Finalizada em: 28/06/2020

Capítulo Único

- Doeu?
- O quê?
- Quando você caiu do céu? – Arregalei os olhos.
- Você está dizendo que sou um anjo?
- Sim, Lúcifer. – Revirei os olhos e bati no ombro de .
Tomei mais um gole de meu suco de uva e suspirei fortemente. A brisa do mar levava meus cabelos para longe, criando diversos nós que seriam tirados com muito choro e xingamentos. Passei a língua sobre o lábio inferior e virei-me para encarar .
- Você acha que conseguimos? – Questionei seriamente e desviei o olhar novamente quando seus olhos azuis voltaram para os meus. Eu não o conseguiria encarar, então permaneci com os olhos voltados para o mar imenso fronte nossos olhos.
As ondas quebravam fracas próximas à areia. Era meio da tarde e o mar não estava violento. Observei um pequeno barco de pescado atravessar o horizonte. A proa vermelha descascada me fez lembrar de meus primos, eles deveriam estar tendo um ótimo dia, já que ainda estavam em alto mar e não haviam voltado.
- Eu espero que sim, do contrário, serei obrigado a fazer empadas pelo resto da vida. – pareceu arrepiar com o pensamento, pois balançou os braços bronzeados e mexeu nos cabelos claros.
- Você pelo menos teria uma das melhores empadas da região. – Dei de ombros e joguei um pedaço de bolo na boca, enxaguando-o com mais suco de uva.
- Que tipo de pessoa mistura uma bebida doce com uma comida doce? Ficam duas coisas amargas. – Encarei seus olhos mais uma vez, mas não me senti capaz de controlar a varredura que fiz por seu nariz fino, os olhos fechados pelo sol, os lábios ressecados e o sorriso de lado que fazia meu coração disparar há seis anos. Seis anos, é. Semana que vem, acho que já fariam sete.
- Sim, igual nossa amizade. Só que só eu sou doce, você é amargo por natureza. – Provoquei. arqueou a sobrancelha.
– O que vai fazer se por acaso não passar? – Aquela pergunta rondava minha mente há semanas. Eu precisava passar na faculdade, não havia outra opção senão aquela.
Observei as crianças rolando na areia, alguns metros à nossa frente. Eu e estávamos sentados próximos ao calçadão sobre minha canga roxa. A regata grudava em meu corpo pelo calor e meu nariz deveria estar ressecado. Esqueci de passar protetor na última semana.
- Não existe um “senão”. – Afirmei categoricamente, tentando espantar a todo o custo o que sofreria caso não conseguisse passar na faculdade.
- Se você não passar para medicina, podia tentar investir na sua carreira de atriz.
poderia estar fazendo piada como minha família inteira fazia com relação ao meu sonho de atuar, mas ele não fez. Nunca havia feito. E seus olhos indicavam uma fé que eu sequer possuía em mim mesma.
- Ah, e uma garota nordestina e preta vai conseguir algum trabalho televisivo? Por favor, . – Balancei a cabeça e olhei para minhas mãos sobre meu colo. Senti meu peito encher de lágrimas que viriam desesperadamente caso eu não tomasse uma decisão – Acho que vou para casa até a hora do nosso bico. – Murmurei.
- Ei, desculpa. Não falei por mal. – Ele segurou minha mão e, mais do que nunca, senti-me cansada. Sete anos e eu ainda tentava lutar todos os dias contra o que sentia, mas estava cansada demais até para aquilo.
- Eu sei. – Assegurei-o e levantei-me, passando as mãos pela traseira dos shorts, tirando a areia que sempre se enfiava pelos bolsos.
- É sério, . – Apenas assenti, não conseguia falar nada. A brisa quente afastou meus cabelos do rosto mais uma vez, e agradeci, as lágrimas já começavam a descer sozinhas – Ei, você está chorando?
- Apenas quero acabar logo com esse estresse. – Ainda sem me virar para vê-lo, comecei a andar. Não queria conversar, não queria saber de nada ao meu redor. Eu só queria passar em medicina e ir embora desse estado, viver em São Paulo ou no Rio Grande do Sul. Eu iria para o Amazonas se fosse necessário.
Caminhei pela orla da praia e prendi finalmente os cabelos em um rabo de cavalo. Passei pelos apartamentos luxuosos e atravessei a rua, subindo o caminho até o interior do bairro.
Em minha mente, conseguia me imaginar descendo do avião em direção à minha nova república. Abri um sorriso. Talvez não fosse o curso dos meus sonhos, mas medicina daria uma condição estável para a minha família. Era o que eu precisava, era o que eu queria. Eu precisava tirar minha mãe de casa.
Subi uma pequena ladeira e o portão de casa abriu com um arranhar quando acionei o portão velho. Bati com os chinelos na entrada e adentrei na casa silenciosa. Mamãe estava dormindo. Alfredo deveria estar enchendo a cara com os amigos no barco.
- Mainha? – Chamei-a quando cheguei ao seu quarto ao lado da cozinha. Ela estava deitada com o braço sobre a testa.
- ? O almoço está nas panelas. – Agradeci e sentei-me ao seu lado – Está nervosa com o resultado? – Assenti. Mamãe me deitou ao seu lado e passou a mão carinhosa por minha bochecha.
- Estou. Acho que estou desapontando você. – Ela riu e negou, as mãos calejadas trilhavam pequenos círculos em meu braço. Encarei-a e suspirei – Quero sair daqui, quero te tirar daqui. – Minha garganta ameaçou travar mais uma vez, mas não faria aquilo na frente de mamãe.
- Não é seu dever ou papel me tirar daqui, entendeu? Se esse for o motivo para prestar medicina, pode tirar o cavalinho da chuva.
- Eu amo medicina. – Murmurei.
- Ama?
- Sim. – Menti e não pude encará-la quando o fiz, mas mamãe apenas beijou minha testa e sorriu.
- Nem sempre podemos ter o que queremos, é a vida. – Ela deu de ombros e bocejou – Mas você, ah – ela pegou meus cabelos crespos nas mãos e sorriu – Você é infinitamente mais do que eu poderia querer.
Abracei mamãe fortemente, sem querer soltá-la. De repente, a ideia de não ter passado já não era tão ruim. Eu não a deixaria e poderia protegê-la de Alfredo.
- O dono daquele quiosque na praia do pôr-do-sol nos chamou de novo, mas negamos para podermos continuar no de sempre. É grana garantida e é confiável. Ah, te mandou um beijo. – Comentei – Depois venho direto para casa. Eu posso fazer a janta antes de ir.
- Ah, já está pronto. Cuscuz com inhame e feijão.
- Perfeito. Não vou jantar em casa, ok? Devo comer por lá com . – Sorri e me levantei – Vou me arrumar!
- Quando sai o resultado? – Ela perguntou quando cheguei ao meu quarto, seu grito preenchendo a casa pequena.
- Amanhã de manhã.
- Ah, é verdade. – Ela murmurou. Mamãe estava se esquecendo de coisas pequenas, aquilo fez meu coração apertar mais uma vez.
- Bem, vou comer e já vou. – Avisei e corri para a cozinha. Enfiei o almoço às pressas pela goela, praticamente sem mastigar, e saí correndo novamente pelo portão. Um vestido vermelho de alcinhas esvoaçava pelo meu corpo. Meu cabelo estava preso em um coque cheio com pequenas presilhas brilhantes ao lado. Passaria o batom vermelho quando chegasse ao quiosque para não correr o risco de me sujar.
Enfiei um livro na bolsa, um chinelo e desci a rua de casa com pressa. Meu celular dizia que o ônibus passaria em alguns minutos. Cheguei ao ponto ofegante e consegui pegar o ônibus um minuto depois. Enquanto ia até a praia, pensei no quanto as coisas poderiam mudar a partir de amanhã. e eu poderíamos ir juntos estudar em São Paulo, ou iríamos para estados diferentes e, na pior das hipóteses, para nenhum lugar. Apenas a consideração daquele cenário revirava meu estômago.
Peguei meu celular e sorri ao ver uma foto de tia Benedita. Ela estava se divertindo horrores em sua nova cidade, Los Angeles. Titia havia se casado com um dos sócios da Friboi e agora vivia permanentemente nos Estados Unidos. Mamãe não gostava da vida que tia Benedita levava, dizia que havia se casado por interesse. Eu não acreditava, mas não colocaria minha mão no fogo por ninguém.
- Motorista, vai descer! – Gritei quando o motorista passou do ponto. Revirei os olhos e aguardei impacientemente até saltar do ônibus. Corri na direção contrária. Eu estava correndo muito naquele dia. Fui até um dos quiosques próximos à praia e suspirei.
- Ei, você chegou cedo! – me cumprimentou novamente. Ele também havia trocado de roupa. Usava uma regata preta, uns shorts com estampas do Bob Esponja, e um chinelo preto. Estava perfeito. Os cabelos consideravelmente grandes estavam enfiados em um boné também preto e seu piercing na sobrancelha esquerda me fazia perder completamente o juízo. Eu havia sido totalmente contra aquela decisão, mas fiquei feliz em estar errada. Ele havia ficado lindo.
- Eu preciso chegar cedo no trabalho, não? – Arqueei a sobrancelha e o abracei de lado. Andamos juntos até o quiosque mais próximo ao ponto final do bolero. Todo pôr-do-sol, um queridíssimo músico passa de barco tocando o bolero de Ravel. Nossa música seria pintada pelo pôr-do-sol alaranjado, pela música clássica e pela brisa fria. Uma verdadeira chance de conseguir dinheiro dos turistas sulistas.
- Pronta para faturar uma grana boa? – Assenti e sorri para ele. Sabíamos o que estávamos fazendo. Afinal de contas, era assim que pagávamos nossa parte do cursinho de medicina.
- Vamos tirar dinheiro de uns sulistas. – Batemos nossas mãos no alto e adentramos pela corda de segurança. Acenei para alguns garçons e subimos no palco improvisado. Alguns olhares se direcionavam para nós. O sol atrás de nós começava a se pôr. Precisávamos agir rápido, antes que eles quisessem ir ver o bolero. Passei o batom vermelho fronte ao meu reflexo contra uma panela exposta na parede e conferi pelo celular. Tudo certo. Havia aquecido a voz durante todo o caminho, parecia tranquilo. Pegou o violão e subiu em um banquinho. O moço do som fez um sinal de “ok” para nós. Checamos o som mais uma vez, chegou as cordas do violão, a entrada e o retorno.
Arrumei o vestido em meu corpo e deixei a mochila ao lado da caixa de som. Sentei-me no banquinho minúsculo e encarei nosso público. Estávamos na alta temporada, era verão e todos os sulistas e paulistanos pareciam camarões saídos da brasa. Ouvi o retorno do microfone e sorri.
- Boa tarde. – Cumprimentei os clientes. Recebi respostas variadas, até mesmo um “buenas noches”. Sorri para um grupo de gringos. Precisava focar ali. Os estrangeiros gostavam de gastar dinheiro supervalorizado em países desvalorizados. Eu saía ganhando, então tudo bem. Contanto que não houvessem mãos bobas tentando apalpar minha bunda. Isso já havia acontecido. E eu havia socado o nariz do britânico. Foi uma das melhores sensações do mundo. Queria que houvesse uma faculdade apenas para socar homens, eu seria a primeira a me inscrever – Hoje nós vamos cantar um pouco. Pedidos de música podem ser entregues aos garçons. Esperamos que gostem. Eu sou a e meu companheiro aqui se chama . E buenas noches. – Acenei para o grupo de gringos. segurou uma risada atrás de mim. Encarei-o de soslaio e sorri.
Quando os primeiros acordes da música atingiram meu ouvido, aproximei-me do microfone e deixei que as letras de Ana Carolina se tornassem minhas, com meu timbre e minhas nuances. Encostei em meu pescoço e senti-me controlar um suspiro quando percebi que estava imersa. estava focado em seu violão, eu sentia só pelo toque de seus dedos nas cordas. Fazíamos aquilo há três anos. Era nosso local de descanso nas altas temporadas.
Três músicas depois e havíamos parado para tomar uma água enquanto o bolero ecoava por toda a orla. Os turistas levantaram correndo para irem até o píer. Encostei-me a quando encaramos igualmente o pôr-do-sol, mas de dentro do quiosque.
- Eu vou sentir saudade disso. – Ele confessou após alguns segundos. Sua voz era serena, um contraste absurdo com o que acontecia em meu peito. Sentia como se uma banda de percussão estivesse fazendo a festa dentro de mim. Queria vomitar.
- Eu também. – Retruquei com um sorriso, mas não desviou o olhar do meu. Seus olhos desceram para meus lábios.
- Eu vou mais, acredite. – Ele murmurou. Virei-me completamente de frente para ele, meu corpo formigando como no dia em que eu havia tropeçado em um formigueiro, mas naquele dia ele estava sorrindo, agora eu lidava com uma expressão que eu só havia visto uma vez: quando ele havia finalmente ficado com Maria, ano passado.
- Se eu for embora para outro lugar, você sentiria saudades? – Questionei bobamente.
- Nós vamos para São Paulo. – Ele assegurou ao pegar minha mão.
- Você não sabe disso... – Voltamos ao tópico da manhã. Desvencilhei-me da mão dele. não soube por sete anos como me senti, não pretendia que descobrisse naquele momento. Para ele tudo isso é normal, nossos carinhos, nossos toques, mas para mim é mais. Tudo o que ele faz pode ser pequeno aos olhos dele, mas é de importância universal para mim.
- Eu sei. – Ele afirmou – Sei porque você é talentosa e dedicada. Você é tudo o que São Paulo precisa.
- Sim, uma nordestina em êxodo rural. – gargalhou e negou, cruzando os braços.
- Você sabe que vivemos na capital, não é?
- Comparado com São Paulo, isso aqui é brincadeira.
- É, tem razão. – Ele sorriu – Eu estou ansioso para vivermos juntos lá.
O mero pensamento de continuar convivendo com fazia com que meu instinto romântico mudasse de Orgulho e Preconceito para 50 Tons de Cinza rapidamente. Não que eu fosse fazer algo daquilo com , quer dizer, ele não poderia ser o Mr. Darcy, era mais baixo.
- Eu agradeço seu positivismo, mas precisamos encarar tudo isso com realidade.
- Meu Deus, ! – Ele exclamou – Você não pode, por um segundo sequer, ser otimista? Você precisa sonhar um pouco! – Franzi o cenho.
- Sonhar não vai me fazer ir para São Paulo.
- Eu desisto. – Ele levantou as mãos para o alto, parecia realmente bravo.
Encarei o sol se pondo mais uma vez. Ao nosso redor, os gringos suspiravam e tiravam fotos, mas eu só conseguia pensar no quanto estava ansiosa para cheirar a poluição de São Paulo. E realmente estava. Aquilo provaria que eu estava lá e não aqui.
- Às vezes eu sonho em atuar. – Confessei sem tirar os olhos dos raios alaranjados que preenchiam o ar ao nosso redor. Dali no máximo dez minutos voltaríamos a tocar até que a próxima cantora chegasse.
- Você deveria tentar. – tocou meu ombro, mas me recusei a fitá-lo.
- Esse sonho é justamente o que me mostra que não é porque somos bons em algo, que seremos bem sucedidos naquilo. – O suspiro derrotado dele fez meu coração apertar. Eu sabia que ele se importava comigo.
- Você tem um potencial imenso.
- Eu sei.
- E vai jogá-lo no lixo.
- Eu sei.
- Qual a lógica?
- Preciso colocar comida na mesa. – Cruzei os braços. O sol havia se posto, finalmente, e voltamos a nos sentar em nossos banquinhos. Encarei nosso público ainda maior. Foquei meu olhar em uma mesa feita inteiramente por americanos, pelo menos pareciam – Ei, aquela mesa. – Sussurrei distante do microfone para . Ele assentiu.
- Acha que conseguimos boas gorjetas dali?
- Ah, com certeza. – Afirmei. Testei mais uma vez o microfone e sorri calorosamente, ignorando o mundo desabando em minha mente jovem e confusa – Olá, novamente! A música que vamos tocar agora é uma carta de amor, espero que possamos ler juntos. – Acenei para e acompanhei os acordes. Fechei os olhos momentaneamente.
Ao meu redor, tudo sumiu. Eu estava em um palco, dançando e girando, discutindo com um colega de peça que parecia tão suado quanto eu, mas feliz também. Sorri involuntariamente. O palco era meu sonho, mas minha realidade estava em uma mesa cirúrgica. E aquilo teria que bastar. Quando as notas altas do refrão chegaram, segurei o microfone com força e segurei meu abdômen. Expirar e inspirar. Tempo e ritmo. Tudo ao meu redor gritava música e atuação. Era o que eu fazia por anos com , mas eu não me incomodava, havia se tornado minha rotina. Será que eu conseguiria manter a postura em São Paulo? Será que ele sentiria minha falta se eu fosse embora para outro lugar? E eu conseguiria ficar aqui sem ele sabendo que estava em São Paulo?
- Eu nunca te vi cantar tão bem. – A voz de sussurrou em meu ouvido quando terminamos a música. Cerrei os punhos, todo o meu corpo reagindo imbecilmente ao seu toque silencioso.
- Vamos à praia depois? – Questionei baixo.
- Vamos aonde você quiser. – Ele piscou e tocou os próximos acordes.
Voltei meu olhar para a mesa de gringos, mas metade havia sumido. Será que havia sido tão ruim? Dei de ombros e toquei o próximo samba com um sorriso no rosto. O som das ondas quebrando contra os deques preencheu a noite e as muriçocas começavam a perturbar o juízo de qualquer um. Levantei-me do banco e comecei a andar entre as mesas, sorrindo e flertando levemente com alguns gringos. Puxei uma senhora para dançar e sorri quando ela seguiu os passos perfeitamente, os olhos castanhos sorridentes ao voltar para o marido torrado de sol. Observei a próxima cantora chegar pela entrada do quiosque e sorri para ela. Terminamos mais três músicas e nos despedimos.
- Obrigada por acompanharem nossa música! Se quiserem dar suporte a dois futuros estudantes de medicina, é só direcionar nossos nomes para os garçons, Garcia e Bonfim. – Despedi-me junto com ao som de palmas. A adrenalina nunca passava.
- Hoje foi nosso melhor show. – afirmou categoricamente quando nos colocamos a andar pelo calçadão – Por que queria vir andar? Costumamos jantar por lá.
Engoli em seco e observei seus cabelos antes de encará-lo. Estava numa rotina de fingimento há sete anos. Eu estava acomodada. Já que tudo mudaria, por que não aquilo também? Dali, tudo poderia mudar. poderia me odiar, poderia ficar desconfortável, mas eu não tinha tempo ou força de vontade para pensar nas consequências novamente.
- Porque eu preciso falar algo. – Afirmei nervosamente. segurou meu pulso e o case de seu violão pendeu para o lado.
- Ei, pode esperar? Eu acabei de ver uma amiga minha. – acenou para algum lugar atrás de mim. Virei-me rapidamente e vi uma das meninas do cursinho com quem ele havia ficado ano passado, antes dos vestibulares. Meu estômago revirou.
- Vai lá. – Acenei para ele e correu rapidamente.
- Já volto! – Ele retrucou e apenas suspirei. Era uma má ideia me declarar. A coragem súbita foi substituída por vergonha e exaustão. Encarei o deque, mas não consegui virar na direção dele. Perderia a coragem e, mais ainda, tinha certeza de que iria chorar. Na praia, milhares de caranguejos se amontoavam uns sobre os outros na estrutura de madeira dos deques e pareciam formar sua própria onda bizarra. A água estava calma, nada parecia abalar a imensidão do mar.
- Garcia? – Olhei ao redor e procurei o sotaque gringo que pronunciava meu nome. Arregalei os olhos ao ver um dos gringos da mesa. Era ruivo e tinha os olhos azuis, além disso, o rosto estava vermelho de sol.
- Sim, eu mesma. – Respondi em um inglês perfeito que faria minha professora do cursinho chorar. Eu devia tudo a ela.
- Eu amei o seu show. Sou o Ben Kingston, prazer. – Estendi a mão para cumprimentá-lo.
- Obrigada, Ben Kingston. Você já sabe quem eu sou, a . – Sorri largamente.
- Você fez um ótimo trabalho lá em cima! Bem, não sei se você me conhece ou não, mas eu sou headhunter de uma agência de modelos nos Estados Unidos, especificamente em Los Angeles, e estamos começando a investir em atores. – Aos poucos, uma expectativa começou a surgir em meu peito – E eu e meus parceiros amamos o que nós vimos ali em cima no palco. Você tem um talento incrível. Já pensou em atuar?
Meu mundo parou e senti que poderia cair dura no chão.
- Sim. Na verdade, quer dizer... – Embolei meu inglês vergonhosamente, meus olhos arregalando rapidamente. Ben Kingston riu e balançou as mãos.
- Calma, pode ir com calma.
- Eu faço teatro e aulas de canto desde os cinco anos de idade. – Comentei rapidamente – E eu nunca pensei em atuar de verdade, é mais um hobby. – Quase me dei um soco mentalmente. Estava realmente relativizando minha paixão?
- Para alguém que atua como hobby, você certamente tem uma performance incrível. – Arregalei os olhos bobamente – Eu estou de férias, mas nunca se tem férias verdadeiramente no meu ramo. Eu vou estar aqui até semana que vem e estamos buscando pessoas para representarmos. Hollywood está indo atrás de diversidade, e nós também. Você é uma diversidade agradável. Se quiser, podemos fazer uma audição no meu hotel, no lobby mesmo, e se eu e meus parceiros curtirmos, podemos até assinar um contrato. Procurei você no Google e achei algumas performances incríveis. – Meu corpo tremia, meus olhos não conseguiam focar e meus lábios estavam secos. Nada daquilo fazia sentido.
- Mas eu sou brasileira.
- Uma diversidade que Hollywood está começando a pedir. Latinos estão super em alta. – Eu não sabia como encarar aquilo, parecia extremamente racista, mas eu não tinha condição de refletir direito.
- Eu vou para São Paulo fazer medicina. – Soltei a informação de uma vez. Kingston assentiu e pareceu levemente decepcionado.
- Nesse caso, desejo boa sorte! – Ele sorriu e deu de ombros – Fique com meu cartão, só caso mude de ideia. Mas devo dizer, eu não perderia uma chance dessas. Nem todo mundo consegue algo assim, é para se pensar. – Segurei o cartão violeta tremendo de nervosismo. Pisquei diversas vezes – Eu não acho que me ligar seja uma boa ideia, já que o número é internacional, mas me mande uma mensagem no WhatsApp. – Piscou e acenou, voltando para o quiosque – Foi um prazer! Espero que tome a decisão correta.
É, eu também.

*


- Você o quê?! – arregalou os olhos.
- É isso aí, chamei a atenção de um figurão de Los Angeles. – Mordisquei a ponta da unha, tentando esconder o sorriso imenso por trás de minhas cutículas.
- Isso é incrível, . – Ele me abraçou e me girou, o case do violão me atrapalhando. Eu estava vermelha, sorrindo, a cerveja subia por meu corpo e fazia a música ao meu redor parecer a trilha sonora finalmente vitoriosa da menina que se sentia pequena antes de ser vista por quem verdadeiramente é.
- Sei que é incrível, e é definitivamente um grande propulsor para o meu humor. Vou poder contar para os meus futuros pacientes que, se eu não fosse médica, poderia ser atriz em Hollywood. – arqueou a sobrancelha.
- Você não vai aceitar? – Comi mais um pedaço de tapioca com carne de sol e neguei, limpando a sujeira no canto da boca.
Ao nosso redor, as crianças brincavam na praça com skates e patins. Estávamos na praia, próximos ao quiosque, mas não decidimos jantar por lá, já que os gringos ainda estavam reunidos e eu não queria surtar na frente deles. Não, isso mostraria que eu era amadora. O que eu sou, ele também sabe disso, mas não quero dar bandeira.
A brisa quente empurrou meus cabelos para trás. fixou seus olhos azuis em mim. As ruguinhas de sorriso haviam sumido, dando vazão às rugas de preocupação.
- Essa é uma oportunidade única, e é seu sonho.
Eis algo que não conseguia entender. Ele não precisava fazer medicina. Herdaria as Empadinhas Barnabé, um dos estabelecimentos mais famosos da cidade. Já era milionário. Ele morava em frente à praia de Manaíra, as paredes da sacada de sua janela estavam afetadas pela maresia, mas ainda sim, era um dos prédios mais caros de João Pessoa. Inclusive, tinha um apartamento na Avenida Paulista em São Paulo, onde passava as férias com a família, local onde moraríamos caso passássemos. Para ele, medicina era um sonho se tornando realidade, para mim, era o caminho mais seguro para conseguir sustentar minha mãe e finalmente abrir um processo contra o verme sanguessuga que vivia às nossas custas.
- Meu sonho envolve ficar meses, anos, lutando por um trabalho e com quase certeza absoluta de não conseguir. Mesmo que consiga, até consolidar meu nome serão anos e anos que não posso esperar. Minha mãe não vai mais viver muito tempo desse jeito – engoli em seco – e preciso ajudá-la enquanto posso.
- Mas isso não vai te fazer feliz.
- , pelo amor de Deus, eu já decidi. Não vou mudar de ideia. – Encerrei o assunto e comi outro pedaço da tapioca, tomando um gole de cerveja por cima – Além disso, você estaria perdido sem mim em São Paulo, sabe disso, não é? – arqueou a sobrancelha.
- Você é quem não vive sem mim.
- Quando você ficou bêbado no último dia dos vestibulares, não foi você quem disse “Ah, , eu te amo tanto! Eu não vivo sem você! Eu te amo, você é tudo o que eu sempre quis” e blá, blá? – Provoquei com um sorriso.
Eu me lembrava perfeitamente daquele momento, porque eu achei que pudesse estar se declarando para mim, até que ele vomitou no meu tênis. Romântico.
- Aquele foi um momento atípico. – Ele murmurou com um sorriso de canto.
- Sim, quando você sarrou contras as minhas costas também foi um momento atípico, não? – tentou se defender, mas apenas balançou os cabelos secos e deu de ombros.
- Eu gosto de sarrar você.
- Vai se ferrar. – Empurrei seu ombro – Mas, é, eu gosto de sarrar você também. – Gargalhei e o abracei.

*


Abri os olhos rapidamente no dia seguinte, meu corpo estava mole e minha boca, seca. No quarto claro ao meu redor, o calor predominava. Nem mesmo o ventilador surtia efeito, o vento era quente. Encostei a mão em meu pescoço e senti litros de suor escorrendo por mim. Gemi de desconforto e cobri-me mais ainda, estava tremendo de frio, apesar de suar.
Pisquei os olhos algumas vezes e alcancei o termômetro ao lado da cabeceira. Coloquei-o sob a axila e esperei os segundos passarem silenciosamente, rendendo-me ao sono quando o apito soou. 38,5° de febre. Ansiedade de novo. Bufei e levantei-me da cama. Havia tido febre cinco vezes nos últimos dois meses. Eu não sabia lidar com ansiedade, então meu corpo resolvia que a febre faria a ansiedade passar, aparentemente.
- Mainha? – Gritei ao me levantar. Lavei o rosto no banheiro adjacente ao quarto. A febre passaria após algumas horas.
Eu não havia dormido direito naquela noite. Após me deixar de carro em casa, eu havia feito hora em frente à televisão. Quando o verme bateu no portão, desliguei a TV e corri para o quarto, trancando a porta atrás de mim. Mamãe estava dormindo na casa de uma prima nossa, e eu não ficaria sozinha ali dando bandeira para ele. Fiquei até às quatro horas mexendo no celular e conversando com e nossos amigos. Todos estavam ansiosos com os resultados. Quando preguei os olhos, às quatro e cinquenta, o sol já surgia no horizonte e o calor aumentava.
- Bom dia, filha. – Mainha colocou a cabeça para dentro do banheiro e sorriu. As rugas dos olhos indicavam um sorriso verdadeiro. Eu não via um daqueles há anos – Você tem algo para me dizer?
- O resultado não saiu ainda. – Lembrei-a e cuspi a pasta de dente na pia. Virei-me para ela e cruzei os braços – Esqueceu de novo?
- Não, claro que não. Você deixou isso aqui em cima da mesa. – Ela apontou para o cartão que Ben havia me dado. Engoli em seco e permaneci a encarando.
- Isso não é nada.
- Não minta.
- Mas é sério.
- Eu falei com , perguntei se ele sabia de algo. O garoto não sabe mentir. – Revirei os olhos – Isso aqui é incrível, ! Ele fez a pesquisa e tudo, é uma agência real e sabe quem eles representam? – Ela arregalou os olhos e gesticulou – O Chris Evans! Ele acabou de assinar contrato com eles. – Arrumei minha postura e tentei não vacilar perante aquela informação.
- Eu vou prestar medicina.
- Meu Deus, tu é cabeça dura demais, ! – Ela exclamou exasperadamente. Seus olhos estavam arregalados e ela fechou a porta atrás de si, prendendo nós duas no banheiro – Você precisa aceitar. Já falei com sua tia Benedita, ela aceitou de bom grado te receber na casa dela.
- Espera aí, o quê?! – Exclamei. Mamãe não parecia me ouvir, era como se eu não estivesse ali.
- E você pode conseguir algum emprego, não sei. Não vai ser de graça, obviamente. Eu odeio a ideia de você ir para outro país, mas é uma ótima ideia. Eu falei com minha prima ontem e o filho dela vai se mudar para o Ceará, então um quarto vai ficar disponível. Posso ir morar com ela e deixar o Alfredo aqui. Ideia incrível, não é?
- Não. Não é.
- E poderíamos usar o dinheiro que juntamos para os dois primeiros meses seus em São Paulo para parcelar a passagem. Acho que conseguimos pagar a primeira parcela, depois nos viramos para pagar o resto. Posso voltar a trabalhar integralmente.
- Mãe! – Gritei – Meu Deus, me ouve! – Segurei suas bochechas gordas e senti minha garganta apertar de dor, a febre subindo rapidamente.
- Você está com febre de novo... – Ela reprovou com a cabeça. Tocou em minha testa e começou a tirar minha blusa – Entre no banho agora! Ducha fria, vamos.
- Eu não quero. – Respondi manhosa.
- Agiliza. Vai querer que eu te dê banho? – Resmunguei e tirei o resto da roupa, entrando no box do chuveiro. Quase chorei ao sentir a água gelada atingir minha cabeça.
- Mainha, não vou aceitar a proposta. – Falei após um tempo – Eu quero prestar medicina.
- Mas seu sonho não é atuar?
- Pelo visto todo mundo sabe dizer qual é meu sonho como se eu não soubesse. – Murmurei para mim mesma – A questão é que eu já prestei o vestibular. Além disso, você mesma diz que atuar não enche barriga, e também me disse ontem que nem sempre fazemos o que queremos.
- Sim, mas isso aqui no Brasil. Lá você pode tentar com alguma chance. Além disso, antes você não tinha uma oportunidade tão grande quanto essa. Se alguma chance de seguir o que você ama aparece, então corre atrás.
- Mamãe, lá é tão difícil quanto aqui. Na realidade, lá é muito mais difícil. – Mainha permaneceu em silêncio.
- Não quero que você vire o que eu me tornei. – Desliguei o chuveiro e ouvi mamãe chorar baixinho, fungando. Não tive coragem de abrir o box, pois as lágrimas já escapavam livremente por meu rosto.
- Você é meu maior exemplo. – Argumentei com um fiapo de voz. Liguei o chuveiro novamente, não queria que ela me ouvisse chorar.
- Quero que você ame o que faz e não odeie sua profissão, filha.
- Eu sei.
- Você não vai ser uma boa médica. – Arregalei os olhos e abri a porta quebrada do box com um supetão.
- O quê?
- Você ouviu. – Ela deu de ombros – Não é o que você ama, é uma obrigação. Ninguém que trabalha só por obrigação é bom verdadeiramente no que faz, nunca tão bom quanto alguém que ama sua profissão.
Aquilo me atingiu como uma bomba. Permaneci a encarando até que ela suspirasse.
- Nenhum pai que ver seu filho passar dificuldade. – Ela confidenciou, seu tom de voz amenizando – Mas todo pai quer ver seu filho feliz. E você não vai ser feliz fazendo medicina. Você é feliz no palco, cantando e dançando. É feliz atuando. Eu não entendo nada de atuação, mas você é boa demais nisso. – Encarei meus pés molhados e deixei as lágrimas caírem.
- Eu não posso, mamãe.
- Por quê?
- Eu preciso te tirar daqui. – Mamãe envolveu seus braços ao meu redor com força e chorei ao me agarrar a ela. Ali, nua, molhada, perdida e chorando, senti minha febre dar sinais de que ia embora.
- Você não pode me salvar, está ouvindo? – Ela segurou minhas bochechas – Eu escolhi essa vida, escolhi tudo isso! E me orgulho dessa casa, me orgulho mais ainda de você. Tudo o que eu preciso na vida é saber que você está bem. Eu criei uma das mulheres mais fortes e talentosas que essa Paraíba já viu! – Ela exclamou – E quero que o mundo veja isso também. Se você deixar de viver seu sonho por minha causa, seria melhor você me matar, porque você está desperdiçando a criação que eu te dei. – Permaneci em silêncio e suspirei.
- Mamãe, eu vou ser feliz fazendo medicina. – Assegurei-a ao pegar em sua mão. O sorriso de mamãe desapareceu – Você me criou para ser forte e decidida. É isso que sou. Eu vou fazer medicina para poder ajudar crianças pequenas. Atuar é meu amor, mas crianças também são. – Ela assentiu – Não se preocupe, por favor. E agradeça a oferta da tia, mas eu vou tentar medicina. Eu preciso.
- Espero que não se arrependa. – Ela advertiu.
- Não irei.

*


O relógio fazia tique-taque ao meu lado. A maresia adentrava pelas janelas abertas e meu corpo tremia de antecipação. Dali dois minutos, meu mundo viraria pó ou formaria o barro.
- Você está tremendo. – afirmou ao me encarar de soslaio, mas roía as unhas curtas e coçava a cabeça. Estávamos os dois de frente para o computador, nossos braços arrepiados de nervosismo.
- Você também está uma bagunça. – Comentei sem humor.
- Antes disso, eu preciso te dizer algo, . – Ele se virou para me encarar, os olhos arregalados e a boca seca.
- Não temos tempo! – Exclamei ao perceber que falta um minuto. Continuamos atualizando o site.
- Temos sim. – Ele segurou minha mão abruptamente. Encarei-o em choque, mas ele entrelaçou seus dedos nos meus. Engoli em seco. O que estava acontecendo? – Não podemos ir para São Paulo sem que eu te conte como eu me sinto. – Uma onda de medo surreal se apossou de mim, e eu comecei a rir. Rir como eu nunca havia rido. Minhas costas doíam quando eu me curvei e caí da cadeira – Por acaso eu sou uma piada? – Ele vociferou.
- E-eu não sei lidar com situações assim, ! – Gritei ainda rindo, lágrimas escorrendo de meus olhos – Por favor, continue. – Falei ao me sentar novamente na cadeira. Ainda nada.
- Não, não quero mais. – Ele resmungou e voltou a encarar a tela, a mão que havia usado para segurar a minha estava apertando F5 no teclado. O site estava fora do ar.
- Você sabe que não sei lidar com pressão!
- Você é atriz, . – Limpei o canto dos olhos.
- Não com você. – me encarou e arqueou a sobrancelha.
A brisa pareceu acariciar minhas bochechas, meu corpo inteiro estava pegando fogo, eu não sabia se por causa da febre ou do olhar de . Tudo parecia quente demais, real demais. E quando me beijou naquele momento, eu sabia que a febre não era nada se comparado ao que eu sentia. Coloquei minha mão em sua bochecha e aprofundei o beijo, meu corpo praticamente voando para cima dele. Suspirei ao nos afastarmos. A boca dele estava vermelha, seus olhos permaneceram fechados e um sorriso se escancarou por seus lábios.
- Essa foi uma surpresa. – Murmurei e encarei a tela do computador completamente atordoada. Os resultados estavam ali – ! – Gritei e segurei o computador. Fui em direção à lista e fechei os olhos – Não consigo. – Um medo absurdo tomou meu ser. Levantei-me da cadeira, trêmula pelo beijo e pela adrenalina.
- . – me chamou quando eu estava de costas encarando um quadro de Picasso original que a mãe dele possuía. Senti minha pele arrepiar quando depositou um beijo em meu ombro exposto pela alça da regata amarela.
- Eu não consigo, . – Chorei e abracei-o fortemente. Abri os olhos e encarei a tela do computador por trás do nosso abraço, em meio às lágrimas. O nome dele estava ali, o meu não – Eu não passei. – Balbuciei, meu corpo tremendo em terror em sua mais pura essência.
Tornei-me inerte nos braços de , meus soluços invadindo meu corpo em ondas violentas e tremendas.
- Meus parabéns! – Eu consegui dizer e me agarrei ao pescoço dele, as lágrimas de alegria se misturando às de desespero. beijou minha testa.
- Ainda temos outras listas, e não tem só a USP, .
- Eu estou na posição vinte e oito. São só dez vagas. A lista não vai rodar assim. – Senti o ar sumir de meu peito, mas não era por não ter conseguido.
- Eu sinto muito, mas você com certeza consegue passar em outras universidades. Você ficou em vinte e oito entre milhares de pessoas. A USP não é a única faculdade de medicina do mundo. – disse e apenas assenti.
- Vou para casa. – Murmurei e peguei minha mala – Avisar para mamãe das grandes notícias.
- , nós precisamos conversar sobre... -
- Não, agora não. – Balancei a cabeça negativamente e abri a porta de madeira pesada – Nos vemos depois.
Desci o elevador enquanto soluços pesados subiam por meu peito. Agachei-me no meio do cubículo e chorei tudo o que conseguia chorar. O elevador havia parado em um andar, mas ninguém entrou. Ainda bem. Mamãe já havia me ligado. Quando cheguei ao calçadão, encarei o céu azul e abri um sorriso desolado. Foi somente quando peguei meu celular em mãos e abri o contato na tela que me senti decidida.
As lágrimas que derramei lá em cima eram de alívio misturado com um desespero sem fundamento. O mar em minha frente estava claro, as ondas quebravam com força em espuma branca. Peixes nadavam na claridade da água e a brisa ao meu redor me consolava. O som queimava minha cabeça, mas eu não me importa. Eu me sentia livre, não derrotada. Um peso enorme havia vindo daquele “reprovada”, mas era um peso que me levava mais perto do que eu sempre soube ser certo, talvez não racionalmente, mas para mim, sim. Eu nunca havia estado tão certa. Quando liguei para o número no WhatsApp, não deixei que meu medo me fizesse desistir de novo.
- Alô, Bem Kingston? É a Garcia do quiosque na praia. Eu estive pensando e aceito sua proposta. Quero fazer uma audição. Quero ir para Los Angeles e me tornar atriz.


Fim



Nota da autora: Hola, guapos! Obrigada por terem lido mais uma história. Espero que possam acompanhar “Sorria para as câmeras”, a longfic que conta a história da PP depois que ela se mudou para Los Angeles e começa a atuar.
Beijos e obrigada por tudo!



Agarra essa oportunidade, mulher! ♥ Levanta a cabeça e mete o pé! Adoro suas histórias com personagens "fora do comum", Ana! Você arrasou de novo, parabéns!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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