Capítulo Único
As luzes da boate estavam o deixando tonto.
Não. Quer dizer, as luzes lhe mostravam algo que o deixava tonto.
Piper estava concentrada no que fazia e sabia que chamava atenção dele. a encarava como se ela fosse a única coisa naquela área repleta de homens velhos que jogavam dinheiro para cima dela. O'Connell chamava atenção de todos com seu físico, personalidade e seus lábios vermelhos.
Aqueles malditos lábios vermelhos.
Quando todos terminaram de despejar seus dólares nela, a policial foi para parte dos fundos, onde tinham os camarins. Estava cansada, na verdade, passou a noite anterior toda com e tudo que não fizeram foi descansar. Apesar de estar sempre atenta ao seu redor, ela já tinha se acostumado com a presença daquelas pessoas e pelo fato de estar com o Consigliere da Camorra, sabia que não encostariam um dedo nela.
Rapidamente, Piper foi puxada para dentro de um dos camarins e não se surpreendeu ao ver quem era.
— Eu odeio ver você na barra, a não ser que seja pra mim. — disse sério.
— Eu preciso de dinheiro. — Ela sorriu.
— Eu já disse que você não precisa de dinheiro. — Ele falou sério.
— É claro que eu preciso. — Ela riu. — Como acha que eu vou me sustentar?
— Você não precisa de dinheiro, você tem o meu.
— Eu não quero seu dinheiro.
— Ah, é? — Ele aproximou seus rostos. — O que você quer, então?
— Você.
Os dois começaram a se beijar intensamente e só pararam quando precisou jogar todas as coisas de Piper no chão. Claramente ela reclamaria depois, mas ele nem se importava. Ele a queria mais do que qualquer coisa naquele momento. Não havia nada que pudesse tirar a atenção do Consigliere da Camorra.
A luz vermelha do camarim de Piper deixava o local ainda mais propício para o que faziam, ainda que quisesse vê-la. Tirar seus olhos daquela mulher nunca foi e não seria uma possibilidade. E, apesar de saber que aquilo não seria para sempre e que ela tinha um objetivo por trás de toda farsa de Piper O’Connell, ela adorava ser o centro das atenções da vida de . E sabia que estava ferrada, no entanto, porque já havia se apegado àquele homem que desafiava todos os seus propósitos.
Suas pernas estavam entrelaçadas na cintura do homem que a segurava com força. As mãos de faziam questão de explorar cada pedacinho do corpo da mulher, que era, em sua opinião, uma das coisas mais incríveis que já tinha visto.
Infelizmente, os dois foram interrompidos por uma batida forte na porta.
— Pipes, vamos. — O segurança a chamou. — É hora de todas irem para seus quartos.
, ofegante, colocou sua cabeça para fora da porta. O homem forte arregalou os olhos e rapidamente fez questão de pedir desculpas.
— Desculpe, senhor , é que Matteo mandou fechar cedo hoje. — Ele disse sério. — Para aquele evento…
Atenta, escutava os dois.
— É claro. — Ela percebeu a mudança em seu tom. — Mas Piper vai ficar. Não se preocupe.
— Claro. Desculpe o incômodo. — Ele rapidamente tratou de sair da vista de e, assim que ele voltou para o camarim, encostou na porta e suspirou fundo.
— Do que você está fugindo, ? — Ela perguntou séria.
— Desse dia. — Ele disse baixinho. — E eu vou levar você comigo.
— O quê?
— Vista-se. — Ele pediu e avaliou a maquiagem dela. — Sua boca está um pouco borrada.
— Para onde vamos?
— Vamos fazer a coisa que mais odeio no mundo. — Ele falou baixinho.
— Tudo bem.
rapidamente colocou sua calça jeans e a blusa preta que havia usado antes de pôr suas roupas de stripper. O batom vermelho que ela costumava usar foi tirado e como estava de sombra e cílios postiços, a mulher também os tirou.
estava quieto no canto do cômodo, enquanto, na mente de , ela tentava entender o que se passava.
— Estou pronta. — Ela anunciou e ele se levantou.
Sem dizer uma palavra, os dois saíram da boate sem nenhuma escolta.
A Ferrari preta que ele tanto amava estava estacionada logo na entrada do local e os dois adentraram o automóvel em instantes. estava curiosíssima para saber onde estavam indo e o que fariam, mas sabia que não era assim, sério.
— O que tem hoje? — Ela perguntou baixinho.
— Hoje fazem sete anos que minha pessoa favorita no mundo se foi. — Ele engoliu em seco. — Meu irmão insiste em estar comigo nesse dia, mas eu prefiro estar sozinho.
— E o que eu faço aqui? — Ela perguntou.
— Me faz companhia nesse dia horrível, Pipes. — Era a primeira vez que ele a chamava pelo apelido que haviam posto nela na boate. — Dói como se tivessem me contado segundos atrás.
— Por isso você e seu irmão são tão família… — ela disse baixinho. — Desculpe perguntar, mas o que aconteceu?
— Foi um policial. — Ele disse com tom de desprezo.
engoliu em seco.
— Eu daria a vida para acabar com toda família daquele bastardo.
— Você sabe o nome dele?
— Você está familiarizada com os tiras? — Ele deu uma risada sarcástica.
— Não. — Ela comentou risonha. — Se você souber quem foi, é mais fácil de matar, não?
— Eu sei quem matou minha mãe. — Ele comentou baixinho. — Mas ele está morto. Infelizmente, não pelas minhas mãos.
— Entendi. — Ela disse baixinho. — Sinto muito, de verdade. Sei o quão ruim é essa dor.
Assim que os dois chegaram no cemitério em que o corpo de Antonella estava enterrado, ficou receosa. Ela não sabia lidar com a carga emocional de perder o pai, quem dirá a dos outros. Mas ver a dor que sentia por perder sua mãe lhe causava agonia.
Sem hesitar, a mulher entrelaçou suas mãos e lhe deu um aperto leve, como se dissesse que estaria ali por ele. Quanto mais conhecia , torcia para que ele não tivesse matado seu pai. Não podia ser ele. E se fosse, bem, o destino era uma merda por tê-la feito cair como um patinho por alguém que tinha sangue de seu pai em mãos.
De mãos dadas, os dois caminharam em silêncio até o jazigo da família . Sem largar a mão de , ele respirou fundo e se aproximou. Para surpresa de , ele começou a falar em italiano.
— Oi, mãe. — A emoção embargou sua voz. — Eu sinto sua falta. Não queria vir mais aqui, porque dói toda vez. Mas eu precisava agradecer por ter posto essa mulher incrível ao meu lado. Eu gosto muito dela.
sentiu seu corpo inteiro se arrepiar ao ouvir falar que ele gostava dela.
— Queria que você tivesse a chance de conhecê-la. — Ele riu baixinho e deixou uma lágrima escorrer. — Ela é igual a você e tenho certeza que você, Kara e ela deixariam o pai, o Matteo e eu malucos. Eu daria tudo para ter vocês aqui.
secou uma lágrima que escorria pelo rosto de e engoliu o choro que estava entalado em sua garganta. Apesar de saber que ele gostava dela, o momento não era feliz. Ver aquele homem inquebrável quebrar, era triste. E, mais do que nunca, se odiou por gostar dele.
— Matteo era apegado ao meu pai e eu era a minha mãe. — Ele comentou. — Lembro que quando eu era mais novo, minha mãe pediu ao meu pai para que eu não fosse iniciado. Um dia, entraram em casa e tentaram levá-la. E no momento em que eu vi um capanga da máfia de Chicago encostar nela, eu soube que eu só saberia protegê-la se eu fosse iniciado. Um mês depois, meu pai me iniciou na Camorra.
— Uau. — Ela comentou baixinho. — Para onde estamos indo?
— Casa. — Ele respondeu.
— Eu preciso voltar para o alojamento das strippers. Não quero que pensem que estou me aproveitando de você.
— Bem… — ele riu. — Eu não te criticaria se você estivesse. As meninas lá não são tão amigáveis.
— Você tem razão. — o respondeu. — Então é hoje que eu conhecerei seu covil, ?
— Só, por favor, escolha outro dia para me matar. Hoje seria injustiça.
— Tudo bem… relevarei seu pedido, só porque sou boazinha. — Ela soltou um risinho e lhe empurrou de leve.
De contrapartida, agarrou a mão dela e apertou forte, mas não tanto. Ele era todo sobre toques. No fundo, acreditava que aquele era seu jeito de se comunicar e ela o entendia sem esforços.
O caminho até o apartamento do homem foi rápido, levando em consideração que aquele homem pisava tão forte no acelerador, que ela se sentia numa fuga sempre. adorava viver no limite e ela estava começando a gostar daquilo. Gostava do perigo, oras. Afinal, era policial.
— Talvez você se assuste, porque Matteo e eu dividimos o andar da cozinha… — ele comentou baixinho. — Geralmente Kara entra escondida pra roubar comida.
Assim que abriu a porta de seu apartamento, deparou-se com Kara e Matteo sentados. Matteo parecia um pai esperando seu filho mais novo que ultrapassou o horário de dormir. Por outro lado, Kara estava quieta, encostada em seu ombro.
— Por onde você andou? — Seu irmão perguntou sem rodeios.
— Pela cidade, Matteo. — Ele revirou os olhos. — Entre, Pipes.
Hesitante, adentrou o local. Estava um pouco nervosa, pois sabia que Matteo não tinha limites. No entanto, ela não sabia que o Capo jamais feriria alguém que importasse tanto para seu irmão.
— Boa noite.
— Boa noite. — Kara lhe ofereceu um sorriso e foi a única que a respondeu.
— O que você acha que está fazendo com prostitutas, ? — Matteo perguntou em italiano.
Se não entendesse o que ele dizia, poderia assumir pelo seu tom que coisas boas não eram.
— Ela só quer nosso dinheiro e o status de ser comida por alguém importante. Saia desse mundo cor de rosa.
— Eu não tenho mais cinco anos, Matteo. — respondeu o irmão no mesmo idioma. — Com quem eu ando não é da sua conta.
Kara, tensa, observava a conversa dos dois, enquanto Piper tentava, ao menos, fingir que não entendia do que era falado. A ideia de ignorar estava indo bem, até que Matteo mencionou a família dela. E, então, as coisas começaram a mudar.
— Ela é provavelmente filha de viciados, não duvido nada que esteja aqui pra alimentar um vício.
— Cala sua boca. — Ela se levantou e foi para frente de . — Você pode falar o que quiser de mim, eu não me importo, . Mas o nome da minha família fica fora da sua boca.
— Ou o quê? — Ele riu. — O que você vai fazer? Me matar?
— Matteo. — Kara chamou o marido.
— Você se acha superior aos outros, só porque tem um nome, né? Mas deixe eu te contar algo, no mundo real, você não passa de um Zé Ninguém.
— Um Zé Ninguém que sabe atirar. Isso já é importante. — Ele comentou e ela riu.
— Estamos nos Estados Unidos, stronzo. Isso não é nada. — Dito aquilo, saiu do apartamento soltando fogo pelas orelhas.
não se deu ao trabalho de informar ao Matteo para onde ia. Não que ele precisasse, os outros naquela sala sabiam que ele iria atrás de Piper.
Sem precisar correr muito, encontrou Piper procurando por um táxi.
— Pipes, não vai embora. — Ele pediu.
Ela nem se deu o trabalho de olhá-lo, pois a raiva consumia seu corpo.
— Por favor, fica.
— Eu não vou ficar em um lugar em que não sou bem vinda. — Ela disse com a voz embargada.
Por um minuto, pensou que ela estava chorando.
— Eu aceito que digam o que querem de mim, , mas minha família é um assunto que não deixo.
— Eu sei, me desculpa. — Ele falou baixinho. — Eu sinto muito por Matteo. Ele é babaca assim, porque quer me proteger.
— Eu não estou com você por conveniência. — Ela disse baixinho. — Nunca estive.
— Eu sei e é isso que importa, Pipes. — Ele a abraçou. — Agora vamos embora.
— Eu não vou voltar lá. — Ela disse certa.
— Não vou te levar pra lá. — Ele comentou. — Vou te levar para meu esconderijo secreto.
— Ele vai deixar de ser secreto se você me contar. — Ela riu.
— Então é isso… é nosso esconderijo secreto.
pôde ver nos olhos do homem um brilho intenso. Aquilo fez com que ela sentisse um arrepio na espinha e, então, a policial constatou que estava fodida. Seu corpo reagia a todo estímulo de , mesmo que ele não o fizesse intencionalmente.
O Consigliere da Camorra puxou-a até a garagem do edifício e os dois entraram no carro que ele tanto gostava. achava que chamava atenção demais, mas era de de quem ela estava falando. Não precisava de carros ou de roupas chiques, por si só ele chamava toda atenção possível.
Os dois foram parar do outro lado da cidade, quase perto da fronteira. sabia de todos os bens da Camorra, mas aquele não era um deles. A casa era pequena e parecia ser confortável. Tinha um pequeno jardim na frente com várias flores diferentes.
— Essa casa era da minha mãe. — Ele comentou baixinho. — Só eu sei da existência dela.
— Bom… E eu. — o respondeu. — É estranho pensar que um homem como você cuida de um jardim desses.
— Mas eu cuido. — Ele riu. — E gosto. Minha mãe tinha jeito com as flores, parece que eu também.
— O que mais você faz que eu não sei? — Ela inquiriu.
adorava saber mais sobre . Não sobre o Consigliere da Camorra, desse já sabia. Mas depois que conheceu , percebeu que em seu trabalho ele usava uma máscara.
— Sou o preferido da minha mãe, sei falar russo, gosto de jardinagem… — ele comentou baixinho.
— Russo? — Ela perguntou incrédula.
— Preciso entender o que a máfia russa fala, bela. — Ele sorriu. — Eu odeio comida japonesa e, como um bom italiano, amo massa.
— Como não gosta de comida japonesa, ? — Ela perguntou assustada. — A gente só comeu comida japonesa até agora.
Ele soltou uma risada.
— Fiz para te agradar.
— Boludo! — Ela o xingou de “besta” em espanhol. — Não precisava.
— Fui muito bem criado para entender que precisava. — Ele riu. — Minha mãe sempre me ensinou a agradar mulheres.
pensou em todas as mulheres que ele tinha agradado até ela e fez uma careta.
Decidiu espiar a sala, enquanto ele ligava as coisas da casa. A policial observava as fotos que estavam por todo local. e Matteo pequenos, Antonella e Giuseppe, os quatro juntos. Encontrou, inclusive, uma foto solta do mais novo dos apenas de fralda no jardim. Atrás dela, havia mezzo escrito, que significava “minha metade”.
— Mezzo. — falou baixinho com um sorriso no rosto.
— Por que não me contou? — Ele perguntou.
— Contei o quê? — Ela deu um pulo ao ver que estava muito perto.
— Não me contou que sabia italiano. Você ouviu o que falei mais cedo… — pontuou e ela engoliu em seco.
Odiava ser pega, mas ele sempre a pegava.
— Ouvi. — Ela o respondeu. — Mas achei que era um momento de vocês, não queria atrapalhar.
— E como você lidou com o fato de eu gostar de você? — Ele a encarava nos olhos.
— Bem. — Ela se odiou por mentir para ele.
A parte mais difícil daquela noite foi ouvir as palavras dele.
— Mas a gente não vai dar certo, .
— Não minta dizendo que reagiu bem, Pipes. — Ele disse baixinho.
— , sério… o que temos é ótimo. — Ela foi sincera. — Mas um dia você vai precisar casar, ter filhos…
— E não vale nada disso se não for com você, Pipes…
— Não é assim, você sabe. — Ela falou baixinho. Antes fosse. — Eu vou voltar para boate, tá bem?
— Pipes… — ele a chamou. — Por favor, fica.
— Não, . — Ela deu um sorriso fraco. — Desculpa.
E, pela primeira vez, deixou Piper ir embora.
Era a terceira vez que checava as horas e o horário ainda era o mesmo. Crucificava-se tanto por não ter ficado ao lado de , mas ela precisava ser forte. Por seu pai.
Enquanto tirava seu batom vermelho, ouviu alguns gritos no andar de baixo. Ainda que fosse uma curiosa, não queria se meter com a máfia de alto escalão, muito menos com o que estava passando naquele momento. As coisas já estavam ruins, a policial não queria se enrolar ainda mais.
Antes que pudesse fazer qualquer coisa, ouviu barulho de tiros. Sem hesitar, com medo de ser ataque de outra máfia, se escondeu no armário que todos os quartos tinham. Apesar de ser tarde, a maioria das meninas estavam lá embaixo e ninguém daria falta dela, uma vez que todos a viram saindo com .
Um estrondo forte saiu do corredor e, em seguida, o barulho forte veio de sua porta. A fresta do armário a possibilitou ver o homem que adentrou o quarto e ela congelou ao ver quem que era.
— Pai! — gritou, animada, ao ver o pai chegar em casa.
Ser filha de um policial como ele, era ter sempre um receio quando o homem não voltava para casa. Nesse caso, ele havia conseguido um dia de folga e chegou mais cedo para aproveitar o tempo com a filha.
— Oi, princesa. — O homem abraçou a garota.
Aquele era um dos finais de semana em que conseguia voltar para a casa depois de uma semana longa na faculdade. A garota estava prestes a completar dezoito anos, tinha entrado na faculdade de Direito um ano adiantada e sempre fazia de tudo para conseguir visitar o pai. James não conseguia esconder o orgulho que sentia da filha, principalmente por todo esforço que teve para criar a menina sozinho.
— Então, o que vamos fazer? — não era daquelas adolescentes que gostavam da ausência dos pais, por ter crescido sem a mãe, e sabia dos perigos que o pai corria diariamente, era sempre um prazer estar na companhia do mais velho. — Podemos comer alguma coisa bem gordurosa hoje?
— Só se você dividir o sorvete de chocolate comigo. — James esticou o telefone para a filha. — Eu vou tomar um banho rápido, daqui a pouco eu desço.
— Tudo bem. — pegou o telefone e discou o número da pizzaria mais próxima, a qual os dois sempre costumavam pedir lanche no famoso dia do lixo.
Para a garota, uma pizza não era o suficiente, ela ainda colocou no pedido uma porção de batata frita. Agora sim, estava perfeito.
Quando James voltou para a sala, estava sentada assistindo televisão. Ela sempre esperava o pai para começar a assistir algum programa que os dois gostavam, e agora, com as visitas cada vez menos frequentes, era importante que eles aproveitassem o máximo de tempo juntos.
— Pai, você acha que a mamãe estaria feliz, vendo eu querer seguir os seus passos? — desviou os olhos da televisão para encarar o pai.
— Acho que ela estaria enlouquecendo, mas com certeza estaria feliz. — Ele sorriu para a garota. — Mas você está feliz com a sua escolha?
— Nunca estive tão feliz antes, pai.
— Então não tem com o que se preocupar, corazoncito. — James abraçou-a pelos ombros e se aconchegou no peito do pai, do mesmo jeito que fazia quando era pequena.
Não demorou muito para que escutassem a campainha tocar, a garota correu animada para abrir a porta, mas foi impedida pelo pai.
— Acho que esqueci minha carteira no quarto, você pode buscar pra mim?
logo mudou o caminho, seguindo até o quarto do pai.
James nunca deixava a filha atender a porta, principalmente à noite. Ele sabia que aquela cidade estava cheia de pessoas mal intencionadas e se fizessem algo com a sua filha, ele nunca se perdoaria.
Antes que saísse do quarto, os sons dos tiros dispararam alto pela casa. tapou a boca com as duas mãos, impedindo que um grito agudo saísse pela mesma; permaneceu escondida dentro do quarto e em silêncio, assim como seu pai havia a ensinado.
Ela sabia que seu pai era odiado por uma parte da cidade, por uma parte grande, inclusive, mas não imaginava que estaria vivendo algo daquele tipo. Ela só queria que aquilo tudo passasse logo e ele a chamasse dizendo que estava tudo bem, que logo o restante da equipe chegaria e prenderia quem quer que fosse. Mas aquilo não aconteceu.
escutou alguns passos se aproximarem da porta, mas logo o som da sirene da polícia pôde ser ouvido, o que fez a pessoa se afastar ainda mais rápido do que quando estava se aproximando. Num rápido movimento, ela foi até a janela e espreitou pela cortina, tentando ter algum vestígio sequer de quem cometeu aquele crime contra seu pai. Sorte ou não, a pessoa virou em direção à janela que ela estava escondida e nunca mais conseguiu esquecer aquele rosto.
— Ela não está. — O homem falou.
— Deve estar fodendo o . — Um outro capanga comentou.
— Minha maior vitória sobre a Camorra foi ter matado a mãe deles. — O nojento riu.
Lágrimas apareceram no rosto de . e ela perderam mãe e pai pelas mãos daquele canalha e ela nem sequer conseguiu reagir. Sabia o que tinha que fazer, que era treinada para aquilo, mas seu corpo estava travado. Queria correr e arrancar toda felicidade que aquele homem carregava no peito. Aquela não seria a vingança por apenas seu pai. Seria por James e Antonella .
ficou naquela posição, quase que em transe, por mais algumas horas. Sentia-se mal por todas as coisas que haviam acontecido e pelo caminho que havia tomado. Alívio dominava seu peito ao saber que os não eram os responsáveis pela morte de seu pai, mas culpa também a consumia por ter tido todas as oportunidades e não ter feito nada.
O som que vinha do corredor era de passos e ela quase se assustou, se aqueles passos quase silenciosos não fossem passíveis de reconhecimento. adentrou o quarto armado e, calmamente, saiu de dentro do armário.
— Pipes? — Ele perguntou preocupado. — Merda, Pipes. Eles fizeram algo com você?
— N-não. — Ela desabou pela primeira vez nas últimas horas, desde que ouviu as coisas que aquele homem havia dito. — Me desculpa, me desculpa.
— Você não fez nada, Pipes.
— Ela é uma policial, . — Matteo apareceu ofegante no corredor. — E provavelmente é um deles.
— Eu não sou um deles. — Foi a única coisa que saiu de sua boca.
— Pipes, isso é verdade? — Ela pôde ver a mágoa no rosto dele.
— É. — Ela fungou.
parecia estar tendo um derrame, estava atônito. Kara puxou de seus braços e a levou para outro cômodo. Apesar de odiar mentiras, era claro que gostava de , Kara podia ver em seus olhos.
Matteo lidou com por um tempo, explicando-o a situação. Enquanto isso, Kara tentava acalmar a policial.
— O que aconteceu, ? — A executora da Camorra perguntou-a calmamente.
apenas a respondeu com soluços altos.
— Estou a um passo de desistir dessa história de vez, preciso que você me fale. Você machucou , .
— Eu sei! — A mexicana disse com um tom mais alto do que o anterior. — E-eu vi quem matou meu pai.
— Quem?
— Vi quem matou Antonella também. — Ela desabou novamente.
Kara arregalou os olhos ao ouvir o nome da mãe de seu marido.
— , isso é muito sério.
— Você acha que eu não sei?
— Aquela mulher significava tudo para , assim como meu pai significava para mim. — Ela fungou.
Antes que pudesse falar algo mais, Matteo entrou no cômodo. O Capo da Camorra parecia irritado e era claro que tinha motivos. Sua boate foi invadida, ele tinha uma policial infiltrada entre suas strippers e seu irmão estava extremamente machucado pela mentira. Certamente, era o que mantinha viva, uma vez que Matteo queria cortar sua garganta fora, mas se seu irmão tocasse um dedo nela, jamais o perdoaria.
— Você vai embora do país, está me ouvindo? — Ele a ameaçou. — Ou eu juro que eu acabo com você.
— Matteo… — Kara se levantou-se, em caso de seu marido perder a cabeça.
Sabia que ele não tocaria um dedo nela, mas Matteo era muito bom em machucar as pessoas com as palavras também.
— Ela viu o assassino de sua mãe.
Como se levasse uma facada, o Capo da Camorra ficou pálido. Aquele era um assunto que ele havia aprendido a superar, mas sempre que era trazido à tona, doía como o inferno. Apesar de ser mais próximo de seu pai, Matteo sentiu a morte da mãe tanto quanto seu irmão.
— O mesmo homem… — soluçou. — Que matou meu pai.
— Quem é seu pai? — Ele perguntou sério.
— James .
— Seu pai quem matou minha mãe! — Ele gritou.
A cabeça de girava e ela parecia estar desfalecendo de tantas emoções.
— M-meu pai foi assassinado quando eu era mais nova. — Lágrimas grossas caíam pelo rosto dela. — Eu vi quem disparou os tiros e ele estava aqui. Entrou em meu quarto, mas eu estava escondida.
— Ela está em choque. — Kara constatou.
estava no modo automático, tremia, chorava e disparava os fatos que vinham em sua cabeça.
— Ele disse que sua maior vitória foi ter assassinado Antonella . — Foi a única frase que saiu completa.
Daquela vez, a ouviu.
— Ele matou meu pai. Meu pai. Ele o matou.
— O que minha mãe tem a ver com isso? — Ele não se deu o trabalho de encarar .
Matteo e Kara se mantiveram em silêncio, até que ele perdeu a compostura.
— Me falem, caralho.
estremeceu ao ouvir sua voz cheia de ódio cortar a sala. Ela apenas colocou o rosto entre as pernas e voltou a chorar. Kara se sentou ao lado da mulher e tentou acalmá-la, mesmo que não funcionasse.
encarou o irmão e, pela primeira vez, viu nos olhos de Matteo que ele estava assustado.
— Matteo. — Ele trincou os dentes.
— viu o assassino de nossa mãe. — Ele engoliu em seco.
Pelo estado dela, não poderia dizer que era mentira. Mesmo se não soubesse se todos aqueles momentos que tiveram foram verdadeiros.
— Ela não está em condições de dizer mais nada.
Pela primeira vez, ele se deu ao trabalho de encarar a policial. Ela parecia frágil, coisa que nunca aparentou. tremia e chorava, nada além disso.
aproximou-se da mulher e Kara cedeu seu lugar para ele.
— . — Ele a chamou baixinho. Mas foi ignorado. — Precisamos que se acalme. Ei, respira.
— Ele matou nossos pais. — Ela soluçou.
encarou Matteo e Kara sem saber o que fazer.
— Sua mãe… ele a matou, . Meu pai!
— Eu sei… tudo bem. A gente precisa que você se acalme para que possamos pegar esse bastardo. — Ele disse. — Para isso, preciso que você se acalme.
Aos poucos, se acalmou e, ali, adormeceu nos braços — ou melhor, nas pernas — de . Matteo e Kara continuavam em silêncio, pois estavam tão surpresos quanto . Matteo estava pronto para acusá-la de todos os possíveis crimes, mas ver o choque de foi algo tão intenso, que acreditou na verdade dela.
As horas foram passando e a cabeça de não parava. Kara e Matteo foram para casa, apesar de não quererem. O mais novo dos rapidamente os dispensou. Assim que eles saíram, pegou no colo e a colocou em seu carro. Dirigiu até a antiga casa de sua mãe e ficou observando aquela mulher dormir por horas.
Pesquisou o nome de seu pai na internet e achou uma matéria sobre o caso. foi obrigada a crescer sem seus pais e provavelmente entrou na polícia para vingar a morte de seu pai. se lembrava de quando a máfia de Las Vegas foi acusada da morte de James , mas, pela primeira vez, a Camorra não estava envolvida naquele assassinato.
Cansado, ele acabou cochilando na poltrona oposta à e, na manhã seguinte, não a viu acordar e ir embora.
•••
Dias se passaram e fazia de tudo para evitar o território da Camorra. Aos poucos, a polícia do oeste se acostumou com sua volta e ela se acostumou também. Naquela noite, havia ficado de patrulha pelas ruas de um bairro no qual os moradores reclamaram de assalto. Cansada, voltou para casa. No dia seguinte, viajaria para o outro lado do país.
adentrou o seu apartamento e, bom, logo ele deixaria de ser seu. Mas assim que pisou no lugar, sabia que havia algo de errado ali dentro, havia alguém lá. Olhou ao redor e percebeu que a televisão de seu quarto estava ligada, mas ela não nunca ligava aquela maldita TV. Tirou a arma que deixava na cintura, principalmente para esse tipo de situação, e caminhou devagar até o cômodo, mas parou os passos quando sentiu o cano gelado na sua nuca.
— Achou mesmo que ia conseguir esconder de mim sua verdadeira identidade, querida Piper?! Ou devo chamá-la de ? — A voz ácida de soou próxima de seu ouvido, arrepiando os pelos daquela região.
engoliu em seco, fechando os olhos em seguida.
— Na verdade, achei que você demorou tempo demais para descobrir. — Ela voltou a caminhar em direção ao quarto, agora sabendo que estava apenas ele ali dentro.
Se fosse realmente matá-la, já teria cometido tal ato.
— Você pediu um emprego de stripper para o Matteo, disse que não tinha família e aquele era o único modo de sobreviver. Mas, na verdade, você era infiltrada. O que mais eu não sei sobre você, ?
A mulher encarou os olhos de , conseguindo, por alguns milésimos de segundo, encontrar algum tipo de compaixão. Porém, no minuto seguinte, ela conseguiu apenas enxergar raiva e desprezo, o que a fez se sentir culpada por um breve momento.
— Você não sabe muitas coisas sobre mim. Eu não menti sobre minha família, você já deve saber que meus pais morreram, mas não pedi o emprego para me sustentar, realmente não preciso daquilo. — caminhou até a janela, vendo que dois capangas de estavam lá embaixo.
Acendeu um cigarro e apoiou o corpo na janela, deixando a brisa bater em seu rosto, enquanto o tragava.
— A única coisa que precisava era descobrir quem matou o meu pai, antes eu achava que tinha sido alguém da sua máfia, até mesmo você. Mas, agora, as coisas estão mais complicadas do que eu imaginava. — soltou a fumaça para cima e voltou seu olhar para e, em seguida, para a sua mala pronta no canto do quarto.
Droga, aquilo era demais até mesmo para ela, que já havia feito alguns trabalhos sujos e metido mais balas na testa de desconhecidos do que podia contar.
— Se eu tivesse matado o seu pai, o que teria feito? — encarou os olhos de .
— Teria te matado, por mais difícil que fosse. — Era a resposta que ele precisava ouvir.
Não conseguiu esconder um sorriso ladino, balançou a cabeça de um lado para o outro e encontrou os olhos de brilhando.
— Não sei que porra de magia é essa que você tem, , mas eu preciso de mais. E preciso disso agora. — colou seu corpo junto de , puxando-a pela nuca e selando seus lábios.
Era um beijo urgente, de desejo, mas também de despedida. Ele sabia que ela estava prestes a ir embora, mas precisa sentir seu gosto pelo menos uma última vez.
Com um movimento rápido, ele a puxou pelas coxas, fazendo com que a mulher fechasse as pernas ao redor de sua cintura, o que não demorou para fazer. Encostou-a na parede mais próxima e, ofegantes, eles se separaram apenas para retirarem suas camisetas.
estava prestes a tirar o sutiã, quando foi impedida pelas mãos de .
O homem à sua frente começou a brincar com a alça da peça, tocando em cada pedaço de pele exposto de e a mulher sentia como se seu corpo estivesse pegando fogo à medida que ele tocava cada vez mais seu corpo. Antes que ela pudesse ofegar novamente, a pequena peça já não estava mais em seu corpo e agora era a boca de que passeava por aquela região.
Dessa vez, não conteve um gemido, não manteria porra de pudor nenhum, se no dia seguinte ela já não estaria mais naquela cidade.
sugava e mordiscava um seio da mulher, enquanto com o outro ele brincava com a mão livre e beliscava o mamilo. E a cada toque, arqueava suas costas, porém, com as unhas curtas que tinha, ela deixava algumas marcas nas costas do italiano.
Como ainda estava com as pernas ao redor da cintura do homem, ela começou a tirar suas botas, mesmo com dificuldade, mas queria se livrar de todas as peças logo.
— Eu quero mais! — Ela pediu, quase num sussurro.
— Você vai ter, mas precisa ter paciência. — Ele disse com o rosto em seu pescoço.
Aquela região, com certeza, ficaria com algumas marcas.
Aos poucos, conseguiu se despir e conseguiu fazer o mesmo com , mais difícil que fosse, uma vez que ele não queria desgrudar da mulher. Os dois foram em direção ao quarto da mulher e todo calor que sentiam parecia se intensificar.
O Consigliere da Camorra a colocou suavemente na cama e foi distribuindo beijos molhados até chegar na parte inferior de seu corpo. O corpo da policial tremia de tanto desejo que sentia por ele.
a beijou suavemente entre suas pernas e um gemido escapou por sua boca. Lentamente, ele começou a chupá-la, fazendo com que seu corpo queimasse. Sentir o gosto de se tornou sua coisa favorita na vida.
O homem usou sua mão para estimulá-la, de modo que ela quase chegasse em seu clímax. Com movimentos circulares, fez soltar um gemido alto, pedindo por mais.
— Preciso gozar. — Ela disse ofegante.
— Eu precisava de muitas coisas agora. — Ele parou de fazer o que estava fazendo e soltou uma risada.
— NÃO pare. — Ela quase gritou.
Com a língua e a mão agindo em sintonia, fez com que tivesse o primeiro orgasmo de muitos naquela noite.
•••
A manhã de estava péssima. Todos os acordos que tinha feito naquele dia estavam desmoronando. A encomenda das drogas, as armas chegando da Sicília e o treinamento de homens iniciados. Tudo havia dado errado.
— Chefe? — Pietro, seu segurança particular, apareceu na brecha aberta da porta.
— O que deu errado dessa vez? — perguntou impaciente.
— Deixaram isso aqui para você. — Ele entrou de vez no local e colocou um pequeno envelope na mesa de . — Estarei lá fora se precisar.
nunca recebeu cartas na vida e aquela seria sua primeira. Seu nome estava escrito em um dos lados.
Ansioso, ele abriu o envelope e abriu a folha.
Cariño,
Sei que eu te magoei demais e me dói toda vez que penso que lhe causei algum tipo de mágoa. Nunca foi minha intenção fazer tudo isso, mas acabei por descobrir que o Consigliere da Camorra é uma grande farsa, pois ele parece ser o homem mais cruel de toda Las Vegas e um baita de um psicopata, quando, na verdade, carrega dentro do peito um coração enorme.
Mas você conhece a verdadeira , por mais que ache que não. Eu sou tudo que te mostrei, de verdade. Por muitos anos eu fiquei sem nenhum afeto e não me permiti recebê-lo, e, na verdade, acho que não me permito tanto assim, mas eu gostei de ser amada por você. Naquele dia que fomos ao cemitério, quando você falou em italiano, todos os meus sonhos desmoronaram e, no fundo, eu torcia para que não fosse você. Não queria me apaixonar pelo assassino de meu pai. E não me apaixonei.
Me desculpe pelas mentiras, , mas saiba que você é a única pessoa que conseguiu atravessar minhas defesas e eu prefiro permanecer do jeito que está, só com você no meu coração.
Estou indo embora para sempre, mas prometo buscar vingança por meu pai e pela sua mãe também. Por nós. Ainda que me doa, te desejo tudo de encantador que um homem deve receber, mesmo que eu não esteja ao seu lado para viver isso.
Com amor,
.
Por muitas horas, tentou sentir raiva de , mas, em momento algum, nem sequer um pinguinho de raiva surgiu em seu peito. Ele amava aquela policial com todo seu coração e jamais poderia deixá-la partir. Se ela se vingaria por seus pais, fariam isso juntos.
— Pietro! — gritou de sua sala.
O soldado rapidamente adentrou o local.
— Arranje o avião. Partiremos para Chicago em uma hora.
O segurança pessoal de assentiu e saiu do local.
Em sua sala, o Consigliere da Camorra escolhia as armas que deveria usar e, principalmente, escolhia suas facas favoritas. Após recolher suas coisas, saiu de sua sala. Esbarrou com Kara no corredor.
— Aonde vai? — Ela perguntou.
— A um lugar.
— Vai se encontrar com ela? — Sua cunhada colocou as mãos nos bolsos, como se demonstrasse desconforto.
— Tentar.
— Não confio nela. — A Executora da Camorra foi direta.
— Mas eu, sim. — Ele não se deu trabalho para olhá-la. — Aposto que se você não fosse filha do prefeito de Las Vegas, teria mentido sobre quem é também.
— Era uma opção. — Ela deu de ombros. — Mas eu não me arriscaria tanto.
— Ela sim. Tudo isso por alguém que ama.
— É… E ela parece gostar de você.
— Então você já tem sua resposta, certo? — Ele acariciou o ombro esquerdo de Kara e a deixou sozinha no corredor.
Quando chegou no andar de baixo, encontrou com Pietro e os dois saíram com o carro em direção ao aeroporto particular. Encontraria de qualquer jeito e, do fundo de seu coração, esperava encontrá-la viva. Aqueles homens não podiam tirar mais uma mulher de sua vida, nem que ele tivesse que deixar sua no lugar.
estava quase chegando a Chicago. As três horas e quinze de viagem pareciam ter durado quase dois dias, deixando-o agoniado. No fundo do coração, esperava que não tivesse feito nada.
A aeromoça contratada veio até ele avisando que em quinze minutos pousariam e lhe ofereceu um copo d’água. recusou a oferta e, em contrapartida, levantou-se para ir ao banheiro. No espelho da pequena cabine, observou que estava com olheiras, porque não dormia há dias. Passava grande parte de suas noites com copos de whiskey tentando sentir um pingo de raiva da policial, mas nunca conseguiu.
O Consigliere lavou seu rosto e respirou fundo, aquilo tinha que dar certo.
O tempo passou e ele oficialmente estava em Chicago. Assim que o homem saiu do avião, seu celular pegou sinal e recebeu várias notificações de ligação de seu irmão e de Kara. Segundos depois, tocou.
— Onde caralhos você está, ? — O mais novo ouviu a voz irritada do irmão. — Procuramos você por toda essa cidade.
— Estou em Chicago, Matteo. — Ele suspirou.
Sabia que seu irmão piraria ao saber que ele estava em território inimigo.
— Eu vim procurar por ela.
— Eu juro por Deus que se você estiver falando sério, vou cortar seu pinto fora. — Matteo esbravejou. — Figlio di puttana!
— Preciso ir. Não peça para Kara me ligar também. Eu só volto para Las Vegas com .
— Stupido! Eu juro que se você não acabar morto dessa vez, eu te mato! — Seu irmão xingou e desligou.
Assim que colocou seu telefone no bolso, sentiu-o vibrar novamente. Sabia que era Kara e que a melhor amiga ficaria extremamente sentida se ele não lhe atendesse. Com um suspiro, tirou o aparelho do bolso.
— Eu não vou voltar para Las Vegas. — Ele disse de primeira.
— Oi, eu também estou bem, obrigada por perguntar! — Ela respondeu. — Eu não ia dizer nada disso, idiota.
— O que você tem a me dizer, Kara?
— Que, apesar de não confiar totalmente numa policial, acho que ela é a pessoa certa para você. Se precisar de ajuda, pode me ligar. — Ela falou baixinho. — Eu vou até você.
— Você faria isso por mim, Montanari?
— Eu sou uma agora, . — Ela disse com a voz tenra. — Você morreria por mim e eu por você. Encontre sua garota. Se cuida, te amo.
— Kara?
— Sim? — Ela perguntou.
— Pode me fazer dois favores? — ele perguntou.
— Claro.
— O primeiro: prometa-me que vai cuidar do meu irmão caso aconteça alguma coisa. — Ele pediu.
— Pare com isso, . Você não vai morrer, nem que eu tenha que ir até Illinois. — Ela ralhou. — Mas eu prometo.
— Certo. E o segundo… — ele engoliu em seco. — Preciso que rastreie um telefone.
— Apenas me mande o número por mensagem. — Ela disse prestativa.
— Tudo bem, preciso desligar agora. — Ele disse.
Kara concordou e lhe passou o número que ele esperava que ainda usasse.
Enquanto sua cunhada se organizava para rastrear o número de telefone, ele se instalou em Chicago. Sabia que sua atitude era idiota e extremamente arriscada, mas não deixaria sozinha naquela situação. Lutaria ao lado da mulher que amava.
A atenção no caminho foi redobrada e, mesmo chegando em um local considerado seguro, o Consigliere não relaxou.
Em meia hora, o endereço de uma rua em Chicago apareceu em sua tela. Kara era a melhor e, se sobrevivesse àquele dia, precisava dizer a ela o quanto a amava.
•••
Já era a segunda vez que se sentia daquele jeito, totalmente fora do controle. Mas, naquela, era de uma maneira ruim. Torcia, de todas as maneiras, para que tudo desse certo, mas o destino tinha caminhos diferentes.
— Parece que alguém está longe de casa, não é, ? — congelou ao ouvir a voz de Sanchéz. — Eu adoraria te ajudar, mas não temos mais vagas para prostitutas.
O sangue ferveu no corpo de e se ela pudesse e não estivesse desarmada, contra-atacaria. O policial que trabalhava com ela lhe deu um sorriso sinistro e o estômago dela revirou. Ele era da máfia.
— Você é um dos ajudantes da máfia? — Ela engoliu em seco.
— Não sou ajudante. Eu sou a máfia. — Ele sorriu. — Lorenzo Rossi, sucessor a Capo da máfia de Chicago.
Os olhos dela se arregalaram. Não era comum que homens com cargos importantes fossem colocados em outros lugares como espiões, mas Sanchez era um. Por isso que ele sempre queria estar envolvido em todas as operações que buscavam informações da Camorra, principalmente com ela.
— Você não é a máfia, Sanchéz. — Ela lhe deu um sorriso. — Você tenta ser ela. Mas falha todas as vezes.
— Dessa vez não vou falhar, . — Ele sorriu. — Eu me lembro de ver meu tio chegar em casa com um grande sorriso no rosto quando matou seu pai.
— Tire o nome dele da sua boca! — Ela gritou e partiu para cima dele.
Um ato burro, ela pensou logo depois que fez.
Lorenzo a puxou e colocou uma arma em sua cabeça.
Ela não poderia morrer assim. Não ia.
respirou fundo e deu uma cotovelada forte nas costelas do homem, que a largou de imediato. Quando ela pensou em correr, Sanchéz puxou seus cabelos para si e ela urrou de dor. Com a arma, ele bateu forte em seu rosto e ela ofegou, mais uma vez, de dor. O gosto metálico em sua boca a certificou do que ela temia naquela noite: morreria, porque estava falhando com o seu pai.
estava ofegante e por mais que a situação não a favorecesse em nada, podendo até perder a sua vida se continuasse desarmada, mas pelo menos tinha tentado. Ela agora tinha certeza de quem matou o seu pai, de quem tinha destruído o que restou de sua família e tinha sede de vingança.
Sanchez havia a derrubado e depois de alguns golpes em seu corpo, estava jogada no chão e com o homem por cima dela, mas ela não daria aquele gostinho a ele.
— Quais serão as suas últimas palavras, ? O cara lá embaixo está louco pra te receber. — Ele tinha um sorriso no rosto, a arma apontada na testa da mulher a fazia crer que aquelas realmente seriam suas últimas palavras.
— Eu vou pro inferno, mas eu volto pra te buscar. — Ela respondeu, sorrindo tão diabólica quanto ele, tentando se desvencilhar daquele corpo pesado.
— Você vai morrer ao seu pai e eu vou ter o prazer de acabar com essa família de vez.
Antes que pudesse se movimentar novamente, o barulho de tiros pôde ser ouvido e num movimento rápido, ela apenas fechou os olhos. Seu rosto estava coberto de sangue e, com um estrondo, o corpo de Sanchez caiu para o lado.
Ela não sabia exatamente o que tinha acontecido e nem de onde aquele tiro tinha vindo. Há poucos segundos tinha uma arma apontada para sua testa e agora a pessoa que queria matá-la estava morta.
Manteve-se paralisada no chão, sem conseguir controlar seus movimentos e batimentos cardíacos, que pareciam querer sair para fora do peito a qualquer custo. só entendeu o que havia acabado de acontecer, quando surgiu no seu campo de visão.
— Você poderia ter sido morta, merda! — Foi a primeira coisa que ele disse ao se agachar até a mulher. — Você está ferida.
— ? — Ela perguntou.
Seu corpo doía e respirar era agonizante, principalmente pelos golpes que recebeu na costela.
— O que você tá fazendo aqui?
— Eu vim te tirar dessa maluquice, . — Ele foi sincero. O homem se preparou para pegá-la. — Respire fundo, vai doer.
Quando ele fez o que havia dito que faria, urrou novamente de dor. Ela se permitiu choramingar nos braços de e ele deu um beijinho de leve na cabeça da policial.
sentia muita dor, mas sabia que não tinha acontecido nada e que tudo estaria bem dali pra frente.
Em todos aqueles anos, se culpou por não ter conseguido salvar a vida de seu pai e acabou seguindo a sua própria vida sempre sozinha, com medo que todos que se aproximassem dela tivessem o mesmo fim. Por esse motivo, havia deixado em Las Vegas, ignorando todos os sentimentos que nutria por aquele homem que acabou de salvar sua vida. Porém, ela sabia que agora não era possível continuar escondendo o que sentia por ele.
— Eu te amo, . — tremia um pouco, enquanto tentava controlar a sua respiração. — Mesmo que você entre na porcaria de um avião agora e nunca mais queira me ver, não posso suportar a ideia de esconder esse sentimento de você. Não posso guardar esse sentimento pra mim, porque você foi o homem que eu amei da forma mais intensa e insana na minha vida. — Ela passou a mão pelo rosto, tentando controlar as lágrimas que já se misturavam com o rastro de sangue em seu rosto.
Antes que ele pudesse dizer algo, a mulher sentiu seu corpo enfraquecer e desmaiou. entrou em desespero, mas um de seus seguranças havia tentado lhe acalmar, dizendo que aquela era uma resposta do organismo da policial.
Ele continuou nervoso e ordenou que quando chegassem no estado vizinho, Iowa, um médico estivesse a postos para atendê-la.
Algumas horas se passaram desde que haviam chegado em Iowa, mas já estava medicada e dormia enquanto ele a observava. Kara e Matteo já estavam cientes da situação de e seu irmão havia prometido arrancar as bolas dele.
— Você matou o sobrinho do Capo, . — Ele disse pela milésima vez.
— E eu mataria mais dez vezes, Matteo. — O Consigliere o respondeu calmamente.
— Nós entramos em guerra! — Ele gritou e ouviu os risos de Kara no fundo da ligação.
— Matteo… — ele respirou fundo. — Você já planejava entrar em guerra com eles. Eu só acelerei.
— Eu juro por Deus, é melhor você casar com essa mulher ou eu vou te matar!
— Eu tenho planos pra isso. Fique tranquilo. — o respondeu sem tirar os olhos de dormindo. — Tenho que ir. Estaremos em Las Vegas em cinco horas.
— É bom você chegar vivo aqui. — Seu irmão ameaçou.
— Pra você me matar?
— Sim.
— Eu também te amo, Matteo. — Ele riu e desligou o celular.
Ele se levantou e ia até a cozinha buscar algo para comer, mas ouviu o barulho da cama. Ele se virou e encontrou tentando se levantar. O Consigliere foi até a policial e não a deixou se mexer.
— , você precisa descansar. — Ele pediu.
— Eu preciso voltar para Las Vegas, . — Ela engoliu em seco.
— Corazoncito, nós vamos voltar pra casa. — Ele apertou a mão dela de leve. — Mas você não pode fazer movimentos bruscos. Por sorte que não quebrou nada.
— Eu não posso, e-ele estava mentindo pra polícia. — Ela disse nervosa. Mas travou quando ouviu ele a chamando. — Você me chamou do quê?
— Corazoncito. — Ele disse e preocupação fincou sua testa. — Falei errado?
— Não, de maneira alguma. — Ela sorriu fraco. — É que faz muito tempo que não me chamam assim.
— Então se acostume. — Ele sorriu para ela. — Vou te pegar no colo, tudo bem? Nós temos que ir para casa. Não é seguro ficar fora do nosso território.
— Seu território. — Ela reforçou.
— Nosso território, . — Ele disse sério. — Eu arrisquei a porra da minha vida por você e faria tudo de novo se fosse necessário. Tudo meu é seu.
— Io sono la coscienza di mio valori. — Ela sussurrou. — A máfia deveria ser o mais importante pra você.
— Minha família é. — Ele respondeu. — Agora vamos logo.
•••
Uma semana desde que os dois voltaram de Iowa e aquele havia sido seu primeiro dia de volta na polícia de Las Vegas. Ela e se viam regularmente desde a confissão de que ela o amava insanamente. E, realmente, não havia nada de normal nos sentimentos dos dois. surgiu na Camorra como uma espiã, caiu nos encantos de um certo Consigliere e sentia seu peito arder toda vez que pensava nele. a fez se sentir amada pela primeira vez em muito tempo.
Depois de muito pensar, decidiu que devolveria seu instintivo e sairia da polícia, sem nem mesmo saber o que faria de sua vida para sobreviver. Agora, estava chegando em seu apartamento e torcia para que pudesse vê-la, mas ele havia dito que tinha assuntos para tratar.
Quando abriu sua porta, encontrou as três cabeças mais importantes da Camorra em seu sofá.
— Sério, vocês precisam parar com isso. — resmungou.
Estava uniformizada e isso foi tudo que pareceu perceber.
— Invasão de propriedade é crime.
— Nós somos a máfia. — Matteo riu.
— Se tem uma coisa que sabemos, é quebrar leis. — Kara complementou o marido.
encarou e ele dizia muito com seus olhos. Ele queria tocá-la, ela conseguia sentir.
Recuperando o controle, ela suspirou.
— Vocês três vão ficar calados me encarando? — Ela inquiriu. — Se for, me avisem que eu troco de roupa para ficar mais apresentável.
— Você está mais que apresentável, . — engoliu em seco. — Precisamos conversar.
— Sou toda ouvidos. — Ela desviou o olhar de .
— Queremos você na Camorra. — Kara foi direta.
Matteo e a encararam como se ela tivesse errado na abordagem da policial.
— Que é? Ela convive com a gente há quase um ano e vocês não conseguiram perceber que ela é extremamente direta?
soltou uma risadinha.
— Vocês me querem na Camorra? Isso é uma piada?
— Eu falei que não ia dar certo. — Matteo resmungou.
— Queremos que você ensine defesa pessoal às mulheres dos subchefes. — disse sério. — Não queremos que, hm... hajam mais perdas como a de minha mãe.
ficou tocada com a ideia dos três. Na verdade, ela estava de saco cheio da polícia. A dicotomia de que a máfia era ruim e a polícia era a salvadora da pátria estava errada. A polícia também tinha seus frutos podres. Além disso, querê-la na Camorra significava que ele a queria por perto.
— Tudo bem. — Ela disse, por fim.
— Fácil assim? — O mais novo a questionou. — Pensei que teríamos mais trabalho.
— Eu posso dificultar as coisas, se você quiser. — ofereceu-lhe um sorrisinho.
— Longe de mim, policial. — Ele sorriu. — Quer dizer, integrante da Camorra.
— Você não pode entrar na máfia e continuar usando isso. — Matteo se referiu ao uniforme dela.
— Tudo bem, eu posso me encarregar de tirar. — puxou para seus braços e selou seus lábios no dela.
E, finalmente, sabia que estava no lugar certo. Vingaria a vida de seu pai e se daria a chance de viver mais. Mas ela faria aquilo do lado do primeiro e único homem que amou.
FIM!
Espero que tenham gostado, um beijo!
Outras Fanfics:
• King of My Heart (McFly - Danny Jones)
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