Capítulo Único
20/07/2018
– , eu já disse milhares de vezes que a culpa não foi minha. – Dizia insistentemente ao telefone.
– Eu preciso que você me escute.
– E eu não estou? – Argumentei.
– Ela é nossa melhor secretária, esses desentendimentos de vocês não podem atrapalhar os negócios.
– . – Ralei. – Vou te falar pela última vez, eu não tive parte nenhuma na demissão daquela mulher.
– Ela não seria mandada embora do nada. – Bufei revirando os olhos.
– Talvez se ela não tivesse sido flagrada cuidando da ereção do filho do sócio de seu pai. – Gesticulei mesmo ele não podendo ver. – Ela ainda estaria com o cargo.
– O quê? – Seu tom de voz mudou.
– Isso mesmo que você ouviu, querido. – Tentei pegar aqueles arquivos enquanto segurava o telefone pressionado ao ombro. – Parece que demitir a secretária era a melhor escolha para o mau caratismo do filho. – Dei de ombros.
– Quando chegar irei conversar com meu pai.
– Tenho que desligar. – O cortei. – Preciso entregar umas pastas para seu irmão.
– Ele quer mesmo se interar dos negócios depois de tantos anos sem aparecer? – Bufou.
– Já que fiquei com essa responsabilidade, o quanto mais rápido melhor. – Desliguei.
Fiquei parada por alguns segundos encarando aquela porta marrom, assim que eu a cruzasse para fora estaria caminhando a seu encontro. Cinco anos parecia ser tão pouco agora. Conheci em uma despedida de solteiro de uma colega de faculdade, ele era amigo do noivo. Naquela noite as meninas iriam para um clube onde homens dançavam sensualmente arrancando peças de roupas, alguém tinha dado com as línguas nos dentes e contado para algum dos homens. Então o noivo decidiu que ele e sua trupe seriam os dançarinos. Apesar de alguns forem do desastre ao fiasco, tinha um deles que parecia ter maestria no que fazia, não precisou tirar mais do que uma peça de roupa para levar todas ali ao delírio.
– Ele está vindo na nossa direção. – Emma, a noiva, comentou sorridente.
– O magrelo igual uma salsicha também. – Ri vendo a pessoa desajeitada.
– Tomara que ele seja para você. – Riu sapeca. Em seguida soltei um sorriso cínico ao ver que o mesmo a chamou para uma dança. Olhando de soslaio percebi que aquele moreno estava parado a poucos centímetros de distância esperando ser notado.
– Boa noite. – Sorriu, parecia que seus olhos castanhos escuro também sorriam pelo pouco que podia enxergar de seu rosto coberto por uma máscara. E então, eu me senti como uma adolescente tendo sua primeira vez, o que era algo que me trazia vergonha, ele dançando com seu corpo colado ao meu, sua respiração quente em meu pescoço e até mesmo seu gelado beijo ao meu maxilar. Alheia ao que acontecia a minha volta, deixei um suspiro sair, aquele homem era muito profissional, era de outro mundo, superando quaisquer expectativas criadas por Matt Bomer ou Channing naqueles benditos filmes. O clima foi esquentando, mãos explorando o corpo um do outro, até ele me puxou para o cômodo ao lado. Enquanto estávamos ocupados, Emma gritava ao descobrir seu noivo e os amigos, gritos que foram totalmente ignorados no momento.
– Me desculpe, . – Escutei alguém me chamando. – está te chamando.
– Eu só estava lembrando se estavam todas aqui. – Avancei em direção a porta. A questão era que eu não o via há cinco anos, há dois anos após o casamento eu já estava namorando que por ironia era seu irmão, mas uma transa não poderia ser algo que impedisse os nossos sentimentos e então, quando pensei que o veria no meu casamento bateu um certo desespero. Por sorte ele não compareceu, como a todas as festas de família por todo esse tempo. Só nos vemos por fotografias, falamos algumas poucas vezes ao telefone e uma vídeo chamada pelo Skype, a qual tentei aparecer rapidamente, evitando contato visual.
– Desculpe a demora. – Entrei na sua sala.
– Eu preciso terminá-las ainda hoje. – Pegou de minhas mãos começando a folhear. Eu fiquei parada feito um dois de paus. – Pode ir.
– Ah sim, qualquer coisa – Gesticulei nervosa. – pode ligar. – Soltei o ar ao entrar em minha sala, ele pareceu nem se lembrar, nenhuma reação que o evidenciasse. Eu precisava manter-me ocupada.
22/07/2018
– Amor, você sabe onde foi parar aquela pasta com os projetos do C.O? – entrava em minha sala apressado.
– Todos os meus projetos recentes estão com seu irmão. – Falei sem desgrudar os olhos do computador.
– Não acredito que ele vá levar isso a sério. – Se jogou na cadeira da frente.
– Qual o problema? Talvez ele tenha cansado de viver isolado.
– Acontece que ele sumiu e nem se deu o trabalho de responder as mensagens quando a empresa estava em crise. – O seu tom era muito diferente de mágoa. – E logo agora ele vem bancar o bom samaritano depois de toda minha dedicação. – Jogou os papéis em minha mesa.
– Você não pensou que seria dono da empresa e que ele aceitasse. – Afirmei.
– Eu dei meu sangue por esse lugar, trabalhei quase de graça. – Tentou defesa.
– Você já se ouviu? – Perguntei. – Não importa o que aconteceu, se um dia seu pai morrer tudo será partido em dois. – Ameaçou a interromper. – E agradeça por ter só um irmão, poderia ser uns cinco.
– não pode passar por cima de mim. – Se levantou. – Ela vai me ouvir. – Eu poderia deixar o circo pegar fogo e simplesmente fingir não ver as chamas, mas não, agora lá estava eu correndo atrás do meu marido, tentando tirar aquela ideia esvairada. – Precisamos conversar. – Disse abrindo a porta.
– , . – A voz de Emma chamou nossa atenção.
– Oi. – Respondi sem graça, fitando séria o homem ao meu lado.
– Assim que acabar venha para minha sala. – Deu as costas sem ao menos cumprimentar.
– Quanto tempo não nos vemos. – Carl quebrou o clima.
– Por onde andaram?
– Emma foi cuidar do pai doente, e eu continuei no trabalho.
– Estimo melhoras a ele.
– Está tudo bem já. – Ela sorriu. – O que deu no ?
– sempre foi uma caixinha de surpresas, volúvel e mimado. – E então após todos aqueles minutos ele resolveu entrar na conversa.
– Não é bem assim. – Tentei assegurar.
– Adivinha o que estávamos conversando antes de você chegar? – Meu corpo ficou tenso. – Lembra da minha despedida de solteiro? – Além de querer cavar um buraco para me esconder, minha primeira reação foi fechar aquela porta.
– Depois daquela dança eu não sei como você conseguiu se casar com Carl. – Tentei desviar o assunto.
– era o único que sabia dançar ali. – Emma pareceu inocente.
– Todos concordam com você. – Me fitou debochado.
– O mais incrível foi a cara da Emma quando me descobriu. – Começou a rir. – Ela só sabia me dar tapas e gritar.
– Você estragou minha noite e até hoje culpo Sam pela língua solta.
– Eu te disse que Sam não conseguia guardar segredo. – O velho “eu te avisei”.
– Mas você nem tem do que reclamar, estava se agarrando com no banheiro. – Meus ouvidos pareceram escutar tudo em câmera lenta, como o estralo de um vidro.
– A parte mais irônica de tudo é a situação que se encontram hoje. – Carl disse.
– Você nunca me contou com detalhes, sempre desviou. – Era nítido que meus amigos queriam me enfartar.
– Eu já te disse. – Falei. – Dançamos, nos beijamos e quando eu ouvi o barulho fui ver o que estava acontecendo. – Gesticulei. – Eu não iria transar com um desconhecido no banheiro de um pub de gogoboys, onde milhares de gente teriam se fodido ali.
– Eu tenho lembranças bem diferentes da sua. – Me fitou.
– Às vezes as bebidas levam ao delírio. – Rebati.
– Ou ela apaga as memórias também. – Mudou a postura – Posso refrescar sua memória. – Um duplo sentido na frase. – Você não pareceu se importar com aquele banheiro, nem muito menos quando te coloquei sentada naquela pia encardida, nem desconfortável em retirar minha calça. – Emma e Carl pareciam nem respirar. – Nem preocupada ao ponto de arranhar toda minhas costas, não se importou com os gritos vindos do outro cômodo ou em só saber com quem estavam transando no final, quando te dei aquela máscara. – Seria loucura demais dizer que eu estava com calor apenas com aquelas lembranças? – As marcas em um corpo demoram um tempo para sair, mas as memórias não.
– Só lembramos daquilo que realmente faz sentido em nossa vida. – Levantei. – Deveria escrever um livro erótico, pois criatividade é o que não lhe falta. – Saí sem me despedir.
26/07/2018
– Talvez eles tenham razão. – Disse ao meu cunhado, vendo os contratantes sair.
– O que me deixa curioso é por que só agora resolveram falar – Arrumava as pastas. – Esperaram o projeto ser finalizado, orçamento e todo pessoal contratado para propor mudança.
– Pode ser falta de oportunidade das outras vezes. – Terminei de tomar meu cappuccino.
– Alguém não apresentou a ideia ou não lhes deu voz, a parte mais importante para o projeto.
– Eu não estava presente, não posso dizer sobre. – Eu estava preparando para dizer que estava indo para casa, quando algo em uma das pastas pareceu chamar sua atenção, eu poderia aproveitar do seu momento de desconcentração e sair, mas continuei ali, analisando todas as suas feições, os seus olhos semicerrados lendo e relendo cada linha que poderia estar escrita. O tempo só lhe tinha feito bem.
– Eles tinham pedido mudança no projeto. – Falou.
– O quê?
– Está escrito aqui. – Apontou para o papel.
– Isso é um equívoco. – Falei caminhando em sua direção. – Eu não recebi nada disso. – Peguei o papel analisando.
– Esse papel é autêntico. – Afirmou. – É timbrando, carimbado e assinado. – Andou de um lado para o outro. – Tem alguém aqui querendo me fazer de trouxa.
– Eu sou a responsável por todos os projetos da empresa, mesmo que o setor de arquitetura faça a sua parte, todos passam por mim antes de serem propostos. – Falei.
– Acontece que esse projeto é todo seu, desde o arquitetônico ao estrutural. – Me encarou. – Está tudo assinado por você. – Procurou as pranchas entre as papeladas.
– Você não está insinuando que eu tenha ignorado esse pedido de mudança? – Perguntei.
– Não sei.
– Eu sou profissional. – Afirmei. – Sempre que um cliente me procura, deixo o espaço em aberto para dizer como quer, para mudanças. – Bati a mão na mesa. – Nunca impus os meus modelos a quem quer que seja.
– Não precisa se alterar.
– Como? É sobre meus ombros que estão caindo a culpa. – Me aproximei. – Se eu tivesse feito isso não deixaria esse papel escondido em alguma pasta aleatória. – Apontei. – Existe uma máquina que tritura papel na empresa, sabia?
– Você fica linda brava. – Comentou.
– Vá catar coquinhos. – Seu rosto se aproximou do meu, tirando todo fluxo de minha respiração, meu coração provavelmente estaria alojado na garganta. Sua mão pareceu se encaixar perfeitamente ao maxilar, seus lábios foram de encontro aos meus, sem ao menos pensar já estávamos em um beijo ardente.
– Com licença. – Batidas na porta fez com que nos afastássemos rapidamente. – Eu vim recolher as pastas.
– Essa fica comigo. – Peguei me retirando depressa e torcendo que a secretária de não tivesse visto nada.
07/08/2018
– Não, Emma, já te disse. – Tentava argumentar.
– Você sabe que ele é amigo do meu marido?
– Claro que sei. – Procurava minha chave
– Então não minta. – Ralhou. – Estou há quase uma semana tentando te arrancar algo.
– Eu preciso arrumar umas coisas aqui, depois conversamos. – Desliguei sem ouvir um tchau.
Desde aquele beijo, ela não saía de minha cola me perguntando, maldita hora que correspondi. Aquilo me assombrava, tirava o sono, e aparecia nos mais simples sonhos.
Na noite anterior dormi no sofá esperando chegar em casa, sonhei com minha lua de mel, mas nela estava usando uma máscara idêntica a que tinha me desfeito tempos atrás, seus olhos às vezes mudavam de cor, nada que importasse até o momento que a máscara desaparece revelando o rosto que roubava vários dos meus pensamentos.
– pediu que eu lhe desse carona. – Adentrou minha sala, sem me olhar.
– Onde ele está? – Perguntei.
– Ele não me explicou, só me disse isso por mensagem. – Olhava para o relógio.
– Estou pronta. – O caminho até a avenida principal pareceu longo e silencioso o bastante, a não ser pelas melodias vindas do rádio. Pelo retrovisor eu tentava disfarçadamente olhar seu rosto, suas feições sérias, sua barba um pouco desalinhada e até mesmo seu cabelo bagunçado, eram totalmente o oposto de , ombros largos, me atreveria até imaginar que era malhado. Desviei o meu olhar assim que percebi o seu.
– Vamos ter que pegar um caminho mais longo.
– Por quê?
– O acidente ali em frente. – Apontou. – Vamos ter que pegar um desvio.
– Tudo bem. – Fiquei concentrada naquela música enquanto o caminho parecia ser uma grande volta em círculos.
Sempre preocupado que isso poderia ser arruinado?
E isso faz você chorar?
Quando você está lá fora fazendo?
Você está apenas sobrevivendo?
Até que em um sinaleiro notei que sua postura ficou tensa, olhando para sua esquerda e apertando o volante, por um momento pensei que poderia ser um outdoor com foto da sua esposa ex-modelo falecida há uns anos. Tentei me manter quieta e neutra, mas meus olhos curiosos buscaram o que ele tanto encarava, era um aparente casal trocando carícias, mesmo com um filtro cinza no vidro daquele estabelecimento, reconheci o cabelo totalmente alinhado, aquele rosto que me acordava a toda manhã.
– Dá para ir mais depressa? – Uma lágrima teimosa escorria.
– Você quer mesmo ir? – Questionou.
– Eu só quero ir para casa e descansar. – Escutando buzinadas ele seguiu em frente. Uma metade em mim sentia toda culpa do mundo por aquela cena, todas as incertezas, era como uma criança com seu castelo de areia destruído pela maré, e a outra, a outra não se culpava por beijar .
– Eu... – Tentou falar assim que estacionou em frente a minha casa. – Queria entender o que acontece. – Socou o volante. – Em um dia nos beijamos e você pede para que eu me afaste de você, e depois você age como não tivesse visto aquilo.
– Os fins não justificam os meios.
– Não justifica, mas eu quero que sim.
– . – Disse numa tentativa que ele destravasse a porta.
– Você não sabe o que eu senti por você aquela noite, eu não conseguia tirar os olhos os seus.
– Foi só uma noite, você agiu como se fosse. – Rebati.
– Eu estava confuso, há um ano eu tinha perdido minha esposa em um acidente. – Eu não era a única perdida ali. – Era como se eu tivesse a traído.
– Não tem como trair alguém que está morto, alguém que não faz mais parte de sua vida.
– Por todos esses anos ela nunca esteve longe. – Me encarou. – Mas era você, você que estava em minha mente, principalmente depois das fotografias do noivado.
– Eu sou esposa do seu irmão. – Avisei.
– Você pode...
– Eu estou de cabeça cheia. – Suspirei. – vai chegar mais tarde e vamos conversar sobre isso, nos amamos e vamos superar esse fato.
– Esse fato não é como se vocês não pudessem ter filhos. – Destravou a porta. – É sobre quanto tempo ele te engana.
– O que você quer que eu faça? – Perguntei. – Que eu me separe e jogue três anos de casamento no lixo, como se não fôssemos felizes e me jogue em seus braços? – Disse ríspida. – Você é meu cunhado, , nem se eu quisesse isso aconteceria. – Abri a porta.
– Você age como se fosse a pior coisa do mundo o que sentimos, como se aquela noite tivesse sido apenas sexo casual de adolescentes.
– E foi apenas isso. – Saí do carro. – Não haja como se a situação fosse uma coisa normal. – Bati a porta tentando me recompor. Ele permaneceu ali por alguns minutos até dar partida, saindo o mais rápido que podia.
Alguém é obrigado a se queimar
Mas só porque queima
Não significa que você vai morrer
26/08/2018
Já se perguntou sobre o que ele está fazendo?
Como tudo isso se tornou mentiras?
Às vezes eu acho que é melhor nunca perguntar por quê.
– Até que enfim chegou. – Falei assim que ele ligou a luz da sala.
– O que está fazendo aí?
– Onde foi que nos perdemos? – Ignorei sua pergunta.
– Eu não sei. – Respondeu.
– Nem te reconheço mais. – Abanei a cabeça. – A sua sede para ser dono da empresa, o seu interesse para apresentar os projetos de outra cidade. – Enumerei. – Tudo isso era uma desculpa para ter um momento com outra.
– Não é bem assim.
– Você quase me prejudicou com o projeto dos Ramires. – Soltei. – Você tem noção disso?
– Não iríamos recomeçar? – Perguntou. – Você propôs. – Me deu as costas.
– Eu propus esquecer tudo que aconteceu, aquela cena. – Respondi. – E não que aceitaria tudo isso.
– A partir do momento que você me deu uma segunda chance, você não tem razões para remoer esse assunto.
– Nunca foi frio comigo, sempre tivemos os melhores momentos juntos. – Falei. – Por isso fui tão cega. – Tentei tranquilizar minha respiração. – O divórcio está sobre a mesa junto com a caneta. – Não esperei ouvir respostas, saí por aquela porta.
30/08/2018
– . – Emma gritava.
– Oi. – Disse ao chegar até a mesa com aqueles casais.
– Pensei que você não viria. – Comentou.
– Emma comentou que você e terminaram, sinto muito. – Carl falou.
– Carl. – O repreendeu. – Me desculpe você saber que não consigo esconder as coisas dele. – Explicou.
– Vocês terminaram quando? – me encarou.
– Há quatro dias. – Respondi.
– Eu sei que é difícil amiga, doe e vai doer muito, mas Carl e eu estamos aqui com você.
– Sabemos o quanto vocês se amam.
– Talvez só eu amasse, não é mesmo? – Senti o nó se apertar em minha garganta. – Eu só passei aqui para dar um abraço em vocês, e dizer que estou muito feliz pela gravidez. – Sorri sincera. – Eu realmente preciso ir. – Levantei me despedindo de todos.
– Eu falei para não comentar sobre isso, amor. – Ele não tinha culpa se a merda estava jogada ao ventilador.
– Por que não me disse nada? – Os passos cessaram.
– Eu não lhe devo satisfação da minha vida.
– O meu irmão te trai e você age como se não tivesse visto. – Exclamou. – Discutiu comigo o defendendo, aparece com ele na festa em família como se nada tivesse acontecido e depois se separa. – Pareceu enumerar os fatos.
– Eu tentei, tá legal? – Gritei. – Eu tentei dar uma segunda chance a ele, passar uma borracha por cima de tudo, mas não deu. – Respondi. – Não deu porque toda vez que ele me tocava eu não sentia que era eu ali, eu não podia jogar os três anos para trás como se nenhum momento fosse bom, mas eu não poderia ficar ali pensando em todas as vezes que ele esteve com ela.
– Você... – O cortei.
– O que tivemos ficou pra trás, em uma noite. – Encarei. – Nada mais, a minha vida já está embaralhada demais para ter que dar satisfação para meu cunhado.
– E o beijo? – Perguntou.
– Não foi nada, talvez ele seja o motivo da segunda chance. – Entrei no carro. – Isso é muito errado, a situação só piora, me esquece.
– Não sou só eu que me escondo.
– Eu não posso me desculpar. – Saí o mais depressa daquele estacionamento. Se ele não tivesse ido embora após aquele casamento quem sabe a situação não seria outra. Mas eu não poderia viver sonhando com o “se”. A raiva corria em minhas veias, eu tinha sido traída pelo meu marido o qual nem mostrou um arrependimento sincero, só queria fingir que aquele episódio não tivesse acontecido como eu tinha feito antes de explodir. E para piorar não saía de minha cabeça, o seu cheiro parecia ficar parado no ar. Ele era o típico amor da minha vida e não o amor para minha vida, eu não poderia ignorar o fato dele ser meu cunhado, não poderia ter e eu, nem ao menos em uma frase.
Onde há desejo
Existirá a chama
Onde existir a chama
Alguém é obrigado
A se queimar.
– , eu já disse milhares de vezes que a culpa não foi minha. – Dizia insistentemente ao telefone.
– Eu preciso que você me escute.
– E eu não estou? – Argumentei.
– Ela é nossa melhor secretária, esses desentendimentos de vocês não podem atrapalhar os negócios.
– . – Ralei. – Vou te falar pela última vez, eu não tive parte nenhuma na demissão daquela mulher.
– Ela não seria mandada embora do nada. – Bufei revirando os olhos.
– Talvez se ela não tivesse sido flagrada cuidando da ereção do filho do sócio de seu pai. – Gesticulei mesmo ele não podendo ver. – Ela ainda estaria com o cargo.
– O quê? – Seu tom de voz mudou.
– Isso mesmo que você ouviu, querido. – Tentei pegar aqueles arquivos enquanto segurava o telefone pressionado ao ombro. – Parece que demitir a secretária era a melhor escolha para o mau caratismo do filho. – Dei de ombros.
– Quando chegar irei conversar com meu pai.
– Tenho que desligar. – O cortei. – Preciso entregar umas pastas para seu irmão.
– Ele quer mesmo se interar dos negócios depois de tantos anos sem aparecer? – Bufou.
– Já que fiquei com essa responsabilidade, o quanto mais rápido melhor. – Desliguei.
Fiquei parada por alguns segundos encarando aquela porta marrom, assim que eu a cruzasse para fora estaria caminhando a seu encontro. Cinco anos parecia ser tão pouco agora. Conheci em uma despedida de solteiro de uma colega de faculdade, ele era amigo do noivo. Naquela noite as meninas iriam para um clube onde homens dançavam sensualmente arrancando peças de roupas, alguém tinha dado com as línguas nos dentes e contado para algum dos homens. Então o noivo decidiu que ele e sua trupe seriam os dançarinos. Apesar de alguns forem do desastre ao fiasco, tinha um deles que parecia ter maestria no que fazia, não precisou tirar mais do que uma peça de roupa para levar todas ali ao delírio.
– Ele está vindo na nossa direção. – Emma, a noiva, comentou sorridente.
– O magrelo igual uma salsicha também. – Ri vendo a pessoa desajeitada.
– Tomara que ele seja para você. – Riu sapeca. Em seguida soltei um sorriso cínico ao ver que o mesmo a chamou para uma dança. Olhando de soslaio percebi que aquele moreno estava parado a poucos centímetros de distância esperando ser notado.
– Boa noite. – Sorriu, parecia que seus olhos castanhos escuro também sorriam pelo pouco que podia enxergar de seu rosto coberto por uma máscara. E então, eu me senti como uma adolescente tendo sua primeira vez, o que era algo que me trazia vergonha, ele dançando com seu corpo colado ao meu, sua respiração quente em meu pescoço e até mesmo seu gelado beijo ao meu maxilar. Alheia ao que acontecia a minha volta, deixei um suspiro sair, aquele homem era muito profissional, era de outro mundo, superando quaisquer expectativas criadas por Matt Bomer ou Channing naqueles benditos filmes. O clima foi esquentando, mãos explorando o corpo um do outro, até ele me puxou para o cômodo ao lado. Enquanto estávamos ocupados, Emma gritava ao descobrir seu noivo e os amigos, gritos que foram totalmente ignorados no momento.
– Me desculpe, . – Escutei alguém me chamando. – está te chamando.
– Eu só estava lembrando se estavam todas aqui. – Avancei em direção a porta. A questão era que eu não o via há cinco anos, há dois anos após o casamento eu já estava namorando que por ironia era seu irmão, mas uma transa não poderia ser algo que impedisse os nossos sentimentos e então, quando pensei que o veria no meu casamento bateu um certo desespero. Por sorte ele não compareceu, como a todas as festas de família por todo esse tempo. Só nos vemos por fotografias, falamos algumas poucas vezes ao telefone e uma vídeo chamada pelo Skype, a qual tentei aparecer rapidamente, evitando contato visual.
– Desculpe a demora. – Entrei na sua sala.
– Eu preciso terminá-las ainda hoje. – Pegou de minhas mãos começando a folhear. Eu fiquei parada feito um dois de paus. – Pode ir.
– Ah sim, qualquer coisa – Gesticulei nervosa. – pode ligar. – Soltei o ar ao entrar em minha sala, ele pareceu nem se lembrar, nenhuma reação que o evidenciasse. Eu precisava manter-me ocupada.
22/07/2018
– Amor, você sabe onde foi parar aquela pasta com os projetos do C.O? – entrava em minha sala apressado.
– Todos os meus projetos recentes estão com seu irmão. – Falei sem desgrudar os olhos do computador.
– Não acredito que ele vá levar isso a sério. – Se jogou na cadeira da frente.
– Qual o problema? Talvez ele tenha cansado de viver isolado.
– Acontece que ele sumiu e nem se deu o trabalho de responder as mensagens quando a empresa estava em crise. – O seu tom era muito diferente de mágoa. – E logo agora ele vem bancar o bom samaritano depois de toda minha dedicação. – Jogou os papéis em minha mesa.
– Você não pensou que seria dono da empresa e que ele aceitasse. – Afirmei.
– Eu dei meu sangue por esse lugar, trabalhei quase de graça. – Tentou defesa.
– Você já se ouviu? – Perguntei. – Não importa o que aconteceu, se um dia seu pai morrer tudo será partido em dois. – Ameaçou a interromper. – E agradeça por ter só um irmão, poderia ser uns cinco.
– não pode passar por cima de mim. – Se levantou. – Ela vai me ouvir. – Eu poderia deixar o circo pegar fogo e simplesmente fingir não ver as chamas, mas não, agora lá estava eu correndo atrás do meu marido, tentando tirar aquela ideia esvairada. – Precisamos conversar. – Disse abrindo a porta.
– , . – A voz de Emma chamou nossa atenção.
– Oi. – Respondi sem graça, fitando séria o homem ao meu lado.
– Assim que acabar venha para minha sala. – Deu as costas sem ao menos cumprimentar.
– Quanto tempo não nos vemos. – Carl quebrou o clima.
– Por onde andaram?
– Emma foi cuidar do pai doente, e eu continuei no trabalho.
– Estimo melhoras a ele.
– Está tudo bem já. – Ela sorriu. – O que deu no ?
– sempre foi uma caixinha de surpresas, volúvel e mimado. – E então após todos aqueles minutos ele resolveu entrar na conversa.
– Não é bem assim. – Tentei assegurar.
– Adivinha o que estávamos conversando antes de você chegar? – Meu corpo ficou tenso. – Lembra da minha despedida de solteiro? – Além de querer cavar um buraco para me esconder, minha primeira reação foi fechar aquela porta.
– Depois daquela dança eu não sei como você conseguiu se casar com Carl. – Tentei desviar o assunto.
– era o único que sabia dançar ali. – Emma pareceu inocente.
– Todos concordam com você. – Me fitou debochado.
– O mais incrível foi a cara da Emma quando me descobriu. – Começou a rir. – Ela só sabia me dar tapas e gritar.
– Você estragou minha noite e até hoje culpo Sam pela língua solta.
– Eu te disse que Sam não conseguia guardar segredo. – O velho “eu te avisei”.
– Mas você nem tem do que reclamar, estava se agarrando com no banheiro. – Meus ouvidos pareceram escutar tudo em câmera lenta, como o estralo de um vidro.
– A parte mais irônica de tudo é a situação que se encontram hoje. – Carl disse.
– Você nunca me contou com detalhes, sempre desviou. – Era nítido que meus amigos queriam me enfartar.
– Eu já te disse. – Falei. – Dançamos, nos beijamos e quando eu ouvi o barulho fui ver o que estava acontecendo. – Gesticulei. – Eu não iria transar com um desconhecido no banheiro de um pub de gogoboys, onde milhares de gente teriam se fodido ali.
– Eu tenho lembranças bem diferentes da sua. – Me fitou.
– Às vezes as bebidas levam ao delírio. – Rebati.
– Ou ela apaga as memórias também. – Mudou a postura – Posso refrescar sua memória. – Um duplo sentido na frase. – Você não pareceu se importar com aquele banheiro, nem muito menos quando te coloquei sentada naquela pia encardida, nem desconfortável em retirar minha calça. – Emma e Carl pareciam nem respirar. – Nem preocupada ao ponto de arranhar toda minhas costas, não se importou com os gritos vindos do outro cômodo ou em só saber com quem estavam transando no final, quando te dei aquela máscara. – Seria loucura demais dizer que eu estava com calor apenas com aquelas lembranças? – As marcas em um corpo demoram um tempo para sair, mas as memórias não.
– Só lembramos daquilo que realmente faz sentido em nossa vida. – Levantei. – Deveria escrever um livro erótico, pois criatividade é o que não lhe falta. – Saí sem me despedir.
26/07/2018
– Talvez eles tenham razão. – Disse ao meu cunhado, vendo os contratantes sair.
– O que me deixa curioso é por que só agora resolveram falar – Arrumava as pastas. – Esperaram o projeto ser finalizado, orçamento e todo pessoal contratado para propor mudança.
– Pode ser falta de oportunidade das outras vezes. – Terminei de tomar meu cappuccino.
– Alguém não apresentou a ideia ou não lhes deu voz, a parte mais importante para o projeto.
– Eu não estava presente, não posso dizer sobre. – Eu estava preparando para dizer que estava indo para casa, quando algo em uma das pastas pareceu chamar sua atenção, eu poderia aproveitar do seu momento de desconcentração e sair, mas continuei ali, analisando todas as suas feições, os seus olhos semicerrados lendo e relendo cada linha que poderia estar escrita. O tempo só lhe tinha feito bem.
– Eles tinham pedido mudança no projeto. – Falou.
– O quê?
– Está escrito aqui. – Apontou para o papel.
– Isso é um equívoco. – Falei caminhando em sua direção. – Eu não recebi nada disso. – Peguei o papel analisando.
– Esse papel é autêntico. – Afirmou. – É timbrando, carimbado e assinado. – Andou de um lado para o outro. – Tem alguém aqui querendo me fazer de trouxa.
– Eu sou a responsável por todos os projetos da empresa, mesmo que o setor de arquitetura faça a sua parte, todos passam por mim antes de serem propostos. – Falei.
– Acontece que esse projeto é todo seu, desde o arquitetônico ao estrutural. – Me encarou. – Está tudo assinado por você. – Procurou as pranchas entre as papeladas.
– Você não está insinuando que eu tenha ignorado esse pedido de mudança? – Perguntei.
– Não sei.
– Eu sou profissional. – Afirmei. – Sempre que um cliente me procura, deixo o espaço em aberto para dizer como quer, para mudanças. – Bati a mão na mesa. – Nunca impus os meus modelos a quem quer que seja.
– Não precisa se alterar.
– Como? É sobre meus ombros que estão caindo a culpa. – Me aproximei. – Se eu tivesse feito isso não deixaria esse papel escondido em alguma pasta aleatória. – Apontei. – Existe uma máquina que tritura papel na empresa, sabia?
– Você fica linda brava. – Comentou.
– Vá catar coquinhos. – Seu rosto se aproximou do meu, tirando todo fluxo de minha respiração, meu coração provavelmente estaria alojado na garganta. Sua mão pareceu se encaixar perfeitamente ao maxilar, seus lábios foram de encontro aos meus, sem ao menos pensar já estávamos em um beijo ardente.
– Com licença. – Batidas na porta fez com que nos afastássemos rapidamente. – Eu vim recolher as pastas.
– Essa fica comigo. – Peguei me retirando depressa e torcendo que a secretária de não tivesse visto nada.
07/08/2018
– Não, Emma, já te disse. – Tentava argumentar.
– Você sabe que ele é amigo do meu marido?
– Claro que sei. – Procurava minha chave
– Então não minta. – Ralhou. – Estou há quase uma semana tentando te arrancar algo.
– Eu preciso arrumar umas coisas aqui, depois conversamos. – Desliguei sem ouvir um tchau.
Desde aquele beijo, ela não saía de minha cola me perguntando, maldita hora que correspondi. Aquilo me assombrava, tirava o sono, e aparecia nos mais simples sonhos.
Na noite anterior dormi no sofá esperando chegar em casa, sonhei com minha lua de mel, mas nela estava usando uma máscara idêntica a que tinha me desfeito tempos atrás, seus olhos às vezes mudavam de cor, nada que importasse até o momento que a máscara desaparece revelando o rosto que roubava vários dos meus pensamentos.
– pediu que eu lhe desse carona. – Adentrou minha sala, sem me olhar.
– Onde ele está? – Perguntei.
– Ele não me explicou, só me disse isso por mensagem. – Olhava para o relógio.
– Estou pronta. – O caminho até a avenida principal pareceu longo e silencioso o bastante, a não ser pelas melodias vindas do rádio. Pelo retrovisor eu tentava disfarçadamente olhar seu rosto, suas feições sérias, sua barba um pouco desalinhada e até mesmo seu cabelo bagunçado, eram totalmente o oposto de , ombros largos, me atreveria até imaginar que era malhado. Desviei o meu olhar assim que percebi o seu.
– Vamos ter que pegar um caminho mais longo.
– Por quê?
– O acidente ali em frente. – Apontou. – Vamos ter que pegar um desvio.
– Tudo bem. – Fiquei concentrada naquela música enquanto o caminho parecia ser uma grande volta em círculos.
E isso faz você chorar?
Quando você está lá fora fazendo?
Você está apenas sobrevivendo?
Até que em um sinaleiro notei que sua postura ficou tensa, olhando para sua esquerda e apertando o volante, por um momento pensei que poderia ser um outdoor com foto da sua esposa ex-modelo falecida há uns anos. Tentei me manter quieta e neutra, mas meus olhos curiosos buscaram o que ele tanto encarava, era um aparente casal trocando carícias, mesmo com um filtro cinza no vidro daquele estabelecimento, reconheci o cabelo totalmente alinhado, aquele rosto que me acordava a toda manhã.
– Dá para ir mais depressa? – Uma lágrima teimosa escorria.
– Você quer mesmo ir? – Questionou.
– Eu só quero ir para casa e descansar. – Escutando buzinadas ele seguiu em frente. Uma metade em mim sentia toda culpa do mundo por aquela cena, todas as incertezas, era como uma criança com seu castelo de areia destruído pela maré, e a outra, a outra não se culpava por beijar .
– Eu... – Tentou falar assim que estacionou em frente a minha casa. – Queria entender o que acontece. – Socou o volante. – Em um dia nos beijamos e você pede para que eu me afaste de você, e depois você age como não tivesse visto aquilo.
– Os fins não justificam os meios.
– Não justifica, mas eu quero que sim.
– . – Disse numa tentativa que ele destravasse a porta.
– Você não sabe o que eu senti por você aquela noite, eu não conseguia tirar os olhos os seus.
– Foi só uma noite, você agiu como se fosse. – Rebati.
– Eu estava confuso, há um ano eu tinha perdido minha esposa em um acidente. – Eu não era a única perdida ali. – Era como se eu tivesse a traído.
– Não tem como trair alguém que está morto, alguém que não faz mais parte de sua vida.
– Por todos esses anos ela nunca esteve longe. – Me encarou. – Mas era você, você que estava em minha mente, principalmente depois das fotografias do noivado.
– Eu sou esposa do seu irmão. – Avisei.
– Você pode...
– Eu estou de cabeça cheia. – Suspirei. – vai chegar mais tarde e vamos conversar sobre isso, nos amamos e vamos superar esse fato.
– Esse fato não é como se vocês não pudessem ter filhos. – Destravou a porta. – É sobre quanto tempo ele te engana.
– O que você quer que eu faça? – Perguntei. – Que eu me separe e jogue três anos de casamento no lixo, como se não fôssemos felizes e me jogue em seus braços? – Disse ríspida. – Você é meu cunhado, , nem se eu quisesse isso aconteceria. – Abri a porta.
– Você age como se fosse a pior coisa do mundo o que sentimos, como se aquela noite tivesse sido apenas sexo casual de adolescentes.
– E foi apenas isso. – Saí do carro. – Não haja como se a situação fosse uma coisa normal. – Bati a porta tentando me recompor. Ele permaneceu ali por alguns minutos até dar partida, saindo o mais rápido que podia.
Mas só porque queima
Não significa que você vai morrer
26/08/2018
Como tudo isso se tornou mentiras?
Às vezes eu acho que é melhor nunca perguntar por quê.
– Até que enfim chegou. – Falei assim que ele ligou a luz da sala.
– O que está fazendo aí?
– Onde foi que nos perdemos? – Ignorei sua pergunta.
– Eu não sei. – Respondeu.
– Nem te reconheço mais. – Abanei a cabeça. – A sua sede para ser dono da empresa, o seu interesse para apresentar os projetos de outra cidade. – Enumerei. – Tudo isso era uma desculpa para ter um momento com outra.
– Não é bem assim.
– Você quase me prejudicou com o projeto dos Ramires. – Soltei. – Você tem noção disso?
– Não iríamos recomeçar? – Perguntou. – Você propôs. – Me deu as costas.
– Eu propus esquecer tudo que aconteceu, aquela cena. – Respondi. – E não que aceitaria tudo isso.
– A partir do momento que você me deu uma segunda chance, você não tem razões para remoer esse assunto.
– Nunca foi frio comigo, sempre tivemos os melhores momentos juntos. – Falei. – Por isso fui tão cega. – Tentei tranquilizar minha respiração. – O divórcio está sobre a mesa junto com a caneta. – Não esperei ouvir respostas, saí por aquela porta.
30/08/2018
– . – Emma gritava.
– Oi. – Disse ao chegar até a mesa com aqueles casais.
– Pensei que você não viria. – Comentou.
– Emma comentou que você e terminaram, sinto muito. – Carl falou.
– Carl. – O repreendeu. – Me desculpe você saber que não consigo esconder as coisas dele. – Explicou.
– Vocês terminaram quando? – me encarou.
– Há quatro dias. – Respondi.
– Eu sei que é difícil amiga, doe e vai doer muito, mas Carl e eu estamos aqui com você.
– Sabemos o quanto vocês se amam.
– Talvez só eu amasse, não é mesmo? – Senti o nó se apertar em minha garganta. – Eu só passei aqui para dar um abraço em vocês, e dizer que estou muito feliz pela gravidez. – Sorri sincera. – Eu realmente preciso ir. – Levantei me despedindo de todos.
– Eu falei para não comentar sobre isso, amor. – Ele não tinha culpa se a merda estava jogada ao ventilador.
– Por que não me disse nada? – Os passos cessaram.
– Eu não lhe devo satisfação da minha vida.
– O meu irmão te trai e você age como se não tivesse visto. – Exclamou. – Discutiu comigo o defendendo, aparece com ele na festa em família como se nada tivesse acontecido e depois se separa. – Pareceu enumerar os fatos.
– Eu tentei, tá legal? – Gritei. – Eu tentei dar uma segunda chance a ele, passar uma borracha por cima de tudo, mas não deu. – Respondi. – Não deu porque toda vez que ele me tocava eu não sentia que era eu ali, eu não podia jogar os três anos para trás como se nenhum momento fosse bom, mas eu não poderia ficar ali pensando em todas as vezes que ele esteve com ela.
– Você... – O cortei.
– O que tivemos ficou pra trás, em uma noite. – Encarei. – Nada mais, a minha vida já está embaralhada demais para ter que dar satisfação para meu cunhado.
– E o beijo? – Perguntou.
– Não foi nada, talvez ele seja o motivo da segunda chance. – Entrei no carro. – Isso é muito errado, a situação só piora, me esquece.
– Não sou só eu que me escondo.
– Eu não posso me desculpar. – Saí o mais depressa daquele estacionamento. Se ele não tivesse ido embora após aquele casamento quem sabe a situação não seria outra. Mas eu não poderia viver sonhando com o “se”. A raiva corria em minhas veias, eu tinha sido traída pelo meu marido o qual nem mostrou um arrependimento sincero, só queria fingir que aquele episódio não tivesse acontecido como eu tinha feito antes de explodir. E para piorar não saía de minha cabeça, o seu cheiro parecia ficar parado no ar. Ele era o típico amor da minha vida e não o amor para minha vida, eu não poderia ignorar o fato dele ser meu cunhado, não poderia ter e eu, nem ao menos em uma frase.
Existirá a chama
Onde existir a chama
Alguém é obrigado
A se queimar.
Fim.
Nota da autora: Spin Off em 12. Bravado – Ficstape Pure Heroine (Lorde)
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.