04. More Than This

Última atualização: Fanfic finalizada.

Prólogo

- Quantos anos mesmo? – enrolava os cabelos longos na ponta dos dedos e brincava com a minha coleção de CDs.
- A mesma idade que a sua. – Respondi, suspirando, enquanto sentava em minha cama e colocava um sapato nos pés – Só alguns meses mais novo.
- Oito meses é muita coisa, dava tempo de ter tido um filho nesse meio tempo.
- Filho com quem?
- Sei lá! O Carter é bonitinho... – ela fez bico.

C-A-R-T-E-R.

Ele é um cara legal. Alto, estilo jogador de rugby oficial – e ele nem tem idade pra isso ainda, embora seja uns anos mais velhos que nós. Família de York, mora com os avós, os pais vivem em Londres trabalhando e voltam uma vez por mês para visitar o filho. Juro que acho esse ser humano gente boa, mas ele tem uma queda pela .

E eu também.

- Sabe quem eu vou ver semana que vem? – ela se jogou ao meu lado toda sorridente; impossível não sorrir junto.
- Não faço a mínima ideia.
- SPICE GIRLS! – deu aquela gargalhada gostosa e típica da minha melhor amiga. – Tem noção que finalmente eu vou poder cantar 2 Become 1 AO VIVO? Achei que esse momento nunca fosse chegar. Não vai sobrar restinho de pra contar história depois!

- Essa música não é meio, hm... – limpei a garganta – Picante pra você?
- Por quê? – ela fez cara de desentendida. Aham.
- I wanna make love to you, baby. – cantarolei sem pretensão nenhuma, muito menos encarando a garota jogada ao meu lado.
- ?!
- Eu sei, a letra é meio...
- Sua voz! – Ela sorria pra mim, agora com o corpo erguido ao meu lado. – Como que eu nunca ouvi você cantando antes?
- Hm... – cocei a nuca e me levantei. – Sei lá, , não é algo que faço todo dia.
- Você tem uma voz linda! Por que nunca tentou... Ah, meu Deus!
- Que foi? – eu ri, agora ela estava de joelhos em cima da minha cama.
- X FACTOR! , você precisa se inscrever nesse programa.
- , a única coisa que escutou foi um verso de uma música das Spice Girls. Como que eu vou me inscrever num treco musical?
- Te ouvi cantando e achei lindo, isso já é razão suficiente pra você ir e fazer sua inscrição. Esse ano não dá mais, vai ter que ser ano que vem.
- Eu não vou me inscrever no X Factor.
- ! – Ela colocou as mãos na cintura. – Hoje é seu aniversário e eu estou dando o melhor presente da sua vida. A chance de você ficar rico, milionário e com mil groupies aos seus pés. – , definitivamente, estava mais empolgada que eu.
- Não quero groupies...
- Tenho um tombo enorme por popstars e sendo meu melhor amigo um...
- OK! – Eu berrei imediatamente e a vi sorrir, vitoriosa.

Se tem uma queda por popstars, quem sou eu para negar algo?
No instante seguinte, estava agarrada ao redor do meu pescoço falando mil coisas ao mesmo tempo de como eu seria famoso e ela não ia sair do meu lado.

Abracei-a forte e fechei meus olhos. Eu seria um cara famoso e um popstar.
E tudo isso por ela. Só por ela.


Capítulo 1

- ? ?

Bati com força no meu celular a fim de desligar a música de meu despertador. Forcei os olhos e quando vi a hora reclamei baixo. Quem, em sã consciência, coloca o despertador para as três horas da manhã?

- ? , eu vou entrar e é bom você estar vestido. Já fiquei bem traumatizada da última vez.
- ?

O que fazia na minha casa a essa hora da madrugada e por que ela falava tão alto?

- É HOJE O DIA! EU VOU ENTRAR!
- QUE DIA? – abri a porta com os olhos ainda fechados. – Qual o teu problema?
- X Factor. – ela respondeu baixinho e eu abri os olhos.

ERA HOJE!

- Mãe do céu, é hoje! – eu tentei rir, mas minha voz rouca, proveniente de algumas poucas horas de sono, não saiu – Caramba, que horas são?
- Três e dez. Era pra ser três em ponto, mas você ficou enrolando tanto pra abrir a porta, que já se passaram dez minutos.
- Como consegue falar tanto em tão pouco tempo? E essa hora? – cocei os olhos tateando minha cama e alguns objetos no escuro.
- Não consegui dormir, estou acordada desde ontem cedo quando fomos pra escola. – eu vi a sombra de apertar o interruptor e meu quarto em um passe de mágica ficar claro.
- Meus olhos. – sorri, mantendo-os fechados – Podia ter avisado que ia acender a luz.
- , você já está atrasado. – ela me jogou uma calça jeans. – Apressa aí, que sua mãe também está acordada. Não vamos tomar café da manhã, no caminho a gente para pra comer alguma coisa.
- Starbucks?
- Tá me achando com cara de milionária? – ela riu um pouco alto. Cara, eu amava a risada dela, mesmo sendo na madrugada. – Vamos passar no TESCO mesmo e comprar aquelas refeições completas por três libras. Só tenho vinte libras no bolso e não pretendo gastar metade delas com um café chique. É o melhor que você conseguirá essa hora da madrugada, de qualquer jeito.
- Eu preciso muito de um café! – coloquei uma camiseta cinza e a olhei com uma cara meio desesperada. – Você sabe que eu não funciono sem café.
- Primeiro – ela veio até mim e arrumou minha camiseta –, hoje você vai cantar e eu andei lendo que café faz mal para as cordas vocais. Segundo – senti que ela fechava o zíper da minha calça e arregalei os olhos –, se quiser um café, a gente passa no COSTA.
- Prefiro Starbucks.
- COSTA é mais barato. – ela sorriu e me deu um beijo demorado na bochecha. – Tá pronto?
- Posso ir ao banheiro escovar meus dentes e... – eu sorri.
- Vai logo, então, é só um xixi básico. – ela deu de ombros.

não tinha o mínimo de frescura comigo, nem respeito por meu espaço na maioria das vezes. Isso porque ela me via única e exclusivamente como seu amigo. Às vezes, eu achava que podia ter rolado alguma coisa, mas ela era sempre tão elétrica que, até eu pensar em falar algo ou fazer algo, ela já mudou de ideia e estava pipocando por aí. Uma vez, apenas esse dia, aconteceu algo. Estávamos dormindo na casa dela, eu e mais uns outros amigos nossos em comum, e ela dormiu no meu ombro no meio do filme. Até aí tudo bem porque, pra ser sincero, eu também estava quase dormindo, e então... começou a sonhar e no meio da sua loucura, ela chamou meu nome, mais de uma vez! ... ... ... Quando ela falou o sobrenome, eu tive certeza que era comigo o sonho. Dei graças a Deus por estar murmurando baixinho e sorri um pouco controlado. Olhei-a de os olhos fechados e passei a mão em sua testa e bochecha, só imaginando o que podia passar na cabeça dela. Infelizmente, eu nunca soube, porque no dia seguinte ela não se lembrou do sonho. E olha que eu ainda criei coragem pra falar que ela sonhava comigo! Não importava, em alguma parte daquele inconsciente louco, sonhava comigo.

- O que seus pais falaram de você ir comigo pra Londres hoje? – perguntei do banheiro.
- Meus pais não foram o problema. – ouvi-a responder.
- Quem foi, então?
- Quem foi o que?
- O problema, oras. – Saí do banheiro com uma toalha jogada por cima do ombro. – Você disse pra alguém que eu vou pagar o maior mico da minha vida cantando pra Simon Cowell?
- Não – ela riu baixo. – Eu fiz uma pequenininha alteração em meus planos hoje porque vou com você pra Londres.
- Alteração? Com quem? – meu coração bateu um décimo mais rápido. Por favor, não diga o nome que eu acho que você pode dizer.
- Carter.

BINGO!

- Ca... – tossi, gaguejei, não soei nada másculo. – Carter? – terminei a fala igual macho. – Vocês estão juntos?
- Juntos, tipo namorando, não. Ele me chamou pra andar de bicicleta e depois pra um almoço, só que eu desmarquei porque vou com você pra Londres. – ela respondeu meio sorrindo, meio com cara de quem pode estar arrependida.
- Eu não pedi pra você vir comigo, .
- Sei que não, mas não posso perder a oportunidade de estar ao seu lado nessa hora.
- E você não precisava ter desmarcado os seus planos com seu namorado por minha causa.
- Ele não é meu namorado, .
- Que seja. – dei de ombros. Santo ciúme.
- Hey – ela suspirou e veio até mim, abraçando-me pelos ombros. – Hoje o que eu mais quero é ir com você nessa audição, seja para o bem ou para o mal. Você é a pessoa mais importante pra mim, , e o Carter pode esperar mais umas 72 horas pra esse encontro acontecer.
- 72 horas? – eu ri. – Quanto tempo você acha que vamos ficar em Londres?
- A gente não vai voltar assim que sua audição acabar! Eu nunca fui pra nossa capital e eu sei que você também não. – Ela deu um beijo na ponta do meu nariz e eu arrepiei. Sério... Quem faz esse tipo de coisa, por Deus? – Nós vamos aproveitar ao máximo nossa estadia na cidade grande. – Ela riu.
- Tá bom – eu coloquei as mãos ao redor da cintura pequena dela e encostei nossas testas, tentando me convencer que essa situação era mais do que apenas amizade. Talvez fosse o horário, talvez fossem os nervos à flor da pele, mas quando vi, já estava lá, encarando-a a um sopro de ar de distância. nunca parecera mais bonita. Ela não se moveu, sustentando o olhar. – Obrigado por não me deixar ir sozinho a Londres.
sorriu e, naquele instante, esqueci que Carter existia. Esqueci até o que estava indo fazer em Londres, e toda minha carreira promissora como um popstar. Éramos só nós dois, em nosso mundinho particular.
Vi-a sorrir novamente.
- Eu não vou te deixar sozinho, nunca.
- Crianças? Ah... – apertei bem forte meus olhos em sinal de completa frustração, era minha mãe aparecendo na porta e terminando com nosso momento. – Desculpa, é pra eu ir embora?
- Não! – se soltou de mim – Na verdade, nós todos precisamos ir embora. Quanto tempo dura essa viagem mesmo?
- Duas horas e meia.
- Duas horas e... Meu Deus! – ela sabia ser uma ótima atriz, confesso. – Vamos logo, , caso contrário você vai ser o último da fila e o Simon já vai estar cansado demais pra prestar atenção na sua voz.
- Aham... – eu ri baixo e peguei meu casaco. Até minha mãe sabia que não estava agindo de forma natural, as bochechas dela também estavam vermelhas. – Vai dar tempo de tomar café?
- Vamos passar no TESCO, não era isso? – minha mãe perguntou.
- Starbucks. – riu e entrelaçou os dedos dela nos meus. – Descafeinado, por favor.
- O que te fez mudar de ideia? – beijei sua mão enquanto saíamos do meu quarto.
- Sei lá, não custa nada te fazer um agrado de vez em quando. – ela abriu aquele sorriso maravilhoso e eu fui obrigado a fazer o mesmo – Lembra de mim quando estiver cantando?
- Eu lembro de você o tempo inteiro.
- Sim, mas lá na frente do Simon. – ela parou no último degrau da escada e eu estava abaixo dela. – Quando você estiver com a sensação de que sua vida pode mudar, de que vai receber um SIM, lembra de mim?
- Claro, . – balancei a cabeça de forma negativa – Por que isso agora?
- Porque eu sinto que estou te olhando pela última vez como um garoto normal de uma cidade pequena do Reino Unido. – Seus olhos ficaram um pouco vermelhos. – E eu quero me lembrar disso pra sempre. Por isso que eu quero que você pense em mim, pense que você já foi uma pessoa comum e que tem uma amiga que te ama muito e não quer te perder pra fama.
- , a gente nem sabe se isso vai dar certo ou não. – segurei suas duas mãos e beijei uma de cada vez – Relaxa.
- Vai dar certo – ela riu –, eu tenho certeza disso.

Mais uma vez, ela jogou os braços ao redor do meu pescoço e eu já me sentia confortável em segurá-la pela cintura delicada. Ela roçou o nariz no meu e depois na minha bochecha, plantando ali vários beijos delicados com seus lábios doces e com uma cama de batom. Apertei-a junto a mim e enterrei minha cabeça na curvatura de seu ombro, respirando seu perfume floral e a beijando ali sem pretensão alguma.

- São seus sonhos agora, . – ela sussurrou – Me deixe orgulhosa.

E foram com essas palavras de incentivo de minha amiga/talvez amor da minha vida adolescente, que nós fomos para a audição do X Factor na cidade grande, Londres.


Capítulo 2

Não existem muitos momentos na vida em que você pode olhar para trás e dizer com toda certeza: sim, foi ali que tudo mudou. Talvez isso seja muito mais claro para alguém que teve seu sonho realizado literalmente da noite para o dia mas, de um modo geral, estar na maior boyband da atualidade passa como um piscar de olhos. Você dorme em uma cidade e acorda em outra, grava um novo álbum pelas madrugadas, tem pouquíssimo tempo para uma vida normal. E, embora isso seja exaustivo, nunca estive tão feliz e tão realizado.
Muitas vezes, mal tenho tempo para olhar para trás. Algumas vezes, respirar e esvaziar a cabeça não é uma tarefa exatamente fácil. No entanto, quando recebi uma mensagem da minha mãe em uma manhã qualquer da sempre ensolarada Los Angeles, meu coração pareceu pular uma batida e fui jogado em um turbilhão de emoções que me levaram até a minha cidade Natal, antes do X Factor, antes da One Direction, antes de tudo mudar.
O conteúdo da mensagem não poderia ser mais genérico: “Querido, lembra da ? Ela está em LA.”
Oito palavras. Apenas oito. Uma informação que mudava absolutamente tudo, embora eu não soubesse exatamente o motivo.
foi meu primeiro amor, ainda que ela não soubesse disso, e foi ela quem me incentivou a correr atrás dos meus sonhos e, sem dúvidas, devo a ela grande parte do que me tornei. Eu pensei nela na hora da minha apresentação no X Factor. Pensei, com todo meu coração, quando soube que aquela era minha hora.
Ela não podia ter ficado mais feliz por mim, de verdade. Ela era maravilhosa. Esteve em algumas apresentações em Londres e apoiou a formação do grupo e fez tudo o que pôde. Mas, quando a fama realmente chegou, ainda éramos muito novos, e ela não poderia me seguir por aí, ainda que eu quisesse. Ela tinha a escola, sua família, amigos e... Carter. Por que ainda é tão difícil pensar nesse cara?
Não tive mais chance de vê-la. Saí pelo mundo e, das poucas vezes que consegui voltar, ela estava na faculdade, ou em qualquer outro lugar. Os longos telefonemas se tornaram mensagens escassas, e eventualmente meses sem notícias. Mudei de telefone, ela provavelmente também. Não somos mais as mesmas pessoas que éramos.
Confesso que penso nela às vezes, mas não da mesma maneira vergonhosamente patética de um adolescente apaixonado. É com um carinho que não consigo descrever e muita, muita saudade. Já me peguei perguntando o que ela estaria fazendo, com quem estaria naquele exato momento. Se ela tinha realizado seu sonho de se formar em moda, se ela morava em Londres como sempre quis.
Se ela tinha libras para tomar cafés na Starbucks todos os dias de manhã.
Aquela imagem me fez sorrir, depois rir sozinho.
Perguntei à minha mãe se ela sabia mais alguma coisa, se poderia entrar em contato com a mãe dela, que fosse. Não sabia se seria estranho, mas a vontade de ver aquela garota crescia a cada segundo. Poderia ser estranho. Ela poderia aparecer grávida e casada.
Ela poderia aparecer com dois ou três filhos pequenos.
Chacoalhei a cabeça, evitando essa ideia, irritado porque isso aparentemente me incomodava. estava nova demais para ter três filhos, certo?
Minha mãe disse que poderia descobrir o hotel em que ela estava hospedada, e eu procurei por uma produtora para lhe enviar ingressos para o show e coloquei e convidados na lista de acesso ao backstage.
Por algum motivo, a única ideia pior do que vê-la com três filhos aleatórios dos quais eu não tinha ouvido falar, era o fato de ela jamais aparecer.

- Você tem certeza que esses ingressos foram entregues? Em mãos? – Perguntei para a produtora, que pareceu fazer um esforço enorme para não me mandar para o inferno, já que essa era a décima vez que eu repetia a pergunta. Ela suspirou.
- Sim, . . Ingressos. Sim. – ela disse, forçando um sorriso, e eu mordi o lábio, afastando-me.
O show já tinha terminado e estávamos prontos para sair do estádio rumo à casa em que estávamos hospedados, e nenhuma notícia de . Começou a correr pela minha mente que talvez ela realmente não se importasse. Talvez me culpasse por ter caído no mundo e a deixado para trás, lutando sozinha para conquistar seus próprios sonhos. Talvez...
- Cara, pare de encarar essa porta, isso está vergonhoso – disse ao meu lado, e eu chacoalhei a cabeça, saindo de um transe. Senti o rosto queimar, então decidi olhar para o celular.
- Eu não estava encarando nada – retruquei, e ouvi sua risada.
- Você é um péssimo mentiroso – ele desdenhou, o que me fez rir, rolando a página do Twitter de cima a baixo sem realmente focar em coisa alguma.
se curvou e começou a fazer o mesmo, quando comecei a escutar um barulho estranho de vozes perto da porta, do lado de fora.
- Senhorita, nós já estamos colocando os meninos a caminho do hotel, não é porque você tem acesso que você pode...
- Mas eu sou amiga do , de verdade! – Ouvi uma voz abafada do outro lado, e meu coração subiu na garganta, fazendo-me derrubar o celular no chão.
- Todas são amigas do – o segurança riu, e eu caminhei até a porta.
- Aonde você vai? – Alguém perguntou, mas eu não consegui distinguir quem era.
Abri a porta em um solavanco, fazendo o segurança de dois metros de altura tropeçar para trás, assustado.
- , entre no camarim, agora! – Ele ordenou e eu o empurrei para o lado, afim de ver com meus próprios olhos se meu cérebro não tinha feito meus ouvidos me enganarem.
Lá estava ela.
Seus cabelos estavam mais curtos e bem mais lisos do que eu lembrava, e suas roupas agora eram muito mais modernas, escuras e bonitas. Ela pouco se parecia com a garota desajeitada de dezesseis anos, mas os olhos eram os mesmos. E o sorriso que ela abriu quando me viu, aquele sorriso que era capaz de derreter um iceberg, também.
Abri um sorriso enorme em resposta, ainda com o corpo estático, sem conseguir acreditar que ela estava ali em minha frente depois de todos aqueles anos. Foi ela quem se livrou do segurança e se jogou em meus braços, o que por alguma razão me deu vontade de rir. Gargalhar. Talvez fosse o choque. Ela falou umas três frases inteiras que eu não faço ideia do que eram, porque eu estava concentrado demais na curva do seu pescoço, com aquele perfume maravilhoso que acendeu todos os hormônios adolescentes que eu não lembrava mais que tinha.
- Eu não acredito que você está na minha frente! – segurou meus dois braços, olhando-me como se eu fosse um extraterrestre.
- , você conhece essa...
- Conhece, sim, eu falei para você! – esbravejou, virando para o segurança. – Mas que saco, você! Você e todos seus amiguinhos! , você não vai acreditar no que aconteceu – ela disparou a falar, enquanto eu corria os olhos por seu vestido preto. – Eu saí de casa com tempo suficiente para o show, mas aí o taxista pegou o caminho errado, e depois pegamos um trânsito confeccionado pelo próprio demônio porque aparentemente todo mundo de Los Angeles precisa ver – ela fez uma pausa, gesticulando. – Perdi as três primeiras músicas. Três! Aí no fim do show uma fã psicopata viu que eu tinha esse negócio do backstage e ela literalmente quis me atacar! Me atacar! Não assim, fisicamente, mas quase, porque ela...
- ...
- ... ela estava com umas amigas e eles falavam rápido que queriam ver você porque você era luz, raio, estrela e luar, e sei lá mais o que... Uma delas rasgou o negócio e depois de quinze minutos tentando me livrar, esse cara aqui achou que eu não podia entrar, porque o negócio estava rasgado, mas meu nome estava na lista, só que eu deixei meu documento em...
- ...
- ... em casa, e aí eu não pude...
- ! – Interrompi pela terceira vez, gargalhando, e ela colocou uma mão na cintura e arqueou uma sobrancelha. Um segundo depois, estávamos rindo descontroladamente no meio do corredor, com dois seguranças nos encarando como se fôssemos loucos. – Você não muda, .
- Não é verdade. Eu estou muito mais bonita e muito mais estilosa do que quando você era um garotinho cheio de espinhas que assistia a seriados comigo – ela sorriu, no melhor jeito de ser, e eu perguntei a todos os deuses por que nós tínhamos nos distanciado.
Não fazia sentido. Eu queria ela ali para sempre.
Não, não desse jeito de paixão redescoberta, pelo amor de Deus. Ela me lembrava de quem eu era. Era confortável, familiar, era... Certo.
- Não vou negar isso. Você até que está bonitinha – eu sorri, utilizando minhas bolas recém-adquiridas para flertar de um jeito nada nojento, afinal, ela era minha amiga, e ela gargalhou.
- disse que eu sou bonitinha – ela deu um gritinho agudo, depois riu. – Vou escrever uma fanfic.
- Aposto que você já escreveu várias em que nós terminamos juntos e apaixonados – eu disse, depois me assustei, me perguntando de onde tinha vindo aquilo. Ela fez um barulho com a boca, depois deu de ombros.
- Eu acho seu amigo mais bonitinho – disse, sorrindo largamente, e eu senti meu rosto queimar.
- Você acha o quê?
- Ele é uma graça. Aliás, você devia nos apresentar – ela sugeriu, olhando por cima do meu ombro, e eu chacoalhei a cabeça, desnorteado. Ouvi sua risada.
- Você é muito bobinho, . Ele é, sim, uma graça, todos eles são. De fato, eu faria um calendário com eles seminus para deixar no meu ateliê, mas meu coração ainda bate dizendo ... – ela disse, rindo, e fazendo um gesto de batida de coração com a mão no peito. – Amor antigo, você sabe, né? – brincou e deu uma piscadela, e eu mordi o lábio, ciente de que provavelmente estava vermelho como um pimentão.
Ah, se ela soubesse...

Cheguei ao hotel de vinte minutos depois da breve conversa que tivemos no backstage. Confesso que a ideia de deixá-la ir embora de táxi – para não chamar atenção da imprensa ou dos fãs – foi algo que me perturbou um pouco durante o pequeno trajeto até onde ela estava hospedada. Eu mal tinha a visto e a sensação de que aquilo poderia acabar a qualquer momento era assustadora. Ela sorriu largamente ao abrir a porta do quarto, com um boné em uma das mãos, que ela prontamente encaixou na minha cabeça.
- O que está fazendo? – Perguntei, rindo e olhando o boné do Lakers, e ela sorriu.
- Levando você para se divertir – disse, fechando a porta atrás de si, e eu mordi o lábio.
- Não tenho certeza de que eu posso sair por aí sem segurança e só com um boné na cabeça – falei, depois me amaldiçoei por ter agido como uma garotinha indefesa. Ela gargalhou.
- Bom, você só me tem aqui por uma noite. Então se quiser aproveitar a maravilha que é relembrar os velhos tempos com sua melhor amiga, é melhor me seguir – disse, dando as costas para mim e caminhando pelo corredor.
- Como assim uma noite? – Perguntei, a voz meio estranha, e ela fez um bico triste.
- Meu voo parte amanhã logo após o almoço.
Mordi o lábio, a frustração tomando conta de mim. Está bem, eu não sei o que eu imaginava que poderíamos fazer, nem eu mesmo ficaria muito mais tempo em LA, mas estava pensando em tê-la ali por mais tempo. Como quem lia pensamentos, deu uma piscadela.
- Não é o suficiente, mas é um começo – disse, e eu sorri, tentando concordar. – Vamos? – Ela perguntou e estendeu a mão, e eu soltei o ar pela boca, sorrindo de volta.
Entrelacei meus dedos nos dela, e jurei ter sentido um choque percorrer meu corpo. não disse nada, então talvez tenha sido só eu, para variar. Sorri e assenti.
- Essa noite sou todo seu, .

A sensação de andar pela rua e não ser reconhecido era meio bizarra. Fiquei o tempo todo olhando de um lado para o outro, meio confuso, meio que esperando fãs brotarem no chão, mas relaxei após alguns minutos de caminhada. Os dedos de ainda estavam entrelaçados aos meus, e ela não parecia se importar nem um pouco com isso, agindo naturalmente – como sempre – e contando para mim como tinha ido parar em Los Angeles e como não tinha certeza se sua amiga e roommate voltaria para Londres com ela no dia seguinte.
- Ela conheceu um cara... Surfista, californiano, cabelos compridos – mordeu o lábio, depois deu um sorriso malicioso. – Ele é maravilhoso. Estamos aqui há duas semanas, mas não sei onde ela está há uma.
- Não tem medo desse cara ter, sei lá... – parei no meio da frase, incerto do que dizer. – De ele ser mau caráter?
A expressão divertida e a gargalhada que soltou indicavam que não, ela não estava nem um pouco preocupada.
- Ela não para de postar fotos com ele e fazer vídeos no Snapchat. Demorou uma semana para virar uma garota da praia, que anda descalça por aí usando coroa de flores na cabeça – ela parecia se divertir. – Então, aparentemente, serei só eu no voo para casa. E se não for, acho que serei eu, Madeline e seu mais recente futuro marido, Chad.
Ri, vendo-a cruzar para uma rua meio escura à esquerda, me puxando. Tinha me dito que estava morando em Londres há alguns meses, mesmo depois de ter terminado a faculdade. Sim, ela tinha cursado moda, e trabalhava no figurino de uma revista. Ela gostava, mas achava sua chefe uma megera e sonhava em lançar sua própria linha de roupas. Meu pensamento vagou para algo que eu pudesse fazer para ajudar – talvez usar uma criação dela? – quando ela parou em frente a uma boate bem estranha.
O local tinha luzes vermelhas que podiam ser vistas do lado de fora, e uma drag queen estava parada na porta, com uma peruca loira que ia até a cintura. Franzi a testa.
- O que é isso aqui?
- Isso aqui é a coisa mais divertida do planeta – piscou e riu, fazendo um sinal para outra drag que estava mais adiante. – Cherry!
- Inglesinha! – A tal Cherry, que era uns dez centímetros mais alta do que eu, se aproximou, toda sorrisos. – Trouxe um boy magya para te acompanhar, hoje?
Senti meu rosto queimar, embora não estivesse certo de que ela podia ver.
- Você vem muito aqui? – Sussurrei, e chacoalhou a cabeça, concordando.
- Esse aqui é o melhor lugar undercover em Los Angeles – ela disse no mesmo tom, depois acrescentou. – Eles aceitam meu fake ID, me tratam super bem e a bebida é ridiculamente barata.
Ri, porque não imaginava saindo pela noite para beber todas. Mas, de novo, não a via há tanto tempo que o último porre que tomamos juntos foi de café.
- Eu não tenho um fake ID.
- Você está comigo, e eu sou um sucesso – ela riu, puxando minha mão. – Prepare-se para uma noite de cerveja barata, dançarinas de dois metros de altura e muita Lady Gaga.
- Ok, – Cherry assentiu, olhando para mim. – E você?
- – respondi, no automático, e vi a mulher gargalhar.
- É claro – ela riu, chacoalhando a cabeça de um lado para o outro. – Vá se divertir então, One Direction.

- Eu sabia que você ia adorar! – gargalhou, tropeçando na calçada, e eu a segurei pela cintura, rindo.
Ela estava certa. Ninguém lá no bar me reconheceu – a luz era baixa demais, todos estavam bêbados e encantados com as drags de dois metros de altura e muita purpurina. e eu dançamos em cima de cadeiras, bebemos a cerveja mais quente e detestável do planeta, rimos descontroladamente e conversamos sobre as coisas mais aleatórias do mundo. Ali, com a minha mão em sua cintura enquanto ela se esforçava para tirar o salto no meio da rua, eu parecia outra pessoa.
Parecia eu mesmo.
despertava meu melhor lado – esse lado, inclusive, dançava I Will Survive com Cherry fazendo uma coreografia muito louca, mas essa parte devíamos apagar da memória.
- Aqui! – Ela cambaleou, segurando as sandálias, e eu ri.
- E agora você vai andar descalça pelo meio da rua?
- Não é minha primeira vez, . Por Deus, você virou uma pessoa tão gourmet – ela riu da minha expressão. – Às vezes, é bom sentir a terra!
- Você está com os pés no asfalto – dessa vez eu quem gargalhei, e ela deu de ombros. – Quer que eu te carregue?
colocou a mão na cintura e pareceu ponderar por um instante.
- Eu não costumo aceitar esse tipo de convite, mas faz tanto tempo que a gente não se vê, que eu vou te dar a honra de me carregar de cavalinho até o fim da rua – disse, e eu franzi a testa.
- E por que até o fim da rua?
- Porque lá tem uma barraquinha de cachorro quente que é nojenta e maravilhosa. O quão bêbado você está?
- O suficiente para achar essa ideia ótima – eu disse, surpreso por perceber que aquilo era totalmente verdade, e ela sorriu.
- Resposta correta. Esse é meu . – Disse, e depois pulou nas minhas costas, alheia ao que tinha dito. – Avante, One Direction!

Estávamos lado ao lado no chão do rooftop do hotel de , segurando cachorros quentes imensos e com latas de refrigerantes ao lado. O lanche era realmente desconcertantemente gostoso – é claro, isso poderia ter muito a ver com o álcool. confessou que não provaria isso sóbria, mas que era sua comida preferida de madrugada.
Era incrível vê-la assim, mais velha, mas tão linda, engraçada e maluca como sempre foi. Não conseguiria jamais imaginá-la uma adulta séria, que tinha planilhas e horários para as coisas e fazia tudo regrado. Minha – não era problema dizer isso agora, ainda mais porque ela disse primeiro – era livre. Colocava os pés no asfalto e se lambuzava com um cachorro quente duvidoso.
Em meio ao meu devaneio, olhei para baixo e ri.
- O que foi? – Ela perguntou, curiosa, e eu chacoalhei a cabeça.
- Não sei. Lembrei de quando a gente fazia esse tipo de lanche na sua casa, e que você queimava sempre tudo e eu que tinha que cozinhar – disse, e ela se curvou para trás, rindo.
- Continuo péssima. Mas você adorava minha obra prima nos seus sanduíches. Sempre um desenho diferente feito de ketchup e mostarda – ela disse, e então eu que ri alto.
- Sem querer quebrar seu coração, mas aquilo ficava nojento.
abriu a boca, parecendo indignada, e então limpou seu dedo sujo de mostarda no meu nariz.
- Isso é para você parar de ser babaca – disse, com um sorriso levado, e eu mordi o lábio, malicioso.
- Você não fez isso...
- Não – ela arregalou os olhos. – ...
Antes que ela terminasse a frase, sua bochecha já estava toda suja de molho, e nós dois fizemos cara de nojo antes de termos um ataque de riso.
- Você faz isso com todas as suas groupies? – Ela perguntou, de sobrancelha erguida, e eu engoli em seco, meio assustado pelo rumo que a conversa tinha tomado.
- Não tenho groupies – neguei, com o rosto esquentando, enquanto ela ria. – É sério! Não tenho tempo para esse tipo de coisa.
- De fato, você precisa se divertir mais – ela disse, abrindo uma lata de Sprite. – Mas aposto que dá um jeitinho de se encontrar com umas modelos da Victoria’s Secret ou coisa do tipo. Sempre vejo nos sites de fofoca.
Eu ri, meio sem jeito, e me peguei perguntando se a voz dela parecia afetada ao me questionar, ou se era coisa da minha cabeça.
- Eu trabalho demais, . É muito difícil encontrar alguém que consiga acompanhar isso sem surtar.
concordou, limpando a mão em um guardanapo.
- Ninguém mandou você me abandonar, eu entenderia – ela disse, do nada, e eu arregalei os olhos. Um segundo depois, ela riu, livrando-se da ideia com uma mão. – Imagine o quanto uma namorada de não é odiada. Eu gosto de ser amada, sabe?
“Eu amaria você.” Meu cérebro maluco respondeu, graças a Deus não em voz alta. O que, diabos, tinha naquela cerveja? Não. Não era para eu estar reagindo assim à . Ela logo pegaria um voo para longe, e...
- Posso te contar um segredo? – Ela disse, e eu sorri, assentindo. – Eu tenho uma pequena e vergonhosa coleção de coisas da One Direction no meu apartamento.
A ideia de cheia de pôsteres da minha banda me fez rir, por alguma razão, e eu tomei um tapa no braço.
- Ei! – Resmunguei, ainda rindo, depois sorri. – Você sempre disse que seria minha fã número um, – disse, e ela sorriu de volta.
- Eu sou – deu uma piscadinha, depois riu sozinha. – Essa não é a parte pior.
Sentei de frente para ela, interessado.
- Diga, então.
- Um dia eu saí um pouco bêbada de um bar e parei em uma loja de presentes em South Kesington. Tinha uma vitrine inteira cheia de coisas ridículas com as caras de vocês, desde canecas a chaveiros, passando por canetas e pôsteres, e eu...
- Você o quê? – Questionei, empolgado e prendendo o riso, e ela gargalhou.
- Comprei um de papelão em tamanho real.
Consegui ouvir a risada de quando eu caí para trás, com as lágrimas saindo dos olhos e uma risada incontrolável estremecendo meu corpo. Quando voltei a encará-la, depois de um minuto, eu ainda estava rindo.
- Mentira – disse, e ela negou com a cabeça.
- Infelizmente é verdade. Eu coloquei na frente da minha cama e quase morri de susto na manhã seguinte – disse, rindo, e eu fiz o mesmo, imaginando a cena.
- Para que tanto esforço se o original está vem aqui ao alcance das suas mãos? – Ouvi minha própria voz dizer, e arqueou uma sobrancelha.
- Agora, né? E no resto do tempo, como que eu faço? Vai papelão mesmo – ela brincou, arrancando-me mais uma risada. – Minha gata odeia muito, muito aquele negócio. Se um dia você me visitar em Londres, acho que ela vai atacá-lo. Noventa e dois por cento de certeza.
- Vai nada! Eu sou adorável – dei uma piscadinha, feliz pela bebida quente ter me deixado tão desenvolto, o que fez rir.
- Carter também odeia o papelão.
Engoli a risada e prontamente percebeu, pelo silêncio que se seguiu. Carter? Não, não de novo.
Não é como se eu sentisse algo por , mas...
Esse cara sempre está no meio de tudo, e agora que nós...
Eu não conseguia raciocinar uma frase por completo. tomou um longo gole de refrigerante, e eu soltei o ar pela boca, tentando não deixar transparecer (mais) que aquilo tinha me incomodado. Com alguma sorte, ela estaria bêbada demais para lembrar.
- Não sabia que vocês ainda estão juntos – disse, no que julguei parecer ser um tom casual, mas jamais terei certeza. Ela suspirou e deu de ombros.
- Nós namoramos e terminamos, voltamos e terminamos, e voltamos e...
- Estão juntos agora? – Interrompi, e ela negou com a cabeça.
- Não. Agora é de verdade. Já faz dois meses – ela disse, e não consegui julgar por sua expressão se isso era algo que a deixava feliz ou triste. Eu não podia negar, no entanto, que algo no meu peito aqueceu.
Que atitude miserável. Feliz com o término de alguém.
- Ele sempre se assustava com o papelão também. Achava divertido de dia, mas brincava que ele ia tomar vida à noite e nos matar – ela forçou uma risada, e eu senti o estômago revirar pensando numa noite de e Carter.
- Eu jamais mataria alguém, mesmo eu de papelão – respondi, tentando fazer graça, mas pensei que talvez minha versão de papelão poderia muito bem assustar Carter para ele fugir para sempre. – É por isso que você está em LA?
- Por causa dele? – achou graça, chacoalhando a cabeça negativamente. – Eu não tomo minhas decisões baseadas no que algum cara quer de mim, . Estou aqui só para me divertir. E estou feliz de ter vindo, especialmente agora – ela sorriu para mim, e eu mordi o lábio, antes de fazer o mesmo.

- Você lembra quando nós ficávamos até tarde deitados na grama do quintal da sua casa, só olhando as estrelas? – perguntou deitada ao meu lado no chão, a voz sonolenta, e eu a olhei de rabo de olho.
- Lembro – sorri, esperando que ela continuasse.
- O silêncio, nossos copos de chá gelado, e as estrelas – ela disse, virando o corpo para me olhar por um instante. – Parecia que éramos as duas únicas pessoas do mundo.
Lembrei, sentindo o coração acelerar, de todas as vezes que quase me declarei para em uma situação dessas. Ela olhou para o céu, sorrindo sozinha.
- Eu senti tanto a sua falta – sussurrou, e eu estiquei meu braço para ela, puxando-a.
se aninhou em meu peito e eu beijei o topo de sua cabeça, em silêncio por alguns segundos.
- Eu senti sua falta todos os dias – respondi baixinho, e ela riu.
- Mentiroso. Você me esqueceu – ela disse, parecendo meio ressentida. Dessa vez, eu quem ri.
- E como eu esqueceria você, ? – A garota que eu amei por tantos anos e ainda faz meu coração pular ridiculamente, pensei. – Você sempre será minha garota.
Ela sorriu e beijou minha mão.
- Prometa que não vai sumir dessa vez – pediu, e eu a encarei nos olhos.
Eu queria beijá-la. Desesperadamente.
Mas algo me segurou.
Durante anos eu aprendi a lidar com garotas, afinal, eu estava em uma boyband. Mas havia algo em que me paralisava, e aquilo me enlouquecia. Talvez eu jamais seria capaz de fazer isso, o que poderia ser uma coisa boa.
Éramos amigos, não éramos?
Eu não deveria querer estragar isso.
Então, em vez de a beijar, segurei sua mão e forcei um sorriso.
- Você vai enjoar de mim. Prometo – disse, e voltei a beijá-la na testa. – Vai até jogar meu papelão no lixo.
Ela gargalhou.
- É por isso que eu amo você – ela disse, fechando os olhos, e eu sorri, com o coração batucando no peito.
Não respondi nada, embora meu cérebro estivesse uma loucura.

Naquela noite, deixei na porta de seu quarto com um longo abraço, em que ela chorou e quase me fez chorar junto. Declarou que só estava agindo assim porque estava bêbada. Eu ri, mas sabia que não era verdade. Eu também estava quebrado.
Eu não queria deixá-la ir, mas não podia pedir para que ficasse.
Ela não deixou que eu a levasse ao aeroporto – não que eu, de fato, pudesse fazer isso –; nem que eu ficasse mais um pouco. Odiava despedidas com todas as forças.
Deixei-a para trás, com a promessa de mandar mensagens e telefonar sempre, um sorriso no rosto e um coração que, aparentemente, ainda não tinha superado .


Capítulo 3

- Há uma razão pela qual o meu aniversário é duas semanas após o Natal!
- E qual seria?
- Mais presentes, definitivamente, eu canso fácil das coisas, e...
- Tá falando que você já se cansou do meu presente, ?
- Não exatamente, mas você me comprar o de papelão não foi uma coisa muito legal de ganhar.
- Você me disse que ele era o seu favorito, lembra?
- Eu estava brincando... SARCASMO, !

Camden Town não me parecia o lugar apropriado para procurar um presente de aniversário, mas deixou bem claro que queria ser surpreendida e nada mais inusitado do que achar um presente nesse bairro maluco. Confesso que eu não vinha muito pra cá, mas lembro-me de dizer que “se eu quiser algo revolucionário e que ninguém no mundo tenha, com certeza eu procuraria em Camden Town”, pra que procurar algo em Notting Hill, não é mesmo? E cá estou, há quase duas horas rodopiando entre esses tatuados e pessoas com cabelos azuis procurando algo que minha amiga ache incrível e bem a cara dela.

Voltei há duas semanas pra Inglaterra e, bom, eu geralmente passo o começo do ano tranquilamente, ou com minha família, ou meus amigos em Los Angeles, mas dessa vez eu prometi à que estaria presente em seu aniversário. Nos últimos anos eu não conseguira chegar a tempo de nenhum deles e em todas as ocasiões recebi e-mails e ligações frustradas e berrantes dela. Agora, não podia deixar essa oportunidade passar e aqui encontrava-me. A festa de aniversário dela seria no The Cock Tavern – um bar de nome e aparência peculiares, mas muito bom – com todos os novos amigos descolados da faculdade de moda, bem como sua família e, obviamente, o não namorado que é namorado, Carter “Jogador de Rugby”. Não sei se fico repetindo isso pra me conformar ou se é algo que meu subconsciente fala como se fosse verdade, mas eu não o via como uma má opção para . Ele mora aqui no Reino Unido, está sempre perto quando ela precisa – diferente de mim – e gosta dela desde que éramos mais novos. Parece que algo falta nesse relacionamento, como se ele pudesse dar mais pra ela, ou como se EU pudesse dar algo a mais, algo que ela precisa e sei que, no âmago daquela cabecinha maluca, ela deseja. Posso fazer mais feliz do que Carter, porém não sei como e nem se eu teria forças suficientes pra isso.

De um tempo pra cá, eu me peguei imaginando os dois juntos: horas de conversas sobre a vida, os dois de mãos dadas passeando nos parques, alguns beijos roubados e coisas a mais na casa dela ou no quarto dele, as fotos no instagram – eu vi TODAS as fotos – os sorrisos dela que eram exclusivamente para ele ou vice versa. Essa menina conseguia fazer qualquer pessoa sorrir. E depois imaginei tudo isso, só que comigo no lugar do rugby boy. ao meu lado durante a turnê, nossos beijos escondidos pelo camarim minutos antes de eu entrar no show, as piadas dos meninos com ela e como ela iria sorrir quando me visse nos palcos. O sorriso dela eu já tinha garantido desde sempre, mas seria algo com mais intenções do que já estávamos acostumados, um sorriso que diria “você não me escapa hoje” ou “até daqui a pouco no camarim”. Nós teríamos um lugar só nosso, segredos e olhares que ninguém mais entenderia. Com o passar do tempo, eu percebia que esse era um sonho muito distante e que eu e juntos nunca iria acontecer. Somos parte de um passado adolescente, do frio na barriga de um primeiro amor que foi esquecido, amor esse que foi mais de minha parte do que da dela. Nós mudamos e com a minha atual vida fica meio impossível eu me permitir sonhar desse jeito... Eu querer ter um relacionamento normal com a minha primeira paixão infanto-juvenil. Palhaçada, !

- Já encontrou o presente do amor da sua vida?

Atendi meu celular um pouco ressabiado ao ver o nome “ ” no meu visor. Ele foi pra Paris passar o começo do ano com os amigos, mas mesmo assim encontrava um jeito de me ligar pra saber das novidades.

- Ainda não, estou andando por quase duas horas em Camden Town e nada.
- Camden Town? Que merda você tá fazendo por aí?
- curte umas coisas meio doidas. – cocei a cabeça e sorri comigo só de imaginar aquela pequena por esse bairro – Ela quer algo único e bem maluco.
- Hm... E o que ela gosta?
- Qual seu interesse nisso?
- Eu sou o favorito da sua docinho - ele deu uma gargalhada patética –, além disso, você é péssimo em escolher presentes.
- Não sou péssimo! Por que as pessoas andam reclamando dos meus presentes nos últimos dias?
- Você me deu um OYSTER CARD! OYSTER CARD! Eu mal ando de metrô em Londres e você me deu um CARTÃO DE METRÔ!
- Com 200 libras pra você ir até a Zona 5 e fazer o que quiser por lá.
- Compras drogas é o que tem pra fazer por aqueles lados.
- Que seja. No pior dos fatos, a gente te interna e isso daria uma ótima reportagem para o The Sun.
- E quem seria a parte sexy da banda comigo internado? Sem chances, .
- Ainda acho que você ficaria ótimo em uma clínica e voltando como um cara renovado, as fãs iam adorar.
- Deu certo pro Justin Bieber pelo menos.
- Ele ficou internado também?
- Sei lá - meu amigo riu –, deu certo pra Britney.
- Olha aí, pelo menos se você der um surto e raspar a cabeça num banheiro de posto, não vai aparentar cara de doido. – ri alto e atraí uns olhares, presumi que havia sido reconhecido – , vou dar uma disfarçada, tem umas meninas me olhando aqui.
- Fãs ou traficantes de órgãos?
- Te falo daqui a pouco, elas estão vindo pra cá. – eu sorri – Aproveita Paris.
- Aproveita a . disse malicioso e desligou o telefone em seguida.

Imbecil.

As meninas não eram traficantes nem nada do tipo, eram fãs. Uma de cabelo roxo desbotado bem comprido e outra com cabelo azul curto desfiado. Ambas com piercings e tatuagens e aquele tipo de roupa que não existe em nenhum outro lugar do mundo, apenas em Londres. Muito educadas e discretas, pediram duas fotos e um autógrafo cada uma, uma ainda ligou para a amiga e eu desejei “feliz aniversário”. Às vezes, tenho a impressão que as meninas mentem sobre aniversários, não é possível conhecer tanta aniversariante assim! A conversa com elas foi tranquila, mas isso acabou chamando a atenção de outras pessoas e quando fui perceber, tinha posado para umas vinte fotos – depois as pessoas reclamam que eu sempre saio com a mesma cara, é meio difícil fazer vinte feições diferentes em um curto espaço de tempo, mesmo com muita prática em frente ao espelho – e meu tempo ia se esgotando. A festa de era essa noite e eu não tinha nem ideia do presente que ia dar pra ela; se não achasse algo rápido, ia aparecer com as mãos abanando e ter que aturar um Carter com alguma coisa mirabolante. Eu seria um merdinha na festa e daria todas as atenções e agradecimentos ao namorado. Eles não são namorados... Não são.

- Será que vocês podem me ajudar? – perguntei na inocência para uma das fãs.
- Claro! – uma das meninas arregalou os olhos em total júbilo e as outras estavam com os celulares apontados pra mim.
- Preciso comprar um presente pra uma amiga minha...
- Namorada? – a fã levantou uma sobrancelha e me olhou de forma desconfiada.
- Não – ri baixo –, amiga mesmo.
- Ah tá. É famosa?
- Você pode me ajudar? – nada contra as perguntas, mas curiosidade tem limite.
- Depende, do que você precisa? – fãs londrinas são tão desconfiadas.
- Ela estuda moda...
- Onde?
- Não posso dizer.
- Se você me disser onde ela estuda e o nome dela, eu talvez possa te ajudar.
- O que o nome da minha amiga tem com isso?
- Nada não.
- Enfim – joguei o cabelo pra trás e ouvi duas meninas suspirarem. Será que é errado dar uma de charmoso agora? – eu realmente preciso de ajuda. Hoje é aniversário dela e eu não faço a mínima ideia do que dar de presente.
- Hm. – A garota fez bico e olhou para as outras amigas. – Como ela é? Moderninha, patricinha?
- Moderna e bem maluca.
- Então você está no lugar certo. – ela sorriu. – Ela gosta de roupa no estilo vintage?
- Imagino que sim.
- Tem uma loja a dois quarteirões de onde estamos que vende umas coisas bem legais, uns casacos vitorianos e da era da Maria Antonieta. Se sua amiga/namorada curtir uma moda antiga, acho que ela vai gostar.
- Posso confiar em você? – perguntei com a voz um pouco mais baixa e a menina ruborizou. Rá, ponto pra mim.
- Claro que sim. – ela colocou a franja longa e desbotada atrás da orelha e sorriu meio envergonhada – Se quiser, posso te levar até lá.
- Acho que consigo achar sozinho, se não vou ter que falar pra minha amiga que quem comprou o presente foi você, não eu.
- Ah, tá. – ela parecia desapontada.
- Olha, muito obrigado mesmo pela ajuda! – peguei sua mão e dei um beijo demorado, foi o suficiente pra ela quase desmaiar. – Não vou esquecer de sua ajuda, qual seu nome mesmo?
- Hathaway.
- Hathaway. – repeti o nome e dei uma piscada.

Missão cumprida em deixar fãs felizes e com o coração disparado.
Pena que eu não consigo fazer isso com a única menina que me interessa.

Pelo preço de 150 libras – , você me deve MUITO – eu consegui comprar um vestido que lembrava uns de Maria Antonieta, mas muito mais moderno. Ele era roxo claro, comprimento acima dos joelhos, saia rodada uns três saiotes que davam certo volume, muito glitter e tudo o que a gostava. Tinha um laço roxo mais escuro que ficava na cintura e a parte de cima era um pouco mais colada no corpo, mangas três quartos com detalhes em cetim. A moça da loja experimentou o vestido umas três vezes e até perguntou se eu podia “ajudá-la” a fechar o zíper nas costas. Além de pagar uma ligeira fortuna em algo que eu não sabia se a ia gostar, sofri assédio. Pode não parecer, mas de verdade, eu sou tímido pra essas coisas. Apertar minha bunda, então? Eu não sei como reagir.

Olhei para o relógio e percebi que estava atrasado, bem atrasado. Prometi que levaria até o tal Cock Tavern e ainda precisava me arrumar, ligar pro pra dar satisfação do meu presente – que ele ia reclamar – fazer minha cara de gente boa quando visse o Carter e espremer todo o meu amor próprio ao ver ele e minha pequena juntos. Não ia ser um dia fácil e eu pretendia ficar bem bêbado hoje. Mandei mensagem pra aniversariante do dia pedindo pra que ela tivesse um pouco mais de paciência porque eu talvez fosse me atrasar um pouco, corri pra estação de metrô mais próxima torcendo pra que ninguém mais me parasse no caminho. Felizmente, era fim de tarde e as pessoas voltavam do trabalho e não queriam muito papo comigo. Algumas me olhavam e sorriam, outras tiravam fotos discretas, porém ninguém chegou pra mais uma selfie e eu pude não fazer a famosa cara de pastel para as fotos. Não reclamo de dar atenção aos fãs nunca, mas HOJE eu tinha pressa.

Com meia hora de atraso, eu cheguei ao hotel onde estava hospedada. Ela não morava em Londres – AINDA – e por isso precisava de um lugar pra ficar. A faculdade onde estudava era bem perto da cidade grande, mas ela queria se mudar pra cá apenas quando concluísse o curso. Considerando que nós dois saímos de uma cidade pequena e hoje conquistamos nossos sonhos pouco a pouco, sei que ela está bem feliz e realizada. autorizou que eu subisse ao seu quarto, meu medo era de algum fotógrafo estar por perto e acabar inventando fofocas desnecessárias a nosso respeito, e assim eu fiz. A caixa em minha mão com o vestido parecia pesar uma tonelada e eu suava nas costas e na testa. Passei a mão pelos cabelos e abri uns três botões de minha camisa branca, tirando-a de dentro da calça jeans e respirando fundo três vezes. Que nervoso dos infernos! Finalmente a porta do elevador se abriu e eu fui até o quarto 3267. Bati três vezes e aguardei poucos segundos até minha amiga aniversariante abrir a porta toda contente. Ela vestia um roupão do hotel e seus cabelos estavam molhados. O cheiro de shampoo e sabonete era vívido e presumi que ela tinha acabado de sair do banho. Considerando que eu estava atrasado meia hora, acho que nós íamos ficar por ali pelo menos mais uma hora até ela terminar de se arrumar. me abraçou pelo pescoço e deu três beijos demorados ali, apenas fechei os olhos e a apertei forte nos quadris, quase me comportando como aquele de cinco anos antes. Era o que ela fazia comigo e talvez eu fosse ser um frustrado pelo resto da vida, fazer o que?
- Por um momento, achei que você não viria! – ela sorriu e me puxou pra dentro do quarto.
- Por que não?
- Essa história de atraso – sentou-se na cama –, sabe quantas vezes já ouvi essa desculpa de você? Nos últimos anos, você sempre apronta algo diferente, aí já imaginei que dessa vez você fosse ter algo mais importante que meu aniversário.
- Claro que não. – eu sorri e sentei-me ao seu lado – Até comprei um presente dessa vez.
- MENTIRA! – ela pegou a caixa da minha mão – Você está pessoalmente me entregando um presente? Dessa vez não vou receber nada pelos correios ou ter que agradecer sua secretária eletrônica?
- Dessa vez, pode me agradecer ao vivo, se é que você vai gostar. – eu ri meio baixo e fiz uma careta estranha – Confesso que não tive sozinho a ideia de comprar isso pra você, umas fãs me ajudaram.
- Fãs? – ela arqueou uma sobrancelha – Como assim?
- Abre logo e depois eu te explico.

olhou a caixa, sacolejou a pobre coitada umas três vezes, me olhou com aquele sorriso encantador e rasgou o papel de presente em três partes. Quando finalmente abriu e viu o vestido, sua boca fez o formato de um “O” bem gigante e um grito rouco e falho de surpresa saiu. Não sabia se era de desapontamento ou se ela estava bem feliz. Coloquei as duas mãos no meu rosto ansioso por sua resposta e o que recebi foi ela pulando em cima de mim segurando o vestido em outra mão. Ela me abraçou forte e falava “obrigada, eu amei, obrigada, é lindo, OBRIGADA!” umas trinta vezes e me enchia de beijos. Nós dois estávamos na cama, ela por cima de mim com as pernas ao meu lado e eu tentando não aproveitar a situação e dar a impressão errada. vestia um roupão e por baixo apenas suas roupas íntimas. Eu conseguia ver seu sutiã branco com bordados azul bebê, sua pele exposta e ainda úmida pelo banho, o cabelo molhado brincando em meu rosto. Estava difícil pra mim.

- , EU AMEI! – ela sentou em cima de mim e arrumou o roupão que caía pelos seus ombros – Pelo amor de Deus, tem noção de que esse vestido é a coisa mais maravilhosa e ÚNICA que eu já vi na vida? É tão Maria Antonieta, onde você achou?
- Camden Town. – suspirei e coloquei os braços em minha nuca – E sim, esse vestido é um pouco igual aos que Maria usava.
- Filho da mãe! – ela gargalhou e inclinou o corpo em minha direção para me dar dois beijos estalados no rosto.

Fechei os olhos e delicadamente passei as mãos por seus cabelos; quando ia dar um beijo na curva de seu pescoço, ela se levantou de uma vez para me encarar e, por questão de milésimos, nossos lábios roçaram tão de leve que eu quase podia afirmar que não aconteceu e foi coisa da minha cabeça. Ao ver o olhar assustado de me encarando e ela levar dois dedos aos lábios, tive certeza que havia sido real. Isso foi um beijo? Prelúdio de um beijo? Queria mais, queria puxá-la pela nuca e terminar logo o que tínhamos começado, finalmente um beijo real entre nós dois, mas ela saltou de cima de mim para fora da cama e eu fiquei naquela situação completamente humilhante. Não estava acontecendo nada nos países baixos – eu sei me controlar, apesar de tudo – porém não foi muito legal ver ela saindo correndo de cima de mim. Sentei-me um pouco envergonhado e respirei fundo.

- Desculpa, eu não sabia que...
- Tudo bem. – ela deu de ombros e sorriu – É até estranho pensar que nós dois nunca tivemos nada desse tipo.
- Como assim?
- Geralmente o primeiro beijo de uma garota é: ou no melhor amigo ou no primeiro amor. Você é meu melhor amigo desde sempre e a gente não tem nenhuma história assim pra contar.
- E você se arrepende? – eu me arrependo profundamente!
- Não... – ela mentia, sabia disso – Acho que se fosse pra acontecer alguma coisa, já teria acontecido.
- ...
- Pelo menos o que leio nos tabloides é que não deixa escapar nenhuma garota dos seus braços”. – ela franziu os lábios e a testa – E, bom, você me deixou escapar.
- Eu deixei você escapar? – Levantei-me da cama. – Como assim? Do que você tá falando?
- É sério que você nunca percebeu que eu tinha uma queda por você quando éramos mais novos? – ela gargalhou jogando a cabeça pra trás – Nossa mãe, e eu achando que a fama tinha te deixado um pouquinho mais esperto.
- Nunca percebi nada de você, . Se eu soubesse que você gostava de mim, você acha mesmo que eu não ia fazer nada?
- Eu pedia pra dormir na sua casa, no seu quarto!
- E daí? Sempre dormia no colchão e nunca comigo na cama.
- Eu tinha doze anos, , se eu pedisse pra dormir na mesma cama que você, ia soar bem esquisito.
- Mas, e os caras que sempre ficavam atrás de você? – cocei a cabeça, tentando não surtar naquele instante.
Ela gostava de mim?
- Sempre falei de outros caras pra te fazer ciúme, e quando eu percebi que não dava certo, decidi desencanar. Eu falava de alguém e você fingia que não ouvia ou não dava atenção.
- Porque eu estava com ciúme! – Como se isso não fosse óbvio. – Te ignorava pra ver se calava a boca, mas não, você sempre se empolgava e tagarelava mais e mais.
- Eu fazia isso pra ver se surtia algum efeito! – Ela colocou as mãos na cintura e me olhou daquele jeitinho irritante – Nós vamos brigar por algo que nunca aconteceu há tanto tempo?
- A culpa é de quem? – eu mordi os lábios e soltei uma risada – A culpa é sua, nunca se declarou pra mim.
- Eu nunca me declarei? Você que foi muito lerdo pra não entender meus sinais!
- Que sinais? Sua tagarelação?
- E por que está jogando essa responsabilidade pra mim? Você também tinha o mesmo sentimento, mas nunca fez nada.
- Eu achava que ia dar com a cara na porta, você se comportava apenas como uma amiga e eu não queria acabar com nossa amizade ou deixar um clima estranho entre nós dois e a gente nunca mais se falar. Eu tinha mais medo que você.
- Essa coisa de medo é muito idiota. – ela bufou – E não adianta nada a gente ter essa conversa agora, claramente não vai acontecer nada. – A voz dela chegou a falhar no final.

Eu queria que acontecesse algo e eu queria agora! Sentia-me no papel do Ross de Friends quando a Rachel fala “I’m over you” e ele, com a mesma cara de idiota pastel que eu devo estar no momento pergunta “When were you under me?”. No caso de , eu estava “under” há alguns minutos, antes de começarmos a jogar na cara esses fantasmas infantis. Como que nada aconteceu anos atrás? Minha mãe falava que era especial e que parecia gostar de mim, mas ela propriamente nunca fez nada que me desse certeza desse sentimento; ou eu era cagão demais e não percebia. Olhando por essa ótica, ela de verdade parecia gostar de mim.

- E o Carter? – tive que perguntar, sou idiota e sei disso – Quando ele entrou na sua vida?
- Como assim? – ela já estava um pouco longe, escolhendo qual sapato usaria em sua festa de aniversário.
- No dia que viajamos pra minha audição no X Factor você desmarcou um encontro com ele. Desde quando vocês dois marcavam encontros?
- Não era nada demais, nós nunca namoramos de forma séria.
- Mas namoraram!
- , qual o problema? – ela virou o rosto pra mim – Sim, eu gostava de você. Sim, eu achava que a gente podia ter namorado e não, eu não ia esperar sua ficha cair pra fazer alguma coisa. Quando sua carreira deslanchou, eu fiquei tão, tão feliz, que decidi guardar qualquer sentimento de paixão dentro de mim como uma memória boa. Pra que estragar o momento abrindo meu coração “hey, eu sou um pouco a fim de você”? Pensa na tragédia pra nós dois.
- No meu primeiro ano de carreira eu só fiquei na Europa! A gente podia ter dado um jeito.
- Você não parava na Inglaterra e eu ainda precisava terminar meus estudos. Vamos combinar que meus A Levels não foram um primor de inteligência. – ela riu e eu tive que rir junto; estudos nunca foram o forte de . – Não me via mais como sua amiga próxima e muito menos como uma futura “alguma coisa”...
- Namorada.
- Que seja. – ela ficou um pouco vermelha nas bochechas.
- E o Carter?
- Caramba, desencana desse nome.
- Só quero saber quande ele entrou no meio disso tudo, eu sou muito melhor que ele, , e você sabe disso melhor que ninguém.
- Você é melhor que qualquer cara que possa aparecer na vida de qualquer garota. – ela sorriu.
- Então?
- Ele é muito gente boa e eu morria de saudades suas. Um pouco antes da sua audição ele tinha começado a me paquerar e, como eu não via nada pra nós, decidi arriscar com o Carter. Mas nunca foi nada sério, a gente fica de vez em quando e ele é uma pessoa legal comigo.
- Pessoa legal? – eu franzi o cenho – Você não precisa de uma “pessoa legal”! – fui até ela e a ergui pelos ombros, segurando-a bem perto de mim – Você precisa de uma pessoa que te abrace e pense “Caramba, eu estou com ! Eu sou o namorado dela, o cara mais sortudo desse mundo!”. Não me venha com essa coisa de “legal” pra cima de mim, não vai rolar.
- E quem é essa pessoa então, ? – ela piscou três vezes e eu... Bom, eu nem sei direito o que fazia mais. – Quem é esse cara que vai se achar muito sortudo de me ter?
- Eu posso ser...

E o telefone do quarto do hotel tocou.
Bem agora.
Bem nessa hora!
Parecia minha mãe entrando no quarto no dia do XFactor, aquela coisinha irritante que quebra o clima de qualquer situação. Nós dois fechamos os olhos e soltamos um suspiro de lamento. Com muita – e enfatizem esse MUITA – dificuldade, eu a soltei dos ombros e ela atendeu o interfone. Um brinde pra quem adivinhar quem era do outro lado. Sim, aham... O Rugby Boy.

- O que ele tá fazendo aqui?
- Carter disse que me levaria até a festa, mas eu o avisei que você estaria aqui.
- E...?
- Ele disse que não se importava e que nós três podemos ir juntos.
- Nós três? Eu, você e seu namorado?
- Ele não é meu namorado! – ela disse entre os dentes e se trancou no banheiro com o vestido que eu a dei de aniversário – Quando ele chegar, abre a porta, por favor?
- Posso deixar ele lá fora? – resmunguei baixo e, como um maricas, respondi – Abro sim.

Quarenta e sete segundos depois, Carter apareceu. Ele e sua roupinha londrina toda descolada; só porque faz faculdade de moda, não quer dizer que ele precisa se vestir de forma tendenciosa também. Nós éramos bons amigos, nada contra, esse cara nunca faz nada errado, ele é COMPLETAMENTE o que as meninas chamam de “tudo de bom”: pacote completo de namorado bonito, rico, britânico e educado. Agora eu não sei mais se a minha gosta dele porque no fundo sente algo ou por puro comodismo. Considerando nossa conversa hoje, eu quase posso afirmar que ela tem uma queda por mim – ou pelo menos tinha, mas isso é fácil de arrumar.

- Como estão as férias, ? – ele é simpático MESMO.
- De boa, - sorri e me encostei a um dos armários do hotel – a banda ainda tem um mês pela frente antes de colocar o pé na estrada de novo e dessa vez vamos para uns lugares bem diferentes.
- Cara, eu admiro muito o seu desapego. – ele deu dois tapas nos meus ombros. Mas que porr...
- Meu desapego?
- Você consegue deixar tudo pra trás e levar uma vida na estrada. Claro que tem suas recompensas, mas não sei se ia conseguir fazer isso, não.
- Eu escolhi essa vida, Carter, era meio que tudo ou nada.
- E hoje? Você acha que tem tudo o que sempre quis ou falta alguma coisa?

A pergunta dele não vinha com segundas intenções. Como eu disse, ele era um cara do bem e creio que não suspeitava de nada entre e eu. Não tinha motivos pra suspeitar, ele tinha a minha garota moderna qualquer hora que quisesse enquanto eu tinha que verificar na minha agenda quando eu ia poder responder um whatsapp. Quando éramos mais novos, lembro de ficar conversando por um tempo com ele sobre nossos futuros, mas nunca dei com a língua entre os dentes pra confessar minha queda pela nossa amiga em comum. Essa conversa mostrava um ingênuo interesse em saber da minha vida, ele podia ser um escroto e tentar contar vantagem de alguma coisa, mas ao contrário, comportou-se como eu sempre me lembrei: um cara bonzinho.

- Sempre falta alguma coisa. – eu sorri e coloquei as mãos nos bolsos. Vamos mudar de assunto... – Então, o que comprou pra ?
- Presente de aniversário? – ele riu e tampou o rosto – Ai, cara, tem noção que eu não comprei nada?
- Nada? – bônus pra mim – Ela vai te matar, sabe como ela leva bem a sério essa coisa de presentes de aniversário.
- Eu sei, mas eu acho muita besteira! O Natal mal passou direito e ela quer outro presente? Adoro a , temos uma química muito boa... – para de falar agora, a última coisa que quero pensar é na química entre vocês – mas ela é meio chatinha de vez em quando. Essa coisa de presentes, festa, moda e outras coisas.
- Isso te irrita na ?
- Não é que irrita, as qualidades dela superam tudo isso, mas há algumas vezes que eu só queria falar “, cala a boca!”. – ele riu e eu não consegui rir junto.

, cala a boca!”? A coisa mais fascinante é o fato de ela tagarelar sem parar. É incrível como ela fala, fala, fala e não se perde nas próprias ideias – e nem te escuta – como as conversas com ela são sempre intermináveis, ela sempre tem algo pra falar de qualquer assunto que surgir. Arte? Ok. Música? Ok. Kardashians? Ok!

- Graças a Deus, há alguns momentos que ela fica quieta, se é que me entende. – ele piscou pra mim e... Que imbecil.
- Aham. – foi o que consegui falar.
- Então, meninos! – abriu a porta do banheiro já pronta – Como estou?

LINDA!

O vestido caiu como uma luva naquele corpo petit e meticulosamente desenhado. Em cima daquela summer boot de salto (um pouco) alto e todos aqueles detalhes minuciosos que só conseguia harmonizar de uma vez só, ela parecia uma fada. Cada pedacinho dela parecia brilhar e aquele corpo, santo Deus! Ela se virou de costas e pediu para que eu desse o laço no vestido. Prontamente fui. Confesso que sou completamente louco por cinturas e a da era a minha favorita. Pequena com curvas na medida certa, firme sob minhas mãos, combinando com o resto do corpo, alguns milímetros abaixo e já é a zona do perigo, alguns acima e é outra parte perigosa. Eu amo aquela cintura, e aquele corpo... E ela por inteiro.

- Onde você arrumou esse vestido tão... Peculiar? – Carter perguntou atrás de mim e eu sorri com os lábios fechados para ele.
- Ganhei de presente do . – ela respondeu prontamente.

ARRÁ!

- Ah, sim, foi por isso que você perguntou o que eu ia dar de presente pra ela? – ele sorria, mas não era um bom sinal.
- Só pra saber se eu não ia ter competição. – tossi e o encarei.
- Eu amei esse vestido! Agora, cadê o seu presente? – ela foi até Carter e estendeu as mãos na direção dele.
- ...
- Quê? Sem presente pra mim?
- Eu te dei uns três presentes diferentes no Natal...
- Que, por sinal, eu troquei todos, você sabe disso. – ela bufou baixinho – Pensei que ia conseguir se redimir no meu aniversário.
- Eu nem tive tempo pra pensar em um presente pra você.
- O acabou de chegar de uma turnê mundial e conseguiu pensar em algo pra mim.

Bingo.
Devo dizer que, nesse momento, meu papel era ficar como telespectador nessa picuinha patética entre o Rugby Boy e a Fadinha Inglesa. Eu posso amar a muito mais que esse babaca e nem vou precisar me esforçar muito pra ela perceber isso. A cara de decepção dela ao perceber que ia ficar sem presente de aniversário – e Deus sabe o quão importante são datas comemorativas para ela – e a cara de bundão do Carter já fizeram minha noite valer à pena. Eu estava bem feliz e satisfeito no momento, agora me restava torcer pra que essa noite fosse épica.

Depois de uns quinze minutos do Carter prometendo que ia se redimir e comprar uns cinco presentes ótimos e super caros – “Não é questão de valor financeiro, é o valor sentimental que me interessa, saber que você pensou em mim em alguma parte do seu dia” repetia veemente. Nós finalmente conseguimos entrar em um taxi e rumamos para o pub onde o aniversário dela seria celebrado. No caminho, nós três fomos no banco de trás, mal encostando as pernas um no outro e , no meio, sem respirar. Ela batucava o celular, respondia algumas mensagens dos amigos no Facebook, atendeu dois telefonemas de sua mãe (e eu tive que falar com a mãe dela nessas duas vezes), ignorou alguns outros e reclamava cada vez que olhava para o taxímetro. “Vai ficar muito caro” ela repetia e eu a olhava pela tangente. Carter ensaiou dizer que “ vai pagar”, mas ele achou melhor ficar quieto, ele não estava com uma moral muito alta hoje. Eu a abracei pelos ombros e disse que com respeito ao táxi e o resto da noite ela não tinha que se preocupar, óbvio que Carter fez o mesmo – não a abraçou, apenas disse que ela podia ficar tranquila com os gastos – e novamente chegamos a um empate.

- "Eu não conheço metade de vocês como gostaria; e gosto de menos da metade de vocês a metade do que vocês merecem!". É muita falta de educação minha começar meu discurso de aniversário desse jeito?
- Você vai fazer um discurso de aniversário? Desde quando tem coragem pra falar em público?
- Há alguns anos. – Carter me respondeu no lugar de . A pergunta foi pra ela e não pra ele! – Desde que ela fez um curso de oratória em Cambridge.
- Você fez curso de oratória? – Por que ela não me disse nada? – Senhorita precisando de ajuda pra poder falar, essa é boa.
- Não é bem “ajuda pra falar”... – ela começou, mas o cara bonzinho do lado dela decidiu cortá-la de novo. Alguém avisa pro Carter que é muita falta de educação cortar as pessoas no meio da fala? Especialmente quando a pessoa em si for a .
- ficou gaga uns meses – Carter disse e eu me engasguei –, aí achamos melhor colocá-la em uma escola de dicção e oratória.
- GAGA?
- Não foi nada sério...
- Nós achamos melhor...
- Escuta, Carter! – ele já estava me dando nos nervos – Será que tem como a responder as perguntas por ela mesma? Não tá rolando você como representante dela, não.
- Achei que fosse algo delicado pra ela falar.
- E quem decide isso é você? – arregalei os olhos e a encarei – Por que nunca me disse?
- Foi um pouco depois de você começar a viajar pros Estados Unidos – ela me encarou com um sorrisinho –, nada sério. Eu ia à sua casa e sentia sua falta, aí comecei a ficar mais chatinha do que já sou, e quando perguntavam pra mim como me sentia, eu chorava e gaguejava, não conseguia falar uma frase inteira sem ficar pa-pa-pa-parece-cen-cen-cendo uma be-be-be-besta. – imitou a própria gagueira e começou a rir, mas eu não vi graça.
- E como que isso foi corrigido?
- Minha mãe me levou a Cambridge pra fazer um curso de dicção, já que eu era gaga não por doença, mas por alguma coisa que pode ter causado um impacto em minha vida. No caso, sua partida pra virar um popstar. – ela sorriu largamente – Faça o favor de não se achar culpado por isso.
- Nem falei nada. – não me achava culpado, apenas estranho e deixado pra trás – Quem foi com você?
- Hm... – ela tossiu – Carter. – E tossiu de novo.
- Achei melhor ficar com a nesse período, ela ficou muito sozinha. – agora ele a abraçou e me encarou com um ar superior. Novamente, mas que porr...?
- Conheci uns famosos por lá, sabia que eu frequentei a mesma escola de gagos que o Colin Firth? Quando ele se preparou pro filme “O Discurso do Rei” ele fez as aulas em Cambridge, foi bem legal.
- Conheceu ele? – perguntei meio cabisbaixo.
- Não, mas outras pessoas sim.
- , você tá querendo falar de gente famosa com ? – Carter disse baixinho e a abraçou mais pra perto – Acho que ele nem deve saber quantos famosos ele conhece.
- Isso não é importante pra mim. – respondi áspero – Acho que a gente chegou.
- Ah, sim! – suspirou e tirou o braço de Carter de seus ombros – Então, devo começar meu discurso falando aquilo ou não?
- Acho uma tremenda grosseria. – Carter resmungou e saiu primeiro do carro.
- Eu acho o máximo! – sorri e a segurei pela mão, ajudando-a a sair. Ela riu empolgada e se apoiou em meu braço até chegarmos ao bar.

1 X 0 Carter Rugby Boy

Não conhecia praticamente ninguém da festa da , mas todos sabiam quem eu era. Algumas amigas, se é que posso chamá-las assim, queriam causar tanto uma grande impressão pra minha pessoa, que pareciam muito patéticas. E quando souberam que aquele vestido era um presente meu? Foi o suficiente pra cinco aspirantes a modelo ficarem ao meu redor perguntando dicas de moda e o que as passarelas queriam nas modelos hoje em dia, como se eu soubesse de que raios a passarela precisa. Acompanhei nos dois primeiros pints de cerveja, mas a perdi no meio da multidão do pub e da multidão de garotas que vinham tirar fotos e mais fotos, perguntar coisas aleatórias de minha vida e as mais descaradas, meu telefone.

Com tanta foto rodando por aí ao mesmo tempo, não demorou para que alguns fotógrafos chegassem até o pub onde estávamos e ficassem ali esperando algo acontecer. Só na primeira hora, eu devo ter sido namorado de umas cinco garotas ali – SugarScape e HeatWorld trabalham mesmo até tarde da noite – e o melhor de tudo: eu nem sequer me lembrava do nome delas. Queria saber de . Onde ela estava? Com muito cuidado para não parecer grosseiro, desvencilhei-me de mais um grupo de gente que chegava para pedir uma foto e vi sentada do outro lado do pub com uma cara de poucos amigos. Carter não estava por perto e nenhum dos seus amigos estava lá. Que aconteceu?

- Tem lugar pra mim aqui? – perguntei, puxando uma cadeira e sentando ao lado de minha amiga isolada no dia de seu aniversário – Por que não está bêbada?
- Não tem ninguém pra beber comigo, então não tem graça.
- Eu estou aqui! – sorri e abri os braços.
- Não está melhor lá com todas aquelas fãs caindo literalmente de amores por você?
- Sinto cheiro de ciúme ou é o álcool falando mais alto no seu corpo?
- Não é ciúme – ela riu –, quando saímos em LA ninguém te reconheceu. Aqui você parece um ímã pra groupie inglesa irritante! Não dá pra te aproveitar do jeito que eu queria.
- E como você queria, ? – apoiei meu cotovelo na mesa e aproximei nossos rostos.
- Sabia que tem uns dez fotógrafos aqui dentro só esperando você fazer alguma coisa digna de primeira página amanhã? – ela riu e se encolheu.
- E por acaso pareço me importar com isso?
- Devia se importar, você não é mais o garotinho de cinco anos atrás.
- Continuo sentindo as mesmas coisas que aquele garoto sentia.
Era agora, ia ser agora!
Aqueles lábios molhados por um gloss rosa e com gosto de cerveja fizeram com que a minha vontade de beijá-la fosse aumentando a cada centímetro. Ela não sorriu, apenas respondeu aos meus movimentos e nós fomos dançando de forma lenta até nossos rostos se encostarem. Pude sentir a respiração, sua mão acariciando a lateral de meu rosto e meus cabelos, uma vontade que crescia em mim e eu sabia, crescia nela também. Queria sair dali, não queria que nosso primeiro beijo fosse estampado em todos os lugares amanhã, mas agora parecia tarde demais e eu não me importava com mais nada. Mas foi se distanciando, eu não a sentia mais tão perto de mim e aquela necessidade do nosso toque passou a ser uma dor física. Abri os olhos e ela não estava mais lá; pelo contrário, estava de pé gesticulando forte com Carter, que olhava pra mim e pra ela com raiva ou, atrevo-me a dizer, inveja. Ela não chorava nem nada, mas parecia bem puta com a situação e quanto mais Carter reclamava, mais ela mexia com as mãos e braços e apontava pra mim. Eu ia ter que fazer alguma coisa.
- Não é possível isso, ! Você só pode estar brincando com a porra da minha cara! – Carter gritou, descontrolado, enquanto eu me aproximava. – Todo esse tempo eu pensei que poderia confiar em você, mas...
- Carter – interrompi, colocando uma das mãos sobre seu ombro, o que logo entendi que não tinha sido um movimento muito esperto ou uma atitude aprovável. Ele parou de falar na hora, virando para mim com o rosto vermelho e as veias do pescoço saltadas.
Tirei a mão dali rapidamente e suspirei, sem nem conseguir ver atrás do enorme jogador.
- Escute, você está muito nervoso. Talvez seja uma boa ideia... – tentei dizer, quando ele riu, aproximando-se tanto de mim que senti-me um lutador de MMA durante a pesagem.
- Não venha me dizer que porra fazer, – ele xingou, transtornado. – Todo esse tempo eu pensei que você fosse um cara legal, eu deixei passar o fato de que você corria atrás da minha garota como um filhote de cachorro toda a adolescência. Você foi embora, você ficou famoso, mas virou a porra de um fantasma nas nossas vidas desde então – ele riu, chacoalhando a cabeça. – E agora você está famoso, milionário, pode ter a garota que quiser, mas achou legal querer brincar de volta ao passado tentando roubar na cara dura a namorada...
- Eu não sou sua namorada – o interrompeu, com os olhos vermelhos. – E mesmo que fosse, eu jamais seria sua propriedade para alguém me roubar de você – ela disse, com a voz séria e os braços cruzados, e eu senti meu peito aquecer.
Aquela era a por quem me apaixonei.
Carter riu.
- Cale a boca, , por Deus – ele chacoalhou a cabeça. – Na real, eu até acho que o devia ficar ofendido com seu súbito interesse por ele, dançando e se oferecendo, não parando de falar dele. É de se pensar que você nunca o viu assim, mas agora que ele está montado na grana...
- Carter... – advertiu.
- ... a vadiazinha resolveu olhar para o moleque que não largava do pé dela quando...
- Carter, porra! – Dessa vez eu quem xinguei, sem me importar se todo mundo ao nosso redor estivesse parado para a ver a cena, ou se alguém estivesse nos fotografando com um celular. – Cala a merda da sua boca! Você não vai ofender a garota que eu amo assim na minha frente!
Quando gritei, alto demais, quase não percebi o que tinha feito.
A garota que eu amo.
Pela expressão de Carter, eu realmente tinha dito isso, com todas as letras. Meu cérebro parou por alguns instantes, e quando voltei meu olhar para , seus olhos estavam arregalados e ela parecia verdadeiramente chocada.
Um profundo silêncio tomou conta da roda, e piscou algumas vezes.
- A garota que você o quê? – Ela perguntou, a voz mais baixa e fraca que eu já ouvira, totalmente diferente da que eu conhecia, e eu suspirei, colocando as mãos imediatamente no bolso. Não respondi de imediato, então ela continuou: - Eu não acredito nisso.
- Só se você for uma burra patética – Carter disse, a voz uns dez tons acima do respeitável, e xingou um dicionário inteiro de palavrões antes de sair como um furacão no meio das pessoas.
O olhar de continuou preso ao meu, e ela não se virou para vê-lo deixar o pub, ou para ver o que estava acontecendo ao nosso redor. Com o coração batendo nos ouvidos, ousei falar.
- Eu... Eu achei que você soubesse.
passou a mão pelo rosto, chacoalhando a cabeça negativamente.
- Esse tempo todo você...
- Não exatamente – a interrompi, sentindo minha espinha gelar. Era a primeira vez desde o dia em que conheci que eu não conseguia dizer o que ela estava pensando, e aquilo era absurdamente assustador. – Eu realmente era apaixonado por você quando éramos vizinhos – eu disse, e como quem abria uma corrente, disparei. – Merda, eu era mesmo. Eu pensava em você o tempo inteiro, eu sonhava com você e quase me declarei milhares de vezes. Mas eu nunca soube o que você sentia de volta, e então...
- Você nunca disse nada – ela concluiu, e eu assenti com a cabeça. – Mas você acabou de dizer que ainda...
- Sim – concordei, pensando que a conversa monossilábica não me incomodava nem um pouco. Eu queria gritar várias coisas. Queria me declarar para ela. Queria contar tudo sobre o amor que eu tinha redescoberto. Queria que ela dissesse que também era assim com ela.
Mas ela não parecia estar pronta para falar, não ali, na frente de seus amigos e de um bar inteiro. E eu também não queria ter meu discurso em todos os tabloides.
- Eu acho que poderíamos sair para conversar – sugeri, e chacoalhou a cabeça, como alguém que finalmente caía em si.
- Eu não acredito que você nunca me disse nada. Todo esse tempo, – ela falou, um pouco mais alto agora. Não parecia brava, e sim confusa e decepcionada.
- Você disse que tinha uma queda por mim naquela época e também nunca me disse nada – eu retruquei, em minha defesa, e ela suspirou, soltando o ar pela boca.
- Eu preciso tomar um ar – disse, pegando a bolsa, e eu caminhei ao seu lado, concordando. Ela parou e olhou para mim: - sozinha.
- Mas, , a gente precisa conversar, agora que finalmente... – eu parei, olhando sua expressão séria. – Eu tenho muitas coisas para falar para você. Posso estar atrasado alguns anos, mas tenho.
Senti que ela iria sorrir, mas não o fez.
- Outra hora, , por favor. Eu preciso pensar – ela mordeu o lábio, e depois acrescentou: - Você esperou todos esses anos. Sei que vai sobreviver.
Sei que qualquer outro cara discordaria, bateria o pé e reclamaria do tom que ela usou para dizer todos esses anos. Mas eu não o fiz.
Conhecia bem o suficiente para saber que nada de bom sairia daquela nossa conversa, se prosseguíssemos com ela naquela hora.
Uma mistura de desespero e raiva – raiva por ela aparentemente achar que a culpa era minha, desespero por deixá-la ir – tomou conta de mim, quando eu a vi sair pelas portas de madeira e vidro, rumo às ruas gélidas londrinas.

parou no fim do corredor de seu andar no hotel, encarando-me. Eu estava sentado em frente à porta de seu quarto há quase duas horas. Eu sabia que ela voltaria para lá eventualmente, e tinha decidido que não conseguiria suportar mais uma noite sem conversar com ela sobre nós dois. Ela caminhou até mim, com uma expressão indecifrável no rosto, e eu levantei, esperando-a.
- Achei que tivesse pedido um pouco de espaço.
- Na verdade você pediu para respirar, e isso já faz... – olhei para o relógio em meu pulso. – Duas horas e trinta e três minutos. Tá bom, né?
sorriu, chacoalhando a cabeça, e eu sorri de volta, sentindo o peito aquecer.
- Eu queria que você tivesse me dito antes.
- Eu queria que você tivesse me mostrado, ainda que sutilmente, que eu poderia ter lhe dito antes – respondi, e mordeu o lábio.
- Eu era bem óbvia.
- Não, não era – eu ri. – Você me tratava como um amigo. E você tinha uma queda pelo Carter e fazia questão de deixar isso claro.
- Está dizendo que isso é minha culpa? – Uma das sobrancelhas de se ergueu, mas seu tom de voz não subiu. Chacoalhei a cabeça negativamente. – As coisas teriam sido muito diferentes se não fôssemos duas crianças medrosas naquela época. - confessou.
- Eu certamente não seria famoso.
- Como não?
- Bem, eu jamais teria deixado você me convencer a ir ao XFactor se isso significasse deixá-la para trás – confessei, e as bochechas de coraram. Senti que aquele era o momento, afinal. Respirei fundo. – , eu era apenas um garoto apaixonado pela melhor amiga. Eu jamais acharia que teria chance com você, de verdade. Sempre olhei para você como uma garota incrível, bem humorada, com um bom gosto maravilhoso para tudo, e perigosamente perto da perfeição, que eu jamais poderia ter, porque eu era apenas um moleque com espinhas, sem músculos, e travado demais para fazer alguma coisa.
- ...
Ignorei sua tentativa de interrupção.
- Eu achei, de verdade, que tudo tinha mudado quando nos distanciamos. Mas quando eu a encontrei em Los Angeles, percebi que só tinha deixado esses sentimentos escondidos, em algum lugar, perto demais da superfície. E eu sei que isso é loucura, e que você está assustada, mas se você me der uma chance, eu acho que nós poderíamos ser muito...
- ! – Ela me interrompeu, rindo. – Você está falando demais, está parecendo alguém que eu conheço – disse, arrancando-me uma risada entrecortada.
Seus olhos estavam úmidos e uma lágrima solitária escorreu por sua bochecha, que ela mesma secou antes que eu pudesse fazer isso.
- Sim, eu estou assustada – ela confessou, mordendo o lábio inferior. – Porque eu também amo você.
Talvez minha cara de choque tenha a feito gargalhar e colocar a mão na boca em seguida, com medo de acordar todo o andar. Mordi o lábio e depois sorri, segurando-a pela nuca.
- Você não tem noção o quanto eu sonhei ouvir isso – disse, pateticamente, e riu.
- Está bem. Eu amo você, – ela voltou a dizer e nós dois sorrimos.
- Eu sempre amei você, – disse, com um sorriso de orelha a orelha. – Minha garota.
Quando eu era mais novo, sempre sonhei em beijar . Pensei em fazer como nos filmes, com aquela coisa de narizes tocando, respirações altas, olhos se fechando ao mesmo tempo. Mas, quando me aproximei dela, soube que não precisava de nada daquilo. Toquei nossos lábios e, sem nem perceber, nossas línguas já estavam se tocando. Era como se eu tivesse dezesseis, meu cérebro estava entrando em colapso quando subi minhas mãos por suas costas e senti as unhas compridas de em minha nuca.
Aprofundei o beijo, ciente de que meu coração estava batendo rápido demais – e o dela também, dava para sentir – e soube que aquilo era o que eu tinha sempre esperado.
Ela cortou o beijo, respirando audivelmente, e eu passei a mão em seu rosto. colocou o cartão-chave na porta e ela se abriu, e ela fez um sinal com a cabeça para que nós entrássemos.
Assim que fechei a porta – e a vi chutar os saltos do outro lado do planeta – sorri.
- Você beija bem, . Certamente muito melhor do que sua versão de papelão – ela brincou, me fazendo rir alto.
- Não acredito! Vou entrar em contato com o fabricante porque tem que beijar bem no papel e na prática – brinquei, fazendo-a rir, e a puxei pela cintura, juntando nossos corpos. – E você beija exatamente igual ao que eu pensava.
- Moleque pervertido – disse, rolando os olhos, e eu gargalhei. – Isso é bom?
Sorri, malicioso.
- Ótimo.
Puxei seu lábio inferior com os dentes, ainda sorrindo, e voltei a beijá-la. Dessa vez, o choque de tê-la em meus braços foi menor – ainda que grande – e o beijo não tinha mais gosto de descoberta. Era intenso, quente e depois de alguns minutos, segurei-a pelas coxas, fazendo-a cruzar as pernas em minha cintura. sorriu ao perceber que eu estava andando para a cama, e parou de me beijar.
- Não estamos indo rápido demais? – Ela perguntou, parecendo meio confusa e afobada, e eu sorri.
- Não para quem esperou por isso a vida toda – eu disse, olhando em seus olhos, e ela sorriu, jogando o cabelo para o lado e acariciando meu rosto.
Beijou meu lábio, meu rosto, e depois a curva do meu pescoço. Sorriu ao perceber que eu tinha ficado arrepiado, e então desceu do meu colo.
Pisquei algumas vezes, confuso. virou de costas e fez um sinal com a cabeça por cima do ombro, indicando o zíper do vestido.
Eu suspirei alto demais, os hormônios da adolescência todos de volta, e levei a mão até o zíper, descendo-o e revelando sua pele nua, a renda escura de seu sutiã. Beijei sua nuca, abrindo o vestido demoradamente, tocando cada centímetro que ia aparecendo de sua pele. Quando cheguei ao final, o vestido despencou no chão, e ela virou de frente.
- Era isso que você tinha em mente? – Ela perguntou, maliciosa, e eu sorri, incapaz de responder. – Deixe que eu seja a garota dos seus sonhos hoje então, .

estava lutando contra o sono, seu corpo nu entrelaçado ao meu. Beijei-a na testa, incapaz de calcular o que tinha sido aquela noite.
Sim, eu já tinha dormido com outras garotas antes, mas nada se comparava àquilo. A sensação de tê-la ali era ridiculamente como a realização de um sonho, como se eu devesse isso ao meu eu adolescente o tempo inteiro. Escutá-la sussurrar meu nome, tocar sua pele, sentir cada pedaço de e mostrar para ela que eu era o cara certo o tempo inteiro era realmente o que eu sempre quis. Quando éramos mais novos, gostava de deitar no jardim para olhar as estrelas. Hoje, tudo o que era possível ver da janela era meio céu, a parede do hotel e algumas luzes de outros edifícios. Ainda assim, a sensação era a mesma.
Éramos só nós dois no mundo.
E eu tinha decidido que, não importava o que acontecesse, eu jamais deixaria para trás novamente.


Capítulo 4

“Desperate for changing, starving for truth…I'm closer to where I started, I'm chasing after you…”

Sem sucesso, eu tentava não olhar para ao meu lado no banco do passageiro. Suas mãos delicadas estavam prostradas ao lado de seu corpo e seu pescoço rígido como quem não quer movimentar um músculo. A noite passada rodopiava em minha mente e eu me perguntava se tinha feito ou falado alguma coisa errada. Creio que não, mas nunca se sabe.
Hanging by a moment do Lifehouse era nossa música de karaokê, e mal ela sabia que eu sempre cantava pensando exclusivamente nela. Eu ficaria quieto esperando por um momento com e isso quando achava que minha vida seria medíocre em uma cidade pequena londrina. Pra mim ela seria grande e viajaria pelo mundo, eu ia permanecer parado esperando o amor da minha vida voltar. O mundo dá voltas e hoje sou eu quem não aguenta ver parada ao meu lado esperando alguma coisa... Paramos em um sinal vermelho e ela me olhou de canto de olho, com um sorriso tímido e curto. Definitivamente fiz merda ontem!
- Que horas é seu voo? – arrisquei perguntar; o silêncio já tinha ultrapassado o limite do incômodo.
- 18 horas – ela respondeu com um suspiro –, pelo menos dessa vez não vou precisar fazer escala em lugar nenhum.
- Ótimo, sei como você fica impaciente quando precisa ficar esperando.
- Exatamente. – ela riu, finalmente!
O sinal abriu e tão logo ela tornou a encarar a janela. Mexia umas duas vezes no celular e depois suspirava. Olhava as horas e encarava o subúrbio de Londres. Não sabia até que ponto eu podia perguntar algo, ontem nós ultrapassamos uma barreira que sempre existiu em nossa amizade/relacionamento – a barreira da tensão (no nosso caso, tesão) sexual. Eu queria, ela queria... Será que queria? Pelo que eu pude ver, a resposta era positiva. Qual o problema então?
- Posso ligar o rádio?
- Claro que sim. – respondi meio óbvio.
Desde quando ela me pergunta essas coisas?

I'm falling even more in love with you
Letting go of all I've held onto
I'm standing here until you make me move
I'm hanging by a moment here with you


Nós dois nos encaramos e rimos completamente sem graça. Qual era a possibilidade dessa música tocar nesse momento? Eu nunca mais ouvi Lifehouse em lugar ALGUM e, de repente, começa a tocar aqui no meio de um dia normal em Londres. Ela riu com muita alegria e vi seus ombros relaxarem um pouco, acho que ela tinha as mesmas lembranças que eu e sabia o quanto essa música significava para nós dois.
- Vai ter um show deles daqui a duas semanas aqui. – ela sorriu – Não estava pensando em ir, mas essa música foi um sinal.
- Nem sabia que eles faziam shows.
- Não são tão grandes como One Direction, mas fazem. – provocou e começou a rir – Eu tinha uma queda pelo vocalista que eu nem lembro mais o nome.
- Você tinha uma queda por praticamente todos os vocalistas de todas as bandas.
- Fazer o que? Não tinha meu popstar particular pra idolatrar, então concentrava meu amor nas outras pessoas.
- E agora você tem um popstar particular?
- Por alguns minutos eu gosto de pensar que sim. – ela encarou as mãos e depois me olhou. – E tenho a versão dele em papelão no meu quarto. – ela sussurrou para si e eu escondi um sorriso.

Não pude claramente virar meu rosto, estava dirigindo, mas senti o olhar de em mim. Eu era dela por alguns minutos, propriedade particular e privada. E eu queria ser assim, queria ser dela enquanto ela me permitisse.

Forgetting all I'm lacking
Completely incomplete
I'll take your invitation
You take all of me now


Desde a chegada de , passei 23 horas de meu dia pensando se nós fomos feitos um para o outro. Imaginando se nós dois temos energia suficiente para sermos fortes, caso fiquemos juntos, e se preparar para algo que nem sabemos direito o que é. Se a bagagem que cada um carrega vai ser pesada demais pra levar e em consequência disso, vamos afundar nosso pequeno barco. Mas quando chega a 24ª hora percebo que passei as últimas 23 pensando nela, somente nela. E eu volto ao lugar onde estava; há algo na que não me fazia querer ficar longe dela, há algo que me fazia querer... Amá-la.
- Chegamos, .
Sem perceber, eu acabei estacionando o carro na entrada de trás do Heathrow, local onde geralmente eu entro com a banda quando vamos viajar.

pegou sua bolsa e sua pequena mala no banco de trás do carro e todo aquele desespero e nervoso começou a formigar dentro de mim. Ela ia embora e eu não queria isso. Há alguns dias, ela me disse que tinha conseguido um emprego de verão em Los Angeles, mas eu nunca imaginei que ela fosse ir de verdade! Era a primeira vez nos últimos anos, desde que entrei para a One Direction, que eu conseguia voltar pra Inglaterra e passar um tempo com ela e minha família; e agora ela ia embora por mais um bom tempo. O começo da nova tour da banda é no Reino Unido, ou seja, não vai ter como eu ir pra LA tão rápido. Quando eu acho que todas as coisas estão se encaixando, alguém muito mal amado resolve brincar com a gente e... Ferra tudo! Eu não queria que ela fosse e o quão egoísta isso poderia soar? Mas eu não queria! Espera mais um pouco, espera eu poder estar com a agenda livre e nós dois vamos juntos, mas não me deixa de novo.
Desespero de merda.
- Não vai!

I'm living for the only thing I know
I'm running and not quite sure where to go
And I don't know what I'm diving into
Just hanging by a moment here with you


- ? – ela me olhou assustada quando percebeu minha mão segurando seu braço.
- Não vai, por favor. – a música parecia controlar meus sentimentos e minhas ações.
- , você sabe que isso não vai dar certo... – ela sorriu um pouco triste e olhou novamente para minha mão – LA é um sonho meu e essa é uma grande oportunidade, sabe disso.
- A gente dá um jeito! – tirei meu cinto de segurança e virei meu corpo completamente pra – Espera eu ir junto! A gente tenta alguma coisa com a banda, você sabe como One Direction é brega e precisamos muito de alguém pra cuidar das nossas roupas, e você é a pessoa ideal! Espera uns meses, por favor.
- Desde quando One Direction é brega? – ela riu e ignorou totalmente o resto de minha sentença.
- , não vai... – segurei seu rosto em minhas mãos – Nós temos que ficar juntos e você sabe disso.
- ...

Ela encostou a testa à minha e me abraçou pela nuca. A única coisa que eu queria era que ficasse mais um pouco assim, em meus braços. Nunca consegui falar as palavras certas para ela – o que é idiota considerando que canto em uma boyband e nossas letras são recheadas de declarações de amor – mas imaginava que por meio de minhas ações ela percebesse que seu lugar certo era comigo.
- Ontem foi a maneira perfeita que encontramos pra dizer adeus.
- ?
E assim, como um babaca, eu a vi abrir a porta do carro. Ela voltou ainda e selou nossos lábios uma última vez, mas quando saí do transe patético, a vi entrar pela portaria três do aeroporto e ir embora. Eu estava quebrado, completamente destruído! Vi várias pessoas passando perto do carro, algumas até curiosas – meu vidro não era tão escuro assim – e o único ser humano que eu conseguia ver era . indo cada vez mais longe sem olhar pra trás, carregando sua mala entre os outros, balançando a cabeça vez após vez. Queria levantar e sair correndo atrás dela, mas percebi que a decisão já havia sido tomada. Fechei os olhos e apenas rezei para que em algum momento o coração dela voltasse atrás...


Capítulo 5

Senti o celular vibrar na barriga e dei um pulo, assustado. Por sorte, ninguém estava prestando atenção em mim dentro do estúdio fotográfico em que eu e os garotos estávamos para fazer um photoshoot. Pisquei algumas vezes, sonolento de tanto esperar os ensaios individuais, e vi uma nova mensagem de na tela. Sorri automaticamente, e, estabanado para ler logo, quase taquei o telefone pelos ares.

Aonde você está?

Era a pergunta, curta e grossa, na tela.
Franzi o cenho, sem entender o interesse repentino de por minha localização. Desde que ela partiu para Los Angeles, mantivemos contato – mas confesso que jamais foi fácil. Assistir a ela me deixar para trás foi como vê-la deixar nossos sentimentos no passado, parados em algum lugar entre o tempo e o espaço lá em Londres, onde éramos só nós dois e não tínhamos que nos preocupar com nada. Talvez eu tenha ficado um pouco rancoroso. Cheguei a cogitar não responder as mensagens de , mas alguma parte masoquista do meu cérebro não deixou que eu fizesse isso.
Por muito tempo, pensei que aquilo tinha significado mais para mim do que para ela, mas depois entendi que não deveria ter esperado alguma coisa diferente vindo de . Ela sempre se colocava em primeiro lugar, e, como ela mesma sempre dizia, não tomava suas decisões baseadas no que qualquer cara dissesse. Exceto que... Bem, eu sempre esperei ser mais do que um cara qualquer para ela.
Depois que parei de remoer o assunto – pelo menos publicamente, porque o bullying dos caras estava insuportável – consegui relaxar um pouco, e acho que, quase meio ano depois, finalmente estávamos em um ponto em que nossa amizade foi recobrada.
Tive apenas uma chance de ir para Los Angeles nesse meio tempo, mas coincidentemente ela estava na semana de moda de Nova York com a chefe dela, e acabamos nos desencontrando.
aparentemente trata isso com a maior naturalidade possível, mas não esconde que sente a minha falta.
Uma noite me ligou, bêbada e chorando, pedindo que eu entendesse o que ela tinha feito, e que ela ainda me amava muito. Quase peguei o voo seguinte para LA – babaca que sou – mas me contive. No dia seguinte ela ficou sem graça e não comentou nada.
A verdade é que eu ainda vivo esperando que algo aconteça, mas não tenho tempo de fazer acontecer por mim mesmo. Sinto saudades de seu sorriso, do toque da sua pele, do cheiro do seu perfume. Me culpo, às vezes, por não ter uma profissão normal o suficiente para poder correr atrás do que quero, e fico nessa constante do -gosta-de-mim-mas-agora-não-sei-mas-ela-me-ama-sim eternamente.
Agora, olhando a mensagem, dei um pulo, com o coração acelerado.
Será que ela está, sei lá, aqui?
Mas o que ela teria para fazer no meio do Texas?
Apressado e esperando estar certo, respondo rapidamente que estou em um photoshoot, e aguardo por longos doze minutos antes da resposta aparecer na tela.

”Ah, tudo bem. Vou te ligar à noite para te contar uma coisa. Xx”

Murcho os ombros, incapaz de conter minha frustração, e depois com raiva em perceber que ela me tinha em mãos muito fácil. Talvez eu devesse, mesmo, sair com os caras da banda de abertura para uma boate mais tarde. Com alguma sorte e alguns drinks a mais, eu pararia com essa obsessão absurda.

Relaxei os músculos e me joguei para trás no sofá, depois de mais um show incrível que me deixou com um sorriso gigante espalhado no rosto. Tomei um longo gole da minha garrafa de água e se aproximou, igualmente sorridente.
- Esse show foi foda, cara – disse, e eu sorri.
- Era exatamente o que eu estava pensando – respondi e peguei o telefone, pronto para fazer algum comentário a respeito no Twitter. me encarou.
- Você devia trocar essa camiseta – disse, e eu arqueei uma sobrancelha e gargalhei, confuso pela mudança brusca de assunto.
- Isso foi um jeito sutil de dizer que eu estou fedendo? – Brinquei e ele riu.
- Não, mas se você achar que está, também acho legal passar um perfuminho. Dá um tapa nesse cabelo, cara, esse negócio tá horrível – ele apontou e eu ri, sem entender nada.
- Posso entender essa preocupação louca com minha aparência ou...?
- Acho que ele quer que você fique mais bonito do que ele, .
Senti um arrepio na espinha e virei de costas, tentando saber se meus ouvidos não estavam me traindo.
Lá estava ela, a razão de todos os meus problemas – e soluções – desde que eu me entendo por gente, praticamente.
estava com uma calça jeans rasgada nos joelhos, uma camiseta preta e uma jaqueta. Seus cabelos estavam bagunçados propositalmente, e eu soltei o ar pela boca tão audivelmente que ouvi uma gargalhada de alguém perto.
- Ele jamais vai ficar mais bonito do que eu, interrompeu, com um sorriso cínico nos lábios, e cumprimentou com um beijo no rosto.
Ahn?
Meu Deus, eu só podia estar delirando.
- Verdade. Por isso você é meu preferido, riu, depois os dois riram da minha cara de completa confusão.
- Vou dar uma volta – disse, olhando especificamente para mim, e sumiu de vista em alguns segundos.
Como um cego em um tiroteio, voltei meu olhar para , que dessa vez riu, mas parecia nervosa. Estava torcendo as mãos e não parecia a desbocada e extrovertida de sempre. Seu olhar estava estreito no meu.
- Eu não... Meu Deus, o que aconteceu aqui? – Perguntei, sincero, e ela riu outra vez.
- Bom... será que podemos? – Ela apontou com a cabeça para a porta, e eu assenti, sentindo minhas mãos gelarem por alguma razão. Não acreditava que ela estava ali, na minha frente. Olhamos o longo corredor e eu a puxei para a primeira sala que vi, e a eletricidade das nossas mãos geladas se tocando me fez arrepiar.
- O que aconteceu? – Perguntei ao fechar a porta, embora mentalmente já estivesse a tomando pelos braços e jogando-a não muito delicadamente no sofá cor de creme que estava atrás dela. suspirou.
- Resolvi fazer uma visita – ela disse, sem muitos detalhes, e eu esperei que continuasse. – Encontrei com em LA. Ele foi até a loja em que eu trabalho por engano.
Arregalei os olhos, lembrando que a única vez que foi até LA sem mim tinha sido há mais de um mês. Uma súbita raiva por ele ter omitido o pequeno detalhe desse encontro subiu por minhas veias, mas me conhecia bem o suficiente para dissipar isso.
- Eu pedi para que ele não comentasse – ela acrescentou, como uma boa leitora de pensamentos. – Conversamos bastante tempo na loja, sobre você principalmente, e eu me senti muito mal aquele dia, . Eu sinto sua falta o tempo todo, mas estar lá com um de seus melhores amigos foi mais do que pude suportar. Foi nessa noite, inclusive, que eu bebi demais e acabei telefonando para você.
Assenti, sabendo exatamente do que ela estava falando.
- No dia seguinte, ele voltou à loja. Pediu para tomarmos um café e perguntou o que eu sentia por você, e aquilo era estranho demais para conversar com um popstar, ainda que eu tenha uma versão de papelão dele na minha sala – ela forçou uma risada, mas meu olhar ainda estava vidrado, então resolveu prosseguir. – Acabei contando tudo o que sentia para ele, e acho que ele se arrependeu de ter perguntado – ela riu, e eu mordi o lábio.
- E o que você sentia? – Ouvi minha própria voz perguntar, mas ela ignorou a interrupção.
- Ele me disse que a Lou Teasdale estava precisando de um assistente para a turnê de vocês, porque a antiga moça que trabalhava com ela voltou para a Inglaterra. Ele disse também que eu devia tentar, que eu tinha o perfil que ela estava procurando e porque acima de tudo você estava um pé no saco e ele queria te matar – ela sorriu e deu de ombros, e dessa vez eu ri.
Minhas mãos estavam basicamente petrificadas. Ela tinha ido fazer um teste com a Lou? Ela estava... Apaixonada? Havia tantas lacunas a serem preenchidas que eu nem sabia o que perguntar.
- Você está aqui para fazer o teste, então? – Perguntei, tentando soar coerente, e ela chacoalhou a cabeça.
- Mais ou menos. Na verdade, eu já fiz uma entrevista com a Lou por Skype há duas semanas. Ela está apaixonada por mim, eu acho. Mencionou beijar minha boca em agradecimento e coisa e tal, porque acha mesmo que tenho tudo o que ela precisa – riu, e eu arregalei os olhos.
- Você está me dizendo, então, que vai trabalhar com a Lou? Na minha turnê? Viajando comigo... – fiz uma pausa, tentando prender o sorriso do tamanho de um cabide que se formava em meus lábios - ... Conosco por todo o país? Assim, me vendo todo dia?
gargalhou da minha tentativa nada discreta de perguntar alguma coisa, e depois mordeu o lábio.
- Eu não sei.
Assim como vi um futuro maravilhoso se formar em minha frente como uma fotografia, veio rasgá-la. Fechei a cara instantaneamente.
- Não estou entendendo.
- ... – ela segurou minha mão na sua, entrelaçando nossos dedos. – Eu amo você. Deus, é sério, você não faz ideia como sinto sua falta todos os dias. Questiono a decisão que eu tomei com mais frequência do que gostaria de admitir, mas não quero que isso aconteça de novo. Eu não posso simplesmente aparecer aqui e me empregar com sua equipe. Não posso me meter assim na sua vida – ela disse, com um suspiro. – Não posso interferir na sua rotina dessa maneira. Eu tenho um emprego muito bom em LA também, de verdade. Só considerarei dizer sim à Lou se você achar que eu devo fazer isso.
Meu instinto inicial foi chamar todo mundo e apresentar nossa nova contratada, e também minha nova namorada, se ela deixasse. Aquela era a pergunta mais sem cabimento do planeta Terra, especialmente vinda de . Ela sabia o quanto eu a queria. Tinha certeza que sabia.
A ideia de tê-la comigo basicamente todos os dias fez meu coração palpitar como o de uma garotinha ao ver... Bem, alguém da One Direction. Ri, chacoalhando a cabeça, e quando estava prestes a puxá-la para mim, algo me prendeu.
Um lampejo de realização passou por minha cabeça, e eu dei um passo para trás, ainda sem soltar a mão de . Pisquei algumas vezes, mordi o lábio, e antes que eu deixasse a emoção vencer, falei:
- Não, – disse, e ela pareceu se assustar. – Não posso tomar essa decisão por você – acrescentei rapidamente, e prossegui. – Eu não quero que você decida ficar por minha causa. Não quero que você desista dos seus sonhos pessoais para ficar comigo. Essa não é a minha – disse, e ela mordeu o lábio, reprimindo um sorriso. Seus olhos estavam úmidos. – Eu também amo você. Mas só quero que você fique por você mesma.
pareceu surpresa com a resposta que dei, e eu não me contive. Segurei-a pela nuca e me curvei para juntar nossos lábios. O beijo foi cheio de saudades, e eu não queria parar nunca mais. Minha vontade era basicamente me fazer de idiota e pedir para que ela ficasse para sempre, mas sabia que estava fazendo a coisa certa. Quando me distanciei, suspirou, parecendo sem palavras, e eu sorri.
- Pense nisso – eu disse, e depois acrescentei. – Eu ainda vou amar você independente do que você disser, porque isso é praticamente minha sina – acrescentei, e nós dois rimos.
Saí da sala e fechei a porta, incapaz de ficar mais quinze segundos lá, e pronto para ter um ataque a qualquer momento de ansiedade.
Cheguei ao fim do corredor e, quando estava pronto para abrir a porta do camarim, ouvi o barulho de uma porta. Olhei para trás e lá estava ela. Com os braços jogados ao lado do corpo, e uma expressão que parecia meio desesperada, meio ansiosa. basicamente correu o espaço do corredor e veio parar em minha frente três segundos depois.
Nunca ouvi meu coração bater tão alto.
- Você está certo – ela disse, escolhendo as palavras. – Eu não posso ficar por você. E também não posso ficar por mim.
Minha cara de choque deve ter sido visível a dez quarteirões. Meu coração simplesmente parou de bater, na velocidade em que tinha acelerado.
- Você...? – Não consegui completar a frase.
- Eu passei a minha vida inteira me colocando em primeiro plano, porque é isso que eu sempre soube que era certo. Eu nunca deixei nenhum cara ditar o que eu devia fazer, porque eu sou minha antes de ser de qualquer outra pessoa – ela disse, olhando para os pés, e então me encarou nos olhos. – Mas você sempre foi meu ponto fraco. Sempre foi o cara que eu moveria mundos para ajudar, sempre foi aquele que eu nem sabia que esperava tanto ter de volta em minha vida. Você sempre foi meu melhor amigo, e eu acho que ninguém me entende tão bem quanto você – fez uma pausa, depois sorriu. – E é por isso que eu não posso ficar por você. Nem por mim. Eu tenho que ficar por nós dois.
Pisquei algumas vezes, chocado, e estava quase chorando e quase rindo. Ela voltou a falar.
- Você sempre foi uma grande parte de mim. Eu nunca soube que estava vivendo pela metade, mas agora que sei, não posso ser feliz sem ser por inteiro – disse, e eu sorri, puxando-a para mim. – Eu amo você, popstar. - ela disse, e eu enxuguei uma lágrima de seu rosto.
- E eu te amo o dobro – sorri, encostando o nariz ao dela. – Minha garota.
Não sei, de verdade, qual coração estava batendo mais rápido. Sei que, quando a beijei, tudo pareceu se encaixar. Como naqueles romances melosos, como duas partes de um inteiro, como Ross e Rachel... como e .
“Every heart sings a song, incomplete, until another heart
whispers back. Those who wish to sing always find a song.”
(Plato)



FIM



Nota da autora (Gi): Primeiro de tudo: há uma Gisele fã de Summertime e da Camila que está hiperventilando por ter uma fic escrita com a queen das fics! Momento extremo fangirl e eu sei que a Cah vai me chamar de besta, mas é a verdade HAHA. Então, obrigada Cah pelo seu sonho que previu o futuro, pelo convite e pelo seu signo ser compatível com o meu; os astros aprovaram! Essa foi a fanfic mais doida, mais fofa e mais cheia de surtos que eu já escrevi e participei. Eu nunca pensei que fosse ser um projeto tão recheado de ideias doidas, de muita organização, de não seguir muita coisa do plot original HAHA, de fofocas... Acima de tudo, muito carinho. More than this é a música mais cute cute do álbum e nós tentamos fazer uma fic à altura – com muitos clichés românticos e tudo o que uma história de amor tem direito. Todos os personagens estão vivos, com todas as partes do corpo (a Cah queria matar uns aqui), o casal tá feliz da vida JUNTOS (se acontecesse alguma coisa com o popstar a culpa ia ser minha, tô ligada) e a gente tá bem ansiosa pra saber o que vocês acharam desse casal amorzinho, dessa pp revoltada e esse pp totalmente apaixonado. Espero que gostem porque eu adorei essa fanfic e essa parceria. Docinhos e Gênios UNITED! Beijos
- Gi x.

Nota da autora (Cah): Vantagens de escrever a nota depois é que você pode ver e rir do que sua partner de escrita escreveu antes de você hahahahahahha. Como você é tonta, Gisele. Mas vamos lá: em quase 10 anos de estrada nunca tive a oportunidade de escrever com alguém (só um projeto com muita gente para o FFOBS uma vez, mas era diferente). Em muitos momentos achei que não fosse conseguir, porque é 3x mais difícil que o normal, mas acabou que nossos cérebros se alinharam até bem demais (rolou até minha música fave do Lifehouse sem a Gi saber quando colocou) e várias brincadeiras, risadas, e muitas fofocas pelo meio do caminho. Sei que me diverti muito com esses personagens! Nunca imaginei escrever com Harry Styles, e olhe lá, até que saiu direitinho, né? Hahahaha. E em minha defesa eu não queria matar ninguém não, só deixar alguém seriamente ferido. Hahahahahah E eu exiji um final feliz, ok? Mamain Camila é boazinha. Fiquei extremamente contente que você aceitou participar desse projeto comigo, Gi, e espero que as leitoras gostem tanto dele quanto a gente se divertiu fazendo. Então, docinhos e gênios lindas, agora é com vocês! Comentem bastante para deixar essas duas autoras loucas felizes! Estamos ansiosíssimas para ler tudo! Super beijo <3
Cah.

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