Capítulo Único
“Sempre senti alguma coisa por ti, mas cê não vale nada, cê não vale nada! Chega pra mim, não diz que não, nem que sim, e fica tudo nesse nada, nessa bolinada.”
Os flashes sempre me incomodavam um pouco, eles meio que me cegavam, não sei nem como eu conseguia sair com os olhos abertos na maioria das fotos.
Fotos: tá aí uma coisa que eu adorava fazer, tirar fotos! Desde pequenininho. Por isso comecei minha carreira como modelo, aos dezesseis anos, todo mundo dizia que eu era bonito (não sei muito bem se isso é verdade), que era fotogênico e que levava o maior jeito.
Então virei o xodó da agência onde eu comecei, fazia vários trabalhos de passarela e campanhas publicitárias e me envolvi com o teatro, fiz faculdade de artes cênicas, mas sem nunca abandonar a carreira de modelo, fui modelo até os meus vinte e seis anos. Foi quando comecei a trabalhar de fato como ator…
E foi quando a conheci também, e desde então minha vida amorosa deu uma virada de 360° e ficou de cabeça para baixo.
Foi em evento onde uma das músicas dela fazia parte da trilha sonora do casal principal do filme (eu era o melhor amigo do personagem principal naquela ocasião), eu senti as famosas borboletas no estômago quando ela veio me cumprimentar com um beijo na lateral da minha boca, e eu pude sentir o cheiro bom que emanava da pele e do cabelo dela. Ela já era uma cantora famosa quando a conheci. Já estava em seu segundo álbum e começava a estourar e solidificar sua carreira. Era meu primeiro filme de renome, minha carreira de ator começou ali, junto com a paixão que eu nutriria por ela.
, esse era o seu nome (para todo mundo, menos para família e amigos íntimos, como eu, que sabiam que o seu nome de verdade, de batismo, era Baptiste). Uma estrela, em todos os sentidos possíveis. Ela parecia de fato brilhar. O sorriso dela poderia trazer a cura do câncer se fosse estudado melhor, porque quando ela sorria, eu sorria também de forma quase automática, algo dentro de mim vibrava quando eu a via sorrir. E ela tinha uma maneira diferente de sorrir para mim, era como se aquele sorriso fosse apenas meu, uma espécie de demonstração diferenciada de como tínhamos uma boa sintonia. Entre nós não havia segredos, não havia pudores, não havia barreiras ou paredes… Ela era a melhor parte da fama.
Pena que a gente nunca conseguia se entender de verdade, como posso explicar? Ela era livre, uma mulher completamente sem amarras e sem apego. Ela tinha algo que a impedia fortemente se fixar a algo, a alguém. Um medo inexplicável de se apegar e ter o coração partido, acredito eu. Como se eu fosse capaz de machucá-la algum dia!
A gente era uma bagunça, e essa era a verdade! Mas eu gostava daquilo tudo que a gente era, era divertido! Ás vezes eu sentia muita vontade oficializar tudo o que tínhamos, de prensá-la contra a parede e dizer á ela que ela precisava decidir o que queria comigo afinal? Eu só sei que não queria perdê-la…
***
“Você não é de se jogar fora, perco fácil meia hora na tua lábia, na tua cama, na sua cara sacana que me diz que não me pode bem agora. Noutro momento, sem demora quando o mundo me adorar, você volta se arrastando.”
Eu tinha certeza que a veria naquele evento, era o lançamento de uma série que eu estava fazendo e tinha então o meu primeiro papel como protagonista, finalmente depois de quatro anos. A série estava sendo muito esperada pela crítica especializada e pelo público, e eu estava com a ansiedade à mil! A expectativa em cima de mim em ser um protagonista estava me deixando louco! Primeiro tive que lidar com o peso de “ah é um ator excelente, tem um futuro promissor, mas porque nunca fez um protagonista?” e também com “Sempre rouba a cena dos protagonistas como coadjuvante, mas porque até hoje não foi protagonista de sua própria série ou filme?” Toda aquela droga acabava comigo, e agora quando eu finalmente consegui o tão aguardado protagonista, precisava lidar com toda a merda de expectativa que isso trazia! Eu sentia como se mesmo com quatro anos de carreira, aos meus trinta anos, eu ainda precisasse provar para todo mundo que sou capaz de entregar um protagonista à altura do que Hollywood espera, sou sim um bom ator, um ator versátil e entregue e tantas outras coisas. E aquilo era horrível nesta altura do campeonato.
Após algumas entrevistas rápidas para os meio de imprensa presentes no lugar, posei com meus colegas de elenco, e abracei a minha parceira de cena. Eu já sabia que rolavam rumores sobre eu e ela estarmos em um romance fora das telas também, devido a química em que exibimos durante os trailers e em um filme que havíamos feito par romântico também. Mas não era verdade, éramos bons amigos e bons companheiros de cena, nada mais que aquilo. Eu havia ficado brevemente com uma modelo hispânica, e tinha dado o que falar nos tablóides quando as notícias saíram, a pobre garota se sentiu “traída” e me deu um pé na bunda! Fazia dois meses ou mais que eu não falava e muito menos via ou tocava ). Ela era assim, aparecia quando bem entendia, desaparecia quando bem entendia. E eu também, nós respeitávamos o espaço um do outro, e eu andei muito ocupado nos últimos meses, e ela provavelmente também, já que não havia dado as caras.
Mas hoje ela iria, eu sabia disso porque ela havia me avisado, e disse que precisávamos conversar.
A mídia havia nos visto juntos uma única vez, mas nada muito comprometedor, não estávamos de mãos dadas, não nos beijamos, parecíamos apenas dois amigos que haviam saído para correr. É claro que a reportagem foi feita com o intuito de deixar todo mundo com a pulga atrás da orelha, levantando questões como: desde quando eles eram amigos ou se conheciam? Aquela seria a primeira vez que se viam/saíam juntos? E blá, blá blá. Me lembro que nós dois rimos muito das matérias e pensamos o quanto éramos fodas por ter enganado a imprensa. Eu balancei a cabeça, sorrindo de soslaio enquanto me lembrava e então comentei com minha colega que estava cansado de tirar fotos já, queria ir para o coquetel, beber e aproveitar que tudo aquilo tinha acabado e eu poderia descansar um pouco do peso sobre meus ombros, e ela sorriu, me olhando e concordando. Aquilo seria uma prato cheio para aumentar ainda mais os boatos, mas eu não estava mais nem aí. Só queria de fato poder ir pro coquetel.
Como se Deus ouvisse minhas preces, fomos liberados pro bendito coquetel. Quase soltei um urro em comemoração, mas, contive meus instintos primitivos. Deixaria para usá-los em outro momento.
Adentrei o salão que já se encontrava um pouco cheio e peguei uma taça de champanhe da bandeja de um dos garçons, e encontrei alguns amigos atores e atrizes de quem gostava bastante (amigos de também), e os cumprimentei com abraços e beijos. Ficaria ali com eles por um bom tempo, estava decidido, por enquanto era o melhor lugar para ficar. Éramos bons amigos, eles me conheciam bem, me tratavam bem e vice-e-versa.
A música do lugar estava no tom adequado, não estava alta demais ao ponto de atrapalhar uma conversa agradável, mas também não estava baixa demais ao ponto mal ouvirmos. Aquilo me agradou, eu gostava de música. Na verdade eu havia me apaixonado por esse mundo graças a ) (gosto mais de chamá-la de , mas ela não gosta muito que eu a chame assim). Senti meu coração vibrar dentro do peito ao me lembrar claramente dela e da última vez que nós havíamos nos visto. Tinhamos feito um sexo perfeito, que perpetuou na minha mente várias e várias vezes, e depois me lembrei dela deitada no meu peito, nua, nua e livre, como ela gostava de ser. Aquilo encheu meu peito de saudades e vontade de tê-la novamente.
Senti duas mãos me apertarem os ombros e logo em seguida eu já enxergava tudo preto e tateava as delicadas mãos que haviam tapado meu rosto, tentando adivinhar de quem elas seriam. Mas eu sabia que era ela. Só ela fazia aquilo comigo.
Eu sorri de canto, sem mostrar os dentes. Parei de tatear as mãos quentes dela e apenas repousei minhas mãos sobre as suas sem dizer nada. Eu sabia que ficava possessa quando eu não tentava adivinhar de quem se tratava quando ela fazia aquilo, então eu resolvi provocá-la.
Senti as mãos dela apertarem meu rosto e balançar de leve minha cabeça e eu gargalhei, me sentindo leve como uma pluma.
— Como você sabe que sou eu? Seu atrevido! Como ousa me desafiar assim? No meio de todo mundo! Não tem medo do que eu possa fazer? — ela sussurrou próxima ao meu ouvido -
Senti cada músculo meu enrijecer e não havia um pelo sequer do meu corpo que não estivesse arrepiado. Parecia que eu estava ouvindo aquela voz sussurrar atrevidamente no meu ouvido pela primeira vez.
Eu tirei as mãos de dos meus rosto delicadamente e senti ela me abraçar por trás, envolvendo meu pescoço e tórax.
Virei meu rosto o suficiente para que ela me ouvisse, quase encostando nossos lábios um no outro.
— Você está me ameaçando senhorita ?
Os lábios dela se curvaram num sorriso debochado e os olhos dela pareciam querer me queimar vivo.
— Entenda como quiser ! Aliás, — ela me soltou virando-se frente á mim — Parabéns! Você conseguiu! Finalmente! E eu não poderia estar mais feliz! De verdade! Agora você é um protagonista, uau!
Olhei dentro dos olhos de ), porque ali, agora, ela era a ), e não a . Sim, eu separava as duas, para mim elas eram duas pessoas distintas, com personalidades diferentes. E eu amava as duas! Mas ) era glamurosa, ambiciosa, gostava dos flashes, dos tablóides, dos sites de fofoca, do nome dela na boca de todo mundo. A era discreta, carinhosa, manhosa, gostava de privacidade, de silêncio… De qual delas eu gostava mais? Variava muito do meu momento, de como nós estávamos, do meu humor…
— Gostou )? — mordi o lábio inferior enquanto a segurava com as duas mãos em sua cintura -
Ela entendeu o que estava querendo dizer e revirou os olhos enquanto passava os dois braços em volta do meu pescoço, ficando quase na ponta dos pés. Certamente ela estava de salto alto, mas a nossa diferença de altura ainda era enorme, ela era miúda, pequena, frágil, mas seu corpo se moldava perfeitamente ao meu.
— Vai começar cedo com isso ? Por favor! Você não acredita em mim não é?
— Eu tenho um pouco de dificuldade de diferenciar quando é a ) que está feliz e quando é a , você sabe disso!
— Nós somos a mesma pessoa ! Que diabos! O que eu tenho que fazer para você parar de me dividir em duas pessoas diferentes? Eu sou a ) e a , apesar de odiar esse nome!
) revirou os olhos dessa vez, e não .
— Nós não vamos brigar hoje, vamos? Por favor, eu mereço amor e carinho hoje! Sou um protagonista )! Hum? Você vai assistir a série?
— Ah, mas o que você acha? Claro que eu vou assistir, eu sempre assisto tudo o que você faz! Especialmente quando estou sozinha, que aí eu vejo você e durmo mais feliz, se é que você me entende! — sorriu sacana.
— Você se masturba me assistindo? — eu gargalhei jogando minha cabeça para trás deixando meu pescoço exposto para ela -
— O que que tem? — ela depositou alguns beijos rápidos pela pele do meu pescoço.
— Nada! Eu só não imaginava isso!
— Então imagine! — ela depositou um beijo no canto da minha boca e me soltou — Vou pegar um drink, não quer vir comigo?
Eu sabia o que ela queria dizer com aquilo, eu estava ansiando que aquilo acontecesse rapidamente, estava sedento por ela.
Sendo levemente puxado por ela, observei o rebolado gostoso que ela tinha quando andava e senti meu membro pulsar por baixo da calça.
Angelique olhou para os lados buscando a certeza de que não havia ninguém ali no recinto e de que não estávamos sendo observados por ninguém, suas costas estavam contra parede pastel e fria do salão e ela me puxou para perto pelo colarinho juntando nossos corpos e um choque de eletricidade me invadiu. Segurei seu rosto com uma de minhas mãos, uni minha testa a sua e prendi seu lábio inferior entre meus dentes enquanto a encarava dentro dos olhos. Suas mãos invadiram meu corpo por baixo a camisa, suas unhas arranharam toda a extensão da minha barriga até o peitoral e eu soltei um gemido baixo enquanto soltava seu lábio preso entre meus dentes e a beijava. Suas unhas voltaram a me arranhar e eu me atrevi a descer as mãos por suas coxas desnudas graças às fendas laterais do vestido preto que ela usava. Apertei as mesmas e vi fechar os olhos enquanto apertava minha nuca. Desci meus beijos por seu pescoço enquanto a mão dela alcançava o cós de minha calça, procurando pelo botão da mesma.
— Tá maluca? Quer transar aqui? É impossível! Alguém pode aparecer!
— Mas não apareceu ninguém até agora! Ah me poupe você já foi menos certinho! Desde quando você se importa com isso?
— Desde que virei um protagonista! — ela soltou o botão da calça e enfiou a mão por dentro da mesma, segurando meu membro sobre a cueca que eu usava — Ah que saber? Foda-se!
Voltei a beijá-la com força enquanto a sentia massagear meu membro, já rígido de tesão. Eu ia ao paraíso e voltava toda vez que ela me acariciava daquele jeito!
O vestido que ela usava não dificultou em nada que eu a penetrasse ali mesmo naquela parede, ouvi-a gemer em resposta no meu ouvido, bem baixinho, e aquilo era o estímulo que faltava para que eu a fodesse ali mesmo sem pensar em qualquer possível consequência. A cada investida minha ela gemia mais alto e mais alto, e eu a segurava com força, rente ao meu corpo. Chegamos juntos ao clímax, como sempre acontecia. Nos beijamos mais uma vez, e ela segurou meu rosto.
— Igual você não tem! Igual a nós, não tem! — fechei meus olhos e depositei um beijo em sua testa -
Nos ajeitamos, disfarçamos um tempo e voltamos para o meio dos convidados.
— Dorme comigo essa noite? — sussurrei em seu ouvido já preparado para ir embora depois de mais ou menos umas quatro horas de coquetel -
— Eu não posso, dengo! Amanhã cedinho preciso me encontrar com o George para acertarmos o festival! E você sabe que quando dormimos juntos eu nunca chego a tempo aos meus compromissos! Falando nisso, eu quero que você venha comigo pro festival!
Arregalei levemente meus olhos e ela riu.
— Só faltou o pedido de namoro! — a risada dela cessou.
A palavra namoro mudava completamente a feição dela, tanto da ) quanto a de . E eu sabia bem o porquê.
— ! — ela suspirou pesadamente.
— Foi uma brincadeira, )! Ei! — segurei seus braços delicadamente.
— Você sabe que eu odeio essas brincadeiras! Esse assunto é traumático para mim! São vários gatilhos quando ouço essa palavra!
— Me desculpe, me desculpe ok? — eu a abracei segurando sua cabeça, fazendo um carinho ali — Me desculpe!
— Vai embora! Por favor! — ela me soltou.
) tinha tido alguns namoros antes de mim; polêmicos, curtos, conturbados e ela saiu destruída de todos eles. Prometeu a si mesma que jamais namoraria outra vez, que jamais se quebraria de novo por homem algum, e eu estava incluso. Não importa o quanto eu tente provar que jamais a machucaria, jamais a destruiria, ela não cedia, os traumas haviam sido profundos e eu entendia.
Mas, no fundo, não compreendia e não lidava muito bem com isso. Porque tudo que eu queria era oficializar o que tínhamos e poder sair com ela em público, de mãos dadas. Mas eu respeito. Agora, até onde eu aguentaria? Ainda não sei.
— )! — eu insisti — Eu sou bom das pernas, já era para ter corrido de você, mas quem comanda o meu corpo é o coração.
— Já perdi as contas de quantos caras se decepcionaram por achar que eu era a mulher da vida deles. Eu sou a mulher da minha vida, preciso me entender, me decifrar, destruir minhas barreiras. Eu sou uma bagunça que não quer ser arrumada, não agora. Então, por favor, desistam de tentar consertar quem não quer ser consertada. Preciso de tempo para colocar tudo em ordem e assim poder convidar alguém para entrar.
Senti que era o momento exato de ir embora, de me retirar da vida dela por um tempo.
— Você sempre vem. Você sempre volta. É um vai e vem que não sai de órbita. Me acostumei, nem tranco a porta.
.
***
“Se você vem, eu pulo fora, se não te ligo, vem na hora. Sente o cheiro da minha cama, sabe da minha fama e bem me quis. Mas não te quero bem agora, noutro momento, na piora, quando o mundo se acabar, volto manso, me arrastando.”
Eu amava a praia e amava surfar, desde novo, e quando eu era modelo vivia nas praias, afinal de contas eu tinha mais tempo. Haviam se passado quatro meses desde que eu havia me retirado de cena e dado o tempo necessário que precisava. Eu sabia que ela viria atrás de mim, quando eu a me mandava embora era eu quem cedia depois e ia atrás dela, e quando ela me mandava embora, ela também cedia e me procurava tempos depois. O festival se aproximava e eu me perguntei durante esses quatro meses se o convite feito no coquetel ainda estava de pé.
Fechei meus olhos e senti o vento fresco da praia tocar em meu rosto, aquilo era tão bom! A praia estava bem vazia para a minha sorte, surfei em paz, tirei só algumas poucas fotos com alguns fãs e depois ninguém mais me pertubara. Pensei em ).
— Eu sabia que ‘cê tava aqui! Não me pergunte como, mas a minha intuição sempre sabe onde te encontrar sem que eu precise te perguntar nada! É estranho, não é?
Sorri de canto ao ouvir a voz de e, ainda de olhos fechados, procurei sua mão, colocando a minha sobre ela.
— O meu pensamento te atrai até mim! É sempre assim! Eu penso em você, e você me encontra.
Ela riu, e apertou minha mão com força.
— Resolveu as coisas do festival? — virei meu rosto abrindo os olhos encarando-a.
Ela fez o mesmo, com o semblante preocupado, o rosto levemente inchado, como se tivesse chorado. Me preocupei.
— Não vou mais, ! — ela respirou fundo, prendendo a respiração alguns segundos -
— Ei, dengo! O que houve? — segurei o rosto dela com a minha mão que estava livre — Aconteceu alguma coisa?
assentiu. Ali era a , eu sentia isso.
— Eu não quis participar esse ano!
— Por que? Você adora esse festival, )! — agora eu precisava falar com a ), com a cantora — Não entendi!
— Porque eu preciso de um tempo! Lembra? Eu preciso me achar! Preciso sair daqui, preciso ficar sozinha, ! Eu não mereço esta vida, não mereço tocar naquele festival e não mereço você!
— Do que você está falando, )?
— Estou falando que vou me mudar pra Londres! Meu novo disco vai ser produzido lá e eu preciso me concentrar nisso, porque quero mostrar uma nova versão de mim! Quero me achar e entregar a versão verdadeira de mim aos meus fãs! E eu não vou conseguir fazer isso aqui! Não vou conseguir me remontar em um país onde tudo me traz lembranças de um passado que só me machucou e me faz machucar você!
Eu não tinha o que fazer, sabia que nada do que eu falasse a faria ficar. Mas aquilo estava me quebrando. Não a queria longe de mim, eu a amava muito.
— E você vai fazer o que para se recompor e se achar? Compor? Porque você compôs aqui a sua vida toda e nunca ajudou pelo visto!
Eu estava no modo automático de defesa que meu cérebro ativava quando estava magoado.
— Vou seguir seu conselho de anos e fazer terapia, algo que eu já deveria ter feito há muito tempo!
— E para isso você precisa se mudar para Londres?
— Eu já esperava que você não fosse entender e me atacar!
Ela se levantou e automaticamente eu também.
— Eu amo você, , como você espera que eu reaja?
— Me perdoa por sempre tentar fugir, de ti e de nós. É que você sabe, meu forte é dar errado, e eu não quero te enterrar debaixo dos escombros quando eu estiver desmoronando. Talvez de fato eu acredite em nós, mas eu não acredito em mim. Te amo tanto que suporto ir só pra não te cortar com meus cacos. Desculpa ser inteiramente quebrada, você não merece uma pessoa em pedaços.
Sua mão acariciou demoradamente a minha bochecha e eu fechei meus olhos, sentindo seu toque suave pela última vez. Quando abri meus olhos, ela havia sumido.
***
“E quando penso que eu não quero nunca mais te ver, vem você, me aparece, cheia de querer. Chega e beija minha boca, faz um fuzuê. Vem e tira minha roupa toda para me ter. Ora fica, ora solta, ora vem me ver! Sei que cê não vale nada, mas só quero você.”
Terminei de tirar algumas fotos e atender alguns fãs e me senti bem por saber que o novo filme havia agradado quase todas as pessoas que me paravam na rua.
Era o meu terceiro protagonista em três anos, e eu me sentia bem e realizado. Toda aquela pressão que senti ao ganhar meu primeiro papel principal, não existia mais. Muitas coisas não existiam mais na minha vida nesses três anos, eu havia crescido e aprendido muito com toda a dor que senti ao perder a mulher que mais havia amado. Eu já não sentia mais aquela dor que estraçalhava o peito, mas ainda tinha muita raiva e rancor guardado.
Olhei o mar infinito e azul à minha frente, e senti um calafrio que me fez lembrar de ). Os tablóides haviam anunciado ontem que ela estava de volta ao país depois de três anos fora. Ela havia lançado dois álbuns e se preparava para o lançamento do terceiro. E eu havia ouvido os dois álbuns, é claro, procurando evidências para saber se eu ainda fazia parte de suas músicas, de sua vida. Acreditava ter encontrado algumas. Mas eu evitava procurar noticias dela ou ir em suas redes sociais. Já estava quebrado o suficiente. Lembrei da risada gostosa dela e fechei meus olhos. Eu ainda a amava e isso me matava!
— Te achei! Achei que nunca mais fosse te achar! Mas eu sabia que você tava aqui!
Não me dei ao trabalho de abrir meus olhos, não queria demonstrar nenhum tipo de reação ou sentimento. No fundo, eu sabia que iria encontrá-la algum dia, eu sempre soube.
— É claro que você sabia que eu tava aqui! Se esqueceu que há três anos foi aqui que você me deixou?
A ouvi respirar pesadamente e senti o cheiro de morango dos seus cabelos invadir minhas narinas. Fiquei tenso.
— Eu não sei se enlouqueci ou se foi você! Vou fingir que eu esqueci pra eu não te responder. — ela suspirou novamente ignorando completamente minha pergunta anterior — Ouvi dizer que o nosso fim ficou mal resolvido para você! Agora eu sei, enlouqueci junto com você, fingindo amizade só pra não esquecer! Talvez o universo queira nos falar que um pedaço de você não possa me largar. E nós dois somos estranhos e é estranho pensar, estranho até lembrar seu nome sem me culpar.
— Talvez seu pensamento venha pra curar a desculpa que você nunca soube me dar. Mas, desculpa, não preciso mais, nem tenho mais dor! — dei de ombros — Você foi meu mais difícil exemplo de amor!
— Talvez seja melhor que a gente nunca mais tenha se visto! Sua pele na minha pele, era certo, era arrepio. A vontade não passava mesmo quando acabou! Não foi por isso que a gente terminou...
Eu encarei ali, com uma jaqueta cobrindo os ombros — mas sem estar vestida com ela — o chapéu de palha na cabeça, uma das mãos segurando o mesmo para que ele não voasse com o vento. A blusa branca cobria o biquíni da mesma cor que estava por baixo e o short jeans de cintura alta. Eu tinha a impressão de que ela não havia mudado nada nesses três anos, mas havia mudado sim. Estava mais encorpada, mais voluptuosa, e o cabelo agora estava na altura do maxilar, bem mais curto do que ela costumava usar — na altura do ombro — e ainda mais linda. Me amaldiçoei por ter pensado aquilo.
— E é por isso que eu lembro. Até quando? — questionei mais para mim mesmo do que para .
Meus olhos marejaram e eu fiz questão que ela percebesse. Eu estava com raiva e magoado!
— É quando o seu pensamento continua me atraindo pra você e o meu pensamento continua me traindo sem querer. É, até quando? — ela retrucou se aproximando de mim.
Eu estava com raiva, precisava dizer coisas que ensaiei durante meses. Mas fui surpreendido pelos braços dela envolvendo meu pescoço e a boca dela invadindo a minha, com pressa, quase desesperada. A língua dela invadiu a minha boca. Apertei sua cintura com força enquanto sentia o corpo miúdo dela se chocar contra o meu. Suas mãos agarraram meus cabelos perto da nuca e ela puxava com certa força me deixando excitado. Nossas línguas dançavam uma com a outra, como se disputassem quem teria o controle um do outro. Não sei ao certo quanto tempo nós ficamos nesta incrível disputa de poder, até que eu recobrei minha consciência e a afastei de mim, virando-me de costas, ofegante pelo tesão que eu ainda sentia por ela, pela intensidade do beijo e pela raiva que sentia de mim mesmo. Baguncei meus cabelos, ainda de costas, assustado com a intensidade de tudo aquilo.
— Igual você não tem! Igual a nós, não tem!
— Me assusta o nosso beijo ser melhor agora! Só me ajuda e não me peça pra não ir embora! Você diz que igual a nós não tem, e me assusta! Me assusta! Era mais fácil quando era passado. E você usa a nossa história, e me beija e me diz que igual a mim não tem e me assusta, !
— Pra o a gente vai daqui? — ela me perguntou, enquanto eu caminhava pela praia.
— Não sei, nem sei se quero ir! — parei de andar, e me virei bruscamente dando de cara com ela que segurou meus braços — Você me olha como um recomeço... Como pode o tempo ter passado, e tudo estar perfeitamente igual? Você conhece cada canto meu. E nosso amor seria tão real, se eu fosse o mesmo de anos atrás! Mas você sabe que eu não sou!
— E te assusta, te assusta minha liberdade. E você se culpa, porque era linda nossa sintonia.
— Igual nunca vivi! — sussurrei na esperança de que ) não ouvisse.
— E me diz que igual nunca viveu, e te assusta! — ela acariciou meu rosto — Ninguém me conhece como você me conheceu! E hoje eu vejo como tudo faz sentido, ! Você não se lembra da gente? Não sente saudades? Porque eu senti todos os dias desses três anos!
— O que você acha, ? Ou é a ) que está me perguntando isso? Você era tão minha, do seu jeito, mas era minha! E eu era seu, eu sempre fui só seu!
— Eu sempre gostei do jeito que você dizia que eu sou sua e que você é meu. De como você fazia parecer que nada mais fazia sentido além de nós dois. De como você sempre fez parecer que eu tenho o encaixe perfeito pra você, feito uma fórmula química que tem todas as dosagens certas. Tudo sempre ficava vazio sem você, sem os seus carinhos. Tudo sempre perdia o sentido quando você ia, porque se eu sou uma bússola, você é o meu norte.Quando você se afasta, não tem pancada que me faça funcionar, não tem música que me alcance, não tem sorriso que seja verdadeiro.Tudo dói, lateja, queima. Como uma azia que nem antiácido faz passar. Eu sempre gostei de como você faz o meu sol nascer e se você fica comigo, não tem céu nublado que me faça chover. Você coloca os meus pontos nos is, minhas vírgulas nos lugares certos, o meu caos em ordem. Contigo eu sou voo, mas sem você sou queda livre.
— E você precisou de três anos para descobrir? — eu franzi a testa e cerrei meus punhos, com dor — Você me diz que ninguém te conhece como um dia eu te conheci, como pode o tempo ter passado e nós dois, de novo, vendo o mar? Você me diz que agora faz sentido? Eu poderia até considerar, se eu fosse o mesmo de anos atrás!
— Eu entendo! Eu vim preparada para isso! Vim preparada para te encontrar com raiva, com muita mágoa no peito e talvez diferente daquele de três anos atrás que eu deixei aqui.
Eu soltei todo o ar que estava preso em meus pulmões e senti minha cabeça rodar, até que ela voltou a falar.
— Esses dias eu não tenho dormido, fico acordada lembrando de como eu fui embora e de quando o seu aniversário passou e eu não te liguei! Então eu penso no verão, todas as lindas vezes que eu assisti você dando risada, no banco do passageiro e me dei conta que eu te amava, que eu sempre amei. Foi quando o medo invadiu a minha mente. Você me deu todo o seu amor e tudo que eu te dei foi um adeus! Então essa sou eu engolindo meu orgulho, em pé na sua frente dizendo que sinto muito por aquela tarde! Eu volto pra ela todo tempo! Acontece que a liberdade não se mostrou nada além de saudades suas desejando ter percebido o que eu tinha quando você era meu! Talvez isso seja apenas um pensamento bobo, provavelmente um sonho estúpido, — ela pausou — Mas se nós nos amássemos novamente, eu juro que te amaria direito. Eu voltaria no tempo e mudaria tudo, mas não posso! Então se a sua porta estiver trancada, eu vou entender!
Quanto tempo esperei para ouvir todas aquelas palavras caramba? Ela ia e voltava quando bem entendia, bagunçava toda a minha vida, ela me deixou a ver navios, me fez perder quilos e quilos, noites e noites de sono, sonhando em quando ela voltaria e SE voltaria, e se algum dia ela ia perceber que me amava, até que um dia eu desisti de ouvi-la dizer qualquer coisa a respeito do que eu realmente significava.
E ela achava que, agora, depois de tudo isso, ela poderia simplesmente voltar e fazer aquele fuzuê todo comigo? Pois ela estava certa, ela podia! Qual seriam as minhas chances de ouvir aquilo tudo de novo? Eu não a deixaria ir embora de novo, nunca mais.
— Eu amo você sabia, ? E amo a ) também! Eu tinha que escorraçar você daqui, da minha vida. Mas pra que? Pra me ser infeliz a vida toda? Não vou. Não vou deixar você ir embora nunca mais! — puxei-a para perto de mim pela cintura
E nós nos beijamos outra vez e eu caminhei com ela para o mar. Eu o queria como testemunha daquele momento.
A segurei em meus braços sentindo o gelado da água nos tocar e a mirei dentro dos olhos. Nada mais me importava agora.
— Não importa quanto vá durar, é infinito agora.
Os flashes sempre me incomodavam um pouco, eles meio que me cegavam, não sei nem como eu conseguia sair com os olhos abertos na maioria das fotos.
Fotos: tá aí uma coisa que eu adorava fazer, tirar fotos! Desde pequenininho. Por isso comecei minha carreira como modelo, aos dezesseis anos, todo mundo dizia que eu era bonito (não sei muito bem se isso é verdade), que era fotogênico e que levava o maior jeito.
Então virei o xodó da agência onde eu comecei, fazia vários trabalhos de passarela e campanhas publicitárias e me envolvi com o teatro, fiz faculdade de artes cênicas, mas sem nunca abandonar a carreira de modelo, fui modelo até os meus vinte e seis anos. Foi quando comecei a trabalhar de fato como ator…
E foi quando a conheci também, e desde então minha vida amorosa deu uma virada de 360° e ficou de cabeça para baixo.
Foi em evento onde uma das músicas dela fazia parte da trilha sonora do casal principal do filme (eu era o melhor amigo do personagem principal naquela ocasião), eu senti as famosas borboletas no estômago quando ela veio me cumprimentar com um beijo na lateral da minha boca, e eu pude sentir o cheiro bom que emanava da pele e do cabelo dela. Ela já era uma cantora famosa quando a conheci. Já estava em seu segundo álbum e começava a estourar e solidificar sua carreira. Era meu primeiro filme de renome, minha carreira de ator começou ali, junto com a paixão que eu nutriria por ela.
, esse era o seu nome (para todo mundo, menos para família e amigos íntimos, como eu, que sabiam que o seu nome de verdade, de batismo, era Baptiste). Uma estrela, em todos os sentidos possíveis. Ela parecia de fato brilhar. O sorriso dela poderia trazer a cura do câncer se fosse estudado melhor, porque quando ela sorria, eu sorria também de forma quase automática, algo dentro de mim vibrava quando eu a via sorrir. E ela tinha uma maneira diferente de sorrir para mim, era como se aquele sorriso fosse apenas meu, uma espécie de demonstração diferenciada de como tínhamos uma boa sintonia. Entre nós não havia segredos, não havia pudores, não havia barreiras ou paredes… Ela era a melhor parte da fama.
Pena que a gente nunca conseguia se entender de verdade, como posso explicar? Ela era livre, uma mulher completamente sem amarras e sem apego. Ela tinha algo que a impedia fortemente se fixar a algo, a alguém. Um medo inexplicável de se apegar e ter o coração partido, acredito eu. Como se eu fosse capaz de machucá-la algum dia!
A gente era uma bagunça, e essa era a verdade! Mas eu gostava daquilo tudo que a gente era, era divertido! Ás vezes eu sentia muita vontade oficializar tudo o que tínhamos, de prensá-la contra a parede e dizer á ela que ela precisava decidir o que queria comigo afinal? Eu só sei que não queria perdê-la…
“Você não é de se jogar fora, perco fácil meia hora na tua lábia, na tua cama, na sua cara sacana que me diz que não me pode bem agora. Noutro momento, sem demora quando o mundo me adorar, você volta se arrastando.”
Eu tinha certeza que a veria naquele evento, era o lançamento de uma série que eu estava fazendo e tinha então o meu primeiro papel como protagonista, finalmente depois de quatro anos. A série estava sendo muito esperada pela crítica especializada e pelo público, e eu estava com a ansiedade à mil! A expectativa em cima de mim em ser um protagonista estava me deixando louco! Primeiro tive que lidar com o peso de “ah é um ator excelente, tem um futuro promissor, mas porque nunca fez um protagonista?” e também com “Sempre rouba a cena dos protagonistas como coadjuvante, mas porque até hoje não foi protagonista de sua própria série ou filme?” Toda aquela droga acabava comigo, e agora quando eu finalmente consegui o tão aguardado protagonista, precisava lidar com toda a merda de expectativa que isso trazia! Eu sentia como se mesmo com quatro anos de carreira, aos meus trinta anos, eu ainda precisasse provar para todo mundo que sou capaz de entregar um protagonista à altura do que Hollywood espera, sou sim um bom ator, um ator versátil e entregue e tantas outras coisas. E aquilo era horrível nesta altura do campeonato.
Após algumas entrevistas rápidas para os meio de imprensa presentes no lugar, posei com meus colegas de elenco, e abracei a minha parceira de cena. Eu já sabia que rolavam rumores sobre eu e ela estarmos em um romance fora das telas também, devido a química em que exibimos durante os trailers e em um filme que havíamos feito par romântico também. Mas não era verdade, éramos bons amigos e bons companheiros de cena, nada mais que aquilo. Eu havia ficado brevemente com uma modelo hispânica, e tinha dado o que falar nos tablóides quando as notícias saíram, a pobre garota se sentiu “traída” e me deu um pé na bunda! Fazia dois meses ou mais que eu não falava e muito menos via ou tocava ). Ela era assim, aparecia quando bem entendia, desaparecia quando bem entendia. E eu também, nós respeitávamos o espaço um do outro, e eu andei muito ocupado nos últimos meses, e ela provavelmente também, já que não havia dado as caras.
Mas hoje ela iria, eu sabia disso porque ela havia me avisado, e disse que precisávamos conversar.
A mídia havia nos visto juntos uma única vez, mas nada muito comprometedor, não estávamos de mãos dadas, não nos beijamos, parecíamos apenas dois amigos que haviam saído para correr. É claro que a reportagem foi feita com o intuito de deixar todo mundo com a pulga atrás da orelha, levantando questões como: desde quando eles eram amigos ou se conheciam? Aquela seria a primeira vez que se viam/saíam juntos? E blá, blá blá. Me lembro que nós dois rimos muito das matérias e pensamos o quanto éramos fodas por ter enganado a imprensa. Eu balancei a cabeça, sorrindo de soslaio enquanto me lembrava e então comentei com minha colega que estava cansado de tirar fotos já, queria ir para o coquetel, beber e aproveitar que tudo aquilo tinha acabado e eu poderia descansar um pouco do peso sobre meus ombros, e ela sorriu, me olhando e concordando. Aquilo seria uma prato cheio para aumentar ainda mais os boatos, mas eu não estava mais nem aí. Só queria de fato poder ir pro coquetel.
Como se Deus ouvisse minhas preces, fomos liberados pro bendito coquetel. Quase soltei um urro em comemoração, mas, contive meus instintos primitivos. Deixaria para usá-los em outro momento.
Adentrei o salão que já se encontrava um pouco cheio e peguei uma taça de champanhe da bandeja de um dos garçons, e encontrei alguns amigos atores e atrizes de quem gostava bastante (amigos de também), e os cumprimentei com abraços e beijos. Ficaria ali com eles por um bom tempo, estava decidido, por enquanto era o melhor lugar para ficar. Éramos bons amigos, eles me conheciam bem, me tratavam bem e vice-e-versa.
A música do lugar estava no tom adequado, não estava alta demais ao ponto de atrapalhar uma conversa agradável, mas também não estava baixa demais ao ponto mal ouvirmos. Aquilo me agradou, eu gostava de música. Na verdade eu havia me apaixonado por esse mundo graças a ) (gosto mais de chamá-la de , mas ela não gosta muito que eu a chame assim). Senti meu coração vibrar dentro do peito ao me lembrar claramente dela e da última vez que nós havíamos nos visto. Tinhamos feito um sexo perfeito, que perpetuou na minha mente várias e várias vezes, e depois me lembrei dela deitada no meu peito, nua, nua e livre, como ela gostava de ser. Aquilo encheu meu peito de saudades e vontade de tê-la novamente.
Senti duas mãos me apertarem os ombros e logo em seguida eu já enxergava tudo preto e tateava as delicadas mãos que haviam tapado meu rosto, tentando adivinhar de quem elas seriam. Mas eu sabia que era ela. Só ela fazia aquilo comigo.
Eu sorri de canto, sem mostrar os dentes. Parei de tatear as mãos quentes dela e apenas repousei minhas mãos sobre as suas sem dizer nada. Eu sabia que ficava possessa quando eu não tentava adivinhar de quem se tratava quando ela fazia aquilo, então eu resolvi provocá-la.
Senti as mãos dela apertarem meu rosto e balançar de leve minha cabeça e eu gargalhei, me sentindo leve como uma pluma.
— Como você sabe que sou eu? Seu atrevido! Como ousa me desafiar assim? No meio de todo mundo! Não tem medo do que eu possa fazer? — ela sussurrou próxima ao meu ouvido -
Senti cada músculo meu enrijecer e não havia um pelo sequer do meu corpo que não estivesse arrepiado. Parecia que eu estava ouvindo aquela voz sussurrar atrevidamente no meu ouvido pela primeira vez.
Eu tirei as mãos de dos meus rosto delicadamente e senti ela me abraçar por trás, envolvendo meu pescoço e tórax.
Virei meu rosto o suficiente para que ela me ouvisse, quase encostando nossos lábios um no outro.
— Você está me ameaçando senhorita ?
Os lábios dela se curvaram num sorriso debochado e os olhos dela pareciam querer me queimar vivo.
— Entenda como quiser ! Aliás, — ela me soltou virando-se frente á mim — Parabéns! Você conseguiu! Finalmente! E eu não poderia estar mais feliz! De verdade! Agora você é um protagonista, uau!
Olhei dentro dos olhos de ), porque ali, agora, ela era a ), e não a . Sim, eu separava as duas, para mim elas eram duas pessoas distintas, com personalidades diferentes. E eu amava as duas! Mas ) era glamurosa, ambiciosa, gostava dos flashes, dos tablóides, dos sites de fofoca, do nome dela na boca de todo mundo. A era discreta, carinhosa, manhosa, gostava de privacidade, de silêncio… De qual delas eu gostava mais? Variava muito do meu momento, de como nós estávamos, do meu humor…
— Gostou )? — mordi o lábio inferior enquanto a segurava com as duas mãos em sua cintura -
Ela entendeu o que estava querendo dizer e revirou os olhos enquanto passava os dois braços em volta do meu pescoço, ficando quase na ponta dos pés. Certamente ela estava de salto alto, mas a nossa diferença de altura ainda era enorme, ela era miúda, pequena, frágil, mas seu corpo se moldava perfeitamente ao meu.
— Vai começar cedo com isso ? Por favor! Você não acredita em mim não é?
— Eu tenho um pouco de dificuldade de diferenciar quando é a ) que está feliz e quando é a , você sabe disso!
— Nós somos a mesma pessoa ! Que diabos! O que eu tenho que fazer para você parar de me dividir em duas pessoas diferentes? Eu sou a ) e a , apesar de odiar esse nome!
) revirou os olhos dessa vez, e não .
— Nós não vamos brigar hoje, vamos? Por favor, eu mereço amor e carinho hoje! Sou um protagonista )! Hum? Você vai assistir a série?
— Ah, mas o que você acha? Claro que eu vou assistir, eu sempre assisto tudo o que você faz! Especialmente quando estou sozinha, que aí eu vejo você e durmo mais feliz, se é que você me entende! — sorriu sacana.
— Você se masturba me assistindo? — eu gargalhei jogando minha cabeça para trás deixando meu pescoço exposto para ela -
— O que que tem? — ela depositou alguns beijos rápidos pela pele do meu pescoço.
— Nada! Eu só não imaginava isso!
— Então imagine! — ela depositou um beijo no canto da minha boca e me soltou — Vou pegar um drink, não quer vir comigo?
Eu sabia o que ela queria dizer com aquilo, eu estava ansiando que aquilo acontecesse rapidamente, estava sedento por ela.
Sendo levemente puxado por ela, observei o rebolado gostoso que ela tinha quando andava e senti meu membro pulsar por baixo da calça.
Angelique olhou para os lados buscando a certeza de que não havia ninguém ali no recinto e de que não estávamos sendo observados por ninguém, suas costas estavam contra parede pastel e fria do salão e ela me puxou para perto pelo colarinho juntando nossos corpos e um choque de eletricidade me invadiu. Segurei seu rosto com uma de minhas mãos, uni minha testa a sua e prendi seu lábio inferior entre meus dentes enquanto a encarava dentro dos olhos. Suas mãos invadiram meu corpo por baixo a camisa, suas unhas arranharam toda a extensão da minha barriga até o peitoral e eu soltei um gemido baixo enquanto soltava seu lábio preso entre meus dentes e a beijava. Suas unhas voltaram a me arranhar e eu me atrevi a descer as mãos por suas coxas desnudas graças às fendas laterais do vestido preto que ela usava. Apertei as mesmas e vi fechar os olhos enquanto apertava minha nuca. Desci meus beijos por seu pescoço enquanto a mão dela alcançava o cós de minha calça, procurando pelo botão da mesma.
— Tá maluca? Quer transar aqui? É impossível! Alguém pode aparecer!
— Mas não apareceu ninguém até agora! Ah me poupe você já foi menos certinho! Desde quando você se importa com isso?
— Desde que virei um protagonista! — ela soltou o botão da calça e enfiou a mão por dentro da mesma, segurando meu membro sobre a cueca que eu usava — Ah que saber? Foda-se!
Voltei a beijá-la com força enquanto a sentia massagear meu membro, já rígido de tesão. Eu ia ao paraíso e voltava toda vez que ela me acariciava daquele jeito!
O vestido que ela usava não dificultou em nada que eu a penetrasse ali mesmo naquela parede, ouvi-a gemer em resposta no meu ouvido, bem baixinho, e aquilo era o estímulo que faltava para que eu a fodesse ali mesmo sem pensar em qualquer possível consequência. A cada investida minha ela gemia mais alto e mais alto, e eu a segurava com força, rente ao meu corpo. Chegamos juntos ao clímax, como sempre acontecia. Nos beijamos mais uma vez, e ela segurou meu rosto.
— Igual você não tem! Igual a nós, não tem! — fechei meus olhos e depositei um beijo em sua testa -
Nos ajeitamos, disfarçamos um tempo e voltamos para o meio dos convidados.
— Dorme comigo essa noite? — sussurrei em seu ouvido já preparado para ir embora depois de mais ou menos umas quatro horas de coquetel -
— Eu não posso, dengo! Amanhã cedinho preciso me encontrar com o George para acertarmos o festival! E você sabe que quando dormimos juntos eu nunca chego a tempo aos meus compromissos! Falando nisso, eu quero que você venha comigo pro festival!
Arregalei levemente meus olhos e ela riu.
— Só faltou o pedido de namoro! — a risada dela cessou.
A palavra namoro mudava completamente a feição dela, tanto da ) quanto a de . E eu sabia bem o porquê.
— ! — ela suspirou pesadamente.
— Foi uma brincadeira, )! Ei! — segurei seus braços delicadamente.
— Você sabe que eu odeio essas brincadeiras! Esse assunto é traumático para mim! São vários gatilhos quando ouço essa palavra!
— Me desculpe, me desculpe ok? — eu a abracei segurando sua cabeça, fazendo um carinho ali — Me desculpe!
— Vai embora! Por favor! — ela me soltou.
) tinha tido alguns namoros antes de mim; polêmicos, curtos, conturbados e ela saiu destruída de todos eles. Prometeu a si mesma que jamais namoraria outra vez, que jamais se quebraria de novo por homem algum, e eu estava incluso. Não importa o quanto eu tente provar que jamais a machucaria, jamais a destruiria, ela não cedia, os traumas haviam sido profundos e eu entendia.
Mas, no fundo, não compreendia e não lidava muito bem com isso. Porque tudo que eu queria era oficializar o que tínhamos e poder sair com ela em público, de mãos dadas. Mas eu respeito. Agora, até onde eu aguentaria? Ainda não sei.
— )! — eu insisti — Eu sou bom das pernas, já era para ter corrido de você, mas quem comanda o meu corpo é o coração.
— Já perdi as contas de quantos caras se decepcionaram por achar que eu era a mulher da vida deles. Eu sou a mulher da minha vida, preciso me entender, me decifrar, destruir minhas barreiras. Eu sou uma bagunça que não quer ser arrumada, não agora. Então, por favor, desistam de tentar consertar quem não quer ser consertada. Preciso de tempo para colocar tudo em ordem e assim poder convidar alguém para entrar.
Senti que era o momento exato de ir embora, de me retirar da vida dela por um tempo.
— Você sempre vem. Você sempre volta. É um vai e vem que não sai de órbita. Me acostumei, nem tranco a porta.
.
“Se você vem, eu pulo fora, se não te ligo, vem na hora. Sente o cheiro da minha cama, sabe da minha fama e bem me quis. Mas não te quero bem agora, noutro momento, na piora, quando o mundo se acabar, volto manso, me arrastando.”
Eu amava a praia e amava surfar, desde novo, e quando eu era modelo vivia nas praias, afinal de contas eu tinha mais tempo. Haviam se passado quatro meses desde que eu havia me retirado de cena e dado o tempo necessário que precisava. Eu sabia que ela viria atrás de mim, quando eu a me mandava embora era eu quem cedia depois e ia atrás dela, e quando ela me mandava embora, ela também cedia e me procurava tempos depois. O festival se aproximava e eu me perguntei durante esses quatro meses se o convite feito no coquetel ainda estava de pé.
Fechei meus olhos e senti o vento fresco da praia tocar em meu rosto, aquilo era tão bom! A praia estava bem vazia para a minha sorte, surfei em paz, tirei só algumas poucas fotos com alguns fãs e depois ninguém mais me pertubara. Pensei em ).
— Eu sabia que ‘cê tava aqui! Não me pergunte como, mas a minha intuição sempre sabe onde te encontrar sem que eu precise te perguntar nada! É estranho, não é?
Sorri de canto ao ouvir a voz de e, ainda de olhos fechados, procurei sua mão, colocando a minha sobre ela.
— O meu pensamento te atrai até mim! É sempre assim! Eu penso em você, e você me encontra.
Ela riu, e apertou minha mão com força.
— Resolveu as coisas do festival? — virei meu rosto abrindo os olhos encarando-a.
Ela fez o mesmo, com o semblante preocupado, o rosto levemente inchado, como se tivesse chorado. Me preocupei.
— Não vou mais, ! — ela respirou fundo, prendendo a respiração alguns segundos -
— Ei, dengo! O que houve? — segurei o rosto dela com a minha mão que estava livre — Aconteceu alguma coisa?
assentiu. Ali era a , eu sentia isso.
— Eu não quis participar esse ano!
— Por que? Você adora esse festival, )! — agora eu precisava falar com a ), com a cantora — Não entendi!
— Porque eu preciso de um tempo! Lembra? Eu preciso me achar! Preciso sair daqui, preciso ficar sozinha, ! Eu não mereço esta vida, não mereço tocar naquele festival e não mereço você!
— Do que você está falando, )?
— Estou falando que vou me mudar pra Londres! Meu novo disco vai ser produzido lá e eu preciso me concentrar nisso, porque quero mostrar uma nova versão de mim! Quero me achar e entregar a versão verdadeira de mim aos meus fãs! E eu não vou conseguir fazer isso aqui! Não vou conseguir me remontar em um país onde tudo me traz lembranças de um passado que só me machucou e me faz machucar você!
Eu não tinha o que fazer, sabia que nada do que eu falasse a faria ficar. Mas aquilo estava me quebrando. Não a queria longe de mim, eu a amava muito.
— E você vai fazer o que para se recompor e se achar? Compor? Porque você compôs aqui a sua vida toda e nunca ajudou pelo visto!
Eu estava no modo automático de defesa que meu cérebro ativava quando estava magoado.
— Vou seguir seu conselho de anos e fazer terapia, algo que eu já deveria ter feito há muito tempo!
— E para isso você precisa se mudar para Londres?
— Eu já esperava que você não fosse entender e me atacar!
Ela se levantou e automaticamente eu também.
— Eu amo você, , como você espera que eu reaja?
— Me perdoa por sempre tentar fugir, de ti e de nós. É que você sabe, meu forte é dar errado, e eu não quero te enterrar debaixo dos escombros quando eu estiver desmoronando. Talvez de fato eu acredite em nós, mas eu não acredito em mim. Te amo tanto que suporto ir só pra não te cortar com meus cacos. Desculpa ser inteiramente quebrada, você não merece uma pessoa em pedaços.
Sua mão acariciou demoradamente a minha bochecha e eu fechei meus olhos, sentindo seu toque suave pela última vez. Quando abri meus olhos, ela havia sumido.
“E quando penso que eu não quero nunca mais te ver, vem você, me aparece, cheia de querer. Chega e beija minha boca, faz um fuzuê. Vem e tira minha roupa toda para me ter. Ora fica, ora solta, ora vem me ver! Sei que cê não vale nada, mas só quero você.”
Terminei de tirar algumas fotos e atender alguns fãs e me senti bem por saber que o novo filme havia agradado quase todas as pessoas que me paravam na rua.
Era o meu terceiro protagonista em três anos, e eu me sentia bem e realizado. Toda aquela pressão que senti ao ganhar meu primeiro papel principal, não existia mais. Muitas coisas não existiam mais na minha vida nesses três anos, eu havia crescido e aprendido muito com toda a dor que senti ao perder a mulher que mais havia amado. Eu já não sentia mais aquela dor que estraçalhava o peito, mas ainda tinha muita raiva e rancor guardado.
Olhei o mar infinito e azul à minha frente, e senti um calafrio que me fez lembrar de ). Os tablóides haviam anunciado ontem que ela estava de volta ao país depois de três anos fora. Ela havia lançado dois álbuns e se preparava para o lançamento do terceiro. E eu havia ouvido os dois álbuns, é claro, procurando evidências para saber se eu ainda fazia parte de suas músicas, de sua vida. Acreditava ter encontrado algumas. Mas eu evitava procurar noticias dela ou ir em suas redes sociais. Já estava quebrado o suficiente. Lembrei da risada gostosa dela e fechei meus olhos. Eu ainda a amava e isso me matava!
— Te achei! Achei que nunca mais fosse te achar! Mas eu sabia que você tava aqui!
Não me dei ao trabalho de abrir meus olhos, não queria demonstrar nenhum tipo de reação ou sentimento. No fundo, eu sabia que iria encontrá-la algum dia, eu sempre soube.
— É claro que você sabia que eu tava aqui! Se esqueceu que há três anos foi aqui que você me deixou?
A ouvi respirar pesadamente e senti o cheiro de morango dos seus cabelos invadir minhas narinas. Fiquei tenso.
— Eu não sei se enlouqueci ou se foi você! Vou fingir que eu esqueci pra eu não te responder. — ela suspirou novamente ignorando completamente minha pergunta anterior — Ouvi dizer que o nosso fim ficou mal resolvido para você! Agora eu sei, enlouqueci junto com você, fingindo amizade só pra não esquecer! Talvez o universo queira nos falar que um pedaço de você não possa me largar. E nós dois somos estranhos e é estranho pensar, estranho até lembrar seu nome sem me culpar.
— Talvez seu pensamento venha pra curar a desculpa que você nunca soube me dar. Mas, desculpa, não preciso mais, nem tenho mais dor! — dei de ombros — Você foi meu mais difícil exemplo de amor!
— Talvez seja melhor que a gente nunca mais tenha se visto! Sua pele na minha pele, era certo, era arrepio. A vontade não passava mesmo quando acabou! Não foi por isso que a gente terminou...
Eu encarei ali, com uma jaqueta cobrindo os ombros — mas sem estar vestida com ela — o chapéu de palha na cabeça, uma das mãos segurando o mesmo para que ele não voasse com o vento. A blusa branca cobria o biquíni da mesma cor que estava por baixo e o short jeans de cintura alta. Eu tinha a impressão de que ela não havia mudado nada nesses três anos, mas havia mudado sim. Estava mais encorpada, mais voluptuosa, e o cabelo agora estava na altura do maxilar, bem mais curto do que ela costumava usar — na altura do ombro — e ainda mais linda. Me amaldiçoei por ter pensado aquilo.
— E é por isso que eu lembro. Até quando? — questionei mais para mim mesmo do que para .
Meus olhos marejaram e eu fiz questão que ela percebesse. Eu estava com raiva e magoado!
— É quando o seu pensamento continua me atraindo pra você e o meu pensamento continua me traindo sem querer. É, até quando? — ela retrucou se aproximando de mim.
Eu estava com raiva, precisava dizer coisas que ensaiei durante meses. Mas fui surpreendido pelos braços dela envolvendo meu pescoço e a boca dela invadindo a minha, com pressa, quase desesperada. A língua dela invadiu a minha boca. Apertei sua cintura com força enquanto sentia o corpo miúdo dela se chocar contra o meu. Suas mãos agarraram meus cabelos perto da nuca e ela puxava com certa força me deixando excitado. Nossas línguas dançavam uma com a outra, como se disputassem quem teria o controle um do outro. Não sei ao certo quanto tempo nós ficamos nesta incrível disputa de poder, até que eu recobrei minha consciência e a afastei de mim, virando-me de costas, ofegante pelo tesão que eu ainda sentia por ela, pela intensidade do beijo e pela raiva que sentia de mim mesmo. Baguncei meus cabelos, ainda de costas, assustado com a intensidade de tudo aquilo.
— Igual você não tem! Igual a nós, não tem!
— Me assusta o nosso beijo ser melhor agora! Só me ajuda e não me peça pra não ir embora! Você diz que igual a nós não tem, e me assusta! Me assusta! Era mais fácil quando era passado. E você usa a nossa história, e me beija e me diz que igual a mim não tem e me assusta, !
— Pra o a gente vai daqui? — ela me perguntou, enquanto eu caminhava pela praia.
— Não sei, nem sei se quero ir! — parei de andar, e me virei bruscamente dando de cara com ela que segurou meus braços — Você me olha como um recomeço... Como pode o tempo ter passado, e tudo estar perfeitamente igual? Você conhece cada canto meu. E nosso amor seria tão real, se eu fosse o mesmo de anos atrás! Mas você sabe que eu não sou!
— E te assusta, te assusta minha liberdade. E você se culpa, porque era linda nossa sintonia.
— Igual nunca vivi! — sussurrei na esperança de que ) não ouvisse.
— E me diz que igual nunca viveu, e te assusta! — ela acariciou meu rosto — Ninguém me conhece como você me conheceu! E hoje eu vejo como tudo faz sentido, ! Você não se lembra da gente? Não sente saudades? Porque eu senti todos os dias desses três anos!
— O que você acha, ? Ou é a ) que está me perguntando isso? Você era tão minha, do seu jeito, mas era minha! E eu era seu, eu sempre fui só seu!
— Eu sempre gostei do jeito que você dizia que eu sou sua e que você é meu. De como você fazia parecer que nada mais fazia sentido além de nós dois. De como você sempre fez parecer que eu tenho o encaixe perfeito pra você, feito uma fórmula química que tem todas as dosagens certas. Tudo sempre ficava vazio sem você, sem os seus carinhos. Tudo sempre perdia o sentido quando você ia, porque se eu sou uma bússola, você é o meu norte.Quando você se afasta, não tem pancada que me faça funcionar, não tem música que me alcance, não tem sorriso que seja verdadeiro.Tudo dói, lateja, queima. Como uma azia que nem antiácido faz passar. Eu sempre gostei de como você faz o meu sol nascer e se você fica comigo, não tem céu nublado que me faça chover. Você coloca os meus pontos nos is, minhas vírgulas nos lugares certos, o meu caos em ordem. Contigo eu sou voo, mas sem você sou queda livre.
— E você precisou de três anos para descobrir? — eu franzi a testa e cerrei meus punhos, com dor — Você me diz que ninguém te conhece como um dia eu te conheci, como pode o tempo ter passado e nós dois, de novo, vendo o mar? Você me diz que agora faz sentido? Eu poderia até considerar, se eu fosse o mesmo de anos atrás!
— Eu entendo! Eu vim preparada para isso! Vim preparada para te encontrar com raiva, com muita mágoa no peito e talvez diferente daquele de três anos atrás que eu deixei aqui.
Eu soltei todo o ar que estava preso em meus pulmões e senti minha cabeça rodar, até que ela voltou a falar.
— Esses dias eu não tenho dormido, fico acordada lembrando de como eu fui embora e de quando o seu aniversário passou e eu não te liguei! Então eu penso no verão, todas as lindas vezes que eu assisti você dando risada, no banco do passageiro e me dei conta que eu te amava, que eu sempre amei. Foi quando o medo invadiu a minha mente. Você me deu todo o seu amor e tudo que eu te dei foi um adeus! Então essa sou eu engolindo meu orgulho, em pé na sua frente dizendo que sinto muito por aquela tarde! Eu volto pra ela todo tempo! Acontece que a liberdade não se mostrou nada além de saudades suas desejando ter percebido o que eu tinha quando você era meu! Talvez isso seja apenas um pensamento bobo, provavelmente um sonho estúpido, — ela pausou — Mas se nós nos amássemos novamente, eu juro que te amaria direito. Eu voltaria no tempo e mudaria tudo, mas não posso! Então se a sua porta estiver trancada, eu vou entender!
Quanto tempo esperei para ouvir todas aquelas palavras caramba? Ela ia e voltava quando bem entendia, bagunçava toda a minha vida, ela me deixou a ver navios, me fez perder quilos e quilos, noites e noites de sono, sonhando em quando ela voltaria e SE voltaria, e se algum dia ela ia perceber que me amava, até que um dia eu desisti de ouvi-la dizer qualquer coisa a respeito do que eu realmente significava.
E ela achava que, agora, depois de tudo isso, ela poderia simplesmente voltar e fazer aquele fuzuê todo comigo? Pois ela estava certa, ela podia! Qual seriam as minhas chances de ouvir aquilo tudo de novo? Eu não a deixaria ir embora de novo, nunca mais.
— Eu amo você sabia, ? E amo a ) também! Eu tinha que escorraçar você daqui, da minha vida. Mas pra que? Pra me ser infeliz a vida toda? Não vou. Não vou deixar você ir embora nunca mais! — puxei-a para perto de mim pela cintura
E nós nos beijamos outra vez e eu caminhei com ela para o mar. Eu o queria como testemunha daquele momento.
A segurei em meus braços sentindo o gelado da água nos tocar e a mirei dentro dos olhos. Nada mais me importava agora.
— Não importa quanto vá durar, é infinito agora.
Fim!
Nota da autora: Oieee! Espero que tenham gostado! Qualquer coisa me chama no twitter que eu tenho mais de 20 fanfics no site! É @chaverronistan
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Nota da beta:
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