Fanfic finalizada.

Prólogo


"Tudo certo com a reserva para daqui duas semanas?"
Essa era a mensagem que piscava na tela quando a dona Rose olhou o celular. O contato se nomeava The Rose. Dona Rose olhou o caderno onde a neta fazia as anotações de reservas da casa que costumava alugar. O nome estava lá exatamente nas datas mencionadas.
— Querida, tudo certo com a reserva no nome de The Rose, não é? — ela perguntou alto à neta que lia um livro.
— Sim, vovó. Mandaram mensagem? — a mais nova perguntou distraída.
— Sim, está aqui no celular. — dona Rose balançou o aparelho.
— Pode confirmar. Já conversamos sobre o pagamento. — a garota comentou sem tirar os olhos do livro.
Então a dona Rose digitou as palavras que causariam a maior confusão dali duas semanas.
"Tudo certo."
E enviou.

Quinta-feira: Late night when I slide through

(POV: )

— Ei! ! — me cutucou com força no banco de trás. — Chegamos, Bela Adormecida.
Estiquei os braços, preguiçosa, e levantei meio zonza enquanto terminava de estacionar o carro, seguindo as coordenadas de , a co-piloto. Como eu não sabia dirigir, muito menos dar direções num mapa, minha função quando precisávamos fazer uma viagem de carro era apenas criar a playlist e dormir o percurso inteiro.
— Ótimo, a área externa é toda na grama. — foi irônica ao descer do carro e pôr os pés no chão. — Se a noiva quiser casar aqui fora, era uma vez a barra do vestido dela.
, e eu éramos sócias numa empresa de organização de casamentos, a The Rose, que se tornou um tanto quanto famosa de uns tempos para cá. O casamento que estávamos prestes a fechar era de uma moça de família rica da Califórnia, com muitas exigências e nenhum limite de gasto. O orçamento em aberto nos dava plena liberdade para procurar locais, fornecedores e todo o resto de nossa preferência, e aquele casarão no meio de Palm Springs parecia ser a escolha perfeita para realizar a festa e a cerimônia.
— A dona Rose não estava exagerando. — lembrei das palavras da proprietária da casa, uma senhorinha que nos alugou o lugar por quatro dias para que pudéssemos planejar tudo. — Esse lugar é perfeito, vai ficar muito lindo aqui.
mal chegou e já está visualizando os arranjos dela. — riu de mim, abrindo o porta-mala, e todas nós começamos a tirar nossas coisas.
— Estou pensando em flores amarelas. Uma vibe bem praiana. — divaguei. Eu era florista e responsável pela decoração, era estilista e fazia os vestidos mais lindos do mercado, enquanto era dona de uma bela voz que derretia os corações e que assustava os subordinados, porque além de cantora, ela era cerimonialista e organizava tudo com rigor quase militar.
Nossa dinâmica funcionava perfeitamente. Éramos o tipo de amigas que completavam as frases uma da outra, que liam os pensamentos. Estávamos sempre alinhadas quanto ao trabalho e, naquele resto de dia, não foi diferente. Estudamos as áreas da casa, fizemos esboços, tiramos fotos, enfim, realizamos a primeira leitura do lugar, já visualizando toda a festa. Depois da chuva de ideias, minha cabeça acelerada pedia por algo que não tivesse absolutamente nada a ver com flores e casamento, então um banho seguido de um filme de terror na TV do quarto em que eu me instalei foi a escolha.
O cansaço do dia, no entanto, foi mais forte que a minha vontade de descobrir o final do filme e eu cochilei profundamente, acordando com o barulho da televisão que, àquela hora, transmitia um programa sensacionalista de televangelismo, com um pastor expulsando um demônio opressor sei lá de quem. Desliguei a TV, arrependida das minhas escolhas antes de dormir, e cogitei pedir abrigo para ou no quarto de alguma delas, mas, antes que eu saísse das cobertas, alguém entrou no meu quarto e eu achei que fosse uma das duas.
Só que a silhueta era alta demais para ser a . Com ombros largos demais para ser a . Quer fosse um espírito, uma alucinação ou um ladrão, com certeza a figura era de um homem grande e musculoso. Me ajoelhei na cama, me preparando para sair correndo do fantasma que invadiu o quarto e aproveitando a penumbra para me mover sem ser vista, até que uma voz carregada de sotaque ecoou:
— Onde que fica a luz?
Meu Deus. Era uma alma. Uma alma perdida atrás da luz.
— Ah, aqui. — ouvi o barulho do interruptor acendendo a lâmpada e iluminando o quarto.
E aí eu gritei por um minuto inteirinho. E o homem gritou de volta.
— Quem é você? — ele perguntou, branco feito um papel, e eu fiquei de pé em cima do colchão segurando o objeto mais letal ao meu alcance: um travesseiro. — O que você tá fazendo aqui?
— Quem é você e o que você tá fazendo aqui? — devolvi, sentindo um frio na espinha.
— Já sei. — ele recuperou um pouco da cor e ameaçou sorrir. — Você é uma black hoe?
Hoe? Ele me chamou de vadia?
Hoe é a senhora sua mãe! — sacudi o travesseiro, tentando ser intimidadora. — Me deixa sair ou eu vou chamar a polícia!
— Polícia? — ele embranqueceu novamente. E eu estava começando a achar que aquela era a cor dele mesmo. — Moça, eu não sei o que está havendo aqui, mas-
Ele avançou alguns passos e minha resposta foi instintiva. Fechei o punho e, com toda força que consegui reunir naquele momento de desespero e adrenalina, acertei um soco em cheio na maçã do rosto dele.
Não fiquei para saber o que ele fez em seguida, apenas aproveitei que ele tapou o rosto com duas mãos enormes e venosas e saí correndo em disparada para o andar de baixo, descendo as escadas quase a ponto de causar um engavetamento. Ouvi os passos dele me seguirem, falando numa língua estranha, e cheguei à sala de estar me sentindo uma idiota por não ter trazido meu celular para ligar para algum socorro. Fiquei ali, petrificada, e o homem surgiu na minha frente outra vez.
— Moça, por favor, deve ter havido algum mal-entendido, mas você precisa se controlar. — ele pediu, segurando o próprio rosto com uma mão e erguendo a outra à altura do peito, demonstrando passividade.
— Não chega perto! — procurei outro objeto para me defender, arrancando um vaso de vidro de cima de uma mesinha de canto.
— Tudo bem, tudo bem! — ele gesticulou, pedindo calma. — Eu não vou me mexer, ok? Agora coloca isso de volta no lugar devagar, você pode acabar se machucando.
Eu? A cara dele estava quase caindo e ele estava preocupado que eu acabasse me machucando?
— Quem é você, hein? — insisti. — Por que você apareceu no meu quarto do nada me chamando de vadia?
— O quê? — ele soltou o rosto machucado e uma mistura de vermelho, roxo e um pouquinho de sangue apareceu. — Eu não chamei você de vadia!
— Você perguntou se eu era uma black hoe. — relembrei, baixinho, assustada com o que eu mesma tinha feito na cara dele. — O que é isso? Algum código pra prostitua de luxo, é? Tá achando que eu sou o quê? — voltei a gritar.
— Não! Meu inglês é meio enrolado, mas não foi nada disso, eu juro! — ele suspirou pesadamente e o peitoral ficou todo marcado na regata preta. — Eu perguntei se você era uma black rose. — ele corrigiu.
— E o que diabos é uma black rose? — dessa vez fui eu quem avançou um passo.
— É como nós chamamos os nossos fãs.— ele explicou, aproximando-se timidamente para tirar o abajur das minhas mãos. — Nós somos uma banda.
N-nós?
Tinha mais alguém na casa?

(POV: )


Eu queria ter dormido cedo. Juro que queria. Tentei, mas aquela não era a minha casa e muito menos a minha cama. Coloquei os headphones e botei a música para relaxar no volume mais alto possível. Precisava descansar, nossos quatro dias seriam cheios. Fechei os olhos com força. Eu ia dormir.
— Caramba, cérebro, relaxa um pouco, cara. Eu preciso dormir. — murmurei para ninguém. Então minha barriga roncou. — Ótimo, agora tô com fome.
Suspirando, levantei da minha cama, mudei a música para minha playlist favorita, peguei meu chá para dormir na bolsa e desci, ainda com a música ecoando alto nos meus ouvidos. Coloquei água para ferver e fui procurar algum biscoito entre as comidas que tínhamos trazido.
And you need to know, you're the only one, alright, alright (yeah). And you need to know, that you keep me up all night, all night (yeah). — comecei a cantarolar. Aquela era uma música que eu realmente gostava.
— Bela voz. — uma mão tirou meu fone do meu ouvido e uma voz masculina murmurou. Pulei para longe e agarrei a faca que estava largada na bancada.
— Não se aproxima. — ameacei sem gritar. — Eu sei usar a faca. Não duvide.
— Calma, gatinha. — o homem sorriu. Então reparei direito que percebi que ele estava enrolado na minha toalha. Minha preciosa toalha preta felpuda. E ele vestia só ela e nada mais.
— Por que você tá com a minha toalha? Aliás, quem é você e o que você tá fazendo aqui? — perguntei ainda com a faca em mãos.
— O que tem pro lanche? — ele ignorou minhas perguntas e se aproximou da bancada, batucando os dedos da mão livre que não segurava a toalha.
— Cara, é sério. Se você for um ladrão, leve o que quiser e vá embora. Não me obrigue a usar a faca. - ameacei.
— Essa faca nem tem ponta. — ele riu. — Temos que lembrar de agradecer à dona pela recepção, apesar de você ser um pouco arisca.
Temos? Ou ele é louco e fala de si em terceira pessoa, ou… tem mais gente na casa?

(POV: )

— Merda! — levei as mãos à cintura ao olhar em volta e não encontrar meu portfólio pelo quarto. Eu só podia ter deixado na varanda no andar de baixo.
E que preguiça de descer!
Mantive Taylor Swift e sua poesia em meus ouvidos, num volume que só me trazia paz, e desci, estranhando que a casa estivesse um pouco mais acesa do que o normal, mas não me aprofundei a descobrir o que e pudessem estar fazendo na cozinha àquela hora da madrugada, então sai pelos fundos.
A brisa noturna me gerou um sorriso genuíno logo que estive do lado de fora, mas também um leve calafrio me arrepiou a pele e eu fechei mais o robe em meu corpo. Agradeci mentalmente por não ter usado a varanda do lado oposto da casa que ficava a piscina enorme, assim não corria o risco das minhas folhas voarem para a água e ir, literalmente, tudo por água abaixo. Às vezes, somente às vezes, ser metódica era de bom tom.
Depois da canseira que foi o dia, o meu cérebro estava frito demais para pensar em qualquer coisa — embora eu estivesse atrás dos meus croquis porque havia surgido uma ideia nova.
Assim que fiz a volta estranhei o corpo quase seminu de costas para mim e de frente com a mesa, parecendo desesperado demais. Meu olfato não demorou a reconhecer o cheiro da nicotina sendo soprada ao ar e meu peito inflou em ódio, mas quanto mais perto eu fui chegando e me dando conta do que estava acontecendo, isso se transcendeu para algo inominável.
Havia um intruso sem camisa.
Havia um intruso sem camisa e fumando.
Havia um intruso sem camisa e fumando em cima dos meus croquis.
Havia um intruso sem camisa e fumando em cima dos meus croquis, que agora estavam manchados de cinzas com um pequeno cinzeiro debruçado em cima de algumas das folhas. Folhas estas que só poderiam ter sido tiradas da pasta por um curioso, porque eu jamais as deixaria em qualquer situação de vulnerabilidade.
— Que merda você pensa que está fazendo? — berrei já ao lado dele, fazendo-o se assustar e derrubar o cigarro que estava entre seus lábios.
Aish! — disse em um idioma que eu não reconheci. A julgar por seu rosto, seria alguma coisa em coreano ou japonês.
No instante que ele foi pegar o cigarro, eu fui mais rápida, o fazendo e jogando no chão para ser pisoteado com força. Sempre odiei cigarros!
— Ei, eu ainda ia terminar ele! — ele reclamou e eu ignorei, me colocando entre seu corpo e a mesa, o empurrando com toda a força do meu ódio.
O estrago em meus croquis havia sido enorme. Se não bastasse o tanto de cinzas — que, sendo bem honesta, não tinha sentido terem vindo de uma pessoa só ou ele era simplesmente uma churrasqueira humana — agora tinham pontos de queimado pelo cigarro assassino que caiu ali ainda aceso.
— Eu não acredito! — reclamei manhosa, tomando as folhas em mãos. — Eu não acredito! — repeti, era no mínimo uns cinco croquis de noivas com casamento marcado que estavam destruídos.
Me virei agressiva, chocando meu peito contra o dele, mal me importando pelo fato de ele ser tão lento a ponto de não ter se afastado.
— Você tem ideia do que fez? — bati com as folhas no peito dele e recebi sua careta. — Isso aqui vai levar tempo para ser refeito e eu não salvei nenhum ainda! Qual o seu problema?
— Qual o seu problema? São só desenhos! — retrucou massageando o peito descamisado.
— São croquis! Esses desenhos valem dezenas de milhares de dólares. É o meu trabalho! O que você, pelo jeito — o julguei com o olhar. —, não deve saber o que é.
— Não, calma aí, moça. — ele finalmente se afastou, a voz saindo rasgada, num tom rouco. — Eu também trabalho.
— Ah, ótimo. Então vai poder pagar pelo estrago que fez. — me virei de volta para a mesa, apoiando os braços e respirando fundo. Então, me dei conta e mais uma vez virei para ele, ainda mais agressiva (pude notar pelo seu susto e o passo que deu para trás). — Quem é você? É caseiro? Dona Rose não mencionou nada sobre ter um caseiro na propriedade!
Ele mudou a feição para ultraje.
— Dona Rose? — riu. — Já vi todo tipo de desculpa para as Black Roses, mas essa é a primeira. Ser agressiva assim até me fez pensar que você é uma ótima atriz. Tudo isso por um autógrafo? Ou quer algo mais?
Arqueei a sobrancelha, tentando encontrar qualquer sentido. Ele pareceu entender.
— Ah, merda. — levou as mãos à cintura. — O carro preto é seu, certo? — assenti. — Então acho que temos um problema.
— Um? Eu já contei mais do que dois!
A boca dele se abriu em O e ele diminuiu o tom, sendo todo humorado ao dizer mais perto:
— Pode me dizer quais? Eu só pensei em um até agora. Ou… Eu estar sem camisa também é difícil pra você? — me olhou de baixo a cima e eu não resisti, acertando-lhe o rosto com o rolo que eu fiz das folhas. — Ouch! Sua maluca!
— Eu sou a maluca? Você invade a propriedade que alugamos e vem com esse papo todo cheio de flerte pra cima de mim? Seu tarado! — bati mais algumas vezes com o rolo nele, na quarta vez que fui lhe acertar o peito, tive meu punho segurado sem muita força.
— Não gosto de estar desse lado da moeda, senhorita. Mas tenho certeza de que existe uma bela explicação, porque nós também alugamos essa residência!
— Nós? Tem mais de onde veio você? — respondi com desgosto.
— Você pode ficar feliz. Não precisa fingir que achou péssimo um homem como eu aparecer no meio da madrugada para trazer mais animação à sua insônia.
O encarei entediada e ele lentamente me soltou, parecendo hesitante, mas eu fiz o meu melhor, como ele mesmo disse, sendo “uma ótima atriz”, e quando tive sua confiança de que estava mais calma lhe acertei mais forte com o papel.
— Você é ridículo! O que te faz pensar que eu estou fingindo? — acertei outra e mais outra vez. — Além de tarado é presunçoso!
— Ai, você é forte! — ele tentava se esquivar e conseguiu me segurar novamente, mas quando eu fui reclamar, ouvimos vozes misturadas:
?
— Sammy?
?
— Woosung!? — um rosto surgiu na curva da casa, lugar que eu vim, apagando a lanterna do celular. Nós dois o encaramos e logo atrás do desconhecido (para mim) surgiram e , com mais um homem seminu, enrolado na toalha de . — Vocês já se deram bem, assim?
— O que? — dissemos juntos e então notamos nossa proximidade e ele ainda me segurando, agora nos dois punhos.
Ao nos olharmos de novo, ele com o sorriso presunçoso e eu soltando fogo pelas ventas, me forcei ao afastamento.
, temos um problema. — , abraçada ao próprio corpo, me alertou.
— Não me diga… — fui mal humorada, olhando para os croquis.

Sexta-feira: Can leave you when it’s time to

(POV: )

Já passava das duas da manhã. A sala agora parecia um cenário de novela mexicana: três rapazes, três moças e muitas coisas a serem esclarecidas. Eram hóspedes demais e respostas de menos.
— Tá certo, dona Rose. — falou ao telefone, exasperada. — Então a gente vai se ajeitar por aqui. Obrigada. — e desligou.
— E aí? O que aconteceu? — perguntei.
— A casa está, de fato, alugada no nome de The Rose. — começou.
— Mas nós somos The Rose. — apontou para si mesma, em seguida, para mim e .
— Nós também somos The Rose. — um deles, que cheirava a cigarro, rebateu, indicando os outros dois.
— Exatamente. — prosseguiu. — Nós falamos com a neta dela, e vocês falaram com a própria dona Rose. Como demos a coincidência incrível de alugar no mesmo nome, elas acabaram confirmando ambas as locações. E aqui estamos.
— E não vamos sair. — se adiantou. — Temos que estudar o lugar para um casamento, não podemos comprometer nosso trabalho.
— E nós precisamos ensaiar. — a maria-fumaça rebateu. — Nossa banda se apresenta no Coachella domingo.
— Coachella?! — exclamei. — Vocês são famosos mesmo! Um power trio, tipo Jonas Brothers ou os Hanson coreanos?
— Na verdade, somos um quarteto. — o fantasma que invadiu meu quarto explicou. — Nosso tecladista, Dojoon, está cumprindo uma agenda individual e vai nos encontrar domingo. Eu sou o Jaehyeong, baixista.
— Woosung, guitarra e vocal. — o que cheirava a cigarro se apresentou e tossiu quando ele se mexeu.
— Hajoon, baterista. — o terceiro avisou, embora não precisasse. A mania dele de batucar nas coisas já havia entregado a função dele na banda. E já estava irritando , que rolou os olhos.
Ficamos de queixo caído com as revelações e, de repente, minha espinha esfriou novamente. Não mais pelo susto da confusão já desfeita, mas pelo rapaz que sorria docemente apesar da marca do meu punho no rosto afilado. O cara era um artista internacional e eu acertei, sem motivo algum (eu sabia agora), um soco na fuça alheia. E a tal fuça era tão bonita que eu me arrependi amargamente de tê-la machucado.
— Agora que já está tudo resolvido e que, felizmente, tem lugar pra todo mundo, acho que podemos nos dividir entre o andar de cima e o de baixo. — propôs, prática.
— Eu acho válido. Não quero ter um ataque de asma. — coçou o nariz. — Onde vocês preferem ficar? — ela perguntou aos “intrusos”.
— Onde eu possa fumar. — Woosung deu de ombros, desistindo do cigarro que estava prestes a acender.
— Então lá na Coreia. — alfinetou.
— Por mim, tanto faz. Eu não me importo de dividir a cama, ainda mais se houver alguém que cante para eu dormir... — Hajoon anunciou, olhando de cima a baixo. — Jae, pra onde você quer ir?
— Sinceramente? Pro hospital. — ele sorriu e fez uma expressão de dor ao mesmo tempo.
— Ai, meu Deus! — me desesperei e fui até ele, tomando-o pelas mãos que eram quase o dobro das minhas. — Por favor, me desculpa! Eu vou cuidar disso, vem aqui. — puxei ele de canto.
Jaehyeong resistiu um pouco ao meu toque, retraindo-se, mas a culpa me fez insistir e ele me seguiu de volta até o meu quarto, desconfiado, talvez com medo de que eu desferisse outro golpe certeiro.
— Sabe, foi a primeira vez que eu soquei alguém na cara. Eu juro que não sou maluca, mas olha só o meu tamanho e o seu! — coloquei a mão em cima da minha cabeça, medindo a minha altura, que batia no peito dele. — Eu não esperava acertar, me desculpa.
— Tudo bem. — ele entrou no quarto atrás de mim. — Tenho certeza que as maquiadoras da nossa equipe vão conseguir cobrir isso se não sarar até domingo.
— É a primeira vez de vocês no festival? — procurei pela minha caixa de primeiros socorros.
— Sim. — ele sentou-se na beirada da cama. E continuava alto.
— E graças a mim você vai aparecer diante de milhares de pessoas com a cara arrebentada.
— Desde que nada aconteça com essas duas, eu vou ficar bem. — ele cruzou as mãos na frente do corpo.
As mãos eram uma puta distração. Mais que uma distração, um problema em potencial. Como todo o resto sobre Jaehyeong, as mãos eram grandes, brancas e encantadoras. Era difícil não ficar encarando as veias aparentes e as pontinhas vermelhas e achatadas dos dedos, resultado de anos de dedicação ao instrumento. Era mais difícil ainda ignorar a sugestão que meu cérebro me fez ao imaginar aquele homem dedilhando por um baixo… ou por mim
— Uau! — ele analisou meu kit médico, me acordando. — Você anda com tudo isso aí?
— Eu trabalho com noivas, preciso estar sempre preparada. — dei de ombros, umedecendo um algodão com água oxigenada para começar a limpeza. — Além do mais, eu sou a … Uma catástrofe ambulante.
— Bonito o seu nome. — ele sorriu suave. — Você não tinha dito ainda.
— Bom, eu estava ocupada arrancando a sua maçã do rosto, meio que não deu tempo. — limpei ao redor do ferimento e ele sugou o ar entre os dentes, baixinho.
— Ai!
Jaehyeong segurou meu pulso num movimento tão delicado que meu corpo entendeu como um carinho. E tanto eu quanto meu corpo gostamos muito daquele toque. Era fresco, novo, tinha eletricidade... Mas, apesar de se manter humilde a ponto de aceitar meus cuidados ou não me processar por agressão, Jae ainda era um cara famoso com quem seria impossível eu me envolver. Se um simples encostar de pele já tinha me causado um arrepio e me deixado tão suscetível, era melhor eu me manter bem longe dele naqueles três dias.
Três dias. Na mesma casa.
Não ia ser nada fácil.


(POV: )


Geralmente o meu relógio biológico é bem pontual, mas desta vez ele foi um pouco preguiçoso, haja visto o horário que eu havia ido dormir. Na verdade, mal consegui manter os olhos fechados por muito tempo por ter ficado preocupada demais com os croquis que eu teria que refazer. Se eu dormi mais de quatro horas foi muito — e devo me lembrar que já era mais de três da manhã quando, por fim, decidimos quem ficaria com qual andar.
Abençoado era Woosung — para não dizer outra coisa.
Levantei meia hora atrasada do meu horário comum, mas acabei conseguindo dar conta e faltava cinco minutos para às sete quando eu terminei de colocar meu top e a camiseta de proteção UV por cima, animada em ir caminhando para o mercado. No meio do caminho, na estrada, havia uma trilha rápida para uma cachoeira bem escondida e eu aproveitaria também, claro.
Não demorei a descer, contudo, quando cheguei do lado de fora e vi o sol que estava aquecendo o couro cabeludo de qualquer um, desisti de caminhar. Seria um percurso de cinquenta minutos nos dois trajetos e na volta eu estaria com sacolas, então seria melhor ir de carro mesmo. Peguei a chave do meu Audi e um café da máquina, logo indo para onde os veículos estavam estacionados.
A princípio achei que não iria conseguir sair, só que a preguiça de envolver qualquer um que fosse do outro The Rose me fez ser menos manhosa e entrar logo no carro. Engatei a ré, mas me dei o luxo de bocejar uma última vez e foi um bocejo tão profundo que meus olhos lacrimejaram como se eu estivesse em um choro compulsivo. No exato instante que minha boca se fechou e eu fui pisar no acelerador, a porta do carro abriu e eu me assustei, berrando no ouvido de quem é que fosse.
Shhhh! — Woosung resmungou, sentando-se folgado no banco, com um indicador em frente aos lábios. Junto com ele veio um cheiro forte de banho e loção pós barba, misturados com o perfume cítrico que ele usava. — Por que sempre tão escandalosa?
— Por que sempre tão invasor? É uma especialidade de vocês? — me indignei e ele virou o rosto para mim. Os olhos inchados de quem mal tinha acordado.
Às sete da manhã não era de se esperar que ele, justamente ele, estivesse totalmente desperto.
— Já não foi resolvido esse problema? — disse, arqueando uma sobrancelha.
Respirei fundo, relaxando o corpo.
— O que você quer? É sonâmbulo por acaso? — encarei ele incisiva. — O que faz invadindo meu carro às sete da manhã?
— Vou no mercado também. Ouvi você falando para alguém que estava indo.
— Você? — soprei um riso. — Você é do tipo que faz mercado? — ele ficou me encarando sério e eu me senti incomodada, como vinha sendo. — Você não deveria sair assim sozinho, não? Pessoas famosas precisam de segurança... Você não precisa de uma babá para andar junto para cima e para baixo?
— Por um acaso você está me enxergando grudado com alguém, ? — ele bocejou impaciente. — Só, por favor, vamos ao mercado.
Desta vez eu arqueei a sobrancelha.
— Acabou o cigarro? — Woosung assentiu. Decidi ser um pouco "malvada". — Se está tão mal humorado assim, por que não manda alguém ir para você? Você pode simplesmente mandar qualquer um fazer isso. Mas prefere me tirar a paz logo cedo.
Ainda me encarando totalmente impassível, Woosung tirou um cartão da traseira de seu celular e me estendeu.
— Eu quero um Parliament. E um Iced Americano seria bom também.
Ri em ultraje.
— O quê? — puxei o freio de mão, soltando o freio com o pé, para evitar qualquer problema com o barranco.
— Ué, você falou que eu podia mandar qualquer um.
— Sim! Qualquer um que trabalhe pra você! Não eu. — minha voz aumentou e muito de volume. — Sério, desce. Pegue um carro e vá sozinho.
— Por favor, . Minha cabeça está explodindo, eu até aturo você e sua voz de cantora de ópera falando aos berros. Mas me deixa ir junto. Ninguém acordou ainda e eu não preciso de babá. Posso comprar meu próprio cigarro.
Apesar do tamanho e a provável idade na casa dos trinta anos, Woosung uniu as sobrancelhas com uma chantagem emocional de quem estava realmente implorando. Até as mãos ele uniu em direção ao peito. Isso me fez "amolecer".
— Prefiro você sem cigarro. — murmurei, me virando para frente e derrotada, voltando a engatar a ré novamente. — Sem o cheiro de nicotina consigo sentir seu cheiro de banho.
— Posso resolver esse problema pra você de outra forma e continuar fumando, .
Eu poderia explicar o que estava querendo dizer, que meu comentário tinha a ver com o fato de que: sem cheiro de cigarro, sem aparência de quem não tomava banho, porém, preferi me abster. Notei como me expressei errado.
Ou nem tão errado também, até porque realmente o cheiro de banho dele estava muito bom.
O caminho até o mercado foi tranquilo e totalmente em silêncio; Woosung me surpreendeu quando sequer abriu a boca para falar um A, tanto é que houve um momento no qual eu pensei que ele estava dormindo ou morto. Entretanto, na volta, ele parecia outra pessoa. Afinal, havia comprado seu cigarro.
A noiva tinha escolhido a casa numa zona mais afastada do grande centro da cidade, então tudo o que precisávamos teria de ser comprado direto no meio de Palm Springs, mas não era de difícil acesso. Quando eu já estava no retorno, voltando tranquila pela estrada vazia, deixei que minha playlist tocasse mais alto para funcionar como uma parede entre eu e ele. A implicância era real, palpável demais.
Até Taylor Swift tocar.
Até Taylor Swift tocar Enchanted.
Até Taylor Swift tocar Enchanted e ele cantar.
A voz de Woosung imediatamente mexeu dentro de mim em um lugar que não podia. Que não era de fácil acesso. Contudo, todavia, entretanto, o tom ríspido, a voz rouca afinada saindo fácil enquanto ele estava com a cabeça encostada no vidro… Não teve como eu escapar.
Não sei se houve algum momento na vida que isso já foi mencionado, mas acho que é seguro dizer que isso me afetou tão intimamente que a vontade gerada dentro de mim foi de fazer sexo com a voz dele.
Ou fosse só a culpa da ovulação. Eu sempre poderia colocar a culpa nos hormônios.
Levei um susto quando o painel do carro começou a apitar ao mostrar uma luz que eu não sabia qual era. O carro era novo, ainda estava aprendendo sobre ele. E com o susto, eu me desconcentrei, pois fiquei com medo dos meus pensamentos terem saído altos demais e ele ter escutado.
— Ei! Cuidado! — ele ralhou no instante que eu fiz um leve zig-zag na pista.
— Desculpa. O painel acendeu uma luz e eu me assustei. — pigarreei, indo para o acostamento. — hor parar.
Sim, era melhor. Eu precisava tirar essa ideia maluca da cabeça.
— Já estávamos chegando, maluca. — ele tentou ver o painel, se esticando e trazendo perto de mim o cheiro de mais cedo, agora misturado com um aroma bem leve do único cigarro que fumou enquanto me esperava comprar o que eu precisava. Diferente de antes, isso teve um efeito contrário em mim.
— Sai de perto. Você está cheirando a cigarro! — tossi, empurrando ele pelo ombro.
Desliguei o carro e esperei três segundos antes de girar a chave outra vez, ficando desesperada por nada funcionar, nem mesmo a luz do painel.
— Ah, merda! — reclamei.
— Eu disse que deveria ter seguido. — ele respirou fundo, esticando o pescoço. — Deve ser a bateria que precisa trocar. Ou você não carregou o suficiente. É uma SUV elétrica, você não sabe?
Me virei com o olhar semicerrado para ele.
— O carro é meu, é claro que eu sei disso!— revirei os olhos. — Ao invés de tentar tirar a minha paciência, liga para um dos seus amigos e pede ajuda.
— E você não tem telefone para isso? — ele arqueou as sobrancelhas. — Está pedindo a minha ajuda? Nossa, mas e se eu não estivesse aqui, ?
— Deixei meu telefone na casa. — assumi, respirando fundo. Ao ver que eu não estava sendo reativa, ele se encolheu no banco e eu estranhei. — Por que não está ligando?
— Eu também deixei o celular na casa. — a voz dele saiu baixinha e seus lábios se moveram em um bico.
Não respondi, não disse absolutamente nada, apenas o encarei esperando que me dissesse que era alguma pegadinha. Ao ver que isso não aconteceria, encostei a cabeça no volante, tendo uma crise histérica em silêncio.
Já estávamos chegando às nove da manhã, numa primavera em Palm Springs, a temperatura já deveria estar alta do lado de fora e dali a poucos minutos o carro não estaria mais tão refrescante por causa do ar condicionado. Dois seres humanos respirando no mesmo lugar acabaria com o frescor e em algum momento ia ser necessário abrir as janelas, até mesmo sair do carro.
Se eu não tivesse me distraído com Woosung e sua voz deliciosa cantando uma das minhas músicas favoritas da minha cantora predileta, eu teria chegado a tempo em casa, não teria diminuído a velocidade. Mas se ele não estivesse junto, talvez eu estaria em pânico agora.
Não que eu não esteja também, porque o calor já me atingiu antes mesmo de eu parar o carro.
Olhei ao meu redor e notei que estava bem diante de uma pequena trilha já conhecida por mim (lugar que eu e meu pai íamos muito quando eu era mais jovem) e tirei o cinto de segurança, pegando o controle do alarme do carro ao abrir a porta.
— O que você vai fazer? — Woosung me perguntou, mas eu continuei.
— Está muito quente e pelo jeito vamos ter que ir andando atrás de ajuda, então vou aproveitar a cachoeira.
— E me deixar sozinho aqui? E que cachoeira?
— Ué, nasceu grudado comigo? — devolvi, batendo a porta do carro ao sair.
Passei as mãos no rosto e respirei fundo, tentando controlar minha respiração. Maldita ovulação.
Me assustei com a porta batendo do outro lado, o cheiro de cigarro logo se fazendo presente. Virei e vi Woosung sem camiseta e com os braços apoiados no teto do carro, com um cigarro recém-aceso nos lábios.
— Achei que você fosse careta. — ele tragou me encarando. — Mas mesmo que não seja, não vou te deixar se enfiar sozinha no meio desse mato alto pra apagar esse calor todo aí. — gesticulou apontando meu corpo e tragou outra vez virando o rosto para não soltar a fumaça em mim.
— Que seja. Mas eu não sou sua babá. Não me responsabilizarei se te acontecer alguma coisa.
Não esperei por ele, aproveitei que a estrada estava vazia e cruzei para o outro lado, entrando no meio das árvores não totalmente secas. Não olharia para trás, até mesmo porque o cheiro denunciava que ele me seguia.
Era uma trilha um pouco longa, mas valia a pena pelo o que eu bem me lembrava, a cachoeira ficava muito bem escondida e, se nada havia mudado, dificilmente era frequentada porque os turistas só se importavam com os pontos mais famosos de Palm Springs. Considerando o final de semana de Coachella, ninguém estaria preocupado com o lugar.
A caminhada já tinha cerca de dez minutos e eu não aguentei, tirando minha camiseta, numa breve pausa que me permitiu ver Woosung já estar com o tronco nu. O suor deixando a pele bem refletida do sol e as tatuagens, que eu vi na noite anterior, agora me dando um novo ponto de vista.
E minha mente traiçoeira trabalhando na memória da voz dele nos meus ouvidos. Senti como se ele tivesse me tocado ao cantar Taylor Swift no meu carro sem ao menos que sua mão encontrasse o caminho entre minhas pernas.
Talvez eu não devesse me sentir envergonhada por isso, apenas orgulhosa por saber reconhecer homens gostosos.
No instante que eu vi a cachoeira, meu corpo relaxou. A água fria poderia me voltar com os pés no chão.
— Ah, que maravilha! — festejei ao ver a enorme pedra pouco antes da água, onde eu poderia colocar minha roupa.
— Uau. — escutei ele dizer mesmerizado. A respiração entrecortada. — Como você conhece esse lugar?
— Meu pai. Ele andou por muitos lugares nesse país. — respondi indo até a água e me abaixei para verificar a temperatura. Estava gelada como eu queria. — Ótimo.
— Você vai entrar? — ele questionou e eu me virei, vendo-o parado com uma mão na cintura e a outra segurando mais um cigarro aceso.
Se Woosung era ágil assim para acender seus cigarros sem eu sequer notar, quais outras habilidades ele poderia ter?
O encarei por inteiro sem qualquer discrição.
— Vou. — comecei a caminhar em sua direção. — Está muito calor.
Ele deu um passo para trás quando fiquei mais perto e eu dei um para frente.
— O que você está fazendo? Estou tentando ficar longe de você quando fumo. — disse em um tom de voz neutro.
— Não fique.
Quando pensei, já havia respondido e estava tirando o cigarro de sua mão, sentindo o choque que deu ao tocar em sua pele. Traguei sem desgrudar o meu olhar do dele.
— Mas você não tem asma? — ele arregalou os olhos.
Dei de ombros, soltando a fumaça no espaço entre nós e jogando o restante do cigarro no chão para pisotear nele.
— É uma história triste. — comecei casualmente, tirando a camiseta com mangas compridas. — Mãe fumante. Câncer. Morte. — encurtei, tirando o shorts em seguida. — Peguei aversão quando já estava nos meus dezoito anos, eu fumava também. Agora tenho asma.
— Como você espera que eu ache isso triste enquanto me conta tirando a roupa na minha frente? — Woosung colocou as mãos na cintura, indignado.
— Eu não espero. — ri, deixando minhas coisas para trás e correndo para a água gelada.
Mergulhei imediatamente, sentindo meu corpo todo entrar em combustão mesmo dentro de uma água tão gelada. Não soube me reconhecer nessa dualidade que me afetou em minutos; antes dos meus trinta e tantos anos eu flertei muito e vivi de vários casos, sendo uma alma livre a todo momento, mas já tinha tempos que não fazia isso, que não me entregava aos charmes de um estranho.
Mas a voz... A voz de Woosung cantando em meus ouvidos foi capaz de simular na minha imaginação um orgasmo que eu queria muito ter.
Ao voltar para a superfície, dei de frente com ele, vendo que sua calça e sapatos ficaram do lado de fora, junto com minhas roupas. Coloquei todo o meu cabelo para trás e passei as mãos no rosto para tirar a água. Ele estava muito perto de mim, também molhado, mas com os cabelos compridos quase intactos.
— O que foi isso, ? — disse baixo e se aproximando mais.
— Você quer que eu desenhe pra você? — sorri ladina.
— Não precisa. Mas seria bom dizer em voz alta. — ele devolveu o sorriso.
Em meu estômago se gerou a expectativa do toque físico. Como eu gostaria que ele me puxasse pela cintura…
Mas meu ser interior agiu primeiro.
Coloquei minhas pernas em volta de seu troco, estávamos perto demais e isso facilitou. Uma mão eu deixei em seu peito e a outra foi para sua nuca. Então o braço dele se apertou em minha cintura e eu já sentia os lábios dele esbarrando nos meus enquanto nossos olhares pareciam comer um ao outro. Apertei mais minhas pernas, grudando nossos corpos nessa mesma intensidade, e ele fechou a mão em minha nuca, puxando meu rosto para frente e finalmente me beijando.
Não foi um beijo tranquilo. Longe disso. Foi um beijo caloroso, fazendo parecer que eu estava embriagada do desejo que surgiu como um pop up de site duvidoso.
Mas eu me deliciei e quis mais.
Passei as mãos por seu peito, sentindo nossos quadris chocando-se embaixo d'água e me impedindo de afastar o mínimo que fosse as nossas bocas. Woosung entendeu o ritmo das minhas mãos e eu senti uma das suas apertar a minha bunda por baixo de toda a água que nos cobria até a cintura. Ofereci a ele meu pescoço quando faltou ar e ele aceitou, beijando dali para baixo e descobrindo o meu decote do top de ginástica.
No instante que ele colocou as mãos por dentro do tecido, um barulho estridente tocou do lado de fora.
Era o toque de um celular.
E só podia ser o celular dele.

(POV: )

Estava sentada na área externa, aproveitando o vento que deveria estar mais fresco. A noite tinha sido péssima, nem todo chá do mundo me fez relaxar em relação à confusão na casa.
Estava organizando alguns detalhes do casamento que seria realizado ali quando Hajoon parou ao meu lado e começou a batucar com os dedos no braço do sofá.
— Para. — pedi sem me virar para ele. Hajoon pareceu nem ouvir minha voz. Continuou com o batuque, tirando de mim qualquer resquício de paciência. — Hajoon, eu juro que se você continuar batucando, eu vou quebrar sua mão. O combinado era a gente não se atrapalhar, e você tá me atrapalhando.
Ele riu debochado e senti quando se aproximou do meu ouvido. Parecia que eu só escutaria se ele falasse ali, bem perto.
, eu sou mais forte que você. — ele quase sussurrou.
— Mas eu tô com raiva, Hajoon! Eu mal dormi, então não me irrita mais. — me exaltei e virei em sua direção. — Nunca subestime uma mulher com raiva. Sai daqui. Vai batucar em outro lugar que eu tô trabalhando.
— Você tá muito estressada, . Você não relaxa nunca? — ele perguntou divertido.
— Como é que eu posso relaxar, garoto? Eu organizo coisas. E tudo que teve aqui desde que eu cheguei foi desorganização. — passei as mãos no rosto.
— Respira, . — Hajoon respirou fundo e eu o imitei. — Vou te fazer uma massagem. — rapidamente ele deu a volta no sofá e sentou atrás de mim. Senti seus dedos resvalando na minha nuca quando ele afastou meu cabelo para o lado. Minha pele arrepiou sem que eu me desse conta e eu fechei os olhos.
— Tira a mão de mim. — ordenei sem muita vontade.
— Você não quer isso de verdade, . — ele pareceu afirmar com certeza. Senti o polegar dele deslizar pela linha da minha coluna e prendi a respiração. De repente, senti seus lábios atrás da minha orelha em um beijo suave.
— Vocês não têm ensaio, hein? Cadê o maria fumaça pra te levar daqui? — me remexi na intenção de me livrar daquela tortura, porque aquilo era uma tortura. Foi inútil. Ele continuou apertando devagar.
— Woosung tá vindo. — ele explicou.
— Vindo de onde? — tentei manter meu foco, mas estava ficando cada vez mais difícil. Eu mal podia acreditar que aquele baterista estava me derrubando com uma massagem.
— Não sei, eu não entendi muito bem. — ele puxou meus ombros em sua direção. Então senti um calor diferente nas costas. Levei uma mão para trás e senti a pele de sua barriga nua.
— Cadê sua camisa, Hajoon? — perguntei.
— Eu tô com calor, . Sabe o que cairia bem agora? Nós dois na piscina. — ele riu no meu ouvido e as mãos deslizaram pelos meus braços. Com a falta de apoio, acabei caindo quase deitada em cima dele. Eu devia estar mesmo cansada.
— E por falar nisso, me diga que quando nos encontramos pela primeira vez você estava com uma cueca por baixo da minha toalha.
— Não. — ele respondeu simplista.
— Hajoon, você passou minha toalha no seu… — suspirei e fechei os olhos com mais força. — E você simplesmente achou que era uma boa ideia botar minha toalha de volta no lugar sem lavar? — virei o rosto para lhe encarar.
— Eu sou limpinho. — ele formou um bico nos lábios.
— Eu passo aquela toalha no rosto. — protestei e ele riu.
— Hajoon, podemos… Eu tô atrapalhando? — Jaehyeong se aproximou e sorriu quando viu a cena.
— Não, e que bom que você chegou. — me levantei rapidamente. — Bom ensaio. — desejei entrei na casa. — Eu vou acabar surtando. — reclamei.
— Aguenta. — respondeu do sofá. — Daqui a pouco nós vamos embora e vai ficar tudo bem. — ela suspirou. Não parecia convencida de suas palavras.
— Vai? Será mesmo?

Sábado: Go ghost

(POV: )

Estava terminando meu chá quando Hajoon apareceu na cozinha com as baquetas em mãos, batendo em todo lugar possível; a camisa dele tinha sumido (como sempre). Eu mal tinha conseguido dormir pensando na probabilidade de acontecerem duas reservas no dia do tal casamento que faríamos ali. O fato de eu não estar em casa e de ter mais três pessoas desconhecidas ali também não me ajudaram em nada.
Tampei a xícara de infusão e me virei em direção a Hajoon. Assim que ele se aproximou o suficiente, tomei uma baqueta dele e bati em seu bíceps com força.
! Isso é agressão! — ele reclamou passando a mão no local atingido.
— Pelo amor de Deus, Hajoon! Você passa o tempo todo batucando em todo lugar. — passei a mão livre no rosto. — É por isso que eu não saio com músicos. Vocês são insuportáveis. — apontei a baqueta para ele.
— Eu sei que você canta. Está traindo o movimento. — com um sorriso de lado, ele pegou a baqueta de volta e se colocou na minha frente, usando os braços para me prender contra a bancada. — Tem certeza que não sai com músicos?
— Por quê? Você queria uma chance? — perguntei.
— Queria que você cantasse para mim um dia, I Love You So Bad quem sabe. — ainda sustentando o sorriso que devia derreter milhares de fãs por aí, ele mexeu na minha franja que já estava se soltando do coque.
— Se você não sair daqui em dez segundos, eu vou cantar minha mão na sua cara. — sorri.
O sorriso dele aumentou e senti o aperto de sua mão em meu queixo. Quando respirei para perguntar que merda era aquela, Hajoon deixou um beijo estalado no meu rosto e se afastou.
— Se você continuar me rejeitando, eu vou me apaixonar. — ele piscou.
— Veste uma camisa e some daqui, Hajoon. — esbravejei.
— Você ainda vai cantar pra mim, . — ele sorriu e beijou meu rosto de novo, perigosamente perto da boca.
— Sonhou. — ri debochada.
— Eu preciso ensaiar agora, mais tarde conversamos. — ele soltou um beijo no ar e saiu. Ele estava sempre sumindo e aparecendo como o bom fantasma que era naquela casa. Eu já estava até mesmo duvidando da minha cabeça.
— Eu não tenho nada pra falar com você. — gritei para ninguém, porque ele já tinha sumido. Respirei fundo e lembrei que tinha começado a preparar meu chá. — Ainda bem que o chá é camomila, pra me acalmar.
— Vocês até combinam. — parou ao meu lado.
— Quer me ver presa? Eu achei que você desenhava vestidos, não sabia que era advogada. — perguntei e bebi um gole do chá. Ainda estava quentinho. Ela me olhou com a confusão estampada no rosto. — Eu ia acabar com ele em cinco minutos. Você ia precisar me soltar.
— Já estamos aqui há dois dias e você ainda não o matou. — ela deu de ombros, pegou uma garrafa na geladeira e voltou a me olhar. — Se precisar, sabe onde me achar. — e se foi.
— A única coisa que eu tô precisando agora é de paz.
E aquela parecia a única coisa distante de mim no momento.

(POV: )

Seria mentira dizer que dormi bem. Que não esperei pelo “meu fantasma” no quarto. A presença de Jaehyeong no andar de baixo tinha desalinhado os meus chakras, um sorriso apenas foi suficiente para me deixar fora de órbita e eu estava com dificuldades para me recompor. Aquele era um cara de quem eu não sabia absolutamente nada. Admitir que ele exercia tanto fascínio sobre mim era quase uma derrota pessoal.
O sol estava acordado e eu também, então desisti de tentar cochilar e optei por um pouco de trabalho manual no jardim lateral da casa, que estava sendo engolido por mato amarelado e pedindo um bom trato. Era o que eu precisava, enfiar a mão em terra e adubo, esquecer o baixista, parar de esperar que ele aparecesse, de inventar cenários… E, antes de tudo isso, um bom banho para esfriar o corpo e tirar as caraminholas da cabeça. No entanto, quando entrei no banheiro da suíte, girei a válvula e o chuveiro não pingou mais que três gotas de água. Saí vestindo apenas meu roupão e comecei a divagar comigo mesma.
— Falta de água. Tá aí mais uma coisa pra resolver antes do casamento. — peguei o tablet do trabalho, a “canetinha” e abri o aplicativo de notas manuscritas, anotando o problema. — Deve ter água no andar de baixo.
Joguei meus produtos de higiene pessoal na necessaire e julguei que apenas meu roupão felpudo e bem amarrado seria roupa suficiente caso eu encontrasse algum The Rose pelas áreas comuns. Desci as escadas e segui o som da água escorrendo que vinha do banheiro e confirmava o meu palpite.
Resolvi esperar na porta. Considerando a “superlotação” da casa, era melhor guardar meu lugar na fila para usar o chuveiro. Sentei no chão, apoiando as costas na porta fechada, e comecei a rolar despreocupadamente pelo feed do Instagram enquanto minha vez não chegava, tão despreocupadamente que não percebi o momento em que a porta abriu e eu perdi meu apoio, caindo para trás com a cara no meio das pernas de alguém.
Alguém com um brinquedinho de balançar que eu não tinha.
Me agitei, assustada com aquilo pendurado embaixo da toalha, e reconheci a voz de Jaehyeong tentando sair daquela situação sem acabar me pisoteando.
? Como você foi parar aí? — ele perguntou aflito enquanto eu me debatia, em pânico. — A gente se embolou todo, por favor, não se mex-
Tarde demais. Minha mão atingiu uma coisa grande e pegajosa e pelo grito de dor que eu ouvi depois, eu soube exatamente onde eu tinha batido.
Shibal! — Jaehyeong fechou as pernas e sentou-se no vaso sanitário, segurando o Jaehyeong Júnior por cima da toalha branca.
— De novo não! — levantei do chão, em desespero. — Meu Deus, Jae! Me perdoa!
— Não tem problema. — ele gemeu, sôfrego. — Se eu não puder mais ter filhos biológicos, eu posso adotar.
— Eu não acredito que eu te machuquei outra vez em menos de 24 horas! Deixa eu ver!
! — ele disse, quase chorando. — Claro que não!
— Eu… — parei de falar ao perceber que ele estava de toalha. Só de toalha. E o peitoral no qual eu tinha reparado estava totalmente exposto. — Eu posso pegar gelo se você quiser.
Jaehyeong negou com a cabeça, esperando a alma voltar para o corpo. E não me restou outra alternativa a não ser estudar o tal corpo. Um corpo real, com sinais e manchas que, na verdade, eram uma gracinha. O abdômen não era trincado, mas o peito era bem dividido e os braços torneados pareciam os de alguém que tinha começado a malhar há pouco tempo. Eu me senti uma pessoa horrível. Enquanto Jaehyeong suava de dor, tudo o que eu conseguia pensar era em cutucar a barriguinha dele e fazer bilu bilu bilu com voz de bebê.
Mas o melhor a fazer era sair de cena, fechar a porta e esperar que ele se recuperasse. Às vésperas do Coachella, não daria tempo de arranjar um baixista substituto caso eu cometesse mais algum atentado contra ele.

(POV: )

— Olha só quem saiu da toca! — disse alto ao me ver cruzar a porta da varanda, ela estava colocando uma jarra de suco em cima da mesa e tinha alguns copos juntos. — Conseguiu recuperar?
— Os croquis? Sim. A sanidade? Não. — me sentei numa das espreguiçadeiras e ela me deu um copo com suco. — Obrigada.
se sentou na cadeira ao lado
— Por que sanidade? — me perguntou.
— Você sabe que eu odeio ser feita de idiota. — bocejei. Tinha passado o resto da sexta-feira redesenhando e só parei no sábado de manhã, então dormi o dia todo. E ao me ver retornar estressada do mercado e ir direto para o quarto, tanto ela quanto foram atrás para saber o que estava havendo.
Depois do ocorrido na cachoeira, eu me fechei em meu mundo confortável e sozinho e resolvi trabalhar.
— Ah, besteira, ... Encare isso como uma aventura de primavera. — ela disse neutra e bebemos o suco. — Você ao menos tirou proveito da situação?
— Estávamos quase lá... Mas aí foi quando o celular tocou com a ligação do Hajoon. — suspirei repetindo a história e ela revirou os olhos outra vez. — Mas tudo bem. Ao menos uns beijos nele eu pude dar. — ergui o copo como se fosse um brinde. — Mesmo que eu me sinta muito envergonhada pela forma como agi… Se ele queria me comer era só falar, não precisava agir como um adolescente e inventar história. Fez parecer que eu estou no cio!
— E você não está? — surgiu, sentando-se do meu outro lado. Eu fiquei no meio das duas.
— Como é que ela disse, ? "Como eu transo como a voz de alguém?" — disse zombeteira.
— Nunca mais conto nada para vocês duas!
Por um momento ficamos em silêncio, enfim a fofoca estava mesmo em dia. Embora estivéssemos na mesma casa, ainda tínhamos cada uma algo com o que se preocupar, a focar. Geralmente eu ficava reclusa quando estava em processo de criação dos vestidos de nossas noivas, mas desta vez eu precisei muito mais do que algumas horinhas para recuperar o que foi danificado.
Estava com os olhos fechados quando escutei uma voz chamando alto e levantei, indo para o parapeito. Era Hajoon.
— Ei, ! — ele foi simpático usando meu apelido. Estava no gramado, olhando para cima com muita empolgação. — Fizemos o jantar!
— "Fizemos" é uma ova! — escutei a voz de Woosung vindo de algum lugar ali embaixo, provavelmente a varanda, e meu corpo correspondeu se contraindo por inteiro. — Foi o Jae quem fez!
— Que seja! — Hajoon mostrou o dedo do meio para ele e em seguida completou: — Venham jantar com a gente.
Antes que eu pudesse responder, surgiu do meu lado, apoiada na madeira.
— Estamos indo! — respondeu com um sorriso cheio de dentes.
Não tive escolha, não porque fui arrastada, mas sim porque estava com muita fome e preguiça de cozinhar. E o cheiro vindo do andar debaixo estava maravilhoso — só de comida, nada do cheiro do Woosung.
Quando chegamos na varanda da parte de baixo, a mesa já estava toda arrumada e tinha lugares “certos”. Woosung já estava sentado numa ponta e eu logo me adiantei para sentar no lado longe dele, mas fui impedida por Hajoon, então acbei sentando na ponta oposta, exatamente de frente com ele.
Não trocamos uma palavra. Não falamos sobre o ocorrido.
Mas ele estava cheiroso e eu conseguia sentir o perfume misturado a banho passando por cima de todo o cheiro forte da comida em cima da mesa. Eu conseguia ouvir a voz dele mesmo por cima da conversa e das risadas que saíram durante aquele jantar. E eu conseguia apalpar o olhar dele me alcançando quando eu não estava lhe encarando.
— Sua comida é realmente muito boa, Jaehyeong. — disse mais tranquila, quando tive a oportunidade. — Agora se me dão licença… Eu preciso voltar a dormir.
, calma! — Hajoon gesticulou no momento que eu peguei meu prato para me levantar. Ele colocou a mão por cima da minha e eu, já em pé, esperei. Trocou um olhar com os outros dois e, sorrindo, disse (olhando para , claro): — Queremos vocês como nossas convidadas para o show. Não precisam se preocupar com nada, nós cuidamos de tudo.
— Na verdade… A equipe cuidou. — Jae coçou a nuca, dizendo. — Separamos as credenciais para vocês entrarem com a gente e assistirem de onde quiserem.
— De preferência no melhor lugar. O backstage. — Hajoon completou. — Não é, Sammy?
Woosung esteve quieto quase todo o jantar. Mas no momento que foi inserido por seu amigo, ele ergueu o rosto como se aquilo fosse um desafio e respondeu:
— O melhor lugar é onde elas possam nos ouvir. — ele estava me encarando. — Mas com as credenciais, vocês podem ir por onde quiserem. Só precisam aceitar.
— Por mim tudo bem! — foi a primeira, muito empolgada. Ela era um doce, uma pessoa educada, contida, quase uma princesa. Enquanto e eu éramos sempre as mulharas.
Woosung manteve seu olhar em mim e eu me senti toda arrepiada ao lembrar do que fizemos na manhã anterior, como ele começou a me tocar, sua boca com uma noção deliciosa de como bambear todas as minhas estruturas… Uma tortura, porque, no fim, iríamos cada um para um lado e só isso restaria em minha mente. Como se ele fosse uma espécie de fantasma.
— Por mim tudo bem também. Vou adorar ver o outro The Rose trabalhando. — sorri gentil e dei as costas, indo para a cozinha lavar meu prato.
Como haviam algumas louças ali, aproveitei para lavar também. Mas, antes, eu coloquei um pouco de água gelada na nuca para voltar ao normal.
Pouco tempo depois, senti a fragrância que esteve presente em meu olfato como uma espécie de tormento à minha sanidade. Fechei os olhos brevemente, ouvindo os passos dele em cima do piso enquanto eu esfregava com força uma panela. O aroma foi ficando mais forte, me inebriando, causando o efeito de embriaguez em todos os meus extremos.
— Deixa eu te ajudar. — parado atrás de mim, Woosung colocou mais um prato dentro da pia, com seu braço me rodeando, e em seguida pegou o pano de prato do meu ombro.
— Obrigada. — disse com a voz quase falhada.
Reparei que do lado de fora não tinha mais os outros quatro e agora restava apenas eu, ele e as louças. A cada novo prato que ele ia pegando, seu corpo trazia um calor para o meu, seu cheiro me deixava um pouco mais tonta e eu me esforçava a ignorar. O silêncio dele e sua capacidade de ignorar, agir como se nada tivesse acontecido e que nós dois não estivéssemos querendo um se deleitar no outro, estava começando a me irritar.
Meu orgulho se feriu, claro, principalmente no momento que me dei conta do que ele poderia estar fazendo. Sendo sutil e jogando uma corda para eu me enforcar, para eu acabar rastejando e implorando por ele. Enquanto ele também queria o mesmo.
— Então é assim, você quase me come com a voz e depois com um beijo, e agora mal me encara? Qual seu problema?
Woosung desceu apenas o olhar para mim. — me virei quando, enfim, a pia estava limpa e vazia. Cruzei os bracos e não me neguei a usar o modo mais reativo.
— Você. Você é um problema. — disse calmo, colocando o pano em cima do balcão. — Não consigo te entender, . Ou você quer me jogar da ribanceira ou você quer se jogar em mim, os dois não dá!
— Me jogar em você?
— Sim. Se jogar em mim igual você fez ontem de manhã. Qual a dificuldade de você assumir isso?
— Eu não-
— Não sabe do que eu tô falando? — ele riu nasalado. — Eu tô falando disso. — e me puxou pela cintura com uma mão indo direto para minha nuca.
Atordoada, deixei que ele me dominasse como quisesse e o beijo de Woosung não teve nada de delicado, nada de sentimental. Era um beijo objetivo novamente, mas desta vez não haveria interrupção suficiente para nós.
Como era um beijo a nível de emergência, não levou muito tempo para que eu estivesse com as pernas enroladas em seu corpo e ele nos levando pelo corredor para seu quarto. Entrando no cômodo, ele acendeu as luzes mais fracas e foi indo para a cama, a fim de me colocar deitada nela. Entre minhas pernas, por cima de mim, Woosung afastou nossas bocas brevemente, apenas para um ar e para me olhar nos olhos, seguindo um sorriso sacana.
Um beijo. Outro beijo. Toques e mais toques por toda a extensão do meu corpo, sendo fácil pela minha escolha de vestido.
Ofegante, estranhei quando ele se afastou e voltou com uma gravata e um tapa olho de dormir. Automaticamente estendi as mãos, sem qualquer controle das minhas ações, e ele amarrou meus punhos acima da cabeça, não muito forte. Outro beijo foi suficiente para me causar um comichão barulhento e ele passou pelo topo da minha cabeça o tapa olho.
— O que você está fazendo? — perguntei inocentemente.
— Não é o que estou fazendo, é o que vou fazer. — ele sorriu com o rosto bem próximo ao meu e uma mão ja bem posicionada no cós da minha calcinha. — E eu vou te foder, . Com beijos, com toques... Com a minha voz. — finalizou em meu ouvido e eu tremulei por inteira, sentindo-o adentrar a mão onde já estava.
Tudo ficou escuro e eu não via mais nada.
Ao menos o fantasma da minha memória seria mais real agora.

Domingo: I can’t leave you, even if I tried to


(POV: )

Outra manhã que eu acordava antes do Sol.
A manhã do Coachella.
Depois do generoso convite daquele The Rose ao nosso The Rose, foi inútil tentar descansar. Assim que o jantar acabou, eu quebrei a cabeça tentando montar um look com as poucas peças que eu tinha trazido, missão que foi cumprida em conjunto com e , reunindo uma blusinha de uma, um acessório de outra, até nos transformar em belíssimas groupies que tinham passe VIP para assistir ao show do palco mesmo.
Mas não era o show em si que me deixava ansiosa. Era o final dele.
O final do show significava o final do meu fantasma. O final daquela rotina compartilhada, dos encontros pela casa, do som do baixo de Jaehyeong repetindo solos e mais solos que eu ouvia sem me cansar. O final daquele sorriso me esperando em algum cômodo. Enfim, o final.
Finais me causavam aflição. E eu lidava com minhas aflições cuidando das flores.
Apesar de ter trabalhado no jardim lateral o dia inteiro ontem, ainda restava arrancar algumas ervas daninhas e colher algumas flores da roseira. Queria fazer um arranjo com as belas rosas vermelhas para guardar como recordação daquele final de semana tão atípico e gostoso, e como eu andava sempre com minha tesoura de jardinagem e as rosas estavam no ponto, achei que a dona da casa não se importaria se eu levasse algumas comigo.
Prendi o cabelo bem alto e me enfiei no meu jeans velho e numa camisa do Red Hot Chili Peppers, caminhando descalça até o jardim, sentindo a terra ainda úmida e fria da madrugada sob os meus pés. Apalpei a raiz da roseira, sujando as mãos e embaixo das unhas, e afofei a terra ali, colocando um pouco mais de água e aumentando a bagunça de areia escura nas minhas palmas. Tirei a tesoura do bolso sem me limpar e me preparei para cortar as rosas dos ramos.
— Com licença, senhoras. — comecei meu ritual de falar com as flores. — Gostaria de levar algumas de vocês comigo. Prometo que não vai doer, ok? — colhi a primeira numa cesta. — Essa tesoura corta num ângulo de 45 graus, estão vendo? Assim, o caule de vocês continua saudável para que nasçam mais.
— Acho que plantas não entendem de ângulos. — uma voz observou atrás de mim e eu, no susto do movimento interrompido, larguei a tesoura e me virei.
Me choquei contra um torso de cheiro cítrico e camisa branca muito limpa, que, depois do esbarrão, ficou estampada com duas manchas enormes de terra no formato das minhas mãos. Não abri os olhos, apenas segui com ambas apoiadas naquele peitoral e tive minha cintura apertada contra ele, num encaixe tão divino que poderia me fazer rezar ali mesmo. E foi o que eu fiz.
— Nossa Senhora Imaculada das Palmeirinhas, que esse peitão que eu sujei de terra agora não seja do Jaehyeong. — pedi.
— Acho que a Nossa Senhora das Palmeirinhas está ocupada. Ou não tem jurisdição no peito dos outros. — a risadinha gentil e baixa, ainda mais mansa pela proximidade, era inconfundível. Fazia meu útero vibrar. — Sou eu, .
— Por favor, me diz que você não tá com a roupa do show ainda. — implorei, ainda sem coragem de abrir os olhos. E ainda sem soltá-lo.
— É cedo demais pra isso. — senti a mão enorme abaixo do meu rabo de cavalo, fazendo um carinho na minha nuca. — E tá tudo bem, é só uma velha camisa branca.
Abri os olhos lentamente, inebriada com a nossa pele em contato e com tudo o que eu estava vendo naquele momento. Como sempre, Jaehyeong apenas de regata era muita informação para mim. Jaehyeong apenas de regata e me apertando contra si mesmo era muita informação para mim. Jaehyeong apenas de regata, me apertando contra si mesmo e olhando fixamente para os meus lábios era muita, muita, muita informação para mim.
O fato de eu estar coberta de terra não parecia incomodá-lo, porque ele não recuou um centímetro sequer e respirava tão perto de mim que compartilhamos o mesmo fôlego. Era a iminência de um beijo, não havia dúvidas. Aquele lapso de paraíso, em que os olhos vão fechando e a boca vai abrindo, ávida por encontro e saciedade. Quis me mover, mas um flashback traumático, no entanto, me lembrou que em todas as vezes que eu toquei Jaehyeong, ele acabou machucado. E isso fez com que eu baixasse a cabeça e resistisse ao impulso de devorá-lo ali mesmo, embaixo de uma roseira.
— É melhor eu ficar bem longe de você. — falei com a boca, mas não com o corpo, que ainda estava enroscado no dele e não tinha pressa alguma para desenroscar. — Você ainda tem um show pra fazer, tenho certeza que as Black Roses querem você inteiro, sem marca de soco na cara, sem mancha de terra e sem…
, fica quietinha. — ele partiu meus lábios delicadamente com o indicador. Os dedos cheiravam ao metal das cordas do baixo, mas eu não me importei. — Eu vou te beijar agora.
— Oi? Aqui? Agora? Eu?
Qui-e-ti-nha.
Ele colou a testa na minha e brincou de raspar o nariz no meu antes de me envolver no beijo. Eu sentia que ele estava sorrindo a cada encostar dos nossos lábios, interrompidos somente quando um de nós precisava buscar ar. Mas o ar não parecia tão importante, tão necessário, tão vital, então nos beijamos de novo. E de novo. Com demora, com delicadeza, com vontade e com todos os predicados que tínhamos direito.
— Não fala mais que vai ficar longe de mim, tá? — Jae pediu num sussurro.
— Eu sei de um jeito de ficar perto de você sem ser um risco à sua vida. — finalmente tive alguma força para me soltar e peguei a rosa vermelha na minha cesta. — Rosas não entendem de ângulos, mas eu entendo. Cortando assim, ela consegue viver um dia todo fora da água. Eu peguei essa pra você. Assim você me mantém por perto por hoje.
— E se eu quiser você amanhã? — ele aceitou a rosa. — E se eu quiser você todo dia?
— Então você pode me procurar na floricultura com a desculpa de comprar rosas. — selei os lábios dele. — Um cliente famoso assim vai ser ótimo para os negócios.
Não sabia se Jae me procuraria e, honestamente, aquela não era uma questão a qual eu queria me ater. Mas, mais tarde, naquele dia, quando Lee Jaehyeong subiu ao palco do Coachella, eu sorri ao notar uma rosa vermelha de cabo comprido enrolada entre os trastes do baixo.

(POV: )

But I can’t make you come back to me. — cantei baixinho e, seguindo a mania de Hajoon que parecia já me afetar, usei as canetas como baqueta e fiz o som da bateria na mesa de centro. Desde que eles tinham chegado, eu quase me obriguei a ir pesquisar sobre, era uma amante da música, afinal. E essa música era realmente muito boa. Agora lá estava eu, sentada no sofá com meus fones e rascunhando um cerimonial para o casamento.
— Eu conheço essa batida de bateria. — Hajoon sentou ao meu lado no sofá e puxou meu headphone. — Bom dia. — ele desejou e beijou meu rosto.
— Se você quebrar meu fone, eu vou ser obrigada a quebrar a sua cara, Hajoon. — ameacei. Como sempre, ele me ignorou e apenas sorriu
— Você tá escutando nossa música? — ele perguntou com um sorriso satisfeito.
— O Spotify tá dizendo que é The Rose e vocês são a única banda chamada The Rose que eu conheço. Então acho que sim. — alfinetei.
— Deixa eu escolher outra. — ele tomou meu celular nas mãos e começou a clicar e clicar. Então meu fone foi desconectado e a versão de ILYSB que eu amava começou a tocar alto. - Vem. - ele levantou e me estendeu a mão. Hoje ele estava parcialmente vestido. A camisa pendia aberta nos ombros e a cor da pele parecia convidativa.
— Você não desiste, né?
— Eu sei que você ama nossa versão dessa música. — ele insistiu com a mão estendida. Com um suspiro, eu a aceitei e levantei. Hajoon rapidamente nos aproximou e começamos uma dança lenta. Ele colocou meus braços ao redor do seu pescoço e meus dedos inquietos logo se agarraram aos fios de sua nuca.
— Por que você tá insistindo, Hajoon? O que você quer de mim? Quer que daqui um ano eu faça um vídeo segurando uma criança que é a sua cara com a legenda “pro coreano que eu conheci no Coachella, como se diz pensão alimentícia na sua língua?” - ri fraco e ele me acompanhou.
— Eu só queria provar seu beijo. — ele segurou meu queixo. — Mas se você quiser ir além, por mim tudo bem.
— Se você fosse leonino, explicaria muita coisa. — devaneei.
— Mas eu sou leonino. — ele riu.
— Agora tudo faz… — e eu fui interrompida pela voz de Hajoon cantando o refrão da música. Parecia combinar bem com ele. Fechei os olhos para ouvir melhor e me peguei cantando junto com ele. Ele colou a testa na minha e quase sussurrou a música. Abri os olhos e o peguei sorrindo.
— Eu te odeio. — murmurei antes de avançar em seus lábios. Hajoon me retribuiu com paixão, em um beijo que logo ficou quente. A mão dele me segurou pela nuca com precisão e ele guiou o beijo como quis, mal me dando tempo para respirar.
— Aonde você pensa que vai? — ele perguntou quando me afastei para tomar uma respiração profunda.
— Eu preciso respirar. — anunciei. Ainda estava sentindo o quente da mão dele na minha nuca, mesmo que ela não estivesse mais lá.
— Você vai ter tempo mais tarde, na hora do show. E depois… — ele sorriu e voltou a me abraçar.
— Depois acaba e vocês vão pra casa. — sorri falsa.
— Eu tenho tantos planos, . — ele me roubou um selar. Era viciante, eu queria mais. Porém jamais admitiria em voz alta. Era mais gostoso provocar o leonino.
— Eu também. — sorri.
— E todos eles envolvem você. — ele concluiu.
— É uma pena, eu preciso voltar para casa. — suspirei e tentei não parecer triste. Voltar para casa implicava nunca mais gritar com Hajoon por estar batucando em tudo, e eu já não tinha certeza se era aquilo que eu queria.
— Só me espere. Depois do show. Como minha boa garota. — ele piscou, me roubou um selar e se afastou.
— Sua o quê? — perguntei alto.
— Minha garota. — ele repetiu também alto por conta da distância.
— Nos seus sonhos.
— No meu palco. E no meu quarto. Mais tarde, . — ele soltou um beijo no ar e sumiu pela porta.
— Vai sonhando, Hajoon. Vai sonhando. — eu ri sozinha, mesmo sabendo que sim, mais tarde eu esperaria por ele como sua boa garota.

(POV: )

No segundo que o show acabou e eu segui e para os bastidores, meus pés se moveram como se estivessem tomando uma vida própria aos charmes de Woosung.
Encontrei ele no próprio trailer sendo desequipado e também ficando sem camisa — o que eu percebi ser um traço da sua personalidade — e quando tive meu caminho aberto, agora sozinha porque estava em algum canto com Jae e com Hajoon, ele ergueu o indicador, me chamando com um sorriso bobo no rosto.
E eu fui, quase correndo, enquanto o camarim ia se esvaziando.
Quando cheguei bem perto, Woosung me puxou pela cintura e me deu um beijo. Fiquei com medo inicialmente, dado ao histórico de como nossos beijos já se iniciavam tão cheios de fogo e malícia. Desta vez, porém, foi diferente. Ele me beijou docemente e eu não liguei para suor no corpo dele, nada. O cheiro inebriante estava ali para me desviar qualquer atenção.
— E aí, o que achou? — perguntou ao se afastar, mantendo meu rosto perto por sua mão meio no pescoço, meio na bochecha. Seus olhos brilhavam.
— Eu não sei opinar. — ri fraco, a mão dedilhando sua pele e indo de encontro com a cicatriz em seu ombro, que eu descobri ser resultado de uma cirurgia. — Acho que estou me recuperando ainda.
— De ontem?
— Não, dos inúmeros clímax que eu atingi vendo esse show. — ri, lhe dando um breve selinho. — Vocês são incríveis.
— Fico feliz que tenha gostado. — e de novo ele me beijou brevemente. — O que vai fazer hoje a noite? — disse galanteador e sem me soltar.
— Preciso carregar o carro e voltar para Los Angeles. — disse meio desanimada.
— E se eu te roubar um pouco?
— Toda sua, senhor. — estendi os dois braços, mas ele abaixou com eles com delicadeza, voltando a me trazer para mais perto com o braço em minha cintura.
— Que tal um jantar? — disse contra meus lábios, seguido de um sorriso.
— É uma boa opção ser o seu prato principal. — fiz charme, sentindo as pernas fracas.
— Não, . — Woosung tirou o meu cabelo da frente do rosto e eu ergui apenas o olhar para ele. — Estou falando de um jantar de verdade.
— Como um encontro? — gaguejei e ele assentiu. — Mas eu… Eu… É seguro?
— Por que não seria? Assim, sei que estamos nos Estados Unidos, sempre vemos barbáries pelos noticiários-
— Não tô falando disso, bocó! — lhe dei um leve tapa no peito. — Estou falando da sua imagem.
— E qual o problema em ser visto com uma mulher inteligente, bem sucedida e extremamente gata?
— Você tem fãs. — me afastei lentamente.
— Elas não vão me impedir de te ligar.
Hesitante, me mantive parada no lugar, sustentado o olhar incisivo dele. As nossas mãos ainda seguravam uma à outra. Woosung brincava com meus dedos, me olhando com insistência, e eu contava em minha mente as inúmeras possibilidades de dar errado me envolver com um cara de uma banda famosa poucos anos mais novo que eu.
— Já terminou? — ele cortou meus pensamentos.
— O que?
— De pensar. Você considera opções demais, . — novamente me levou para tão perto do corpo dele. Ainda sendo doce e nada caloroso como na noite anterior. — Vamos jantar hoje e nós pensamos depois.
Não tive qualquer chance de responder, ele me calou com um beijo antes mesmo de eu sequer abrir a boca. E por mais que eu ainda estivesse presa aos registros memoráveis da noite anterior, em que estive de punhos amarrados e com a visão comprometida para aproveitar apenas as sensações, confesso que o beijo doce de Woosung poderia se tornar um vício ainda maior que a sua maneira libidinosa. Talvez mais que sua voz.
— Uau.
Nos afastamos ao ouvir uma voz. Ao menos esta eu não reconheci de imediato, mas ao abrir os olhos e ver na porta, conseguir me lembrar de Dojoon. O sorriso de menino levado dele era inconfundível. Mais cedo, antes do show, nós fomos apresentadas a ele e suas inúmeras piadinhas.
— Eu vou sair de fininho, vocês contam até dez e tranquem a porta. Vou dizer que deixei este lugar inabitável. — piscou para mim e deu dois tapinhas no ombro de Woosung, voltando-se para a porta. — Espero que tenha gostado do show, . Até mais! — e saiu.
Olhei para Woosung e ele deu de ombros antes de voltar a me beijar, agora um pouco agridoce e me empurrando para o balcão.


FIM



Nota da autora: Obrigada por mais uma leitura do trio de neurônios compartilhados! A propósito, já desistimos de designar a culpa. (Ilane)

A culpa é da Ilane. (M-Hobi)

Eu não sei como vim parar aqui. (Daphne M)



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