Fanfic finalizada.

Capítulo Único

BOURNEMOUTH, MAIO DE 2013

já havia passado muito tempo longe de casa. Na verdade, ela acreditava que casa sempre fora um conceito muito subjetivo. Para alguns, casa era onde se encontram as pessoas amadas, para outros apenas um lugar onde nos sentimos confortáveis. Para era um pouco de ambas as percepções, ao mesmo tempo que não era nenhuma das duas. Para ela, casa é onde seu coração se sente vivo e sua mente descansa.
Quando mais nova, ela costumava pensar que não tinha casa nenhuma, mas com o passar dos anos passou a perceber que haviam vários lugares onde ela podia se considerar em casa.
havia nascido em São Paulo e logo cedo sua família decidira ir morar em Corringham, mas eles viviam viajando para a terra da garoa para que a senhora e as crianças pudessem visitar e manter suas raízes e contato com a cultura brasileira. Aos dezesseis, no segundo ano do ensino médio, a caçula dos fez um intercâmbio de um ano na Califórnia. No fim do ano seguinte, entrou para a Universidade de Michigan para cursar um dos melhores cursos de Enfermagem do mundo, então não pensou duas vezes antes de arrumar as malas e se mudar para Detroit para usufruir da maior oportunidade de construir seu futuro.
Agora, aos vinte e cinco, voltava para a Inglaterra. Não definitivamente, ela gostava de acreditar. Mas seus planos incluíam passar alguns anos por ali, sim. A primeira parada foi em Londres, para acertar detalhes de sua pós-graduação e de seu novo apartamento; em seguida, seguiu de trem até a casa de seus pais em Essex para ajudar seu irmão e sua melhor amiga a levar algumas coisas para a casa de praia da família em Bourne, como costumavam carinhosamente chamar onde, naquele fim de semana, aconteceria o casamento de Miles e Bree.
Faziam exatos oito anos que não realizava aquele trajeto tão conhecido por ela e, mesmo depois de tanto tempo, era como se ela nunca tivesse saído da Inglaterra ou tivesse parado de fazê-lo. Era impossível para ela contar quantas vezes dirigiu as quase três horas de Corringham até Bourne desde que tirara sua carteira de motorista. quase se sentiu uma adolescente de novo quando o vento ousou bagunçar seus cabelos enquanto cantarolava uma música qualquer que tocava no rádio, mas a dor de cabeça de dirigir sem seus óculos de grau e a tensão nos ombros fizeram questão de lembrar que ela já não era mais a mesma de anos atrás.
A fachada da casa não mudara nada, continuava com as paredes brancas e o telhado escuro. se lembrava de ouvir sua mãe comentando que fizeram reformas nos fundos da casa, então logo associou isso às portas de correr de vidro que davam até o deque onde estava a piscina e a churrasqueira. A casa estava bem mais iluminada e a decoração tinha alguns toques sutis mais modernos, mas continuava com memórias vívidas de sua infância e adolescência.
Depois de fazer duas viagens até o carro para buscar as caixas e sacolas que Bee havia enviado por ela, tirou suas botas e caminhou descalça até o deque, onde visualizou parte da decoração colocada na área externa da casa e na areia da praia.
Degrau a degrau da escada de madeira que ligava a casa dos a praia, sentiu seus pés cada vez mais sujos de areia e seus cabelos cada vez mais bagunçados pela brisa úmida com aroma de mar.
Havia uma espécie de cúpula de vidro, onde estavam o altar e os lugares para os convidados, no teto várias lâmpadas que levaram as memórias de há anos atrás em sua festa de formatura, naquele mesmo lugar com uma decoração coincidentemente parecida.
Voltar a sua cidade natal e ao lugar onde passara grande parte de sua vida a deixariam sentimental e nostálgica, ela sabia, mas nunca imaginara que seria uma experiência tão vívida e impactante assim.

⏮️⏮️⏮️
BOURNEMOUTH, JUNHO DE 2005

O habitual caminho de três horas até Bourne nunca parecera tão longo. Embora todos os outros no carro parecessem animados e entusiasmados com a tão planejada festa de formatura; a cabeça de estava em casa, no envelope azul e amarelo que tinha seu nome e as congratulações por ter sido aceita em uma faculdade que sonhara a vida toda.
Em cerca de quinze dias ela estaria em Detroit para acertar os últimos detalhes da matrícula e de sua estadia. Os únicos que sabiam, até então, eram os pais dela, apenas pela questão dos trâmites legais que viriam a seguir, e Bree, que estava com ela quando o envelope chegou. Agora ela se preparava e sofria pela ansiedade de contar para o irmão Miles — que surtaria, mas depois até cogitaria comprar uma passagem para acompanhá-la na ida —, para os amigos e para seu namorado, .
Ah, . não fazia ideia de qual seria a reação dele.
Seus planos eram muito diferentes dos dela e, por mais dolorido que fosse, sempre se pegava pensando que estavam naquela fase da relação que todos as opções levam ao caminho onde eles não seguiam juntos. queria ser músico, chegara até a viajar para Londres para fazer audições para algumas bandas e até mesmo entrou em uma; já ela queria fazer enfermagem e ter uma carreira pautada por iniciação científica e plantões corridos.
À sua maneira, ambos estavam radiantes com os degraus de sua vida finalmente chegando mais perto daquilo que sempre almejaram.
O futuro de exigia flexibilidade, já o dela exigia a doação de seu tempo com rigor e prioridades completamente diferentes. E doía como o inferno entender que eles não cabiam mais na rotina e vida um do outro. Alguém teria que ceder para que desse certo, mas não era como se desistir daquilo que sempre fora seu objetivo de vida estivesse sequer em cogitação para ; ou, muito menos, que ela pedisse ao namorado que abdicasse do sonho dele.
— Tudo bem, amor? — ouviu o namorado a chamar enquanto Bree e Miles cantavam animados nos bancos da frente. apertou o joelho de carinhosamente e ofereceu-lhe um sorriso reconfortante. — Você está tão quieta…
Ela sabia que se dissesse que era uma leve impressão ele saberia que era uma clara mentira. não calava a boca um só segundo e, em seu estado normal de humor, ela muito provavelmente estaria cantando mais alto que os dois desafinados sentados à frente.
— Dor de cabeça. — foi o que ela conseguiu responder sorrindo fraco para o rapaz. embrenhou uma das mãos nos cabelos acima da orelha da namorada, puxando-a delicadamente para mais perto enquanto depositava um beijo suave na altura de sua têmpora e a incentivava a deitar em seu ombro.
Não demorou para que a orla da praia invadisse o campo de visão do grupo, e não teve muito tempo para pensar, visto que logo que chegaram em casa os jovens tiveram que arrumar os últimos detalhes para a festa daquela noite. Assim que os recém-formados começaram a lotar a casa, aos poucos, a mais nova decidiu não deixar que suas aflições atrapalhassem sua noite. Era sua comemoração de formatura, estava com pessoas que amava por perto e para melhorar, em seu lugar favorito do mundo.
Muitos shots, beer pong e passos de dança completamente desajeitados depois, quando parte da multidão já havia se dissipado, sentou entre as pernas do namorado, encostando a cabeça no espaço entre o queixo e o peitoral dele enquanto admiravam juntos as ondas do mar agitado e terminavam seus últimos copos de cerveja. Ao lado deles Miles e Bree encontravam-se sentados lado a lado, enquanto Bee encostava a cabeça no ombro do mais velho.
Era uma cena atípica e engraçada para . Ela sabia do sentimento mútuo de ambos, mas os dois estavam tão interessados em ficar se provocando que momentos onde eles permaneciam em silêncio apenas aproveitando a presença um do outro eram extremamente raros.
— Eu não esperava que fosse vir tanta gente. — Miles quebrou o silêncio.
— Ainda bem que o irmão mais velho do Eddie salvou a gente com a cerveja. — confidencializou — Teria sido um estresse dos grandes.
— Mas deu certo! — Bee murmurou aliviada com um sorrisinho fraco que evidenciava a quantidade de álcool que circulava em seu sangue — Vou sentir falta dessa energia do colégio…
— Do colégio não, Bee. — resmungou — Com exceção da , ninguém vai sentir falta das aulas. Você vai sentir falta das festas, isso sim!
olhou para o namorado, fingindo estar séria enquanto ele ria. Bee bocejou, aconchegando-se ainda mais no ombro de Miles.
— Vou mesmo… — ela fechou os olhos, parecia estar se rendendo ao sono — Mas vou sentir ainda mais falta da . Não sei se estou preparada pra passar mais tempo longe dela...
Fora a vez de fechar os olhos, rogando que Bree apagasse antes de concluir o que queria dizer.
— Primeiro foi o intercâmbio, agora são quatro anos…
aproximou o rosto do da namorada, confuso. Miles também começou a prestar atenção no que a irmã viria a responder.
Valeu, Bee.
— Do que ela está falando?
— Eu também não sei. — ela desconversou em meio a um riso nervoso, mas sabia que não convenceria os dois que a encaravam esperando respostas e que a conheciam tão bem a ponto de saber quando ela mentia a quilômetros de distância. Com um alto e longo suspiro, encolheu os ombros e confessou: — Eu fui aceita na Universidade de Michigan.
— Caralho, Michigan é um pouco longe… Mas isso é ótimo, era o que você queria, não?
A voz de Miles pareceu apenas um eco em meio ao silêncio entre e . Ela não precisava encará-lo para saber que sua expressão estava tomada por choque e desânimo.
— Um pouco longe? — riu com certo sarcasmo — É outro país né… Você já decidiu?
se manteve em silêncio, terminando de virar seu copo.
— Se Bee disse que vai sentir sua falta é porque já… — concluiu ele em tom baixo, um misto de descrença e tristeza — Quanto tempo faz que você recebeu a carta, ?
— Acho melhor conversarmos sobre isso amanhã, sóbrios e…
fechou os olhos, repetindo:
— Quanto tempo?
Ela suspirou dando-se por vencida. Eles não pareceram ouvir quando Miles se despediu dizendo que ia colocar Bee na cama.
— Umas três semanas… Estava esperando o momento certo pra te contar.
— Uau. E quando seria? Quando você entrasse no avião?
— Também não é assim, . Eu só não queria estragar nossa formatura, entende? Você sabe que eu não iria sem te dizer nada. — ela se virou um pouco na areia, para que pudesse vê-lo.
— Você sabe que isso não estragaria nada, eu te apoiaria completamente. Só queria ter ficado sabendo antes pra digerir a notícia e não ter feito tantos planos.
E, como nas outras incontáveis vezes naquela noite, não soube o que dizer. Ela sabia que havia errado em esconder aquilo dele por tanto tempo, mas também não era como se tudo fosse continuar igual. Em questão de segundos era como se houvesse um oceano entre eles, e ela ainda nem havia ido embora.
— Pensei que estaria aqui no primeiro show com a banda… Até reservei um quarto em um hotel legal pra nós e… Droga, não há a porra de um só plano na minha vida que eu não tenha te inserido.
abriu e fechou a boca algumas vezes, as lágrimas ardendo nos olhos e a realidade inundando seu peito fazendo-a se sentir afogada.
— Mesmo com os planos… Mesmo se eu ficasse, tudo se tornaria difícil. Eu não queria te contar agora por que isso implicaria em terminar… Digo, eu não seria tão egoísta ao ponto de te manter em um relacionamento a distância, isso só seria mais sofrido pra nós e…
— E, mais uma vez, você já decidiu tudo. — riu, levantando-se rápido e batendo com as mãos na bermuda a fim de livrar-se da areia presa no tecido.
— Você fala como se eu não estivesse sofrendo por tomar uma decisão assim. Eu amo você, não quero que pense nem por um segundo que estou te…
— Deixando? — ele arqueou a sobrancelha — Porque é o que você está fazendo, sim.
— Você está sendo infantil… Você sempre soube que é meu sonho, meu futuro!
— Você ainda não entendeu que o problema não é esse? Eu sei que você não gosta de ficar no mesmo lugar, sempre sou o primeiro a te incentivar em qualquer coisa, mas esperei que consideraria conversar comigo antes, que me contasse primeiro. Eu pensei que você confiasse em mim…
— Me desculpa, , eu amo você, — permaneceu sentada, o olhar fixo no movimento brutal das ondas — mas amo ainda mais meu futuro.
— Nada que eu disser vai fazer você mudar de opinião, então não vejo mais motivos para continuarmos com essa conversa.
estremeceu, mas no fundo sabia que era verdade. A opção mais sensata que encontrara no turbilhão que era sua mente fora permanecer calada.
— Espero que seja feliz com sua escolha.
Foi tudo que ele disse antes de sair.
Na manhã seguinte, quando se levantou, estava de saída com sua mochila, determinado a encerrar mais cedo a viagem. Ela não se ofereceu para levá-lo até a estação de trem, assim como, semanas depois, ele não a levou ao aeroporto.
sabia que em ambas as situações, se ele tivesse pedido, ela seria sua novamente. Ela também sabia que deveria estar infeliz por sua escolha, afinal agora não tinha ninguém. Mas ela também era alguém, certo? E não há opção melhor do que escolher a si mesmo, não é? Devia se sentir culpada por estar animada?
Ela, que sempre fora tão certeira em respostas, não tinha nenhuma naquele instante. bem que queria que fosse sua resposta, ou até mesmo que ela fosse a dele; mas não é como se fosse tudo o que precisassem. Talvez, a única certeza era que ela tinha de partir para conhecer a si mesma. Seria bom estar apaixonada apenas por seu futuro e não por alguém.
Tudo que recebera antes de partir fora um sms e, embora no momento aquilo tivesse a frustrado, quando pousou em Detroit ela entendeu que não poderia haver decisão mais certa.
“Boa viagem, . Me desculpa pelas palavras duras… Espero que continuemos amigos e que você não me esqueça.”
E então duas certezas lhe atingiram como um clarão: primeiro, ela esperava ver em alguns anos e esperava com sinceridade que eles continuassem mesmo amigos; e que agora ela tinha uma tela em branco para colorir.
Ah, céus, ela mal podia esperar para finalmente conhecê-la… A sua nova versão e consequentemente, sua nova vida.

⏩⏩⏩

engoliu a seco quando sentiu suas mãos suarem de nervoso, não podia se abalar com memórias tolas e antigas. Não podia sofrer por suas escolhas do passado, não quando elas lhe deram um presente e futuro respectivamente tão feliz e promissor, do jeitinho que ela sempre almejara.
fazia parte de memórias dolorosas, mesmo que eles escolhessem acreditar e dizer aos outros que o término fora amigável e completamente consensual. Não fora completamente abrupto, pelo contrário, chegou a receber uma mensagem do rapaz no dia em que viajou e até mesmo ligou para ele nos primeiros dias; aos poucos as mensagens deixaram de ser frequentes e o contato completamente terceirizado a perguntas indiretas aos amigos em comum.
Os amigos… Isso sim havia sido um baque.
e foram os principais agentes para que o grupo se unisse. Ela até fora visitada pelos amigos, mas nunca por ele. Recebia ligações e interagia nas fotos em redes sociais de todos, mas nunca nada de . Era engraçado pensar que eles, que costumavam ser a intersecção do grupo, tornaram a diferença simétrica deste. Todos sabiam que era o tópico sensível de , assim como ele era o dela.
Aquele tópico que os fazia sorrir amarelo, coçar a nuca ou limpar a garganta e tentar fingir indiferença ao dar de ombros ou simplesmente mudar de assunto. Aquele assunto que, aos poucos, os amigos começaram a evitar.
Ao mesmo tempo que o reencontro parecia algo com que a enfermeira tinha que encarar com pesar, ela tentava com tudo de si pensar que não era nada demais e abafar a faísca de ansiedade e ânimo que empenhava-se em corrompê-la.
Ela não sabia como iria agir quando se encontrassem no dia seguinte e aquilo estava a consumindo em níveis sobre-humanos. Fingir indiferença e não o dirigir a palavra? Tentar se esconder para que sequer percebesse sua presença? Agir como se oito anos não tivessem se passado e puxar assunto normalmente?
Seria uma noite longa de pensamentos, se não tivesse sido salva pela distração de quando seus pais, avós, irmão e cunhada chegaram e vencida pelo cansaço da longa viagem que fizera.
O dia seguinte passou na mesma velocidade, uma vez que ela terminou de ajudar com alguns detalhes da cerimônia e, em seguida, fora se arrumar com a noiva.
Embora quisesse acreditar que não estava esperando por , quando os convidados começaram a chegar, sentiu a ansiedade invadindo seu peito fazendo-a procurá-lo com os olhos.
Ela, que cogitara severamente ignorar a presença de , sentia-se patética agora que seu olhar involuntariamente o procurava em meio à multidão. Tão natural e imperceptível como o simples ato de respirar ou piscar os olhos.
A hora da cerimônia se aproximava e com o passar do tempo Bee também passou a procurar alguém em meio aos rostos dos convidados enquanto tamborilava os dedos na base da janela.
— O ainda não chegou. — observou a noiva, fazendo a amiga ao seu lado dar um sobressalto.
— Eu não estava…
— Não podemos começar sem ele. — com sorte Bree nem pareceu ouvir o que começava a dizer. No entanto, a caçula franziu o cenho confusa.
— Ele deve chegar atrasado pela correria, Bee. Mas acho que isso não impede que vocês comecem sem a presença dele.
Bree arregalou os olhos.
— Como podemos começar a cerimônia sem o padrinho, ? — ela esbravejou preocupada, como se fosse óbvio.
Mas, até então, para não era. Até porque Miles e Bree optaram por manter isso em segredo até… Bem, até agora.
Bree achou que fosse surtar, sim. Mas a intenção era que ela descobrisse desse fato apenas no altar, onde ela apenas sorriria paras fotos e Bee tinha sua posição protegida de noiva que não podia apanhar no seu grande dia.
Eram com as melhores intenções possíveis, claro. No fundo, Miles e Bree sempre torceram pelo casal e tudo que eles precisavam era apenas um empurrãozinho para que pudessem conversar.
No entanto, manteve os olhos presos no vidro que dava para a vista do deque onde estava o altar. Ela se manteve em silêncio e deu de ombros.
— Se era só ele que faltava… — ela apontou para a figura despenteada que corria em alta velocidade em direção a Miles. — Acho que podemos começar.
Bree deu alguns pulinhos de felicidade e empurrou a cunhada porta a fora para que ela fosse para seu lugar no altar.
Pouco depois a cerimonialista indicou a todos que a cerimônia começaria, o que fez com que se dirigisse até o lado de . Fora como uma quantidade maior de ar do que a que seus pulmões podiam aguentar, mas ao mesmo tempo fora reconfortante como ela não sabia se devia ser.
Principalmente depois de tanto tempo.
A marcha nupcial soou pelo ambiente e, embora tentasse ao máximo não dirigir seu olhar para o ex-namorado, tornou-se impossível quando para ver Bree entrando ela tinha que olhar na direção em que ele estava, o que implicava que ela o enxergasse com o canto dos olhos.
O que significava que ela podia ver sua gravata torta e que podia ficar no limbo entre deixar para lá ou morrer de agonia.
Ele arruinaria as fotos e ainda despertava seu TOC. Era demais para o perfeccionismo de .
— Sua gravata. — murmurou ela entredentes sem deixar de sorrir. Não queria que aquilo ficasse claro nas gravações. Mas isso seria impossível, visto que virou a cabeça arqueando o cenho.
Ela estava mesmo falando com ele ou era só a inquietação de sua mente lhe dando alucinações?
— Sua gravata. — repetiu , bufando, uma vez que sua ideia inicial não fora bem-sucedida. — Está torta.
levou as mãos ao tecido terracota de imediato, ajeitando-o no pescoço.
— Eu amarrei dentro do táxi. — justificou sorrindo fraco.
suspirou no exato momento em que a música parou, fazendo com que a atenção de ambos fossem para os noivos.
A cerimônia foi linda, foi impossível não sorrir do começo ao fim. Tudo estava a cara deles, simplesmente não podia ser mais perfeito que aquilo. E ver os sorrisos e a forma com que eles se olhavam só deixava o ambiente ainda mais encantador e feliz.
A festa se iniciou e com ela as fotos e as conversas e reencontros de familiares e amigos. , que sabia que não podia adiar mais o reencontro que mais temia, concluiu que existiam apenas três opções nesse caso:
1) fugir, 2) ficar bêbada e a última e melhor de todas, 3) fugir e ficar bêbada.
É claro que foi o que ela optou.
Embora entornasse champagne, vodca, gim e o que mais lhe fosse oferecido, parecia que quanto mais queria ficar bêbada menos o álcool fazia efeito nela. E quanto mais ela tentava fugir de mais ela esbarrava com ele ou o encontrava com o olhar.
Quando tentou pegar mais uma taça, fora barrada por Bree que a devolveu para a bandeja do garçom.
— Não, não, não! Se não você vai reclamar o resto da vida sobre como estava com cara de bêbada nas fotos e não vai conseguir fazer seu discurso. Vamos tirar as fotos agora.
— Só mais essa taça, eu juro… — pediu , erguendo o dedo mindinho.
Bee bufou e pegou novamente a taça de champagne
E o que se seguiu fora a mais típica sessão de fotos com os noivos que acontece em todos os casamentos. Maldita hora que fora enviar as referências no Pinterest para Bee, agora ela queria reproduzir todas as fotos e em todas tinha que estar do seu lado com aquele maldito sorriso e o perfume que parecia anestesiá-la.
— Certo. Ficaram ótimas! Agora quero uma foto dos padrinhos juntos e encerramos.
, que finalmente tivera tempo de beber sua taça e não apenas erguê-la para as fotos, se engasgou. rolou os olhos e ergueu um dos braços até a cintura de , trazendo-a para perto de si.
— Perfeito! Sorriam! — o fotógrafo pediu e se esforçou ao máximo para não parecer assustada. Sorrir era algo que exigiria demais dela naquele momento e se ela não saísse na foto com os olhos arregalados já estava de ótimo tamanho.
A mão de sob o tecido terracota fino do vestido na cintura de se parecia com brasa. Como a conhecida sensação de anos atrás. E isso era o que mais assustava : o fato de tudo parecer exatamente igual, como se ela tivesse parado no tempo.
Não era o futuro que ela tanto esperava, era mais como um remake de baixo orçamento do passado.
— Ótimo, muito bom. A foto ficou ótima!
O rapaz saiu com a câmera, mas os dois não se moveram.
— Você quer… Dançar?
E tudo que aconteceu depois daquilo foi a mais completa e pura loucura. não sabia se estava bêbado demais para propor ou se ela estava bêbada demais para…
— Tá.
… Aceitar.
Agora, além do calor do contato de sob sua pele, os olhos dele ardiam em si. sabia que se olhasse de volta existia a leve possibilidade de suas pernas vacilarem e ela passar vergonha na frente de todo mundo, então concentrou-se apenas em seus pés.
— E como foi em Detroit? Você parece ótima… — começou ele com a voz mais alta por conta da música.
— Foi como eu imaginei que seria. — ela deu de ombros — Você está ótimo também, soube que tudo deu certo com o McFly…
Então ela sabia o nome da banda… Aquilo o fez sorrir.
— Cheguei a escutar algumas músicas no rádio e na MTV… Vocês são bons.
Ela escutou e os achava bons. Era mais do que achou que fosse conseguir tirar dela quando decidiu se aproximar.
— Obrigado… — ele não conseguiu conter o sorriso, mas não deixou de perceber que olhava para todos os lados, para tudo e todos, menos para ele. Quando a música acabou, ela o olhou rapidamente e acenou com a cabeça saindo.
caminhou em passos apressados até a areia, precisava respirar e sentir suas energias sendo recarregadas com a brisa do mar. Mas era claro que as coisas não terminariam com ela fugindo e fingindo que dançar com não fora uma péssima ideia.
É claro que ele tinha que segui-la.
— Achei que as coisas não tivessem mudado entre nós, . — ele murmurou somente com um sorrisinho. Foi então que ela o olhou e foi pior do que as pernas vacilarem, sua garganta parecia ter se fechado. não sabia sequer se conseguiria fazer algo além de olhar para ele com cara de tacho, já que responder estava fora de questão.
— E não mudaram, eu acho. — ela se ouviu dizer com muito esforço.
— Então por que está fugindo?
— Eu não estou fugindo. — se afastou dele, franzindo o cenho e rindo nervosa. Bem como ela fazia quando estava mentindo.
coçou o queixo e entoou um riso em tom de ironia. Aquele tom de sabe-tudo que ele usava na escola apenas para provocá-la.
— Então, já que não está fugindo e que nada mudou entre nós, por que você não consegue olhar pra mim?
Aquilo era definitivamente uma bandeira vermelha, a chave para o caos, o começo da destruição… Mas ela não perderia uma discussão. Não depois de tanto tempo, ela nunca dava o braço a torcer e agora não seria diferente. Então ela sorriu e se aproximou do rapaz.
— É claro que consigo te olhar. Até avisei sobre sua gravata, como eu…
Ele a interrompeu, tocando-lhe a cintura mais uma vez.
— Você sabe que é diferente…
— Eu não consigo olhar pra você porque você me lembra de tudo que já passamos juntos. Tudo que eu pensava já ter esquecido.
riu, aproximando-se ainda mais dela.
— Ninguém devia ficar preso ao passado, é o futuro que importa e…
— Você parece estar se esforçando demais para acreditar nisso, . — sua voz adquiriu um tom mais baixo, fazendo-a fechar os olhos e sentir ele cada vez mais perto. — No passado éramos adolescentes, mas hoje não precisa ser tão difícil.
O nariz dele roçou levemente o contorno do pescoço de , que estava atordoada demais para afastá-lo.
— Hoje não vai ser difícil… Mas no futuro vai.
Uma das mãos de encontrou o caminho dos cabelos da nuca de , que arfou com o toque extremamente familiar.
— A gente pode só não pensar no futuro agora, que tal?
Beijar depois de tanto tempo parecia mais um ato de recompensa do que um de loucura como o cérebro de se forçara a acreditar. Era certo, por mais errado que parecesse. Mas era idiotice negar que sentira falta dele, que não houvera um dia sequer que a imagem de sua face não estivesse cravada em sua mente.
Foi apenas quando separaram os lábios para respirar que eles constataram que a festa não tinha mais graça alguma e era bem ali que estava tudo o que importava. Exatamente no mesmo mar agitado que os assistira há oito anos atrás, brigando, agora os assistia matando a saudade um do outro e decidindo se esgueirar entre os convidados para lá de bêbados até o quarto de .
Os corpos unidos e a sincronia que jamais puderam sequer cogitar comparar com qualquer outro de seus breves romances durante os anos passados. Quando adolescentes era algo novo, agora, depois de tanto tempo e tantos sentimentos, parecia algo simplesmente único. Algo certo. Como dirigir para casa.
No dia seguinte, a vida e as rotinas os chamavam de volta para seus compromissos da realidade. E quando se despediram naquela manhã, não era como se fosse um adeus. Definitivamente não. Era, por mais bizarro que aquilo parecesse, a mesma sensação de quando chegara em Detroit: de que era o começo de uma nova fase, que mal podia esperar para conhecê-la e, que dessa vez, quando já se considerava apaixonada o suficiente por si mesma e capaz de se apaixonar novamente por outra pessoa.
Talvez pela mesma pessoa.
Mas dessa vez era algo que pretendia apenas descobrir antes de planejar. Afinal, o futuro é maior e muito mais bonito justamente por não termos controle dele.




FIM



Nota da autora: Olá! Se você chegou até aqui, espero que tenha gostado desse surto. Obrigada por ler e embarcar em mais uma das minhas histórias. Vejo vocês na próxima!
Com amor, Ju ❤️






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