Capítulo único
Eu a via em todo lugar.
Lacy. Um nome diferente, envolvente, quase hipnótico. Sua pele alva como massa folhada, seus olhos imaculados como margaridas. Ela parecia não pertencer a esse mundo, eu sabia disso. Mas isso nunca me impediu de observá-la, de sentir minha sanidade derretendo pra fora do meu cérebro sempre que seus lábios se curvavam em um sorriso.
No começo, eu pensava que era uma paixonite de faculdade, um crush passageiro. Mas não era. Lacy não só era bonita – ela era irresistível, inalcançável. Ela fazia meu coração bater fora do peito e minha pele formigar com uma sensação alarmante. Sempre que ela estava por perto, o ar ficava mais rarefeito, e um frio incômodo percorria minha espinha. Acho que eu estava completamente apaixonado por Lacy.
Eu a observava sempre de longe, escondido entre multidões, nas aulas e nos cantos da faculdade. Mas, por algum motivo, eu sempre sentia que ela também me observava. Como se soubesse que eu estava lá. Como se estivesse esperando que eu me aproximasse.
E uma noite, eu o fiz.
Era um evento no campus. Uma festa de boas vindas para os alunos novos. Todos estavam rindo e conversando, mas meu olhar estava fixo nela. Seu vestido leve esvoaçava com o vento da noite, seus cabelos pareciam refletir a própria luz das estrelas.
— Oi, Lacy. – eu disse, finalmente reunindo coragem.
Ela se virou devagar. Seus olhos eram tão claros, tão hipnóticos que pareciam me sugar para dentro de um abismo.
— Você tem me observado por um bom tempo, né? – ela riu me dando um copo vermelho com ponche e um snack.
Meu estômago se revirou.
— Como você sabe?
Ela sorriu.
— Eu sempre sei. Eu também observo você.
A partir dali, minha vida virou um verdadeiro inferno. Aquela mulher era completamente desequilibrada, uma sociopata em pleno grau. Eu simplesmente não conseguia me livrar dessa maluca. Ela queria saber cada passo que eu dava. Se eu não ligasse para ela todos os dias, ela fazia questão de me humilhar na frente de qualquer um. E, quando eu tentava me impor, ela encontrava uma maneira de me transformar no vilão da história. À noite, as coisas pioravam ainda mais. Sempre que fechava os olhos para dormir, ela aparecia em meus sonhos. Mas não eram sonhos tranquilos, românticos e eróticos. Não. Eram pesadelos horripilantes – seu rosto se distorcendo em algo maligno, seus olhos vazios consumindo toda a luz em minha volta. Eu acordava em pânico, suado, com o eco de seu riso ainda pulsando nos meus ouvidos.
Eu a via em todos os lugares. No espelho do banheiro, refletida em vidraças de lojas, no canto do meu quarto quando eu piscava os olhos por tempo demais. Ela não falava, apenas sorria. Um sorriso afiado, calculado, que parecia se alargar mais e mais, como se pudesse me engolir inteiro. Uma verdadeira maldição.
Minhas notas caíram com um prédio velho, minha saúde definhava. Meus amigos tentaram me ajudar, mas como eu poderia explicar? Como dizer que a garota que todos idolatravam, a garota perfeita, minha namorada, era um pesadelo ambulante?
Decidi fugir. Peguei um trem para uma cidade distante, esperando que ela pudesse me esquecer. Mas quando me sentei na poltrona desconfortável, olhando pela janela, meu sangue gelou.
Lacy estava sentada no assento ao lado, sorrindo aquele mesmo sorriso torto. O sorriso dos meus sonhos, ou melhor, pesadelos.
— Você não pode fugir de mim. - ela sussurrou, e sua voz parecia vir de dentro da minha própria cabeça.
A última coisa que vi antes de tudo escurecer foram seus olhos brancos como margaridas, me puxando para o abismo.
Eu não sei onde estou agora. Eu não sei se ainda sou real. Mas sei que Lacy está aqui. E nunca mais vou me livrar dela.