Capítulo Único
O som que envadia o salão de festas do hotel em comemoração aos recém casados, estava animado, assim como as pessoas dentro dela que dançavam incessantemente.
O blues que tocava era irreconhecível aos ouvidos de mas eram agradáveis e faziam com que ela desejasse dançar como aqueles que ela observava.
“Estupido vestido de festa” ela pensou.
normalmente não usava aquelas roupas, treinava para grandes competições de esportes de inverno desde que era criança então, era raro vê-la em um vestido de festa que lhe apertava a cintura ou até mesmo mostrava parte de pernas sem a grossa meia-calça.
Mas ela amava dançar, sempre pensava que dançar era uma forma de se liberar, como se você chaqualhasse uma carga negativa até que ela se tornasse positiva na força. Isso não significava que ela era boa no que amasse, certo?
A não ser na patinação, isso sim era algo em que se garantia sem pensar duas vezes, porque se ela não se achasse boa, quem mais acharia?
Estar no casamento e na festa de casamento do seu melhor amigo, aquele quem teve uma grande e estupida queda por anos e com quem começou a patinar quando era criança só mostrava que era apenas ela, por ela mesma. Ela sabia que não poderia contar mais com o apoio dele e que sua família era a mesma coisa que nada no quesito apoio, por isso se mudou cedo de casa.
— Gin com duas pedras de gelo, por favor! — ela disse se aproximando do bar, recebendo uma olhada estranha do bartender.
Não, ela não costumava beber, mantia sua saúde as riscas para poder continuar com sua profissão intacta mas, aquela noite pedia por algo como aquilo, seu vestido estava incomodando, seus saltos estavam incomodando e ela apenas queria voltar para o quarto em que estava hospedada, se não fosse pelo fato de ter prometido a , seu melhor amigo e a sua agora esposa que aquela noite, ficaria até o final sem reclamar.
Ambos sempre reclamavam que nunca se divertia ou se deixava levar, nunca saia de uma linha invisível que andava desde que era criança, o que supreende o fato dela e de até mesmo se tornarem amigos inseparáveis já que ele era o completo oposto.
— Você está completamente sem graça hoje — se aproximou dela no bar — como de costume, só que de vestido.
— Eu te odeio por ter me feito usar um vestido na primavera — ela respondeu dando um leve soco no braço do amigo que estava de frente para as pessoas, observando elas dançando, bebendo, conversando.
— Você sempre ficou bem de vestido, para de reclamar — ele retrucou, fazendo um sinal para o bartender de que queria o mesmo que estava tomando.
— , você me viu de vestido quantas vezes em vinte e três anos? — ela respondeu arqueando as sobrancelhas e ele soltou uma gargalhada exagerada.
— Acho que a última vez nós tínhamos doze — ele disse rindo.
— Isso porque a sua mãe me obrigou, dizendo que eu não podia ir ao casamento do seu tio com as roupas de treinamento ou ela as esconderia no fundo do lago antes do inverno — soltou mais uma gargalhada — tenho dúvidas se isso é amor mas foi só por isso que eu usei o vestido aquele dia, depois disso ela desistiu.
— Porque você sempre falava que preferia não ir aos lugares do que usar vestidos — ele completou, brindando com ela assim que pegou sua bebida.
— Errada não estou — ela riu tomando um gole de sua bebida.
— Você nunca está — ele disse baixinho, rindo enquanto observava a amiga.
Aqueles momentos eram dolorosos para , ela sabia que eram despedidas, afinal, ela não poderia estar o tempo todo com ele como de costume e quando acordasse na casa em que dividiam, eles já não estariam preparando o café pela manhã como de costume, assim como dali em diante os almoços em família que ela costuma ir desde que se entendia por gente na casa da mãe dele — que mais parecia mãe dela — não seriam os mesmos, já que não seriam história contadas por eles mas sim por ele e sua esposa e futuramente, seus filhos.
Mais uma vez, , assim como em sua família, se sentia como uma invasora.
— — ele a chamou vendo o instante devaneio que entrou.
— Huh? — ela tirou os olhos do copo que observava sem realmente colocar a atenção, vendo os olhos do amigo pesarem.
Ela odiava aquele olhar, fazia com que ela realmente se sentisse como uma invasora, não alguém que fez parte de uma história mas alguém que apenas passou por ela e não é mais necessária.
— Não, — ela disse com um tom de negação — você é a única pessoa que eu implorei para que não me desse esse tipo de olhar.
Ela riu irônica tomando o último gole do seu líquido.
— Que olhar, ? — ele perguntou confuso tentando se aproximar dela, fazendo com que ela se afastasse automaticamente.
Aquilo doeu em e ela pode ver, afinal, nunca havia se afastado dele assim, como se não fossem próximos.
— Me diz o que está acontecendo, — ele pediu mais uma vez.
E ela apenas suspirou.
— Nada — foi a única coisa que ela conseguiu falar — vou andar por aí já que prometi que ficaria até o final, aqui está um pouco sufocante mas, provavelmente não te verei mais então, felicidades pela sua nova fase de vida — ela o abraçou com sinceridade, não poderia ser egoista, pelo menos não naquele dia — diga a Hani que ela tem sorte por ter escolhido você e você por ter escolhido ela.
Não era exagero e não era sobre a queda que havia tido em aquela situação, mas sim, sobre ela não se sentir mais parte da família que ela sempre havia se sentido parte, onde ela se encontrou como pessoa, como filha, como melhor amiga e todos os outros títulos que não havia conhecido desde criança em sua própria família.
O sentimento era de que ela apenas estava guardando o lugar de alguém que estava por chegar e aparentemente, aquele alguém era Hani.
pegou uma das taças de champanhes que estavam sendo distribuídas pelo salão e saiu pela porta principal indo diretamente ao Hall onde alguns hóspedes passavam, outros chegavam e outros saiam.
— Cuidado! — ela ouviu do seu lado esquerdo alguém dizer. Quando olhou ou entendeu já era tarde demais.
— Aí — ela reclamou massageando a testa.
— Essa foi uma trombada e tanto — o dono da voz disse se aproximando dela, olhando o vermelho que havia ficado em sua testa — eu acho que se você colocar um pouco de gelo não vai ficar tão roxo mais tarde.
— Me diz que eu não acertei ninguém com a porta — outra voz sugiu de trás da porta junto com uma figura de expressão engraçada e olhos fechados, fazendo com que desse risada.
— Está tudo bem — ela respondeu rindo — você me acertou mas não foi nada demais, seu amigo aqui está até segurando a risada.
— Não estou não — O outro disse mordendo os lábios para não rir.
— Está sim — ela disse rindo.
massageou a testa a testa sentindo uma pontada por rir muito forte e fez com que o rapaz que a ajudou a olhasse preocupado.
— Vou procurar por um pouco de gelo para você colocar na testa — ele disse sentando ela em uma das cadeiras da recepção — enquanto isso te deixou a cuidados do , o culpado pelo futuro galo na sua testa — ele riu fazendo com que o outro olhasse apavorado para ela que balançou a cabeça negativamente falando para ele que estava tudo bem.
— Você pode pedir um pouco para o bartender daquela festa de casamento que está tendo ali — ela comentou.
— Você também estava na festa do ? — ele olhou confuso.
— Gelo primeiro, conversa depois — disse interrompendo os dois, fazendo com que desse risada.
— Certo — o outro cujo nome ainda não sabia saiu em busca do gelo sem pensar duas vezes, sumindo assim que passou pela porta do salão de festas.
continuava fazendo infinitos pedidos de desculpa enquanto estavam sozinhos, fazendo com que desse risada descontroladamente com as gracinhas que fazia para ganhar a atenção, amizade e simpatia da garota. Ela descobriu conforme conversavam que ele e — o outro que havia partido em busca do gelo — eram amigos de faculdade de e por isso tinham sido convidados para o casório e que quem havia ajudado a encontrar o local da cerimônia e da festa tinha sido os dois.
— Vejo que vocês estão se dando bem — chegou com uma trouxinha de gelo nas mãos e uma bebida avermelhada — suco de melancia doce e fresquinho para ajudar a tirar um pouco o foco da dor quando colocarmos o gelo.
— poderia tranquilamente ser a distração — disse limpando as lágrimas da risada que dava de algo que havia dito — sério, você saiu por alguns minutos e tudo que eu fiz foi dar risada, até esqueci que tinha dado de cara com a porta.
— Ele é encantador, eu sei — disse sorrindo para o amigo — certo, me deixa dar uma olhada nisso.
se aproximou, agachando-se e ficando na altura de que estava sentada.
O olhar de foi de encontro a cada detalhe do rosto dele, começando dos fios de cabelo bem arrumados em um penteado com alguns fios soltos pela testa, baixando o olhar até seus olhos que encontrou encarando os dela. Eles eram aconchegantes e ternos, emitiam calor e gentileza, eles eram carinhosos assim como o sorriso que surgiu em seus lábios assim que ele notou que ela o encarava de volta. Aquilo fez com que seu coração saltitasse e suas bochechas corassem, desviando o olhar no mesmo momento.
— Eu acho que chega de festa para mim por hoje — comentou quebrando o silêncio e a tensão que sentiu entre os dois.
— Eu ainda preciso ficar aqui até o final — ela comentou e tanto quando a olharam questionando silenciosamente — e a Hani me fizeram prometer que ficaria até o final.
— Mas acho que você tem uma boa desculpa agora — disse deixando com que ela mesma segurasse a bolsa de gelo sobre a testa.
— Ainda sim acho que deveria ficar, nem que seja para dar algumas voltas pelo jardim do hotel ou comer os doces maravilhosos da mesa de doces — ela disse dando de ombros.
se levantou e ajeitou o vestido que continuava irritando-a.
— Vejo vocês por aí — ela sorriu — obrigado pelas risadas e o galo — ela brincou com , fazendo ambos rirem, se virando para em seguida — obrigado pela bolsa de gelo e o suco — ela sorriu sincera.
Eles haviam sido boas pessoas que ela havia encontrado — mesmo que em circunstâncias inusitadas — em um momento que realmente a deixaria anestesiada pelo do ano. Pelo menos, havia tirado um pouco a sua cabeça da incerteza que poderia ser dali para frente a sua vida.
Parecia muito dramático mas era daquela forma que ela via, havia se apegado tanto ao fato de ter tudo aquilo que tinha até então, que, sequer se deu conta ou chegou a pensar que um dia poderia acabar.
— Foi um prazer conhecê-la — disse mais baixo, quase para si mesmo, quando ela já havia virado e saído do lugar.
— Você deveria ir atrás dela — disse de repente, tirando de seus devaneios.
— Huh? — Perguntou olhando para o amigo, confuso.
— Eu acho que nunca te vi olhar para alguém que acabou de conhecer assim — comentou ainda vendo ela de costas um pouco mais longe dele, conversando timidamente com outras pessoas do lado de fora do salão, que a paparam em seu caminho, impedindo que saísse pela porta lateral em direção ao jardim — na realidade, eu acho que nunca te vi olhar para ninguém assim.
— Eu a olhei normal — rebateu sem tirar os olhos dela, rindo fraco pelo fato de ver que ela tinha que explicar porque trazia a bolsa de gelo na testa.
— Você está fazendo outra vez — riu — não acharia normal se visse como eu vejo.
A verdade era que o sentimento de emoção repentina que surgiu em assim que ele colocou os olhos em foi absurdamente irrefutável. Ele já estava indo em direção dela sem que nem mesmo percebesse, antes mesmo que a acertasse com a porta.
— Eu nunca te vi com um olhar tão focado — comentou — nem mesmo quando você está criando uma nova música, aliás, é como se ela fosse toda a inspiração que você sempre disse que faltava, eu não sei o nome disso mas, eu sei que é raro.
— Eu não sei explicar — disse de repente sentindo um aperto no peito que ele não entendia — é como se fosse um sentimento constante e que surgiu absolutamente do nada.
— Deve ser algo como, amor à primeira vista — o amigo disse rindo, vendo que finalmente talvez tivesse encontrado aquilo que esperava por anos.
— É como se meus olhos apenas pudessem focar nela e em nada mais — ele riu fraco — foi a coisa mais estranha que eu já senti.
— Mais do que…
— Sim, mais do que aquele dia — revirou os olhos irritado por se lembrar e saber do que falava no mesmo minuto.
— Então, vai atrás dela — disse — eu já te disse isso antes, ninguém pode te controlar, ninguém pode fazer as suas escolhas por você.
— Um pouco intenso demais, você não acha? — contestou — as pessoas hoje em dia não procuram intensidade.
— E nem as do futuro, eu aposto — o amigo colocou as mãos sobre os ombros de e sorriu — mas ninguém encontra esse tipo de sentimento o tempo todo então é difícil falar.
Ele ficou reflexivo, tinhas boas palavras, mas, ainda sim, ao pensar que as pessoas naquela vida, naquele ano ou qualquer outro não procurassem uma fuga repentina por um talvez amor repentino o fazia pensar mais, afinal e se realmente fosse amor? mas, só da parte dele?
— Não se precipite com muitos pensamentos — disse vendo o amigo divagar — lembre-se você é músico e não cientista, está, praticamente no seu dna agir com o coração e não com a cabeça.
gostava de diminuir a tensão com comentários que fariam desse risada, não apenas ele mas qualquer um que o conhecesse e precisasse do seu humor repentino.
Sempre funcionava.
— Vou deixar com que o universo se encargue — disse fazendo rir e balançar a cabeça negativamente — vou andar pelo hotel enquanto você volta para o quarto, se eu a encontro mais uma vez, talvez eu entenda o que é esse tipo de situação.
— Vocês trocaram algumas palavras e conseguiram ficar assim um com o outro — riu mais uma vez — talvez um dia eu tenha o que vocês terão.
entrou pela porta que havia saído quando bateu a porta em sem querer, retornando para o corredor onde os elevadores ficavam. ficou para trás, voltando a festa, conversando com alguns convidados previamente mas a realidade era que ele apenas estava checando se ela por alguma razão havia voltado para dentro.
Não a encontrando, pegou uma taça de champanhe para si e outra para ela já que tinha a plena certeza de que a encontraria pelos jardins do hotel.
— Achei que fosse acabar te encontrando por aqui — ele disse vendo a figura da mulher sentada em um dos bancos olhando perdidamente para a fonte iluminada a sua frente — posso me sentar aqui?
sorriu ao ouvir a voz dele por alguma razão que ela não poderia explicar sem se entendesse. Então apenas assentiu de forma simpática indicando que ele poderia fazer companhia a ela.
— Trouxe um a mais caso você queira — ele disse mostrando as taças e ela aceitou.
— Não é como se a minha mãe tivesse realmente me ensinado a não pegar nada de estranhos — ela comentou rindo e tomando um gole do líquido.
— Ei — ele chamou sua atenção — não somos mais estranhos.
— Certo, você me deu a bolsa de gelo e um suco de melancia antes, passamos desse nível — ela respondeu rindo.
literalmente podia ouvir música em seus ouvidos quando escutava a risada de , por mais que aquilo soasse estranho, apressado demais ou algo assim que nem ele saberia explicar, ele realmente não entendia o que estava acontecendo.
— O que você costuma fazer para se distrair? — ele perguntou de repente.
— Patinar — ela respondeu rapidamente — era meu hobby antes de virar meu trabalho, então continua sendo o que me distrai melhor.
— Você é patinadora profissional? — perguntou admirado e ela apenas assentiu — não me admira você não ter reclamado de dor quando colocamos o gelo.
se aproximou dela, analisando como o machucado de mais cedo havia ficado, sem nenhuma má intensão, por puro instinto passando o polegar de forma delicada sobre o local.
— E você? — ela desviou de seu toque, arrepiada, tomando mais um gole de seu champanhe e seguindo com o assunto.
— Eu escrevo — ele endireitou seu corpo se sentando direito no banco, com as bochechas coradas e se xingando internamente por ter agido de forma sem pensar.
— Você é escritor? — ela perguntou admirada.
— Música digo, eu escrevo música — ele sorriu sem graça, já que normalmente as pessoas que escutavam que ele era músico faziam cara feia ou perguntavam se ele não seguiria uma carreira de verdade e deixaria de brincar de música um dia, já que ele já estava ficando velho — eu sou músico, tenho uma banda, com e as vezes nós ajuda nas produções.
— Uau! — ela disse animada — isso é tão legal, me contou sobre vocês, disse que ia me levar em um dos ensaios mas acho que ele esqueceu.
— Quando ele levou a Hani ficamos surpresos em saber que ele tinha uma namorada ou melhor, noiva — disse sem colocar muito pensamento.
— Ah, ele chegou a levar Hani aos ensaios? — ela perguntou encarando a fonte novamente.
— Sim? — ele disse em tom de pergunta, notando a decepção com a garota.
— Ah, que ótimo! — ela respondeu sem realmente achar aquilo ótimo e ele notou.
— Ele não deveria? — perguntou cauteloso.
— Não, não é isso! — ela respondeu com os olhos arregalados — é só que ele sempre dizia que me levaria e eu cobrei por um ano mas nunca aconteceu, achei que fosse o mesmo com Hani mas, já vejo que não.
— Seja sincera comigo, mesmo que não nos conheçamos bem — ele disse tomando coragem — eu tinha notado quando estávamos com lá dentro que você estava meio distraída e não parecia transbordar alegria pelo casamento e você me parece bem próxima a , vocês tinham algo?
Ele deixou em aberto sobre o que significava a pergunta mas ela compreendeu bem o que ele queria saber.
— Não! Por Deus! — respondeu quase ofendida — e eu somos melhores amigos e claro que eu estou fe.
— Certeza? — ele perguntou — posso ser seu ouvinte hoje se tiver algo para desabafar.
— Eu e somos melhores amigos e eu estou fe com o casamento dele, Hani é um doce…
— Mas…— ele riu e ela riu junto revirando os olhos.
— Mas é complicado — ela sorriu triste — digamos que eu cresci com ele e com a família dele, eles literalmente me criaram e eu me mudei definitivamente com doze anos para a casa deles quando meus pais decidiram sumir pelo mundo com a desculpa de que trabalhavam demais para uma criança ir com eles — ela riu um pouco mais amargamente dessa vez — não que antes disso eu tenha sido parte da vida deles.
— Você tá se sentindo deixada de lado? — concluiu, perguntando.
— Eu diria que algo parecido a isso, não é como se eu não soubesse que eles sempre seriam minha família provisória, sempre eram as minhas histórias com ele nos almoços de domingo, nossos aniversários comemorados tanto fora quanto dentro de casa, tudo sempre eu, ele e a família que me acolheu — ela ainda mantia um sorriso triste nos lábios enquanto encarava seus dedos — acho que o momento em que eu já não seria parte dela nunca passou definitivamente pela minha cabeça.
— Talvez se fosse o contrário eles se sentiriam igual — disse também encarando a fonte — acho a forma que você se sente totalmente válida, se fosse comigo, eu sentiria a mesma coisa, apesar de eu achar que se importa com você o suficiente para não deixar com que essa “separação” aconteça. Claro algumas coisas vão mudar e ser adaptadas porque querendo ou não Hani entrou na história mas, não acho que entre vocês algo mudaria, principalmente na família.
— Acho que a questão é eu não me sentir mais deles — ela completou — antes eu conseguia, agora, não consigo mais.
suspirou.
— Como se eu tivesse que encontrar minha própria casa — concluiu.
— Por mais doido que pareça, eu acho que te entendo — ele sorriu carinhosamente com uma pontada de tristeza.
— Já que você disse que seria meu ouvinte faça de suas palavras as minhas, pode desabafar se você estiver precisando — ela sorriu fazendo com que ele se sentisse energizado por um momento.
— Não é a mesma situação mas acho que a mesma sensação? — ele riu fraco — eu estou em uma situação nesse momento que definitivamente eu não queria estar e por causa dos meus pais, eles são pessoas de dinheiro e querem que eu siga com o que eles escolhem…
— Incluindo casamento e carreira — ela disse entendendo a situação.
— Você é adivinha? — ele disse de olhos arregalados.
— Minha intuição é boa e confesso que você é como um clichê ambulante — ela riu.
a olhou confuso, sem entender a comparação.
— Você é bonito — ela começou e seu ego já havia inflado fazendo com que ela desse risada e revirasse os olhos — você é gentil, carinhoso porque falou muito sobre você enquanto você não estava por perto — citou contando nos dedos — bom ouvinte, músico e me disse que tem problemas com os pais que são ricos. Você é realmente um clichê ambulante, então, a única coisa que poderia ser o seu problema nessa situação toda é o casamento por analisar que você se indentificou com o meu tópico antes e carreira pela forma que você disse quando me contou o que fazia.
— Você tem certeza que é só patinadora? — ele disse perplexo.
— Eu sou boa analisando situações — ela respondeu rindo — e pessoas.
— E qual a sua análise sobre mim? — ele respondeu arqueando as sobrancelhas — não sobre a minha situação mas sobre mim.
— Hm — ela disse se sentando incomodamente de frente para ele e ele fez o mesmo — você é provavelmente é leal a seus amigos e como já disse antes ser gentil e carinhoso definitivamente te trás muitos problemas, as pessoas confundem isso, sabia? — ela fez uma careta e ele riu assentindo.
— Por isso que eu apenas ajo assim com quem merece agora — ele respondeu rindo — continua você é boa nisso.
— Eu não sei se teria mais o que pensar — ela disse rindo — você me passa muito a imagem de alguém que é tranquilo mas que provavelmente não gosta de quem seus pais te arranjaram porque acredita no amor de verdade e espera por ele incansavelmente.
Ele se calou por um momento, atônito com o que ela havia acabado de falar.
— Desculpa se foi demais — ela disse sem graça — acho que bebi um pouco demais, melhor eu entrar.
ficou sem graça por um momento já que o rapaz a seu lado se calou assim que se virou de frente para a fonte. Não respondendo ou contradizendo nada do que ela disse, ela achou melhor quebrar aquele silêncio se levantando e despedindo para não falar demais.
— Posso te mostrar uma coisa? — ele disse de repente vendo ela partir assim que caiu em si, se levantando de forma rápida e segurando leve seu pulso, impedindo ela de continuar.
— Huh? — ela disse com uma enorme interrogação acima de sua cabeça.
— Posso te mostrar uma coisa? — ele repetiu, olhando de forma carinhosa para ela.
assentiu seguindo ele até dentro do hotel outra vez, passando por e Hani perto da porta de recepção, mas sem notar os olhos curiosos e confusos dos dois.
— Seria um bom momento para me certificar de que você não vai me matar? — ela perguntou fazendo ele rir alto assim que os dois pararam de frente a porta do elevador.
— Eu não vou te matar, não se preocupe — ele respondeu rindo — o mundo tem muito o que aprender com você nele.
— Não sei se isso foi um elogio ou uma ironia mas vou levar como elogio — ela riu anasalado.
— Acredite, foi um elogio — ele respondeu sorrindo.
de repente pareceu ter seu rosto iluminado por algo que passou por sua mente por segundos.
— Me espera aqui, eu já volto — ele disse a deixando confusa enquanto ele praticamente corria em direção ao salão onde a festa ainda acontecia.
O rapaz recebeu os olhares curiosos do casal que havia se casado e de alguns convidados, junto com as incessantes perguntas que sequer colocou atenção enquanto enchia uma bandeja das que carregavam as taças de champanhe, com doces da mesa.
— Para! — parou o rapaz antes de sair pela porta com a bandeja cheia de doces e duas taças de champanhe — o que você vai fazer com isso?
— Comer? — respondeu de forma óbvia.
— Você sabe que não foi isso que eu…
— , Hani que bom finalmente poder falar com vocês — foi interrompido por uma senhora que sequer reconhecia ou sabia de onde havia saído, dando a chance de escapar de fininho com sua badeja se equilibrando para não derrubar nada.
— ! — ele gritou, já com o amigo no meio do caminho em direção a .
, ouvindo o chamado virou para trás no mesmo instante vendo a cena mais hilária possível. Onde se equilibrava com os doces e as taças, junto de que o seguía un pouco mais afastado, sendo puxado por Hani e com uma senhora falando ao seu lado como se nada estivesse acontecendo e só o que ela estava falando importasse.
— Volte aqui! — gritou de longe mais uma vez e fez sinais para que entrasse no elevador logo e apertasse o botão do último andar.
Ela entrou com pressa no elevador assim que ele já se aproximava rindo do melhor amigo se desdobrando e fazendo o melhor para alcançar os dois, más implorando mentalmente para que ele não conseguisse.
— Eu estarei aqui antes de vocês partirem — disse ao melhor amigo e Hani assim que entrou no elevador com as coisas, enquanto precionava várias vezes o botão indicado por ele antes para que o elevador fechasse mais rápido.
— não…
— Está tudo bem, — ela disse com um olhar que ele não soube explicar, ele nem mesmo sabia se entendia, mas algo doeu dentro de si — vão aproveitar o resto da noite que é toda de vocês, estarei aqui para me despedir quando partirem, como prometido.
O elevador se fechou não deixando com que ele se pronunciasse a respeito, respondesse ou até mesmo questionasse.
Ele simplesmente deixou com que ela partisse.
— A intenção não era que ele nos visse — falou recuperando o fôlego.
— Está tudo bem, não é nada demais — ela falou tirando as taças de cima da bandeja ajudando ele.
— Eu acho que ele percebeu — comentou arrumando alguns doces que estavam na beira, prontos para cair.
— Percebeu o que? — perguntou curiosa.
— Que algo mudou entre vocês — ele respondeu receoso — pareceu que quando você decidiu não parar sabendo que era o que ele queria, uma parede invisível foi criada entre vocês, então, pelo olhar que ele deu antes da porta fechar, ele percebeu que ele colocou ela entre vocês.
— E eu era a boa analisando — ela respondeu rindo — acho que isso é natural, em algum momento aconteceria.
Ele sequer pode responder já que o elevador indicou ter chegado em seu destino.
— Vem! — ele disse saindo para o corredor — por aqui.
— Eu perguntei sobre assassinato e você negou mas acho que eu deveria perguntar se está querendo me levar para o seu quarto porque se for isso…
— Céus, eu passo a imagem de quem faria algo assim? — ele perguntou parando no meio do caminho e ela riu.
— Eu estava brincando mas você quer que eu responda? — ela perguntou rindo.
— Melhor não — ele respondeu bufando demonstrando uma falsa irritação com a resposta dela — mas não, não estou te levando para o meu quarto.
— Infemente eu diria — ela respondeu rindo.
— Acho melhor eu fingir que não ouvi ou realmente vão acabar no meu quarto — ele respondeu seguindo o caminho enquanto ela ria de sua frustração.
O corredor parecia grande mas chegaram rápido ao final dele, parando de frente para uma enorme e aparentemente pesada porta de ferro. com a bandeja em mãos tirou uma molho de chaves do bolso abrindo a porta em seguida com certa dificuldade.
— É só subir as escadas vou acender as luzes e trancar a porta para nenhum curioso aparecer do nada, porque acredite, não é legal ser surpreendido aqui — ele disse enquanto ela já subia as escadas de forma preguiçosa.
subiu degrau por degrau tomando cuidado para que os líquidos das taças não caíssem, chegando a um teto aberto, rodeado de estrelas, com luzes fracas ao redor de inúmeras flores comoridas em seus respectivos vasos e junto delas uma pequena cabana de madeira.
— Lindo, não é? — perguntou com um sorriso presunçoso nos lábios, sabia que a vista, era incrível pelo fato do hotel ser um pouco mais retirado, dando chance para que as estrelas se destacassem com mais facilidade.
— Incrivel — ela respondeu admirada.
a olhou de forma terna, achou extremamente fofa a cena onde ela encarava tudo com admiração.
— Meus pais são donos do hotel — contou — esse lugar é meu lugar secreto não tão secreto assim desde que eu era crianças.
— Seus pais te deixavam vim aqui quando era criança? — ela disse assustada com a altura e ele riu.
— Eles nunca deram muita atenção sobre onde eu estava ou o que estava fazendo quando não estavam viajando — ele respondeu — normalmente eles viajaram e eu ficava pelo hotel com uma babá ou parente já que em casa nós quase não íamos, acho que eles nem sabem sobre esse lugar porque eu pedi o silêncio de todos.
Ele se sentou em uma das cadeiras que estavam próximas a cabana e fez um sinal para que ela se acomodasse ali na cadeira ao lado se quisesse.
— Quando você me estava me analisando — ele começou dizendo, colocando um doce na boca em seguida — eu fiquei um pouco mexido com o que você disse.
— É, eu percebi — ela respondeu se sentando ao lado dele.
— Eu sempre espero pelo amor de forma paciente, mas ele parece nunca chegar — continuou dizendo — até o ponto em que eu já não poderei esperá-lo mais.
— Você diz por conta do seus pais e esse casamento arranjado? — ela pergunta curiosa já que ele não tocou no assunto por muito tempo quando citou.
balançou a cabeça positivamente.
— Ela é uma boa pessoa e eu tentei, de verdade retribuir — ele se endireitou não cadeira, demonstrando seu desconforto em falar no assunto — mas eu não sinto animação em vê-la, não sinto que posso conversar com ela ou sequer ser alguém se não a pessoa que meus pais esperam que eu seja.
— Não seria porque isso foi forçado a acontecer? — perguntou reflexiva — talvez de alguma maneira, se você tentasse vê-la de forma não forçosamente, alguma coisa mudaria.
— Eu não quero me casar com ela, — pela primeira vez desde que haviam se encontrado no hall do hotel, ele disse seu nome.
Soou tão normal vindo dele, como se ele já tivesse dito aquele nome inúmeras e inúmeras vezes, em inúmeras e diferentes ocasiões.
Por ambas mentes passaram cenas estranhas como almoços em família onde os dois de braços dados riam de desconhecidos a sua frente, onde andando pela cidade juntos, um se despedia do outro quando iam em direção a seus afazeres do dia se encontrando e saludando com um beijo terno de saudade existente. Onde ela o ensinava a patinar e ele a ensinava a tocar o tão amado violão e a deixava ler suas inúmeras letras de canções soltas por seus cadernos.
Ele praticamente viu o futuro que sempre desejou, dizendo um nome.
— Então, fuja — ela quebrou o silêncio embaraçoso — se você não pertence a onde está, encontre onde deve estar.
Não era de seu feito roubar beijos e sequer ter uma iniciativa com pessoas que havia acabado de conhecer, mas, sentiu que não fizesse aquilo, naquele momento, se arrependeria para o resto de sua vida.
Então ele a beijou e estranhamente, retribuiu.
— Fuja comigo — ele propôs.
— Mas nos literalmente acabamos de nos conhecer — ela disse arregalando os olhos.
— E ainda sim, eu tenho a impressão que te conheço por três ou quatro vidas — ele disse sorrindo — nós temos o resto dessa e as outras adiante para nos conhecermos melhor.
Amar acontece sem esforço e aparece sem hora marcada, quase sempre, faz pessoas sanas se tornarem insanas, então porque não seria comum dois jovens que nunca haviam se visto antes quererem fugir juntos se ambos não pertenciam a lugar algum?
aceitou.
— O que você acha de Nova York? Tenho amigos lá que podem nos ajudar no começo — ele perguntou e ela assentiu sorrindo — certo, daqui três noites, na estação principal, eu te encontro na entrada as dez horas — ele disse com um sorriso no rosto, se levantando a deixando confusa — acho que e Hani partirão em breve, então melhor descermos para que você se despeça.
É assim foi, se despediu do melhor amigo, sabendo que aquela poderia ser a última vez que o veria se partisse dali três noites por isso fez uma nota mental para escrever uma carta a ele antes de partir.
Três noites depois, não teve coragem de partir sem avisar a família que a abrigou desde criança, agradeceu a eles por tudo e escreveu uma carta para que cada um lesse assim que ela partisse. A de deixou em cima de seu travesseiro com um pequeno presente significativo entre eles, um bracelete com um pequeno pingente de tartaruga pendurado, o animal que foi motivo do laço criado entre os dois quando eram crianças.
Pronta para uma loucura que nunca pensou fazer, partiu da casa em direção à estação as nove e meia da noite chegando cinco minutos antes do horário marcado e não vendo ninguém ainda. Com sua mala de mãos, com as coisas que mais precisava, suas roupas quentes e seu casaco grosso pelo frio que fazia aquela noite, comprou seu próprio bilhete de viagem para o trem das onze horas e esperou. Esperou por cinco minutos, dez minutos, vinte minutos até que viu o horário em seu relógio de pulso bater cinco para as onze e não ter chego.
Naquele momento ela soube que era a única disposta a realmente fazer uma loucura.
“Talvez isso seja um sinal” foi o que ela pensou entrando no trem antes que ele partisse sem ela, se sentando em sua cabine após acomodar sua mala e suspirando enquanto olhava a escuridão do lado de fora da janela.
Ao menos ela recomeçaria, ainda que com a ardência no peito de que algo faltava, ela partiu.
por outro lado, não teve escolha, arrumando suas coisas, foi trancado em sua casa por seus pais, conseguiu sair do local depois que ambos saíram da casa e sua irmã abriu a porta para o mesmo que chorava de raiva e angústia.
Ele correu, pensando que de alguma forma talvez ela não tivesse partido, talvez ela não tivesse aparecido, talvez ela tenha esperado por ele ao invés de pensado que ele não apareceria, talvez ele ainda pudesse encontrá-la.
Talvez, apenas talvez, já que quando chegou com a boca avermelhada pelo sangue do soco que havia levado de seu pai ao rebater dizendo que não se casaria com quem eles queriam, o trem das onze estava prestes a partir com ela dentro dele e sem que ele pudesse parar, se explicar ou ir com ela.
, mesmo tendo procurado por todos os cantos possíveis, nunca mais encontrou a .
Pelo menos não naquela vida.
E lá estava o momento que ele pensou que não aconteceria.
Ele não acreditava em atração, amor ou nada do tipo à primeira vista, sempre pensou — e teve certeza — que as coisas, sentimentos e até mesmo realidades vinham com o tempo, por isso nunca acreditou no amor extraordinário.
Dizia sua avó que por ser tão incrédulo com tão forte sentimento humano, talvez alguma amargura da vida passada carregava sem poder soltar.
Aparentemente, ele estava enganado e sua avó poderia ter total razão.
— Se eu pensar mais um minuto sequer naqueles olhos, sem saber o nome da dona eu vou simplesmente começar a minha trope de vilão que ninguém esperava — disse na sala que iam quando o show acabou, bufando alto e irritado com os pensamentos que rodeavam sua cabeça e não deixaram com que sua completa atenção e foco fossem do show que estava para começar.
— Eu nunca vi ele tão desnorteado e reclamão — comentou — afinal, de quem ele está falando?
— De alguém estranhamente familiar na plateia — comentou enquanto mexia em seu bracelete com um pingente de tartaruga que havia comprado a algumas semanas atrás, quando passaram por Nova York, concentrado em lembrar de quem se tratava, o porque le parecia tão familiar e como , também se sentindo estranho.
— Eu achei que só eu tinha achado que ela era familiar — também comentou.
— Eu sei de quem vocês estão falando porque obviamente os três pareceram três estátuas ao verem ela desde o soundcheck e, ela não me pareceu familiar nem nada do tipo — , outro membro do grupo comentou.
— Será que ela é sei lá, famosa ou algo assim? — perguntou.
— Eu acho que não — comentou — não há nada em comum que eu consiga pensar onde , e principalmente consigam gostar.
— Na realidade existe sim uma coisa que os três gostam e que parece estranho mas, eles ficam vidrados todas as vezes que veem — disse procurando uma foto em seu celular.
Ele passava as fotos de sua galeria procurando especificamente por uma que havia tirado.
— Achei! — disse clicando na foto — foi no ano passado, teve uma competição de esportes de inverno pequena enquanto estávamos de férias e eu me lembro de que tínhamos ganhado os ingressos e que um deles insistiu muito para que fôssemos — mostrou o celular para os amigos — Eu tirei essa foto porque achei engraçada a forma que eles estavam, nunca vi tão quieto, tão fascinado e tão profundamente concentrado dessa maneira, foi bizarro.
Na foto, os três, em seus assentos concentrados, assistindo a competição de patinadores desconhecidos, como se entendessem daquilo como ninguém.
— Achei! — disse de repente, surpreendendo a todos — duas cabeças pensam melhor que uma, femente.
disse fazendo todos rirem.
— Ela é uma patinadora profissional, iniciante nos mundos das competições mas, tem um certo reconhecimento no ramo por ter o estilo de patinação muito parecido ao de uma antiga patinadora em ascensão que desapareceu do dia para a noite nos anos cinquenta — disse lendo — tem algumas fotos e vídeos comparando as duas e para ser sincero, não parece que apenas o estilo de patinação das duas que são parecidos.
Disse arregalando os olhos.
foi a seu lado imediatamente fazendo exatamente o mesmo que e deixando , e principalmente curiosos.
— O que foi? Elas tem roupas parecidas também? — comentou rindo.
— Eu acho melhor vocês verem isso — disse rolando a página.
Os três se aproximaram preocupados.
— Aqui diz coisas sobre essa patinadora em questão que desapareceu nos anos cinquenta — começou explicando — é como se fosse uma thread mostrando como elas são parecidas e tudo mais.
— Elas são? — perguntou curioso. — Sim, mas esse não é o ponto — respondeu.
— Não? — perguntou confuso.
— Não, olha — O amigo disse mostrando o celular — essas são as últimas fotos encontradas dela na noite do casamento de seu melhor amigos com quem literalmente foi criado.
mostrou a foto que continha Hani na ponta de braços dados com e do outro lado sorrindo, também de braços dados com ele.
O do passado basicamente encontrou o do futuro dentro de si, porque daquela foto, ele sentiu o quanto ela estava fe por ele, independe de como se sentia em relação a tudo a sua volta, vê-lo fe importava mais que tudo.
— Esse — murmurou — esse sou eu?
— É impossível, já que é alguém dos anos cinquenta — respondeu — mas é definitivamente alguém muito parecido com você.
— Tem mais — disse parecendo estar sufocado.
— Certo — disse se sentindo estranho com aquela situação — na história disse que naquela noite ela conheceu alguns amigos de seu melhor amigos de nome não citado.
— E? — , que até então estava calado, resolveu se pronunciar.
— Eles se conheceram porque um deles bateu com a porta do hotel que estava sendo a comemoração do casamento, na testa dela — ele continuou explicando enquanto lia — e aqui diz que o outro foi quem a ajudou.
Familiaridade, estranheza, sentimentos antigos que sequer existiam dentro daquele corpo jovem.
por alguma questão não entendível se sentiu estranho, quase como culpado de algo que não havia feito ou causado, apenas escutado e em sua mente, imaginado.
— A questão dessa história é que existem algumas fotos perdidas desse casamento que mostram ela e no meio dessas fotos também mostram esses novos amigos que ela fez além do melhor amigo — ele continuou — olhem.
Ele começou por uma de longe, onde a realidade era pegar um casal que posava para a foto graciosamente quando atrás e riam descontroladamente.
A segunda foto outro casal posava e junto de permaneciam no fundo, a diferença dessa vez era que havia se juntado a eles, ficando de joelhos de frente para ela, com a bolsa de gelo em sua testa.
A terceira e última foto, foi a que mais mostrou como as coisas as vezes podem parecer estranhas demais para serem entendidas.
podia jurar que ele e posavam para a foto — mesmo que sem querer — em que ela se encontrava com sua bolsa de gelo na testa enquanto ele a olhava preocupado por uma leve reclamação que havia feito e , por alguma razão ria dos dois. Nenhum deles olhava a câmera à sua frente, a câmera apenas captou o momento que precisava ser captado.
— Isso…
— Somos nós? — completou a frase se sentindo estranho.
— Mas isso não faz o menor sentido — falou.
— A esse ponto nada faz sentido — falou — mas acho que é a coisa mais estranha que eu já vi, quero dizer, vocês com essa sensação que conhecem a garota da plateia, ela ser extremamente parecida a patinadora que tinha amigos e conhecidos exatamente iguais a vocês, isso não faz o menor sentido.
— Citam o nome deles? — perguntou.
negou com a cabeça.
— Só dize que o melhor amigo que casou nesse dia era parte da banda que os outros dois tinham, que um deles era filho dos donos do hotel em que a festa de comemoração aconteceu — contou — aqui também diz que a banda se separou após o sumiço dela.
rolou a página de na sessão de comentários para ver se encontrava algo.
— Existe dois comentários que podem ou não ser verídicos mas são pelo menos teorias por de trás do sumiço dela — Ele comentou — uma das pessoas diz que seu avô era o que olhava rindo para os dois na foto e que ele sempre lhe contava histórias para dormir quando era pequena que ela suspeita ser sobre os outros dois, onde duas pessoas se conheceram por acidente e se apaixonaram instantaneamente, mesmo sem saber. Essa pessoa em específico conta que o avô nunca terminava essa história, apenas contava como eles se sentiram no momento em que se viram, quando ela ficou um pouco maior, ela se lembra de perguntar porque ele nunca terminava a história e o avô respondeu que era porque a história nunca teve um fim, apenas um começo.
— E o outro? — perguntou curioso.
— O outro disse que havia uma senhora, vizinha de sua avó que vivia em Nova York desde os anos cinquenta e sempre sozinha, sem família ou ninguém e que um dia enquanto esperava sua avó chegar das compras acabou conversando com a senhora por algum tempo e que ela lhe contou sua história já que ele perguntou curioso sobre o fato dela sempre estar sozinha — ele respirou fundo lendo — ele diz que ela contou sobre ser uma patinadora profissional quando estava em seus vinte e três até desistir e se mudar para Nova York. Ele diz que perguntou qual o motivo e ela lhe contou que quando era mais nova nunca teve uma família presente então foi criada com a família de seu melhor amigo que era como sua própria família, quando ele casou ela ficou fe por ele mas sentiu sozinha, como se aquela já não fosse sua história — sentiu uma pontada fraca com essa parte em específico da história, não sabia explicar mas o atingiu de tal forma que realmente pareceu ser algo que havia acontecido com ele — então conheceu uma pessoa que se sentia da mesma forma com a sua história. Ela conta que no dia do casamento dele, quando vagava pelo local esperando com que os noivos se fossem, ela conheceu uma das pessoas mais engraçadas que já havia visto e outra que nunca conseguiu esquecer — e se sentiram estranhos como ao ouvir aquilo, era um tipo de sentimento que batia e apertava seu eu interno com força — Essa pessoa que nunca conseguiu esquecer era filho dos donos do hotel, ele era músico e muito diferente de todas as pessoas que já havia conhecido, ela disse que ele estava sendo obrigado a ter um casamento arranjado e que depois dos dois conversarem sobre suas vidas, amores e tudo que podiam, ele propôs com que eles fugissem juntos para Nova York e que ela aceitou — suspirou balançando a cabeça negativamente — ela disse que sabia que era uma loucura fugir com uma pessoa que havia conhecido a apenas algumas horas mas a verdade era que ela não tinha nada a perder e que a verdade era que os dois tiveram um tipo de ligação fora do normal. Então eles fugiriam daí três dias em um horário marcado, mas ele…
— Nunca apareceu e ela resolveu apenas ir, mesmo sem perspectiva ou ter onde ficar, ela resolveu ir sem ele — completou interrompendo a leitura de .
Era como se ele pudesse ver a cena em sua mente.
— Isso — o amigo respondeu.
— Sem avisar a família e ninguém? — perguntou curioso.
— Aqui diz que ela avisou — disse lendo — ele disse que perguntou isso e que ela disse que avisou, não teve como não dizer a eles, ela deixou se despediu da família, menos do melhor amigo que ainda estava viajando, ela deixou uma carta para todos e pra ele com um pequeno presente que simboava a amizade dos dois.
— Tem mais fotos sobre essa história? — perguntou curioso e intrigado.
— Eu encontrei algumas fotos dela e do melhor amigo que é extremamente igual a e está me assustando — disse com os olhos arregalados — e também pediram fotos da senhora ao rapaz mas ele disse que quando foi visitar a sua avó um pouco depois, sua avó disse que ela havia falecido. Ele disse que algo que a avó havia notado que a marcava muito era um bracelete que sempre trazia em seu braço, que um dia perguntou sobre esse bracelete quando conversaram e que ela explicou ser sobre seu melhor amigo e a razão que se conheceram, quando discutiam sobre a diferença de espécies de tartarugas. O pingente no bracelete era de uma pequena — respirou fundo olhando para em seguida — tartaruga.
O mesmo arregalou os olhos puxando a manga da blusa de flanela que usava, revelando seu bracelete com o pingente de tartaruga.
— Onde você comprou isso? — perguntou.
— Quando nós passamos por Nova York — respondeu pensativo.
— Eu lembro de você ainda falar algo como parecer que sempre deveria ter sido seu quando você viu na vitrine — comentou e sacudiu a cabeça.
— Foi o que eu senti — ele respondeu — se eu não comprasse, me arrependeria para sempre.
já não aguentava tanta informação, precisava espairecer.
— Vou indo para o Hotel na frente, tudo bem? — ele disse de repente, puxando a atenção de todos.
— Você está pálido — comentou — quer companhia?
— Não precisa, vão comer e conhecer um pouco da cidade se encontrarem mais alguma coisa me mandem — ele respondeu recolhendo suas coisas.
— Descansa e não pense muito sobre isso — disse colocando uma das mãos sobre seu ombro.
assentiu e sorriu terno aos amigos se despedindo em seguida, saindo pela porta de trás com o staff que o acompanharia.
Ao chegar no hotel ainda não se sentia inteiro mesmo depois de descansar e se perguntou se um dia se sentiu, algo faltava definitivamente.
E pela primeira vez ele se deu conta.
Seus pensamentos eram tantos que precisava mais do que do ar que vinha do ar condicionado ou sua janela, por isso, decidiu subir no terraço que havia visto mais cedo no hotel. Subiu até o último andar pelo elevador e dois lances de escadas que haviam atrás da porta vermelha, chegando a um espaço com grama artificial e algumas cabanas espalhadas pelo enorme terraço.
Era bonito e organizado, cheio de luzes e diferente do normal, já que normalmente hotéis como aquele tinham bares em seus terraços, ou, piscinas.
— Que susto! — ele ouviu vindo da figura sentada em uma das cadeiras de frente para uma das barracas.
— Desculpe — ele respondeu sem graça — não sabia que havia alguém aqui nesse horário, posso deixá-la sozinha se preferir.
— Não — ela disse sem olhá-lo — está tudo bem, pode ficar, é público de qualquer forma.
— Tudo bem se eu me sentar aqui? — ele perguntou apontando para a cadeira a seu lado.
— Claro — ela respondeu.
Ele ainda não havia olhado direito para o rosto da garota que encarava o céu intensamente, mas sua figura de longe parecia estranhamente familiar.
— Já nos vimos antes? — ele perguntou do nada.
E pela primeira vez ela o olhou fazendo com que ele arregalasse os olhos se dando conta de quem se tratava.
— Eu te conheço mas não acho que você me conhece — ela respondeu rindo.
— Você estava no show — ele falou baixo.
Ela assentiu tomando um pouco do suco que trazia consigo.
— Não se preocupe — ela disse virando para ele — não estou te seguindo ou nada do tipo.
— Eu não havia pensado nisso — ele disse rindo fraco — de qualquer maneira você estava aqui primeiro.
Ela sorriu para ele e era como se algo tivesse trazido imagens em sua cabeça, ele definitivamente já havia visto aquilo tudo antes, aquele sorriso antes, aquela mesma cena, eles em um terraço como aquele porém com roupas completamente diferentes em tempos diferentes.
— Você está bem? — Ela perguntou por um segundo analisando sua expressão — você ficou pálido de repente.
— Si-sim — sua voz falhou.
— Certo — ela disse com as sobrancelhas franzidas — por via das dúvidas pode escolher um se quiser — disse mostrando uma bandeja cheia de doces — também tenho essas bebidas que eu peguei da cozinha do hotel.
— Como assim da cozinha do hotel — ele perguntou curioso, pegando um doce.
— Meus pais são donos do hotel — ela respondeu sem graça — então se quiser alguma coisa em específico de lá é só me falar.
— Eles não ficariam bravos? — ele perguntou se sentindo estranho com aquela situação.
— Não é como se eles ligassem — ela respondeu dando de ombros.
— Você não tem uma boa relação com eles? — perguntou.
Ela suspirou e sorriu triste balançando a cabeça negativamente.
— Eu devo, de certa forma, ter sido muito fe em minha outra vida — ela respondeu — esse deve ser meu karma, ter eles como pais, pessoas que apenas pensam em casar a filha por negócios.
Algo pesou dentro de ao ouvir aquilo.
— Casar por negócios? — perguntou se sentindo pesado.
— Ele é uma boa pessoa, mas não é alguém que eu ame — ela confessou — algo arranjado nunca terá a mesma sensação de um amor de verdade. Será sempre um amor arranjado.
Ela suspirou.
— Tenho medo de me meter na história de outra pessoa que poderia ser fe de verdade — ela disse se calando em seguida — me desculpa, eu falei demais.
Estava nervosa, mexia em seus dedos de forma nervosa e balançava as pernas a esse ponto. Então, após não obter nenhum comentário de resolveu se levantar para se despedir e se retirar.
— Vou deixá-lo aproveitar seu tempo aqui — ela disse — se quiser mais privacidade pode se sentar naquele canto, é um ponto cego.
A garota ameaçou sair do local mas segurou levemente seu braço assim que saiu de seus pensamentos.
— Você — ele falou parando por alguns minutos respirando fundo e quando ela o olhava confuso — não tem a sensação de que isso já aconteceu antes?
— Como um dejavu? — ela perguntou confusa.
— Não — foi a única coisa que ele conseguiu dizer.
— Como se estivesse repetindo uma história — ela disse tirando ele de seus pensamentos que tinham quase levado ele para longe dali — eu tive essa sensação de familiaridade quando vi você pela primeira vez na verdade, você, e principalmente, como se eu…
— Nós conhecesse por uma vida inteira? — ele perguntou olhando no fundo dos olhos da garota.
— Como se eu os conhecesse por uma vida inteira — ela falou em um tom mais baixo, chocada como ele disse exatamente as palavras que ela diria.
— — ele disse soltando o braço dela e se levantando para ficar de frente com ela, estendendo sua mão.
Ela respirou fundo, sentindo seu coração disparar.
— — ela disse fazendo dessa vez com que o coração dele disparasse estranhamente.
— É um prazer finalmente conhecê-la, — ele disse sorrindo.
— Igualmente, ! — ela sorriu — não sei se é cedo demais ou se você tem tempo para isso, mas você gostaria de não sei, tomar um café ou jantar comigo?
— Meu tempo é todo seu — ele respondeu sorrindo — vamos?
— Vamos — ela respondeu.
Talvez, o que precisavam era de algo estranhamente descompassada e sem propósito, talvez antes não era o momento certo, talvez nunca fosse o momento certo.
Talvez eles devessem criar o momento certo.
E foi isso que fizeram, deixaram o foco de todas as outras coisas de lado e focaram em si.
FIM
Nota da autora: se eu contar para vocês como essa fic saiu, todo mundo chora comigo, certeza!! espero que tenham gostado, eu amei esses dois e o tema deles. Eu não quis dar um final fechado e trancado porque era justamente o que o avô amigo conhecido da pp dizia, tudo é apenas um começo para eles, o que me leva a pensar que eu não tenho como dar um final porque mesmo se eu der um final, não acaba.
Eles sempre se encontram, porque eles são uns dos outros, em circunstâncias diferentes e mudanças de histórias internas, mas, eles continuam sendo eles.
Enfim, obrigado por lerem até aqui, não esqueçam de deixar um comentário no link da caixinha!
Xoxo Caleonis & Jinie G <33
Eles sempre se encontram, porque eles são uns dos outros, em circunstâncias diferentes e mudanças de histórias internas, mas, eles continuam sendo eles.
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Xoxo Caleonis & Jinie G <33
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