FANFIC FINALIZADA.

Capítulo Único

The more you treat me cruel
Oh, it just adds fuel to the fire
(Fuel to the fire)
Tease me like you do
But it just fuels my desire
(Fuel to the fire)
You say you don’t want me
I think you're a liar
Love or lust
It just adds fuel to the fire
(Fuel to the fire)


Quanto mais cruel você é comigo
Oh, apenas adiciona o combustível ao fogo
(Combustível para o fogo)
Me provoca como você faz
Mas isso só alimenta o meu desejo
(Combustível para o fogo)
Você diz que você não me quer
Eu acho que você esta mentindo
Amor ou luxúria
Só adiciona o combustível ao fogo
(Combustível para o fogo)

I got your call
And now I'm here at your door
False alarm
Cause you're not here anymore

I had it all in my head what I'd say to you
But you set me up again like you always do


Eu recebi sua ligação
E agora estou aqui na sua porta
Alarme falso
Porque você não está mais aqui

Eu tinha tudo na minha cabeça que eu diria para você
Mas você armou pra mim, como você sempre faz.


tocou a campainha pela quinta vez e, ao mesmo tempo, digitou Onde você tá? no whatsapp e enviou a mensagem, já sabendo que não havia ninguém dentro do imóvel, e que tocar a campainha tantas vezes era apenas parte de um ritual, que vinha se repetindo nos últimos tempos.
Logo recebeu uma mensagem de volta, não muito diferente de outras que já lhe haviam sido mandadas do mesmo número: Foi mal, gatinho. Tive uma proposta irrecusável pra festa de uma agência nova. Compenso você qualquer hora dessas.
Ele olhou para o buquê de rosas vermelhas que estava carregando, lembrou de todo o discurso romântico que tinha preparado, e riu de si mesmo. e ele tinham passado uma noite típica de namorados dois dias antes – ido ao cinema, comido hambúrguer com fritas, acompanhado de milk shake, em uma daquelas lanchonetes com decoração e música dos anos cinquenta, visto séries de TV no Netflix e transado várias vezes no sofá retrátil que ele ganhara da mãe. O programa de casal tinha feito com que se enchesse de esperança e resolvesse declarar sua paixão, cada dia mais forte, por ela, mas era óbvio que ele só podia ter passado por um momento de insanidade!
provavelmente acharia brega receber rosas e devolveria sua declaração de amor com a piada de pior gosto de que pudesse se lembrar, então, pensando bem, tinha sido melhor encontrar a república que ela dividia com outras modelos – e aspirantes – vazia. Afinal, mesmo que ele ficasse frustrado quando batia com a cara na porta, e que a xingasse, mentalmente, por tê-lo feito ir ao encontro dela em vão, mais uma vez, o rapaz não queria que o lance que eles tinham terminasse. Na verdade, tudo acabava funcionando como um jogo de sedução, que o deixava cada vez mais interessado. Era melhor não afastá-la com arroubos bayronianos precoces.
Não havia tanto tempo assim que eles transavam, no fim das contas.
O interesse tinha surgido logo na primeira aula dele com William Houster, quando o professor de escultura em argila a apresentou à classe, mas, enquanto ela trabalhou como modelo vivo na Escola de Artes Visuais de Nova York para complementar sua renda de modelo iniciante, ele resistiu bravamente e não a chamou para mais do que um chocolate quente com muffins, no Café da esquina.
Somente há mais ou menos três meses eles tinham evoluído para cervejas em um pub, onde fizeram uma aposta em torno de um jogo de dardos, que então os levou à cama dele. E, desde então, ela alternava momentos em que se comportava como um rato que provoca o gato, para fugir dele, entrando em um buraco qualquer a fim de se tornar inacessível, com outros em que era uma gata no cio, roçando nele até que saciasse suas vontades.
“See, anybody could be good to you. You need a bad girl to blow your mind.” (Veja, todas poderiam ser boas para você. Você precisa de uma garota má para te surpreender.) Ela cantara, certa vez, em seu ouvido, dançando de forma provocante, ao som de Jessie J, Ariana Grande e Nicki Minaj, apenas meia hora antes de ir embora da casa noturna com alguns amigos, sem convidá-lo para ir junto ou se despedir.
Vivia mesmo surpreendendo, e qualquer pessoa sensata diria que nem sempre as surpresas eram agradáveis, mas talvez, ainda assim, ela tivesse razão e fosse disso que ele precisava, naquele momento.

Sexy pics
You sent to me on my phone
And now I'm here
And I can't get you alone

I think I'm just beginning to understand
That you just like having the upper hand


Fotos sensuais
Você envia para meu telefone
E agora eu estou aqui
E eu não consigo de pegar sozinha

Eu acho que estou apenas começando a entender
Que você acabou sendo superior


deixava o celular sem som durante as aulas, mas, quando saía de cada uma delas, sempre verificava as mensagens de email, do whats e das redes sociais. se divertia enviando-lhe fotos de seus ensaios sensuais profissionais, mas ele gostava mais ainda quando ela fazia selfies em casa, usando calcinhas de algodão ou enrolada em toalhas felpudas.
Naquela tarde, ela havia mandado uma sequência de imagens em que podia ser vista apenas com um lençol azul cobrindo o tronco, os cabelos espalhados pelo travesseiro, um pouco de olheira sob os olhos expressivos, que podia tanto ser sinal de ressaca quanto do fato de ter saído da cama mais cedo do que lhe agradaria, em razão de algum trabalho marcado para antes do meio dia. Não estava produzida, como normalmente era vista pelas pessoas, no dia-a-dia, mas aos olhos dele estava mais atraente que nunca.
À noite, ele foi à festa onde ela disse que poderiam se encontrar, ansiando por convencê-la a ir logo para casa com ele, para vestir novamente o figurino das fotografias. Porém não conseguiu ter um único momento a sós com ela por horas a fio, e algo lhe dizia que ela estava se divertindo em ver como ele ficava desapontado a cada grupo de pessoas que revolvia rodeá-los. Parecia se sentir vaidosa, superior, com a atenção dada por ele, com sua persistência, que parecia maior diante de cada frustração.
Ela, entretanto, o recompensou com um amasso no estacionamento e com vários rounds, não só naquela madrugada, como no preguiçoso domingo que a seguiu. Nunca tinha passado tantas horas seguidas na casa dele, se mostrando tão a vontade, ao circular com uma camiseta do garota, fuçar a geladeira em busca de alguma coisa para matar a fome dos dois e escolher uma playlist para ouvir, enquanto fazia sanduíches enormes, que ninguém acreditaria fazerem parte do cardápio de uma modelo.
Aqueles momentos de intimidade, depois dos quase sete meses fazendo sexo com uma frequência considerável, acabaram encorajando a falar dos sentimentos que não disfarçava, mas nunca tinha declarado.
“Você é linda demais, sabia?” Disse, acariciando o cabelo dela, que estava deitada em seu colo, no sofá. “Eu to muito apaixonado por você! Eu acho que eu poderia ficar assim, com você – só com você –, pro resto da minha vida.”
!” Ela se levantou do colo dele e sentou de pernas cruzadas. “Você é uma fofo! E um gostoso, principalmente.” Riu, mordendo os lábios, sugestivamente. “Mas dessa faceta romântica eu não gostei, não! Achei bem piegas, viu?”
“Então, gostar de alguém é piegas agora?” Ele cruzou os braços, em uma atitude defensiva.
“Eu gosto de você também. Isso não é piegas. Já esse papo de resto da vida, de ficar só comigo...” Suspirou. “Essas caretices de namoro não são pra mim, . Eu curto muito ficar com você, mas não penso em me amarrar. Vamos deixar rolar, ok?” Pediu, acariciando os vestígios de barba que começavam a aparecer no rosto dele.
“Ok, ok. Sim, senhorita!” Ele bateu continência, brincalhão, tentando demonstrar que não dava importância, mesmo que, no fundo, estivesse triste pelas palavras dela. Tinha esperança de contornar a situação assim, se valendo de bom humor e leveza. “Podemos rolar na cama, então, gata?” Perguntou, levantando-se e puxando a menina, para carregá-la no colo até o quarto.
Talvez funcionasse para esquecer o balde de água gelada que tinha levado.

I make you think you're the only one
But if we're not having fun
Then we're done
And who oaaaaah

F-f-f-fire
(Fuel to the fire)
Fuel to the fire
(Fire, yeah)


Eu fiz você achar que era única
Mas se nós não estamos nos divertindo
Então acabou
E quem oaaaaah

FFF-fogo
(Combustível para o fogo)
Combustível para o fogo
(Fogo, yeah)


ainda tentou. Tentou e muito! Passou com ela mais duas noites maravilhosas, sem voltar a falar em paixão ou relacionamento, mas mostrando, com atitudes, o quanto a queria, e que seu desejo não era nada egoísta. Fez do prazer de sua missão, como sempre, esperando que isso mostrasse a ela que ficarem juntos valeria a pena. Até que concluiu que ela não se importava, nem mesmo um pouco, quando marcaram um encontro em um dos vários bares aos quais ele só ia por causa dela – uma vez que frequentados por gente que não tinha nada a ver com ele –, e ela não apareceu.
Ele virou duas doses de tequila, em segundos, e olhou em volta, procurando uma garota que fosse o mais diferente possível dela – ao menos na aparência. Achou uma, facilmente, e, tão sem esforço quanto, garantiu uma noite inteira de beijos, antes de seguir para o próprio apartamento, sozinho. A cama parecia mais fria que o normal e havia um cheiro tão forte dela em seus travesseiros que ele só adormeceu depois de trocar as fronhas.
Então enfim desistiu, e só voltou a encontrar mais de três semanas depois, totalmente por acaso, em um outro bar – que, por sua vez, ela jamais frequentaria se não fosse pelo fato de ter feito amizade com alguns colegas dele –, acompanhado de outra menina, ainda mais diferente dela. Foi ela quem o viu primeiro e quem fez questão de ficar observando, de um jeito masoquista, enquanto ele puxava a cadeira para sua acompanhante se sentar, pedia bebidas para os dois, e trocava carinhos e beijos com ela.
“Então essa é a namoradinha? Eu já tinha ouvido falar por aí, mas não achei que fosse tão sério.” disse, se colocando bem no caminho dele, quando finalmente foi ao fundo do bar, mais de quarenta minutos depois, para falar com o gerente – que era também seu melhor fornecedor de baseados. O tom dela era de gozação, pois não seria jamais do seu feitio se mostrar abalada.
“Boa noite pra você também, .” Ele apenas cumprimentou com ironia, mostrando total falta de paciência.
Não era sério – pelo menos não ainda –, pois era apenas o quarto encontro dele com Loretta. Antes dela, ele tinha saído algumas vezes com Sabrina e outras com Britney, e talvez os amigos de nem mesmo o tivessem visto com a garota com quem estava naquela noite, e sim com uma das outras. Ele não tinha, no entanto, nenhuma razão para dizer isto a ela.
“Vocês homens são engraçados, né? Outro dia mesmo, tava se dizendo todo apaixonado por mim, dizendo que queria ficar só comigo e agora tá aí, pagando paixão pra outra.”
“Eu não to pagando paixão alguma, ! Eu to saindo com uma garota linda, inteligente, divertida e, acima de tudo, que tá interessada de fato em sair comigo. Eu quis, sim, ficar só com você! Eu tava, sim, apaixonado por você. Só que nós dois... deixou de ser divertido, sabe? No começo, eu via como um desafio correr atrás, ficava ainda mais a fim, mas eu finalmente percebi que você não quer nada comigo.” Bufou, se acalmando e assumindo um ar triste. “Eu quero me apaixonar por ela, ou por qualquer outra garota que me mereça, e esquecer você. No fim, essa paixão toda só tá me fazendo mal.”
arregalou os olhos e mordeu o lábio inferior, olhando para algo – ou alguém – atrás dele e, antes mesmo de se virar, intuiu que tinha falado demais, em um péssimo lugar e ainda pior momento. Virou-se apenas para constatar que Loretta escutara seu desabafo, e ver a garota andando depressa para fora do bar, parando apenas para pegar a bolsa e o casaco, em uma das mesas, no meio do caminho.
Conseguiu alcança-la, conversar com ela e até mesmo ganhar sua compreensão – além de uma dose de piedade que ele não queria. Não pode, contudo, convencê-la a voltar com ele para o bar ou a permitir que ele telefonasse, para que pudessem marcar outro encontro. Não queria ser o prêmio de consolação de ninguém ou ter a tarefa de ajudar alguém a se curar de uma paixão. Não queria ser a menina que merece todo o amor desse mundo, mas não o tem – porque amor, afinal, não é algo que a gente escolhe a quem dar. Queria uma pessoa realmente livre, que estivesse contando os minutos para cada nova mensagem dela e as horas para um novo programa com ela.
Ele acabou indo para a casa de um amigo, desabafar, tomar cerveja e fumar a marijuana de ótima qualidade que tinha adquirido pouco antes. Somente horas depois voltou para casa, sendo surpreendido pela presença de , que o esperava sentada no chão, encostada à porta de entrada do apartamento, com fones nos ouvidos e mascando chiclete.
“Tá fazendo o que aqui, ? Já não fez estrago suficiente por hoje?”
“Não vai me convidar para entrar?” Ela disse, guardando o iPhone, junto com os fones de ouvido, na bolsa e se levantando.
“Não deveria.” Ele disse, sério. “Mas vou, porque não quero ser responsável por nenhuma cena no corredor do prédio, quase às três da manhã.” Respondeu, abrindo a porta e dando espaço para que ela passasse.
“Ela te deu o fora, não foi?” Indagou, sem rodeios.
“Se não tivesse dado, certamente ia dar agora, se chegasse aqui comigo e visse você bem na minha porta! Ou talvez te desse uns tapas e puxasse seus cabelos.” Ironizou.
“Eu não vou dizer que lamento muito, porque hipocrisia nunca combinou comigo, e eu, na verdade, adorei que aquela garota tenha ouvido tudo. Eu não gostei de ver você com ela.” Declarou, se aproximando e colocando as mãos no peito dele, mas o rapaz se afastou.
“Sentimento de posse. Típico de alguém como você!”
“Pode chamar do que você quiser, . Eu só não gostei e ponto! Eu sinto falta de você... da gente.” Ele deu uma gargalhada debochada e ela cruzou os braços em frente ao corpo, irritada.
“Olha, ... Você teve todas as chances de ficar comigo e...”
“Estraguei tudo? Só porque eu não quero compromisso, um relacionamento com rótulos? Só porque eu quero manter a minha liberdade, não ter que dar satisfações e seguir os planos de outra pessoa?”
“Nossa! Seus namoros devem ter sido uma péssima experiência mesmo, hum?” Ele fez careta ao falar, antes de se jogar, cansado, no sofá. Ela tinha mesmo uma visão bem radical, que deviam ser fruto de experiências muito frustrantes, e ele não sabia se estava disposto a batalhar para mudá-la, depois de tudo.
“Eu nunca namorei. Eu nunca quis namorar. Eu vejo como é a vida da minha mãe, das minhas tias... até das minhas primas mais novas, com aqueles maridos sempre decidindo tudo, e elas dizendo amém, com todo o trabalho nas costas delas, com os sonhos deixados pra trás. Eu quero alguém com quem curtir, e eu nunca curti tanto com ninguém como eu curtia com você.” Ela falou, sentando-se ao lado dele e colocando a mão em sua coxa.
“O problema é que você ficou tão preocupada em garantir que eu percebesse que não poderia te amarrar, que não se importou em me magoar, durante o processo, . Você curtiu, como você disse, e eu também curtia, quando a gente tava junto, mas era eu quem ficava tendo que tentar a sorte, sem nunca saber se ia rolar mesmo, levando bolo, um terço das vezes em que a gente marcava.”
“Desculpa por isso.” Disse, sincera.
“Eu não quero começar de novo, pra ser tudo igual.” Retorquiu, disposto a perdoar, mas não a passar pelas mesmas situações. “E não vai ser diferente, se você continuar com essa aversão toda! Você teria como viajar comigo no final de semana? Eu tenho uma ideia, mas preciso que você não faça perguntas, viaje comigo e... vá de coração aberto.”
Ela ficou olhando para ele por alguns segundos e, mesmo receosa, finalmente assentiu. Ele a orientou sobre o que colocar na mala, marcou um horário para buscá-la, na porta da república – e torceu para que ela estivesse mesmo lá, quando chegasse –, e se despediu, mesmo que ela tenha tentado usar suas armas de sedução para passar a noite com ele, e tenha sido bem difícil resistir.
Seis dias depois, eles pegaram um voo para a Califórnia, indo diretamente para uma casa na beira de uma das mais lindas praias em que colocaria os olhos na vida. foi recebido, com abraços e beijos carregados de entusiasmo, por um casal bem mais velho, que apresentou à garota, orgulhosamente, como seus pais.
“E essa é minha amiga .” Completou. “Ela é modelo, mas também tem interesse na parte técnica da fotografia, pai. Por isso eu aproveitei para trazê-la comigo.” era fotógrafo profissional e poderia, de fato, dar algumas dicas preciosas à convidada, apesar de este não ter sido o real motivo que fez arrastá-la para o litoral.
cumprimentou o Sr. e a Sra. , lembrando-se das palavras de sobre não fazer perguntas e ter o coração aberto. Estava intrigada e até um pouco chateada, achando que a escolha dele de apresentar-lhe a família era o oposto de tentar demonstrar que não era o tipo de cara que quer a relação mais careta possível, mas tentaria passar por isso e confiar, pelo menos até ficarem a sós.
“Eu não te trouxe pra conhecer meus pais pra que você veja a linda família que teria se escolhesse ficar comigo.” Ele foi logo dizendo, quando entrou no quarto de hóspedes com ela, ajudando com a bagagem, como se tivesse lido seu pensamento. “Te apresentei como amiga, e vamos agir como amigos aqui, justamente pra você não ter nenhum tipo de pressão de ninguém. Eu só quero que você observe, converse com eles. Acho que você vai entender sozinha, no final.”
“Ok.” Foi a única resposta que ela conseguiu dar, antes que o Sr. surgisse no corredor, oferecendo-se para preparar um lanche para os recém-chegados, e que a Sra. convidasse ambos para ver seu mais novo filme – ou o que seria uma primeira versão dele. explicou a que a mãe era diretora e produtora de cinema e TV, enquanto os dois saíam do quarto, indo ao encontro dela.
“Vamos editar muita coisa ainda.” Explicou , já com o controle remoto em mãos, se acomodando em uma poltrona da sala de TV com uma tela plana de dar inveja a algumas salas de cinema. “Vocês, vendo comigo, em primeira mão, talvez tenham até algum palpite a dar.”
“Eu já esgotei todos os meus.” falou, rindo. Trazia consigo uma bandeja, com potes cheios de pipoca, um prato com mini-sanduíches e quatro copos de refrigerante. “Por favor, me diga que você não é daquelas modelos que comem apenas salada e bebem só água com limão, hum?” Perguntou a e ela respondeu pegando um dos potinhos de pipoca e um dos copos de coca-cola.
Depois de ver o filme e de observar fazendo vários comentários sobre ele com a mãe, foi apresentada ao estúdio de fotografia de . Fez algumas perguntas sobre o trabalho dele, que foram respondidas com a empolgação típica das pessoas que tem como forma de ganhar a vida algo que amam demais. Foi uma conversa longa, que só terminou enquanto ele preparava o jantar, dando lugar a uma outra verdadeira aula, desta vez de culinária.
“Minha mãe também cozinha, de vez em quando, mas eles sempre tiveram o costume de dividir as tarefas da casa de modo que a comida ficasse com ele, porque ele é bem melhor nisso!” comentou com , depois do jantar, enquanto lavava a louça, tendo a amiga como companhia. “Tão melhor que, mesmo agora que eles podem contar com a ajuda de empregados, ele ainda prepara algumas refeições, especialmente quando eu ou minha irmã estamos.”
O casal fazia questão de morar na praia. Sempre fora o sonho de , que nascera e fora criada no Colorado. Os filhos moravam longe – em Nova York e na Flórida –, e ambos sentiam saudades, mas eles nunca abririam mão da casa que tinham ajudado a projetar, que tinham visto ser construída, que haviam decorado exatamente do jeito como queriam, com cada móvel e obra de arte escolhido a dedo, cada canto cheio de recordações. Além do mais, estavam perto de onde suas atividades eram mais requisitadas, o que tornava o cenário perfeito.
podia entender muito bem aquela escolha. Era um lugar maravilhoso e, mesmo que ela tivesse acabado de conhecer os dois, era possível ir percebendo, aos poucos, o jeito deles refletido na casa.
Também não foi difícil compreender por que tinha resolvido levá-la ao local onde crescera. A relação dos pais dele era completamente diferente da dos pais dela, e de qualquer outra relação entre um homem e uma mulher de que ela já tivesse tido notícia! Pelo menos até a irmã dele chegar, na tarde de sábado, com o marido e suas duas bebezinhas gêmeas, e de testemunhar o cunhado de trocando as fraldas das duas, enquanto a mulher escrevia, no maior sossego, um dos capítulos de seu livro sobre os conflitos na Síria, que ela passara parte do ano anterior estudando, in loco.
“A minha mãe queria muito ser jornalista esportiva, quando ela era jovem, mas ela acabou se casando com meu pai, e ele quis ter filhos logo e achou que ela seria bem mais útil em casa, cuidando de todos nós. Eu não sei o que me incomoda mais: se é saber que ele fez isso ou o fato de ela ter aceitado.” comentou, na tarde de domingo, enquanto todos se refrescavam com chá gelado, na varanda da casa.
“Eu não julgo a sua mãe, . Principalmente porque tudo era muito diferente, quando éramos jovenzinhas.” Assegurou a Sra. . “Mas eu realmente nunca teria deixado de correr atrás do sonho de trabalhar com cinema, pra me dedicar apenas aos meninos e ao , que, por sua vez, nunca foi enganado a respeito disso.” Riu. “Aliás, o jamais teve qualquer impressão errada sobre mim.”
“Com menos de uma semana de namoro, ela chegou à minha casa, cheia de fotos, fitas, listas daquelas que a gente faz com as metas pro próximo ano, ou pra próxima década... sei lá. Até um diário, ela levou!” Sorriu, pegando a mão dela na sua e dando-lhe um beijo. “Ela me perguntou se eu tinha certeza de que queria ficar com uma garota como ela, que tinha grandes ambições, era fã de umas músicas completamente underground, só se interessava por filmes do circuito alternativo e tinha se convertido ao budismo.”
“Eu também não levei nem um mês pra saber que a é agnóstica e tem esse fascínio estranho por entrar em zonas de guerra.” Comentou o marido dela. “O lance é que eu já tinha adquirido esse fascínio estranho por ela.” Brincou, fazendo todos rirem, inclusive as meninas, que não entendiam do que estavam achando graça.
Quando deixou na frente da república, no começo da noite de domingo, depois de mais um voo de avião e de um passeio silencioso de carro, ele não sabia o efeito que a viagem tinha operado nela, mas tinha certeza de que fizera tudo o que estava a seu alcance para mostrar que, mesmo o mundo ainda sendo muito machista, nem todos os relacionamentos consistiam em dominação da mulher pelo homem. Pessoas podiam se amar e compartilhar a vida, apoiando-se mutuamente, dividindo sonhos, lutas e conquistas.
Ele se despediu como o amigo que foi durante todo o final de semana, e afirmou que gostaria que ela tivesse um tempo para pensar e que o procurasse apenas quando quisesse ter uma conversa definitiva.
teve horas de insônia naquela noite, sem conseguir tomar nenhuma decisão. Depois de dormir mal e de tentar compensar as muitas horas em claro, ficando na cama até tarde, saiu para fazer compras no supermercado e caminhar um pouco pelo bairro. Viu casais de várias faixas etárias, trocando carinhos, um pai alimentando o filho, enquanto a mãe lia, sentada na grama do parque, uma senhora com o braço todo tatuado, sendo chamada de vovó, um homem vendendo desenhos feitos na hora, retratando os passantes que estivessem interessados e dispostos a pagar por eles.
Tudo lhe lembrava e, antes mesmo de completar o trajeto para casa, ela equilibrou as sacolas nos braços, tirou o celular do bolso, e digitou uma mensagem, perguntando se poderia ir até a casa dele, dentro de uma hora e meia, ou duas.
abriu a porta e deu à garota um sorriso tímido. Tentou não demonstrar o quanto estava ansioso para saber o que ela tinha a lhe dizer, pois não queria que ela acabasse se sentindo pressionada com isso. Ela lhe deu um sorriso muito menos hesitante e não fez qualquer cerimônia, entrando na sala dele e se jogando no sofá.
“Pra você.” Disse, esticando a mão na direção dele, e mostrando um pen drive.
“O que é isso?” Ele franziu a testa, curioso, enquanto pegava o objeto. “Quer dizer... é um pen drive, claro! Mas o que tem aqui?”
“Eu achei mais prático colocar todas as minhas músicas favoritas, as minhas fotos mais vergonhosas, as minhas listas de resoluções e desejos, e tudo mais que era importante aí, nesse pen drive. Tem algumas coisas que você já tá careca de saber sobre mim e outras eu vou ter que simplesmente contar.”
“E isso quer dizer que...”
“Isso quer dizer que eu não sei se é uma boa ideia ter um relacionamento comigo, ! Mas que, se você quiser mesmo...” Ela deu de ombros e sorriu, e ele refletiu o sorriso dela, enquanto se aproximava e a puxava para si, do jeito que queria ter feito várias vezes, durante os últimos dias, mas não se atreveu.
Ele já tinha um fascínio estranho por ela, era como fogo sendo alimentado, e ela, o combustível. Uma chama tão forte não seria apagada pelas informações contidas em um pen drive qualquer ou por alguma coisa mais que ela pudesse narrar. Isso tudo, portanto, podia ficar para depois.


Fim.



Nota da autora: Sem nota.





Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.




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