1. Stay
Valentine’s Day - 1 anos atrás
:
Aquele era o melhor dia da minha vida, pelo menos eu considerava assim, estávamos completando seis anos juntos, desde que nos conhecemos na universidade de Oxford.
Uma lembrança memorável, estava rolando uma festa dos calouros na The Medical School at Oxford, e meu amigo Matt que namorava uma veterana de medicina tinha me arrastado, seu nome da lista e direito a levar um amigo, estava eu convocado para a farra. Foi neste dia que coloquei meus olhos pela primeira vez nela, Nalla já estava completando seu segundo semestre na universidade, eu me perguntava como nunca a tinha visto antes.
A resposta era que Nalla sempre preferia se dedicar aos estudos e nunca participava das festas, e tinha que admitir que os alunos de medicina eram os melhores para dar festas em toda Oxford. No meu caso havia sido amor a primeira vista, mas no de Nalla, demorou um pouco para conseguir conquistá-la, mas depois foi tudo perfeito entre nós.
E enfim, chegamos ao grande dia, e eu estava me arrumando na casa dos meus pais, um nervosismo muito grande, frio na barriga, eu e ela já morávamos juntos desde que eu formei no curso de direito na Faculty of Law de Oxford. Foi um pouco difícil no início, mas com boas indicações dos meus professores consegui um emprego e que me ofereceu uma renda estável.
Era mais um ponto positivo, eu poderia dar uma vida confortável para Nalla mesmo com ela trabalhando, apesar dos meus pais com seus pensamentos tradicionais, acharem errado ela continuar estagiando após o casamento, no John Radcliffe Hospital, o hospital da universidade. Nem isso me impediria de seguir meu coração e me casar com ela, a opinião dos meus pais era importante, mas meu amor por ela era mais.
— Yah, ainda está aí se olhando no espelho? — perguntou ao entrar no meu quarto — Pensei que já estivesse pronto.
— Hyung, não levo jeito para gravatas. — ri da minha desculpa e fiz uma cara confusa — Você acabou de chegar?
— Sim. — assentiu ele vindo em minha direção, ele segurou o riso e começou a ajeitar a gravata que estava no meu pescoço — Hoje é o dia do seu casamento, você deveria ter visto alguns tutoriais na internet de como fazer o nó da gravata.
— Yah, quem faz isso para mim é Nalla. — respondi meu bobo me lembrando que sempre ganhava um selinho dela depois que terminava de dar o nó — É bem mais legal quando é ela quem arruma.
— Quer um beijo meu para não atrapalhar seu costume? — ele riu da minha cara.
— Não tem graça.
— Para mim tem sim. — ele riu ainda mais se afastando um pouco de mim — Como está se sentindo?
— Como se meu coração fosse explodir de emoção, estou tão nervoso.
— Deixe disso, quando você a ver no altar ao seu lado, isso passa. — ele deu alguns passos até a janela — Eu já vivi esse nervosismo há três anos atrás.
— Eu me lembro, nossa mãe ficou louca quando você deu a notícia e disse que seria em três meses, ela quase me bateu quando eu disse que faria o mesmo. — eu ri me olhando no espelho novamente.
— Seu bobo.
— A veio com você? — perguntei.
— Não, ela foi buscar uma amiga na estação, que vai passar alguns dias aqui em Oxford com a gente. — explicou ele — vive dizendo que se você não fosse comprometido ela te apresentaria a amiga.
— Meus olhos só tem direção para Nalla. — afirmei com segurança.
— Nossa que homem mais apaixonado. — brincou ele — Então vamos senhor noivo, você não pode chegar depois da noiva.
— Vamos sim. — eu me olhei no espelho pela última vez e sorri com satisfação.
Segui até o andar debaixo, dava para perceber que ele estava se esforçando para me deixar mais relaxado e descontraído, mas a cada minuto que se aproximava da hora da cerimônia, mais eu ficava ainda mais nervoso. Dentro de mim havia uma sensação de medo de algo dar errado, eu estava mais preocupado com Nalla do que comigo naquele momento.
— Oh meu filho, como está bonito. — disse minha mãe me abraçando de leve.
— Assim a senhora me deixa triste mãe, eu já sou bonito. — brinquei um pouco.
— Seu bobo. — ela me bateu de leve no ombro — Você é lindo.
— Eu não tive tantos elogios no dia do meu casamento. — reclamou jiyong fazendo cara feia.
— Yah seu moleque, você me fez preparar seu casamento em três meses. — ela bateu nele também — Sua sorte é que eu estava de bom humor.
— Não era culpa minha.
— Sim, você engravida uma garota quer se casar rápido e depois nem o meu neto nasce. — ela reclamou novamente.
Aquele assunto era complicado para a família, principalmente para , ele e não tinham se casado somente por causa do bebê, ou porque o pai dela não queria uma filha mãe solteira. Mas eles se casaram também por se amavam muito, o que houve foi uma antecipação do que já era previsto entre os dois.
— Bem, acho que estamos um pouco atrasados. — eu disse tentando mudar de assunto e o clima da conversa.
— Você tem razão. — concordou , saindo na frente — Te espero no carro.
— Precisava tocar nesse assunto mãe? — eu lancei um curto olhar de desaprovação para ela.
— E eu disse alguma mentira? — perguntou ela — Vocês sabem que eu nunca fui com a cara da esposa dele, se fosse para eu escolher seria alguém como a Nalla, essa sim é uma nora que pedi a Deus.
— Não deveria falar assim mãe, a sempre foi gentil e educada com a senhora. — insisti tentando abrir seu entendimento.
— Não faz mais que obrigação. — retrucou ela relutante em admitir a verdade — Eu sou a mãe do esposo dela.
— Mãe?! Suas palavras são muito duras.
— , não era você que disse que estávamos atrasados?
Eu respirei fundo e segui até a rua, entrei no carro de e seguimos para a igreja, minha mãe foi no outro carro com meu pai. passou uma parte do caminho calado, acho que estava chateado com as palavras da minha mãe.
— Me desculpe. — disse num tom baixo.
— Você não tem porque se desculpar, as palavras não saíram da sua boca. — seu tom era de tristeza e frustração, ele estava mesmo chateado.
— Nossa mãe não consegue entender, nem relevar.
— Isso me deixa ainda mais mal, ela diz coisas que dá entender que a culpa é da . — ele parecia segurar as lágrimas — Mas ela não tem culpa.
— Ninguém tem culpa, apenas esqueça o que a mamãe disse e compartilhe da minha felicidade comigo.
— Claro, não vou estragar seu bom dia com essas coisas. — ele deu um sorriso forçado mantendo sua atenção para frente.
Era triste, mas eu tinha que me concentrar no meu dia feliz, em poucas horas eu estaria me casando com a mulher da minha vida. Assim que o carro foi se aproximando da igreja, meu coração foi acelerando mais e mais, os convidados já estavam todos acomodados e eu respirei fundo antes de entrar acompanhado por minha mãe.
Como o pai de Nalla já havia falecido por problemas de saúde, ela entraria sozinha, e mesmo com a oferta de meu pai entrar com ela, esta era sua decisão. Cinco minutos após minha entrada, ao som da marcha nupcial tocada num tom clássico em violino, Nalla começou a entrar.
A cada passo dela, era um pulsar ainda mais forte do meu coração, segurei minhas emoções e respirava fundo para me manter tranquilo e calmo, não queria chorar diante de todos ali. Assim que ela chegou diante de mim e parou na minha frente, eu comecei a estranhar, Nalla não estava sorrindo ou chorando, ela estava séria e seu olhar meio aflito.
— Caros irmãos aqui presentes… — começou o pastor a falar.
— Espera. — disse ela.
— O que houve? — perguntei.
— Precisamos conversar. — sua voz tinha vestígios claros de aflição.
— Nalla, estamos no início da cerimônia. — retruquei.
— Por isso mesmo. — insistiu ela — Pastor John, não podemos continuar esse casamento.
— Do que está falando? — perguntou minha mãe ao meu lado — Nalla?
— Me desculpe , por nos trazer até este momento, mas não posso, não podemos nos casar. — pronunciou ela ali diante de todos os convidados.
Eu não tinha mais reação naquele momento, estava estático com tudo aquilo e por mais que ela me explicasse seus motivos banais por não se casar comigo, eu não conseguia acreditar ou entender. Nalla deixou o bouquet de rosas vermelhas em cima do altar e ajeitando seu vestido saiu correndo da igreja.
Eu levei alguns instantes para acordar e sair correndo atrás dela, todos na igreja acompanharam tudo perplexos, mas eu não me importava só queria que ela voltasse comigo e dissesse sim.
— Espera. — disse segurando em seu braço — Você não pode, depois de todas aquelas juras de amor, você não… Nalla?!
— Eu juro que tentei, juro que tentei não sentir o que sinto agora, mas… — seus olhos começaram a lacrimejar — , eu não te amo mais.
Aquilo foi o fim para mim, fui do céu ao inferno em apenas cinco palavras: Eu não te amo mais.
“Com palavras duras,
Facilmente você deixou uma cicatriz em meu coração,
Sem pedir desculpas de novo,
Eu estou me confortando,
Sempre nervosa,
Será que você vai me deixar,
Eu só quero que você fique.”
- Stay / BlackPink
:
Eu assim como todos os outros convidados estávamos perplexos com o que havia acontecido, fiquei sentada no banco da igreja sem saber o que fazer, enquanto isso se levantou e foi para fora da igreja junto com para entender todo o ocorrido. Eu virei minha face para o altar e a mãe de estava chorando, certamente estava sendo uma queda para ela que achava a tal Nalla a nora que toda sogra pediu a Deus.
Eu não sabia se ficava feliz pela sogra da minha amiga estar pagando a língua de cobra dela, ou se ficava com pena do irmão de que havia se deparado com a pior situação de sua vida. Aos poucos os convidados foram se levantando e saindo da igreja em meio aos comentários e conversas sobre o ocorrido, eu me levantei também e caminhei pela lateral da igreja até chegar do lado de fora.
Procurei superficialmente com o olhar por minha amiga e a encontrei do outro lado da rua, ela estava ao lado do seu marido conversando com o irmão dele, que estava sentado no meio fio de cabeça abaixada. Aposto que ele estava chorando! Eu fiquei parada em um ponto estratégico até que me viu e veio em minha direção, sua face meio estática, mas seu olhar preocupado.
— Então ? O que aconteceu de verdade?
— Não vai mesmo ter um casamento. — confirmou ela o que era esperado — Eu nem sei como reagir a isso, imagine meu cunhado.
— Mas o que a tal noiva disse?
— Que não amava mais ele e estava apaixonada por outro. — ela respirou fundo — Pelo menos foi o que deu a entender.
— Uau, não desejo isso pra ninguém, mas olhando pelo lado bom sua sogra mordeu a língua.
— Eu gosto tanto do meu cunhado que nem consigo ficar feliz com isso, mesmo sabendo que afeta a naja.
Nós rimos disfarçadamente, mas voltamos a ficar sérias.
— Bem, como não tem casamento mesmo, eu vou aproveitar e vou visitar meus pais. — disse a ela — Acho que ficar aqui seria um incômodo, ainda mais que eles não me conhecem.
— Sem problema, o clima aqui vai ficar bem pesado pelo que estou percebendo.
Nós nos abraçamos e nos despedimos, eu segui em direção ao ponto de ônibus, alguns minutos depois passou um táxi e acabei entrando nele. Por coincidência, a casa dos meus pais era perto da igreja, quando cheguei lá eles ficaram surpresos por minha visita.
— Querida, o que faz aqui? — perguntou minha mãe ao entrar na sala.
— Vim visitar vocês. — disse indo abraçar ela — Não está feliz em me ver?
— Claro que estou, só estou surpresa também. — explicou ela retribuindo o abraço — O que faz aqui em Oxford?
— A me convidou para o casamento do cunhado, mas não houve casamento.
— O que? — meu pai me olhou abismado — Mas o que houve?
— A noiva deixou ele no altar. — expliquei.
— Uau, a vida é realmente cheia de altos e baixos, e como ficou a sogra dela?
— Não sei, mas foi uma queda feia para ela. — eu me espreguicei de leve — Agora não vai mais poder exaltar a tal Nalla e crucificar a , aquela naja.
— Bem, uma coisa é certa, as pessoas pagam por sua língua. — disse meu pai pegando o controle para ligar a tv.
— Você está com fome querida? — perguntou minha mãe.
— Um pouco, não comi nada desde que me pegou na estação.
— Então vamos que te preparo um lanche.
Era bom estar na casa dos meus pais, me fazia lembrar meus tempos de criança antes de entrar na Cambridge School of Visual and Performing Arts, no curso de artes e dança da Universidade de Cambridge. Mas eu estava feliz, afinal não estava sozinha em Cambridge, tinha meu melhor amigo de infância para me fazer companhia e cuidar de mim.
— E como está ? Porque ele não veio também?
— Ah, ele iria participar de um congresso de Inteligência Artificial com um professor da universidade, ainda não consigo entender como ele não surtou com esse curso.
— Nem todos nasceram para fazer engenharia. — minha mãe abriu a geladeira rindo um pouco — Ainda mais ligado a computação, esse coisa chamada computador já é complicada para nós leigos.
— Pelo menos eu tenho um hacker a minha disposição. — eu ri de leve me sentando na cadeira — Bem, tirando os momentos em que ele vira a noite fazendo testes no meio da sala, é bom morar com um amigo.
— Seu pai ainda se sente desconfortável por isso. — alertou ela.
— Por favor, eu e crescemos juntos, se fosse para acontecer algo entre a gente, já teria rolado.
— Não aconteceu porque você não quis? Ou foi ele?
— sempre me viu como uma irmã mais nova, acho que nem se eu quisesse, ou melhor, por um tempo eu quis, mas ele não percebeu.
— Ah, esses jovens de hoje em dia. — minha mãe suspirou de leve indo preparar um sanduíche para mim.
— Esses jovens não, o meu amigo. — corrigi ela.
Era um fato que eu mantinha uma paixonite por desde criança, mas ele realmente nunca tinha me olhado como uma garota, o que me deixava um pouco frustrada por nossa amizade não mudar de nível. Comi meu lanche e fiquei na sala assistindo tv com eles, era um fato que dormiria na casa deles aquele dia.
Na manhã seguinte acordei um pouco mais tarde, após o almoço segui em direção a casa da , queria saber como ela estava e como tinha terminado tudo no dia anterior. me recebeu na porta com uma cara triste e desanimada, eu a conhecia, sempre que estava assim era porque tinha brigado com .
— Bom dia , espero não estar incomodando. — disse assim que ela abriu a porta.
— Amiga. — se jogou em minha direção me dando um abraço apertado — Precisava mesmo de você aqui.
— O que aconteceu? — eu não entendia nada, mas conseguia sentir que ela precisava mesmo do meu colo amigo.
— Eu perdi de novo. — eu senti suas lágrimas caírem em meu ombro — Hoje foi o pior dia da minha vida.
— . — eu me afastei um pouco dela — O que você perdeu?
— Meu bebê. — caíram mais alguma lágrimas de seus olhos.
Senti um aperto grande em meu coração, em três anos de casada, aquela era a sexta vez que estava sofrendo um aborto espontâneo. A primeira vez tinha sido o motivo dela ter se casado rápido com e as outras vezes por causa de discussões e pequenos desentendimentos com sua sogra que a faziam passar mal de nervosismo.
Eu tinha um pressentimento que aquela vez também tinha sido por causa daquela naja de sogra, chamada Lira. me levou para dentro e fomos para a cozinha, ela estava chorando tanto que eu resolvi fazer um chá para ela, assim que terminei fomos para sala e ela começou a me contar o que tinha acontecido.
Como imaginei, toda frustração do casamento não acontecido se voltou contra ela e de alguma forma e naja a acusou de nunca ter sido legal com a tal Nalla e ter torcido contra o casamento do próprio cunhado. começou a brigar com a mãe defendendo , o que a fez ficar ainda mais nervosa e a fazendo sofrer aquele aborto.
— O pior é que eu nem sabia que estava grávida desta vez. — a cada lágrima que ela derramava, me fazia ficar com mais raiva ainda daquela naja — Quando chegamos no hospital, o médico disse que eu estava de cinco semanas.
— Amiga, queria muito poder fazer algo por você. — disse a olhando com carinho.
— Você já está aqui. — ela colocou sua xícara na mesa de centro e se deito em meu colo, limpando um pouco sua lágrimas — Você é a melhor irmã de mãe diferente que eu tenho.
— Eu sou a única. — ri de leve a fazendo rir também — Vai ficar tudo bem.
— Eu não sei, não consigo acreditar mais que eu serei mãe. — ela fechou os olhos — Foram seis vezes e cada uma delas foi uma facada ainda mais profunda no meu coração.
— Pense positivo, tenho certeza que meu sobrinho ou sobrinha um dia virá. — a confortei acariciando seus cabelos.
— Que Deus te ouça e me conceda esse milagre. — ela suspirou fraco.
Ficamos um tempo em silêncio, ela de olhos fechados e eu acariciando seus cabelos, precisava mesmo de um pouco de mimo e carinho. Mesmo que sempre ficasse ao seu lado, eu sei que lá no fundo isso também pesava um pouco para ele, já que sempre brigava com sua mãe em favor de sua esposa.
— , voltei. — disse ao entrar pela porta — Ah, ?!
— Oi . — disse cumprimentando ele.
— Oi querido. — se levantou do meu colo, limpando as lágrimas — Você disse que ia demorar, mas voltou rápido.
— Assim que saí da farmácia, dei uma passada rápida na casa dos meus pais para ver , mas ele não estava em casa.
— Onde ele foi? — perguntou ela se levantando e indo até ele.
— Eu não sei, ele não disse a ninguém, mas espero que não cometa nenhuma loucura. — disse ele num tom de preocupação.
— Mas o seu irmão estava mal, tipo muito depressivo? — perguntei meio curiosa — Porque se for o caso, não queria dar notícia ruim, mas vai que ele pense em se matar.
— ?! — me olhou séria — Não brinca com essas coisas.
— Não estou brincando, é algo que pode acontecer com qualquer pessoa.
— Talvez ela tenha razão. — olhou para meio pensativo — Eu acho que vou rodar pela cidade procurando por ele.
— Bem. — ela pegou a sacola com os remédio da mão dele e respirou fundo — Se você acha que é o melhor a se fazer, então vai.
— Se precisar de mim, me ligue, não queria te deixar sozinha.
— Ela não vai estar sozinha. — disse sorrindo — Eu ficarei aqui com ela até você voltar.
— Mas você não ia voltar para Cambridge hoje?
— Posso adiar isso para amanhã! — expliquei — Além do mais você precisa de mim mais que meus alunos.
— Você tem uma boa amiga. — deu um leve selinho em e depois olhou para mim — Obrigado !
— Vai com segurança e encontre seu irmão. — disse ele segurando no braço de .
assentiu e saiu novamente de casa, me olhou com um sorriso frouxo, mas sincero.
— Obrigada!
— Amigas são pra isso. — eu a abracei de leve — agora me deixe ver esses remédios aí.
— Ah, o médico receitou para as possíveis dores e uma vitamina para aumentar minha imunidade, perdi muito sangue.
— Perdeu sangue e está aqui em pé, moça já pro sofá, vai fazer repouso. — disse a ele segurando o riso e pegando a sacola da sua mão. — Vou ler essa receita aqui para saber seus horários de remédio.
— Ok, senhora enfermeira. — concordou ela rindo e indo se sentar no sofá.
Eu junto começando a ler a receita médica.
“Não há nada mais que eu quero agora,
Eu não sei nem dizer se meu coração está batendo.”
- Stay / BlackPink
:
Eu estava correndo atrás de Jullie no parque, ela estava completando seis anos e era uma garotinha muito forte e esperta, merecia comemorar seu aniversário em um lugar legal e divertido. Apesar de eu não estar sendo um pai presente, eu sou grato por ela ser uma boa filha.
— Jullie, você venceu. — disse parando para tomar um ar — Eu desisto, não aguento mais.
— Papai, você é muito devagar. — ela riu um pouco de mim.
— Devagar? Eu? — me sentei na grama e fiquei rindo um pouco — O papai está ficando velho.
— Papai, posso comprar um sorvete? — perguntou ela.
— Pode. — peguei minha carteira e tirando algumas notas, entreguei a ela — Não demore, estarei te observando daqui.
— Tudo bem. — assentiu ela com a face pegando as notas.
Continuei com minha atenção voltada para ela, minha pequena Jullie estava crescida e por um momento comecei a me culpar por não acompanhar seu crescimento. Meu celular começou a tocar, por um breve instante minha atenção se desviou para a mensagem, estavam precisando de mim no John Radcliffe Hospital.
Quando voltei meu olhar para a barraca de sorvete, Jullie não estava mais lá, me levantei e olhei em volta, controlei meus pensamentos para não me desesperar à toa, se ela tivesse se distraído e seguido outro caminho. Comecei a andar pelo perímetro, até que avistei ela sentada em um banco ao lado de um homem, eles pareciam estar conversando.
A primeiro momento meu coração gelou, e se aquele homem fosse um pedófilo ou algo do tipo, mas ao me aproximar eu notei que ele estava com sua face triste um olhar de frustração. Sua face não era estranha para mim, mas eu não conseguia me lembrar de onde tinha o visto.
— Querida, você demorou. — disse ao me aproximar — Espero que ela não esteja te incomodando.
— Não. — disse ele voltando seu olhar para mim — Sua filha é uma garotinha muito sábia, estava me dando alguns conselhos muito bons.
— Verdade?! — estava surpreso, olhei para Jullie — O que andou falando para o moço?
— Disse que os adultos são muito complicados e que ele deveria viver se divertindo como uma criança. — explicou ela — Papai, ele está triste, posso pagar um sorvete para ele?
— Claro. — eu ri um pouco e Jullie se levantou indo em direção a barraca de sorvete novamente.
— Gostaria que tudo se resolvesse com um sorvete mesmo. — disse o homem suspirando um pouco.
— Bem, o que tiver acontecido com você, um dia essa tristeza passa. — disse me sentando ao seu lado.
— Acredite, não há nada pior que ser deixado. — retrucou ele.
— Há sim. — eu relutei desviando meu olhar para ele — O pior é a pessoa ser forçada a te deixar. — voltei meu olhar para minha filha que estava vindo em minha direção.
Eu não sabia o que tinha acontecido com ele, mas de alguma forma o entendia em partes, ser deixado doía muito, eu estava sentindo aquela dor. Jullie voltou com outro sorvete em sua mão e entregou para o homem.
— Espero que seu dia seja mais alegre. — disse ela.
— Obrigado mocinha. — ele sorriu de leve para ela.
— . — disse outro homem se aproximando de nós — Te procurei por toda a cidade, estava preocupado.
— Bem, acho que seu amigo não vai mais ficar sozinho. — eu peguei na mão de Jullie — Vamos voltar querida.
— Até mais moço. — disse ela sorrindo para ele.
— Até e mais uma vez obrigado pelo sorvete.
Nós nos afastamos um pouco deles, mas pude ouvir chamando o outro homem de irmão, curiosamente eu os achei parecidos mesmo. Enfim, eu tinha outro lugar para estar naquele momento, deixei Jullie na casa da minha irmã Emma e segui direto para o hospital, a princípio estava preocupado com minha paciente especial, mas era somente uma emergência de rotina.
— Boa tarde doutor Lee. — disse Dara a recepcionista.
— Boa tarde Dara, você sabe qual a emergência? — perguntei.
— Um acidente aconteceu na rodovia principal, os bombeiros demoraram um pouco para liberar a pista para os paramédicos, mas estão transportando os feridos para hospital. — respondeu Nalla aparecendo ao meu lado e entregando uma prancheta para Dara — Boa tarde doutor.
— Nalla?! — eu a olhei surpreso — Não era para estar em lua de mel?
— Bem, o casamento não aconteceu. — respondeu ela meio sem graça — É uma longa história.
— Entendo. — respirei fundo — Já que está aqui, vamos trabalhar.
— Claro. — assentiu ela com um sorriso no rosto.
Nalla era uma das poucas pessoas que trabalhava naquele hospital sorrindo, era ainda mais impressionante por ela ser estagiária, o que me fazia ter certeza que ela seria uma boa médica quando se formasse na universidade. E mesmo não sendo da minha conta, eu até estava curioso para saber porque ela não havia se casado, ainda mais depois de notar que ela não estava usando mais a aliança.
— Você sabe se tem algum caso grave entre os feridos? — perguntei ela indo até a sala dos médicos.
— Até agora não nos informaram muita coisa, mas sei que dois dos envolvidos saíram só com algumas escoriações e um com duas costelas fraturadas, mas existem outros dois que ainda não nos informaram. — respondeu ela me seguindo.
— Acho que os enfermeiros podem cuidar dos casos mais leves e peça para eles fazem uma radiografia para saber se realmente foi só duas costelas.
— Sim doutor. — assentiu ela — Mais alguma recomendação para quando eles chegarem.
— Peçam para preparar pelo menos uma sala de cirurgia, temos que nos precaver. — expliquei entrando na sala — Onde deixei meu jaleco.
— Segunda gaveta à direita. — respondeu ela — O senhor esqueceu no seu consultório, então eu guardei no seu armário.
— Obrigado. — disse abrindo a gaveta e pegando o jaleco, eu o vesti e a olhei — Me desculpe dizer isso, mas estou feliz que não tenha se casado e esteja aqui.
— Não precisa se desculpar, eu também estou feliz de estar aqui doutor Lee. — ela sorriu gentilmente.
"Às vezes, quando a escuridão vier, eu serei sua chama,
Neste mundo a mentira é a única verdade, e é você."
- Stay / BlackPink
2. Rumor
Atualmente
:
Eu não queria acordar, não queria levantar da cama, mas aquele alarme insuportável do estava tocando no quarto ao lado e eu tive que me levantar da cama, pelo menos para jogar aquilo pela janela.
— Nem pense nisso. — disse ele da cama quando eu ia jogar seu despertador literalmente pela janela.
— , isso é ridículo, seu despertador é uma tragédia nas minhas manhãs. — disse a ele, mais do que revoltada.
— Yah, deixe disso. — ele segurou em minha mão e me puxou para cima dele, me fazendo cair na sua cama, fechou os olhos — Venha volte a dormir comigo.
— Me solta. — disse tentando me afastar.
— Não. — disse ele jogando seu corpo para cima de mim — Vamos dormir.
— Pare, isso não é uma brincadeira saudável. — reclamei.
— O que? — ele abriu os olhos novamente — Você acha que vou tentar alguma coisa?
— Não, é que. — respirei fundo me soltando dele e erguendo meu corpo — Você me deixa confusa.
— O que? — ele riu um pouco — O que está passando nessa mente pervertida sua.
— Minha mente não é pervertida, mas é que… — eu me levantei — A yah, você me deixa sem reação.
— Garota louca. — ele se levantou da cama e tirou a camisa seguindo até a porta — Vou tomar um banho, quer vir junto?
— Yah. — eu peguei o travesseiro e joguei nele — Depois eu que sou a pervertida.
— Não há nada aí que eu já não tenha visto. — ele saiu rindo.
— Ah. — gritei indo atrás dele — Fique longe do meu quarto.
— . — ele me olhou rindo, da porta do banheiro — Sejamos sinceros, nós crescemos juntos, eu sei de cada parte do seu corpo.
— Yah. — eu me encolhi um pouco — Pervertido é você.
— Estou brincando sua boba. — ele riu ainda mais — Somos irmãos de mães diferentes, jamais seria pervertido com você.
Ele piscou de leve e entrou no banheiro rindo.
— Idiota, era isso que eu queria que fosse. — entrei no meu quarto emburrada.
Ele era mesmo um idiota com brincadeiras sem graça, sempre me tratando como uma criança ou sua irmã, mas nunca enxergando que eu era uma mulher e gostava dele, meu melhor amigo era um tapado. Me espreguicei um pouco e joguei meu corpo na cama me cobrindo novamente, precisava de mais uma trinta minutos de sono.
— Lady. — gritou batendo na porta — Espero que não esteja na cama de novo, você tem alunas e um trabalho.
— Não. — gritei debaixo das cobertas.
— Levanta, antes que eu entre aí e jogue água em você.
— Seu chato. — gritei descobrindo meu rosto.
Quando ele queria, ele era realmente pior que minha mãe me fazendo acordar. Foi preciso uma ducha bem quente e uma xícara de café forte para me acordar e colocar meu corpo no ritmo. Eu estava mais do que cansada naquela manhã, mas por um lado estava certo, eu tinha um emprego e alunas, isso pagava minhas contas e eu não podia reclamar.
Saí, deixando ele esparramado no chão da sala com suas ferramentas e mais um protótipo de alguma coisa que estava inventando. Quando cheguei no prédio da InH Dance Academy, os alunos já estavam entrando no prédio, reconheci alguns rostos de algumas alunas minhas.
— Olá Emma, bom dia Jullie. — disse ao me aproximar dela.
— Olá senhorita Miller. — disse Emma me cumprimentando.
— Bom dia . — Jullie me abraçou.
— Como foi seu final de semana? — perguntei retribuindo o abraço.
— Foi bom, apesar do papai ter ficado trabalhando de novo.
— Ah, mas tenho certeza que seu pai também estava com muita vontade de ficar com você. — disse piscando de leve para ela.
— Bem, vou deixar ela, volto quando a aula acabar.
— Vou cuidar muito bem dessa mocinha. — olhei para Jullie — Está pronta para mais um dia de treino?
— Sim. — assentiu ela animada.
— Hum. — eu sorri e olhei para Emma — Pode ir tranquila.
— Obrigada. — Emma abraçou Jullie e se afastou de nós voltando para seu carro.
Eu segurei na mão de Jullie e entrei no prédio com ela, fomos direto para a sala onde eu dava aulas para ela. O talento de Jullie para a dança era visível, tanto que eu tive que colocar ela na turma mais avançada, e ela conseguia acompanhar o ritmo sem menor esforço, uma aluna aplicada e esforçada, que superava minhas expectativas a cada dia.
As horas se passaram comigo e minhas aulas na terceira sala principal do prédio, como assim que a aula terminou pedi para que fizessem uma série de alongamento antes de trocarem de roupa. Jullie me deu um abraço apertado e carinhoso antes de ir com sua tia, eu me espreguicei um pouco no meio da sala e fiquei olhando para o grande espelho, aos poucos comecei a movimentar meu corpo com suavidade.
Acho que estava mesmo precisando me mover um pouco livremente, saindo de todos os padrões básicos de passos e movimentos que ensinava a minhas alunas diariamente. A música estava em minha mente, o que fazia com que meu corpo se movimentasse num ritmo e sincronia específica, sem precisar de algum som externo para me guiar.
— Olá miss bailarina. — disse aparecendo da porta da sala.
— ?! — disse ao parar de me mover e olhar em sua direção — O que faz aqui?
— Vim ver minha amiga, e conversar com ela. — disse num tom mediano como se estivesse para me dar alguma notícia importante.
— Hum, sua cara esta me parecendo meio suspeita. — disse a olhando desconfiada, eu ri de leve e caminhei até minha bolsa e pegando — E sobre o que quer conversar?
— Sobre nossas vidas, como sempre. — disse ela segurando o riso — O que mais poderia ser?
— Não sei, vai que você tenha alguma informação nova sobre alguma celebridade. — brinquei indo até ela.
— Como se eu, uma dona de casa exemplar, tivesse tempo para seguir sites de fofoca. — ela colocou a mão na cintura fazendo um ar de ofendida.
— Ok senhora dona de casa exemplar, e seus doramas asiáticos? Onde eles ficam?
— Menina, nem te conto Nam Joo Hyuk e Lee Sung Kyunge do dorama A Fada do Levantamento de Peso, Kim Bok Joo, eles estão namorando na vida real. — disse ela animada com a informação — E meu casal Song de Descendants of the Sun vão se casar ainda esse ano.
— Uau. — eu ri de leve — Agora estou vendo quais os sites de fofoca que você anda frequentando.
— Yah, pare de me recriminar, essa notícia foi por acaso que acabei lendo no site do Naver.
— Sei, falou a pessoa que está aprendendo coreano e japonês só para seguir as fofocas sobres famosos asiáticos.
— Eu me casei com um meio coreano, preciso estar antenada. — disse ela rindo.
— Sei. — eu ri junto apagando a luz da sala e saindo com ela.
Seguimos para a rua e caminhamos até chegar no café All Star, era o melhor lugar para se estar com os amigos na cidade, sentamos em uma mesa um pouco mais aos fundos e começamos nossa conversa semanal para colocar os assuntos em dia. Fizemos nosso pedido básico, as mesmas coisas todas as sexta, já havia se tornado tradição.
— Eu ainda te acho muito animada vir até Londres, toda sexta à tarde, só para conversar comigo. — fui sincera.
— O que tem? — perguntou ela surpresa — Quando estava na universidade, você se desbancava de Cambridge até Oxford nos finais de semana.
— Isso é verdade. — ri de leve desviando meu olhar para a entrada da cafeteria vendo algumas pessoas entrando.
— E também, são pouco mais de uma hora de trem, em poltronas confortáveis, não é nenhum trabalho. — ela suspirou um pouco — Nossas conversas salvam minha semana do tédio.
— Foi você que preferiu se casar ao seguir carreira de solteira comigo.
— Hum. — ela deu de ombros — E por falar em solteira, quando você vai finalmente se declarar para e mostrar a ele, que é uma mulher e não uma garota?
— Ah, yah. — virei minha face para o lado — Eu não tenho tanta coragem como você, que agarrou no meio da rua e o beijou.
— Se não fizesse isso a mãe dele o convenceria de se casar com uma estranha amiga de infância. — ela mexeu seu cappuccino com a colher — Quando você quer, tem que mostrar interesse.
— Mas e quando você não sabe fazer isso? — a perguntei.
— Amiga, acho melhor resolver isso antes que seja tarde demais, talvez ele nem consiga mais te ver como uma mulher e sim uma irmã.
— Verdade, acho que vou conversar com ele hoje. — concordei tentando me encorajar por dentro — Mas e você? Quais suas novidades?
— Bem, ando meio esquisita e preciso de sua companhia mais do que nunca na segunda.
— O que houve?
— Tenho passado mal constantemente e desmaiei há dois dias atrás, achou que fosse por causa da minha pressão que sempre foi baixa, mas acho que é outra coisa.
— Você não acha que…
— Acho. — confirmou ela — Não só acho, que já fiz o teste e vou receber o resultado na segunda.
— Mas e ? Contou a ele de sua suspeita?
— Não, não vou contar até ter certeza. — disse ela num tom inseguro — Não quero que a naja saiba também.
— Entendi. — eu arredei a cadeira de leve e a abracei — Parabéns adiantado amiga, desta vez tenho certeza que vai dar certo e será uma gravidez tranquila.
— Obrigada, preciso mesmo de algo positivo em minha vida.
Nós ficamos conversando por mais algum tempo até que ligou, ele a buscaria para jantarem na casa dos pais dele, curiosamente ele estava em Londres resolvendo alguns problemas da sua empresa. Nos despedimos em frente a estação, já a esperava na plataforma para embarcar para Oxford, já tinha me dito que estava com desejo que mudar de cidade e viver longe de sua sogra, eu apoiava essa decisão.
Cheguei no apartamento pouco depois das sete e tive uma surpresa desagradável, havia uma garota sentada no sofá com uma xícara nas mãos. Meu cérebro levou alguns minutos para consegui processar a informação e fazer os músculos do meu corpo ter alguma reação, porém fui um pouco lenta.
— . — disse atrás de mim — Finalmente chegou.
— . — eu me virei, estava ainda estática demais para reagir — O que está acontecendo? Quem é ela?
— Ah. — ele riu de leve e caminhou em direção a garota, fazendo-a voltar sua atenção do celular para ele — , quero que conheça minha noiva, Jessie.
O que? Noiva?
“Não, isso não faz sentido.”
- Rumor / K.A.R.D
Nalla:
Eu estava de plantão naquele dia e tinha acabado de chegar a pressão arterial dos pacientes da ala B. Quando ao passar pela recepção, vi dois rostos conhecidos, era a irmã e a filha de , sorri de leve e deixando a prancheta com a enfermeira auxiliar da recepção, me aproximei dela.
— Boa noite. — as cumprimentei — O que fazem aqui?
— Nalla. — Jullie me dei um abraço apertado, demonstrando estar com saudade de mim.
— Oi querida. — retribui o abraço com carinho.
— Oi Nalla. — Emma sorriu de leve — Eu estava esperando , ele disse que deixava seu plantão agora à noite.
— Ah, sim. — assentiu tentando me lembrar da agenda de pacientes do dr. Lee — Acho que ele está em reunião com o médico geral, mas deve estar no final. Por que? Está com pressa?
— Para ser sincera sim, tenho um encontro para hoje e já estou atrasada. — explicou ela.
— Se quiser eu posso ficar com Jullie, estou no horário da minha pausa mesmo. — me ofereci, ficar com Ju era sempre divertido.
— Sim. — insistiu Jullie dando alguns pulinhos de animação — Eu quero tia.
— E não vai mesmo te atrapalhar? — perguntou Emma com uma certa preocupação.
— Claro que não, é um prazer ajudar.
— Obrigada. — Emma se virou para a sobrinha — Se comporte e obedeça a Nalla.
— Sim. — assentiu Jullie.
Emma se despediu de nós e caminhou em direção à saída do hospital. Eu levei Jullie para o espaço de lazer do prédio principal do hospital, lá tinha algumas crianças que certamente a convidariam para brincar. Eu fiquei sentada em um dos bancos a observando, o lado bom era poder relaxar um pouco e descansar minhas costas que já dava sinais de dores.
Não demorou muito até que alguém sentou ao meu lado e esticou um copo descartável de café para mim. Eu peguei e agradeci com a face, de certo já imaginava quem seria, mantive meu olhar para frente, sentindo meu coração pulsar um pouco mais forte, por causa do seu perfume que ainda exalava naturalmente.
— Obrigada. — disse num tom baixo — O dr. Smith não parava de dar recomendações.
— Imagino. — eu ri de leve — Quando ele começa a falar, parece que não consegue parar.
— Verdade. — admitiu ele — Mas acho que algumas recomendações foram necessários, principalmente para os neurocirurgiões.
— Hum, e quanto tempo ele estará fora? — perguntei.
— Ele disse que o congresso duraria uma semana, mas como o conheço, acho que ele vai voltar só daqui quinze dias. — ele riu baixo — O dr. Smith adora demorar em suas viagens.
— Pelo menos ele sempre o deixa no controle do hospital. — comentei — O que significa que nosso trabalho vai continuar rendendo bem, afinal você é o médico mais responsável que temos.
— Agradeço o elogio, mas ainda acho que a dra. Poppy tem mais experiência que eu. — retrucou ele.
— A dra. Poppy é pediatra, ela gosta de ficar no comando somente a ala infantil. — eu o olhei — Já você, é nosso melhor clínico geral.
— Dizendo assim, você até me deixa sem graça. — ele olhou para mim e deu um sorriso meigo — Então, está na sua pausa?
— Sim, mas acho que a enfermeira chefe vai me dispensar, eu dobrei meu último plantão por causa de uma pessoa que faltou na equipe. — respondi.
— Hum, então acho que você poderá aceitar meu convite de hoje.
— Que convite? — estava surpresa.
— Vou levar Jullie para comer pizza. — explicou ele.
— Adoro pizza. — comentei como se estivesse aceitando o convite.
Nós ficamos mais algum tempo conversando, o olhar dele se manteve todo o tempo atento a Jullie. Eu conhecia o dr. Lee há pouco mais de três anos, quando comecei a fazer meu estágio no hospital, no início eu o achava um pouco fechado e silencioso, sempre afastado das rodas de conversa entre os funcionários. Mas aos poucos comecei a me sentir atraída pelo seu jeito gentil e simpático, e me aproximei dele da forma mais inesperada possível.
Eu ainda me sentia um pouco culpada por ter deixado no altar, mas não poderia ter levado nosso casamento adianta, com o fato de ter outro homem em meus pensamentos. Mesmo que fosse alguém aparentemente solitário e nunca ter mencionado sobre a mãe de Jullie, ou se estava comprometido com alguém, eu me senti forte o bastante para encerrar tudo o que tinha com e me aventurar naquela paixonite sem futuro certo.
Me sentia sim culpada por ter levado tudo ao extremo, não ter terminado antes de começar os preparativos do casamento, mas a senhora Lira estava tão animada que tinha me deixado levar com a empolgação dela. Mas ao chegar diante do altar, não consegui reprimir meus pensamentos que estavam todos no dr. Lee, e foi isso que me levou a deixá-lo no altar, o que me deixava um pouco envergonhada.
Entretanto, eu não iria mais mentir para ele, nem para mim e agora poderia falar sobre meus sentimentos para com clareza e sem medo.
— Voltei. — disse ao retornar da sala dos enfermeiros, já estava sem o jaleco e com a bolsa no ombro.
— Uau, você foi mais rápida do que eu. — brincou segurando na mão de Jullie.
— Eu só precisei retirar meu jaleco e guardar no armário. — me espreguicei um pouco — Acho que podemos ir.
— Sim. — assentiu ele se virando para a saída.
Seguimos juntos caminhando pela rua, Jullie começou a nos contar sobre a nova coreografia que ela estava ensaiando para o novo recital de ballet que a InH estava organizando. Ela parecia bem mais empolgada com esse, por ser uma das bailarinas principais de sua turma, o que deixava ainda mais orgulhoso de sua filha.
Após alguns minutos, finalmente chegamos em frente a pizzaria italiana dos pais de um enfermeiro que trabalhava no hospital, aquele lugar era um point dos funcionários do John Radcliffe Hospital. E como de costume, ao entrar reconhecemos algumas pessoas que trabalhavam conosco, não me contive ao reparar que os olhares deles para nós era um tanto curioso, apesar do hospital inteiro saber da minha inesperada amizade com o solitário dr. Lee.
— Eu vou querer de calabresa. — pediu Jullie ao se sentar ao meu lado.
— Boa pedida. — concordei com ela, desviando meu olhar para o garçom — Acho que vou querer uma assim também.
— Hum… — sorriu de leve para a filha — Acho que ficarei com uma marguerita, e para beber pode ser suco natural.
— De morango. — disse Jullie.
— Concordo. — assentiu sorrindo.
— Anotado. — o garçom se afastou da nossa mesa.
— Jullie quando será seu recital? Quero meu convite. — comentei.
— Será daqui há duas semanas. — respondeu ela — Minha professora ainda não nos deu o convite para distribuirmos.
— Ah, mas de qualquer forma já está anotado na minha agenda. — confirmei minha presença, era bonito ver Jullie dançar, melhor que muito profissional.
— Você vai desta vez, não é papai?! — perguntou ela.
— Claro que vai. — assentiu para ele e brinquei — Como acha que eu vou conseguir chegar lá, nem mesmo sei onde é sua escola.
— Viu. — a olhou — Como eu poderia deixar a Nalla ir sozinha, e jamais deixaria de ver minha filha dançando.
Jullie sorriu espontaneamente. Não demorou muito até que nossa pizza chegar, foi um momento descontraído que nem eu e certamente nem , tínhamos a muito tempo, já que a maior parte do nosso tempo era no hospital. Assim que ele pagou a conta e saímos da pizzaria, se ofereceu para me levar para a república onde estava morando atualmente, mas eu assenti que somente me levasse ao ponto do ônibus.
Jullie já estava com sono e ele havia deixado seu carro no estacionamento do hospital, assim que chegamos em frente ao ponto, ele fez um breve comentário um pouco engraçado sobre o sabor da pizza de marguerita comparado ao sabor da pizza de calabresa. Eu estava rindo muito naquele momento, até que avistei do outro lado da rua, alguém que não via a muito tempo, .
“Algumas pessoas me falaram,
Que te viram recentemente, oh não,
Disseram que você parecia tão feliz, baby,
Então eu fiquei sem forças,
Talvez eu esperava que você estivesse infeliz.”
- Rumor / K.A.R.D
:
Eu e havíamos acabado de chegar na casa dos meus pais, minha mãe tinha nos convidado para jantar lá, aparentemente também iria, mas não tinha chegado ainda. ficou sentada no sofá, checando suas mensagens no celular, enquanto isso eu fui até a pequena oficina de marcenaria que meu pai tinha construído na garagem dele, aquilo tinha se tornado seu novo hobbie após a aposentadoria.
— Está mesmo empenhado nesse projeto. — comentei ao analisar o carro em miniatura que ele estava esculpindo, parecia o modelo de um mustang.
— É para meu neto quando nascer. — explicou ele — Ainda tenho esperanças que irá nos dar uma boa notícia esse ano.
— Eu também tenho pai. — concordei cruzando meus braços e o observando manipular suas ferramentas com precisão.
Seu gesto me deu um pouco mais de esperança, em todos os momentos meu pai sempre foi a favor do meu relacionamento com , ao contrário da minha mãe que sempre a criticou. O que me deixava desconfortável e chateado, por sempre ter que brigar com ela em defesa da minha amada esposa, minha mãe não admitia suas palavras duras e nem se dava conta que além de ferir , ela também me feria.
Fiquei um tempo a mais observando meu pai até que ouvi uma breve discussão vinda da sala, que me fez ver o que estava acontecendo.
— Agora tudo é culpa minha? — estava um pouco alterada.
— Sim, tenho certeza que foi sua inveja que destruiu o noivado do meu . — retrucou minha mão.
— Omma?! Do que está falando? O que está acontecendo aqui.
— Seu irmão chega querendo explodir o mundo e a culpa de tudo sempre cai em cima de mim. — explicou se apoiando no sofá.
— . — eu me aproximei dela e segurando de leve — Você está bem?
— Agora ela se faz de vítima.
— Para mãe. — elevei ainda mais minha voz — Não vê que suas palavras consegue piorar tudo?
— Sua mãe sempre fez isso. — se apoiou em mim.
— Minhas palavras, foi você que se casou com alguém que não deveria. — ela cuspiu aquelas palavras amargas.
— Eu não acredito que esteja falando uma coisa assim. — retruquei tentando não ficar nervoso, precisava do meu equilíbrio para apoiá-la.
— Pare de descontar minha frustração da . — disse ao descer pela escada, com seu tom de frustração — Ao contrário da pessoa que eu pensei que me amava, a tem sido a melhor esposa que meu irmão conseguiria ter, melhor que todas as garotas que ele já conheceu.
— Até você contra mim agora? — minha mãe desviou o olhar para ele.
— Só estou dizendo a verdade. — disse ele pegando a chave do carro que estava na mesa do lado a escada — Pare de achar que Nalla era esse poço de santidade que você sempre descreveu.
A voz dele parecia bem mais fria e amarga, com aquelas palavras duras.
— , vamos embora, eu não estou me sentindo bem. — disse ela respirando fundo.
— Sim. — assentiu — Não temos nem mais clima para jantar aqui.
— Eu vou com vocês. — disse .
— Mas… — minha mãe olhou para ele.
— Acho que seja melhor vocês irem mesmo. — assentiu meu pai demonstrando tristeza.
Nós saímos para a rua, sem nenhum remorso de deixar nossa mãe na sala sem poder argumentar. Aquela discussão foi a gota d’água que faltava para me fazer aceitar a proposta de para morarmos em Londres, afinal já não estava sendo nada saudável para nosso casamento morar perto de minha mãe, e por mais que eu amasse a dona Lira, minha família agora era .
nos levou de carro para nossa casa, e o convidamos para passar a noite lá, assim não teria que voltar para a casa dos nossos pais, ou ficar sozinho em seu pequeno apartamento. Enquanto foi para o quarto trocar de roupa e descansar um pouco em nossa cama, pois estava sentindo um mal estar constante, eu fui para a cozinha preparar um rápido ramém para nosso jantar.
Curiosamente foi o melhor ramém que cozinhei. Eu levei uma moderada tigela no quarto para , então voltei para sala, precisava conversar com .
— Sei que o motivo de toda aquela discussão se chama Nalla, mas quero saber o que aconteceu com você de fato. — perguntei ao sentar com minha tigela no sofá em frente a ele.
— Ah… — ele deu um suspiro fraco mantendo seu olhar na tigela dele que estava em cima da mesa de centro — Eu a vi agora pela noite, estava com alguém, ela estava sorrindo, parecia feliz com ele.
— Lamento que vocês tenham terminado daquela forma. — disse num tom baixo — Vejo pelo seu olhar que ainda não superou.
— Como superar ser deixado no altar? — levantou seu olhar — Eu pensava que ela realmente me amava, mas hoje vejo o quão fácil é me enganar.
— Nem todas as pessoas são assim. — disse tentando confortá-lo — Talvez você só tenha dado sua confiança para a garota errada.
— Acho que nunca vou conseguir confiar em alguma novamente. — ele suspirou fraco — Mas deixando minha trágica vida amorosa de lado, estou feliz que pelo menos você teve sorte.
— A que preço. — retruquei — Estou cansado das palavras duras de nossa mãe.
— Me sinto culpado por ela insistir que a culpa de tudo é da . — comentou meio cabisbaixo.
— Não se sinta, nossa mãe sempre foi contra desde o início.
Ele sorriu de leve assentindo. Nós comemos nosso jantar improvisado e eu arrumei o sofá para que ele pudesse dormir, depois fui até o quarto e estava encolhida na cama, ela parecia estar chorando. Eu retirei o paletó do meu terno e me deitei ao seu lado, comecei a acariciar seus cabelos.
— Mais uma vez me perdoe por minha mãe. — sussurrei.
— Você não é responsável pelas palavras dela. — sussurrou de volta limpando algumas lágrimas.
— Mesmo assim, me sinto mal. — retruquei — Na maioria das vezes, isso te faz passar mal e…
— Eu estou grávida. — disse ela me interrompendo.
Fiquei em silêncio, estava um pouco em choque, mesmo sentindo meu coração acelerar.
— Você…
— Sim. — ela balançou a cabeça positivamente — Eu ainda não peguei o resultado, mas sinto que estou.
— Se você sente, tenho certeza que sim. — sorri de leve — Eu pensei sobre irmos para Londres.
— E vamos? — ela me olhou.
— Sim. — assenti — Não quero que nosso bebê e nem você se machuque com as palavras ruins da minha mãe.
— Eu te amo. — sussurrou ela.
— Saranghaeyo! — eu a beijei com ternura.
Aquela decisão era a melhor para manter minha família segura e feliz, ainda mais por imaginar que tinha alguém tão importante crescendo dentro de .
“É tão difícil, fingir que está tudo bem.
[...]
Você sabe,eu não posso continuar se não for com você.”
- Rumor / K.A.R.D
3. Not Today
Dias depois...
:
Estava achando um pouco estranha naqueles dias, nem falar comigo direito estava, e ainda a pegava choramingando pelos cantos do apartamento, o que me deixava ainda mais preocupado. Irritante que ela sempre dizia que estava bem, mas eu sabia que algo acontecia, o que perdurou até à tarde que ela chegou da InH.
— Não vai mesmo me dizer o que está acontecendo com você? — perguntei ao entrar em seu quarto.
— Não sabe bater?! — retrucou ela colocando sua blusa de moletom.
— Não. — a olhei sério — E pare de me tratar assim, parece até que não nos conhecemos.
— Eu achei que te conhecia, até você me esconder um noivado de três meses. — disse ela alterando sua voz.
— Me desculpa, só não achei importante contar. — expliquei com naturalidade.
— Não era importante? Olha suas palavras , somos melhores amigos e você começa a namorar uma estranha, pede ela em casamento e não me diz. — sua voz tinha traços de mágoa, ela começou a lacrimejar — Você nem se importou com o que eu iria achar disso ou sei lá, com meus sentimentos.
— Você é minha melhor amiga, eu pensei que ficaria feliz por mim.
— Mas eu não estou, eu gosto de você.
— Por isso mesmo, por gostar de mim, era pra estar feliz. — eu não conseguia entender toda aquela sua revolta comigo.
— Seu idiota. — ela gritou — Não consegue entender?!
— Entender o que?
— Que eu estou apaixonada por você. — sua voz falhou um pouco.
— . — sussurrei meio estático.
Acho que meu cérebro estava paralisando naquele momento, eu nunca tinha pensado nela como algo além de minha melhor amiga, e depois de tantos anos eu já a via como uma irmã mais nova.
— Sai daqui. — disse ela num tom mais baixo.
Tomei impulso para abraçá-la, mas hesitei. Talvez ela não quisesse que eu a consolá-se.
— Me desculpe. — sussurrei — Nunca havia imaginado que você pudesse sentir isso por mim.
— Já disse para sair daqui, quero ficar sozinha.
Queria conversar com ela, mas respeitaria sua decisão. Saí do seu quarto fechando a porta e peguei as chaves do apartamento, acho que até minha presença ali seria desconfortável para . Assim que cheguei na universidade, me aconcheguei em um puff que estava solitário no canto da biblioteca, fechei os olhos e fiquei meditando sobre minha melhor amiga.
— Um beijo por seus pensamentos. — disse Jessie ao se jogar em cima de mim.
— O que faz aqui? Não deveria estar na aula de mecânica? — perguntei abrindo meus olhos.
— Eu até estava mesmo vendo aquela aula chata, mas vi você pela janela do prédio três, entrando na biblioteca. — respondeu ela — Fiquei curiosa para saber o que estava fazendo na universidade hoje, disse que não viria.
— Eu tive um pequeno conflito com . — respondi.
— Sério? Nossa, ela me pareceu ser uma garota tão calma. — Jessie deu uma risada rápida.
— Ela é calma. — afirmei.
— Mas o que aconteceu?!
— Ela me disse algo que jamais imaginaria dizer. — respirei fundo — Que estava apaixonada por mim.
— Sério?! — Jessie parecia ainda mais admirada do que eu — Nossa, nem sei o que dizer, você disse que ela era como sua irmã mais nova.
— Acontece que eu a vejo assim, já ela não. — suspirei fraco — O pior é que não sei o que fazer para ajudá-la, queria que ela se sentisse melhor.
— Hum… — Jessie sibilou um pouco — Vocês não tem uma amiga em comum? A ? Talvez ela pudesse ajudar.
— Sim. — assenti — Vou ligar para ela.
Me remexi um pouco e retirei o celular do bolso da calça, fiz uma breve ligação para e inicialmente expliquei sobre o ocorrido e pedi para que ela me ajudasse com aquele mal entendido. assentiu prontamente, e para minha surpresa ela confessou que já sabia sobre aquilo.
— Então? — perguntou Jessie.
— Ela concordou em ajudar. — sorri de canto.
— Hum… — ela se espreguiçou um pouco — Vou voltar para a sala e pegar minha mochila, meus pais te convidaram para o jantar.
— Hoje? — a olhei.
— Sim, é aniversário do meu pai e minha irmã também veio para comemorar.
— Tudo bem então, já que é uma comemoração.
Eu não gostava muito de ir aos jantares na casa dos pais dela, me senti meio desconfortável, para ser honesto. Não por eles serem chatas ou algo do tipo, pelo contrário, os pais de Jessie eram muito educados comigo, porém eles eram muito antiquados em relação a tecnologia, o que me fazia me sentir deslocado na casa deles.
Continuei esperando Jessie na biblioteca, até que ela acenou para mim da porta me chamando. Fomos para a casa dos seus pais, sua irmã Nalla havia chegado antes de nós, o que para mim era surpreendente, além de estar acompanhada. Aquilo me fez pensar na história que Jessie tinha contado, sobre Nalla deixar o ex-noivo no altar, não era um assunto muito agradável para a família, porém era difícil não pensar nele.
— Boa noite. — cumprimentei todos ao entrar.
— Olá . — a senhora Margareth veio me abraçar — Que bom que veio.
— Eu que agradeço pelo convite. — sorri de leve tentando não olhar muito para o homem que acompanhava Nalla.
Ele estava segurando na mão de uma criança, que pelo óbvio deveria ser filha dele, já que se pareciam muito. O que me fez pensar se ele era o novo namorada de Nalla, Jessie tinha comentado brevemente sobre a irmã estar gostando de um amigo de trabalho do hospital, pelo jeito acho que aquele homem era o tal amigo.
— Olá Nalla. — disse desviando meu olhar para ela.
— Boa noite, . — ela olhou para o lado — Este é , um amigo do hospital e essa fofura é sua filha Jullie.
— Oi . — Jullie se aproximou de mim e esticou a mão — Eu conheço você.
— Me conhece? — fiquei um pouco surpreso.
— Sim, você é amigo da minha professora, eu te vi na InH um dia. — explicou ela.
— Ah, você é aluna da ?! — que mundo pequeno.
— Sim. — assentiu ela.
— Sua filha é muito comunicativa . — comentou a senhora Margareth rindo.
— Sim, ela é muito sociável. — assentiu ele — Diferente de mim.
— Isso eu tenho que concordar. — Nalla riu.
— Onde está o papai? — perguntou Jessie.
— Ele está no sótão procurando um disco de vinil que prometeu emprestar para o dono da farmácia. — explicou a senhora Margareth.
— Vai demorar lá então. — brincou Nalla nos fazendo rir.
Estar ali com eles me fez perceber que a vida era um pouco imprevisível, e que aquele país era cheio de encontros de desencontros. Após o jantar, me despedi de Jessie e voltei para o apartamento, ainda estava lá conversando com no quarto dela, eu entrei batendo na porta e fiquei parado de braços cruzados.
Mesmo que minha melhor amiga estivesse magoada comigo, eu queria que ela soubesse que eu estaria mesmo ao seu lado, mesmo que não fosse da forma que ela queria.
“Acredite em mim, que estou ao seu lado,
[...]
Eu acredito em você, que está do meu lado,
[...]
Acredite quando digo que estamos juntos nessa.”
- Not Today / BangTan Boys (BTS)
:
Eu saí do quarto de , para que ela pudesse conversar com com mais calma, seria bom para ambos esclarecerem tudo agora que ela estava mais calma. Era triste ver que minha amiga estava passando por uma desilusão amoroso, não desejava isso nem para minha pior inimiga, ou seja, minha sogra.
Peguei minha bolsa e saí do apartamento deles, já tinha enviado uma mensagem a para me esperar no novo escritório da sua empresa. Estava feliz por morar em Londres agora, principalmente porque estaria perto da minha melhor amiga e não precisaria fazer viagens de metrô uma vez por semana para vê-la, poderíamos ter nossas conversas todos os dias agora.
— Oi querida. — disse ele me dando um selinho após minha chegada.
— Demorei? — perguntei.
— Não. — ele sorriu — Vamos jantar? Hoje você escolhe.
— Hum, ando com uma vontade louca de comer comida mexicana, mas sem pimenta.
— Acho que podemos encontrar um restaurante legal. — concordou ele segurando em minha mão.
Admito que nossos dias após vir para Londres estavam mais leves, o que significava que o problema era mesmo minha sogra que sempre desejava o mal para nosso casamento. E agora com a confirmação de minha gravidez, é que ficaríamos mais distantes dela, tanto que nem contamos sobre, apenas seu pai e irmão sabiam.
Outra novidade foi se mudar para Londres também, segundo ele o ar de Oxford estava ficando a cada dia insustentável, principalmente por esbarrar com frequência com Nalla e seu amigo do hospital. Mesmo ele não falando nada na minha presença, eu acidentalmente conseguia ouvir suas conversas com na sala.
Ah, eu estava tão feliz com minha rotina diária e todas as boas notícias em minha vida, que queria que todos em minha volta fossem felizes também, principalmente e . Hum… O que me deixou muito pensativa quanto ao que eu poderia fazer por eles, já que ambos estavam com uma grande e forte desilusão amorosa.
Seria pedir demais se meu desejo antigo se realizasse? Sim, no passado eu tinha cogitado a ideia de apresentar ao , porém ele estava cego pela garota da universidade que tinha acabado de conhecer, ou seja Nalla tinha acidentalmente atrapalhado meus planos. Entretanto eu poderia retomar aquela idéia e fazer se tornar real.
Dias depois eu convidei para almoçar comigo no intervalo de suas aulas na InH, mesmo relutante, pois estava dedicando seu tempo ao máximo com o recital da escola, ela aceitou.
— O que? — disse ela ao se sentar na cadeira que estava ao lado da vidraça principal — Você quer que eu apareça em um encontro às cegas com o irmão do seu marido? Sabendo a sogra que possivelmente terei se der certo?
— Por favor, você é a única pessoa solitária o suficiente que pensei para completar ele. — expliquei de forma natural.
— Amiga querida, eu já tenho problemas sentimentais o suficiente para aguentar os de outra pessoa. — retrucou ela.
— Seja um pouco mais empática com as pessoas. — reclamei de leve — Pelo menos você não foi abandonada no altar.
— Não consigo ver um lado bom na minha vida. — ela desviou seu olhar para a rua.
— . — insisti.
— Não me olha assim, eu não quero ter uma sogra como a sua, ou melhor não quero ter a sua sogra como sogra. — ela me olhou séria.
— Ah, eu sempre pensei em te apresentar a ele, mas existia a tal Nalla que nunca fui com a cara.
— Não.
— Juseyo, eu preciso de uma aliada contra minha sogra, quero que ela pague ainda mais a língua. — riu baixo a fazendo rir junto.
— Tudo bem, só um encontro, e se eu não gostar dele, nunca mais insista... ok? — seu olhar estava mais sério.
— Prometo que se você não gostar dele, eu desisto. — concordei.
— Pelo meu sobrinho afilhado? — ela esticou a mão.
— Sim. — assenti apertando a mão dela.
Nós rimos muito daquele trato. Eu estava certa de que iria funcionar, na atual situação em que minha amiga se encontrava, sua vida amorosa se encaixava direitinho na do meu cunhado. Após nosso almoço, ela ligou para a escola pedindo dispensa do turno da tarde, já que tinha se oferecido a me acompanhar no médico.
Ao chegarmos no laboratório, ela entrou comigo na sala de ultrassonografia e ficou sentada ao meu lado. Felizmente estava tudo correndo super bem com minha gestação de doze semanas, e a madrinha do meu baby estava mais do que entusiasmada com meu exame. Ouvi o coração daquele pequeno ser dentro de mim me dava ainda mais forças e motivação.
— Ah, estou super feliz por meu afilhado estar bem. — disse ela ao sairmos da clínica.
— E como sabe que é um menino? — eu a olhei.
— Intuição de madrinha. — ela sorriu de leve — Já está pensando em preparar o enxoval desta vez?
— Confesso que todas as vezes que fiquei grávida, tive medo de comprar as coisas e acabar me frustrando ainda mais com a perda. — respirei fundo — Mas desta vez, estou tão esperançosa que pensei em sair às compras essa semana.
— Uau, isso é bom.
— Terei a companhia da madrinha?
— Claro que sim. — ela virou um pouco — Vou adorar comprar as coisas para ele, meu afilhado será muito mimado por mim.
— Hum, cuidado para não deixar ele mimado em excesso, meu filho ainda tem que ser uma pessoa comportada e humilde. — eu ri.
— Claro que vou, serei uma madrinha consciente.
Eu e seguimos juntas até a metade do caminho, então eu fui para a casa, ela ainda tinha que voltar a escola para buscar suas coisas. Assim que cheguei, tomei um banho quente e liguei a tv, senti um breve cansaço no corpo e dores nas costas, minha barriga nem tinha crescido e eu já estava sentindo o peso.
Me espreguicei sentada no sofá quando o telefone tocou. Assim que atendi, senti um mal estar, era a mãe de me xingando por esconder minha gravidez dela, me apoiei na parede sentindo uma leve tontura. Meu corpo gelou um pouco com as palavras que ela cuspia do outro lado da ligação, eu a xinguei e desliguei o telefone.
Olhei para minhas mãos que estava tremendo e tentei me acalmar, mas logo senti uma pontada forte em minha barriga. Foi nesta hora que chegou, ele segurou em meu braço já preocupado comigo, o olhei um pouco preocupada com nosso bebê.
— Calma querida, nós vamos para o médico.
— Eu não vou perder ele. — sussurrei sentindo as lágrimas rolarem em minha face — Não quero perdê-lo, .
— Você não vai querida, não se preocupe. — ele me pegou no colo e me levou até o carro.
Estava sendo difícil para mim segurar as lágrimas, mantive minhas mãos na barriga, pedindo constantemente a Deus para proteger nosso bebê. Se eu perdesse outra vez, não conseguiria aguentar a dor novamente, aquela era a minha sétima gravidez.
“Todos os perdedores no mundo,
Haverá um dia em que perderemos,
Mas não é hoje,
Hoje, nós lutamos!”
- Not Today / BangTan Boys (BTS)
:
Eu havia acabado de chegar na recepção do hospital, tinha me ligado em desespero por causa de , e novamente a culpa era da nossa mãe. Meu irmão pode permanecer dentro da sala de espera dos acompanhantes, enquanto eu tinha ficado na recepção esperando por ele.
— Eu procuro por ou . — uma garota se aproximou da recepcionista perguntando por esse nome — Por favor.
— é meu irmão. — disse ao me aproximar dela.
— , como ela está? — a garota parecia tão aflita quanto eu — E o bebê?
— Ainda não sabemos. — respondi.
Seu rosto era familiar, talvez ela fosse a amiga que sempre falava e tinha convidado para meu quase casamento. A amiga que ela queria me apresentar, na época em que conheci Nalla, irônico como é a vida, a garota estava ali na minha frente em um momento que não queríamos vivenciar novamente.
— Pense que vai ficar tudo bem. — disse a ela.
— É o que estou pensando. — assentiu se sentando na cadeira.
— Eu sou . — me apresentei formalmente.
— . — ela se encolheu um pouco, parecia com frio, ela estava somente com uma camiseta.
Retirei meu casaco e coloquei sobre suas costas.
— Obrigada. — ela me olhou meio surpresa — Saí tão rápido do meu trabalho que nem lembrei de pegar outra blusa.
— Sem problema. — permaneci de pé.
Demorou um pouco até que saiu da sala dos acompanhantes, estava no celular atendendo uma ligação de um outro amigo de . Felizmente meu irmão não parecia preocupado, o que era esperançoso para mim.
— E então?! — perguntei ao me aproximar dele.
— Felizmente está tudo bem com ela e o nosso bebê, teve um leve sangramento por causa do estresse, mas nada que tenha afetado sua gestação. — explicou ele.
— Ai que bom. — disse ao se aproximar mais, parecia ter ouvido a explicação — Podemos ficar mais aliviados.
— Sim. — assentiu ele — Ela vai precisar ficar aqui por mais alguns dias, em observação, mas o médico garantiu que os dois estão fora de risco.
— Se precisar de alguma coisa por favor nos diga como ajudar. — disse a ele.
— Claro, sei que posso contar com você. — ele olhou para — Você ligou para ?
— Sim, ele disse que passaria aqui depois para ver como ela está. — respondeu ela — Você conseguiu fazer o cadastro dela na recepção?
— Só preenchi o básico, mas depois termino. — ele respirou fundo — Só vou precisar que traga algumas roupas da .
— Ah, sim, eu busco no apartamento de você.
— Te dou uma carona se quiser. — me ofereci.
— Aceito de bom grado. — ela sorriu de leve.
— Eu vou entrar, não pode ficar muito tempo sozinha, quando voltarem me mandem uma mensagem. — se afastou um pouco de nós.
— Claro. — assentimos juntos.
Eu acompanhei até meu carro, e juntos seguimos para o apartamento deles. Ela passou todo o tempo em silêncio, olhando do retrovisor seu olhar ainda era de preocupação, lá no fundo eu sentia o mesmo, tinha sofrido tantos abortos antes que me cortava o coração só de imaginar as dores que ela suportou.
— Me desculpe desabafar, mas sua mãe é um monstro. — disse ao ao sairmos do carro.
— Eu não te recrimino. — disse num tom baixo — Acho que já desisti dela.
— Não deveria, mas lamento por isso. — ela respirou fundo — Sua mãe meio que passou dos limites.
— De todos os limites. — concordei.
juntou algumas peças de roupa e colocou em uma pequena mala, assim que retornamos ao hospital veio ao nosso encontro, infelizmente não poderíamos ver , pois ela estava medicada e sedada. Porém novamente sob a presença do médico, a afirmação de que estava tudo bem com ela e o bebê era real.
Eu convidei para beber comigo, depois daquele susto precisávamos comemorar o bem estar de e o bebê, ela aceitou e fomos até um restaurante de comida coreana de uma amigo, nossa comemoração seria com Soju. Assim que chegamos, escolhi uma mesa aos fundo para sentarmos.
— Obrigada. — disse ao garçom, após ele anotar nossos pedidos.
— Então você está morando agora em Londres? — perguntou ela.
— Sim, me convenceu a mudar com ele e , acabei gostando da ideia. — respondi tranquilamente.
— Hum. — ela desviou o olhar para o lado — me disse que é advogado, me parece uma profissão cheia de formalidades.
— Ah, sim, principalmente quando estamos no tribunal. — eu ri um pouco — Mas nos tempos de calouro na universidade, não existe formalidades.
— E que curso tem formalidade? — ela riu — A escola de artes era pura liberdade, com moderação é claro.
— Se formou em artes? — perguntei curioso.
— Arte e dança, com ênfase em dança contemporânea e ballet moderno. — expliquei de forma detalhada.
— Uau. — a olhei surpreso — Admiro as pessoas da área criativa de humanas, eu mal consigo decorar leis e legislação.
— Hum, já eu admiro pessoas do direito, jamais teria bons argumentos para enfrentar jurados e uma promotoria faminta por justiça. — ela riu de forma descontraída.
— Bem, acho que cada profissão tem seu valor. — conclui de forma geral.
— Sábias palavras. — concordou ela.
Eu ri baixo. Nós tomamos algumas garrafas de Sujo ao longo de nossa conversa, o mais louco é que nem senti a hora passar estando ali na companhia ela.
— Que louco a vida. — ela riu — Hoje no almoço me convenceu a ter um encontro às cegas com você, e olha onde estou agora.
— Sério? — eu ri junto — também me convenceu a ter um encontro com você hoje no almoço.
Nós rimos ainda mais entre mais alguns goles.
— Me parece que eles estão querendo ser nossos cupidos. — comentou ela.
— Como se precisássemos. — olhei para a garrafa vazia em minha frente — Meu irmão disse que não me deixaria ficar sozinho e depressivo, já que eu fui abandonado no altar.
— me disse a mesma coisa, não que eu tenha sido deixada no altar. — ela segurou o riso — Mas, eu mantive uma paixão platônica pelo meu melhor amigo até descobrir que ele tinha uma noiva.
— Bem, não é pior que minha realidade amorosa, mas tão ruim quanto. — conclui sentindo o álcool começar a fazer efeito em mim e nela também.
— Verdade e sabe o que é mais irônico ainda? — ela riu — Meu melhor amigo vai casar com a irmã da sua ex.
— O que? — por essa eu não esperava.
— É louco, mas é real. — confirmou ela.
Concordei com a cabeça, era sim muito louco.
— Até que você é uma pessoa legal. — elogiou ela, talvez não estivesse tão sóbria quanto deveria — E não estou falando isso por que acabei de beber meia garrafa de Soju.
— Sua voz está começando a ficar estranha, o que me faz suspeitar de sua sanidade mental. — brinquei olhando para sua garrafa.
— Desculpa, eu tenho baixa imunidade ao álcool, não sou como você e que toma cinco garrafas e ainda conseguem andar em linha reta. — ela riu — Eu não consigo fazer linha reta nem com a régua.
— Deu para perceber isso. — eu ri junto — Acho melhor te levar para a casa, onde mora?
— No apartamento do meu amigo que era meu amor platônico, olha que maravilha. — ela me olhou com os olhos semicerrados.
— Isso quer dizer que não quer ir para lá? — sugeri.
Ela assentiu com a face. Respirei fundo pensando para onde levaria aquela garota fora do seu estado normal.
— Tudo bem. — eu retirei o dinheiro da carteira e deixei em cima da mesa, juntamente com a gorjeta do garçom.
Então me levantei e a ajudei a se levantar, ficou apoiada em mim por todo o caminho, felizmente o restaurante era perto do prédio onde tinha começado a morar. Assim que chegamos na recepção, eu tive outra daquelas surpresas que a vida sempre reserva para os desafortunados. O que Nalla estava fazendo naquele prédio?
— Nalla? — disse meio sem reação, desviei meu olhar para o homem que estava ao meu lado, o reconhecia de algum lugar.
— Boa noite . — ela parecia um pouco sem graça em me ver.
— Dr. Lee. — que estava se apoiando em mim deu um largo sorriso — O que faz aqui?
— Oi . — o homem a cumprimentou — Bem, o apartamento da minha irmã Emma é aqui neste edifício.
— Uau, que mundo pequeno. — riu — O meu também, ou melhor o dele.
— Hum. — Nalla murmurou algo.
— , quero que conheça o dr. Lee, ele é pai da minha melhor aluna de dança, a Jullie.
— Por favor, me chame somente de , não estamos no hospital. — disse o homem, parecia ser educado a primeira vista.
— Prazer. — o cumprimentei permanecendo sério.
— E quem é essa? — a olhou — Ah, não! É a garota que te deixou no altar?!
— Nalla?! — a olhou meio confuso.
Nalla se encolheu um pouco, parecia ainda mais envergonhada, talvez não tivesse contado ao dr. Lee o que tinha feito comigo no ano passado.
— Me desculpem o constrangimento, ela abusou um pouco no álcool. — eu peguei no colo, suas pernas já estavam dando sinal de fraqueza.
— Percebe-se. — assentiu ele — Bem, faça ela tomar uma ducha fria para estimular os músculos do corpo e lhe dê um café forte e bem quente depois, ajuda a amenizar o estrago.
— Obrigado dr., ou melhor .
— Não precisa agradecer, é meu dever como médico, além do mais a é uma ótima professora, minha filha ama muito ela, foi um prazer ajudar. — ele sorriu com gentileza.
Eu me afastei dele e segui em direção ao elevador, já tinha desmaiado em meus braços. Assim que cheguei no meu apartamento, a fiz recobrar os sentido e a guiei até o banheiro, complicado foi deixá-la sozinha por mais de dois minutos, seu corpo não estava conseguindo se manter de pé sozinho por muito tempo.
Isso me fez fechar os olhos de leve e ajudá-la com a ducha fria, aquele estava me saindo um ótimo primeiro encontro. Quando finalmente ela estava seca e usando algumas roupas quentes minhas, preparei um chá preto, era a única coisa que tinha encontrado em meu armário. Talvez pudesse ajudar de alguma forma, já que café só poderia comprar na manhã seguinte.
Assim que terminou de tomar o chá, que por sinal tinha ficado forte mesmo, ela tombou o corpo para o lado e apagou no sofá. Pensei algumas vezes em não me preocupar com ela, não queria mesmo me apegar ou coisa do tipo, porém nunca faço o que minha cabeça manda, então a levei para meu quarto e a deixei dormir em minha cama.
Peguei um lençol e voltei para a sala, o sofá seria minha companhia da vez.
— ? — acordei com uma voz ao longe — ?!
— O que?! — abri os olhos e estava ajoelhada na minha frente — Já está acordada?
— Sim. — assentiu ela — E com uma dor de cabeça horrível.
— Se quiser posso comprar alguns comprimidos para você. — ergui meu corpo ficando sentado.
— Oh não. — ela se sentou ao meu lado — Você já fez muito por mim.
Ela respirou fundo fechando os olhos.
— Meus pensamentos estão confusos, sinto que fiz algo errado ontem.
— Bem. — tentei segurar o riso, mas não deu certo.
— Eu fiz algo errado? — ela me olhou.
— Mais ou menos.
Contei a ela tudo que tinha acontecido conosco desde que saímos do restaurante, até a parte em que tive que trocar sua roupa.
— Ai não, não acredito que fiz isso. — parecia estar chateada consigo mesma — Me desculpa, te fiz passar o maior constrangimento da vida.
— Oh não, acredite, não foi pior do que ser deixado no altar. — admiti.
— Tem razão, mas mesmo assim. — ela suspirou — Estou me sentindo mal, ainda mais por ter te feito cuidar de mim, olha que belo encontro que seu irmão estava te arrumando.
— De certa forma, eu me diverti bastante com você, com todo respeito é claro. — admiti da melhor forma possível — Foi a melhor noite, de toda a minha vida.
— Sério?! — eu olhar era de surpresa.
— Sim.
— Me sinto bem mais aliviada agora. — ela sorriu.
Eu não tinha falado mais do que a verdade. tinha algo que me passava leveza, me fazia querer ficar sempre conversando com ela, o que me deixou ainda mais impressionado por tê-la conhecido somente naquele momento da minha vida. Eu estava tão cego antes, que não conseguiria enxergar ela, mesmo se a conhecesse há anos atrás.
“Se você não pode voar, então corra,
Hoje nós sobreviveremos,
Se você não pode correr, então ande,
Hoje nós sobreviveremos,
Se você não pode andar, então rasteje,
Mesmo se você tiver que rastejar, dê um jeito (dê um jeito),
Preparar, apontar, fogo!”
- Not Today / BangTan Boys (BTS)
4. On My Mind
Nalla:
Foi constrangedor o que a professora da Jullie havia dito sobre mim, apesar de ver verdadeiro, eu não queria que soubesse daquela forma. Eu não tinha tido a coragem de me declarar para ele ainda, menos ainda de revelar que esse era o motivo de eu não ter me casado, era complicado prever como ele reagiria.
Os dias foram se passando e curiosamente não tinha nem mencionado sobre o assunto, mesmo ainda demonstrado estar curioso sobre isso. Ele sempre agia com naturalidade e continuava sendo gentil e simpático comigo, o que me deixava ainda mais encantada por ele. Emma tinha me visitado no final da tarde, segundo ela, precisava de uma amiga para desabafar, nos encontramos na cafeteria do hospital, aproveitando meu horários de descanso.
— Ah, estou me sentindo tão na fossa. — disse ela ao se sentar.
— O que houve Emma? — perguntei me sentando na cadeira de frente para ela.
— Ah, pensei tanto que agora conseguiria engatar um relacionamento sério com um cara que conheci naquele site de relacionamento, mas novamente saí frustrada. — ela deu um suspiro fraco.
— Você precisa tomar cuidado. — a alertei — Às vezes os homens se aproveitam desses sites para somente ter uma noite de prazer e nada mais.
— Ahhhh. — ela segurou o choro — O pior é que está sendo isso mesmo, já é minha oitava tentativa, todas decepcionantes.
— Você não acha que é melhor parar? Pode ser perigoso para você, vai que um dia você marca um encontro com alguém e a pessoa é um assassino. — argumentei.
— Ai, vira essa boca pra lá. — ela me olhou assustada — Eu só estou tentando encontrar um namorado pra minha vida.
Eu ri um pouco dela, ficamos mais algum tempo ali conversando e tomando um café, até que apareceu acompanhado do enfermeiro Chang. Não consegui deixar de notar os olhares de Chang para Emma, ele já havia comentado comigo que a achava muito bonita e sexy, o significava que eu poderia ajudar o destino a fazer rolar algo entre os dois.
Mesmo não conseguindo definir minha própria vida amorosa, meus conselhos para ela eram até bons. Eu e deixamos Emma e Chang na cafeteria e voltamos ao trabalho, ele acompanharia uma cirurgia cardiovascular, já eu voltaria a checar a pressão dos pacientes internados.
Para minha surpresa aquela semana não estava sendo preciso os funcionários fazerem plantão, o que era uma boa notícia, já que na sexta teria o recital de ballet de Jullie e eu estava animada para ver. Tanto que até o bouquet de lírios, já tinha sido encomendado na floricultura da mãe da enfermeira Joy, curiosamente era a flor preferida de Jullie.
Assim que terminei minha carga horária, deixei meus instrumentos de trabalho no armário e peguei minha bolsa. Me espreguicei um pouco caminhando pelo corredor, até que avistei com algumas pastas na mão, claramente significava que ele iria passar a noite analisando o quadro de alguns pacientes da UTI.
— Quer uma ajuda? — me ofereci ao aproximar dele — Parece que terá muito trabalho pela frente.
— Ah. — ele sorriu de canto — Acredito que sim, ainda não consigo dizer não ao dr. Smith, então vou revisar alguns casos.
— Minha proposta está de pé, se quiser. — sorri de volta — Não tenho nenhum programa para esta noite mesmo.
— Sério? Por que da última vez que se ofereceu em me ajudar, Emma te arrastou para o encontro dela.
— Verdade. — eu ri — Mas acho que Emma terá mais cautela agora, já foram oito tentativas frustradas.
— Só acho que ela precisa ser um pouco mais reservada. — ele se virou em direção a saída — Não acho certo ela levar uma pessoa que mal conhece para seu apartamento.
— Complicado. — disse o acompanhando.
— Não que eu seja antiquado, ou queira controlar a sua vida, mas penso na segurança dela. — explicou ele num tom chateado.
— Vamos pensar positivo, o problema da Emma é não dar chance a pessoa certa.
— Está falando do Chang? — perguntou ele dando uma risada baixa.
— Até você reparou? — eu o olhei.
— Sim, já tem tempo.
— Eu vou conversar com ela, vai que rola uma chance.
— Hum, acho que nem vai precisar, Chang me disse que chamou ela para sair. — comentou ele — E já sabe que se fazer minha irmã de trouxa vai se ver comigo.
— Irmão protetor. — brinquei.
— Se tratando da Emma, tenho que ser.
Seguimos juntos até a casa de Emma, estava passando alguns dias lá por causa de um vazamento em sua casa, o que era bom para Jullie que teria mais tempo em companhia da sua tia. Emma estava preparando o jantar quando chegamos, desta vez teríamos um delicioso spaguetti ao molho branco, Jullie estava na sala vendo desenho na tv, parecia ter terminado de fazer a lição de casa.
— Olá minha bailarina preferida. — disse ao me sentar ao lado dela — O que está vendo?
— A princesa e o sapo. — respondeu ela permanecendo com sua atenção na televisão.
— hum, é um dorama muito bom.
Fiquei olhando para a televisão por um tempo, até que me levantei e fui até o quarto de hóspedes, onde já estava concentrado nas pastas com os exames dos pacientes. Eu me sentei na cadeira ao seu lado e peguei uma delas, sua atenção no relatório médico de um dos clínicos residentes estava muito alta, tanto que nem percebeu minha chegada.
— Uau, queria ter toda essa concentração. — comentei rindo de leve.
— Ah. — ele olhou para o lado — Você está aqui, eu não percebi você entrando.
— Você se concentra muito. — comentei.
— Sim, não consigo de distrair com facilidade. — explicou ele fechando a pasta — Mas, acho que estou um pouco cansado, minhas vistas estão embaralhando agora.
— Provavelmente, já que você não demorou em suas pausas para o descanso e tem atendido quase todos os pacientes.
— Desta vez serei obrigado a te dar razão. — disse ele se levantando.
— Você sempre me dá razão. — me levantei também.
— Curiosamente, você está sempre certa. — ele riu ao sair pela porta.
Obviamente eu fiquei para o jantar, ajudei Emma a lavar a louça suja, não quis demorar por que tinha que passar na casa dos meus pais antes de voltar para Oxford, mesmo que o tempo no trem fosse de uma hora ou menos. me acompanhou até o elevador, assim que cheguei no hall do prédio dei de cara com , seu irmão estava com ele.
Após sair do prédio, percebi que tinha deixado meu celular no sofá, algo raro de acontecer era eu me separar daquele aparelho. Quando me virei para voltar, já estava saindo do prédio com o celular na mão, soltei um suspiro de alívio.
— Você esqueceu. — disse ele sorrindo.
— Obrigada. — peguei o celular e joguei dentro da bolsa — Me acompanha? Já que está aqui.
— Claro. — assentiu.
Caminhamos um pouco até para em frente a vidraça de uma cafeteria 24 horas, eu o convidei para tomar uma xícara de café comigo, estava tomando coragem para falar o que deveria a muito tempo.
— Você parece apreensiva. — disse ele.
— Bem, tem alguma coisas que estou tomando coragem para dizer a você.
— A mim? — seu olhar estava confuso.
— Sim.
Eu comecei a contar sobre os sentimentos que eu sentia por ele, desde que o tinha visto pela primeira vez, na minha segunda semana de estágio, no hospital, acrescentando que ele tinha sido um dos motivos para não ter me casado com . Sua face estava um pouco estática e seu olhar confuso, de certo não imaginava tudo aquilo que eu estava contando.
— Nalla. — pronunciou ele — Me desculpe.
— O que?! — não entendi — Por que? Você não fez nada.
— Por não ter percebido isso desde o início, por ter deixado você criar esperanças, me perdoe. — ele respirou fundo — Eu… Não posso aceitar seus sentimentos por mim, menos ainda retribuir.
— Por que não? — tentei não ficar alterada — O que tem de errado comigo.
— Nada, você uma pessoa fantástica, é lindo, aplicada, inteligente, gentil, mas…
— Mas?!
— Eu sou casado, apesar de não falar muito sobre isso. — explicou ele.
— Mas você nunca usou uma aliança?!
Ele abriu o primeiro botão da camisa e mostrou a correntinha que estava em seu pescoço com duas alianças, uma era dele e a outra provavelmente da sua esposa.
— Mas, se é casado, onde sua esposa está?
— É complicado para mim falar sobre isso. — ele desviou seu olhar para o lado, parecia estar segurando suas emoções — Até mesmo Emma e Jullie não tocam no assunto.
Permaneci em silêncio, não queria acreditar no que ele estava me falando.
— Eu não queria ter te causado isso, mais uma vez me perdoe por tudo. — ele retirou a carteira do bolso e pegando algumas notas — Deixe que eu pago o café.
colocou as notas em cima da mesa e saiu em silêncio. Aquilo tira paralisado minha mente e meus sentidos.
“Eu sempre escuto, escuto eles falarem,
Falarem sobre uma garota, uma garota com meu nome,
Dizendo que eu te machuquei mas ainda não entendo.
[...]
Espere, eu poderia ter gostado de você.”
- On My Mind / Ellie Goulding
:
Assim que esbarramos em Nalla, a cumprimentou com a face e seguiu tranquilamente, eu nem isso conseguia fazer. Sempre que olhava para ela, me lembrava de como minha mãe a colocava em um pedestal e crucificava , o que me deixava com mais raiva ainda. Me desviei dela sem remorso e segui .
Quando chegamos em seu apartamento, ele me ofereceu uma garrafa de Sujo que prontamente aceitei, precisava relaxar depois de um dia estressante.
— Se você foi para a empresa hoje, quem ficou com a no hospital? — perguntou ele jogando seu corpo sobre o sofá.
— A foi na hora do almoço, já que receberia alta à tarde, elas me expulsaram de lá. — eu ri um pouco — me disse que eu tinha que garantir o patrimônio do nosso filho.
— Não queria admitir, mas ele está certa. — ele riu também.
— Para ser sincero, estou tão feliz por tudo ter ficado bem, que nem me importo com o trabalho, só queria ficar lá com ela. — tomei um gole do soju.
— Já estou vendo que você será um pai coruja.
— Não duvide. — ri novamente — Serei mesmo, estamos a tanto tempo esperando por isso, passamos por tanto sofrimento, quando ele nascer será alegria dobrada.
— Vocês estão mesmo convictos de que será um menino?
— Sim. — assenti — disse que está muito intuitiva com relação ao sexo do bebê.
— Ah, essa garota. — ele suspirou forte.
— O que tem?! — fiquei curioso.
— Ela é meio louca, principalmente quando bebe. — ele riu — Mas, estou feliz por ter conhecido ela.
— Vocês estão mais próximos? — perguntei.
— Um pouco, conversamos muito por mensagens e estamos nos encontrando para o café da manhã, com frequência.
— Ah, quer dizer que está rolando uma química aí.
— Está rolando todas as matérias, química, física, biologia. — ele riu do seu próprio comentário — Ela é sensacional, só não me deixou beijá-la ainda.
— Por que?! — fiquei curioso.
— Segundo ela, ainda não nos conhecemos o suficiente. — explicou — E isso me deixa ainda com mais vontade de descobrir o sabor dos seus lábios.
— Eu disse que você iria gostar dela. — o lembrei.
— Só fico chateado por não tê-la conhecido antes.
— Ah, isso é passado, você já está tendo uma segunda chance. — encostei na parede — O nome disse é destino, era para vocês se conhecerem, não importa o tempo que fosse.
— Estou começando a achar isso. — ele se espreguiçou — E a gostar também.
— Ando curioso com uma coisa. — comentei — Está vendo ela com frequência?
— Nalla?
— Sim.
— Infelizmente. — ele fechou os olhos — Ela é amiga de um dos moradores.
— Namorado novo?
— Não sei, mas também não me importo.
Fiquei um pouco mais te tempo no apartamento de , até ir para casa. Como previsto, já estava lá me esperando juntamente com , ambas vendo doramas na Netflix, e comendo pipoca. Fiquei olhando-as em silêncio, até perceberam minha presença.
— Ah, amor, chegou. — se levantou com a ajuda de e veio em minha direção.
Eu a beijei com carinho e acariciei sua face.
saiu discretamente sem se despedir. Perguntei a se tinha algo que ela queria que eu fizesse, docemente minha esposa somente pediu para que eu ficasse ao seu lado no sofá vendo seus doramas com ela. Aquele era um pedido pequeno para tudo que ela tinha passado há alguns dias, um pedido que eu iria realizar com muito prazer.
— Como está ? — perguntou ela.
— Bem, disse que o novo escritório em que está trabalho, é bem melhor do que o de Oxford, o que é uma boa notícia. — respondi.
— Quem bom. — concordou ela — Ele merecia recomeçar com grande estilo, além do mais Londres está fazendo bem a todos.
— Sim. — comecei a acariciar seus cabelos automaticamente — Mas, a Inglaterra é pequena de mais.
— Do que está falando?
— Ele tem esbarrado em Nalla frequentemente. — respondi.
— O que? Mas ela não mora e trabalha em Oxford?
— Sim, porém tem um amigo que mora aqui em Londres, pelo que entendi.
— Hum, dr. Lee, acho que comentou sobre ele recentemente, mas acho que eles não devem ter nada. — segurou o riso — A menos que a Nalla tenha deixado de se casar com para se tornar amante dele.
— Amante? — a olhei surpreso.
— É. — confirmou ela olhando para mim — Pelo pouco que sei, comentou comigo há algum tempo que ele era casado, agora se ainda é casado não sei.
— Já faz tempo que ela disse isso? — estava mais curioso sobre.
— Acho que foi na época que ela ainda dava aulas particulares para Jullie, que é filha dele, antes de terminar seu estágio e se tornar professora da InH.
Por essa eu não esperava, porém não me importava, Nalla era um amargo passado em nossa família, que não seria revivido.
“É um pouco confuso como essa coisa toda começou.”
- On My Mind / Ellie Goulding
:
Finalmente havia chegado o dia do recital, eu estava um pouco mais nervosa que minhas alunas, o que me mantinha calma era a pequena Jullie e sua energia positiva. O auditório já estava cheio, a maioria dos pais e convidados já tinham chegado, olhei entre as cortinas e consegui ver o lugar em que e tinham se sentado, o que curiosamente foi perto de e sua noiva Jessie.
Porém, quem eu queria ver e não estava presente, era . Estranho que ele era muito pontual e tinha me dado certeza que chegaria a tempo, mesmo tendo que acompanhar uma audiência de conciliação de seu cliente, que divorciava da esposa. Antes da apresentação fiz todos os meus alunos se aquecerem fazendo uma série de alongamento.
Foi uma linda apresentação com a temática do desenho Aladdin da Disney, Jullie minha melhor aluna e bailarina era a protagonista, fazendo o personagem da Jasmim. Após o final de todas as apresentações, me deparei com uma surpresa nos bastidores.
— Posso entender como conseguiu entrar aqui? — perguntei para ele, desviando meu olhar para o bouquet de rosas vermelhas em sua mão.
— Eu subornei o segurança. — brincou esticando as rosas para mim — Parabéns pelo recital.
— Obrigada. — peguei as rosas e senti suavemente seu aroma — Mas foram meus alunos que fizeram tudo, o sucesso é deles.
— Quem os ensinou com perfeição? — retrucou ele com um olhar intenso para mim.
— Olhando por esse lado. — sorri de leve — Achei que não conseguiria chegar a tempo.
— Digamos que eu consegui resolver tudo dentro do prazo. — brincou ele.
— Ah… Confesso que estava pronta para ver você chegando atrasado pelo primeira vez.
— Jamais faria isso. — ele riu.
Nós saímos para o auditório e logo Jullie veio correndo em minha direção, estava segurando um bouquet de lírios em sua mão.
— . — disse ela ao me abraça — Obrigada por ter me escolhido como a protagonista.
— E claro que escolheria, disse retribuindo o abraço — Você é minha melhor aluna.
— Então você é a Jullie. — a olhou — Eu me lembro de você.
— É claro que se lembra, eu te paguei um sorvete no ano passado. — explicou ela com seu jeito sociável de ser — Você estava bem triste naquele dia.
— Ah, sim. — concordou ele — Como eu poderia me esquecer de você, nunca me esqueço das pessoas que me dão comida.
— Jullie. — disse ao se aproximar — Ah, boa noite.
— Boa noite dr., ou melhor . — cumprimentou .
— Papai, esse é o moço do sorvete, lembra dele? — perguntou Jullie.
— Claro querida, agora me lembro. — ele sorriu — Minha filha nunca tinha comprado sorvete para alguém antes, até te conhecer.
— Ela é muito gentil. — elogiou .
— Minha aluna é maravilhosa. — completei.
Eu não pode deixar de notar que Nalla se manteve distante, ela parecia meio abatida e muito triste, me cumprimentou novamente e acompanhado de Jullie, se afastou seguindo até sua irmã Emma. Até o momento eu não tinha reparado, mas Nalla estava evitando até mesmo estar perto do dr. Lee.
— Está tudo bem? — perguntei ao olhar para .
— Sim, maravilhosamente bem. — ele sorriu para mim — Estou ao lado da mulher mais linda e divertida do mundo.
— Fale por você. — comentou ao se aproximar de nós — Pois para mim, a é a melhor.
— Que bom que disse isso. — deu um selinho nele.
Nós rimos um pouco, daquilo.
— Congratulations para a melhor professora de ballet. — disse aparecendo ao meu lado.
— Que bom que você veio. — disse ao abraçá-lo.
— E deixar minha melhor amiga se exibir sozinha, claro que não. — brincou ele — Eu vim para dizer que sou o responsável pelo seu sucesso, quando te forcei a não desistir das aulas de ballet clássico aos seis anos.
— Yah, seu chato, tinha que lembrar disso. — o empurrei de leve.
— Ah, então ela realmente iria desistir? — me olhou boquiaberta — Por isso que você sempre acompanhava ela ?
— Claro, essa preguiçosa não conseguia nem acordar de manhã sozinha.
— . — o olhei chateada — Não me exponha na frente das pessoas.
— Seu namorado precisa saber quem você realmente é, assim não será enganado. — retrucou ele se referindo de .
— Eu não sou namorado dela. — o corrigiu — A menos que ela queira.
Todos que estavam em volta começaram a ovacionar, brincando que eu deveria assumir logo.
— Eu disse que vocês dois ficavam bem juntos. — comentou .
— Ficam mesmo. — concordou Jessie que estava ao lado de .
Era estranho a irmã de Nalla falando isso, talvez estivesse querendo ajudar no incentivo, já que a irmã tinha causado constrangimento a .
— Ai gente, estão me deixando sem graça. — disse rindo baixo, desviei meu olhar para — E você, por que foi dizer aquilo.
— Só disse a verdade. — ele riu.
— Ah, então essa moça está de charme? — esfregou a mão em minha cabeça bagunçando meu cabelo.
— Yah, pare. — eu afastei a mão dele e arrumei meu cabelo novamente — Ainda estamos nos conhecendo.
— Ata. — fingiu estar tossindo — Se vocês dois não se assumirem logo, quando meu filho nascer não deixo serem os padrinhos.
— Aish, sério isso?! — a olhei indignada.
Todos riram de mim.
— Mas é claro que vamos nos assumir. — tocou em minha face e se aproximando me beijou não muito de surpresa.
Foi difícil me concentrar com os aplausos e assobios em volta, entretanto os músculos do meu corpo estavam em sincronia com o dele, principalmente meu coração já acelerado.
— Não acredito que nosso primeiro beijo foi no meio de testemunhas. — sussurrei.
— Melhor lugar para um primeiro beijo. — ele piscou de leve — E segundo.
Ele me beijou novamente, porém agora não tinha tido nenhum barulho quanto a isso. Assim que me afastei dele, olhamos para os lados e os outros casais estavam se beijando também.
— Ah, o que é isso? Esse momento era nosso. — me fiz de ofendida.
— Acha mesmo que ficaríamos aqui de castiçal? — brincou abraçado a Jessie.
— Não mesmo. — concordou segurando na mão de .
— E como está nosso afilhado? — toquei de leve na barriga de .
— Está vibrando e torcendo por todos nós. — respondeu .
— Que história é essa de afilhado? — nos olhou sério — Meu nome está nesta lista né?
— Mas é claro. — confirmou .
Depois de me despedi de alguns pais e alunos, deu a ideias dos casais se reunirem em uma pizzaria, como um encontro triplo para comemorar. e logo se animaram e aderiram a ideia, Jessie também assentiu e estava mesmo começando a ter desejo de comer pizza, ou seja, não seria eu a discordar da idéia.
Finalmente parecia que tudo estava se encaixando, e eu estava percebendo que realmente o que achava sentir por , não era real. Era que verdadeiramente tinha despertado algo dentro de mim, uma forte paixão que suavemente se transformaria em amor.
“Porque eu penso em você.”
- On My Mind / Ellie Goulding
5. Bolero
Semanas depois...
:
Como um quebra-cabeças, tudo havia se encaixado, ou quase tudo. e haviam assumido o namoro, finalmente! e Jessie estavam se dedicando aos preparativos do casamento deles, estava feliz pois sua amizade com a havia continuado a mesma, e toda aquela história de amor platônico dela já havia sido esquecida de vez.
A única coisa que ainda me preocupava era o relacionamento de com sua mãe, já fazia meses que ele não a visitava, eu não queria que nosso bebê nascesse com a família dividida. Mesmo que a culpa não seja minha, eu estava disposta a perdoar a megera e demonstrar afeto, afinal ela era a mãe do meu marido.
Porém, eu só me aproximaria dela após o nascimento de Joseph, o nome que tinha escolhido para ele.
— Vamos querido. — disse a — Não podemos nos atrasar para o jantar de noivado do .
— Eles já estão noivos. — ele saiu do banheiro ainda tentando dá o nó na gravata — Não entendo o propósito desse jantar.
— É só um jantar formal para as famílias se conhecerem. — caminhei até ele e o ajudei com a gravata — Agora pare de reclamar e vamos. vai pegar a na escola?
— Sim, liguei há dez minutos e ele estava saindo do escritório.
— Corre o risco de chegarem antes da gente. — comentei indo pegar minha bolsa.
— Não acho. — ele riu — Segundo ele, ainda passariam no apartamento de para pegarem o presente.
— Espero que não demorem. — ri saindo pela porta.
Ao chegamos na casa dos pais de Jessie, o lugar já estava com alguns dos convidados, eu cumprimentei os pais da noiva e os pais de , para minha surpresa os meus pais e os da minha amiga também estavam. e chegaram um pouco depois, e nós quatro ficamos um tempo na varanda conversando.
— Nossa querida amiga não me parece muito feliz. — comentei me aninhando nos braços de .
— Que amiga?! — perguntou .
— A irmã da noiva. — disse num bom baixíssimo.
— Você também notou?! — o olhou surpresa.
— Eu conheço aquele olhar. — explicou — É de frustração e raiva.
— Uau. — segurei o riso — E qual o motivo?
— Disso eu sei, esqueci de contar a você. — se pronunciou — Emma me contou essa semana, por que fiquei um pouco curiosa de não ver ela frequentando o prédio do mais.
— E o que seria? — perguntou .
— Desilusão amorosa. — respondeu minha amiga — Ao que parece, ela estava apaixonada pelo e não sabia que ele era casado, resumindo, ele deu um fora nela.
— Uau. — dei um pequeno pulo sentindo algo se mover dentro de mim — Mexeu.
— O que? — a olhou.
— Nosso bebê se mexeu. — repetiu ela claramente.
Logo surgiu um brilho nos olhos de seguido de um sorriso, ele tocou de leve em minha barriga, sentindo Joseph se mexer novamente. Aquela sensação era única e maravilhosa, pela primeira vez eu estava sentindo meu filho dentro de mim com mais intensidade.
"Para sempre, eu continuarei brilhando em você,
Eu estarei observando o seu futuro brilhante,
[...]
Eu te protegerei."
- Bolero / TVXQ (Dong Bang Shin Ki)
:
Foi uma surpresa para mim ter descoberto sobre a desilusão de Nalla, mesmo sendo religiosamente errado me sentir bem com aquilo, parecia que era a justiça de Deus pelo que ela tinha me feito. Afinal, abandonar alguém no altar tinha sido o ápice da falta de caráter dela, mas não guardaria rancor, meu coração já estava curado e tinha sido preenchido por alguém bem melhor que ela.
Meu namoro com estava indo muito bem, e a cada dia eu estava me apaixonando ainda mais por ela, poderia afirmar que já estava se transformando em amor.
— Um beijo por seus pensamentos? — disse ela ao me encontrar na frente da escola.
— Para você, eu conto até de graça. — sorriu — Mas como está oferecendo me beijar, não vou negar.
Ela riu de leve e se aproximando de mim, me beijou da forma mais doce que poderia. Aquilo me fazia esquecer o mundo ao nosso redor.
— Temos o ensaio de casamento do agora. — lembrou ela.
— Verdade. — concordei já me lembrando muito desse compromisso.
— Então vamos, não podemos nos atrasar.
parecia mais animada que a noiva com este casamento. Ainda mais após anunciar que pegaria o bouquet da noiva, para dar seguimento aos casamentos entrou nosso recém-formado grupo de amigos. O que para mim era ótimo, pois já estava mesmo pensando em formalizar o pedido que vinha planejando há semanas.
Mais semanas se passaram, teve que adiar o casamento no religioso, pois entrou em trabalho de parto minutos depois da cerimônia no civil, deixando todos desesperados com a chegada prematura do nosso Joseph. Sim, estava certa e era um valente menino, algo que nos foi apresentado após o parto, pois insistiu em não descobrir o sexo pelas ultrassonografias do pré-natal.
— Vamos logo , ela vai jogar o bouquet. — disse correndo para trás do carro em que os noivos iriam entrar.
— Corre antes que não consiga pegar. — brincou , enquanto aninhava Joseph em seus braços.
Nós rimos dela.
— Yah, parem de rir. — reclamou ela se posicionando mais a frente.
— Mande para a . — disse num tom mais alto — Ela precisa desencalhar.
— Yah, seu bobo, só por que agora é casado, não significa que pode dizer essas coisas de mim. — ela riu.
Jessie se preparou e virando, jogou o bouquet que milagrosamente foi justo na direção de , nos fazendo comemorar em grande estilo e muitos beijos ali. Agora era nossa vez de prepararmos nosso casamento, e desta vez eu tinha certeza que era a minha escolha certa e final.
Ficar com era meu destino.
"Sob a luz da lua,
Você grava freneticamente o ritmo que deseja, levante seus sonhos,
A razão de você ser quem é, é porque você bate suas asas."
- Bolero / TVXQ (Dong Bang Shin Ki)
:
Mesmo com Emma dizendo que eu não deveria me senti culpado, era complicado não pensar que Nalla não tinha se casado por minha causa. Ela nem mesmo estava mantendo alguma conversa comigo, me cumprimentava pelos corredores do hospital por educação, e continuava sendo gentil com Jullie. Era algo triste, mas não podia mentir para ela e continuar nutrindo algo que não a faria bem.
Ao final da semana, como havia combinado com minha irmã, peguei Jullie na escola e segui com ela para a clínica especializada em neurologia, onde minha esposa estava internada. Como eu havia dito a Nalla, falar sobre esse assunto me deixava triste e amargurado, minha esposa Mary estava em coma há pouco menos de seis anos.
Segundo os especialista, ela tinha possibilidades de acordar, porém se acontecesse ela provavelmente poderia perder os movimentos das pernas ou braços, pois uma de suas vértebras tinha sido afetada, o que me preocupava muito. E tudo era culpa minha, uma pequena distração ao pegar o celular enquanto dirigia, me fez avançar o sinal e um carro bateu no nosso.
Bem no lado em que ela estava, Mary além das costelas fraturadas e sua vértebra danificada, sofreu traumatismo craniano considerado leve, graças ao cinto de segurança e o airbag, o acidente não foi fatal. Nem para ela e nem para mim que tive algumas escoriações e fratura exposta na perna direita, que me rendeu quatro pinos no joelho.
— Olá mamãe. — disse Jullie ao se aproximar da cama.
— Olá querida. — sussurrei parando ao lado de Jullie — Como está?
— Ela parece estar tendo um sono feliz. — comentou Jullie — Mamãe, eu vou participar de outro recital de ballet, e estou pedindo ao papai do céu para a senhora acordar para ver este.
— Eu também. — concordei.
— Assim poderia dançar comigo, já que herdei seu talento para o ballet.
— Seria lindo. — sussurrei imaginando minhas duas bailarinas juntas em uma apresentação.
Jullie se aproximou um pouco mais e pegando na mão de Mary, se aproximou um pouco mais do seu ouvido.
— Eu te amo mamãe. — disse ela baixinho.
Em um piscar de olhos o dedo indicador de Mary mexeu e suas pálpebras tiveram uma pequena vibração.
— Papai, você viu?! — Jullie me olhou.
Eu poderia até dizer cientificamente que poderia ser os reflexos involuntários do seu corpo, mas tanto os meus olhos como os de Jullie estavam brilhando naquele momento.
"Eu sonhei com você dançando,
No palco da flutuante escuridão da lua."
- Bolero / TVXQ (Dong Bang Shin Ki)
FIM
estou com essa nova loucura da escrever ficstapes... Críticas e elogios sempre serão bem-vindos!!
Minhas fics no FFOBS:
| 14. Goodnight Gotham (Ficstape Rihanna) | 17. Trust (Ficstape Justin Bieber) | Beauty and the Beast (Contos Dia dos Namorados) | Beauty and the Beast II |
| Coffee House | Cold Night | Crazy Angel | Destiny's | Electrick Shock (Especial Challenge #18) | Evidências (Especial: Arraiá) | First Sensibility | Genie |
| I Am The Best (mixtape Girl Power) | I Need You... Girl | Love of My Life (mixtape Classic Rock) | My Little Thief | Piano Man (mixtape Girl Power) |
| Photobook | Promise (Contos de Halloween) | Smooth Criminal | The Boys (mixtape Girl Power) | TVXQ: Tohoshinki | Wind Of Change (mixtape Classic Rock) |
O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.