só não queria admitir para si mesma.

***


esticou o pano na grama do Peel Park sob o olhar atento de , o lugar era ótimo pra fazer piquenique no fim de tarde. Tiraram tudo o que tinha arrumado dentro da cesta e sentaram lado a lado, observando o movimento do local.
Por ali crianças corriam de um lado para o outro brincando, casais namoravam e algumas pessoas assim com eles faziam um piquenique também. roubou um beijo de enquanto ela estava distraída e ela riu. Eram dois adolescentes bobos descobrindo um novo sentimento.
- Preto. – disse partindo o beijo e o olhou em dúvida. – Preto é a minha cor favorita.
- Bem sombrio, uh! – colocou um morango na boca e fez o mesmo.
- Roxo é a minha cor preferida!
- Sério? Eu nem tinha percebido. – ele apontou para a pequena mecha de cabelo colorida da garota e ela sorriu. passou geléia em uma torrada e colocou na boca, mas fez careta.
- Odeio geléia, eca! – a garota pegou um morango e afundou no pote de nutella, colocando na boca em seguida.
- Você já provou? – ela negou.
limpou o canto da boca da menina com um guardanapo e ela aproveitou a aproximação para encostar seus lábios nos dele. Teve a sensação de que milhares de borboletas estavam fazendo a festa em seu estômago.
- Aposto que nada é mais gostoso do que o gosto do seu beijo. – ela respondeu.
- Eu sei. – a menina deu um tapa de leve no braço dele que fez cara de convencido.
- , o que exatamente aconteceu naquela noite que você passou mal? – ela perguntou curiosa, mas sentiu o desconforto do garoto diante de sua indagação. – Não precisa contar se não quiser, tá?
Ele fechou os olhos e apertou sua mão de leve, o encorajando.
- Meu pai. – ele fez uma breve pausa. – Ele foi embora quando eu tinha dez anos e desde então eu não soube mais notícias suas, pelo menos era o que minha mãe dizia, que ele não ligava e não queria saber de mim...
respirou fundo, não queria chorar, não na frente de . Pois se sentiria vulnerável e odiava que as pessoas sentissem pena dele.
- E aí eu passei a minha vida achando que meu pai não me amava, que nunca mais iria vê-lo. E minha mãe nunca foi um exemplo, sabe? Mesmo perto ela nunca se importou de verdade, eu tive que me virar sozinho boa parte da minha vida. Mas aí minha avó pediu pra cuidar de mim enquanto minha mãe estava ocupada cuidando dos seus negócios lá no Texas, passei a morar com ela e ver minha mãe com menos frequência e pra ser sincero minha avó conseguia suprir toda a falta que meus pais faziam no dia-a-dia, foram os dois anos mais felizes que eu tive. – estava com os olhos marejados, doía saber que se sentia daquela forma. Nunca teve pais ausentes e não conseguia imaginar ter que crescer sem atenção, amor e cuidados das duas pessoas mais importantes de sua vida. Era injusto que tivesse passado por tudo aquilo sozinho.
- Por que vieram pra Bradford? – ela perguntou.
- Final do ano passado minha mãe resolveu vender a parte dela no salão lá no Texas, disse que um amigo havia feito uma proposta irrecusável aqui em Bradford e que nós iríamos nos mudar imediatamente. Eu quis ficar lá com a minha avó, mas ela não deixou. Disse que ela não estava em condições de cuidar de mim, o que não era verdade e minha avó não pôde fazer nada por que Erin é minha responsável legal.
- E aí você entrou no colégio no fim do ano, eu lembro como você foi a sensação entre as garotas. – ela fez careta e sorriu fraco. Não importava nenhuma garota, só tinha olhos para .
- Sabe que isso nunca importou, né? Eu agi mal porque queria irritar Erin pra ver se ela me mandava de volta ao Texas, mas foram inúteis todas as minhas tentativas. – ele deu de ombros. – Então na quinta a noite eu tive a maior surpresa da minha vida. Joe, meu pai, apareceu lá em casa e me contou toda a verdade. - estava vidrada em , queria saber tudo sobre sua história. Então apenas fez um gesto para que ele continuasse a falar.
- A verdade que minha mãe escondeu de mim por todo esse tempo... Ele nunca me esqueceu e manteve contato com Erin desde sempre. E ainda mandava dinheiro para ajudar nos meus custos!
- Mas por que ele nunca te procurou? – a pergunta era óbvia.
- Erin surtava sempre que ele falava em ir me visitar ou mandar me buscar pra passar férias na França. Joe casou com outra mulher e teve uma filha, Claire. Então ele achou melhor não bater de frente com a minha mãe com medo do que ela poderia fazer, entende? Minha mãe tinha crises horríveis e tomava muitos remédios e eu nunca entendia muito bem o porquê. Agora eu sei bem... – ele fitou o nada lembrando das inúmeras vezes que viu sua mãe chorar desesperadamente e quebrar objetos dentro de casa, mas ele nunca sabia como ajudá-la.
- Que loucura isso...
- Literalmente uma loucura!
- Bom, mas como Joe resolveu vir atrás de você só agora?
- Meus pais tiveram uma briga feia e Joe ameaçou ir até o Texas e me levar com ele pra França contra a vontade da minha mãe, então ela resolveu que ele não nos encontraria aqui em Bradford, mas a minha avó achou que era injusto Joe não ter notícias minhas e contou a ele. Até porque ela sabia que eu estava passando uma fase bem difícil. – abraçou de lado e apoiou a cabeça em seu ombro. Agora entendia bem o comportamento do garoto, ele só precisava de afeto e isso ela tinha de sobra pra dar. Mas sabia também que não seria fácil. era um cara inconstante e cheio de altos e baixos, mas estava disposta a encarar esse desafio.
- E quanto ao seu pai? Já sabe o que fazer? – ele balançou a cabeça em negativa. Não tinha pensado direito sobre esse assunto.
- Sinceramente? Não! – ele foi sincero. Estava perdido. Queria voltar pro Texas, mas ao mesmo tempo pensava em dar uma chance a Joe, mas no fundo tinha medo de magoar sua mãe e deixá-la sozinha. Ela não era a pessoa mais certa no mundo, tinha lá seus defeitos, mas ele a amava e entendia que Erin sofreu muito com a partida de Joe. Ela nunca deixou de amá-lo, mas seu jeito inconstante fez com que o homem a deixasse. era igual e odiava se parecer tanto com a mãe.
- Eu espero que as coisas se ajeitem, , de verdade. Mas não faça nada sem pensar antes, tudo bem? – ele passou a mão pelo rosto da menina e assentiu.
- Obrigado. – falou sincero e ela retribuiu com um beijo.
- Já pensou qual universidade vai cursar quando acabar o colégio? – ela perguntou mudando de assunto. já havia traçado seu futuro, não pensava em ir para a universidade. Não pelo menos agora. Mas com a aparição de Joe as coisas se tornaram mais confusas ainda, só que não queria falar sobre isso agora, sua mente estava confusa demais.
- Ainda não. Você já? – ele omitiu sobre não pensar em ir pra universidade. Mas não achou que seria de todo mal, depois conversaria com ela sobre seus planos futuros.
- Desde sempre. Já pensei em algumas universidades em Nova York, até. É claro que meus pais preferem que eu fique em Bradford mesmo, mas eu quero me aventurar, saber como é morar sozinha, descobrir o mundo... Acho que eles vão acabar aceitando no fim das contas. – sentiu uma pontada de tristeza. Ele pensava em voltar pro Texas e queria ir pra Nova York. Mesmo que ele ficasse em Bradford, não ficariam juntos de qualquer forma. Sentiu-se menos culpado, então.
- Não quero pensar nisso agora... Só quero aproveitar esse tempo com você, afinal temos um trabalho pra entregar quarta e pra isso eu preciso saber mais sobre você. – assentiu.
Passaram o resto da tarde trocando confidências e descobrindo mais sobre o outro. Naquele momento e estavam longe de qualquer problema e preocupação.

Algumas horas mais tarde quando voltavam do piquenique no Peel Park, e resolveram parar na lanchonete para falar com Julian e convidá-lo pra saírem naquela noite. mal se dera conta de que seus amigos estavam ali e olhavam fixamente para suas mãos entrelaçadas na de . Ela corou, mas não fez menção de soltar ou se esconder.
- Olha só, parece que temos um novo casal aqui. – Kevin comentou, mas sua voz estava carregada de sarcasmo o que deixou irritada.
- Alguém esqueceu de contar alguma coisa pra melhor amiga, né, ? – foi a vez de Izzie se pronunciar. O seu tom de voz e a sua expressão não escondiam a raiva por ver a melhor amiga com , o garoto que ela estava afim.
- Oi pra vocês também. Eu e somos uma dupla se é que vocês não lembram e além do mais não devemos explicações a vocês. – deu de ombros e puxou para o balcão onde Julian assistia a tudo boquiaberto.
- Resolveu se debandar pro lado do esquisitinho, ? Bela amiga você, hein! – Luke bateu palmas e fez menção de ir até onde eles estavam, mas apertou sua mão a fim de evitar uma briga desnecessária.
- Não liga pra eles. – Julian disse.
- Julian, traz dois milkshakes de chocolate, por favor? – pediu ao garoto que rapidamente foi até a cozinha fazer os pedidos.
viu Izzie se aproximar com um sorriso cínico e não entendeu porquê ela estava agindo daquela forma. Afinal, elas eram melhores amigas, não eram?
- Você é uma traíra, ! – ela acusou.
- Eu não estou entendendo você, Izzie – falou baixinho, encarando firme a amiga.
- Você sabia do meu interesse em . – o garoto revirou os olhos. Nunca pensou em se envolver com Izzie de maneira alguma. Era injusto que estivesse acusando daquele jeito.
- Você está sendo infantil, Izzie, eu nunca me envolveria com você, e além do mais é sua melhor amiga, não é? – a loira riu sarcástica. Estava furiosa.
- Cuidado, , você vai ser só mais uma não mão do , assim como Georgina e Maya foram. E aí ele vai voltar pro Texas e você vai ficar sozinha, baby, quem avisa amiga é! – Izzie mandou beijos no ar e se virou, deixando sem entender muito bem o que ela tinha falado.
- Maya e Georgina? – ela perguntou, esperando por alguma explicação do garoto.
- O quê? Foi só um beijo e...
- É sério isso, ? – estava incrédula. – Então Izzie seria a próxima, depois de mim?
- , não. Me deixa explicar o que aconteceu, olha só...
- Você não me disse que vai embora pro Texas, porquê? – a menina sentiu que poderia chorar a qualquer hora.
Kevin, Maya, Georgina, Luke, Caleb e Izzie levantaram-se para ir embora, sem olhar para ao dois sentados no balcão. Mal haviam se entendido e já estavam trocando farpas novamente.
- o que isso importa? Você mesmo disse que vai pra Nova York cursar uma universidade quando o colégio acabar, não é como se eu fosse te deixar aqui! – ele esbravejou.
- Eu disse que pensei em Nova York e não que eu vou, mas você deveria ter me dito sobre seus planos, . E meu Deus, você ficou com Maya e Georgina e não me disse nada! – ela levantou na mesma hora que Julian apareceu, colocando os pedidos em cima do balcão. Estava sem entender o clima ruim entre eles.
- , vamos conversar, calma. – pediu, tentando controlar toda a raiva que estava sentindo dentro de si.
- Eu não quero mais conversar com você, ! – então ela se virou, deixando com a maior cara de taxo fitando a taça em sua frente.
- O que houve? – Julian perguntou desnorteado.
- A vida... A vida é uma bela merda, meu caro amigo! – sem nem mexer no milk-shake, tirou a nota do bolso, deixou em cima do balcão e foi embora. Só queria ficar sozinho e esquecer de todas as merdas que vinham acontecendo ultimamente.

***


Os dias pareceram se arrastar. se sentia cansada mentalmente e boa parte daquilo tinha a ver com . Não se falavam desde o sábado quando brigaram na lanchonete de seus pais e pra piorar seus amigos mal olhavam na sua cara. O único que ainda tentava fazer com que a garota não se sentisse tão só era Julian, que se dividia entre dar atenção a ela e ao amigo.
sentou em uma carteira um pouco mais afastada dos amigos, faltavam apenas dois minutos para a aula de Alaric começar e então se sentiu apreensiva. Era dia de entregar o trabalho da dinâmica e não sabia ao certo como funcionaria, seria péssimo se tivessem que apresentar o texto na frente de todos. Viu Julian passar pela porta da sala e esperou vir logo atrás, mas não aconteceu. Alaric entrou em seguida pedindo para os alunos formarem um grande círculo no meio da sala e sentarem de forma que as duplas ficassem lado a lado. E antes que ele pudesse começar a falar, Julian foi até ele e lhe entregou um envelope amarelo.
- pediu pra entregar o texto dele. – ouviu Julian dizer. Será que tinha acontecido algo de grave com ?
- está doente? – Alaric perguntou.
- foi pra França com o pai e isso é tudo o que eu sei. – Julian disse e Alaric assentiu. Conversaria com Collins depois da aula para que ela lhe explicasse a situação do garoto.
sentiu o coração quase parar com aquela informação. não poderia ter ido embora daquela forma, não sem antes falar com ela e resolver as coisas.
Ficou alguns segundos absorta em pensamentos que nem se deu conta que Julian estava parado em sua frente balançando um envelope amarelo igual ao que entregou a Alaric.
- mandou pra você, é uma cópia do texto e tem um bilhete também. – pegou o envelope sem ter certeza de que queria ler o que estava escrito ali.
- Obrigada, Julian! – ele assentiu e foi se acomodar ao lado de Izzie.
se sentiu tonta, então pediu a Alaric para sair da sala pois não estava se sentindo bem. Segurou o envelope contra o peito e saiu.
Desceu as escadas e procurou um lugar onde Collins não pudesse encontrá-la e mandá-la de volta para a sala. Precisava ficar um pouco sozinha e pensar.
Sentou em um banco embaixo de uma árvore e abriu o envelope, junto com o papel dobrado que supôs ser o texto escrito por sobre ela, havia um pequeno bilhete.

, aí está o texto que escrevi sobre você, quis que você ficasse com uma cópia porque é importante que você saiba como eu vejo você, talvez assim você acredite que eu estou apaixonado de verdade e que nunca foi minha intenção te magoar. Talvez quando você ler eu já esteja longe, estou indo pra França com meu pai e talvez não seja algo passageiro, eu só preciso pensar um pouco. E caso eu não volte, te desejo tudo de melhor, obrigado por tudo.
Com carinho, .


enxugou as lágrimas que rolavam pelo seu rosto. E se tivesse mesmo ido embora pra sempre? Ele nunca teria a chance de saber que ela também estava apaixonada e que tinha agido como uma idiota. Não teve coragem de ler o texto ainda, isso só a faria se sentir mais triste e culpada. só precisava de alguém que o entendesse e ela não foi capaz de fazer isso. Mas a vida era mesmo muito injusta.
guardou o bilhete novamente dentro do envelope e o segurou contra o peito.
- Eu também estou apaixonada por você .
Talvez, um dia, ele voltasse e ela teria a chance de fazer diferente.



Fim.




Nota da autora: Eu não tenho muito o que falar, só agradecer a você que leu até aqui. E não pensem que a história desses dois acaba por aqui, viu? ;)
Beijos, Ray



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.




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