Finalizada.
    

 

 

                            

Capítulo Único

A vida é um sopro.

E ela nunca duvidou disso!
Todos os dias de sua vida, vivia com a plena certeza de que no final da linha havia o fim de tudo, dos amores, dos sorrisos, das canções, da vida. Mas nunca pensou que sentiria aquelas palavras de forma tão rápida, dolorosa e devastadora. Não que culpasse alguém ou alguma coisa por aquilo, não tinha o direito de perguntar à Deus em suas orações o porque daquilo, cresceu com a certeza de que a cruz nunca é maior do que podemos carregar e tudo na vida tem um propósito, e mesmo achando aquilo papo furado durante alguns anos de sua adolescência rebelde, quando adulta, aquela era a sua filosofia de vida, percebeu que vivendo assim as perdas, ou as partidas, doíam menos, afinal, a pessoa tinha cumprido seu propósito na terra ou em sua vida.

Quando conheceu , sabia que ele faria parte do seu propósito de vida, antes mesmo deles se beijarem ou terem qualquer tipo de envolvimento, quando viu as primeiras notas de uma canção conhecida no barzinho em que foi por insistência do mais novo cunhado, não sabia que a vida mudaria ali. A aproximação foi muito natural, afinal ele era primo do namorado de sua irmã, então não precisou abordar ele no bar ou em outro lugar para saber mais sobre sua vida, assim que ele saiu do palco se juntou a eles na mesa em que estavam e tudo aconteceu.
Ele era simplesmente tudo que sempre almejou em um homem, honesto, sonhador, engraçado, inteligente e ainda por cima era extremamente lindo, não tinha porque não se apaixonar por ele, na verdade não tinha como não se apaixonar. E para completar ele ainda era músico, ela era apaixonada por música, não havia virado cantora, porque, quando mais nova em uma cirurgia de remoção de amígdalas, ocorreu um acidente que comprometeu suas cordas vocais, não influenciando em sua fala, mas impedindo que ela alcançasse algumas notas primordiais para qualquer cantor. Seguiu por outro caminho ainda na música e era compositora, uma das melhores, então sempre que dava ela ia atrás de artistas undergrounds conhecer o trabalho deles e mostrar o dela.

As coisas com sempre foram fáceis, se apaixonaram facilmente, começaram a sair sem complicações e joguinhos e quando perceberam já estavam com suas escovas de dente no mesmo potinho em cima da pia do pequeno apartamento em que ela vivia. Nenhum dos dois era rico, eles se viravam como podiam, nenhuma das duas carreiras lhe rendiam rios de dinheiro, a falta de reconhecimento os chateavam às vezes, mas eles eram felizes, faziam o que gostavam e quando passaram a morar juntos, o dinheiro começou a render mais a rotina como um casal, companheiros de casa e de música, só acrescentava na vida deles em um geral e eles estavam realmente felizes.

Uma felicidade que durou por longos quatro anos!

E que só acabou quando a van em que ele estava com a então banda que tentava emplacar nos últimos dois anos em festivais e competições pelo estado, estava retornando de uma cidade vizinha, onde um evento pequeno os convidou como atração principal, tinha acabado de acontecer. queria voltar logo para a casa onde dividia com , e contar a novidade – finalmente tinham uma reunião com uma produtora e não era qualquer uma, era só a maior no ramo em que ele tocava. Tudo bem que nem todas as produtoras do mundo estavam interessadas no estilo Rock misturado com R&B que eles faziam, mas aquela era a melhor proposta que tinham recebido até o momento.
O acidente foi um momento muito difícil, um caminhão enorme e desgovernado veio em direção ao automóvel em que o grupo estava e não houve tempo de desvio ou qualquer outra coisa que diminuísse o impacto. Felizmente quase todos saíram com vida, infelizmente o motorista e um dos ajudantes não resistiram ao acidente, mas todas as outras seis pessoas que também estavam com eles sobreviveram, inclusive , que embora tenha ficado algumas semanas em coma, estava ali, vivo, quase totalmente perfeito.
No início ele teve uma perda de memória temporária, o que o médico garantiu que era normal para o tipo de trauma que sofreu, e o tempo em que ficou adormecido em coma. Então tentaram seguir a vida ao formal, tentou por semanas fazer o que fosse para que as memórias de curto prazo voltassem, não se lembrava dos últimos 6 meses quando acordou no hospital. Mas quando voltou para casa, já se lembrava de coisas relacionadas aos três meses anteriores aquele, como o aniversário dela que comemoravam no restaurante favorito de sopa deles ou o dia que o vizinho da frente quase botou fogo no prédio, quando resolveu defumar o apartamento e o alarme fez com que todos evacuassem o prédio no meio de uma tempestade que resultou em quatro longos dias de febre na mulher e ele fazendo a sopa mais horrível de toda a história das sopas.
Aquilo animou não só a mulher quanto os médicos, dois longos meses de melhoras, de otimismo, de esperança, até que se perdeu no caminho até o estúdio, sua mente simplesmente apagou, não sabia para onde ia, ou de onde tinha vindo. Por um momento nem o próprio nome lembrava, aquela foi a experiência mais assustadora que o homem já teve em toda a sua vida. Quando ele não voltou para casa, no horário combinado e os companheiros de banda informaram a que o rapaz não havia ido gravar, ela se desesperou. não era a primeira vez do homem na rua sozinho depois do acidente, mas algo dentro da mulher não deixava com que ela ficasse tranquila com a condição do amado, sabia que tinha que ser otimista e era, mas algo dentro dela não sossegava de forma nenhuma.
Depois de duas longas horas, quando ele finalmente tomou coragem de atender o aparelho no bolso que não parava de tocar, se encontrou com ela e mesmo desesperados, resolveram que precisavam ir até o hospital, afinal, não era normal aquilo, nunca passaram por algo nem similar, era realmente algo para se preocupar.

E o pior aconteceu!

“Alzheimer no estágio 5 – Declínio cognitivo moderado-avançado”.

Foi o que o médico diagnosticou com aquele episódio, devido a perda significativa de células importantes para a memória no cérebro, decorrente do acidente que ele sofreu algum tempo atrás e embora existisse tratamento para a doença, nada adiantou muito, ele já estava em um estado avançado e mesmo com os remédios e exercícios prescritos as chances de retardo do diagnóstico final para aquela que era uma doença incurável era praticamente nenhum.
Mais uma vez a esperança naquele casal foi a base e força que eles tiveram de ter para que os momentos juntos fossem os melhores possíveis. Tinham todas as informações de como seria difícil e mesmo assim seguiram juntos, todas as crises que o homem passou a ter quando avançou para o estágio 6 pouco antes do natal daquele ano, a confusão mental e o sentimento de incapacidade eram o que mais doía nele, sabia que podia contar com a mulher e com os amigos, mas era um sentimento detestável, era uma dor insuportável, muitas vezes desejava ter morrido naquele acidente, mas logo em seguida se arrependia e se sentia ainda pior, não podia reclamar do seu tempo na terra, ainda mais quando tinha ela do seu lado, sua .
Dois natais seguintes e eles passaram juntos no hospital, onde ele estava esperando somente que sua hora chegasse e ela mesmo sempre tão otimista, também sabia que o inevitável aconteceria, sabia e não podia deixar de aproveitar aqueles últimos momentos do amor da sua vida, mesmo que ele não conseguisse mais se mexer, ir ao banheiro ou ao menos se alimentar ou respirar sozinho. Ela ainda se lembrava todos os dias da conversa que tiveram, quando ele ainda conseguia falar, quando ele implorou para que ela vivesse a vida dela sem ele, ou que desse um fim em tudo, ele não queria morrer sem lembrar dela ou do que ela significava para ele.
Se não foi o momento mais difícil na vida da mulher, estava listado como um dos, bem na ponta da lista. Ela não podia dimensionar o tamanho da dor física e mental que ele estava sofrendo e aquilo doía dentro dela de forma avassaladora, não precisou passar a páscoa no hospital, duas semanas antes do feriado, os pulmões dele pararam de funcionar e mesmo com o respirador, não era o suficiente, ele a deixou, ele deixou a terra, seus amigos, seus amores, sua música, sua voz, sua vida.

Doía todos os dias em , doía não só não ter mais o amor da sua vida com ela, mas também não ter mais seu melhor amigo, aquele que era sua família, aquele que era seu porto seguro, seu .

Um ano havia se passado e a banda resolveu fazer uma homenagem a ele, com um pequeno show no restaurante de sopa, o que deixou extremamente feliz, era bom que a memória dele fosse lembrada e os amigos sempre encontravam uma forma de imortalizar sua existência.

― Foi lindo, ! ― Ela parabenizou o melhor amigo do rapaz, que era também o baterista da banda. ― Aquela última música é nova? Não me lembro de ter ouvido antes. ― Perguntou, tinha adorado a canção, fez com ela se lembrasse puramente do amado, era como as coisas que ele costumava escrever e mostrar a ela.
― Estou feliz que tenha gostado . ― foi solícito, todos sabiam como aquelas coisas mexiam com a mulher, mas ela ia em todos, sempre apoiando e incentivando eles. ― É nova, foi o quem escreveu, ele me pediu para tocar quando desse um ano, e pediu para te entregar isso também, da última vez que eu fui até o hospital e ele me proibiu de voltar lá. ― Abriu um sorriso acolhedor e estendeu um pendrive para ela.
― Eu sabia que era coisa do . ― Ela riu melancólica. ― Mas o que tem aqui? ― Ela balançou o pendrive vermelho no ar, intrigada com o conteúdo.
― Ele sempre vai ser um gênio ― O tom nostálgico na voz dele, fez com que ela sentisse a saudade que ele também sentia do amigo. ― E eu não sei, nunca assisti o que tem aí, nem sei se esse pendrive funciona, todos sabemos como ele era ruim com essas tecnologias. ― Riram juntos.
― Obrigada , fala pros rapazes que eu amei, vou indo, preciso ver o que seu amigo aprontou dessa vez.

E com a deixa, saiu do local,e foi caminhando até o apartamento que antes dividiam, ela ainda morava no mesmo endereço, frequentava os mesmos lugares, e tinha o mesmo ciclo de amigos de antes, era confortável para ela, mesmo ela achando que a vida tinha estagnado, havia estagnado na lembrança dele e ela não podia pedir mais nada na vida.
Quando chegou em casa, pegou o notebook e a primeira coisa que fez foi plugar o dispositivo para ver o que o rapaz tinha deixado para ela, devia ter pensado que ele tinha feito alguma coisa como aquela, era a cara dele. Ver a imagem dele se ajeitando na cadeira do estúdio, que ele continuou indo, claro sempre acompanhado por alguém, deixou ela ainda mais emocionada e apreensiva, se lembrava daquele dia, duas semanas depois que descobriram o diagnóstico, ele usava uma jaqueta de couro preta e uma blusa branca por baixo, escrita: “Oi eu tenho alzheimer e eu esqueci o ia colocar aqui”, que ela achou de muito mal gosto quando ele chegou com ela em casa depois de passar em uma loja que fazia camisetas com qualquer estampa que o cliente pedia.

― Oi meu amor.

A voz saiu nos auto-falantes do aparelho e os olhos dela se encheram de lágrimas, automaticamente.

― Quanto tempo não é mesmo? Me desculpe por não estar mais ao seu lado.

Ele respirou fundo e não conseguia nem sequer controlar o choro.

― Não chore por isso, ou por mim, por muito tempo, tudo bem? Você fica linda mesmo chorando, mas nós sabemos que fica ainda mais quando sorri, então tente lembrar sempre de nós com um sorriso nos lábios, porque o que eu mais fazia ao seu lado era sorrir.

Ela não sabia como parar de chorar ou assimilar que ele tinha realmente feito aquilo, era reconfortante ao mesmo tempo que estranho, ele estava prevendo? Tinha se entregado? o que realmente aconteceu para que ele gravasse aquilo?

― Ah, quase esqueci, você só vai assistir a isso caso o pior aconteça e saiba que eu farei de tudo para que não aconteça, sabe, não podemos te deixar sozinha na cozinha por muito tempo, nosso apartamento corre um sério risco de incêndio.

Ele riu uma risada tão gostosa que ela não conseguiu não rir junto.

― Foi só uma vez. ― murmurou respondendo a ele.

― Tá, eu sei que isso foi só uma vez e eu tenho parte importante nisso por te distrair com a minha beleza ― Riu mais uma vez. ― E caso ainda esteja se perguntando o que significa isso, é simples, é algo para você ouvir quando não conseguir dormir, então nesse pendrive você vai encontrar todas as músicas que vamos ouvir neste nosso último show particular, e aí você não precisa ouvir toda essa baboseira que eu estou falando e chorar.

O sorriso nos lábios dele, era aquele que ela amava tanto, aquele que ela sonhava com frequência, aquele que ela usava como força para levantar todos os dias e enfrentar as batalhas da vida, ela não vivia só por ela vivia também por ele, ela sabia o quanto era importante para ele estar vivo e poder fazer o que lhe desse vontade, aprendeu a se apaixonar pela vida com ele e não deixaria que mais aquela paixão fosse embora!

Quando as primeiras linhas de Moonchild começaram a ser cantadas por ele, acompanhada de uma melodia quase imperceptível, ela entendeu, ele estava cantando para ela, as músicas que cantava para que ela pegasse no sono, quando a insônia pelo estresse do dia atacava ou quando tinha um pesadelo, sabia que sua voz a acalmava, podia estar onde fosse, e ser a hora que fosse, ele sempre cantava para ela, como uma canção de ninar, era uma coisa deles, era importante para ela, era especial para ele poder cuidar dela mesmo depois de tudo.
E pelo menos onze músicas depois, onde ela cantava baixinho com ele para aproveitar aquele momento sentia como se estivesse sendo abraçado mais uma vez, se não fisicamente, sua alma com certeza. Ele deu uma pausa e olhou diretamente para a câmera, como se olhasse dentro dos olhos dela.

― Essa aqui é a nossa canção final, e eu acho que você nunca tinha ouvido antes de hoje mais cedo, eu sei que eles fariam isso por mim. ― Os olhos dele brilhavam, como se estivesse prestes a chorar, mas não o fez. ― Então aqui vai meu amor, a nossa última canção de ninar, eu escrevi ela pra você, não tem muito tempo antes de gravar esse vídeo. E você sabe que mesmo se um dia eu vier a me esquecer de você, de quem você é e foi na minha vida, você sempre estará no meu coração, lembranças podem ser apagadas, mas os sentimentos que já vivemos não. Obrigada por ser o sentimento mais lindo da minha vida, eu te amo, nos vemos, mas espero que demore pelo menos uns 80 anos para isso.

E Forg_ful começou a tocar…



FIM.



Nota da autora: Olá Jiniers, como estamos? Eu to triste, mas eu to triste em uma proporção muito grande, e eu notei que tenho o hábito de escrever dramas nesse nível assim, muita descrição e pouco diálogo (ALOU HOLD ME TIGHT) E por favor me lembrem de nunca mais pegar uma música que dê um plot tão triste assim, porque eu não sei ser nada além de lágrimas e tristeza escrevendo essa nota. Quero agradecer a Lay por chorar esse choro comigo enquanto eu escrevia, amiga eu te amo!
Espero que tenham gostado, e que não tenham chorado muito como eu hahahahah até a próxima!
ps: Se quiser conhecer mais fanfics minhas vou deixar aqui embaixo minha página de autora no site e as minhas redes sociais, estou sempre interagindo por lá e você também consegue acesso a toda a minha lista de histórias atualizada clicando AQUI.
AH NÃO DEIXEM DE COMENTAR, ISSO É MUITO IMPORTANTE PARA SABERMOS SE ESTAMOS INDO PELO CAMINHO CERTO NESSA ESTRADA, AFINAL O PÚBLICO É NOSSO MAIOR INCENTIVO. MAIS UMA VEZ OBRIGADA POR LEREM, EU AMO VOCÊS. BEIJOS DA TIA JINIE.   



 

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