Capítulo Único
Alguém já te fez um carinho tão gostoso, que te faz esquecer todos os tropeços da vida?
Seu beijo era diferente de todos os outros. Era calmo, quase tímido – mesmo depois de tantos anos. Mas suas mãos em minha volta eram firmes. Ninguém nunca me beijou assim. Não digo isso de uma forma sonhadora, para que vocês vejam o quanto eu o considero único. Não é isso. O beijo dele era, realmente, só dele. O melhor carinho que já recebi.
Eu passeava meus dedos pelos seus cachos com cuidado e carinho, porque ele sempre dizia que eu bagunçava seu cabelo enroladinho. Eu não enxergava nada daquilo, achava bobeira da cabeça dele, mas obedecia com um sorriso no rosto.
Às vezes, ele voltava a usar o perfume que usava na época em que nos conhecemos. Ele passou por muitos perfumes diferentes ao longo desses anos. Engraçado que todos tinham algo em comum, então eu não sabia dizer qual era qual. Mas sabia quando ele estava com cheiro de “começo”. Cheiro de primeiro beijo, de frio na barriga, de primeiro “eu... acho que te amo” no carro estacionado em frente ao meu prédio, debaixo de chuva forte em véspera de Natal. Volta e meia ele estava. E eu adorava quando ele fazia isso.
Ele era sempre quente. Sua pele era quente, cheia de pintinhas e feita sob medida para o meu carinho. Afundar o rosto na curva do seu pescoço era a mais perfeita definição de conforto e segurança. Ele ria quando eu fazia isso, porque sentia cócegas com tanta facilidade!
Eu sempre me surpreendia com seus mimos. Eu realmente podia sentir meu interior esquentar toda vez que ele fazia a comida que eu gostava sem que eu pedisse; toda vez que aparecia de surpresa para me cuidar quando eu estava doente; toda vez que seus dedos procuravam meus cabelos para aquele cafuné preguiçoso de dia de chuva; toda vez que ele me beijava sem aviso, como agora, fazendo todos os pedacinhos se juntarem no mais delicioso encaixe.
- Ei – chamaram, e eu senti uma mão no meu braço. – Você precisa colocar o cinto. Vamos pousar.
Abri os olhos e pisquei algumas vezes antes de me ajeitar no banco reclinado. Demorei um segundo para entender onde eu estava.
- Eu estava sonhando... – comentei baixinho, enquanto coçava os olhos.
sorriu.
- Tá na hora de acordar.
Pus o cinto e sorri, sentindo meu interior vibrar de ansiedade.
-
Seus olhos ansiosos encontraram os meus, e ela me olhou daquele jeito de quem ganhou um presente. Como eu senti falta daqueles olhos! E de tudo mais nela.
Sentia saudade da sua voz, das suas conversas, de saber que ela estava ali do meu lado na cama à noite. Saudade de sentir o cheiro da pele dela nas roupas, as músicas que ela cantava no banho, a comida em cima do fogão que ela sempre se esquecia de guardar. Aquela saudade doída, aquela vontade tão arrebatadora que zomba de você e te faz sentir-se impotente.
Ela começou a se aproximar de mim e minha visão até embaçou. De repente, não via mais aquela mulher linda vindo na minha direção. Via a alegria que chegou com ela. Eu a via – a alegria – bem na minha frente, nítida. Via a alegria e todas as lembranças nas quais ela transbordava. Lembranças das manias que ela tinha, como me beijar com diferentes partes do corpo. Ela me alcançava com um dedo esticado, ou com o nariz, ou com os pés, e fazia barulhinho de beijo. Dos comentários inesperadas que ela sempre fazia, que me faziam amolecer todinho por dentro porque eu a achava simplesmente tão adorável. Dos ataques de preguiça dela, quando se jogava na cama ou no sofá esperando que eu voltasse para fazer um carinho. De como tudo, tudo ficava bem quando ela dizia que me amava. De todas as fotos no meu celular, que eu olhava todos os dias, pensando no quanto ela era bonita... E olha que esse é o menor entre tantos motivos para amá-la! Mas nem todas as fotos do mundo faziam jus a quão linda ela realmente era em pessoa.
Então minha visão voltou a encontrar o foco e eu voltei a vê-la. A dois passos de mim. A um passo de mim. Bem na minha frente.
- O voo dela pousou. – alguém disse, apertando meu ombro de leve.
Abri os olhos e pisquei algumas vezes antes de me ajeitar na cadeira. Demorei um segundo para entender onde eu estava.
- Eu estava sonhando... – comentei baixinho, enquanto coçava os olhos.
sorriu.
- Tá na hora de acordar.
Eu me levantei de uma vez e sorri, sentindo meu interior vibrar de ansiedade.
-
A espera. Longa e torturante. Já haviam esperado tanto tempo, mas de alguma forma aqueles minutos finais pareciam intermináveis.
O estralar de dedos.
As olhadelas repetidas no relógio.
Os suspiros profundos.
As mãos se esfregando.
As ajeitadas nas roupas, cabelos.
Tudo, tudo na tentativa infantil e afobada de fazer o tempo se apressar.
E enfim, malas nas mãos, olhares nos portões. É chegada a hora.
Naquele mar de pessoas, em algum lugar, estava ela. Alguns apressados, destino fixo. Outros hesitantes, com calma, à procura de alguém. E entre todos eles, ela surgiu.
Então os olhos se encontraram naquela expressão de alívio, de coração que quase escapa pela boca. Ela caminhou mais rápido em direção aos braços abertos. A dois passos de distância. A um passo de distância. Bem em frente ao outro, e finalmente mataram aquela saudade no abraço mais apertado e caloroso. Saudade é o coração da gente pedindo para voltar para casa, e aqueles dois estavam, enfim, em casa.
Ele tinha “cheiro de começo”, como ela gostava. Ela disse a frase que fazia tudo ficar bem, como ele esperava:
- Eu te amo. – a voz baixinha e amorosa
Tomando fôlego, um pouco atrapalhados pela ansiedade, os lábios se juntaram no carinho preferido deles. E a inquietação virou sossego. O desejo virou realidade. A falta, completude.
E como que telepaticamente, naquela sincronia que era só deles, um pensamento cruzou duas mentes.
Eu estou sonhando? Só posso estar sonhando.
Não estavam. Não era sonho. Era apenas a realidade mais doce que se pode conhecer.
Seu beijo era diferente de todos os outros. Era calmo, quase tímido – mesmo depois de tantos anos. Mas suas mãos em minha volta eram firmes. Ninguém nunca me beijou assim. Não digo isso de uma forma sonhadora, para que vocês vejam o quanto eu o considero único. Não é isso. O beijo dele era, realmente, só dele. O melhor carinho que já recebi.
Eu passeava meus dedos pelos seus cachos com cuidado e carinho, porque ele sempre dizia que eu bagunçava seu cabelo enroladinho. Eu não enxergava nada daquilo, achava bobeira da cabeça dele, mas obedecia com um sorriso no rosto.
Às vezes, ele voltava a usar o perfume que usava na época em que nos conhecemos. Ele passou por muitos perfumes diferentes ao longo desses anos. Engraçado que todos tinham algo em comum, então eu não sabia dizer qual era qual. Mas sabia quando ele estava com cheiro de “começo”. Cheiro de primeiro beijo, de frio na barriga, de primeiro “eu... acho que te amo” no carro estacionado em frente ao meu prédio, debaixo de chuva forte em véspera de Natal. Volta e meia ele estava. E eu adorava quando ele fazia isso.
Ele era sempre quente. Sua pele era quente, cheia de pintinhas e feita sob medida para o meu carinho. Afundar o rosto na curva do seu pescoço era a mais perfeita definição de conforto e segurança. Ele ria quando eu fazia isso, porque sentia cócegas com tanta facilidade!
Eu sempre me surpreendia com seus mimos. Eu realmente podia sentir meu interior esquentar toda vez que ele fazia a comida que eu gostava sem que eu pedisse; toda vez que aparecia de surpresa para me cuidar quando eu estava doente; toda vez que seus dedos procuravam meus cabelos para aquele cafuné preguiçoso de dia de chuva; toda vez que ele me beijava sem aviso, como agora, fazendo todos os pedacinhos se juntarem no mais delicioso encaixe.
- Ei – chamaram, e eu senti uma mão no meu braço. – Você precisa colocar o cinto. Vamos pousar.
Abri os olhos e pisquei algumas vezes antes de me ajeitar no banco reclinado. Demorei um segundo para entender onde eu estava.
- Eu estava sonhando... – comentei baixinho, enquanto coçava os olhos.
sorriu.
- Tá na hora de acordar.
Pus o cinto e sorri, sentindo meu interior vibrar de ansiedade.
-
Seus olhos ansiosos encontraram os meus, e ela me olhou daquele jeito de quem ganhou um presente. Como eu senti falta daqueles olhos! E de tudo mais nela.
Sentia saudade da sua voz, das suas conversas, de saber que ela estava ali do meu lado na cama à noite. Saudade de sentir o cheiro da pele dela nas roupas, as músicas que ela cantava no banho, a comida em cima do fogão que ela sempre se esquecia de guardar. Aquela saudade doída, aquela vontade tão arrebatadora que zomba de você e te faz sentir-se impotente.
Ela começou a se aproximar de mim e minha visão até embaçou. De repente, não via mais aquela mulher linda vindo na minha direção. Via a alegria que chegou com ela. Eu a via – a alegria – bem na minha frente, nítida. Via a alegria e todas as lembranças nas quais ela transbordava. Lembranças das manias que ela tinha, como me beijar com diferentes partes do corpo. Ela me alcançava com um dedo esticado, ou com o nariz, ou com os pés, e fazia barulhinho de beijo. Dos comentários inesperadas que ela sempre fazia, que me faziam amolecer todinho por dentro porque eu a achava simplesmente tão adorável. Dos ataques de preguiça dela, quando se jogava na cama ou no sofá esperando que eu voltasse para fazer um carinho. De como tudo, tudo ficava bem quando ela dizia que me amava. De todas as fotos no meu celular, que eu olhava todos os dias, pensando no quanto ela era bonita... E olha que esse é o menor entre tantos motivos para amá-la! Mas nem todas as fotos do mundo faziam jus a quão linda ela realmente era em pessoa.
Então minha visão voltou a encontrar o foco e eu voltei a vê-la. A dois passos de mim. A um passo de mim. Bem na minha frente.
- O voo dela pousou. – alguém disse, apertando meu ombro de leve.
Abri os olhos e pisquei algumas vezes antes de me ajeitar na cadeira. Demorei um segundo para entender onde eu estava.
- Eu estava sonhando... – comentei baixinho, enquanto coçava os olhos.
sorriu.
- Tá na hora de acordar.
Eu me levantei de uma vez e sorri, sentindo meu interior vibrar de ansiedade.
-
A espera. Longa e torturante. Já haviam esperado tanto tempo, mas de alguma forma aqueles minutos finais pareciam intermináveis.
O estralar de dedos.
As olhadelas repetidas no relógio.
Os suspiros profundos.
As mãos se esfregando.
As ajeitadas nas roupas, cabelos.
Tudo, tudo na tentativa infantil e afobada de fazer o tempo se apressar.
E enfim, malas nas mãos, olhares nos portões. É chegada a hora.
Naquele mar de pessoas, em algum lugar, estava ela. Alguns apressados, destino fixo. Outros hesitantes, com calma, à procura de alguém. E entre todos eles, ela surgiu.
Então os olhos se encontraram naquela expressão de alívio, de coração que quase escapa pela boca. Ela caminhou mais rápido em direção aos braços abertos. A dois passos de distância. A um passo de distância. Bem em frente ao outro, e finalmente mataram aquela saudade no abraço mais apertado e caloroso. Saudade é o coração da gente pedindo para voltar para casa, e aqueles dois estavam, enfim, em casa.
Ele tinha “cheiro de começo”, como ela gostava. Ela disse a frase que fazia tudo ficar bem, como ele esperava:
- Eu te amo. – a voz baixinha e amorosa
Tomando fôlego, um pouco atrapalhados pela ansiedade, os lábios se juntaram no carinho preferido deles. E a inquietação virou sossego. O desejo virou realidade. A falta, completude.
E como que telepaticamente, naquela sincronia que era só deles, um pensamento cruzou duas mentes.
Eu estou sonhando? Só posso estar sonhando.
Não estavam. Não era sonho. Era apenas a realidade mais doce que se pode conhecer.
Fim
Nota da autora: Oi, gente!
Foi um prazer participar desse especial lindo em comemoração de mais um ano do FFOBS! <3
Essa música me passa uma calma e uma simplicidade tão grandes que não senti vontade de escrever nada longo e elaborado. Sei que a fic ficou super simples e curtinha, mas espero que tenham gostado. Me contem nos comentários :)
Nota da beta: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Foi um prazer participar desse especial lindo em comemoração de mais um ano do FFOBS! <3
Essa música me passa uma calma e uma simplicidade tão grandes que não senti vontade de escrever nada longo e elaborado. Sei que a fic ficou super simples e curtinha, mas espero que tenham gostado. Me contem nos comentários :)
Nota da beta: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.