Capítulo Único
– É a primeira turnê em arenas do garoto, seria interessante que vocês trabalhassem juntos. A visibilidade seria ótima! – Dizia Jason.
– Eu sei que seria. – Me limitei a dizer.
Eu havia acabado de ganhar o prêmio Linbury de Cenografia, com apenas um ano de carreira. Entretanto, o que deveria ser ótimo (e foi) estava, na verdade, me aterrorizando. Não queria ser uma designer de um projeto. Queria ser mais do que isso. Queria inovar, ser referência no meu ramo. Quem sabe daqui há alguns anos ser inspiração para alguém, talvez.
Naquele momento, estávamos em uma pequena reunião, analisando uma proposta feita pela equipe de um cantor de eu ser a responsável pelo cenário de seu show. Além de ser a sua primeira turnê solo em arenas, ele iria se apresentar em uma grande premiação e a expectativa estava grande, dado o fato de que ele havia feito parte de uma boyband muito famosa.
Além de toda a expectativa, eu não tinha cem por cento de certeza sobre o trabalho em si. Estava acostumada com cenários de peças de teatro, desfiles de moda, nada de cenários de shows. Seria um ótimo desafio, admitia.
– Temos carta branca? – Perguntei a Jason, meu assistente.
– Total! – Ele afirmou.
– Vamos fazer isso acontecer. Pode marcar a reunião.
*
– Senhorita , seja bem-vinda. Sou Theo Holland, muito prazer. – Disse, estendendo-me a mão em um cumprimento. Aceitei-a de bom grado e sorri.
– Fiquei muito honrada com o contato, senhor Holland.
– E eu por ter aceitado colaborar conosco. Venha, por aqui. está nos aguardando na sala de reuniões com o resto da equipe.
Já havia ouvido falar de Theo Holland, grande magnata da indústria fonográfica. Entretanto, nunca imaginei que fosse tão jovem. Aparentava ter uns quarenta anos, muito bem distribuídos, por sinal, e tão acessível.
Segui-o até a sala de reuniões, na qual encontramos o resto da equipe de criação e o ponto-chave da criação: o cantor.
Particularmente, eu conhecia pouca coisa sobre o seu trabalho. Havia ouvido uma música ou outra de sua antiga boyband na rádio e visto-os em algum outdoor pela cidade. Também lembrava do escândalo que houve quando anunciaram o hiato do grupo. Nenhuma informação construtiva.
Ele foi meu foco no momento que coloquei os pés na sala. Queria gravar todas as informações possíveis sobre ele. Tudo o que fosse necessário para o meu processo de criação.
Ele estava com o celular na mão no momento em que entrei na sala. Sua cabeça estava abaixada enquanto ele sorria olhando para o aparelho.
Theo apresentou-me aos colaboradores da gravadora e, por fim, ao músico. guardou o celular no momento que notou nossa presença e sorriu. Ele tinha mais ou menos a minha idade. Eu julgava que fosse um pouco mais novo, talvez. Tinha cabelos castanhos na altura dos ombros e lindos olhos verdes.
Expliquei a todos sobre meu processo de criação. Expliquei que tudo dependia da liberdade que eu tinha e das informações que eles compartilhavam comigo. E todos pareceram muito solícitos em sanar todas as minhas dúvidas sobre o novo projeto de .
Enquanto conversávamos, eu desenhava em meu sketchbook tudo o que eu conseguia filtrar de útil das informações. Sentia o olhar curioso de em mim e nas folhas que eu rabiscava. Ele estava visivelmente ansioso com tudo o que estava acontecendo, e eu soube o quanto aquilo era importante para ele. As letras eram extremamente pessoais, como se fosse uma libertação da imagem que haviam construído dele enquanto membro da boyband.
*
– , , espere! – Olhei para trás assim que ouvi meu nome pela primeira vez.
– Ah, oi, . Está tudo bem? Ficou algum tópico em aberto que você ainda queira corrigir? Eu achei que já havíamos discutido tudo por hoje.
– Não, está tudo certo. Bom, mais ou menos. Eu gostaria de saber se você gostaria de tomar alguma coisa comigo, para nos conhecermos melhor. Talvez isso a ajude no processo de criação.
– Ah, não precisa se preocupar com isso, a demo do álbum fala por si própria. Como você mesmo disse na reunião, eu já captei a essência do que você queria. Mas se realmente achar necessário, pode conversar com Jason, meu assistente. – Sorri. – Tenha uma boa tarde. – Disse, virando as costas para poder chamar o elevador.
– Espera. – Ele disse, atraindo minha atenção novamente. – Eu realmente gostaria de sair com você.
Encarei-o por alguns segundos.
– Para conversarmos sobre o palco. – Continuou. Olhei em meu relógio de pulso. Eram quase cinco horas da tarde. Seria a minha primeira noite livre em semanas. sorriu e continuou esperando a sua resposta. Respirei fundo e sorri também. Ele era o chefe, eu precisava mais dele naquele momento do que ele precisava de mim.
– Tudo bem. – Concordei. E seu sorriso aumentou.
– Ótimo! Eu só preciso pegar as minhas coisas na sala de reunião. Você me encontra no café aqui do prédio? – Perguntou, e eu afirmei com a cabeça. seguiu em direção à sala e eu entrei no elevador, apertando o botão do andar do café.
Não precisa vir me buscar. Aqui vai demorar. :(
Mandei para Jason, que me respondeu imediatamente.
Como assim? Pensei que já tinha terminado.
Eu também! O rapaz quer continuar a conversa no café aqui do prédio.
No café? Só vocês dois?
A reunião havia sido marcada em um hotel de luxo no centro da cidade. Provavelmente e a equipe estavam hospedados aqui. O café era uma mistura de bar com restaurante e café e ficava na cobertura, uma vez que o hotel era super requisitado entre os famosos e eles necessitavam de privacidade.
Escolhi uma mesa próxima à sacada, que dava uma visão maravilhosa da cidade, e pedi uma água.
Não sei. Acho que sim.
Respondi a mensagem de Jason.
Será que ele só quer discutir a cenografia mesmo?
Revirei os olhos e ri.
Cale a boca! Estávamos discutindo sobre sua primeira turnê, óbvio que ele está interessado na cenografia.
Vou para casa de táxi. Beijo.
Escrevi assim que avistei chegando.
– Demorei? – Perguntou, jogando sua bolsa e casaco em uma das cadeiras e sentando-se na que estava em minha frente.
– Não. Só deu tempo de pedir uma água, e ela nem chegou. – Respondi, e ele sorriu.
chamou o garçom e pediu um chá. Perguntou se eu queria alguma coisa e eu disse que estava bem somente com a água.
Esperava que a reunião acabasse logo. Só queria ir para casa, tomar um bom banho e dormir o máximo que pudesse.
– Então, , o que você acha que eu preciso saber sobre você para agregar ao meu processo de criação? Ou melhor, vamos primeiros anotar os pontos que não lhe agradam da proposta inicial. – Disse, buscando meu sketchbook na bolsa.
– Não. – Disse , chamando a minha atenção. – Eu gostei de tudo, . É sério.
O que diabos esse garoto queria conversar então? Odiava quando a parte contratante me dava carta branca e depois queria impor suas ideias. Aquela era a parte do trabalho que me desmotivava e me deixava com raiva.
Se queriam dar sugestões, por que dar autonomia ao designer?
Respirei fundo e tentei manter a calma. Havia discutido com uma diva pop há poucos dias. Aquilo não havia sido bom para o meu bolso e nem para a minha reputação.
– Então, você queria conversar sobre? – Perguntei.
– Você. – Ele sorriu de lado e eu permaneci em silêncio, encarando-o. – Digo, quero conhecer o seu trabalho.
– Você não pesquisou sobre o meu trabalho antes de me contratar? – Me arrependi assim que a frase saiu. Tomei um longo gole de água enquanto me olhava, provavelmente escolhendo bem as palavras. – Bom, estudei design de teatro e artes, me formei há dois anos. Meu avô era arquiteto, me incentivou desde muito nova. Eu praticamente cresci em seu escritório. – Comecei, e permaneceu em silêncio, apenas ouvindo. – Então, desde que entrei na faculdade, eu já estava atuando na área. Só fui ganhando cada vez mais espaço em seu escritório. Quando ele faleceu, me nomeou chefe de criação da companhia. Herdei o legado, mas quero ser levada a sério pelo meu trabalho, sabe? Amo o que ele fez por mim e sou extremamente grata. Só não quero viver as sombras do que ele foi. – Confessei.
– Eu realmente entendo como é isso. – Suspirou. parecia cansado, talvez. – Quero ser mais do que ex-membro de uma boyband. Quero fazer a minha música. Não me importo se é comercial o suficiente, eu só quero... Eu não sei, só quero fazer a minha música. – Deu de ombros.
Eu via em seus olhos o mesmo conflito que senti quando decidi que manter o legado do meu avô não era o suficiente para mim. Me senti egoísta no início, mas, no fim, eu sabia que era aquilo que ele queria que eu fizesse.
– E vai fazer! Seu álbum está maravilhoso. E olha que nem é meu estilo de música favorito. – Disse, fazendo o rapaz rir.
– Não diga isso só porque contratei seus serviços.
– Eu jamais faria isso. – Dei risada.
Talvez não fosse tão diferente de mim quanto eu imaginava.
*
– Nós devemos nos concentrar no que queremos que o público sinta e o que queremos comunicar a eles. Uma vez que temos trabalhado fora do arco geral do show, desse ponto de vista, as formas de palcos evoluíram para envolver a história que queremos transmitir. – Dizia à minha equipe. – Anotei tudo o que achei necessário para os moldes iniciais. – Distribuí cópias de meus desenhos da primeira reunião.
*
– Então, eu pensei em um cubo. Um cubo gigante, bem no meio da arena. – Mostrei a o pequeno cubo vermelho que minha equipe havia feito. – Aqui podemos projetar parte das letras das músicas. Podemos projetar fotos suas, foto raras, sabe? Que você não fica postando nas redes sociais. – Disse, e ele riu.
– O show pode ser projetado aí também em algum momento, para que o pessoal de trás possa ver melhor.
– Para isso, eu pensei num grande painel de LED atrás do palco. Da mesma largura que ele e o mais alto possível. E lá podemos reproduzir o show simultaneamente.
– Isso seria maravilhoso! – Disse, animado. E eu me permiti apenas observá-lo. Como ele ficava ainda mais bonito quando sorria, como seus olhos brilhavam vendo os projetos para seu futuro.
Sua expressão mudou em questão de segundos quando ouviu o barulho de flash fotográfico.
Estávamos num café no centro da cidade, sentados em uma mesa bem escondida, longe das janelas. Mas, mesmo assim, não impediu que alguém o fotografasse.
– Desculpa. Às vezes isso acontece, não deveria ter marcado aqui. – Disse , chateado.
– Não tem problema. – Toquei em seu braço para que me olhasse. – Eu não me importo. Estamos trabalhando. Aliás, o chocolate quente daqui é maravilhoso! Como eu não conhecia esse lugar? – Disse, fazendo-o sorrir.
– Essa é a pior parte da profissão.
– Eu imagino! Mas não vamos nos prender a isso. – Ele concordou com a cabeça. – As letras das músicas projetadas no cubo poderiam ser fotos os meus rascunhos, de quando estava compondo.
– Seria ótimo! – Respondi, animada, anotando a observação ao lado do desenho inicial.
– Acho que faria com que o público sentisse mais próximo.
– Com certeza! Ainda mais se tiver algumas observações, alguns rabiscos. Mas isso só dará certo se sua letra for legível. – riu da minha observação e voltou a dar sugestões como se o chato do fotógrafo não estivesse ali.
*
– Não acredito que você não tem irmãos, nem primos. Como assim? – Dizia no telefone.
– Pois é! Meu pai e minha mãe são filhos únicos e seus pais também são.
– Deus, que coincidência! – Disse, impressionado.
– Sim! Minha mãe tem uma irmã, que tem filhos cachorros.
– Ah, então você meio que tem primos.
– Sim. Fiquei de babá algumas vezes que eles foram viajar. – Respondi, e ele riu.
Fazia uns quatro dias que havíamos nos encontrado no café. Assim que a primeira notícia sobre nosso “encontro” saiu e ele soube, me mandou uma mensagem pedindo desculpas pelo o ocorrido. Desde então, não paramos de conversar.
Hoje, ele havia perguntado se podia me ligar, e eu concordei. Estávamos no telefone há quase três horas. Conversava com ele enquanto trabalhava no projeto de seus shows.
Ouvi a campainha tocando na linha.
– Visita? – Perguntei.
– Não. Ninguém vem aqui. – Ele riu. – Pedi pizza.
– Mas são duas horas da manhã.
– Delivery 24 horas, uma invenção dos deuses. – Ri sozinha.
– Está muito bom. – falava com a boca cheia. – Por que pizza de calabresa é a melhor pizza da vida?
– Vai me deixar com fome desse jeito.
– Tenho pizza o suficiente para dois aqui. – Disse num tom sugestivo.
– São duas horas da manhã. Eu vou ficar com o que sobrou do meu jantar.
– Pensei que tinha comido tudo.
– Burrito congelado é a melhor invenção do mundo. É só colocar no forno e esperar. Não é nada maravilhoso, né, mas dá para matar a fome. – Rimos juntos. – Sem falar que ainda tenho uma garrafa de vinho fechada.
– Eu tenho pizza, você tem o vinho. Vinte minutos e eu chego aí.
– Primeiro que você nem sabe meu endereço. – riu.
– Você disse que morava há duas quadras do hotel. Eu não moro tão longe também, então acho que vinte minutos seria o suficiente.
– Você é praticamente um stalker.
– Negativo. Eu só presto muita atenção no que você fala.
– Aham, aham. Mas podemos marcar um dia. Quando você voltar de viagem.
– Eu irei cobrar!
– Não esperava menos de você.
*
– Com quem você tanto conversa nesse celular? – Disse Jason, entregando-me uma taça de vinho.
– . Ele está na Jamaica, finalizando o álbum. – Respondi antes de beber um pouco do vinho. – Eu tinha te falado, lembra?
– Disso eu me lembro. Só não sabia que estavam trocando mensagens. – Disse em um tom sugestivo, que eu não gostei nem um pouco. Bloqueei a tela do meu celular e o encarei.
– Você está querendo me dizer alguma coisa?
– Longe de mim. – Falou antes de beber um pouco do vinho de sua taça.
– Vamos, Jason, diga. Te conheço bem o suficiente para saber quando está incomodado com algo.
– Não estou incomodado com nada. Só achei estranha essa proximidade. – Deu de ombros, pegando mais um pedaço de pizza da caixa, que estava na mesinha em nossa frente.
Jason trabalhava para meu avô há alguns anos. Fazia a parte burocrática, vulgo os contratos e contatos de seu escritório. Sempre foi muito amigo da família e, consequentemente, meu. Era só alguns anos mais velho do que eu, por isso acabamos nos aproximando mais ainda quando meu avô faleceu. Era praticamente da família.
– Ele é um bom rapaz. Me diverte. E você mesmo disse que eu deveria ser mais acessível aos clientes.
– , não acho que ele queira ser somente nosso cliente. – Disse, sério. E eu gargalhei.
– Por favor, Jason, aí você já está viajando.
– Estou falando sério. – Ele permaneceu com a expressão séria. E eu não conseguia acreditar no que ele estava falando.
– Deus, você realmente acredita nisso.
– Não te falaria isso se não acreditasse. – Ele bebeu o resto do conteúdo da taça. – Eu acho que o garoto está interessado em você. – Disse enquanto servia mais bebida.
– Não. Até parece.
– Acredite em mim. – E deu de ombros. Meu celular apitou mais uma vez. Era uma nova mensagem de . Jason e eu olhamos para o celular.
– Vivemos algumas situações parecidas, isso nos fez ter assunto. Até parece que seria mais do que isso.
Desbloqueei meu celular para ler a mensagem e me deparei com uma foto, uma selfie de na piscina. Ele estava com uma florzinha rosa na orelha, sem camisa e sorria. Seus olhos estavam fechados, provavelmente por conta do sol, que parecia estar forte.
Olha que dia maravilhoso! Estou ponderando se eu realmente preciso voltar para aí. Talvez você possa vir para cá, que tal? Hahahaha
– Só vivemos algumas situações parecidas. – Falou Jason com uma voz afetada, me fazendo rir. Empurrei-o.
– Não tem nada de interesse, para de ver coisas onde não tem. Aliás, já não está na hora de você ir para casa? – Olhei as horas no celular. – São vinte para as nove. Você não tinha um compromisso amanhã e precisava acordar cedo? – Perguntei. Jason revirou os olhos e balançou a cabeça, concordando.
– Estou indo. – Ele respondeu, bebendo o resto do conteúdo de sua taça e levantando.
– Comporte-se. – Disse enquanto ele colocava os tênis.
– Até amanhã. – Jason deu um tchauzinho com a mão e saiu.
Peguei meu celular para responder a mensagem.
Está lindo mesmo! Que invejinha de você. ):
A resposta veio segundos depois.
O convite está de pé. Posso comprar a passagem agora, se você quiser.
Ri sozinha. Peguei a garrafa de vinho e tirei uma selfie bebendo o conteúdo da garrafa.
Aqui não está tão ruim quanto você deve estar pensando.
Enviei a mensagem com a foto para ele e fiquei aguardando a resposta.
Talvez eu compre a passagem para mim mesmo.
Ele respondeu.
Mas se você quiser vir....
A mensagem chegou logo em seguida.
Não posso. Preciso trabalhar.
Enviei e, em seguida, fui até a cozinha pegar outra garrafa de vinho e uma de água antes de ir para meu escritório.
Gostava de trabalhar à noite, meu processo criativo era melhor e poucas vezes eu era interrompida.
Estava finalizando o projeto, que eu esperava ser o final, do cenário do palco de . Esperava marcar uma reunião para apresentar o trabalho assim que ele voltasse.
Trabalhe aqui.
Era a resposta dele.
A última coisa que eu faria aí seria trabalhar.
Joguei meu celular em qualquer canto para então poder começar a trabalhar.
Peguei um lápis e enrolei meu cabelo, prendendo-o em um coque, para então começar a mexer no projeto.
Queria que ele ficasse à vontade no palco, que ele finalmente pudesse ser ele. Assim que comecei a conhecê-lo e olhá-lo com outros olhos, o trabalho fluiu e, no fundo, eu sabia que ele iria aprová-lo.
Eram mais ou menos quatro horas da manhã quando comecei a sentir sono. Finalizei os detalhes do que estava fazendo para não esquecer nada e desliguei o computador. Em seguida, fui tomar um banho rápido para então ir deitar.
Peguei meu celular, que estava há horas abandonado, para então ver as mensagens recebidas.
Treze notificações do WhatsApp. Todas de .
Eu pensei em um milhão de coisas para fazermos que não envolva o trabalho.
Na verdade, em momento algum o trabalho estava incluído em meu convite.
Aliás, também estou aberto a propostas.
É só você vir.
Você me autorizando, eu compro a passagem agora. Para o próximo voo. Peço para meu motorista ir te buscar e te levar até o aeroporto.
Posso também mandar o jatinho da gravadora caso não queira voo comercial.
É só você autorizar.
Mas se você quiser vir para trabalhar. Eu super te apoio.
Se você só quiser vir, sem planos.
? Você está aí?
Acho que deve estar dormindo. Que horas são aí? Umas três, né?
Espero que não esteja brava.
Você está brava?
Deus, espero que esteja bem.
Além das mensagens, tinha quatro ligações.
Respondi que estava tudo bem e que eu não estava brava, só estava ocupada. Mandei um boa noite em seguida para então ir dormir.
Acordei com a campainha, que tocava sem parar. Olhei no relógio e eram cinco e cinquenta. Eu havia acabado de dormir. Eu mataria Jason, com toda a certeza. Coloquei meu roupão para então ir abrir a porta.
– O que você quer, um... – Parei de falar no momento em que meus olhos focaram no par de olhos verdes que estava em minha frente. Ele estava encostado na parede do corredor. Vestia uma camiseta branca, jeans e botas. Em sua cabeça, tinha um chapéu preto, que harmonizava perfeitamente com seus cabelos compridos.
– Desculpa se te acordei.
– Ué, mas você... Você não estava viajando? – Perguntei.
– Peguei o jatinho assim que você parou de me responder. – Continuei encarando-o. Nada fazia sentido.
– Eu não conseguiria dormir pensando em todas as coisas que poderíamos fazer se você tivesse ido pra Jamaica.
Ele deu alguns passos em minha direção, e eu automaticamente recuei.
tinha um sorriso ladino no rosto.
– Posso entrar? – Perguntou, e eu afirmei com a cabeça. Deixei-o passar pela porta e, no segundo seguinte, a porta estava fechada e meu corpo estava sendo pressionado contra ela.
No fim, Jason tinha razão. Entretanto, talvez ele não tivesse pensado que eu estava tão a fim quanto ele.
Joguei seu chapéu no chão, fazendo-o sorrir, e o puxei para um beijo.
*
Acordei com o barulho do telefone tocando. Olhei para o lado esquerdo da cama e vi que estava vazio. Passei os olhos pelo quarto e tudo estava normal. Nenhum sinal de que outra pessoa esteve ali. Respirei aliviada quando tive certeza de que tudo havia sido um sonho.
Deus, que sonho.
Voltei de meus devaneios quando lembrei que o telefone estava tocando.
Era uma ligação de Jason.
– Por que está me ligando de madrugada?
– Sabia que já passou do meio dia?
– ‘Tá, tanto faz. Trabalhei até tarde. O que você quer?
– O agente do garoto me ligou para um almoço. Encontrei com ele e ele disse que quer ver como está o trabalho da premiação.
– Esse eu já terminei. Pensei que daria a palavra final.
– Aparentemente querem tudo certo quando o garoto voltar.
– Quando diz tudo certo, você quer dizer tudo decidido.
– Exatamente. Depois conversamos melhor.
Queriam construir uma imagem, de novo. Bufei, irritada. Sabia como isso o deixaria, sabia que ele perderia completamente o tesão pelo o que estava fazendo.
Eu poderia dizer que não editaria nada sem o consentimento dele. Com certeza poderia fazer isso. Eles aceitariam ou me demitiriam e soltariam para imprensa que eu era louca. O que era o mais provável, dado que não era de conhecimento da equipe que eu e havíamos nos tornado amigos.
Fiquei algum tempo pensando em como poderia ajudá-lo, e tudo resultou em uma dor de cabeça horrível. Não respondi suas mensagens, pois não conseguiria conversar com ele e dizer que estava tudo bem.
Levantei por volta das três para tomar banho e comer alguma coisa. Mandei várias mensagens para Jason a fim de saber de novidades. E o único retorno que tive foi que a reunião de entrega seria em um almoço amanhã.
Olá, , desculpa a demora. :(
Acordei tarde e depois estive ocupada com alguns problemas. Você está bem?
Enviei assim que sentei em frente ao computador para finalizar o que havia deixado de fazer ontem.
A resposta veio alguns minutos depois.
Bom dia! Estou ótimo! Acho que finalizei o álbum. Compus duas músicas novas, gravamos e acho que serão incluídas no álbum. Você está bem?
Estou. Você pode atender uma ligação? Precisava falar com você.
Respondi em seguida. Logo seu nome começou a brilhar na tela do meu celular.
– Oi.
– Oi, . Está tudo bem? – Ele parecia preocupado.
– Mais ou menos. Ligaram para meu escritório marcando a reunião de entrega para amanhã, no almoço. Você está sabendo de alguma coisa?
A linha permaneceu muda por alguns segundos.
– Não. Quem contatou vocês?
– Henri, o social media.
– Eu sabia!
– Fiquei preocupada, porque não tratamos nada com ele e, como você não está aqui, eu tinha que te falar.
– Tudo bem – Ele parecia nervoso. – Eu vou… Vou resolver algumas coisas aqui e já falo contigo, tudo bem?
– Tudo.
– ?
– Oi?
– Muito obrigada!
*
– Conforme conversado com , decidimos que haverá três palcos. O que definimos como o principal, que é esse, que todos conhecemos. – Eu falava, apontando com o laser para a projeção na parede. Todos dividiam seus olhares entre suas anotações e minha apresentação. Henri, o social media, mesmo que disfarçando, mostrava o quão infeliz estava com a presença de , que havia chegado misteriosamente minutos antes da reunião, junto com Theo.
– Uma tela de LED, PRG Nocturne V-Thru, será colocada aqui. Que a chamaremos de "outra barreira". – Fiz aspas com os dedos. – Enquanto paira no centro, ela se comporta como um outdoor gigante, pregando a multidão, oferecendo uma linha de visão bastante clara e democrática a toda a arena. As imagens são entregues a várias telas da produção através de dois servidores d3 Technologies 4×4.
– Sensacional. – Disse um rapaz da equipe, que eu desconhecia.
Passei mais de duas horas apenas apresentando o projeto à equipe. Ao fim, ninguém foi capaz de levar um questionamento, o que normalmente acontecia. Eu confiava no meu trabalho. Vi Henri sussurrando alguma coisa no ouvido do dono da gravadora e ele negando com a cabeça enquanto saía da sala de reunião para a equipe de decidir como procederiam com as informações.
Saí da sala com minha pasta embaixo do braço. Decidi que esperaria o retorno deles ali, mesmo que me custasse o resto do dia.
Fui até o banheiro retocar a maquiagem e voltei ao corredor. No caminho até as poltronas, comprei um salgadinho na máquina de mantimentos. Estava morrendo de fome.
Eu não tinha nem terminado minha refeição quando o pessoal começou a deixar a sala de reuniões. Todos me cumprimentaram assim que me viram. foi o último, junto com Theo. Seu sorriso estava radiante. O chefe também me cumprimentou e seguiu seu caminho. Levantei assim que e eu ficamos sozinhos. E fui surpreendida com ele puxando-me para um abraço.
– Muito obrigada. Ficou sensacional! Muito obrigada. – Dizia bem próximo ao meu ouvido. Retribuí o abraço e me permiti inalar o perfume que emanava de sua pele.
– Imagina, . Você é parte essencial desse trabalho. Eu é que agradeço a oportunidade.
Ele afastou um pouco nossos corpos para me encarar.
– Você é maravilhosa! – Disse, antes de colar sua boca na minha.
Fui pega de surpresa e, por um momento, estranhei tudo o que estava acontecendo, até meu corpo lembrar de retribuir. Abri a boca para receber sua língua e ele intensificou o beijo. Uma de suas mãos, que estava pousada em minhas costas, foi para meus cabelos. E eu automaticamente fiz o mesmo.
Tinha uma vontade secreta de sentir seus cabelos compridos, que, de longe, o deixavam ainda mais bonito.
Paramos os beijos quando nossos pulmões pediram por ar. Ficamos nos olhando, com nossas testas encostadas até nossa respiração voltar ao normal.
– Você não faz ideia do quanto eu esperei por esse beijo. – Ele quebrou nosso silêncio. – Toda vez que você olha para mim, meu coração está pulando. Você consegue sentir isso? – Disse, colocando minha mão em seu peito.
– Acho que isso é mútuo. – Falei, colocando sua mão sobre meu coração acelerado, fazendo-o sorrir.
– Posso te acompanhar até em casa?
Respirei fundo e ponderei o convite por dois segundos.
– Hoje não. Não queremos atropelar as coisas. Conversamos mais tarde, pode ser? – Ele concordou com a cabeça e me puxou para outro beijo.
*
A melhor parte do meu trabalho, na minha opinião, era quando o projeto começava a ganhar vida. Entretanto, eu era extremamente perfeccionista, o que tornava essa parte do trabalho também a pior.
Estávamos a poucas horas da premiação e, com isso, a montagem dos palcos estava uma loucura. Eu estava ali desde às sete horas da manhã junto com a equipe. Além de ser responsável por todo o design de palco do evento, eu também era responsável pelo cenário do show de abertura, que era de . Então, era o dobro de trabalho. Eu dificilmente pegava mais de um trabalho por vez, mas quando me ligaram em cima da hora solicitando-me para a premiação, eu não poderia negar.
– Preciso que o jogo de luzes faça isso no momento em que ele for cantar o último refrão da música. Nem um segundo a menos, muito menos a mais. – Disse, mostrando no computador dos dois responsáveis pela iluminação da premiação. – As luzes serão a chamada para a equipe responsável pela chuva artificial, então eu peço, por favor, que sigam corretamente as minhas instruções. – Meu celular vibrou em minha mão, e eu pedi licença.
havia tido um compromisso de emergência em outro país poucas horas após a aprovação do projeto. Estávamos sem nos ver fazia quase duas semanas.
– Não me diga que ainda está nos bastidores montando o cenário. – Disse , me fazendo rir. Ele havia acabado de chegar na cidade, e eu não conseguiria vê-lo até a premiação.
– Eu não conseguirei ir te encontrar. Parece que tudo resolveu dar errado hoje. Algumas lâmpadas quebraram no transporte, e eu queria morrer. Mas consegui resolver tudo, pode ficar tranquilo!
– Conseguirá um tempo para ser a minha acompanhante essa noite?
– Oi?
– Queria que fosse comigo à premiação. Juntos, sabe? – riu na linha. Deus, eu estava morrendo de saudades dele.
– Não posso ser sua acompanhante nos bastidores?
Eu ainda não sabia em que ponto estava a nossa relação. Havíamos nos beijado duas vezes. Mas, naquelas duas semanas, passamos a maior parte do tempo conversando pelo FaceTime. E até havia rolado algumas coisas por vídeo. Mas aparecermos juntos em uma premiação era um passo e tanto.
– Eu realmente queria que você estivesse comigo na plateia. Você sabe como tudo isso é importante para mim.
E eu realmente sabia.
– Eu só poderei ser sua acompanhante após o show. Podemos ir juntos para a plateia após isso. E eu tenho um problema.
– Qual?
– Não trouxe roupa e não conseguirei sair daqui. Ligue para Jason. Ele tem a chave da minha casa e sabe onde guardo meus vestidos de festa.
– Deixa que isso eu resolvo. Então você vai me assistir dos bastidores e depois vai comigo assistir à premiação?
– Se for o suficiente, sim.
– É perfeito. Chegarei uma hora antes do combinado para poder se arrumar, tudo bem?
– Sim. Me ligue quando chegar.
– Ok. , não vejo a hora de te encontrar. Estou morrendo de saudades.
– Eu também estou, . Deus, também estou.
*
Por volta das seis da tarde, a movimentação no local já era grande. Os apresentadores passavam o script, os cantores e bandas, o som, e eu muito preocupada com a iluminação.
Tudo estava certo, o palco estava perfeito. Mas eu tinha um grande problema em confiar na iluminação.
Estava observando o pessoal responsável testando as luzes, sabia que eles estavam de saco cheio. Mas não conseguia deixar para lá.
– Senhorita , já te falei mil vezes que está tudo certo. Chegaram lâmpadas reservas, de todas as cores, formatos, de todo jeito que a senhora encomendou. ‘Tá tudo certo.
– Com licença, eu poderia falar com a senhorita ? – Meu coração acelerou quando ouvi sua voz. Zack, da iluminação, concordou com o rapaz, que estava atrás de mim e saiu praticamente correndo.
Abracei-o no instante que o vi.
– Que saudades. – Sussurrei em seu ouvido.
– Você não tem ideia do quanto eu quero te beijar. – Ele também sussurrou. Acariciei seus cabelos, agora curtos, e inspirei o perfume de sua pele antes de cessar o nosso abraço.
– Estou trabalhando. Tente ser discreto. – Disse, fazendo-o rir.
– Soube pelos organizadores do evento que você já está liberada.
– O quê? Como assim? O que você falou?
– Nada que vá lhe prejudicar. Venha. – Falou, puxando-me pela mão.
– Para onde?
– Para o meu camarim.
*
Assim que entramos em seu camarim, solicitou que todos os presentes se retirassem, alegando que precisava tratar comigo os últimos detalhes da apresentação. O camarim nada mais era que uma ampla sala com um banheiro. Havia uma arara com vários ternos coloridos e um divã vermelho em um lado e, no outro, duas mesas, uma com vários tipos de doces e salgados e outra, vazia. Tudo muito simples, porém muito organizado.
me puxou para um beijo assim que ficamos sozinhos.
*
As luzes estavam todas vermelhas e estava na ponta da passarela, no meio da arena, quando ele começou a tocar uma melodia que eu não reconheci. Não era nenhuma das músicas da demo que eu havia ouvido, nem das que ele gravou e depois me enviou pelo celular.
– Baby, I’m so into you. You’ve got that something, what can I do?
(Eu estou tão a fim de você. Você tem aquela coisa, o que posso fazer?)
Olhei para os responsáveis pelo som e todos estavam extremamente calmos, como se estivesse seguindo todos os protocolos.
– Everytime you look at me, my heart is jumpin’, it’s easy to see. Lovin’ you means so much more, more than anything I ever felt before.
(Toda vez que você olha para mim, meu coração está pulando, e isso é fácil de perceber. Te amar significa muito mais, mais que tudo que já senti antes.)
Ele começou a andar pela passarela, indo para o palco principal. O violão agora estava pendurado em sua costas. Seu corpo dentro do terno vinho ficava ainda mais bonito com a iluminação vermelha.
– You drive me crazy. I just can’t sleep. I’m so excited, I’m in too deep. Oh, oh, oh, crazy, but it feels alright. Baby, thinkin’ of you keeps me up all night.
(Você me leva à loucura. Eu simplesmente não consigo dormir. Estou tão agitado, estou tão profundo. Oh, oh, oh, louco, mas tudo bem. Baby, pensar em você me deixa acordado a noite toda.)
Comecei a deixar o desespero pela troca de música de lado para prestar mais atenção em sua letra no momento que ele parou de olhar para o público e passou a cantar olhando para mim.
– Tell me, you’re so into me. That I’m the only one you will see.
(Me diga, você está tão a fim de mim. Que sou o único que você irá ver.)
Ele começou a andar em minha direção, e eu comecei a negar com a cabeça para ele não vir.
– Tell me I’m not in the blue, oh. That I’m not wastin’ my feelings on you.
(Me diga que eu não estou no céu. Que eu não estou desperdiçando meus sentimentos em você.)
parou alguns metros à minha frente.
– Everytime I look at you, my heart is jumpin’, what can I do?
(Toda vez que eu olho para você. Meu coração pula, o que posso fazer?)
Ele sorriu e mordeu seu lábio inferior. Retribuí seu sorriso. Eu queria matá-lo e beijá-lo ao mesmo tempo. Matá-lo por ter me enganado muito bem com a música de abertura e beijá-lo por ter me enganado muito bem com a música de abertura. piscou para mim e voltou a cantar para o público.
– You drive me crazy, I just can’t sleep. I’m so excited, I’m in too deep. Oh, oh, oh, crazy, but it feels alright. Baby, thinkin’ of you keeps me up all night.
*
– Você me leva à loucura, . – Disse a ele assim que voltou aos bastidores após o show de abertura. – Você não tem ideia do quanto eu estou a fim de você. – sorriu, e eu o beijei.
– Eu sei que seria. – Me limitei a dizer.
Eu havia acabado de ganhar o prêmio Linbury de Cenografia, com apenas um ano de carreira. Entretanto, o que deveria ser ótimo (e foi) estava, na verdade, me aterrorizando. Não queria ser uma designer de um projeto. Queria ser mais do que isso. Queria inovar, ser referência no meu ramo. Quem sabe daqui há alguns anos ser inspiração para alguém, talvez.
Naquele momento, estávamos em uma pequena reunião, analisando uma proposta feita pela equipe de um cantor de eu ser a responsável pelo cenário de seu show. Além de ser a sua primeira turnê solo em arenas, ele iria se apresentar em uma grande premiação e a expectativa estava grande, dado o fato de que ele havia feito parte de uma boyband muito famosa.
Além de toda a expectativa, eu não tinha cem por cento de certeza sobre o trabalho em si. Estava acostumada com cenários de peças de teatro, desfiles de moda, nada de cenários de shows. Seria um ótimo desafio, admitia.
– Temos carta branca? – Perguntei a Jason, meu assistente.
– Total! – Ele afirmou.
– Vamos fazer isso acontecer. Pode marcar a reunião.
– Senhorita , seja bem-vinda. Sou Theo Holland, muito prazer. – Disse, estendendo-me a mão em um cumprimento. Aceitei-a de bom grado e sorri.
– Fiquei muito honrada com o contato, senhor Holland.
– E eu por ter aceitado colaborar conosco. Venha, por aqui. está nos aguardando na sala de reuniões com o resto da equipe.
Já havia ouvido falar de Theo Holland, grande magnata da indústria fonográfica. Entretanto, nunca imaginei que fosse tão jovem. Aparentava ter uns quarenta anos, muito bem distribuídos, por sinal, e tão acessível.
Segui-o até a sala de reuniões, na qual encontramos o resto da equipe de criação e o ponto-chave da criação: o cantor.
Particularmente, eu conhecia pouca coisa sobre o seu trabalho. Havia ouvido uma música ou outra de sua antiga boyband na rádio e visto-os em algum outdoor pela cidade. Também lembrava do escândalo que houve quando anunciaram o hiato do grupo. Nenhuma informação construtiva.
Ele foi meu foco no momento que coloquei os pés na sala. Queria gravar todas as informações possíveis sobre ele. Tudo o que fosse necessário para o meu processo de criação.
Ele estava com o celular na mão no momento em que entrei na sala. Sua cabeça estava abaixada enquanto ele sorria olhando para o aparelho.
Theo apresentou-me aos colaboradores da gravadora e, por fim, ao músico. guardou o celular no momento que notou nossa presença e sorriu. Ele tinha mais ou menos a minha idade. Eu julgava que fosse um pouco mais novo, talvez. Tinha cabelos castanhos na altura dos ombros e lindos olhos verdes.
Expliquei a todos sobre meu processo de criação. Expliquei que tudo dependia da liberdade que eu tinha e das informações que eles compartilhavam comigo. E todos pareceram muito solícitos em sanar todas as minhas dúvidas sobre o novo projeto de .
Enquanto conversávamos, eu desenhava em meu sketchbook tudo o que eu conseguia filtrar de útil das informações. Sentia o olhar curioso de em mim e nas folhas que eu rabiscava. Ele estava visivelmente ansioso com tudo o que estava acontecendo, e eu soube o quanto aquilo era importante para ele. As letras eram extremamente pessoais, como se fosse uma libertação da imagem que haviam construído dele enquanto membro da boyband.
– , , espere! – Olhei para trás assim que ouvi meu nome pela primeira vez.
– Ah, oi, . Está tudo bem? Ficou algum tópico em aberto que você ainda queira corrigir? Eu achei que já havíamos discutido tudo por hoje.
– Não, está tudo certo. Bom, mais ou menos. Eu gostaria de saber se você gostaria de tomar alguma coisa comigo, para nos conhecermos melhor. Talvez isso a ajude no processo de criação.
– Ah, não precisa se preocupar com isso, a demo do álbum fala por si própria. Como você mesmo disse na reunião, eu já captei a essência do que você queria. Mas se realmente achar necessário, pode conversar com Jason, meu assistente. – Sorri. – Tenha uma boa tarde. – Disse, virando as costas para poder chamar o elevador.
– Espera. – Ele disse, atraindo minha atenção novamente. – Eu realmente gostaria de sair com você.
Encarei-o por alguns segundos.
– Para conversarmos sobre o palco. – Continuou. Olhei em meu relógio de pulso. Eram quase cinco horas da tarde. Seria a minha primeira noite livre em semanas. sorriu e continuou esperando a sua resposta. Respirei fundo e sorri também. Ele era o chefe, eu precisava mais dele naquele momento do que ele precisava de mim.
– Tudo bem. – Concordei. E seu sorriso aumentou.
– Ótimo! Eu só preciso pegar as minhas coisas na sala de reunião. Você me encontra no café aqui do prédio? – Perguntou, e eu afirmei com a cabeça. seguiu em direção à sala e eu entrei no elevador, apertando o botão do andar do café.
Não precisa vir me buscar. Aqui vai demorar. :(
Mandei para Jason, que me respondeu imediatamente.
Como assim? Pensei que já tinha terminado.
Eu também! O rapaz quer continuar a conversa no café aqui do prédio.
No café? Só vocês dois?
A reunião havia sido marcada em um hotel de luxo no centro da cidade. Provavelmente e a equipe estavam hospedados aqui. O café era uma mistura de bar com restaurante e café e ficava na cobertura, uma vez que o hotel era super requisitado entre os famosos e eles necessitavam de privacidade.
Escolhi uma mesa próxima à sacada, que dava uma visão maravilhosa da cidade, e pedi uma água.
Não sei. Acho que sim.
Respondi a mensagem de Jason.
Será que ele só quer discutir a cenografia mesmo?
Revirei os olhos e ri.
Cale a boca! Estávamos discutindo sobre sua primeira turnê, óbvio que ele está interessado na cenografia.
Vou para casa de táxi. Beijo.
Escrevi assim que avistei chegando.
– Demorei? – Perguntou, jogando sua bolsa e casaco em uma das cadeiras e sentando-se na que estava em minha frente.
– Não. Só deu tempo de pedir uma água, e ela nem chegou. – Respondi, e ele sorriu.
chamou o garçom e pediu um chá. Perguntou se eu queria alguma coisa e eu disse que estava bem somente com a água.
Esperava que a reunião acabasse logo. Só queria ir para casa, tomar um bom banho e dormir o máximo que pudesse.
– Então, , o que você acha que eu preciso saber sobre você para agregar ao meu processo de criação? Ou melhor, vamos primeiros anotar os pontos que não lhe agradam da proposta inicial. – Disse, buscando meu sketchbook na bolsa.
– Não. – Disse , chamando a minha atenção. – Eu gostei de tudo, . É sério.
O que diabos esse garoto queria conversar então? Odiava quando a parte contratante me dava carta branca e depois queria impor suas ideias. Aquela era a parte do trabalho que me desmotivava e me deixava com raiva.
Se queriam dar sugestões, por que dar autonomia ao designer?
Respirei fundo e tentei manter a calma. Havia discutido com uma diva pop há poucos dias. Aquilo não havia sido bom para o meu bolso e nem para a minha reputação.
– Então, você queria conversar sobre? – Perguntei.
– Você. – Ele sorriu de lado e eu permaneci em silêncio, encarando-o. – Digo, quero conhecer o seu trabalho.
– Você não pesquisou sobre o meu trabalho antes de me contratar? – Me arrependi assim que a frase saiu. Tomei um longo gole de água enquanto me olhava, provavelmente escolhendo bem as palavras. – Bom, estudei design de teatro e artes, me formei há dois anos. Meu avô era arquiteto, me incentivou desde muito nova. Eu praticamente cresci em seu escritório. – Comecei, e permaneceu em silêncio, apenas ouvindo. – Então, desde que entrei na faculdade, eu já estava atuando na área. Só fui ganhando cada vez mais espaço em seu escritório. Quando ele faleceu, me nomeou chefe de criação da companhia. Herdei o legado, mas quero ser levada a sério pelo meu trabalho, sabe? Amo o que ele fez por mim e sou extremamente grata. Só não quero viver as sombras do que ele foi. – Confessei.
– Eu realmente entendo como é isso. – Suspirou. parecia cansado, talvez. – Quero ser mais do que ex-membro de uma boyband. Quero fazer a minha música. Não me importo se é comercial o suficiente, eu só quero... Eu não sei, só quero fazer a minha música. – Deu de ombros.
Eu via em seus olhos o mesmo conflito que senti quando decidi que manter o legado do meu avô não era o suficiente para mim. Me senti egoísta no início, mas, no fim, eu sabia que era aquilo que ele queria que eu fizesse.
– E vai fazer! Seu álbum está maravilhoso. E olha que nem é meu estilo de música favorito. – Disse, fazendo o rapaz rir.
– Não diga isso só porque contratei seus serviços.
– Eu jamais faria isso. – Dei risada.
Talvez não fosse tão diferente de mim quanto eu imaginava.
– Nós devemos nos concentrar no que queremos que o público sinta e o que queremos comunicar a eles. Uma vez que temos trabalhado fora do arco geral do show, desse ponto de vista, as formas de palcos evoluíram para envolver a história que queremos transmitir. – Dizia à minha equipe. – Anotei tudo o que achei necessário para os moldes iniciais. – Distribuí cópias de meus desenhos da primeira reunião.
– Então, eu pensei em um cubo. Um cubo gigante, bem no meio da arena. – Mostrei a o pequeno cubo vermelho que minha equipe havia feito. – Aqui podemos projetar parte das letras das músicas. Podemos projetar fotos suas, foto raras, sabe? Que você não fica postando nas redes sociais. – Disse, e ele riu.
– O show pode ser projetado aí também em algum momento, para que o pessoal de trás possa ver melhor.
– Para isso, eu pensei num grande painel de LED atrás do palco. Da mesma largura que ele e o mais alto possível. E lá podemos reproduzir o show simultaneamente.
– Isso seria maravilhoso! – Disse, animado. E eu me permiti apenas observá-lo. Como ele ficava ainda mais bonito quando sorria, como seus olhos brilhavam vendo os projetos para seu futuro.
Sua expressão mudou em questão de segundos quando ouviu o barulho de flash fotográfico.
Estávamos num café no centro da cidade, sentados em uma mesa bem escondida, longe das janelas. Mas, mesmo assim, não impediu que alguém o fotografasse.
– Desculpa. Às vezes isso acontece, não deveria ter marcado aqui. – Disse , chateado.
– Não tem problema. – Toquei em seu braço para que me olhasse. – Eu não me importo. Estamos trabalhando. Aliás, o chocolate quente daqui é maravilhoso! Como eu não conhecia esse lugar? – Disse, fazendo-o sorrir.
– Essa é a pior parte da profissão.
– Eu imagino! Mas não vamos nos prender a isso. – Ele concordou com a cabeça. – As letras das músicas projetadas no cubo poderiam ser fotos os meus rascunhos, de quando estava compondo.
– Seria ótimo! – Respondi, animada, anotando a observação ao lado do desenho inicial.
– Acho que faria com que o público sentisse mais próximo.
– Com certeza! Ainda mais se tiver algumas observações, alguns rabiscos. Mas isso só dará certo se sua letra for legível. – riu da minha observação e voltou a dar sugestões como se o chato do fotógrafo não estivesse ali.
– Não acredito que você não tem irmãos, nem primos. Como assim? – Dizia no telefone.
– Pois é! Meu pai e minha mãe são filhos únicos e seus pais também são.
– Deus, que coincidência! – Disse, impressionado.
– Sim! Minha mãe tem uma irmã, que tem filhos cachorros.
– Ah, então você meio que tem primos.
– Sim. Fiquei de babá algumas vezes que eles foram viajar. – Respondi, e ele riu.
Fazia uns quatro dias que havíamos nos encontrado no café. Assim que a primeira notícia sobre nosso “encontro” saiu e ele soube, me mandou uma mensagem pedindo desculpas pelo o ocorrido. Desde então, não paramos de conversar.
Hoje, ele havia perguntado se podia me ligar, e eu concordei. Estávamos no telefone há quase três horas. Conversava com ele enquanto trabalhava no projeto de seus shows.
Ouvi a campainha tocando na linha.
– Visita? – Perguntei.
– Não. Ninguém vem aqui. – Ele riu. – Pedi pizza.
– Mas são duas horas da manhã.
– Delivery 24 horas, uma invenção dos deuses. – Ri sozinha.
– Está muito bom. – falava com a boca cheia. – Por que pizza de calabresa é a melhor pizza da vida?
– Vai me deixar com fome desse jeito.
– Tenho pizza o suficiente para dois aqui. – Disse num tom sugestivo.
– São duas horas da manhã. Eu vou ficar com o que sobrou do meu jantar.
– Pensei que tinha comido tudo.
– Burrito congelado é a melhor invenção do mundo. É só colocar no forno e esperar. Não é nada maravilhoso, né, mas dá para matar a fome. – Rimos juntos. – Sem falar que ainda tenho uma garrafa de vinho fechada.
– Eu tenho pizza, você tem o vinho. Vinte minutos e eu chego aí.
– Primeiro que você nem sabe meu endereço. – riu.
– Você disse que morava há duas quadras do hotel. Eu não moro tão longe também, então acho que vinte minutos seria o suficiente.
– Você é praticamente um stalker.
– Negativo. Eu só presto muita atenção no que você fala.
– Aham, aham. Mas podemos marcar um dia. Quando você voltar de viagem.
– Eu irei cobrar!
– Não esperava menos de você.
– Com quem você tanto conversa nesse celular? – Disse Jason, entregando-me uma taça de vinho.
– . Ele está na Jamaica, finalizando o álbum. – Respondi antes de beber um pouco do vinho. – Eu tinha te falado, lembra?
– Disso eu me lembro. Só não sabia que estavam trocando mensagens. – Disse em um tom sugestivo, que eu não gostei nem um pouco. Bloqueei a tela do meu celular e o encarei.
– Você está querendo me dizer alguma coisa?
– Longe de mim. – Falou antes de beber um pouco do vinho de sua taça.
– Vamos, Jason, diga. Te conheço bem o suficiente para saber quando está incomodado com algo.
– Não estou incomodado com nada. Só achei estranha essa proximidade. – Deu de ombros, pegando mais um pedaço de pizza da caixa, que estava na mesinha em nossa frente.
Jason trabalhava para meu avô há alguns anos. Fazia a parte burocrática, vulgo os contratos e contatos de seu escritório. Sempre foi muito amigo da família e, consequentemente, meu. Era só alguns anos mais velho do que eu, por isso acabamos nos aproximando mais ainda quando meu avô faleceu. Era praticamente da família.
– Ele é um bom rapaz. Me diverte. E você mesmo disse que eu deveria ser mais acessível aos clientes.
– , não acho que ele queira ser somente nosso cliente. – Disse, sério. E eu gargalhei.
– Por favor, Jason, aí você já está viajando.
– Estou falando sério. – Ele permaneceu com a expressão séria. E eu não conseguia acreditar no que ele estava falando.
– Deus, você realmente acredita nisso.
– Não te falaria isso se não acreditasse. – Ele bebeu o resto do conteúdo da taça. – Eu acho que o garoto está interessado em você. – Disse enquanto servia mais bebida.
– Não. Até parece.
– Acredite em mim. – E deu de ombros. Meu celular apitou mais uma vez. Era uma nova mensagem de . Jason e eu olhamos para o celular.
– Vivemos algumas situações parecidas, isso nos fez ter assunto. Até parece que seria mais do que isso.
Desbloqueei meu celular para ler a mensagem e me deparei com uma foto, uma selfie de na piscina. Ele estava com uma florzinha rosa na orelha, sem camisa e sorria. Seus olhos estavam fechados, provavelmente por conta do sol, que parecia estar forte.
Olha que dia maravilhoso! Estou ponderando se eu realmente preciso voltar para aí. Talvez você possa vir para cá, que tal? Hahahaha
– Só vivemos algumas situações parecidas. – Falou Jason com uma voz afetada, me fazendo rir. Empurrei-o.
– Não tem nada de interesse, para de ver coisas onde não tem. Aliás, já não está na hora de você ir para casa? – Olhei as horas no celular. – São vinte para as nove. Você não tinha um compromisso amanhã e precisava acordar cedo? – Perguntei. Jason revirou os olhos e balançou a cabeça, concordando.
– Estou indo. – Ele respondeu, bebendo o resto do conteúdo de sua taça e levantando.
– Comporte-se. – Disse enquanto ele colocava os tênis.
– Até amanhã. – Jason deu um tchauzinho com a mão e saiu.
Peguei meu celular para responder a mensagem.
Está lindo mesmo! Que invejinha de você. ):
A resposta veio segundos depois.
O convite está de pé. Posso comprar a passagem agora, se você quiser.
Ri sozinha. Peguei a garrafa de vinho e tirei uma selfie bebendo o conteúdo da garrafa.
Aqui não está tão ruim quanto você deve estar pensando.
Enviei a mensagem com a foto para ele e fiquei aguardando a resposta.
Talvez eu compre a passagem para mim mesmo.
Ele respondeu.
Mas se você quiser vir....
A mensagem chegou logo em seguida.
Não posso. Preciso trabalhar.
Enviei e, em seguida, fui até a cozinha pegar outra garrafa de vinho e uma de água antes de ir para meu escritório.
Gostava de trabalhar à noite, meu processo criativo era melhor e poucas vezes eu era interrompida.
Estava finalizando o projeto, que eu esperava ser o final, do cenário do palco de . Esperava marcar uma reunião para apresentar o trabalho assim que ele voltasse.
Trabalhe aqui.
Era a resposta dele.
A última coisa que eu faria aí seria trabalhar.
Joguei meu celular em qualquer canto para então poder começar a trabalhar.
Peguei um lápis e enrolei meu cabelo, prendendo-o em um coque, para então começar a mexer no projeto.
Queria que ele ficasse à vontade no palco, que ele finalmente pudesse ser ele. Assim que comecei a conhecê-lo e olhá-lo com outros olhos, o trabalho fluiu e, no fundo, eu sabia que ele iria aprová-lo.
Eram mais ou menos quatro horas da manhã quando comecei a sentir sono. Finalizei os detalhes do que estava fazendo para não esquecer nada e desliguei o computador. Em seguida, fui tomar um banho rápido para então ir deitar.
Peguei meu celular, que estava há horas abandonado, para então ver as mensagens recebidas.
Treze notificações do WhatsApp. Todas de .
Eu pensei em um milhão de coisas para fazermos que não envolva o trabalho.
Na verdade, em momento algum o trabalho estava incluído em meu convite.
Aliás, também estou aberto a propostas.
É só você vir.
Você me autorizando, eu compro a passagem agora. Para o próximo voo. Peço para meu motorista ir te buscar e te levar até o aeroporto.
Posso também mandar o jatinho da gravadora caso não queira voo comercial.
É só você autorizar.
Mas se você quiser vir para trabalhar. Eu super te apoio.
Se você só quiser vir, sem planos.
? Você está aí?
Acho que deve estar dormindo. Que horas são aí? Umas três, né?
Espero que não esteja brava.
Você está brava?
Deus, espero que esteja bem.
Além das mensagens, tinha quatro ligações.
Respondi que estava tudo bem e que eu não estava brava, só estava ocupada. Mandei um boa noite em seguida para então ir dormir.
Acordei com a campainha, que tocava sem parar. Olhei no relógio e eram cinco e cinquenta. Eu havia acabado de dormir. Eu mataria Jason, com toda a certeza. Coloquei meu roupão para então ir abrir a porta.
– O que você quer, um... – Parei de falar no momento em que meus olhos focaram no par de olhos verdes que estava em minha frente. Ele estava encostado na parede do corredor. Vestia uma camiseta branca, jeans e botas. Em sua cabeça, tinha um chapéu preto, que harmonizava perfeitamente com seus cabelos compridos.
– Desculpa se te acordei.
– Ué, mas você... Você não estava viajando? – Perguntei.
– Peguei o jatinho assim que você parou de me responder. – Continuei encarando-o. Nada fazia sentido.
– Eu não conseguiria dormir pensando em todas as coisas que poderíamos fazer se você tivesse ido pra Jamaica.
Ele deu alguns passos em minha direção, e eu automaticamente recuei.
tinha um sorriso ladino no rosto.
– Posso entrar? – Perguntou, e eu afirmei com a cabeça. Deixei-o passar pela porta e, no segundo seguinte, a porta estava fechada e meu corpo estava sendo pressionado contra ela.
No fim, Jason tinha razão. Entretanto, talvez ele não tivesse pensado que eu estava tão a fim quanto ele.
Joguei seu chapéu no chão, fazendo-o sorrir, e o puxei para um beijo.
Acordei com o barulho do telefone tocando. Olhei para o lado esquerdo da cama e vi que estava vazio. Passei os olhos pelo quarto e tudo estava normal. Nenhum sinal de que outra pessoa esteve ali. Respirei aliviada quando tive certeza de que tudo havia sido um sonho.
Deus, que sonho.
Voltei de meus devaneios quando lembrei que o telefone estava tocando.
Era uma ligação de Jason.
– Por que está me ligando de madrugada?
– Sabia que já passou do meio dia?
– ‘Tá, tanto faz. Trabalhei até tarde. O que você quer?
– O agente do garoto me ligou para um almoço. Encontrei com ele e ele disse que quer ver como está o trabalho da premiação.
– Esse eu já terminei. Pensei que daria a palavra final.
– Aparentemente querem tudo certo quando o garoto voltar.
– Quando diz tudo certo, você quer dizer tudo decidido.
– Exatamente. Depois conversamos melhor.
Queriam construir uma imagem, de novo. Bufei, irritada. Sabia como isso o deixaria, sabia que ele perderia completamente o tesão pelo o que estava fazendo.
Eu poderia dizer que não editaria nada sem o consentimento dele. Com certeza poderia fazer isso. Eles aceitariam ou me demitiriam e soltariam para imprensa que eu era louca. O que era o mais provável, dado que não era de conhecimento da equipe que eu e havíamos nos tornado amigos.
Fiquei algum tempo pensando em como poderia ajudá-lo, e tudo resultou em uma dor de cabeça horrível. Não respondi suas mensagens, pois não conseguiria conversar com ele e dizer que estava tudo bem.
Levantei por volta das três para tomar banho e comer alguma coisa. Mandei várias mensagens para Jason a fim de saber de novidades. E o único retorno que tive foi que a reunião de entrega seria em um almoço amanhã.
Olá, , desculpa a demora. :(
Acordei tarde e depois estive ocupada com alguns problemas. Você está bem?
Enviei assim que sentei em frente ao computador para finalizar o que havia deixado de fazer ontem.
A resposta veio alguns minutos depois.
Bom dia! Estou ótimo! Acho que finalizei o álbum. Compus duas músicas novas, gravamos e acho que serão incluídas no álbum. Você está bem?
Estou. Você pode atender uma ligação? Precisava falar com você.
Respondi em seguida. Logo seu nome começou a brilhar na tela do meu celular.
– Oi.
– Oi, . Está tudo bem? – Ele parecia preocupado.
– Mais ou menos. Ligaram para meu escritório marcando a reunião de entrega para amanhã, no almoço. Você está sabendo de alguma coisa?
A linha permaneceu muda por alguns segundos.
– Não. Quem contatou vocês?
– Henri, o social media.
– Eu sabia!
– Fiquei preocupada, porque não tratamos nada com ele e, como você não está aqui, eu tinha que te falar.
– Tudo bem – Ele parecia nervoso. – Eu vou… Vou resolver algumas coisas aqui e já falo contigo, tudo bem?
– Tudo.
– ?
– Oi?
– Muito obrigada!
– Conforme conversado com , decidimos que haverá três palcos. O que definimos como o principal, que é esse, que todos conhecemos. – Eu falava, apontando com o laser para a projeção na parede. Todos dividiam seus olhares entre suas anotações e minha apresentação. Henri, o social media, mesmo que disfarçando, mostrava o quão infeliz estava com a presença de , que havia chegado misteriosamente minutos antes da reunião, junto com Theo.
– Uma tela de LED, PRG Nocturne V-Thru, será colocada aqui. Que a chamaremos de "outra barreira". – Fiz aspas com os dedos. – Enquanto paira no centro, ela se comporta como um outdoor gigante, pregando a multidão, oferecendo uma linha de visão bastante clara e democrática a toda a arena. As imagens são entregues a várias telas da produção através de dois servidores d3 Technologies 4×4.
– Sensacional. – Disse um rapaz da equipe, que eu desconhecia.
Passei mais de duas horas apenas apresentando o projeto à equipe. Ao fim, ninguém foi capaz de levar um questionamento, o que normalmente acontecia. Eu confiava no meu trabalho. Vi Henri sussurrando alguma coisa no ouvido do dono da gravadora e ele negando com a cabeça enquanto saía da sala de reunião para a equipe de decidir como procederiam com as informações.
Saí da sala com minha pasta embaixo do braço. Decidi que esperaria o retorno deles ali, mesmo que me custasse o resto do dia.
Fui até o banheiro retocar a maquiagem e voltei ao corredor. No caminho até as poltronas, comprei um salgadinho na máquina de mantimentos. Estava morrendo de fome.
Eu não tinha nem terminado minha refeição quando o pessoal começou a deixar a sala de reuniões. Todos me cumprimentaram assim que me viram. foi o último, junto com Theo. Seu sorriso estava radiante. O chefe também me cumprimentou e seguiu seu caminho. Levantei assim que e eu ficamos sozinhos. E fui surpreendida com ele puxando-me para um abraço.
– Muito obrigada. Ficou sensacional! Muito obrigada. – Dizia bem próximo ao meu ouvido. Retribuí o abraço e me permiti inalar o perfume que emanava de sua pele.
– Imagina, . Você é parte essencial desse trabalho. Eu é que agradeço a oportunidade.
Ele afastou um pouco nossos corpos para me encarar.
– Você é maravilhosa! – Disse, antes de colar sua boca na minha.
Fui pega de surpresa e, por um momento, estranhei tudo o que estava acontecendo, até meu corpo lembrar de retribuir. Abri a boca para receber sua língua e ele intensificou o beijo. Uma de suas mãos, que estava pousada em minhas costas, foi para meus cabelos. E eu automaticamente fiz o mesmo.
Tinha uma vontade secreta de sentir seus cabelos compridos, que, de longe, o deixavam ainda mais bonito.
Paramos os beijos quando nossos pulmões pediram por ar. Ficamos nos olhando, com nossas testas encostadas até nossa respiração voltar ao normal.
– Você não faz ideia do quanto eu esperei por esse beijo. – Ele quebrou nosso silêncio. – Toda vez que você olha para mim, meu coração está pulando. Você consegue sentir isso? – Disse, colocando minha mão em seu peito.
– Acho que isso é mútuo. – Falei, colocando sua mão sobre meu coração acelerado, fazendo-o sorrir.
– Posso te acompanhar até em casa?
Respirei fundo e ponderei o convite por dois segundos.
– Hoje não. Não queremos atropelar as coisas. Conversamos mais tarde, pode ser? – Ele concordou com a cabeça e me puxou para outro beijo.
A melhor parte do meu trabalho, na minha opinião, era quando o projeto começava a ganhar vida. Entretanto, eu era extremamente perfeccionista, o que tornava essa parte do trabalho também a pior.
Estávamos a poucas horas da premiação e, com isso, a montagem dos palcos estava uma loucura. Eu estava ali desde às sete horas da manhã junto com a equipe. Além de ser responsável por todo o design de palco do evento, eu também era responsável pelo cenário do show de abertura, que era de . Então, era o dobro de trabalho. Eu dificilmente pegava mais de um trabalho por vez, mas quando me ligaram em cima da hora solicitando-me para a premiação, eu não poderia negar.
– Preciso que o jogo de luzes faça isso no momento em que ele for cantar o último refrão da música. Nem um segundo a menos, muito menos a mais. – Disse, mostrando no computador dos dois responsáveis pela iluminação da premiação. – As luzes serão a chamada para a equipe responsável pela chuva artificial, então eu peço, por favor, que sigam corretamente as minhas instruções. – Meu celular vibrou em minha mão, e eu pedi licença.
havia tido um compromisso de emergência em outro país poucas horas após a aprovação do projeto. Estávamos sem nos ver fazia quase duas semanas.
– Não me diga que ainda está nos bastidores montando o cenário. – Disse , me fazendo rir. Ele havia acabado de chegar na cidade, e eu não conseguiria vê-lo até a premiação.
– Eu não conseguirei ir te encontrar. Parece que tudo resolveu dar errado hoje. Algumas lâmpadas quebraram no transporte, e eu queria morrer. Mas consegui resolver tudo, pode ficar tranquilo!
– Conseguirá um tempo para ser a minha acompanhante essa noite?
– Oi?
– Queria que fosse comigo à premiação. Juntos, sabe? – riu na linha. Deus, eu estava morrendo de saudades dele.
– Não posso ser sua acompanhante nos bastidores?
Eu ainda não sabia em que ponto estava a nossa relação. Havíamos nos beijado duas vezes. Mas, naquelas duas semanas, passamos a maior parte do tempo conversando pelo FaceTime. E até havia rolado algumas coisas por vídeo. Mas aparecermos juntos em uma premiação era um passo e tanto.
– Eu realmente queria que você estivesse comigo na plateia. Você sabe como tudo isso é importante para mim.
E eu realmente sabia.
– Eu só poderei ser sua acompanhante após o show. Podemos ir juntos para a plateia após isso. E eu tenho um problema.
– Qual?
– Não trouxe roupa e não conseguirei sair daqui. Ligue para Jason. Ele tem a chave da minha casa e sabe onde guardo meus vestidos de festa.
– Deixa que isso eu resolvo. Então você vai me assistir dos bastidores e depois vai comigo assistir à premiação?
– Se for o suficiente, sim.
– É perfeito. Chegarei uma hora antes do combinado para poder se arrumar, tudo bem?
– Sim. Me ligue quando chegar.
– Ok. , não vejo a hora de te encontrar. Estou morrendo de saudades.
– Eu também estou, . Deus, também estou.
Por volta das seis da tarde, a movimentação no local já era grande. Os apresentadores passavam o script, os cantores e bandas, o som, e eu muito preocupada com a iluminação.
Tudo estava certo, o palco estava perfeito. Mas eu tinha um grande problema em confiar na iluminação.
Estava observando o pessoal responsável testando as luzes, sabia que eles estavam de saco cheio. Mas não conseguia deixar para lá.
– Senhorita , já te falei mil vezes que está tudo certo. Chegaram lâmpadas reservas, de todas as cores, formatos, de todo jeito que a senhora encomendou. ‘Tá tudo certo.
– Com licença, eu poderia falar com a senhorita ? – Meu coração acelerou quando ouvi sua voz. Zack, da iluminação, concordou com o rapaz, que estava atrás de mim e saiu praticamente correndo.
Abracei-o no instante que o vi.
– Que saudades. – Sussurrei em seu ouvido.
– Você não tem ideia do quanto eu quero te beijar. – Ele também sussurrou. Acariciei seus cabelos, agora curtos, e inspirei o perfume de sua pele antes de cessar o nosso abraço.
– Estou trabalhando. Tente ser discreto. – Disse, fazendo-o rir.
– Soube pelos organizadores do evento que você já está liberada.
– O quê? Como assim? O que você falou?
– Nada que vá lhe prejudicar. Venha. – Falou, puxando-me pela mão.
– Para onde?
– Para o meu camarim.
Assim que entramos em seu camarim, solicitou que todos os presentes se retirassem, alegando que precisava tratar comigo os últimos detalhes da apresentação. O camarim nada mais era que uma ampla sala com um banheiro. Havia uma arara com vários ternos coloridos e um divã vermelho em um lado e, no outro, duas mesas, uma com vários tipos de doces e salgados e outra, vazia. Tudo muito simples, porém muito organizado.
me puxou para um beijo assim que ficamos sozinhos.
As luzes estavam todas vermelhas e estava na ponta da passarela, no meio da arena, quando ele começou a tocar uma melodia que eu não reconheci. Não era nenhuma das músicas da demo que eu havia ouvido, nem das que ele gravou e depois me enviou pelo celular.
– Baby, I’m so into you. You’ve got that something, what can I do?
(Eu estou tão a fim de você. Você tem aquela coisa, o que posso fazer?)
Olhei para os responsáveis pelo som e todos estavam extremamente calmos, como se estivesse seguindo todos os protocolos.
– Everytime you look at me, my heart is jumpin’, it’s easy to see. Lovin’ you means so much more, more than anything I ever felt before.
(Toda vez que você olha para mim, meu coração está pulando, e isso é fácil de perceber. Te amar significa muito mais, mais que tudo que já senti antes.)
Ele começou a andar pela passarela, indo para o palco principal. O violão agora estava pendurado em sua costas. Seu corpo dentro do terno vinho ficava ainda mais bonito com a iluminação vermelha.
– You drive me crazy. I just can’t sleep. I’m so excited, I’m in too deep. Oh, oh, oh, crazy, but it feels alright. Baby, thinkin’ of you keeps me up all night.
(Você me leva à loucura. Eu simplesmente não consigo dormir. Estou tão agitado, estou tão profundo. Oh, oh, oh, louco, mas tudo bem. Baby, pensar em você me deixa acordado a noite toda.)
Comecei a deixar o desespero pela troca de música de lado para prestar mais atenção em sua letra no momento que ele parou de olhar para o público e passou a cantar olhando para mim.
– Tell me, you’re so into me. That I’m the only one you will see.
(Me diga, você está tão a fim de mim. Que sou o único que você irá ver.)
Ele começou a andar em minha direção, e eu comecei a negar com a cabeça para ele não vir.
– Tell me I’m not in the blue, oh. That I’m not wastin’ my feelings on you.
(Me diga que eu não estou no céu. Que eu não estou desperdiçando meus sentimentos em você.)
parou alguns metros à minha frente.
– Everytime I look at you, my heart is jumpin’, what can I do?
(Toda vez que eu olho para você. Meu coração pula, o que posso fazer?)
Ele sorriu e mordeu seu lábio inferior. Retribuí seu sorriso. Eu queria matá-lo e beijá-lo ao mesmo tempo. Matá-lo por ter me enganado muito bem com a música de abertura e beijá-lo por ter me enganado muito bem com a música de abertura. piscou para mim e voltou a cantar para o público.
– You drive me crazy, I just can’t sleep. I’m so excited, I’m in too deep. Oh, oh, oh, crazy, but it feels alright. Baby, thinkin’ of you keeps me up all night.
– Você me leva à loucura, . – Disse a ele assim que voltou aos bastidores após o show de abertura. – Você não tem ideia do quanto eu estou a fim de você. – sorriu, e eu o beijei.
Fim
Nota da autora: Obrigada por terem lido essa fic que foi tão difícil de escrever.
Essa é minha música favorita da Godney e tive um milhão de ideias para ela, só não conseguia colocar no papel.
Após um certo show, de um certo ex membro de uma certa boyband no Rio, eu estava completamente apaixonada (de novo) e abortei todas as ideias iniciais para escrever algo com ele.
Desculpa se decepcionei alguém. E obrigada a todos que gostaram.
Até a próxima!!!!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Essa é minha música favorita da Godney e tive um milhão de ideias para ela, só não conseguia colocar no papel.
Após um certo show, de um certo ex membro de uma certa boyband no Rio, eu estava completamente apaixonada (de novo) e abortei todas as ideias iniciais para escrever algo com ele.
Desculpa se decepcionei alguém. E obrigada a todos que gostaram.
Até a próxima!!!!