04. Groove

Finalizada

Capítulo Único

nunca pensou que estaria ali, classificado para a final de uma das maiores competições de tango do mundo, ao lado dela, que foi a sua maior inspiração para começar a dançar o gênero.
Algum Tempo Atrás...

Desde pequeno sabia que a dança era parte da sua vida, filho de professora de ballet contemporâneo, jurava que sua sina era ser um grande bailarino. Não ligava dos comentários e das provocações dos colegas na escola, tinha orgulho de ser quem era, de ser filho de quem era e de fazer o que fazia.
“famoso” pelas muitas competições do gênero com a companhia de dança de sua família. Sabia que dançar era a sua sina, mas sentia que faltava alguma coisa, sua alma clamava por mais, por algo que ele só conheceu, quando uma nova academia de dança abriu na galeria em que a deles ficava.
A pegada era totalmente diferente da deles, a Groove, sempre foi algo mais calmo, clássico, como o próprio ballet, o jazz, e o sapateado. Já a Obsession era algo mais popular, mais caloroso, mais agitado, o carro chefe era o tango, a salsa e o samba. Uma pegada látina, naquele país que estava definitivamente longe de tudo.
Como ele sempre foi muito curioso, só de ouvir a batida das músicas, quando passava em frente ao salão da Obsession, sentia vontade de entrar e acompanhar, mas alguma coisa não deixava com que ele o fizesse, não que ele tivesse algum preconceito, mas não sabia como eram os costumes ou como seria para eles, ver alguém da "concorrência" lá, observando o que eles faziam.

— Porque você não entra? — Escutou uma voz feminina forte, com um sotaque que ele não conseguiu identificar de onde vinha, e tirou ele do transe em que estava, parado perto da porta de entrada escutando a música que saía de lá.
— Ah, eu, me desculpe! — Ele se curvou se desculpando e quando olhou para a mulher, percebeu que realmente eles não eram "dali".
— Não se desculpe, lindo, você não fez nada de errado. — Ela riu e jogou os cabelos pretos para trás dos ombros. — A gente não morde, e nem mata pessoas de outras academias. — Piscou para ele e entrou no local carregando uma bolsa com provavelmente sua roupa de dança, ele duvidou que ela dançaria com aquele moletom cinza que usava.

Ele ainda ficou receoso, sabia como conseguia se sentir desconfortável nas mais diversas situações, e mesmo que todos o tratassem bem, algo dentro dele o sabotaria, ele tinha certeza! Mas mesmo assim entrou, tudo era tão vibrante de colorido, uma música agitada em uma língua que ele não lembrava de ter ouvido antes saia do alto falante, não era inglês, nem espanhol, nem russo, era diferente, muito similar as músicas latinas que as rádios tocavam vez ou outra.

— Isso é samba de gafieira! — Escutou a mesma mulher que falou com ele a pouco, já vestida, com uma calça legging e uma blusa larga. Então ele assumiu que provavelmente ela estava vestida com aquilo por baixo da roupa. — É uma dança originalmente brasileira. — Ela continuou falando enquanto ele não tirava os olhos do casal dançando no meio do salão, era — É de onde a nossa academia vem também.
— É tão sensual! — Ele não conseguia tirar os olhos do jeito em que os corpos seguiam o ritmo e os sorrisos não saiam dos lábios. — Você disse Brasil? Então isso é aãn…
— Português?! — Riu, vendo a cara que ele fazia ao ver a dança, ela podia apostar que ele nunca tinha visto algo tão “quente” em toda a sua vida.
— Então é isso, português, e vocês todos falam português aqui?
— Não gatinho, aqui nós falamos a língua da música, quer tentar? — Ela estendeu a mão para ele e ele instintivamente, mesmo que não soubesse nem por onde começar, pegou.
— Eu não sei…
— Eu te ensino, vem. — Puxou para um canto da pista, e posicionou os corpos esperando aquela música acabar para que outra se iniciasse. Ela com o braço direito levemente esticado e mão esquerda no ombro dele, antes disso, colocou a mão direita dele em suas costas e a mão esquerda na dela que estava esticada. — Vamos riscar um quadrado imaginário no chão, tá? — Instruiu, mas a cara de confuso dele era impagável. — Quer que eu te mostre sozinha antes? — Ele negou com a cabeça, se ela o soltasse, muito provavelmente ele iria sair correndo dali. — Então eu vou te falar e a gente vai junto, ok? Primeiro você vai colocar a sua perna esquerda para o lado e juntando a direita. Como no forró… e você também não sabe dançar forró né? Pela sua cara eu julgo que não. — Soltou uma gargalhada tão alta que até ele se contagiou. — Aí vai com a esquerda de novo, só que dessa vez para trás, junta de novo e perna direita para o lado, leva a esquerda e faz o quadrado.
Na teoria era difícil de entender, mas com a batida da música foi fácil, lembrava um pouco a valsa para ele, era aquele mesmo esquema só que em círculos, claro que, tinha as quebradinhas de quadril que ela dava e que ele começa a sentir comichar pelo seu corpo, era como se a música fluísse em suas veias e tomasse conta de todo o seu sistema nervoso. Uma batida contagiante.
— Até que é divertido. — Disse, enquanto faziam o quadrado em outras direções.
— Não é? É só sentir a vibe e deixar a vida te levar. — Ela riu, sabia que Zeca Pagodinho era uma pessoa muito importante em sua vida, pois passou ela toda escutando e dançando o sambista, mas nunca achou que parafrasearia um dia para um estrangeiro, nas terras dele.

Eles seguiram naquele passo básico por mais um tempo, mas com olhos de dançarino, começou a observar os outros casais dançando e arriscou alguns passos diferentes - todos os mais básicos, ele tinha visto saltos e piruetas, e não estava afim de machucar ninguém ali. Eles seguiram dançando até a música acabar e quando acabou, o homem sentiu uma coisa dentro dele se ascender, foi como quando sua mãe lhe deu a primeira sapatilha, depois dele implorar para que ela o deixasse dançar ballet, embora a mulher soubesse que o filho tinha talento, sabia o quanto de preconceito ele sofreria, mas a paixão falou mais alto, como o samba estava fazendo com ele novamente. Não sabia se era aquilo que faltava dentro de si, mas sentia que estava chegando perto. Foi embora tão rápido quanto chegou e nem sequer perguntou o nome da mulher. Precisava ir para a academia, tinha uma turma de crianças esperando por suas aulas e precisava treinar para o campeonato nacional de ballet que aconteceria dentro de poucas semanas. Claro que não voltou lá durante algumas semanas, estava escondendo de si que talvez o ballet não fosse a grande dança da vida dele como era de sua mãe, tinha medo de "jogar fora" todo esforço e dedicação que a mais velha tinha investido para que ele realizasse aquele desejo, embora sua alma pedisse para que ele voltasse lá, sua consciência não permitia.

! — Escutou a voz da mais velha chamar. Era o tom de instrutora e não o de mãe.
— Me desculpe, eu não consigo sair desse maldito passo. — Ele estava ficando frustrado, desde a sua ida até a Obsession não conseguia mais executar os passos de ballet com maestria como fazia antes.
— Vem cá! Vamos tirar 5 minutos de pausa, conta para mim o que aconteceu! — Ela tinha o colocado no mundo, sabia mais que ninguém que algo estava afligindo aquele coração e por isso aquela dificuldade em fazer os passos básicos.
— Nada mamãe, eu não sei...— Se sentou derrotado ao lado da mãe, encostando a cabeça em seu ombro.
— Prefere que outra pessoa te treine? Às vezes eu estou pegando leve demais…
— Não é isso mãe, eu não consigo tirar uma coisa da minha cabeça, mas eu sei que não posso pensar nisso, não depois de tudo o que sacrificamos até aqui. — As lágrimas começaram a escorrer por seus olhos, estava se odiando porque sabia que precisava de mais daquele lugar, mas aquilo implicava em seu desempenho no ballet, como vinha atrapalhando naquele momento.
veio perguntar de você. — A mais velha disse, sabia que o filho tinha visitado a escola de dança nova e que muito provavelmente estava obcecado por alguma dança nova, ele era assim, quando uma coisa dominava seu coração, ele não conseguia fazer mais nada direito. Foi assim com a natação, com o ballet, com aulas. Feliz ou infelizmente ele era aquele tipo de pessoa, que constantemente trocava de sonho, mas sempre se empenhava ao máximo quando conseguia fazer o que estava interessado. Ela só não tinha falado nada, porque ele tinha que aprender a tomar decisões sozinho, qualquer decisão que tomasse afetaria sua vida e ele precisava fazer aquilo sozinho.
— Quem? — Ele ajeitou a postura.
— A moça da Obsession, ela disse que você saiu correndo e nunca mais voltou, ficou preocupada que tivesse acontecido algo com você.
— Ah, o nome dela é esse! — O sorriso se escancarou em seus lábios quando lembrou da mulher, da forma que o corpo dela se mexia e como o perfume dos cabelos dela ficou impregnado na roupa dele por pelo menos mais uns dois dias.
— Filho, você sabe que eu te amo e te apoio em tudo, sabe também que nada que eu faço por você é pensando em mim, eu preciso que você seja feliz e faça o que gosta para que eu fique feliz também, não se preocupe comigo, se você quiser dançar outra coisa ou parar de dançar e estudar medicina, sabe que eu vou sempre estar ao seu lado…
— Mas não é justo mamãe, olha como você batalhou por mim para chegarmos até aqui, para que eu dançasse o que eu quisesse e…
— E nada mudou, eu continuo aqui, fazendo o que tiver de fazer para que você dance o que quiser e faça o que quiser da sua vida, eu fui livre para escolher meu caminho e meu filho também vai ser. — As palavras dela o confortavam sempre, aquela era a mulher mais linda, gentil e maravilhosa que existia na face da terra e que bom Que Deus permitiu que ela fosse a mãe dele.

Não treinaram mais aquela tarde! Ambos sabiam que ele não conseguia mais e não se forçariam, não era saudável.

— Olha quem voltou! — disse sorrindo, saindo de dentro do estabelecimento e vendo o homem olhando novamente para dentro do lugar. — Meu bailarino preferido.
! — Ele disse menos tímido dessa vez.
— Saúde? — Ela respondeu, não tinha entendido o que tinha dito.
— Não… — Começou a rir. — Meu nome é , pode me chamar de que é meu nome artístico e meu apelido de infância.
— Ah, ok! Eu sou a , na verdade, mas pode me chamar de , porque sim e porque todo mundo chama. — Ela estendeu a mão para um cumprimento e ficou no vácuo quando ele se curvou, por mais que morasse há algum tempo no país, nunca se acostumava com aquele negócio de pouco contato físico, de onde vinha se cumprimentava até com beijos nas bochechas.
— Aquele dia eu tinha uma aula para dar e fiquei um pouco assustado com meus sentimentos quanto a dança e tudo mais. — explicou, tinha sido uma postura estranha mesmo da parte dele naquele dia.
— Relaxa neném, sua mãe me disse que você é estranho às vezes e se ela que te colocou no mundo disse, quem sou eu… — Ela riu da cara de tacho dele. — Mas tranquilo, eu sou assim também, quando me apaixono é difícil não fazer. Vem, tá rolando aulão de tango, acho que você vai gostar. — Saiu puxando o homem para dentro, os instrutores começariam a aula em breve.

— Todos em posição de dançar. — O instrutor disse ao microfone.
— Você lembra como é? — perguntou parando em frente a ele com o braço direito levemente esticado e o esquerdo no ombro dele. se lembrava que a mão esquerda dele ia na direta dela, mas não lembrava da direita dele, se ia nas costas ou na cintura. — Nas costas! — Como se lesse a mente dele, respondeu aquela questão, ela sabia que ele estava pensativo em onde colocaria a outra mão.
— Agora vamos aos passos básicos…
— Vamos fazer o quadrado? — Ele perguntou, talvez o básico fosse similar a outra dança que tinha experimentado.
— A base em si é a mesma, passo lado, passo frente e passo atrás, mas é você vai ver que é de uma forma diferente, presta a atenção, você pega rápido as coisas, por isso eu gosto de você. — piscou para , ele sabia daquilo e talvez ela tivesse conversado tempo demais com a mãe dele, porque era impossível aquela percepção somente em uma dança que tiveram, não é?!
— Vamos começar com o pé direito do homem para trás e o esquerdo da dama para a frente… — assim que o instrutor disse, todos os casais daquele salão o fizeram. — agora junta o esquerdo, homens atrás e o direito damas à frente. — mais uma vez todos fizeram. — Assim que juntarem os pés, já puxa, homens um passo para a esquerda e junta a perna direita, mulheres a mesma coisa, mas com os pés opostos. — Ele era animado e embora alguns casais tenham se embolando um pouco, tudo estava correndo bem. — Perfeito! agora vamos para frente com os homens e para trás com as mulheres, similar aos primeiros passos, pé esquerdo do homem a frente e o direito da mulher atrás e junta, só que os corpos levemente afastados um ao lado do outro… isso, perfeito, mais um passo à frente e mulheres, quando juntarem os pés, passam um atrás do outro, cruzando as pernas, lindo, lindo… — Conforme ele ia falando e os corpos se movendo, tudo fazia sentido, e era lindo. — Agora vocês vão juntar os corpos de novo, primeiro um passo para a direita de quem está conduzindo e juntem as pernas e os quadris na mesma direção. Assim, agora vamos tentar com a música?

E então La Cumparsita começou a tocar pelo salão e os casais começaram dançar os passos básicos, com a ajuda do homem que andava pelo local, ajudando nas posturas e nos próximos passos. Ali, quando terminou o primeiro circuito com a música e tudo mais, percebeu que era o tango que estava faltando na sua vida, embora não conhecesse nada da dança, precisava conhecer mais a fundo e viver toda aquela experiência daquela dança, ele se sentia uma fênix, o ritmo da música em sintonia com a batida de seu coração, era como se ele tivesse renascido.
Daquele dia em diante não parou de frequentar as aulas de tango, claro que teve de convencer de ser sua parceira e embora ela fosse mais a "mina" da gafieira, eles tinham uma química dentro e fora dos palcos e aquilo deu um gás, eles já tinham conversado antes, se conhecido melhor, e tudo mais, e nas suas pesquisas sobre a dança descobriu que era primordial ter um parceiro ou uma parceira fixo.

Atualmente

No início, onde ele apenas ia para as aulas de tango na Obsession, ele ainda trabalhava como professora de ballet para as crianças na academia da mãe dele, mas depois que começou a participar de competições nacionais de tango com , passou a viver e se dedicar somente àquilo. E era muito bom, focado, dedicado e apaixonado, não só pela dança, mas também por sua parceira, que, embora fosse estrangeira e aquilo fosse "estranho" na cultura dele, não conseguiu evitar, não conseguia mandar nos sentimentos nem para escolher o tipo de dança que queria fazer, quanto mais de quem se apaixonaria.
também exitou viver aquela paixão de início, porque tinha muito medo de se relacionar com homens daquele país, tinha passado por situações péssimas assim que chegou ali e se dedicava única e exclusivamente a sua carreira e ao sucesso da Obsession, mas não teve jeito, caiu nas graças do "bailarino" que dançava com tanta paixão, que acabou de apaixonando e nem percebendo.
Aquela classificação para as finais do campeonato mundial veio também com uma notícia incrível para o casal, que estava casado há pouco mais de um ano, eles não participariam sozinhos daquilo, e não, eles não iam levar ninguém para substituí-los, eles agora eram três corações em dois corpos. Estavam esperando o primeiro filho.



FIM!



Nota da autora: Olá Jiniers, como estamos? Eu nem sabia que podia ressusitar uma fandic como eu fiz com Groove hahahaha era um projeto que eu comecei um tempo atrás, dai o ficstape flopou e eu guardei (na verdade eu tinha escrito o primeiro parágrafo) e ai outra tentativa de ficstape desse album e eu senti que tinha quendar continuidade a ela e aqui estamos, imaginas Kai dançando tango? pois é! agora eu quero de verdade. Espero que tenham gostado.
ps: Se quiser conhecer mais fanfics minhas vou deixar aqui embaixo minha página de autora no site e as minhas redes sociais, estou sempre interagindo por lá e você também consegue acesso a toda a minha lista de histórias atualizada clicando AQUI.
AH NÃO DEIXEM DE COMENTAR, ISSO É MUITO IMPORTANTE PARA SABERMOS SE ESTAMOS INDO PELO CAMINHO CERTO NESSA ESTRADA, AFINAL O PÚBLICO É NOSSO MAIOR INCENTIVO. MAIS UMA VEZ OBRIGADA POR LEREM, EU AMO VOCÊS. BEIJOS DA TIA JINIE.   



 

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