O céu estava desabando do lado de fora. A chuva tinha vindo de repente, mas, por um milagre do destino, decidira levar um guarda-chuva em sua bolsa naquele dia. Seus sapatos estavam ensopados, mas sua roupa estava incrivelmente seca. Aquela era definitivamente uma vitória para alguém tão desligado e esquecido como ele.
Largou o seu grande salvador apoiado no canto das paredes de entrada. As mãos foram imediatamente para o bolso da calça em busca da chave do apartamento que comprara após tanto esforço. Orgulhava-se imensamente de finalmente poder dizer que tinha seu próprio canto no mundo; um que era só dele.
Sua tranquilidade se esvaiu como em um sopro ao perceber que a única coisa que existia em seus bolsos era um papel de bala amassado do qual ele sequer se lembrava. As chaves não estavam ali e ele de repente recordava exatamente o porquê. Abandonara seu chaveiro em cima de uma das poltronas do estúdio enquanto terminava de alterar a letra de uma de suas mais novas criações. Deixara a si mesmo o mais leve possível para poder completar a obra em homenagem à sua musa inspiradora e agora estava trancado para o lado de fora de seu próprio lar. O cansaço pesava sobre seus ombros e ele só queria poder se arremessar sobre seu colchão macio e se fingir de morto até o dia seguinte.
Começou a se perguntar qual dos seus amigos poderia ter o número de um chaveiro ou algum conhecimento de como destrancar portas com um grampo, um clipes ou com a força da mente. Qualquer opção era melhor do que dormir no capacho da própria porta.
Ao ouvir um gritinho e alguns passos rápidos vindos dentro de seu apartamento, se levantou prontamente, lembrando-se de que tinha visitas. Estava tão atordoado com os preparativos para a nova era do grupo que tinha se esquecido de que tinha alguém lhe esperando para abraçá-lo e enchê-lo com todo o carinho que ele tanto necessitava.
Bateu à porta de forma ritmada, tentando obter a atenção da garota.
— Amor – chamava repetidamente, enquanto os nós dos dedos continuavam agredindo a madeira. — Abre a porta para mim? Eu deixei a chave no estúdio.
Os passos rápidos assinalavam que ela tinha corrido até a porta. conseguia identificar perfeitamente a sua respiração.
— E por que eu faria isso?
— Porque eu estava morrendo de saudades e tudo o que eu mais quero agora é poder te apertar nos meus braços. Por favor, , abre a porta.
O barulho da chave rodando e puxando a tranca consigo não poderia ter soado mais maravilhoso. A sensação de alívio foi imediata e acompanhada pela alegria da expectativa de poder rever aquele rosto que ele tanto amava e idolatrava.
— Oi para você – ela disse sorridente antes de se inclinar para deixar um beijo na bochecha do namorado. — Como foi o trabalho?
— Cansativo, mas estou feliz com os resultados. Como foi o seu dia?
— Normal. Fiquei dormindo por metade da tarde e comi uns biscoitos que encontrei no armário da cozinha. Espero que você não ligue, porque eu posso ou não ter comido todos eles.
riu abertamente, acariciando a bochecha da namorada com a ponta de seus dedos.
— Não ligo. Pode comer os biscoitos. Eu só gostaria de saber por que o meu FIFA está aberto na televisão.
olhou para a TV, percebendo que tinha se esquecido de desligá-la. Olhou para o rapaz que a encarava ressabiado, oferecendo a ele um sorriso amarelo.
— Talvez eu estivesse tentando aprender a jogar, mas eu desisto. É muito difícil mexer em tantos botões ao mesmo tempo. Eu não conseguiria jogar isso nem que passasse as férias inteiras trancada aqui dentro tentando aprender. Eu sou uma negação completa.
segurou as mãos dela, arrastando-a até o sofá. Pegou o controle do videogame e montou um amistoso entre dois times rapidamente, colocando-a no time rival ao dele. Quando estendeu a ela o outro controle, a garota o fuzilou.
— Isso por acaso é uma tentativa de humilhação gratuita? Porque eu recusei um convite de viajar para as Maldivas só para passar as minhas férias nesse apartamento comendo toda a sua compra do mês enquanto você não volta do trabalho. Você deveria dar mais valor e, no mínimo, tentar não destruir a minha autoestima.
— Já te prometi que assim que as nossas férias coincidirem, nós iremos para as Maldivas. Por enquanto, teremos que nos contentar com o videogame, as comidas sem fim e o pijama no sofá. Sei que não é o melhor lugar para você. Sinto muito.
— O melhor lugar para mim é aquele ao seu lado. Pode ser nas Maldivas, em Seul, no seu apartamento ou andando escondida pelos restaurantes do bairro como fazemos. Eu estou e sou feliz só de estar ao seu lado. Não preciso de mais nada se tenho você aqui.
sorria da forma mais verdadeira que existia no mundo. sorriu também, sentindo-se o cara mais sortudo do mundo por ter ao seu lado alguém como ela. Jamais imaginara que o universo pudesse ser tão bom com ele a ponto de agraciá-lo com a melhor companhia, o melhor abraço, o melhor beijo e a melhor namorada. Mesmo que escrevesse todas as canções do mundo sobre ela, ainda não seria o suficiente para demonstrar todo o amor imensurável que guardava dentro de si.
— Na verdade, eu preciso de comida – interrompeu os seus pensamentos. — Acho que você deveria pedir alguma coisa. Nós jogamos enquanto a comida não chega. Considere isso como um prêmio de consolação para mim.
se levantou rindo e discou o número que já tinha decorado – assim como o entregador provavelmente já tinha decorado o caminho até seu prédio. Ele sempre fazia o mesmo pedido de chi e Bibimbap usando o nome de Lee e pedindo para que o prato fosse deixado na portaria. O homem que trabalhava no turno da noite já conhecia a história dele e sempre fazia o possível e o impossível para proteger a sua imagem, de forma que eles se acertavam monetariamente em momentos posteriores mais propícios.
— Pronta para perder vergonhosamente? – Perguntou ao retornar ao sofá.
— Infelizmente. – revirou os olhos. — Acabe logo com isso, mas não seja tão cruel.
Quando o jogo começou, deixou sair com a bola, avisando que estava permitindo que ela ao menos tivesse uma chance. A garota se aproximou do gol a passos lentos e errou a finalização por uma distância desastrosa. O namorado segurou o riso, mordendo os próprios lábios para que ela não percebesse. Não que ele tivesse atingido o seu objetivo, considerando que tomou uma bela cotovelada na costela.
— Para de rir de mim! Saco!
O comentário só arrancou uma gargalhada ainda mais alta do rapaz, que já havia desistido de fingir.
— Eu vou deixar a bola aqui – ele avisou. — Você pega e chuta para o gol. Eu até tiro o goleiro da frente, se você quiser.
— Não. Você vai jogar direito – ela disse seriamente. — Não quero que você me deixe ganhar.
— Se você diz...
Em um drible, o time de tomou a bola e saiu em disparada até o gol, tabelando antes de terminar com uma finalização certeira no ângulo. estava completamente boquiaberto enquanto ela fazia uma dancinha de comemoração.
— Mas que droga foi essa? – Ele perguntou completamente desacreditado do gol que tinha acabado de tomar.
— Chama habilidade, querido – ela declarou vitoriosa. — Eu passei o último mês inteiro treinando no videogame do meu irmão nos dias em que minha mãe pedia para que eu cuidasse dele. Ele me ensinou todos os truques. Para ajudar, você passa tanto tempo no estúdio que eu posso ficar praticando a tarde inteira só para ganhar de lavada de você depois. Sinto muito, amor. Deve ser difícil admitir que eu seja tão melhor que você.
desligou o videogame e saiu emburrado, seguindo um caminho silencioso até o seu quarto. Sentou-se no seu lado da cama e cruzou os braços na frente do corpo, mantendo uma pose de seriedade e impassibilidade que só fez com que achasse graça em sua birra por perder - e visse mais graça ainda em derrotá-lo daquela forma.
— Sabia que você fica incrivelmente fofo com essa carinha de criança irritada?
— Você mentiu para mim – ele reclamou.
— Eu não menti, amor. – se sentou ao lado do namorado, deixando que os seus dedos se embrenhassem entre os fios de cabelo dele. — Eu só omiti a verdade.
— Você me magoou muito e acho que agora tem que me compensar de alguma forma.
A garota o encarou com a sobrancelha totalmente arqueada, já esperando algum comentário com segundas intenções.
— E o que a criança fofa quer que eu faça?
— Quero que você deite aqui comigo – respondeu, puxando-a até que ela se deitasse ao seu lado — e me dê um beijo. Não sabe como eu esperei o dia todo só para receber um beijo seu.
sorriu para ele, aproximando os seus rostos. Deixou que seu nariz roçasse levemente o dele, fazendo com que as respirações se misturassem e se confundissem rapidamente. Quando mordeu o lábio inferior e fitou com desejo a boca dela, a garota cedeu a todas as suas vontades, beijando-o com toda a sua vontade.
Se alguém os visse compartilhando aquele momento jamais imaginaria que não fazia nem um dia completo que não se viam. Essa fora uma das coisas que descobrira ao lado de : a intensidade do que ele era capaz de sentir. Mesmo que vivesse ao seu lado vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, jamais estaria completamente satisfeito. Até então, parecia impossível para ele querer tanto ficar com alguém, mas agora ele tinha a mais plena certeza de que não havia nada de impossível nisso. era a expectativa de suas tardes e a alegria que o motivava a aguardar pela noite em que poderia novamente tê-la em seus braços. Era a adrenalina da espera e o conforto da companhia. Era o abraço apertado nos dias nublados e o sorriso largo nas manhãs ensolaradas. era muito mais do que ele poderia pedir e muito mais do que ele julgava merecer.
Conforme as carícias iam se prolongando, as mãos se tornavam menos tímidas em explorar diferentes partes dos corpos dos quais tanto esperavam o toque. Quando os dedos de encontraram a cintura da garota e decidiram buscar o caminho por baixo da barra de sua blusa, interrompeu o beijo bruscamente.
— O que aconteceu? - Perguntou preocupado.
— Nossa comida aconteceu! Vai esfriar. - Ela riu.
revirou os olhos, puxando a namorada de volta para si.
— Foi para isso que eu comprei um microondas, amor.
Entre risos, retomaram os beijos, puxando o enorme cobertor estampado sobre seus corpos.
*****
usava um sobretudo longo em um tom creme que cobria até os seus joelhos com o tecido grosso. As botas de cano alto eram pretas como o cachecol felpudo que escondia seu pescoço e parte de seu rosto. Os óculos escuros cumpriam o serviço de cobrir os seus olhos.
não ficava muito atrás. Usava um boné - que detestava profundamente pelo estrago que fazia em seu cabelo - e óculos, juntamente a uma blusa de gola alta. Parecia um daqueles turistas no natal, prontos para esperar por uma neve que se recusa a cair. Era o que podia fazer para viver de forma minimamente normal por aquelas ruas que conhecia como as palmas das próprias mãos. Ao menos podia usar calças mais largas sem ser incomodado ou comentado pela opção de vestimenta. Era tão irritante sempre ter alguém comentando sobre o que ele vestia como se aquilo fosse mais importante do que a própria personalidade dele...
Andavam com as mãos entrelaçadas como qualquer outro casal e os olhos baixos como nenhum outro era obrigado a fazer. Era o preço que pagavam pela tentativa de de manter o pouco que podia de sua privacidade e ele não abriria mão de levar a namorada para um passeio a dois no meio de suas tão aguardadas férias.
Entraram pela pequena porta escura, afastando as finas cortinas que a cobriam juntamente a alguns fios com pequenas pedras vermelhas que tilintavam ao se encontrarem. O local por dentro era escuro, coberto por uma penumbra - o que era plenamente justificável considerando que a placa na entrada deixava claro “Festival: Teatro de Sombras”.
reclamara por horas a fio sobre a ideia de ir a um local como aquele. Disse que era tosco, que era infantil e que não era lugar para um casal de adultos. , por sua vez, não desistiu da ideia e retrucou cada reclamação do namorado, afirmando que seria legal ter algo diferente para curtirem juntos. Queria poder passar um tempo ao lado dele de um jeito mais intimista e menos óbvio como seria um cinema ou um jantar romântico - por mais que seu estômago estivesse implorando por um farto almoço depois da apresentação. Por insistência, o rapaz acabou cedendo e decidindo contornar a situação de forma a tomar algum benefício dela.
— Gostaria de lembrar a senhorita que existe uma aposta prestes a se iniciar e eu vou ganhá-la - ele sussurrou perto ao ouvido dela, fazendo com que soltasse uma risadinha pelo arrepio que a respiração dele causava ao atingir de tão perto daquela região sensível.
— Você sabe que não existe a mínima possibilidade de você ganhar de mim em uma aposta.
— Calúnia!
— Ah é? Quem ganhou a aposta de comer mais mini Jeons?
— Não valeu. Eu me engasguei e você é viciada neles - reclamou.
— Quem ganhou a aposta de convencer mais estranhos online a assinar um abaixo-assinado para salvar os recifes de corais? Quem conseguiu passar mais tempo sem reagir a vídeos engraçados? Quem conseguiu tomar mais soju sem ter dor de cabeça ou tontura? Fui eu. Eu sempre venço - disse pausadamente.
revirou os olhos sabendo que não estava mentindo. Ele realmente havia perdido todas aquelas apostas - e mais algumas - e, por isso, ficou devendo chocolates, horas de massagens e até um bico de pedicure que deu incrivelmente errado. Mas aquela aposta não havia como ele perder.
— Acontece que estamos falando sobre uma peça de bonecos de papel no escuro. Sabe o que vai acontecer? Eu vou dormir e roncar. Você vai perder porque não há a mínima possibilidade de eu gostar dessa coisa .
meneou a cabeça em negação. Ganhar aquela aposta era uma questão de honra. Ele tinha que gostar ou a importunaria pelo programa inesperado até que seus cabelos ficassem mais brancos que um floco de neve.
— Enquanto a apresentação não começa, eu vou te contar a lenda chinesa sobre o surgimento do teatro de sombras. E você, meu querido, vai escutar porque eu passei muito tempo no wikipedia lendo sobre isso.
ergueu as mãos em sinal de rendição, demonstrando que estaria ouvindo qualquer que fosse a história esquisita que ela tivesse para contar. Não estava lá muito confiante de que houvesse alguma maneira de aquilo tudo parecer menos bobo.
— Reza a lenda que, no ano 121, o imperador Wu Ti se desesperou completamente com a morte de sua bailarina preferida. Ele ficou tão desolado que mandou que o Mago da Corte trouxesse ela de volta do Reino das Sombras sob pena de ser decapitado caso não o fizesse.
— Que cara maluco! - reclamou alto e recebeu alguns olhares de repreensão do resto do público que aguardava pela peça. — Certo, continue.
— O Mago, morrendo de medo do que poderia acontecer, ficou imaginando uma forma de cumprir o pedido de seu imperador. Sabia que não havia como trazer alguém de volta do mundo dos mortos, então precisava de uma solução criativa. A ideia veio logo: recortou uma pele fina e transparente de um peixe na silhueta exata de uma bailarina. Mandou que colocassem uma cortina branca no jardim e, ao som de uma doce flauta, deixou que a figura se erguesse e levitasse de forma a ser projetada pela luz do sol. O único consolo do imperador era acreditar que aquele era o espírito dela, ainda vivendo ao lado dele. Foi assim que surgiu uma das manifestações artísticas mais importantes da China e de boa parte da Ásia.
O rapaz estava verdadeiramente encantado pela história. Puxou o celular do bolso rapidamente, anotando em seu bloco de notas algumas coisas que a princípio pareciam desconexas. sorriu, já sabendo do que se tratava. Ao longo do tempo que passará ao lado de , aprendera que, em momentos de inspiração repentina, ele simplesmente puxava o aparelho e digitava rapidamente as ideias que surgiam como em um fluxo insano de consciência. Sua mente trabalhava tão rápido que os dedos mal conseguiam acompanhar a velocidade de seus pensamentos em momentos como aquele.
— Avisei que eu ia ganhar - ela sussurrou risonha. — Você já está se interessando.
— Eu só gostei da história. - Ele bufou. — Não é culpa minha. Da próxima vez, deixo você falando sozinha. Serei ignorante.
riu mais alto da incapacidade do namorado de dar o braço a torcer. Abraçou-o de lado e juntou as suas mãos.
— Não precisa se justificar, querido. E fique quieto que a apresentação já vai começar - alertou antes de arrumar a própria postura, preparando-se para presenciar o espetáculo.
A luz do ambiente foi diminuída até que só se pudesse ver o fundo claro - único ponto iluminado da sala. Algumas crianças soltaram suspiros de susto ou choque, arrancando um sorriso de que via na infância uma vitalidade inexplicavelmente linda e graciosa. observava tudo atentamente, tentando esconder sua ansiedade sobre o que viria. Permitiu que seu polegar se mexesse pelas costas da mão da namorada, fazendo um carinho gostoso e acolhedor.
A trilha sonora de fundo era composta por uma melodia leve e calma, suave como a pétala da flor mais delicada que existia. Os personagens passavam por trás do tecido, acompanhados pela sonoplastia do vento e do canto dos pássaros. As vozes contavam uma das milenares lendas de origem mista entre a China e o Japão: a história de Hyoku.
Segundo a lenda, Hyoku era uma espécie de pássaro especial que teria ensinado uma grande lição a todos os homens sábios o suficiente para compreendê-la. Mas o que havia de tão especial nessa ave?
A história contava que os filhotes dessa espécie nasciam com uma só asa. Isso fazia com que o Hyoku fosse apenas metade de um ser e passasse toda a sua vida buscando a sua outra metade para se unir a ela e poder finalmente voar plenamente.
O ensinamento dos sábios era claro: um ser só é completo quando encontra a sua metade e é a metade de alguém. Podia ser um amor, uma amizade ou um parente; mas todo homem, bem como o pássaro, precisava de alguém que o apoiasse para que ele pudesse finalmente alçar seu voo.
Ao final da peça, os marionetistas e músicos agradeceram o carinho do público - que batia palmas de forma fervorosa. e sorriam da forma mais aberta e satisfeita possível. O rapaz apertou a mão da namorada com mais força, agradecendo mentalmente por ter encontrado a outra metade do seu Hyoku.
— Eu amo você, meu Hyoku - ele sussurrou para a garota. — Com todo o meu coração, corpo e alma.
— Também amo você - ela respondeu sem conseguir conter um sorriso bobo. — E tenho certeza de que isso significa que eu ganhei mais uma aposta.
apertou o passo, rindo alto enquanto atravessava as cortinas do festival. meneou a cabeça entre gargalhadas, seguindo-a até a rua. O que fazer com aquela mulher que o enlouquecia em todos os sentidos?
Ele abaixou mais o boné na cabeça e subiu a gola da blusa ao vê-la arrumar o cachecol na frente do rosto e do pescoço. A luz ofuscou seus olhos ao primeiro contato, fazendo com que os dois parassem na frente de uma loja até que suas pupilas pudessem se ajustar à mudança de luminosidade. Era simplesmente impossível continuar caminhando pela calçada sem atropelar algo ou alguém depois daquele choque que a luz solar causava às vistas.
piscou repetidamente até que pudesse enxergar tudo como deveria. Estreitou os olhos para tentar enxergar o que era transmitido na televisão do estabelecimento à sua frente. O rosto conhecido fez com que seu cérebro anunciasse sem nem pensar duas vezes:
— Ei, você está no jornal - ela indicou, apontando para dentro.
— Não consigo enxergar daqui - percebeu frustrado. — O que estão falando sobre mim? Estão dizendo como eu sou lindo e maravilhoso? Porque deveriam.
Ela apertou ainda mais os olhos, usando as mãos para evitar que a luz externa a atrapalhasse na missão de ler através do vidro. Quando as palavras começaram a fazer sentido para seu cérebro, desejou profundamente não ter sido capaz de assimilá-las.
— e Myung reataram o namoro? - proferiu as palavras exatamente como apareciam na tela, sentindo como se uma lâmina afiada apunhalasse o seu peito durante o processo. — Fontes confiáveis afirmam que o relacionamento entre o cantor e a atriz pode estar longe do fim.
Foi a vez do rapaz apertar os olhos e tentar driblar a iluminação, completamente descrente no que acabara de ouvir. Não era possível. De onde tinham tirado aquilo? Quem raios poderia ter a audácia de se nomear uma fonte confiável quando tudo o que contava era um bando de mentiras descabidas?
— Você não está acreditando nisso, não é? - fez a pergunta a ela, recebendo apenas um olhar vazio em resposta. — Amor, por favor! Você não pode realmente acreditar em uma bobagem dessas. Você, mais do que ninguém, sabe exatamente quando eu e Myung terminamos e todos os motivos e implicações disso. O que nós tínhamos já acabou há tempos. Esses malucos só estão criando especulações e intrigas para ganhar em cima das notícias falsas que sabem que serão desastrosas para nós. Eles lucram com essas mentiras e não vão pensar duas vezes antes de destruir tudo ao seu redor só para criar uma história comerciável.
— Tudo bem - ela soltou em um tom de voz baixo, tentando forçar um sorriso. — Podemos parar em algum lugar para beber alguma coisa? Estou com sede.
concordou, estendendo a mão para a namorada em um pedido silencioso de desculpas por ela ter que passar por aquilo. Se ele, que já estava acostumado com as mentiras, ainda se irritava, o que dizer dela? Tinha absolutamente todos os motivos do mundo para se chatear e se magoar e ele não podia reclamar. Tudo o que lhe cabia fazer era deixá-la confortável e confiante o suficiente para saber que aquilo era uma história inventada sem sentido algum, pois a única pessoa que ele poderia querer naquele mundo era exatamente ela.
entrelaçou seus dedos aos dele com mais força do que costumava fazer. Talvez, se ela apertasse bastante, as coisas pudessem ficar bem pelo menos dessa vez. Será que aquilo era pedir muito? O mundo não podia mesmo dar uma folga e deixar que as coisas fossem fáceis?
Pararam em uma lanchonete pouco frequentada e pediram dois sucos grandes de frutas cítricas. Sentaram-se nos bancos altos em frente ao balcão, aproveitando seus refrescos enquanto balançavam os pés que não eram capazes de encontrar o chão. apoiava o rosto na palma de uma mão enquanto a outra brincava com o canudo de plástico colorido.
— Ei - chamou, acariciando a bochecha da namorada com o polegar. — Está tudo bem? Eu posso fazer alguma coisa para te deixar melhor? Não sabe como eu detesto ver você com essa carinha.
fechou os olhos, permitindo que seu tato aproveitasse cada segundo daquele contato com sua pele. Como poderia negar algo àquele que sempre tentou ao máximo fazer tudo para ela? Por que ele mentiria? Com certeza era realmente só mais uma daquelas notícias sem noção que a mídia usava para enriquecer com o caos instaurado.
— Eu vou ficar bem. Só preciso de um tempo para absorver tudo isso de forma que não me atinja mais. Sei que eles podem ser incrivelmente cruéis quando querem.
— A fama é uma merda gigante muitas vezes - admitiu baixinho ao ver a única garçonete do local se afastando até a cozinha. — É por isso que eu tenho tanto medo de que descubram sobre a gente e eu não seja capaz de te proteger como você precisa.
balançou os ombros, ainda brincando com o seu canudo colorido - agora no copo já vazio. Às vezes queria gritar para que ele parasse por um segundo de tentar protegê-la incansavelmente e só se lembrasse de amá-la da forma mais intensa que aquele relacionamento merecia. Queria dizer que não se importava nem um pouco com a possibilidade de que soubessem do namoro dos dois. Mas o que ela sabia sobre os holofotes? O que poderia entender sobre a pressão de ter um monte de pessoas atrás dela retirando toda a sua privacidade? Não fazia ideia do que era pior.
— Vamos embora - ele chamou e deixou algumas notas em cima da mesa; o suficiente para pagar pelos sucos e dar uma gorjeta significativa para a pobre garçonete solitária.
Saíram rapidamente da lanchonete, sentindo um vento gelado e cortante que tinha decidido vir sabe-se lá de onde. A garota apertou mais o cachecol ao redor do pescoço, tentando proteger o próprio rosto e evitar que suas bochechas atingissem um tom sem igual de vermelho em instantes devido ao choque térmico.
Começaram a caminhar mais rápido, na intenção de agilizar o percurso até o apartamento. Ao menos, era essa a intenção. parou bruscamente e puxou pelos ombros para obrigá-lo a olhar para aquilo que chamou sua atenção de forma tão dramática e repentina.
— Essa é a coisinha mais fofa que eu já vi na minha vida - ela disse, colocando as mãos no vidro do abrigo.
começou a rir ao perceber a animação mútua entre a namorada e o pequeno filhotinho que tinha as duas patas dianteiras apoiadas na janela enquanto abanava o rabo freneticamente e respirava de forma agitada com a língua para fora. As manchas marrons de tamanhos e formatos variados, espalhadas pelo pelo branco, só deixavam aquele cãozinho ainda mais fofo.
— Tem razão. Ele é a coisinha mais fofa depois de mim - ele considerou.
— Ele está disponível para adoção, amor. Podemos ficar com ele? Por favorzinho?
esboçava um beicinho pidão, fazendo a maior cara de dó que ele já vira. O rapaz desviou o olhar sabendo que não resistiria a ele se tivesse que encarar aqueles olhos brilhantes por mais um segundo sequer.
— Você não pode fingir que não me ouviu - ela tornou a falar. — Olha pra essa carinha. Não tem como dizer não a ela. - Ela puxou para que olhasse para o pequeno cão, que levantava as orelhas e pendia a cabeça para o lado toda hora que o rapaz depositava o olhar sobre ele.
— Como vamos cuidar de um cachorro dentro daquele apartamento?
— Por Deus, será que eu tenho que explicar para você como cuidar de um cachorro? Você não teve infância, não? É fácil. Você coloca um pouco de ração umas duas vezes por dia, a quantidade depende da raça e da idade. Tem que repor a água dele ao longo do dia e trocar o jornal da lavanderia, já que é lá que ele vai fazer as necessidades básicas dele. Sabe como é, não é? Aqueles vídeos de bichinhos que aprendem a usar o vaso sanitário são legais, mas não é nada simples ensiná-los e muitas vezes nem amigável. Então, ficaremos com o jornal. Podemos comprar uma caminha e um cobertor. Uns brinquedinhos para ele morder também seriam uma boa ideia, sabe? Ele é tão novinho, pode precisar coçar os dentes como os bebês fazem.
não pôde evitar um sorriso bobo em seu rosto ao perceber a animação latente com a qual estava lidando com a situação. Nada o fazia mais feliz em todo o mundo do que ver a mulher que ele tanto amava feliz também. O único desejo que tinha para toda a vida era ver aquele sorriso e os olhos iluminados dela ao falar de algo que a animava tanto.
— Você está me ouvindo? - perguntou. — Por favor, amor, podemos adotá-lo?
não saberia dizer que semblante era mais difícil de ignorar; se era o da namorada ou o do cãozinho que pulava e corria em círculos tentando a todo custo chamar a atenção deles. Foi então que ele teve a ideia mais louca e provavelmente a mais incrível de toda a sua existência. As melhores ideias eram sempre as mais malucas mesmo.
— Podemos. Com uma condição.
ergueu a sobrancelha, tentando prever o que viria a seguir. Jamais admitiria para alguém, mas simplesmente detestava não estar devidamente preparada para as coisas que estavam por vir. Queria sempre ter a resposta para tudo, pois, do contrário, sentia uma pontada esquisita na boca do estômago como em um presságio de que algo poderia dar incrivelmente errado. Mas sabia que não tinha porque ficar aflita com um pedido daquele que tinha toda a sua confiança no mundo.
— Então diga a sua condição, senhor.
— Se vamos ter um cachorro, precisamos ter muita atenção e cuidado com ele. Você sabe disso.
— Sei. Então?
— Para que possamos dar os devidos cuidados a ele, teremos que estar totalmente presentes quando possível, conciliando nossos horários de trabalho e tudo mais. Precisaremos ficar juntos se quisermos dar a ele o que ele precisa. Entende o que eu quero dizer?
— Mas nós estamos juntos.
— Eu quis dizer juntos de verdade - ele emendou, segurando a mão da namorada. — O que acha de morar comigo?
não pôde evitar de deixar que sua boca se abrisse na mais completa feição de surpresa. De todos os pedidos mais loucos que ela podia imaginar, aquele era o último que poderia sonhar em passar pela sua cabeça. Já tinha pensado naquilo; era óbvio. Todos sempre diziam que, quando um relacionamento ficava sério o suficiente, as pessoas juntavam as escovas de dentes na intenção de se aproximar da vida que esperavam ter quando passassem ao próximo nível. Seu corpo todo era percorrido por expectativa e surpresa, em um misto de euforia com medo. Mas o que podia dar errado com aquele que ela amava incondicionalmente? Tudo o que ela mais queria era poder passar mais tempo ao lado dele.
— Amor? - chamou, começando a se arrepender do pedido. Já estava esperando o pé na bunda que tomaria.
— Eu aceito - respondeu, tirando um peso das suas costas e das costas dele. — Agora, vamos pegar o nosso cachorro. Acho que ele tem a maior cara de Hyoku. Esse deveria ser o nome dele.
*****
— Para de fazer barulho - reclamava. — Você vai acordar a sua mãe!
O cachorro se sentou rapidamente e encolheu o corpo, como se tivesse entendido exatamente o que haviam lhe ordenado. , na verdade, tinha certeza de que ele o entendia perfeitamente. A certeza que ele não tinha naquele momento era se aquela receita fazia algum sentido, porque, para ele, definitivamente não fazia.
Se havia uma coisa da qual ele se arrependida nessa vida, essa coisa era a decisão idiota de procurar uma receita de panquecas caseiras para tentar surpreender com um café da manhã na cama. Deveria simplesmente ter comprado uma caixa na sessão de congelados do supermercado. As xícaras de farinha de trigo e os ovos “levemente batidos” eram a pior ideia que já tinha passado pela sua mente. Agora, a pia e a mesa estavam imundas de farinha, Hyoku tinha o focinho completamente esbranquiçado - o que fazia com que ele soltasse alguns espirros vez ou outra - e provavelmente aquela massa estava horrível. Aquela meleca na vasilha parecia tão espessa que tinha certeza de que era possível usá-la para substituir cimento em alguma construção civil.
Despejou a massa na frigideira e ficou olhando a forma esquisita que aquilo tomara. Tinha certeza de que era para ficar algo relativamente arredondado, mas formara algumas pontas que ele definitivamente não entendia. Hyoku olhou de uma forma estranha para a frigideira.
— Eu sei, eu sei. Ficou horrível. Só espero que esteja gostoso. - observou mais uma vez aquele protótipo esquisito e disforme de panqueca. — Acho que gostoso é uma palavra muito forte. Talvez seja melhor só esperar que esse negócio não nos mate.
O rapaz tirou do armário a única bandeja que ele tinha - uma que provavelmente estava prestes a esfarelar de tão antiga e inutilizada. Colocou as panquecas em um prato e encheu dois copos com suco de laranja. No canto da bandeja, posicionou duas tulipas vermelhas que tinha comprado escondido na floricultura no dia anterior.
Caminhou calmamente até o quarto que agora era definitivamente dos dois. Com um passo atrás do outro, tomou o maior cuidado possível para não derrubar tudo e deixar que a surpresa fosse uma lambança horrível no chão e um cachorro imundo.
Empurrou a porta, deixando espaço para que Hyoku entrasse em desespero no quarto. O cão pulou na cama rapidamente e passou a lamber avidamente as mãos de . A garota começou a rir antes mesmo de conseguir abrir os olhos.
— Seu pestinha - ela disse entre bocejos. —Bom dia, meu bebê.
— É um absurdo esse cachorro receber tanta atenção e eu ficar aqui praticamente chupando dedo - reclamou ao se sentar na cama e colocar a bandeja entre eles.
olhou para aquilo e começou a sorrir quase que involuntariamente enquanto acariciava Hyoku que já estava aninhado em seu colo.
— Sabe que não é meu aniversário, não sabe?
— Sei perfeitamente. Só quis fazer algo bacana. Na verdade, tentar fazer algo legal porque definitivamente isso foi um fracasso completo.
puxou um pedaço da panqueca com os dedos e levou à boca para experimentar. Mastigou lentamente, fazendo uma careta que assustou imediatamente.
— Eu sabia que tinha ficado horrível. Não come, pode matar.
A garota riu alto, passando os braços pelo pescoço do namorado antes de deixar um beijo estalado em sua bochecha. Sempre se divertia ao apavorar o namorado com esse tipo de brincadeira.
— É brincadeira, seu tonto. Ficou ótima. Muito obrigada por isso. Você é maravilhoso, sabia?
— Sim, eu sabia. Olha só para esse rosto e esse corpo - respondeu, apontando para si mesmo. — Minha mãe sempre disse que Deus foi excessivamente bondoso comigo por ter me dado essa beleza infinita.
— Você também é muito metido. Mas eu te amo mesmo assim.
sorriu, usando seus dedos para aproximar o rosto da namorada do seu. Mesmo depois de todo o tempo de relacionamento, o encontro de seus lábios ainda liberava choques por todo o seu corpo. Beijá-la ainda era algo que ele tinha certeza de que deveria entrar na lista de maravilhas do mundo moderno.
— Canta para mim? - pediu, acariciando o cabelo do namorado.
assentiu sorrindo.
— O que você quer ouvir?
— Qualquer coisa. Só quero ouvir a sua voz doce cantando para mim.
, puxou a namorada para que ela deitasse em seu peito. passou os braços pela cintura dele, ajeitando-se no aconchego de seu abraço. O rapaz levou uma mão aos cabelos dela, afagando-os enquanto cantava baixinho em seu ouvido. Hyoku já havia se deitado entre os dois, aproveitando a canção para tirar um cochilo. De repente, sem perceber, tudo estava incrivelmente completo. Não precisavam de mais nada.
*****
equilibrou as compras em um braço, enquanto rodava a chave na porta com o outro. A caixa grande de presente estava praticamente caindo de seus braços, fazendo com que o alívio de abrir a porta fosse ainda maior. Colocou a caixa em cima da mesa, já sabendo que Hyoku viria correndo como um furacão assim que percebesse a movimentação diferente no apartamento. O que, de fato, demorou praticamente nada.
— Oi, garotão. - cumprimentou, abaixando-se para acariciar a cabeça de Hyoku. — Onde está a sua mãe? Eu vim o mais cedo que pude para ter certeza de que conseguiríamos jantar juntos. Ela não foi dormir, não é?
O rapaz checou a cozinha, olhou pela sala e pelo banheiro da entrada. Nem sinal de . Ela só poderia estar no quarto.
Empurrou delicadamente a porta, prevendo que ela pudesse estar descansando ou fazendo algo que não pudesse ser bruscamente interrompido. Não queria incomodá-la de forma alguma e nem parecer rude.
— Amor? - Chamou da porta. — Vida? Onde você está?
entrou no quarto, sentindo o desespero socar o seu peito ao acelerar desmedidamente o seu coração. A sensação de que algo estava completamente errado assolava a sua mente de uma forma inexplicável. Nunca havia sentido aquilo e esperava não sentir. Também torcia para que fosse um alarme falso e todo aquele pavor fosse totalmente desnecessário. Ela tinha que estar ali em algum lugar.
— Amor, onde foi que você se meteu? Não é possível.
O rapaz fez questão de revirar o apartamento mais uma, duas, três vezes, mesmo sabendo que independentemente de quantas voltas fizesse, ela simplesmente não estava ali. E ele não fazia a mínima ideia do porquê.
Sentou-se em sua cama, jogando a cabeça entre os joelhos, ainda sem conseguir esboçar alguma reação ou conclusão. Aquilo não poderia estar acontecendo.
Foi então que ele percebeu a porta do guarda-roupas ainda aberta. As gavetas estavam reviradas e todas as blusas, shorts e calcinhas tinham sumido. Os seus chinelos e tênis não estavam mais ao lado dos dele. A escova de dentes tinha sido levada do banheiro, bem como os cremes e os xampus.
Desbloqueou seu celular rapidamente, buscando o contato que tinha um emoji de coração e um de gatinho ao lado do nome. Quando se deu conta de que a foto dela não estava mais lá, percebeu que provavelmente ela sabia exatamente onde ficava a opção de bloquear contato. E, se tinha feito aquilo, ele confiava em sua maturidade para decidir que não era um bom momento para conversarem. Apesar de se sentir um lixo por não saber o que tinha feito para merecer aquilo.
Começou a encarar o teto, contando as pequenas manchas na pintura. Quando decidiu ceder ao sono, percebeu o papel dobrado embaixo do abajur que pretendia apagar. Puxou rapidamente, sentindo os próprios dedos tremerem mais do que deveriam. Se continuasse daquele jeito, acabaria desmaiando.
Se eu tiver esquecido alguma coisa para trás, por favor, deixe na portaria. Passo para pegar na sexta-feira.
Comprei um novo pacote de ração para o Hyoku hoje de manhã. Está na despensa. Cuide bem dele.
Adeus, .
— Mas o que eu fiz para você ir embora do nosso apartamento assim? O que eu fiz para você me deixar?
O desespero só aumentava, fazendo com que um nó gigantesco machucasse a sua garganta e o seu coração. Apertou a própria gola da camiseta, usando tanta força que os nós de seus dedos perderam a pouca cor que tinham. Quando sentiu as lágrimas escorrendo como finos afluentes de um rio, soube que estava verdadeiramente perdido.
— O que eu faço agora sem você?
*****
estava jogado no sofá vermelho do estúdio, com os pés pendendo em um dos braços da mobília enquanto o outro servia de apoio para a sua cabeça cansada e desolada. Já faziam dez dias desde que havia ido embora e ele ainda não tinha notícia alguma sobre ela. Tentou ligar, tentou enviar mensagens de texto, mas tinha quase certeza de que seu número havia sido completamente bloqueado no celular dela. Maldita era em que as pessoas não tinham mais - ou não usavam - telefone fixo. A tecnologia estava terminando de destruir a vida dele. Bufou, levando as mãos aos olhos para esfregá-los. Com tanta raiva, quase parecia que ele os arrancaria da própria face.
— Ei, ei, para com isso! - quase gritou, segurando as mãos do amigo. — O que você pensa que está fazendo? Está tentando se matar?
— Não seria uma má ideia - murmurou, encolhendo o corpo no sofá.
Aquele desânimo vinha destruindo o rapaz e levando todo o grupo junto. Às vésperas da nova turnê, nenhum deles tinha cabeça o suficiente para se animar de verdade. Qualquer risada ou graça parecia encobri-los como uma aura fúnebre assim que se lembravam da feição derrotada do amigo. Não eram somente um grupo; eram uma família. Sorriam juntos, venciam juntos, perdiam juntos e sofriam juntos.
— Ainda sem notícias dela? - perguntou, sentando-se no chão para conseguir olhar nos olhos de seu amigo. Tudo o que ele queria era poder tirar sua dor.
— Já tentei de tudo. Eu até consegui o telefone do irmão mais novo dela e ele mandou que eu parasse de procurá-la. Disse que ela já estava mal o suficiente e não precisava que eu piorasse tudo. - bufou. — Eu só queria entender o que aconteceu. Eu não consigo fazer mais nada, sabia? Eu chego no apartamento, coloco a comida do Hyoku e fico olhando para o teto até a hora de dormir. Não consigo mais assistir à televisão, não consigo ouvir música ou usar a internet. Eu não consigo fazer nada porque tudo me lembra dela. Se confirmassem hoje que o mundo acabaria amanhã, eu provavelmente só descobriria quando fosse tarde demais. Aparentemente, é assim que as coisas funcionam para mim.
apoiou uma mão no ombro do amigo e estendeu a outra para ajudá-lo a se levantar. Não poderia deixar que ele ficasse ali remoendo aquela dor e destilando seu deboche irônico sobre o próprio sofrimento.
— Venha. Vamos até o seu apartamento. Podemos cozinhar algo quente e comer enquanto vemos algum filme idiota. Se você não rir das piadas horríveis eu te dou umas cotoveladas e a gente se acerta. Pode ser?
— Você cozinha - declarou, antes de aceitar o convite de .
— Qualquer coisa que te deixe mais feliz, irmão - o outro declarou. — Mas que fique claro que eu sou quase um chef de cozinha estrelado.
— Espero que você tenha aprendido desde a outra vez. Quase morri intoxicado na sua última tentativa.
— Sabe o que você é? Um dramático ingrato. Devia dar mais valor aos meus dotes culinários mesmo que eles te matem.
revirou os olhos para o amigo, enquanto colocava a sua jaqueta sobre os ombros e arremessava a de em seu rosto propositalmente.
— Vamos logo!
decidiu dirigir, permitindo que passasse todo o trajeto encostado ao vidro da janela, tamborilando os dedos das mãos sobre as próprias pernas. Ele não queria papo e o amigo bem sabia disso. Respeitava a sua decisão de preferir o silêncio. Afinal, sabia que, quando decidisse conversar, ele o faria. Com certeza estaria lá para ouvi-lo.
Abaixaram os capuzes sobre os rostos ao entrarem na garagem do prédio, subindo o elevador após terem a completa certeza de que o mesmo estava vazio. A vantagem de morar em um local afastado era exatamente que esses momentos não eram tão raros quanto pareciam.
— Você já sabe onde as coisas ficam - avisou antes de jogar as chaves sobre a mesa da sala de jantar e largar a jaqueta em uma das cadeiras. — Vou tomar um banho para ver se acordo um pouco ou vou cair no meio da sala e acordar com o Hyoku lambendo meu rosto.
Um barulho alto de unhas raspando no piso anunciou que o cão tinha ouvido seu nome. Em questão de segundos, o cachorro já estava lambendo as mãos de , pedindo o carinho daquele ser que ainda era um tanto diferente para ele. Mãos novas pareciam sempre mais legais.
, durante seu banho, cantarolou uma melodia que não saía de sua mente. Não sabia exatamente se tinha escutado aquela sequência de notas em algum lugar ou se ele mesmo as reunira naquela ordem. Tudo o que ele sabia era que seus dedos conheciam exatamente o caminho das teclas que iriam construir aquela canção. Só precisava da letra. Saiu do banho até mais animado com a possibilidade de se ocupar com um novo trabalho.
— Acho que teremos uma nova música em breve - anunciou, entrando na cozinha. — O cheiro está bom. O que você está fazendo?
— Encontrei um pacote de macarrão na sua despensa e decidi fazer um molho bem temperado - disse, mostrando-se completamente orgulhoso. — Experimente isso aqui.
Estendeu uma colher para que experimentasse seu molho. O rapaz assoprou o utensílio algumas vezes para evitar que o conteúdo arrancasse um pedaço de sua língua e logo levou o molho à boca. Imediatamente, ele cuspiu todo o conteúdo na pia, enchendo um copo com água gelada para tentar tirar aquele gosto horrível que agora estava impregnado em sua língua. Uma careta continuava presa em sua face, enquanto mal conseguia respirar de tanto rir.
— Essa é a coisa mais nojenta que eu já comi em toda a minha vida. O que tem aí? Veneno? Chorume?
— É só sal, seu idiota. - ainda morria de rir. — Talvez eu tenha colocado uma pitada extra na sua colher só para ver se você estava mesmo acordado.
— Eu te odeio - declarou. — E muito.
— Não. Você me ama. E muito. Agora, pegue os pratos que o jantar já está quase pronto.
arrumou a mesa e logo ele e estavam saboreando o macarrão preparado. Por mais que estivesse morrendo de medo de engolir aquilo, deveria admitir que estava delicioso de fato. Não parecia em nada com aquela montanha de sal que ele tinha experimentado antes.
— Já pode admitir que eu sou quase um chef estrelado - brincou, assim que terminaram de comer.
— Estava muito bom mesmo. Acho que vou te contratar para ser meu cozinheiro. Da última vez que tentei cozinhar, quase explodi o fogão e destruí os pulmões de Hyoku de tanta farinha que o coitado aspirou.
— Você? Cozinhando? - riu alto. — Isso é sério?
jogou a tampa do suco no peito do amigo, fazendo-o rir ainda mais.
— Sim. Tentei fazer algumas panquecas de café da manhã para mim e . - Ele engoliu em seco ao trazer à tona aquela lembrança. — Ela disse que gostou, mas tenho certeza de que foi só para me agradar. As panquecas ficaram completamente tortas e borrachudas. Passei horas limpando a bagunça que fiz na cozinha. Acho que , no fim das contas, tivemos mais ônus do que bônus. Na hora, pareceu uma ideia bem melhor. Tantas coisas pareceram ideias melhores…
— Vou descer para colocar o lixo para fora - avisou. — Você escolhe o filme mais tosco que conseguir achar nesse tempo. Mas, se quiser desabafar, estarei pronto para ouvi-lo por quanto tempo você precisar.
O amigo meneou a cabeça, concordando com a proposta. amarrou o saco de lixo da cozinha e desceu pela escada. Ao encontrar o depósito do apartamento de , ele estranhou um bolo de papel amassado com uma capa em tons de rosa chamativos. Checou, olhando por cima, e percebeu que tudo estava bem empacotado e a revista estava limpa ali por cima. Passou os olhos por cima, identificando o nome de vários k-idols e reconhecendo aquela como uma das revistas mais consumidas pelas fãs adolescentes.
colocou seu achado embaixo do braço e seguiu rapidamente até o apartamento, já pensando em todas as piadas que poderia fazer com por ter aquele objeto pairando logo em seu lixo.
— Sabe quando dizem que o melhor jeito de conhecer alguém é olhando o lixo da pessoa? - perguntou ao abrir a porta do apartamento e dar de cara com o amigo jogado no sofá com o controle remoto sobre o abdômen. — Acho que é verdade, porque você é o meu melhor amigo e mesmo assim eu jamais esperaria que você lesse revista de adolescente.
— De que merda você está falando? - perguntou, já revirando os olhos por esperar a piada mais imbecil possível.
estendeu a revista ao amigo - que a pegou bruscamente, sem entender absolutamente nada do que estava havendo. Suas sobrancelhas se contorceram por inteiro, reforçando seu completo desconhecimento sobre o assunto.
folheou aquelas páginas rapidamente, rindo de alguns comentários sobre conhecidos seus e se irritando com as notícias que até ele sabia que eram falsas. Seus olhos se arregalaram dolorosamente ao perceber o seu nome escrito em letras garrafais. Sentiu seu mundo ruir de vez ao perceber que o nome ao lado de seu era o de Myung.
e Myung são vistos aos beijos. Nosso casal preferido não poderia estar mais unido. Já estávamos com saudades!
— Não, não, não, não, não - repetia em completo desespero. — Eles não podem fazer isso.
se assustou e puxou a revista, arregalando também os olhos ao perceber a manchete que havia tirado o amigo do sério. Virou a página só para encontrar um problema gigantescamente maior: uma foto que mostrava exatamente seu companheiro beijando a atriz. A reação de ao ver a foto foi péssima, desencadeando uma raiva incomum com a qual ele sequer sabia lidar.
— Isso é ridículo! Essa foto é antiga, de quando nós começamos a namorar. Eles estão transformando essa mentira em uma bola de neve enorme só para permitir que a avalanche me destrua. - inspirou fundo, tentando com todas as forças não perder o controle. — Como eu não soube que isso havia tomado essas proporções?
— Você sabe que o pessoal do estúdio e da nossa equipe esconde cada mísero detalhe do mundo quando estamos em gravação ou em preparação para turnê - disse. — Eles esconderam isso de todos nós.
— Mas não podiam. - estava transtornado. — Eu tenho o direito de me defender das mentiras que contam sobre mim. Isso é sobre a minha imagem e a minha vida, não são eles que decidem o que eu posso ou não ver ou dizer.
Foi então que, quase em um estalo, percebeu uma coisa. Se estivesse em uma revista em quadrinhos, com certeza uma lâmpada já teria se acendido sobre a sua cabeça por chegar àquela conclusão. E ele desejava muito que estivesse errado.
— ? A revista estava no seu lixo. Você acha que talvez… Não sei…
— Aonde você quer chegar? Fala de uma vez!
— Você acha que pode ter sido a que conseguiu essa revista e jogou lá? - praticamente cuspiu as palavras, imaginando o peso que teriam para o amigo, uma vez que já tinham um peso imenso sobre ele.
repassou em sua mente o ocorrido do dia em que adotaram Hyoku. A primeira notícia que tinham visto sobre os rumores, apesar de ter sido desmentida por ele, havia deixado a garota completamente acabada. O que ela pensaria agora que tinha uma foto em mãos? Provavelmente ela não tinha percebido que a foto era velha e estava acreditando em uma traição por parte dele. Por Deus! Ele jamais faria algo para machucá-la, quanto mais traí-la.
— Eu não acredito que esses desgraçados conseguiram realmente tirar quem eu amo de mim. - reclamou, sentindo as lágrimas de decepção e raiva molhando suas bochechas. — , eu a amo tanto, tanto. Eu não sei o que fazer sem ela. Eu tentei fingir que estava tudo bem, mas nada é bom sem ela aqui. Eu preciso da comigo. Eu não sei nem mais quem eu sou quando estou longe dela.
As lágrimas de corriam livremente e o choro - antes entalado em sua garganta - fluía solto por seus pulmões e garganta, ecoando de forma dolorosa por todo o apartamento. abraçou o amigo com toda a sua força, tentando acalmá-lo da forma que conseguia.
— Eu preciso fazer alguma coisa - disse, engasgando com os soluços.
— Nós precisamos - emendou. — E iremos. Aliás, eu acho que eu tenho uma ideia…
se levantou de supetão, atento a qualquer ideia que pudesse ajudá-lo na dura busca para reaver o amor de sua vida.
— Você ainda tem aquela música? - assentiu, em resposta ao amigo. — Então, acho que nós podemos aproveitar isso.
*****
Os treze rapazes já sentiam as gotas de suor escorrendo pelo pescoço e molhando as camisas. Algumas, incômodas, desciam pelas costas em uma lentidão torturante. Eles tinham que respirar fundo vez ou outra para ter controle o suficiente para não sair tirando as próprias roupas de locais indevidos. As coreografias complexas não ajudavam muito a evitar que isso acontecesse, mas lá estavam eles firmes e fortes como sempre. Com o tempo, acabavam se acostumando com a irritação e o suor. Algumas fãs passavam toda a apresentação torcendo para que eles logo ficassem com os cabelos colados ao rosto e pescoço, justificando aquilo como sexy. achava bizarro, mas já havia desistido de tentar entender como as fãs achavam certas coisas atraentes. Na verdade, ele até se aproveitava daqueles momentos para “piorar” a situação para elas por meio de algumas movimentações um tanto sugestivas no palco. Não poderia mentir; adorava o jeito que elas iam à loucura por sua causa.
passara o show tão tenso que tinha certeza de que todo o fandom compartilharia vídeos dele fora de sincronia ou fazendo os passos para o lado errado. Deu o seu máximo para fazer tudo aquilo que havia treinado, mas estava tão compenetrado em apenas fazer o seu trabalho sem deixar que o nervosismo tomasse conta dele que talvez tivesse se perdido sem ao menos perceber. De qualquer forma, aquele era o menor dos seus problemas no momento.
Tinha criado um e-mail falso com um nome qualquer só para se cadastrar no facebook com o mesmo pseudônimo esquisito. Enviara mensagens para explicando quem era e a convidando para o show que fariam na cidade como abertura da turnê mundial. Dissera com todas as palavras que precisava de uma chance para esclarecer as coisas e enviara todos os links que encontrara de sites que haviam publicado a mesma foto comprometedora da revista tempos atrás. Fez questão de escolher mais de um, provando pelas datas que a traição na qual ela acreditava era mais uma invenção doentia da mídia. realmente esperava que as evidências fossem o suficiente para que ela lhe desse uma chance e fosse até o show, na área VIP como ele pedira à equipe de segurança.
Conforme o tempo ia passando, ele só sentia seu nervosismo aumentar e pulsar em sua cabeça. Era como um zunido agudo e insistente em seus ouvidos, lembrando-o de que tudo poderia ser em vão. Aquilo pelo qual ele tanto esperava poderia simplesmente nunca acontecer. Se ela não estivesse ali, isso significava que nada mais adiantava. Significava que ela já não queria mais nada com ele e que seguiria a sua própria vida como deveria e merecia. sentia adagas perfurando seu coração ao cogitar a felicidade de sem ele.
Quando as luzes do palco baixaram, os rapazes se reuniam em uma fila no centro do palco. Sabiam que o grande momento tinha chegado. As fãs ergueram seus light sticks , ansiosas para o que poderia estar prestes a acontecer.
Os seguranças se comunicaram pelos pontos em suas roupas até chegarem à conclusão de que podiam dar o sinal de confirmação que eles tanto esperavam. Ela estava ali. respirou fundo repetidamente, tentando usar a sua frequência respiratória para controlar a cardíaca. Não estava tendo lá muito sucesso nessa missão.
— Bom, nós temos uma surpresa - anunciou, tentando passar confiança para que o amigo tomasse à frente da situação. — Mas, antes, tem algumas coisas para dizer a vocês.
As carats gritaram ensandecidas quando ele se aproximou da beirada do palco com um sorriso envergonhado que fazia com que seus olhinhos quase se fechassem. respirou fundo mais algumas vezes, entre risos nervosos, tentando encontrar a coragem e a força que precisava para lidar com tudo aquilo.
— Bom, vocês provavelmente viram as notícias de que eu e Myung voltamos com o relacionamento, certo? - Perguntou.
— Certo - responderam, praticamente em uníssono.
— Imaginei. - riu, tentando descontrair. — Acontece que essa história é falsa. Nós terminamos há um bom tempo e sequer nos falamos desde então. As fotos que estão circulando por aí são antigas e as manchetes são completamente inventadas. Não quero que acreditem em tudo que vocês leem por aí, ok?
respirou fundo, virando-se para olhar para os amigos, em busca de apoio. Os sorrisos que esboçaram, incentivaram-no a prosseguir com o que precisava ser dito.
— Não confiem neles - continuou. —Tudo o que eu quero é que vocês confiem em mim, porque eu jamais mentiria para vocês.
As fãs gritaram novamente, dando um tempo para que respirasse pela última vez antes de deixar que a bomba fizesse seu possível estrago - para o bem ou para o mal.
— Eu conheci alguém há algum tempo e nós estamos juntos desde então. Ela é a mulher mais linda, mais doce e mais incrível que já participou tão diretamente da minha vida e eu a amo com todas as minhas forças. E já que nós treze e vocês formamos uma família, gostaria de ter o apoio de vocês nisso. Não quero que seja um mal estar entre nós e sim um motivo de grande alegria que possamos compartilhar juntos. Pode ser?
— Sim! - Foi a resposta, por mais que os garotos soubessem que não seria fácil assim. Estavam dispostos a enfrentar o que fosse pela felicidade do amigo e sabiam que estariam lá um pelo outro sempre.
sorriu, olhando diretamente para a área VIP em que, apesar de não enxergar, sabia que estava a mulher de sua vida.
— , eu te amo com todo o meu coração. Você sabe que é meu Hyoku e eu sinto a sua falta todos os dias. Preciso de você para voar.
Passou as costas da mão na bochecha, limpando uma lágrima irritante que insistia em escorrer por ali. Quase instantaneamente, ouviu as palmas e gritinhos do público e dos amigos, incentivando-o a continuar. gritou um “Lindo! Maravilhoso!”, arrancando risos de todos.
— Essa música é para você - anunciou por fim. — Ela se chama Without You.
“Foi difícil sem você, eu estava com medo
Com medo da ideia de ficar sozinho
Desperdiçando tempo como um idiota
Eu nem ao menos sabia que o tempo estava passando
Eu não sabia de nada
Apesar da dificuldade
Você não tem que ficar sozinha
Volte para mim, eu estou pronto para ouvir
Se você puder me ouvir em algum lugar
Deixe-me de novo te fazer brilhar nos meus olhos, por favor
(...)
Quando terminaram a canção, tinha lágrimas nos olhos. Seus companheiros de grupo se uniram para um abraço coletivo, embalado pelos gritos das fãs.
Abraçados, os treze fizeram uma reverência desajeitada e emocionada, agradecendo pela presença e pelo carinho que receberam naquela noite. Nunca se acostumariam com aquele mar iluminado e os gritos de satisfação. Existiam tantos sentimentos envolvidos naquela relação que eles jamais seriam capazes de explicar.
A equipe de seguranças entrou em cena assim que as luzes do palco se apagaram por completo, acompanhando os rapazes até o backstage.
Os rapazes se trocaram rapidamente, tirando as roupas de show para tomar um banho rápido e substituí-las por vestimentas mais normais. As malas e mochilas já estavam prontas e eles apenas terminavam de arrumar os cabelos, quando o chefe da segurança bateu na porta do camarim.
— Você tem uma visita - disse olhando para , que automaticamente sentiu seu coração acelerar.
— Diga para ela entrar - avisou. — Primeiro, ela vai receber um abraço coletivo esmagador do grupo mais lindo.
— Você sabe que há controvérsias sobre vocês serem o grupo mais lindo, não sabe, ? - perguntou entre risos, antes de adentrar o cômodo. — Principalmente quando você está nele.
Os doze quase estrangularam a garota naquele abraço desajeitado. Estavam tão felizes por seus planos terem dado certo e mais felizes ainda por saberem que tudo melhoraria assim que voltasse a ser feliz.
— Agora, vamos dar espaço aos pombinhos - avisou, expulsando o restante do grupo praticamente a pontapés.
Com uma piscadinha, ele saiu, deixando os dois finalmente a sós e olhando para o chão, ainda nervosos com a presença do outro.
— Você está maravilhosa - começou. — Como sempre.
— Obrigada! - sorriu envergonhada. — O show foi maravilhoso e você foi perfeito do começo ao fim. Como sempre.
desistiu da enrolação e jogou seus braços ao redor da namorada, que logo retribuiu aquele contato com toda a sua força. O rapaz desviou levemente daquele abraço; o suficiente para encher seu rosto de beijos.
— Foi tudo um mal entendido.
— Eu sei - respondeu, entre lágrimas.
— Não sabe o inferno que foram os meus dias sem você ao meu lado. Eu quase morri de saudades.
— Eu também. Perdão por ter ido embora.
meneou a cabeça, negando.
— Você não precisa se desculpar por nada. Só me promete que nunca mais vai me deixar. Não sei viver sem você.
sorriu, aproximando o seu rosto do dele até que seus narizes se tocassem delicadamente.
— Nunca mais.
FIM
Nota da autora: Minha primeira fic no kpop que tanto amo. Confesso que eu talvez esteja com um pouquinho - muito - de medo. Socorro!
Espero que tenham gostado da história e, por favor, digam o que acharam aqui nos comentários.
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