Última atualização: 04/06/2020

01

observava a sua barriga através do reflexo do espelho, fazendo um carinho na mesma com as mãos. Era estranho pensar que ela estava gerando uma vida ali dentro, que carregava alguém que era parte dela e seria pra sempre. A jornalista sempre sonhou em ser mãe, em relacionamentos passados, tudo nunca passou de testes negativos e agora que ela estava solteira, a sua vontade finalmente se concretizou.
Apesar de ficar com várias pessoas, não tinha dúvidas em relação a paternidade daquele bebê, sempre se cuidava em suas relações e bastou apenas um deslize para que ela engravidasse. Como se tudo virasse de cabeça para baixo, tamanha era a surpresa, pegou duas semanas de férias no trabalho, ficando esses dias na casa da mãe em uma cidade vizinha, evitando ao máximo ter contato com as pessoas do seu convívio.
Ela ficava com , um dos seus melhores amigos e uma pessoa pela qual nutria um sentimento que não conseguia nomear, mas considerava enorme e jamais sentido antes. Ao lado de , conseguia ser ela mesma, o rapaz despertava as suas melhores versões. Apesar de ser um sentimento recíproco, fugia quando o assunto era relacionamento sério por medo de que o rótulo acabasse atrapalhando o que os dois tinham.
Mas assim que confirmou a gravidez, contou apenas para a sua melhor amiga, , que teve que prometer que não contaria para ninguém. Contudo ela acabou ignorando dias antes de sua viagem, que tentava conversar com a amiga, mas não tinha retorno. Quando ele soube por outros da viagem, também tentou falar com , mas a amiga sempre lhe respondia com respostas frias. Percebendo que estava sendo ignorado, parou de procura-la e respeitou o momento de . Mesmo sentindo falta do amigo, ela precisava de um tempo para pensar em tudo o que aconteceu e colocar as coisas no lugar.
Ficou mais um bom tempo olhando a barriga, apesar do pouco tempo de gravidez o seu corpo ainda não tinha mudado tanto, porém já conseguia perceber a diferença, que era mais interna do que física. Respirou fundo e colocou a roupa, optou por uma calça e uma blusa mais solta, que não marcasse tanto. Não era como se alguém pudesse descobrir só ao olha-la, e também não poderia esconder pra sempre, porém ela ainda não estava pronta para falar sobre aquele assunto.
Estava se arrumando para ir a um evento no qual ela jamais poderia faltar: era o aniversário de e com certeza estaria lá, fazia alguns dias que eles não se falavam e que não se viam. Não sabia como seria esse reencontro mais sabia que uma hora ou outra ele aconteceria, visto que ela e eram do mesmo grupo de amigos.
Terminou de se arrumar e foi até o apartamento de , de lá as duas iriam para a balada. Como não podia e nem tinha intenção de beber naquela noite, ela foi dirigindo até a casa da amiga.

- Feliz aniversário! – parabenizou a amiga assim que a mesma abriu a porta, abraçando-a logo em seguida.
- , muito obrigada! Já estava com saudades – agradeceu e pegou o presente que a amiga segurava, enquanto entravam no apartamento. – Como vocês estão?
- Bem, eu acho – ela riu ainda sem conseguir acreditar em tudo. – Vou ao médico na segunda.
- Posso te acompanhar se quiser – comentou e viu assentir. – Vai contar para o hoje?
- Não, . falava de namorarmos há dias atrás, não posso simplesmente chegar e contar que estou grávida – em sua fala foi possível notar o medo de que aquela informação mudasse algo na amizade que eles tinham.
- Você não conhece o amigo que tem? Isso não vai mudar nada! – ainda afirmou.
- Claro que vai – viu negar com a cabeça. – Enfim, uma hora vai saber, mas não vai ser hoje.

Tentando não insistir naquele assunto, apenas assentiu e continuou se arrumando enquanto aguardava pensativa, antes de começarem a conversar sobre outros assuntos.
O lugar onde comemoraria o seu aniversário era uma balada em um dos bairros mais badalados de São Paulo. O lugar era composto por uma pista de dança, um bar com mesas e puffs e no andar de cima era uma sala de jogos. Alguns amigos de já estavam por lá, mas como estava cedo, ainda tinha muita gente pra chegar.

- Eu esqueci de te contar uma coisa, eu convidei o Bernardo também – falou próximo ao ouvido de , que estava sentada em uma das mesas tomando um drink sem álcool, saiu quando foi chamada por um de seus convidados antes mesmo que respondesse alguma coisa.

Bernardo era um amigo de que conheceu através da mesma, havia ficado com o rapaz dias antes de descobrir a gravidez. Como não passaram de beijos quando saíram, os dois combinaram de se encontrarem depois. Porém com tudo o que aconteceu, acabou se esquecendo por completo do rapaz.

- Você está cada dia mais linda, , qual o segredo? – Poline, uma amiga que tinha em comum com e que estava com ela na mesma mesa, perguntou, tirando dos seus pensamentos.

Gravidez! Ela pensou embora não fosse aquela a resposta que daria.

- Tirei uns dias de férias, estava no interior com a minha mãe, acho que me fizeram bem.
- Não tenho dúvidas, você está radiante.

Alguns minutos depois, repletos por drinks sem álcool, observou a imagem de adentrando o local e indo de encontro onde estava para parabeniza-la. Sentiu o nervosismo tomar conta de si, sem saber ao certo se o amigo falaria com ela ou se estava tão chateado a ponto de ignora-la por completo.
Ao contrário de tudo o que pensou, assim que os olhos de cruzaram com os de , ele sorriu para a amiga de imediato, sem pensar duas vezes antes de ir até ela. Como se o corpo de estivesse criado vida própria, ela se levantou e, quando percebeu, já estava nos braços de em um abraço acolhedor.

- Que saudades de você! – disse baixo, antes de beija-la no topo da cabeça e solta-la logo em seguida.
- Me desculpa, . Acho que te devo uma explicação – forçou um sorriso sem graça e voltou para o seu lugar na mesa, sendo acompanhada por . – Achei que você não queria mais olhar na minha cara.
- Acha mesmo que eu desistiria de você tão fácil assim? Eu imaginei que alguma coisa tivesse acontecido e respeitei o seu espaço. Só me afastaria de você se me pedisse, caso contrário, sem chances de te tirar da minha vida.
- Você não existe mesmo – elogiou e fez um carinho nas mãos de . Vendo que um silêncio nasceu entre eles, acabou falando a primeira coisa que surgiu em sua mente. – Eu conheci alguém, .

Odiava mentir, principalmente para o melhor amigo. ainda não estava preparada para contar para sobre a sua gravidez e achou que esconder aquela informação fosse o melhor a se fazer naquele momento. Pensando em Bernardo que logo apareceria, tentaria, de fato, conhecer um pouco mais o rapaz e quem sabe ter algo mais sério.
O seu problema era com . Na mente de , ela achava impossível continuar da mesma forma, já que a amizade colorida tinha evoluído para algo mais sério. Ainda tinha a gravidez que não sabia e não fazia ideia de como contar e muito menos como o amigo iria reagir. Preferia conhecer alguém novo do que tentar com e correr o risco de não dar certo e perder o amigo. Imaginava que se ela estivesse com alguém, seria mais fácil manter por perto como amigo.

- Por isso você me evitou? – viu assentir em reposta. ainda respirou fundo antes de continuar. – , achei que estivesse claro que antes de qualquer coisa eu sou o seu amigo. Não escondo de ninguém que quero ficar com você, mas se você tá conhecendo alguém, eu não vou deixar de ser seu amigo só porque meu sentimento não é correspondido. Seria infantilidade da minha parte.
- Eu fiquei com medo de te perder, . Você sabe que eu fujo quando perco o controle de tudo – expôs uma de suas inseguranças, que já conhecia bem.
- Jamais, . Não conseguiria ficar longe desses olhinhos brilhantes - sorriu para , que retribuiu.
- Eu amo você – ela declarou com todo o seu coração.
- Eu também amo você, e estou falando isso como amigo, que fique claro – ele brincou arrancando mais um sorriso de , coisa que conseguia fazer com facilidade.


02

O clima do local era, no mínimo estranho. Assim que Bernardo chegou, ficou claro para que era sobre ele que havia falado, apesar de não citar nomes. Os dois estava juntos, conversavam e se abraçavam e mesmo de longe, percebeu que alguma coisa a mais estava acontecendo. Se era aquilo que queria, mesmo gostando dela e não escondendo isso de ninguém, a única coisa que ele podia fazer era respeitar a sua decisão.
Não era como se ele fosse parar de gostar da melhor amiga, longe disso, jamais desistiria do sentimento tão genuíno que nutria por ela. Porém sabia que esse fato não fazia com que passasse a sentir o mesmo por ele.
Viu Bernardo falar alguma coisa com e logo o rapaz foi em direção a saída. Um pouco depois foi até o amigo, já que já estava bêbada demais dançando no meio da pista.

- Eu vou indo, – ela avisou ao se despedir. – Quer uma carona?
- Quero sim, – aceitou por sua casa ser próxima da de .

Os dois se despediram de , que parecia não estar entendendo nada que acontecia ao seu redor. ainda se certificou de que Poline deixaria em casa antes de sair da balada. Foram até o estacionamento em silêncio, silêncio esse que se manteve ao entrarem no carro até que, depois de um tempo, fosse quebrado por .

- Não bebeu hoje? – quis saber ao lembrar de ter visto a amiga tomando um refrigerante, coisa que raramente acontecia.
- Tomei um remédio, estava com dor de cabeça mais cedo – mentiu mesmo com a sua consciência lembrando de que ele era seu melhor amigo.
- E o Bernardo? – tocou no assunto, era estranho demais ficar em silêncio quando estava perto de , sua melhor amiga.
- O que tem ele? – pareceu não entender o que, de fato, o amigo queria perguntar.
- Vi vocês apenas conversando.

A consciência de insistia em lembrar que ela estava mentido justamente para uma das pessoas que ela mais amava. Porém não sabia mais o que fazer, não queria se afastar de e tinha medo de que toda a verdade fizesse com que isso acontecesse e que ele acabasse desistindo dela.

- Estava me vigiando, ?
- Não, , claro que não. Não precisa ficar na defensiva – ele notou o tom de voz diferente da amiga. – Eu já te disse que não vou desistir de você e tudo o que te acontece é do meu interesse, só queria saber se está tudo bem.
- Desculpa – pediu ao saber que havia exagerado. – É que ainda estamos nos conhecendo.

apenas assentiu, sem querer continuar aquela conversa já que um clima estranho pairava entre eles. No pensamento de , ela sabia que estava agindo errado por estar tratando daquela forma e por estar mentindo sobre algo tão sério para a única pessoa com quem ela nunca teve segredos. Enquanto isso, tentava entender porque estava tão diferente com ele, porém decidiu não questionar, se não queria dizer porque voltou tão diferente, ele iria respeitar o tempo dela.

- Obrigada pela carona – agradeceu e beijou o topo da cabeça da amiga, que apenas sorriu em resposta, antes de sair do carro assim que estacionou em frente ao seu prédio.

seguiu até a sua casa, com muitos pensamentos bagunçados em sua mente. Foi surpreendida ao encontrar um carro parado em frente a seu prédio, notando que era o de Bernardo, já que o mesmo estava do lado de fora. Desceu do veículo e assim que ele percebeu, foi em direção aonde ela estava.

- Bernardo? Aconteceu alguma coisa?
- Não eu só estava te esperando – disse sorrindo, deixando um tanto quanto confusa. – Não vai me convidar pra entrar? - perguntou quando permaneceu em silêncio.
- Claro, entre – ela acordou de seus pensamentos e abriu o portão, dando passagem a Bernardo.

Os dois entraram no apartamento, tentava entender porque ele estava ali, já que ela havia recusado o convite de ir até a casa dele, dando a desculpas de que ia aproveitar o aniversário da amiga.

- Você disse que ia aproveitar mais a festa – ele pareceu ler os pensamentos de enquanto se sentava no sofá.
- estava bêbada, levaram ela pra casa assim que você saiu – ela mentiu mais uma vez naquela noite.
- Tanto faz – Bernardo se aproximou de , beijando-a logo em seguida.

Assim que os lábios dele encontraram os dela, ainda precisou de alguns segundos para retribuir o beijo. Porém não conseguiu aprofundar, já que em sua mente só existia a imagem de e a lembrança da sua gravidez.

- Bernardo – ela o chamou quando ele deitou sobre o seu corpo, depositando beijos em seu pescoço. – Bernardo? – o chamou ao mesmo tempo em que tentava empurra-lo. – Bernardo, para.

Um desespero tomou conta de , um medo absurdo de que Bernardo forçasse algo que ela não queria, ou até mesmo que pudesse prejudicar o seu filho. Também lembrou de e sabia que se fosse ele que estivesse ali, já teria respondido ao seu primeiro chamado.

- Eu pedi pra você parar – gritou antes de empurra-lo com toda a força que tinha, conseguindo dessa vez, afastar o rapaz.

olhava assustada em direção a Bernardo, que estava parado em sua frente, enquanto tentava controlar o seu nervosismo. Enquanto isso, ele não conseguia e sequer tentava esconder a sua raiva por estar sendo contrariado.

- Qual o seu problema, ? – perguntou sem um pingo de paciência.
- Eu... Eu não posso – parecia filtrar as palavras que queria falar, mas achou melhor falar a verdade, já havia mentido demais naquela única noite. – Eu não posso ficar com você porque eu estou grávida.

Ao falar a verdade, achou que Bernardo poderia entender o motivo dela ter agido daquela forma. Porém, ele pareceu interpretar tudo da melhor forma que lhe convinha.

- E você está achando que eu vou sustentar um filho seu, é isso? – cuspiu as palavras e não acreditava no que estava ouvindo.
- Para de ser louco, eu acabei de te conhecer – ela também gritou, sem paciência para levar aquela conversa de outra forma.
- E eu acho melhor fingir que não me conhece mais. Nem eu e nenhum outro homem vai querer uma mulher que tem um filho de outro, se é que você sabe quem é o pai.

ouvia aquelas palavras, ao mesmo tempo em que não queria acreditar. Era cruel demais um pensamento daquele. Aquele filho era dela e não queria que nenhum outro homem sustentasse, ela poderia muito bem fazer aquilo sozinha, se o pai se recusasse a assumir. só não achava justo ser julgada por suas vontades só porque agora ela estava gerando uma vida.

- Sai daqui seu imbecil, sai da minha casa.

não conseguia controlar o seu choro, no fundo ela sentia medo de que tudo o que Bernardo havia lhe falado fosse verdade. Foi por isso que ela sentiu receio em contar tudo para , tinha medo que ele pudesse se afastar dela também.
Mas mesmo com o medo, era sempre pra ele que ela corria quando tinha algum problema. Em meio ao desespero, só conseguiu pensar no rapaz e no quanto queria tê-lo por perto naquele momento. Discou os números sem muito pensar, não demorou muito para ele atender.

- ? atendeu e só ouviu o choro da amiga. – ? Fala comigo, o que aconteceu?
- , você pode vir aqui? Eu preciso muito de você.


03

estava calma nos braços de , um pequeno silêncio estava entre eles e apenas as respirações dos dois eram ouvidas.
Ela havia acabado de contar tudo. Contou que descobriu a gravidez e por isso viajou sem dar muitas notícias. Contou que o filho não era de e por isso ela teve medo de contar a verdade para ele e isso fizesse com que se afastasse. Contou que no seu pensamento, se talvez ela estivesse com alguém, fosse mais fácil para ainda aceita-la apenas como amiga. Aproveitou o momento de desabafo e ainda disse que gostava muito do amigo, mas que sempre teve medo de tentar algo a mais e acabar atrapalhando a amizade tão linda dos dois.

- Fico chateado de você pensar tudo isso ao meu respeito, logo você que me conhece tão bem – ele começou a falar enquanto ainda fazia um carinho em com as mãos. Os dois estavam deitados na cama, conversando. – Mas eu sempre disse que queria ser alguém diferente na sua vida e isso não vai mudar nunca. Eu jamais pensaria tudo isso, se tivesse no seu lugar, mas eu entendo que a sua cabeça deve estar uma bagunça.
- Não foi nada planejado, . Eu agi por impulso e acabei me afastando de você – a tristeza era visível em seu semblante. - Espero que em algum momento você possa me perdoar.
- Eu não escondo de ninguém o quanto eu gosto de você, . E independente de qualquer coisa, você ainda é a minha melhor amiga. Uma das pessoas que eu mais amo e mais conheço. E aquele Bernardo é um imbecil – ele ainda completou e riu.

Agindo por impulso, abraçou o amigo, que retribuiu de imediato. Era um gesto de carinho cheio de significados, sentimentos e saudades. Era um pedido de desculpas silencioso. Era a certeza de que estava tudo bem e que eles tinham um ao outro.
Por um momento, pensou que talvez valesse a pena tentar, que pelo menos uma vez na vida ela devia deixar o medo de lado e fazer o que o seu coração pedia.

- A gente funciona tão bem como amigo, tenho medo de que não seja o mesmo como um casal. Mas se você estiver disposto a me aceitar assim, podemos tentar. Só não quero te dar uma responsabilidade que não é sua e...
- , eu não quero ser o pai do seu filho, só quero ser o namorado da mãe dele – concluiu e ela sorriu. – A única coisa que vai mudar é que o amor que eu sinto por você vai ser compartilhado com outra pessoa.

Junto com o sorriso de , uma lágrima escorreu pelos seus olhos antes de beija-lo.
No final, aquilo parecia ser o certo. Os dois tinham muito a aprender e a melhorarem juntos. e mereciam aquela oportunidade de serem felizes. Agora, para , parecia ser certo ela querer ficar ao lado de e seguir em frente mesmo depois de tudo. Para , independente do que pudesse acontecer, ele jamais desistiria do seu grande amor.
Agora o casal poderia respirar aliviado, tudo estava em seu devido lugar e aquele bebê, que em breve chegaria, iria crescer em um ambiente repleto de amor, disso ninguém poderia duvidar.




Fim.



Nota da autora: Olá, amores! Espero que tenham gostado da história, não deixe de comentar o que acharam! Para conhecer outras histórias minhas, entrem no meu grupo do facebook.



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