Capítulo Único
A multidão vibrou sob seu olhar admirado.
As vozes estavam unidas, cantando uma só canção, aproveitando o momento e endeusando-o como se merecesse tamanho afeto.
Jung Hoseok, um homem comum, sendo tão amado por tantas pessoas, embora ninguém além dele mesmo conhecesse suas próprias camadas — obscuras, hipócritas e dolorosas.
Ainda assim, seu sorriso era grande, bonito e brilhante; chamavam seu nome, admiravam-no em um momento solo, cantavam suas letras bonitas e profundas, resumiam-no àquilo — palavras desconexas em frases soltas que, de alguma forma, soavam poéticas e vinham dos confins de seus pensamentos alarmados e bagunçados de lembranças.
Hoseok admirou as pessoas à sua frente mais uma vez. A esperança jazia acesa nas profundezas do seu ser, implorando para encontrar um olhar específico, um rosto mais do que conhecido; o motivo de seu sono atordoado, da agonia em seu coração e do suor nas palmas das mãos só por pensar em seu nome. No entanto, ao mesmo tempo, perguntava-se: qual a possibilidade de encontrá-la novamente? Principalmente ali, em seu show, assistindo-o como nos velhos tempos. Mas a esperança ainda estava ali, como em seu nome, em seu peito, em sua costela, tatuada de forma minúscula e quase ilegível.
As cortinas se fecham diante de seus olhos, escondendo-o, por fim. Um suspiro forte lhe escapou, ao mesmo tempo em que sentia as mãos ásperas e rápidas dos staffs arrancando-lhe as roupas, o microfone e quaisquer coisas que não se encaixavam mais com o próximo bloco do show, ao passo em que se iniciava um novo vídeo no telão para distrair os fãs.
— Você precisa parar de procurá-la — a voz grave de Taehyung ecoou em seus ouvidos. — Está óbvio demais, hyung, já fazem anos.
Hoseok suspirou e fez um sinal para que a staff se afastasse um pouco, arrancando, ele mesmo, a camisa social branca que vestia — arrebentando um dos botões tamanho fora sua agressividade.
— Não quero falar sobre isso — respondeu, por fim, vestindo o figurino novo que lhe fora estendido.
— Um dia você vai precisar encarar a realidade — Taehyung insistiu, olhando-o com pesar e carinho. — Quando finalmente aceitar a perda e parar de procurá-la com tanta obsessão, o destino fará seu próprio dever.
— E que dever é este, Taehyung? — Hoseok perguntou, ríspido, esperando que aquele pirralho, não tão pirralho assim, calasse a maldita boca.
— Trazê-la de volta — ele respondeu, dando de ombros. — Quanto mais se almeja algo, hyung, mais demora para acontecer. Não é procurando por ela incessantemente pela multidão que a fará aparecer, magicamente, diante de você.
Logo que Taehyung finalizou sua fala, que soara completamente sem sentido para o momento, a introdução de uma antiga música do BTS ecoou pelo local, lembrando-os que tinham milhares de pessoas o aguardando para aquele show em especial, em que comemoravam mais um ano de aniversário do grupo. Ao reconhecer a canção, Hoseok sentiu-se arrepiar por completo; cantar qualquer faixa do Dark & Wild o deixava sensível, sobretudo aquela, onde narrava seu amor pelo Hip-Hop — o motivo pelo qual a encontrara, quando ainda era um simples trainee.
— Acredite na magia do hip-hop novamente, hyung, talvez isso te ajude — Taehyung sussurrou próximo ao seu ouvido, seguindo seu rumo em direção ao palco novamente, mergulhando naquele mar de histeria e gritos animalescos.
Sem fé e com os olhos marejados, Hoseok o seguiu.
A verdade era que sentia mais culpa do que saudades.
Os gritos trouxeram-no de volta à realidade. Escapar para o passado sempre que pisava em um palco era uma rotina que gostaria de quebrar. Lembrar-se do quão negligente fora com quem mais amara no mundo era complicado; não sabia lidar com todas as sensações que as lembranças traziam, não conseguia respeitar seu próprio tempo para atingir a superação e tampouco conseguia perdoar a si mesmo; era muito mais fácil se martirizar e remoer as dores do passado do que buscar uma forma de aceitar-se, perdoar-se e encontrar-se novamente com quem mais almejava — não era impossível encontrá-la, afinal; ela era uma mulher midiática, conhecida e adorada; era a sensação do momento, a modelo mais falada, a atriz mais cobiçada e o ser humano mais exemplar que existia no universo, ao menos ao seu ver.
Quando a última música da setlist do show se iniciou, Hoseok sentiu o peito leve. Os fãs, à sua frente, deixavam-no à vontade, ajudavam-no a superar quaisquer inseguranças e faziam-no perceber que, apesar de todos os sacrifícios, ele ainda valia a pena. Ainda era um artista, ainda era um ser humano que precisou abrir mão de momentos e datas importantes, precisou deixar pessoas de lado para seguir sua carreira, precisou ser egoísta para que conseguisse sobreviver; ver todas aquelas pessoas gritando seus raps, elogiando-o e chamando seu nome verdadeiro, enchia seu peito de alegria e vontade de continuar. Não tinha por que desistir àquela altura, não tinha por que fingir que não estava feliz para castigar-se e não aceitar o próprio sucesso; ele havia errado muito pelo caminho, porém, quem não?
A melodia calma ecoava pelo estádio cheio e brilhante, deixando-o cada vez mais emocionado. Pensando apenas naquele momento e as sensações revigorantes que sentia naquele momento, Hoseok fechou os olhos por alguns segundos, segurando as lágrimas de emoção que já beiravam em seus olhos. Quando voltou a enxergar, fitou o céu aberto, estrelado e com a Lua alta brilhando sobre ele e seus irmãos, sorriu automaticamente, sentindo-se outra pessoa — talvez precisasse daquilo para sentir-se pronto para o perdão próprio e para seguir em frente; talvez tudo o que fosse capaz de curar suas dores era aquilo: as melodias gostosas que Yoongi costumava criar, as letras profundas e bonitas de Namjoon e a voz doce e calma de Jungkook ao fundo.
Sorriu mais abertamente ao sentir a mão firme de Jin tocando-lhe o ombro, apertando-o com carinho. Não era difícil perceber que seu mood estava diferente e que já estava prestes a chorar — ele era sempre o primeiro.
Hoseok voltou a fitar as pessoas à sua frente, tomando fôlego para cantar seu rap e expor ainda mais seus sentimentos. Começou, finalmente, colocando tudo o que sentia para fora, deixando que seu peito explodisse em palavras fortes.
A multidão vibrou sob seu olhar admirado outra vez, e um sorriso bonito e conhecido brilhou entre todos os outros.
Ela estava ali.
O hip-hop que os separou, também os uniu.
As vozes estavam unidas, cantando uma só canção, aproveitando o momento e endeusando-o como se merecesse tamanho afeto.
Jung Hoseok, um homem comum, sendo tão amado por tantas pessoas, embora ninguém além dele mesmo conhecesse suas próprias camadas — obscuras, hipócritas e dolorosas.
Ainda assim, seu sorriso era grande, bonito e brilhante; chamavam seu nome, admiravam-no em um momento solo, cantavam suas letras bonitas e profundas, resumiam-no àquilo — palavras desconexas em frases soltas que, de alguma forma, soavam poéticas e vinham dos confins de seus pensamentos alarmados e bagunçados de lembranças.
Hoseok admirou as pessoas à sua frente mais uma vez. A esperança jazia acesa nas profundezas do seu ser, implorando para encontrar um olhar específico, um rosto mais do que conhecido; o motivo de seu sono atordoado, da agonia em seu coração e do suor nas palmas das mãos só por pensar em seu nome. No entanto, ao mesmo tempo, perguntava-se: qual a possibilidade de encontrá-la novamente? Principalmente ali, em seu show, assistindo-o como nos velhos tempos. Mas a esperança ainda estava ali, como em seu nome, em seu peito, em sua costela, tatuada de forma minúscula e quase ilegível.
As cortinas se fecham diante de seus olhos, escondendo-o, por fim. Um suspiro forte lhe escapou, ao mesmo tempo em que sentia as mãos ásperas e rápidas dos staffs arrancando-lhe as roupas, o microfone e quaisquer coisas que não se encaixavam mais com o próximo bloco do show, ao passo em que se iniciava um novo vídeo no telão para distrair os fãs.
— Você precisa parar de procurá-la — a voz grave de Taehyung ecoou em seus ouvidos. — Está óbvio demais, hyung, já fazem anos.
Hoseok suspirou e fez um sinal para que a staff se afastasse um pouco, arrancando, ele mesmo, a camisa social branca que vestia — arrebentando um dos botões tamanho fora sua agressividade.
— Não quero falar sobre isso — respondeu, por fim, vestindo o figurino novo que lhe fora estendido.
— Um dia você vai precisar encarar a realidade — Taehyung insistiu, olhando-o com pesar e carinho. — Quando finalmente aceitar a perda e parar de procurá-la com tanta obsessão, o destino fará seu próprio dever.
— E que dever é este, Taehyung? — Hoseok perguntou, ríspido, esperando que aquele pirralho, não tão pirralho assim, calasse a maldita boca.
— Trazê-la de volta — ele respondeu, dando de ombros. — Quanto mais se almeja algo, hyung, mais demora para acontecer. Não é procurando por ela incessantemente pela multidão que a fará aparecer, magicamente, diante de você.
Logo que Taehyung finalizou sua fala, que soara completamente sem sentido para o momento, a introdução de uma antiga música do BTS ecoou pelo local, lembrando-os que tinham milhares de pessoas o aguardando para aquele show em especial, em que comemoravam mais um ano de aniversário do grupo. Ao reconhecer a canção, Hoseok sentiu-se arrepiar por completo; cantar qualquer faixa do Dark & Wild o deixava sensível, sobretudo aquela, onde narrava seu amor pelo Hip-Hop — o motivo pelo qual a encontrara, quando ainda era um simples trainee.
— Acredite na magia do hip-hop novamente, hyung, talvez isso te ajude — Taehyung sussurrou próximo ao seu ouvido, seguindo seu rumo em direção ao palco novamente, mergulhando naquele mar de histeria e gritos animalescos.
Sem fé e com os olhos marejados, Hoseok o seguiu.
A verdade era que sentia mais culpa do que saudades.
Os gritos trouxeram-no de volta à realidade. Escapar para o passado sempre que pisava em um palco era uma rotina que gostaria de quebrar. Lembrar-se do quão negligente fora com quem mais amara no mundo era complicado; não sabia lidar com todas as sensações que as lembranças traziam, não conseguia respeitar seu próprio tempo para atingir a superação e tampouco conseguia perdoar a si mesmo; era muito mais fácil se martirizar e remoer as dores do passado do que buscar uma forma de aceitar-se, perdoar-se e encontrar-se novamente com quem mais almejava — não era impossível encontrá-la, afinal; ela era uma mulher midiática, conhecida e adorada; era a sensação do momento, a modelo mais falada, a atriz mais cobiçada e o ser humano mais exemplar que existia no universo, ao menos ao seu ver.
Quando a última música da setlist do show se iniciou, Hoseok sentiu o peito leve. Os fãs, à sua frente, deixavam-no à vontade, ajudavam-no a superar quaisquer inseguranças e faziam-no perceber que, apesar de todos os sacrifícios, ele ainda valia a pena. Ainda era um artista, ainda era um ser humano que precisou abrir mão de momentos e datas importantes, precisou deixar pessoas de lado para seguir sua carreira, precisou ser egoísta para que conseguisse sobreviver; ver todas aquelas pessoas gritando seus raps, elogiando-o e chamando seu nome verdadeiro, enchia seu peito de alegria e vontade de continuar. Não tinha por que desistir àquela altura, não tinha por que fingir que não estava feliz para castigar-se e não aceitar o próprio sucesso; ele havia errado muito pelo caminho, porém, quem não?
A melodia calma ecoava pelo estádio cheio e brilhante, deixando-o cada vez mais emocionado. Pensando apenas naquele momento e as sensações revigorantes que sentia naquele momento, Hoseok fechou os olhos por alguns segundos, segurando as lágrimas de emoção que já beiravam em seus olhos. Quando voltou a enxergar, fitou o céu aberto, estrelado e com a Lua alta brilhando sobre ele e seus irmãos, sorriu automaticamente, sentindo-se outra pessoa — talvez precisasse daquilo para sentir-se pronto para o perdão próprio e para seguir em frente; talvez tudo o que fosse capaz de curar suas dores era aquilo: as melodias gostosas que Yoongi costumava criar, as letras profundas e bonitas de Namjoon e a voz doce e calma de Jungkook ao fundo.
Sorriu mais abertamente ao sentir a mão firme de Jin tocando-lhe o ombro, apertando-o com carinho. Não era difícil perceber que seu mood estava diferente e que já estava prestes a chorar — ele era sempre o primeiro.
Hoseok voltou a fitar as pessoas à sua frente, tomando fôlego para cantar seu rap e expor ainda mais seus sentimentos. Começou, finalmente, colocando tudo o que sentia para fora, deixando que seu peito explodisse em palavras fortes.
A multidão vibrou sob seu olhar admirado outra vez, e um sorriso bonito e conhecido brilhou entre todos os outros.
Ela estava ali.
O hip-hop que os separou, também os uniu.
FIM
Nota da autora: Sem nota.
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