Chloe
Eu sei que sua irmã excita todo mundo
Mas você é a única que eu quero
- Não quero fazer uma entrevista desse porte com Stacy – Marcelle desabafava comigo, e eu ri de seu modo de falar – , ela é uma cantorazinha desprezível! – bufou alto. – Você não esta me levando a sério...
- Eu estou te levando a sério!
- Não está! – disse olhando pra mim – Não acredita que eu não queira estar na frente de um documentário desse, já que isso pode alavancar minha carreira. – suspirou olhando para o chão – Eu só estou avaliando outras propostas...
- Você recebeu outras propostas? – exclamei espantado.
- Ainda não...
- Mas... – continuei.
- Mas a gente conversa quando você voltar do documentário com a Stacy – ela finalizou saindo da sala.
- Marcelle...!
Mas você é a única que eu quero
A pequena sala, agora vazia, ecoou minha voz. E por um segundo fiquei olhando a porta por onde ela saiu, aquilo definitivamente só poderia ser uma brincadeira. Caminhei até minha mesa com um sorriso no rosto, o jornalismo era algo que eu sempre quis fazer, como a minha irmã que sempre quis medicina. Mas sempre sonhei com o estrelado, em trabalhar com o William Bonner, ou algo do tipo, e nunca vi problema em pensar assim. Mas Marcelle sim, ela nunca sonhou em se transformar em uma grande jornalista, tinha só alguns problemas com dinheiro, mas mesmo assim ela continuava trabalhando por puro prazer.
Avistei de longe o chefe, Sr. Nogueira, parado bem próximo à minha mesa. Logo me veio a ideia de que ela teria falado com ele, mas ri de mim mesmo, ele não aceitaria uma indicação de ultima hora, afinal era amanhã que começariam as gravações.
- Sr. Nogueira, há algo em que eu posso lhe ajudar? – perguntei assim que me aproximei dele.
- Na verdade, sim – se encaminhou e sentou-se em minha cadeira – Estive pensando... – bufou – Na verdade foi à pedidos, que você faça as entrevistas com Stacy .
- Senhor... – disse com um sorriso enorme.
- Ainda não me agradeça, apenas quando você chegar com todo o conteúdo. – levantou-se e parou do meu lado – Quero que você vá para casa, arrume-se, que às 6 horas em ponto o carro da produção vai passar em sua casa.
Peguei alguns itens que achava de extrema importância para fazer essa entrevista, e quando olhei ao redor, Marcelle e Adam, seu namorado, estavam acenando para mim, e eu pedi que esperassem. Andei rapidamente até eles.
- Adivinhem quem foi chamado para fazer as entrevistas de Stacy? – falei animado.
Adam olhou-me com uma breve descrença e abraçou-me com força:
- Parabéns, cara! Você mereceu, dude!
Marcelle apenas olhava-nos com orgulho, e eu tinha certeza que a nossa amizade iria durar muitos anos, e eu tinha muito orgulho de tê-la como amiga. E eu que nunca havia tido nada duradouro na minha vida, tinha eles. Quando o rapaz voltou até o lado dela, ela olhou-o com cara feia e apenas disse:
- Você não vai contar as novidades para ele também?
- Claro! – disse Adam – Fui chamado para um casamento, e na mesma região que fica a casa de Stacy. Vão ser uns três dias de festas, se não me engano.
- E eu? Ainda nem acredito que vocês dois vão me deixar! – disse Marcelle fingindo estar meio emburrada.
Adam apenas a beijou, e seu rosto logo estava com seu sorriso radiante.
Despedimo-nos com um abraço. Não era de ter muita intimidade, criar laços, mas com eles era algo diferente, sentia que eram importantes para mim. Não que eu fosse contar sobre minhas coisas intimas, ou algo assim, mas poderia afirmar que era o inicio de uma amizade longa.
- Quando estiveres lá, me liga! – disse Adam quando estavam saindo.
Yeah, Yeah
Primeira página de revista
Todo mundo diz que ela é uma rainha
Em casa, sentei-me no sofá de couro da sala e pensei em como minha vida poderia mudar e para melhor. Eu tinha plena consciência de quem eu iria entrevistar, a cantora pop mais clicada no ultimo ano. Mas a mídia não sabia quase nada sobre sua vida pessoal, e essa seria a verdadeira missão. Respirei fundo e fechei os olhos.
Ainda não havia nem amanhecido, mas já estava de pé, nunca fui de acordar cedo e quando acordava era sempre de mal humor, mas naquela manhã foi diferente, era uma espécie de nervosismo com animação, tudo misturado em minha barriga. A buzina soou, e eu desci com a minha mala. Eram poucas coisas, o restante estava em uma mochila que eu levava nas costas, não estava muito pesada, mas tinham livros para que eu pudesse ler algo quando estivesse cansado.
- Está muito animado, ? – perguntou Ryan, um dos produtores, com um singelo sorriso nos lábios.
- Mais que isso, impossível! – declarei e ri ao final.
A viagem foi em silencio, apenas admirando a paisagem ensolarada – na maior parte da viagem – da Califórnia. O caminho era bem tranquilo, as casas que ficavam no acostamento eram todas muito bonitas, pareciam fazer parte de algum filme de Hollywood, principalmente se fosse “As Patricinhas de Beverly Hills”.
Periodicamente víamos uma comunidade de casas mais simples, padarias, botecos e pessoas andando pela rua. Eu sentia como se voltasse à minha infância, sempre foi muito visível uma maioria pobre e uma minoria rica.
O grande carro parou em frente à um grande portão de aço, era um portão exageradamente grande, mas para uma cantora como ela, eu não esperava que fosse de outro jeito, e assim que o portão se abriu, uma grande mansão era vista logo após um grande canteiro de flores. Não havia a menor possibilidade de negar que a vida era boa com alguns e não tão boa para outros, não conseguia imaginar qualquer outra razão para isso acontecer. Cresci no subúrbio de LA então perto da minha casa tinham muitas pessoas com tão pouco, que trabalhavam feito “burros de carga” e que muitas vezes só queriam um prato de comida. E hoje eu vejo tanta gente com tanto, sem ter feito o menor esforço e que continua sem fazer nenhum esforço para ajudar os outros.
Respirei fundo assim que descemos do carro, eu fazia o que podia para tentar mudar algo, e infelizmente era minoria. Mas conseguia ajudar as pessoas com o meu trabalho, mas não tinha nem dinheiro, nem poder para ajudar a todos, meu salario conseguia apenas sustentar-me.
- Pronto, ? – Ryan chamou minha atenção – Como será o entrevistador, terá que ir na frente. Tudo bem?
Mas você é isso pra mim, e eu só quero te mostrar que
(Você é a única que eu quero)
Apenas balancei a cabeça em concordância e segui na frente da equipe. A porta branca cheia de detalhes à minha frente fez-me pensar sobre o que estava fazendo, de certa forma, dando mais dinheiro para quem não precisava, mas eu sobrevivia daquele emprego, daquela profissão, então às vezes tinha que engolir meu orgulho, levantar a cabeça e seguir em frente, e foi exatamente o que eu fiz. Ela obviamente já nos esperava, então ao tocar a campainha quase imediatamente a porta se abriu e uma mulher mediana e loira apareceu. Não podia negar que ela era espetacular, mas a impressão que eu tinha era de uma pessoa muito artificial, e mesmo quando decidi manter a relação estritamente profissional, ela dava em cima de mim.
Aquela seria a primeira noite na casa – se é que aquilo poderíamos chamar apenas de casa – da Stacy e recebemos ordens explícitas de observar todos os passos da cantora. Apenas eu e mais dois produtores iriamos dormir ali, o restante da equipe teve que ser mandada para um hotel, decisão da qual fui contra, mas pelo fato de não ter voz alguma na direção, fui ignorado com louvor.
Quando finalmente havia ficado sozinho – quero dizer explicitamente: fugido da Stacy – encaminhei-me para a cozinha a fim de pedir para alguém fazer algo para mim. Se eu tivesse mais intimidade faria eu mesmo, mas como havíamos chegado hoje e não era o caso, estava torcendo para que tivesse alguém para fazê-lo para mim.
- Olá?... – perguntei ao não ver ninguém.
Olhei para todos os lados, e nem percebi sinal de ninguém, deviam estar ocupados com outras coisas, então nem preocupei-me de chamar alguém, apenas andei lentamente até a geladeira e a abri, sentia como se fosse um furto. Era uma geladeira farta, e preocupei-me de acabar pegando algum produto que deveria ser da dona da casa, ela parecia bem aquelas mulheres ricas que aparecem nos filmes. O silêncio era mortal, conseguia ouvir claramente minha respiração e o barulho que os potes de comida faziam quando baixava-os em cima do balcão de mármore.
- Você não poderia estar aqui...
Pulei de susto ao perceber que alguém estaria observando aquele furto descarado que estava fazendo na geladeira de uma cantora famosa. Imediatamente levantei a cabeça para enxergar de quem vinha essa voz, e acabei batendo minha cabeça na porta de cima da geladeira, fazendo-me gemer de dor.
- Quem mandou você mexer onde não devia... – disse uma garota com uniforme de empregada que se aproximou no mesmo instante – Desculpe-me os modos, você está bem?
Ela gosta de holofotes
Eu amo o jeito que você gosta da luz de velas
Ela ajudou-me à sentar e ficou me encarando, seus olhos castanhos eram fortes, quase ameaçadores, mas eles me olhavam querendo entender que tipo de pessoa eu era, querendo saber algumas respostas.
- Então, você vai continuar me ignorando mesmo?
- Não! Desculpe-me, fiquei um pouco zonzo, apenas. – respondi focando meus olhos nos dela – Estou bem, sim. Obrigado por perguntar.
- Não tem de quê.
A mulher respondeu e voltou para terminar de lavar alguns pratos sujos, e continuei observando-a por trás do balcão, seu jeito determinado e doce era bonito de se olhar, mas havia percebido que ela não era muito de conversar.
- O que você continua me olhando? – ela perguntou abruptamente.
- Nada... – murmurei – Queria apresentar-me. Sou o ...
- . – respondeu em meu lugar – Sei quem você é. – disse virando para olhar minha reação, e eu tinha que confessar que não estava esperando por essa. Meu sorriso se abriu e ela voltou-se para a louça – Admiro muito seu trabalho. Uma pena que te mandaram fazer esse tipo de documentário.
- Não se preocupe, eu aceitei fazer isso. Pra tentar ter uma visibilidade maior... – queria que ela me respondesse, dissesse algo sobre isso, mas ela apenas balançou a cabeça em concordância. Um momento de silencio se seguiu, até que eu o quebrei – Você sabe meu nome, no entanto eu não sei o seu.
Enxugou as mãos, guardou o pano e estendeu a mão em minha direção.
- Me chamo Ashley. Ashley Hutt.
Fique perto de mim, só quero uma chance pra te mostrar isso
(Você é a única que eu quero)
Já era quase noite e havia sido um dia apenas de apresentações e algumas curtas cenas, com ela nos apresentando superficialmente sua casa, nada de mais. Estávamos todos sentados nas poltronas da sala quando um perfume doce exalou no local e todos olharam na direção da porta.
- Vocês já irão dormir? - Stacy perguntou com uma voz melosa enquanto se aproximava de mim.
- Sim! Não é, caras? - respondi na hora, olhando desesperadamente para os rapazes da produção.
- Sim, sim! - eles concordaram fervorosamente.
Assim que fomos cada um para um quarto para dormir, eu estava esperançoso que o dia seguinte fosse de muito trabalho, amava o meu trabalho, sempre sonhei em ser jornalista. Deitei-me na cama e senti os lençóis de algodão afundarem sob mim. Mas a sensação maravilhosa logo sumiu, e sobrou apenas o cansaço da viagem sobre meus ombros. Virei-me de um lado para o outro, cochilei em alguns momentos, mas era mais de meia noite e uma palavra começava a piscar em minha mente: insônia. Vi-me em uma situação da qual nunca havia lidado. Sentia sono mas não conseguia concentrar-me para dormir, quando na verdade nunca havia achado que precisava de algo para dormir além de uma cama.
Cansado de tentar dormir, sentei na beirada da cama e olhei para todas as paredes daquele quarto enorme, sentia-me como se estivesse preso. Preso em uma mansão. Mas ainda sim, preso. Respirei fundo e decidi que iria levantar-me para andar um pouco, por mais que fosse apenas uma "visita padrão" à cozinha. A casa estava com as luzes apagadas parecendo bem mais fantasmagórica do que à tarde, quando fui furtar um sanduíche. Como não sabia exatamente o caminho, forcei minha vista para tentar localizar-me em meio a todo aquele breu.
Ouvi um barulho de passos e parei no meio do corredor, não deveria ter ninguém acordado, mas continuei andando o mais silencioso que conseguia até a cozinha. Entrei na mesma e vi alguém tirando algumas coisa da geladeira. Realmente achava que seria o único que tivera a ideia de pegar comida. Parecia ser uma garota. Seria a pequena jovem que ajudou-me mais cedo?
- Ashley?
Se você pudesse acreditar em si mesma
Do jeito que eu acredito em você
Eu, eu acredito
(Você é a única que eu quero)
A garota pulou e consegui ver seu rosto. Definitivamente não era ela. A garota tinha cabelos loiros, pele bronzeada, e os olhos que brilhavam em contraste com a luz da geladeira. Encarou-me um pouco confusa mas continuou em silencio, por mais que eu quisesse perguntar algo à ela, no fundo achava que aquilo era apenas uma ilusão de ótica, ou um sonho louco em que faria loucuras com ela. Mas nada daquilo aconteceu, ela apenas baixou a cabeça e continuou retirando os ingredientes para seu sanduiche. E como se não tivesse mais nada para fazer, apenas apoiei-me na porta e continuei olhando seus movimentos.
- Você continua me encarando. – disse após um longo período – Ou você é um tarado ou quer um sanduiche. – levantou o olhar e completou – O que vai ser?
- Acho que eu quero um sanduiche.
Ela continuou fazendo o seu calada, como se nada pudesse atingi-la enquanto estivesse envolvida naquela áurea de luz, mas logo após uns minutos se passarem, quebrou o silencio para completar de modo óbvio.
- Se você acha que eu vou fazer algo para você, está muito enganado. Ao contrario de você eu não fico matando madrugada adentro por qualquer coisa.
- Eu estava com insônia. – disse tentando explicar um pouco as coisas.
- Você não precisa me dar explicações. – disse colocando refrigerante em um copo de vidro – Eu não sou guarda de cela dessa prisão.
Aproximei-me dela para começar a fazer algo para eu comer enquanto ela sentava-se para devorar aquela comida. Ri da coincidência dela ter citado aquele lugar como uma prisão, como eu mesmo tinha feito minutos atrás.
- Eu estava com insônia... – comecei e ela preparou-se para contrariar-me – Mas você não disse por que está aqui comendo em uma hora dessas.
- Primeiro, eu não te devo explicações da minha vida – disse arrogantemente, quase cortando minha fala, porém após uma mordida em sua comida, continuou – E estava terminando alguns afazeres para meu trabalho.
- Mas eu não te vi hoje por aqui.
- É porque eu não trabalho aqui. – disse quando levantou-se da cadeira para ir deixar sua louça suja na pia – Aproposito, não deixe a Stacy se aproveitar de você. Não conheço você, mas parece merecer algo melhor que a vida aqui.
Se você pudesse ver
Todas as coisas bonitas que eu vejo é você
É verdade
Andou tranquilamente até a porta, me deixando confuso e ao mesmo tempo animado. Ela era quase um fantasma, uma aparição do além que vinha conversar comigo. O que era totalmente impossível, mas nós, seres humanos, tendemos a buscar as verdades por trás do que acontece conosco, e quando não as achamos, acabamos por nos apegar em hipóteses um tanto quanto surreais.
Era o segundo dia de gravação, mas eu só conseguia pensar na garota loira que falou comigo, não que ela tivesse algum ponto extremamente diferente das outras mulheres, mas foi seu jeito que me chamou atenção. Ela parecia a mulher gato. E eu sempre quis casar com a mulher gato.
- ? - cabelos loiros tomaram minha visão e eu tive a esperança que fossem dela, mas era apenas Stacy.
- Sim? - respondi com o melhor sorriso que consegui colocar no rosto.
Ela pegou nos meus ombros, perto da nuca e aproximou-se de mim mais intimamente, fazendo uma massagem leve no local. Não conseguia relaxar com ela por perto, mas ao contrário das outras pessoas, não tinha nada a ver com atração. Ela era gostosa, por mais chulo que o termo possa parecer, era a única palavra que vinha à minha mente quando ela estava por perto. Mas para conquistar-me ela precisava de mais que um corpo bonito.
- Você esta tenso, querido? - sussurrou em meu ouvido e eu pulei para longe dela.
- Melhor nós continuarmos as gravações de hoje - respirei fundo - Temos muito trabalho à fazer para que esse documentário fique fantástico.
Chloe, sei que sua irmã excita todo mundo
Mas oh querida, não tenho dúvida
Você é a única que eu quero
Abriu um sorriso sem vergonha e saiu rebolando do cômodo, olhei para os lados certificando-me que ninguém havia presenciado aquela cena e segui para a área do jardim para chamar a equipe que estava montando seus equipamentos.
Sua mãe estaria presente na parte em que falaríamos da família, já que uma das propostas era mostrar as outras faces que Stacy teria. Não que eu concordasse totalmente com a premissa, mas por ser meu trabalho coloquei o melhor sorriso que consegui e cumprimentei a senhora de cabelos loiros e muito bem arrumados.
- Senhora , é um prazer conhece-la.
- Muita gentileza sua - respondeu cordialidade - Você escolheu muito bem, minha filha, o rapaz é muito bem educado - completou olhando pra Stacy.
- E muito lindo, não é, mamãe? - complementou sorrindo em minha direção.
Sussurrei um agradecimento enquanto tentava manter a postura o máximo que conseguia, por sorte havia pelo menos me afastado da presença incômoda e da atitude sem profissionalismo. O horário de gravação logo passou e antes das seis horas da tarde fui liberado para ir aos meus aposentos e recolher-me, estava muito cansado, afinal na noite anterior tive aquele "encontro" às escuras.
Meus pensamentos foram atraídos por aquela beleza sutil que ela tinha, o rosto tinham algumas olheiras, mas seus traços eram finos, além daquela pele bronzeada, os cabelos loiros secos ao vento e assim tendo ondas que o deixavam com aspecto rebelde, e os olhos claros. Ela tratava-me com indiferença e era algo com que eu não esperava; na minha vida quem se aproximava de mim eram apenas os que não me tratavam mal. Mas eu havia me sentido atraído por ela, então importava-me o que ela dissesse. Apesar de querer encontrar com a garota novamente, o sono acabou me tomando, o que ontem havia sido uma dificuldade, hoje estava natural, como sempre havia sido.
Você pensa que ela tem tudo mas isso não a torna melhor
(Woo Woo)
Você tem meu coração e isso é a única coisa que importa
Caminhei relutante até a sala e ela estava sentada na poltrona de costas pra mim, e sorri ao pensar que estava ansioso para trocar poucas palavras com ela. Tinha algo que me atraia nela, era um tipo de força que me puxava de encontro à ela. Encostei-me no batente da porta que dava acesso à área em que ela estava e apenas a observei por uns segundos, até que disse em um tom que ela pudesse me ouvir.
- Perdeu o sono?
Ela deu um pequeno pulo do sofá e olhou para mim, os olhos não expressavam nada, bufou e baixou o rosto, e então aquela camada grossa de gelo que parecia recobrir todo o seu interior simplesmente derreteu. Estava chateada, e agora eu conseguia ler nitidamente em seu rosto. Em sua mão tinha uma lata de cerveja e peguei-me pensando se ela havia idade para consumir aquele tipo de bebida. Ao contrário dela, nunca soube mascarar as coisas que sentia, era um livro aberto.
- Eu tenho idade suficiente para beber. - respondeu a minha pergunta silenciosa - Pelo menos desde ontem, sim. - disse com certo desdém.
- Seu aniversário foi ontem? - perguntei surpreso.
- Se não fosse eu não teria falado nada, você não acha? - sorriu sarcástica.
Não consegui tirar o riso solto que teimava em ficar pregado no meu rosto quando ficava perto dela. Parecia um imã que puxava os cantos da minha boca, um para cada lado, e deixavam-me com vontade de rir de qualquer coisa que ela fizesse.
- Você quer ou não a cerveja?
Chloe
Sei que sua irmã excita todo mundo
Mas você é a única que eu quero
Aceitei de bom grado e sentamos frente à frente na mesa, queria fazê-la muitas perguntas, não aguentava não saber nada sobre ela. Mas continuei em silencio, pensando em tudo que poderia introduzir um diálogo, e no que possivelmente estaria passando por sua cabeça, mas por fim, escolhi uma pergunta simples mas que não a tinha feito.
- Afinal, qual o seu nome? - perguntei.
- Meu nome? - disse pensativa, olhou para os lados como se decidisse se me diria ou não - É Chloe.
- Chloe? - disse com tom de riso.
- Sim! Você tem algum problema com esse nome? – retrucou séria.
- Na verdade não, ri apenas porque tive uma amiga que se chamava Chloe.
- Sério? – disse ela se recompondo rapidamente – Quer dizer, eu nunca havia visto ou conhecido outra pessoa com o mesmo nome que eu.
- Responda-me antes que eu suba... – respirei fundo pensando na grande possibilidade dela simplesmente me bater e ignorar a minha curiosidade nata. – Porque não disse à mim que era seu aniversário?
Ela deu de ombros, olhou para o chão e apenas respondeu, sem ironias ou sarcasmo, apenas uma sinceridade, como se fosse uma coisa que ela fizesse cotidianamente. Ao meu lado, pelo menos, ela sempre tinha os espinhos bem afiados apontados em minha direção.
- Minha família não esta bem afim de comemorar o aniversário da filha caçula e rebelde que mancha o sobrenome de todos com suas atitudes...
Mas você é a única que eu quero
Sorri para ela e balancei a cabeça em entendimento à ela, não sabia o que era ter uma família, muito menos o que era comemorar um aniversario, onde morava se escolhia por ano de quem era o aniversario que se comemoraria. Mas havia fingido entender o que ela estava sentindo. Subi até o meu quarto e deitei-me na cama, agora poderia dormir até a manhã seguinte.
Terceiro dia de gravação.
Ela era um sonífero, uma força da natureza que me trazia paz. E então estava eu, um adulto, com uma carreira em possível ascensão, flertando com uma garota de 18 anos. Passei por muitas coisas na minha adolescência, e tinha pouco tempo para me preocupar com garotas, e de repente eu tinha 24 anos e estava parado ali, pensando na próxima vez que iria encontrar com ela, em como conseguiria impressiona-la, quando uma ideia veio-me a mente. Levantei da cama apressado e peguei o celular de cima da cômoda. Na primeira tentativa chamou e ele não atendeu. Respirei fundo, precisava falar com ele naquele minuto, afinal era o momento que eu não tinha trabalho à fazer. Tentei mais uma vez, e quando estava quase caindo a ligação, ele atendeu com uma voz sonolenta.
- Adam? – perguntei.
- Diga, – respondeu dando um bocejo.
- Quero pedir um favor para você.
No horário do almoço, pedi licença para a produção e fui comer algo em um bar que tinha perto da estrada, que não era muito longe da mansão. Adam já estava partindo, mas falou que faria o favor que eu havia pedido, como parte da nossa amizade, ainda mais quando contei toda a historia para ele.
Faixas rápidas, limusines
Querida, eles não pode haver garantia
Chegando lá ele estava sentado à uma mesa no canto do bar, tinha um papel nas mãos e o telefone celular na outra. E ao me ver atravessando a rua abriu um sorriso em minha direção. Eu poderia dizer que ele é um amigo de verdade, que apesar da missão impossível que passei para ele, ali estava o mesmo sorriso para mim, sem pedir nada em troca.
- ! – abraçou-me – Não vou negar que o seu pedido foi um tanto quanto complicado. Fiz o meu melhor para o pouco tempo que tive, então espero que você goste. – disse passando as mãos pelo cabelo.
- Eu tenho certeza que está ótima! – sorri para ele.
- Essa garota vai amar a musica, como é um nome bonito de se falar, consegui encaixar como parte do refrão, você vai ver! – Adam disse animado – Acoplei um pequeno reprodutor em que gravamos uma demo dessa música para você ter noção do ritmo e essas coisas.
- Você é demais! Tenho certeza que a Chloe vai amar. – completei com o inicio de um sorriso bobo nos lábios.
Entrei na propriedade e todos estavam com as câmeras apostas no salão da frente. Stacy estava sentada de frente para minha direção enquanto existia outra pessoa à sua frente. Coloquei um sorriso no rosto e caminhei até lá, Ryan estava com uma camisa de mangas em mãos, para que eu pudesse trocar.
- Só falta você, ! – Stacy disse com uma voz estridente.
Assim que proferiu essas palavras a então desconhecida garota virou-se em minha direção, e a surpresa foi latente em meu rosto. Minha vontade era de parar e perguntar qual era a piada ali, então me contive em andar até elas, mas o sorriso já havia sumido de meus lábios.
- Essa é Chloe, minha compositora.
Mas se você está comigo, sabe que eu posso garantir isso
Estendi minha mão na direção dela, e a mesma continuou olhando-me com certa relutância, seus olhos me diziam que a mesma não tinha intenção daquele encontro, mas nada havia me reconfortado, meus olhos fuzilavam os dela.
Era interessante e muito curioso ver a forma como Chloe se comportava na presença de cantora, era polida e contida, o contrario de como me tratava. Mesmo não querendo, observei-a por todo o tempo que ficamos gravando, mesmo em toda a cena mantendo o máximo de neutralidade que podia, tinha um sorriso no rosto mas ele não era verdadeiro.
Logo que acabou as pessoas começaram a se dispersar e ela parou do meu lado:
- Eu não fazia idéia de quem você era...
- Boa noite, senhorita Chloe. – disse friamente. Acenei para Stacy que me respondeu com um sorriso enorme no rosto.
Aquele era um dia que o dia parecia não ter fim, e o que mais queria era que ele acabasse o mais rápido possível.
(...)
Porque estou atraído pela sua paixão
Seja você mesma, esqueça a moda
Apenas mantenha esse sorriso, você brilha
Uma batida insistente na porta me fez levantar da cama e ir até a porta olhar quem poderia ser em uma hora como aquela. Antes de abrir pensei que poderia ser Stacy, e eu não conseguiria impedi-la de entrar, o que muito provavelmente não acabaria bem.
- Quem é? – arrisquei.
- É a... Chloe. – respondeu por fim.
Pensei se abriria a porta, e mesmo com o acontecido mais cedo, no fundo entendia que para ela não deve ser uma coisa muito fácil, trabalhar todos os dias com Stacy. Havia tido apenas alguns dias e aquela mulher já estava enlouquecendo à mim e toda equipe.
Abri a porta e fiquei olhando-a ainda fora do quarto, e seu rosto passava-me confiança, então dei um pequeno sorriso para ela e abri o espaço necessário para que a mesma entrasse no cômodo. Estava só de shorts, mas ela nem olhou para o meu físico, focou apenas no meu rosto e disse:
- Eu não queria que aquela situação se instala-se daquela forma. Você entende que eu nem sabia seu nome...
- Entendo. – interrompi-a – Fui injusto com você. Sabia que não tinha sido coisa sua.
- Você sabia como? Vai me dizer que lê mentes agora? – perguntou daquele jeito doce e meigo que sempre falava comigo.
- Quase isso. Você já ouviu falar que os olhos são janelas para a alma? – perguntei e ela confirmou com a cabeça – Aprendi que quando sabe-se ler os olhos da pessoa, lê-se os seus sentimentos.
Ela olhou-me com um sorriso nos lábios.
- Não posso demorar por aqui, mas quero muito ouvir essa sua história de ler a mente das pessoas pelo olhar.
- Eu vou adorar contar. Mas antes, quero te mostrar uma coisa. – peguei o pacote que continha a música e o gravador e dei na mão dela. Ela abriu com delicadeza, desfazendo o lacre com todo o cuidado do mundo, eram movimentos firmes e cuidadosos. Retirou o papel de dentro e o olhou com a expressão serena.
Por que nós dois merecemos durar para sempre
(Você é a única que eu quero)
- Chloe? – perguntou meio desacreditada – Você não pensou em algo como... – deu uma pausa – “Você é a única que eu quero”?
- Da próxima vez penso em algo mais criativo.
Quarto dia de gravação.
Foi engraçado passar por Chloe de dia e fingir não conhecê-la, não falar com ela ou até mesmo olha-la. Mas quando ninguém estava olhando e ela havia se afastado para o jardim, olhei-a, seu cabelo ao sol ficava de uma cor diferente, sua pele bronzeada brilhava em contraste com aquela luz. Conseguia ficar ainda mais bonita ao sol. E pra quem vive na Califórnia sabe bem que os raios solares ali não tem pena de ninguém.
Se você pudesse acreditar em si mesma
Do jeito que eu acredito em você
Eu, eu acredito
(Você é a única que eu quero)
Mas logo que a noite caiu, para minha surpresa, Ashley veio trazer um recado da senhorita Chloe, ela queria que nos encontrássemos no estúdio que havia. Segundo ela, queria que eu cantasse a tal música para ela. Assim que encontrasse com ela contaria que um amigo mais talentoso fez a musica à pedido meu, e que eu não tinha talento algum para canto. Apreciava muito tudo que pudesse se relacionar com sons, musicas e instrumentos, e até sabia na teoria algumas modalidades, mas na pratica era um fiasco.
Quando todos já tinham dormido, sai lentamente do meu quarto em direção ao estúdio, desci às escadas pensando que finalmente teria um verdadeiro encontro com ela, a tal garota compositora que estava ganhando um lugar na minha vida.
Entrei pela pequena porta onde deveria ser o estúdio, eram portas à prova de som, bem iluminada e cheia de todo tipo de equipamento usado para gravação. Passei levemente a mão sobre eles, pareciam muito preciosos para qualquer pessoa tocar.
- Queria poder ouvir você cantando pra mim. – disse a voz doce de Chloe atrás de mim.
- Eu também. – respirei fundo e virei-me de frente para ela – Mas infelizmente não tenho talento algum com musica. Apenas escrevo sobre.
- Como você pôde me enganar? – indignou-se falsamente.
Acariciei suas bochechas vermelhas e perguntei.
- O que você esta achando sobre essa situação? Digo, a nossa.
Ela respirou fundo.
- Eu não sei bem o que falar, nem quero parecer uma boba, mas eu gosto da sua companhia, do jeito que você me trata. Você me trata bem!
- Se você quer saber, não sei como alguém não pode te tratar bem, você é uma menina incrível. Mesmo com esse jeito firme. – comentei com um sorriso no rosto.
- Você ta me chamando de grossa implicitamente?
- Não, estou apenas defendendo o poder que você tem de se comportar do jeito que quiser.
Se você pudesse ver
Todas as coisas bonitas que eu vejo é você
É verdade
Sentamos-nos no chão do estúdio e passei o braço pelos ombros da garota, e ela continuou parada apenas olhando para qualquer canto da sala. Até que pensei em fazer algo, não podia cantar para ela, mas podia declamar a nossa música.
- I love the way that you like candlelights – disse perto de seu ouvido e seus olhos encontraram os meus - Stay close by my side – e puxei-a para mais perto de mim - I just want a chance to show that – baixei o olhar com um tímido sorriso nos lábios - You're the one I want.
Seus olhos me diziam coisas sobre paz e tranquilidade.
- É, definitivamente eu gosto muito de você.
E isso bastou para que eu me calasse, fiquei apenas olhando seus traços, sua boca e me perdendo em cada detalhe precioso dela. Era como se um imã puxasse meu coração para encontrar o dela. Sem conseguir mais me conter, aproximei-me levemente dela, meus lábios procurando a aceitação dos dela, com o olhar vidrado em seus olhos cor de mel.
Você pensa que ela tem tudo mas isso não a torna melhor
(Woo Woo)
Você tem meu coração e isso é a única coisa que importa
Conseguia sentir sua respiração entrecortada junto com a minha, ela me causava um efeito avassalador, parecia não controlar minha ações quando ela estava por perto. Fui sentindo aos poucos o gosto de sua boca, a textura de seus lábios, e a promessa em sua língua. O beijo era algo intimo, que não deveria ser dado em qualquer pessoa, mas poderia sentir, e queria muito sentir, que tudo isso iria bem mais do que apenas uma visita.
Quando nos separamos, ficamos em silencio, faltava o ar de ambos então apenas continuamos sentados esperando que alguém puxasse assunto, mas em determinado momento decidi que iria falar.
- Sabe, muitas pessoas já passaram pela minha vida, e até garantiram um lugar nela...
- E você vai ficar jogando na minha cara mesmo? – interrompeu-me.
- Não – ri suavemente e baixei o olhar – O fato é que elas nunca ficaram, sempre se foram.
O silencio se seguiu e nenhum dos dois queria falar nada por uns segundos, mas aproximou-se mais de mim e apertou a mão que tinha passado ao redor de sua nuca, mas quando seus olhos se encontraram com os meus era claro a mutua tristeza, mas no fundo tinha um pouco do que havia restado de esperança.
- Nós passamos por tantas decepções que, de tanto seguir em frente, achamos a felicidade em nós mesmo. – aconchegou-se em meu peito – E agora que nós estamos completos, podemos encontrar alguém que nos transborde.
Quinto dia de gravação.
Chloe
Sei que sua irmã excita todo mundo
Mas oh querida, não tenho dúvida
Você é a única que eu quero
Em todas as conversas, em todas as gravações eu olhava para Stacy e pensava em Chloe, no que poderíamos fazer à noite, e foi olhando para o imenso jardim que tive a ideia de irmos olhar as estrelas de noite.
Escrevi em um papel de lembrete e pedi para que Ashley à entregasse. E só de pensar nessa possibilidade ficava todo animado. Depois do dia no estúdio eu gostaria de agrada-la. Retribuir esse favor da forma mais romântica que esse lugar me limitava.
Naquela noite, ela estava linda, tão linda que eu mal conseguia descreve-la, seu vestido a deixava com uma áurea de luz, e fui subindo meu olhar dos pés à cabeça, mas quando vi seu rosto percebi que tinha algo de errado.
Assim que ela parou na minha frente tentei pegar na sua mão e ela recusou, então apenas andei na frente dela até um lugar que pudéssemos sentar. Seu olhar estava voando solto, e em nenhum momento seus olhos se cruzaram com os meus, até que ela quebrou o nosso silencio.
- Porque você insiste em me ver? – perguntou com um tom amargo – Incrível como você ainda não enjoou da minha presença... Todos enjoam.
- Sua mãe nunca te disse para você não ser todo mundo? – respirei fundo e olhei para seu rosto um pouco pálido – Você me cativou, e agora eu não sei bem como lidar.
Seus olhos se grudaram nos meus e minha mão foi em direção ao seu rosto, afaguei bem de leve fazendo seus olhos fecharem-se lentamente.
- Você não precisa lidar comigo.
- Cuz I'm attraced to your passion. Be yourself, forget the fashion – sorri enquanto cantava parte da música que Adam havia escrito. - Just keep that smile you're flashing. – fiz uma pausa - Cuz you and I deserve to be forever ever-lasting.
Todas vocês, Chloes
Todas vocês, Chloes
Eles não te mostram amor o suficiente
Assim que acabei ela me olhava de forma engraçada, era uma mistura de felicidade com teimosia.
Aplausos.
O barulho de palmas interrompeu-nos, eles vinham de dentro da casa, então nós dois ficamos com o pé atrás. Mas apenas quando a pessoa saiu das sombras pudemos ver o rosto iluminado de Stacy. O sorriso diabólico estava desenhado em seu rosto como algo natural e foi exatamente o que me fez parar e observa-la.
- Muito bem! Uma menina da alta sociedade com um simples plebeu de uma editorazinha. – exclamou.
- Do que você esta falando? – perguntei, afinal Chloe não era da alta sociedade.
- Você tem razão, Chloe não tem status na sociedade, mas a sim. – gritou aos quatro ventos, mas eu ainda estava sem entender nada daquela conversa. E ao perceber tal fato, continuou - Você ainda não contou pra ele, ?
- ? Quem é , Chloe? – perguntei virando-me em direção à garota – Alguém pode me explicar o que esta acontecendo? – gritei.
- O que aconteceu... – Chloe, ou quem quer que fosse aquela mulher, começou.
- O que houve foi que a sua Chloe na verdade se chama . – anunciou e eu olhei-a esperando explicações – E na verdade ela é minha irmã mais nova.
Por longos minutos o silencio se instalou e eram regidos por uma briga de olhares, e nele só não valia qualquer outro sentido, se não acabaria dando em mais merda. Mas logo que Stacy jogou essa bomba, saiu de fininho e nós continuávamos ali.
- Porque você não me contou? – falei alterado.
- Porque eu não queria isso... – murmurou ela.
- Isso o quê? Você pode me responder? – exclamei.
- Eu não queria fazer parte dessa família, não mais. Meu pai era meu protetor, e depois que ele foi embora tudo ficou insustentável! – tentou engolir o choro – Elas me tratavam como se eu fosse um nada, um lixo ambulante...
- Eu te entendo...
- Não, você não me entende! – gritou interrompendo-me.
Fiquei a encarando enquanto ela se preparava para falar outra coisa. Minha paciência tinha se esgotado, tentei engolir tudo que ia falar, mas estava difícil aquilo descer pela garganta.
- Eu não sei se quero isso! Minha família não liga para mim, a única pessoa que ligava era o meu pai e agora ele esta em outro país! Isso tudo porque meu pai e minha mãe resolveram se separar...
- Você não entende?! - gritei, alterado - Ao menos você tem um pai! - bufei baixando a cabeça pra que ela não visse minhas lágrimas - Eu nunca conheci o meu. E você? Você teve tempo com ele. Você conheceu e conversou com ele. Você nunca vai saber a dor que eu tenho! - acabei gritando com final, e a olhei nos olhos - Aproveita isso! Você ainda tem como fazer desse divórcio um simples fato...
- Eu... eu... – tentou dizer.
- Você não precisa falar nada. Você não sabia, e ainda não sabe por tudo que eu passei, mas não fico fazendo drama. E eu sei que você vai aprender a fazer isso, pegar tudo isso e guardar na memoria. De resto você segue em frente. Mas nenhum de nós precisa de palavras para se comunicar, temos o coração e o olhar, que falam muito mais do que qualquer dicção boa.
***
Sexto (e último) dia de gravação.
Aquela manhã havia amanhecido estranha, sabia que teria que voltar para a minha vida, mas eu simplesmente não conseguia pensar na possibilidade de acordar todos os dias de manhã e não encontrar com ela pelos corredores. Terminei de pegar minhas coisas na pequena cômoda e coloquei tudo dentro da mochila.
Desci por aquelas escadas pela ultima vez, com a ajuda de alguns caras da produção consegui levar minhas malas. Ryan organizava as ultimas cenas com Stacy e eu observei o trabalho de todos.
- Por aqui o trabalho está terminado, pessoal. Parabéns à todos! – Ryan anunciou para todos que estavam na sala. Aplaudimos e nos abraçamos rapidamente.
Todas vocês, Chloes
Você deveria saber que é meu diamante bruto
É verdade
No canto direito da minha visão consegui ver se aproximando de mim. Virei-me em sua direção e antes que qualquer um de nós falasse algo, ela indicou uma saída para o jardim e eu a segui. Sabia que tínhamos que ter essa conversa, estávamos tendo um envolvimento, por mais parecesse tão superficial pelo tempo, eu sentia que era verdadeiro. E iria continuar sendo verdadeiro mesmo que acabasse.
- Eu sei que não posso pedir pra você ficar por uma série de motivos, eu não podia ser tão egoísta e te pedir pra morar nessa casa que nem ao menos é minha. – disse com a voz embargada.
- Mas eu posso te pedir pra vir comigo. Você vai conseguir um emprego rápido, és muito talentosa! Quero dividir minha vida com você...
- Eu não consigo! – me interrompeu – Pelo menos, eu ainda não consigo deixar essa casa. Deixar minha irmã na mão. Não é uma tarefa fácil! Estou me esforçando...
Nossos olhos não se desgrudavam e na medida em que os seus foram ficando cheios d’agua, eu percebi que tinha que me retirar. Não aguentaria vê-la chorando, até porque a motivação era exatamente eu.
- Eu sei de tudo isso. É que... – respirei fundo – Eu não consigo imaginar você fora da minha vida.
As lagrimas foram descendo uma a uma de seu rosto. Eu precisava ir.
- Quero que você saiba apenas que... – engoli a seco e continuei no ritmo da nossa música – , eu sei que sua irmã excita todo mundo, mas oh querida, não tenho dúvida, você é a única que eu quero.
Beijei sua testa e sai porta afora. Era uma missão perdida se continuasse a vendo chorar, sabia muito bem que estava sendo egoísta, mas às vezes na vida nós precisamos pensar só em nós, para que possamos achar a solução para que nenhum dos dois se machuque.
Caminhei até o carro que nos levaria de volta e antes que pudesse entrar observei bem o casarão. Por trás de muitas paredes deveria existir muitas historias de amor que só se pode senti-las quando acredita.
Você é a única que eu quero.
FIM?
O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.