Capítulo Único
4 de abril de 2013
Não sabia bem o porquê, mas acreditar em destino parecia aceitável. O universo coloca quem deve estar junto exatamente no momento certo e ao ver descer do carro vinho com a mãe no portão da casa em que morava há sete anos atrás, eu tive certeza. Da última vez que tinha visto ele, tínhamos apenas oito anos, o que era uma ironia. Ele havia sido meu primeiro amor, aquele amor de infância que faz com que fiquemos com milhares de borboletas no estômago. Amor esse que não parecia acabar, já que, quando ele sorriu do outro lado da rua e meu coração palpitou, eu tive certeza. Não existia paixão alguma que substituísse o primeiro sentimento que tive por ele.
Sorri fraco cumprimentando de volta e corri pra dentro de casa. Não sabia como agir e tão pouco como faria dali pra frente. A casa havia ficado vazia durante todos os sete anos e agora voltaria a ser de quem eu nunca imaginei que voltaria. Mesmo que ele houvesse prometido.
Flashback — 2006, 27 de julho.
— Por que você vai embora? — A garotinha questionou ao moreno do mesmo tamanho que ela, porém três anos mais velho.
— Minha mãe precisa ir.
— E eu?
— Você vai ser sempre minha cachinhos.
— Você vai voltar, ?
— Sim, .
— Promete?
— De dedinho.
Fim do flashback
Promessas de dedinhos não eram quebradas e ele havia honrado aquilo. Me senti constrangida por não ter abraçado ao garoto, pelo menos. Havia agido como se tivesse cinco míseros anos.
Forcei os olhos e passei a mão pelo rosto. O sentimento teria passado em sete anos, certo? Por Deus, tratei de não prestar atenção em tal coisa e me arrumar pra bodas de ouro que iria a noite.
(...)
O vestido cinza que meu pai havia comprado pra isso caiu certamente em meu número. E sai porta afora para esperar que meu pai chegasse. Me escorei no portão e vi que haviam vários carros na rua e uma movimentação no portão de . Saíram algumas pessoas de terno e algumas de vestido. Alguma festa, provavelmente. O garoto de 16 anos saiu dali com um terno e eu não pude evitar de sorrir ao enxerga-lo ali, que retribuiu e caminhou minimamente até mim que não sabia se corria dali ou esperava que ele chegasse perto.
Merda.
— Quanto tempo, .
— Sete anos.
— Os cachos sumiram?
— Decidi usar o liso.
— Cresceu também.
— Sabe como é, o tempo. — Algum menino o chamou mandando apressar-se e ele acenou e voltou atenção pra mim.
— Até mais, .
— Até, . — Ele virou-se de costas e caminhou devagar mais parou no caminho e estendeu o mindinho.
— Eu voltei.
— Você cumpriu. — Ergui o mindinho e ele voltou para o caminho que seguia.
Promessas não são quebradas e o universo coloca as pessoas certas no momento certo.
4 de Março, 2014
Samuel estava com o semblante sério há pelo menos quatro horas.
— O que você tem? Não vou perguntar de novo.
— , ele foi embora quando você tinha sete anos.
— Nós éramos um grupo de amigos, Samuel.
— Ele não é mais meu amigo.
— Mas é meu e você também é.
— , vocês dois não agem como amigos.
— Eu sempre gostei dele, Sam.
O meu melhor amigo bufou e saiu dali. Não queria falar sobre o assunto e eu não poderia fazer nada, teria que aceitar o fato de que todos os dois seriam meus príncipes de 15 anos.
(...)
9 de Março, 2014
Meu coração parecia palpitar a mil e eu não sabia o que fazer dali pra frente. Todos os príncipes dançariam comigo e logo em seguida se direcionariam ao seu respectivo par, enquanto ficaria e meu pai pra valsa maluca.
Eu já dançava com Mateus e ele me girou entregando para o próximo par que era Samuel. Ele passou uma das mãos pela minha cintura coberta pelo corpete do vestido rosa. Desde o dia quatro ele não havia trocado uma palavra comigo. Então finalizou a dança e me entregou pra . Ele me encarou sorrindo e ajoelhou-se perguntando se eu lhe concedia uma dança e eu fiz o gesto ensaiado fazendo com que ele se erguesse e me tomasse pra dança.
— Hoje você tem cachos.
— Sente falta dos meus cachos?
— Sentia falta de você.
— Eu também.
— Lembra do nosso primeiro selinho?
— Tínhamos sete anos.
— E quem foi seu primeiro beijo de verdade?
— Sam. — Ele fechou os olhos e fez uma careta. — Nosso primeiro beijo vai ser aqui.
Não pude dizer nada, apenas sorri sem saber exatamente o que dizer e senti uma das suas mãos em meu rosto acariciando com o polegar e depois um beijo calmo. Meus convidados gritaram alguma coisa e meu pai disse que mataria ele. Quando me separei, deram início a valsa maluca. Mas a única pessoa que ficaria maluca seria eu.
(...)
23 de maio, 2014
— , é só um pedido de namoro.
— Seu primeiro pedido,
— E?
— Seu pai me odeia.
— Respira.
— Um beijo?
— Vários.
(...)
12 de junho, 2014 - Dia dos Namorados.
Eu tinha plena noção de que era nova demais. Mas o curto que andava dando entre e eu desencadeou nossa primeira vez e eu estava sentada na cama do quarto do sitio da família dele com a mão no queixo. Toda família dele já deveria estar dormindo.
— Ray?
— Oi, meu anjo.
— Doeu?
— Um pouco. — Fiz uma careta mínima e sorri.
— Vem cá. — Ele abriu os braços me chamando pra perto e eu deitei em seu abraço e fechei os olhos. — Te acordo antes deles acordarem, pode dormir. — E eu fiz o que ele disse, recebendo um beijo na testa.
(...)
2 de fevereiro, 2015
O que eu vou dizer agora pode parecer um lance impossível ou de casos de Discovery Home&Health, contudo, é real e é sobre mim. e eu tínhamos terminado há um mês e meio por briguinhas adolescentes. Eu andava sentindo algumas dores e alguns enjoos. Menstruação não vinha há dois meses, mas sempre fui bem desregulada. Um dia depois do Carnaval, qualquer coisa me fazia mal, havia frequentado alguns médicos e nenhum havia dado resultado, e saindo de mais um, o diagnóstico foi mioma, me pediram um ultrassom e eu fui até lá com meu pai, o que eu jamais esperava era estar grávida e não ter percebido. E o mais assustador era estar com oito meses, 15 anos e 11 meses e não estar namorando .
Os dias depois daqui tinham sido conturbados, a ideia de confessar a gravidez pra . Milhões de exames, de pessoas assustadas com a notícia e eu sentindo nada além de medo. Foram necessárias duas ou três conversas a fio com pra que finalmente caísse a ficha.
Teríamos um filho.
E o que acontecesse dali pra frente, seria sobre ele.
(...)
26 de Março, 2016
completava um ano e consequentemente e eu também fazíamos um ano juntos. Estávamos bem, ou ao menos até esse dia sim. Samuel ia embora no dia seguinte para o exterior e havia deixado um texto no WhatsApp pra que eu lesse. O único problema era que quem leu o texto foi e de tudo que eu não imaginava ler, passar os olhos pelos trechos que Samuel era apaixonado por mim há anos e que não me merecia, era uma das últimas coisas que eu pensei que iria ler ali. Mas aquilo fez com que saísse do meu portão afora despejando algumas palavras e saindo, me deixando atônita. Foram algumas ligações, mas ele seguiu a vida, buscava . Mas entre nós dois, nunca mais havia acontecido nada.
(...)
Atualmente, 18 de abril, 2018
Quando é amor a gente sabe.
Pena que a paixão confunde os nossos olhares.
comentava algo aleatório, deitada no braço do sofá por celular com Samuel, mas sequer sabia o que falavam. Seu pensamento voava nos últimos acontecimentos. Sabia que podia contar com Sam para o que fosse e que os beijos tinham se tornado recorrentes, mas não podia dizer que estava livre dos pensamentos de . Observou brincar com o lego novo no tapete da sala. Era apaixonada por Samuel, mas amava .
Quando é amor a gente sente.
Pena que a paixão confunde o coração da gente.
— ?
— Estou ouvindo.
— O que eu te perguntei?
— Sobre o clima?
— As coisas não são mais as mesmas, .
— Por que eu não respondi a uma pergunta?
— Eu conheço você, .
— Não tenho o que te falar.
— , eu acima de tudo, sou seu melhor amigo.
— E me conhece bem demais, eu sei, mas não tem nada escondido.
— Te conheço o suficiente pra saber que você gosta de mim, mas não me ama.
— Samuel.
— Existe paixão, .
— Sim.
— Não foi uma pergunta. Existe paixão por mim, mas o amor é pelo .
O amor é só um.
E o resto é conversa.
O silêncio era a única coisa audível. Aliás, ouviam a respiração um do outro.
— Não precisa me responder, você precisa justificar-se pra si mesma. O amor é só um, . E ele não precisa ser recíproco pra ser real e quando se ama alguém você quer a felicidade dessa pessoa. Eu quero que seja feliz com quem você ama.
— E nós dois, Sam?
— Eu continuo aqui por você e pela nossa amizade.
— Sam, o amor é…
— O amor é um só, o restante é conversa.
Fim de ligação.
O amor não machuca, traz paz, te acalma.
E nunca tem pressa.
20 de abril, 2018. (21:40)
— ? Nós combinamos de você vir buscar o ?
— Não…
— Eu mandei algo e esqueci?
— Você não.
— e essa mania de pegar meu celular.
— Foi o Samuel.
O silêncio pairou e ela só soube encarar o pai do seu filho em sua frente.
— O que ele…
— Ele falou sobre você.
— Seja lá o que for, eu preciso me explicar.
— Ele disse que vocês terminaram.
Ele aguardou a reação da menina que apenas suspirou e escorou-se na porta.
— E ele disse o porquê?
— Que você não o ama, e se não ama a ele, quem você ama?
Ela abriu espaço pra que ele entrasse.
Mas quando nossa vez chegar.
Você vai saber só de olhar.
— , esse assunto.
— Eu não estou pedindo pra voltar ou em casamento. Só uma pergunta, .
— Pai! — apareceu correndo e pulou no abraço do pai que retribuiu sorrindo e a encarou antes de sentar, como se fosse um aviso mudo de que a conversa não estava no fim. — Eu vou fazer o café do . — Dito isso, deixou e na sala saindo em passos apertados.
Então vai sorrir e torcer para o tempo passar bem devagar.
Observou do canto da cozinha os dois brincando com alguns super-heróis no tapete. E pensou sobre tudo que havia planejado pra vida, sobre tudo que perdeu e o que tinha ganho. Sobre as paixões, o amor, o medo e sobre a insegurança. A insegurança de assumir que era amor, não importava o quanto ela negasse. Caminhou até sala e viu ele apressar em se levantar.
— Papai vai embora, mas amanhã te busco.
— Tá bom, pai. — O menino de três anos acenou e saiu correndo para o sofá.
— Vamos, eu te levo até a porta.
— Não precisa, .
— Te devo uma conversa.
O beijo vai calar nós dois.
Deixar pra pensar só depois.
Checou se estava quieto e fechou a porta atrás de si.
— Acho que te devo uma resposta.
— O Samuel me disse tudo que eu precisava saber, .
— Que eu não o amo? Que tudo acabou? Que existe um motivo pra tudo isso?
— Sim. E o Brian me falou sobre uma pessoa nova.
— Eu não amo o Samuel.
— Eu já sei.
— Me deixa terminar de falar, pelo amor de Deus.
— .
— Eu sou toda destrambelhada, eu surto atoa e escondo sentimentos. Eu sou forte pra caramba e sei fingir que odeio alguém. Eu te isolei, te ignorei, tentei de novo com Sam. Com meu professor, com Matheus.
— Eu não quero saber seus contatinhos, .
— Eu estou tentando dizer.
— Não precisa me explicar que cans…
— Caramba, estou tentando dizer que eu não amo o Sam, porque é você.
— Sou eu?
— É você que eu amo, .
Ele sorriu e aproximou a mão do rosto da menina que o encarava gravando cada detalhe do momento. Acariciou seu rosto com o polegar e aproximou a boca da dela.
Eles não se lembravam do último beijo assim que tinham dado, todas as vezes era pós briga, ou por algum momento cheio de tesão. Eles estavam ali, eram os mesmos de doze anos. Os mesmos que se despediram na frente daquelas casas.
Os mesmos que se amavam.
— Mãe, o que você tá fazendo? — Eles se separaram e encararam olhando curioso.
— Olhando se o dente do papai tá bem.
— Por Deus, .
— Eu estava beijando seu pai, porque eu te amo e te dou beijo e no papai também.
— Ah tá, mamãe.
O menino entrou novamente como se fosse um adulto e encarou .
— E agora nós somos?
— O que sempre fomos .
— Uma família.
— Mas agora vai ter que ir pra casa e amanhã de manhã vem tomar café com a gente.
— Me expulsando?
— Cuidando de nós, sem pressa.
— Sem pressa, .
E ele deu um selinho e um beijo em sua testa e caminhou para seu portão entrando.
O amor é só um.
O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha.
Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor.
O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade.
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
1 Coríntios 13:4
Não sabia bem o porquê, mas acreditar em destino parecia aceitável. O universo coloca quem deve estar junto exatamente no momento certo e ao ver descer do carro vinho com a mãe no portão da casa em que morava há sete anos atrás, eu tive certeza. Da última vez que tinha visto ele, tínhamos apenas oito anos, o que era uma ironia. Ele havia sido meu primeiro amor, aquele amor de infância que faz com que fiquemos com milhares de borboletas no estômago. Amor esse que não parecia acabar, já que, quando ele sorriu do outro lado da rua e meu coração palpitou, eu tive certeza. Não existia paixão alguma que substituísse o primeiro sentimento que tive por ele.
Sorri fraco cumprimentando de volta e corri pra dentro de casa. Não sabia como agir e tão pouco como faria dali pra frente. A casa havia ficado vazia durante todos os sete anos e agora voltaria a ser de quem eu nunca imaginei que voltaria. Mesmo que ele houvesse prometido.
Flashback — 2006, 27 de julho.
— Por que você vai embora? — A garotinha questionou ao moreno do mesmo tamanho que ela, porém três anos mais velho.
— Minha mãe precisa ir.
— E eu?
— Você vai ser sempre minha cachinhos.
— Você vai voltar, ?
— Sim, .
— Promete?
— De dedinho.
Fim do flashback
Promessas de dedinhos não eram quebradas e ele havia honrado aquilo. Me senti constrangida por não ter abraçado ao garoto, pelo menos. Havia agido como se tivesse cinco míseros anos.
Forcei os olhos e passei a mão pelo rosto. O sentimento teria passado em sete anos, certo? Por Deus, tratei de não prestar atenção em tal coisa e me arrumar pra bodas de ouro que iria a noite.
Merda.
— Quanto tempo, .
— Sete anos.
— Os cachos sumiram?
— Decidi usar o liso.
— Cresceu também.
— Sabe como é, o tempo. — Algum menino o chamou mandando apressar-se e ele acenou e voltou atenção pra mim.
— Até mais, .
— Até, . — Ele virou-se de costas e caminhou devagar mais parou no caminho e estendeu o mindinho.
— Eu voltei.
— Você cumpriu. — Ergui o mindinho e ele voltou para o caminho que seguia.
Promessas não são quebradas e o universo coloca as pessoas certas no momento certo.
4 de Março, 2014
Samuel estava com o semblante sério há pelo menos quatro horas.
— O que você tem? Não vou perguntar de novo.
— , ele foi embora quando você tinha sete anos.
— Nós éramos um grupo de amigos, Samuel.
— Ele não é mais meu amigo.
— Mas é meu e você também é.
— , vocês dois não agem como amigos.
— Eu sempre gostei dele, Sam.
O meu melhor amigo bufou e saiu dali. Não queria falar sobre o assunto e eu não poderia fazer nada, teria que aceitar o fato de que todos os dois seriam meus príncipes de 15 anos.
9 de Março, 2014
Meu coração parecia palpitar a mil e eu não sabia o que fazer dali pra frente. Todos os príncipes dançariam comigo e logo em seguida se direcionariam ao seu respectivo par, enquanto ficaria e meu pai pra valsa maluca.
Eu já dançava com Mateus e ele me girou entregando para o próximo par que era Samuel. Ele passou uma das mãos pela minha cintura coberta pelo corpete do vestido rosa. Desde o dia quatro ele não havia trocado uma palavra comigo. Então finalizou a dança e me entregou pra . Ele me encarou sorrindo e ajoelhou-se perguntando se eu lhe concedia uma dança e eu fiz o gesto ensaiado fazendo com que ele se erguesse e me tomasse pra dança.
— Hoje você tem cachos.
— Sente falta dos meus cachos?
— Sentia falta de você.
— Eu também.
— Lembra do nosso primeiro selinho?
— Tínhamos sete anos.
— E quem foi seu primeiro beijo de verdade?
— Sam. — Ele fechou os olhos e fez uma careta. — Nosso primeiro beijo vai ser aqui.
Não pude dizer nada, apenas sorri sem saber exatamente o que dizer e senti uma das suas mãos em meu rosto acariciando com o polegar e depois um beijo calmo. Meus convidados gritaram alguma coisa e meu pai disse que mataria ele. Quando me separei, deram início a valsa maluca. Mas a única pessoa que ficaria maluca seria eu.
— , é só um pedido de namoro.
— Seu primeiro pedido,
— E?
— Seu pai me odeia.
— Respira.
— Um beijo?
— Vários.
Eu tinha plena noção de que era nova demais. Mas o curto que andava dando entre e eu desencadeou nossa primeira vez e eu estava sentada na cama do quarto do sitio da família dele com a mão no queixo. Toda família dele já deveria estar dormindo.
— Ray?
— Oi, meu anjo.
— Doeu?
— Um pouco. — Fiz uma careta mínima e sorri.
— Vem cá. — Ele abriu os braços me chamando pra perto e eu deitei em seu abraço e fechei os olhos. — Te acordo antes deles acordarem, pode dormir. — E eu fiz o que ele disse, recebendo um beijo na testa.
O que eu vou dizer agora pode parecer um lance impossível ou de casos de Discovery Home&Health, contudo, é real e é sobre mim. e eu tínhamos terminado há um mês e meio por briguinhas adolescentes. Eu andava sentindo algumas dores e alguns enjoos. Menstruação não vinha há dois meses, mas sempre fui bem desregulada. Um dia depois do Carnaval, qualquer coisa me fazia mal, havia frequentado alguns médicos e nenhum havia dado resultado, e saindo de mais um, o diagnóstico foi mioma, me pediram um ultrassom e eu fui até lá com meu pai, o que eu jamais esperava era estar grávida e não ter percebido. E o mais assustador era estar com oito meses, 15 anos e 11 meses e não estar namorando .
Os dias depois daqui tinham sido conturbados, a ideia de confessar a gravidez pra . Milhões de exames, de pessoas assustadas com a notícia e eu sentindo nada além de medo. Foram necessárias duas ou três conversas a fio com pra que finalmente caísse a ficha.
Teríamos um filho.
E o que acontecesse dali pra frente, seria sobre ele.
completava um ano e consequentemente e eu também fazíamos um ano juntos. Estávamos bem, ou ao menos até esse dia sim. Samuel ia embora no dia seguinte para o exterior e havia deixado um texto no WhatsApp pra que eu lesse. O único problema era que quem leu o texto foi e de tudo que eu não imaginava ler, passar os olhos pelos trechos que Samuel era apaixonado por mim há anos e que não me merecia, era uma das últimas coisas que eu pensei que iria ler ali. Mas aquilo fez com que saísse do meu portão afora despejando algumas palavras e saindo, me deixando atônita. Foram algumas ligações, mas ele seguiu a vida, buscava . Mas entre nós dois, nunca mais havia acontecido nada.
(...)
Pena que a paixão confunde os nossos olhares.
Quando é amor a gente sente.
Pena que a paixão confunde o coração da gente.
— Estou ouvindo.
— O que eu te perguntei?
— Sobre o clima?
— As coisas não são mais as mesmas, .
— Por que eu não respondi a uma pergunta?
— Eu conheço você, .
— Não tenho o que te falar.
— , eu acima de tudo, sou seu melhor amigo.
— E me conhece bem demais, eu sei, mas não tem nada escondido.
— Te conheço o suficiente pra saber que você gosta de mim, mas não me ama.
— Samuel.
— Existe paixão, .
— Sim.
— Não foi uma pergunta. Existe paixão por mim, mas o amor é pelo .
O amor é só um.
E o resto é conversa.
— Não precisa me responder, você precisa justificar-se pra si mesma. O amor é só um, . E ele não precisa ser recíproco pra ser real e quando se ama alguém você quer a felicidade dessa pessoa. Eu quero que seja feliz com quem você ama.
— E nós dois, Sam?
— Eu continuo aqui por você e pela nossa amizade.
— Sam, o amor é…
— O amor é um só, o restante é conversa.
Fim de ligação.
E nunca tem pressa.
— ? Nós combinamos de você vir buscar o ?
— Não…
— Eu mandei algo e esqueci?
— Você não.
— e essa mania de pegar meu celular.
— Foi o Samuel.
O silêncio pairou e ela só soube encarar o pai do seu filho em sua frente.
— O que ele…
— Ele falou sobre você.
— Seja lá o que for, eu preciso me explicar.
— Ele disse que vocês terminaram.
Ele aguardou a reação da menina que apenas suspirou e escorou-se na porta.
— E ele disse o porquê?
— Que você não o ama, e se não ama a ele, quem você ama?
Ela abriu espaço pra que ele entrasse.
Você vai saber só de olhar.
— Eu não estou pedindo pra voltar ou em casamento. Só uma pergunta, .
— Pai! — apareceu correndo e pulou no abraço do pai que retribuiu sorrindo e a encarou antes de sentar, como se fosse um aviso mudo de que a conversa não estava no fim. — Eu vou fazer o café do . — Dito isso, deixou e na sala saindo em passos apertados.
— Papai vai embora, mas amanhã te busco.
— Tá bom, pai. — O menino de três anos acenou e saiu correndo para o sofá.
— Vamos, eu te levo até a porta.
— Não precisa, .
— Te devo uma conversa.
Deixar pra pensar só depois.
— Acho que te devo uma resposta.
— O Samuel me disse tudo que eu precisava saber, .
— Que eu não o amo? Que tudo acabou? Que existe um motivo pra tudo isso?
— Sim. E o Brian me falou sobre uma pessoa nova.
— Eu não amo o Samuel.
— Eu já sei.
— Me deixa terminar de falar, pelo amor de Deus.
— .
— Eu sou toda destrambelhada, eu surto atoa e escondo sentimentos. Eu sou forte pra caramba e sei fingir que odeio alguém. Eu te isolei, te ignorei, tentei de novo com Sam. Com meu professor, com Matheus.
— Eu não quero saber seus contatinhos, .
— Eu estou tentando dizer.
— Não precisa me explicar que cans…
— Caramba, estou tentando dizer que eu não amo o Sam, porque é você.
— Sou eu?
— É você que eu amo, .
Ele sorriu e aproximou a mão do rosto da menina que o encarava gravando cada detalhe do momento. Acariciou seu rosto com o polegar e aproximou a boca da dela.
Eles não se lembravam do último beijo assim que tinham dado, todas as vezes era pós briga, ou por algum momento cheio de tesão. Eles estavam ali, eram os mesmos de doze anos. Os mesmos que se despediram na frente daquelas casas.
Os mesmos que se amavam.
— Mãe, o que você tá fazendo? — Eles se separaram e encararam olhando curioso.
— Olhando se o dente do papai tá bem.
— Por Deus, .
— Eu estava beijando seu pai, porque eu te amo e te dou beijo e no papai também.
— Ah tá, mamãe.
O menino entrou novamente como se fosse um adulto e encarou .
— E agora nós somos?
— O que sempre fomos .
— Uma família.
— Mas agora vai ter que ir pra casa e amanhã de manhã vem tomar café com a gente.
— Me expulsando?
— Cuidando de nós, sem pressa.
— Sem pressa, .
E ele deu um selinho e um beijo em sua testa e caminhou para seu portão entrando.
O amor é só um.
O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha.
Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor.
O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade.
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
1 Coríntios 13:4