Capítulo 1
O legal de ser o irmão protetor é que eu posso ficar de olho na minha irmã e nos garotos que batem suas asas de falcões pra cima dela. Não vou deixar nenhum daqueles sem cérebros iludi-la e a jogarem fora como um objeto qualquer. Rafaela, ou Rafinha, como eu a chamava e ela odiava esse apelido, somos gêmeos, o orgulho da mamãe que sonhava em ter um casal e teve. Por ser toda cheia das frescuras, como as modelinhos do colégio, era do grupo das Rosas. Deixe-me explicar, não, não estou me referindo a jardins, e assim as intocáveis Rosas, o grupo de meninas gatas do nosso colégio. Agora vocês entendem minha preocupação com ela? Estão sempre rodeadas pelos caras, seja dos mais bonitos aos mais feios. E desse grupo das gatas do milênio, eu tive a brilhante ideia de gostar de uma delas, e para piorar era a líder da gang pink (sim, eu apelidei o grupo assim porque sempre andavam juntas feito uma gang prontas para te atacar.) Óbvio que eu não contei para Rafaela sobre sentir algo pela amiguinha dela. Algo tinha que dar errado nesse sonho da minha mãe de ter gêmeos, e o erro foi eu. Como todo clichê, alguém tinha que ser o menos favorecido, o excluído da história, pois bem, ganhei de graça esse papel. Tenho vários apelidos no colégio, mas os famosos é o nerdzinho gato (olha, achamos uma vantagem, sou desejado, na surdina, mas sou.) e o irmão da morena gata, sensacional, não acham? Eu gostava de ver a , esse era o nome dela, da líder da gang pink. Ela era tão linda, mas nunca acreditei nessa baboseira que ela era impossível ou algo do gênero. Se bem que o que me intrigava, não só a mim como a todos caras daquele colégio, não dava bola para ninguém, quando digo ninguém, é ninguém mesmo. Nem mesmo para o Gustavo, o galã do Instituto Santa Maria. O cara até que era bacana, trocava ideias com os excluídos, tipo eu. Eu não sou de se jogar fora, meu cabelo é grande e tem formato de cogumelo, nada atrativo, mas uso roupas normais e legais e tenho olhos bonitos, segundo algumas meninas do colégio. Estou aqui na maior falação e nem me apresentei, me chamo , tenho 17 anos.
- Oi, irmãozinho, o que tanto tu escreves nesse notebook? Posso ver? – Rafaela disse e se jogou do meu lado na cama, guria folgada.
- Não e não. – fechei meu notebook antes que ela visse o que eu escrevia.
- , tu achas que sou fofoqueira? Vou publicar o que quer que seja que venha escrevendo nesse notebook no Balanço Geral? Poxa! – Rafaela bufou e se ajeitou ao meu lado. – Me diz, vai, me conta!
- Mas tu és chata, hein!? – soltei um suspiro derrotado e contei logo. Ela não me deixaria em paz se eu optasse pelo contrário. – Estou escrevendo coisas que se passam comigo, quem sabe um dia posso publicar e virar livro. Satisfeita?
- , escritor! Olha, olha... Nesse porte a até que olharia pra ti. – Rafaela disse aquilo sem mais e nem menos. Largou a bomba e saiu de fininho e ainda riu da minha cara de espanto. Mas eu guardava tão bem meus sentimentos pela , estava dando para notar? Se eu estivesse dando na vista teria que me controlar.
06h00 da manhã e aquele despertador já estava berrando nos meus ouvidos. Vida de estudante não é fácil amigos, nada fácil. Tateei o celular ainda sonolento e desativei o alarme, me forçando a levantar da cama para não perder o meu tempo de ir ao banheiro. Eu e Rafaela dividíamos o tempo para que pudéssemos usar o banheiro sem brigas. Eu ia primeiro, por ser mais rápido, e assim, dando o tempo que ela queria para se embonecar. Mulheres! Depois de ficar mais alerta, peguei minha toalha e fui tomar banho antes que minha irmã tivesse um ataque desnecessário. Gastei minha meia-hora e quando abri a porta, Rafaela já estava de prontidão para usar o banheiro.
- Bom dia! Agora sai logo que eu preciso tomar banho e me arrumar. – disse impaciente.
- Bom dia pra ti também! – disse. – Ei, sobre o que tu falaste ontem sobre a , de onde tirou que eu gosto dela? – perguntei antes que ela batesse a porta e só saísse de lá depois que estivesse como se fosse estrelar: As Patricinhas de Beverly Hills.
- Vou ser breve, porque não posso perder meu rico tempo de beleza. Ora, maninho, eu lhe conheço bem, apesar de não parecer, e acho que até o zelador se for esperto percebe seus olhares apaixonados em direção dela. Ou tu achas que eu não sei que fica sentado naquele banco revisando a matéria do primeiro período porque é o melhor lugar para ver todos passarem para suas salas? E tu não sai de lá enquanto ela não chega. – Fiquei sem reação alguma, tinha sido pego. – Ah, quer um conselho? Se a quer, se mexa! Porém, já te aviso de antemão, não me peça para fazer ponte, mandar recadinho, falar bem de ti pra ela que eu não vou. Não é má vontade, . É que eu a conheço e nada do que eu faça vai ajudar, e acredite em mim, o fato de tu ser meu irmão dificulta isso. Ela pensaria que estou puxando sardinha pro teu lado e não me daria ouvidos. – continuei ouvindo minha irmã sem me pronunciar, não acreditando que meu segredo tinha sido descoberto. – Arrume um jeito de ao menos tentar conquistá-la. Vou torcer por ti! E sabe, não é má ideia ter a como cunhada. E, agora, para de me enxer que tenho que me arrumar. – Rafaela entrou e fechou a porta. Eu permaneci ali pensando, em como agir. Para começo de conversa, preciso me vestir e parar de ficar igual um lerdo com uma toalha enrolada na cintura no meio do corredor.
Quando desci para o café, a mesa já estava posta e papai tomava seu último gole de café. Ele se despediu de mamãe, depois de mim e gritou um tchau para Rafaela, que desceu correndo as escadas toda despenteada para abraçá-lo antes que ele fosse trabalhar. Nosso pai saía bem cedo, mas hoje em especial havia ganhado um agrado do chefe por suas horas extras e saiu mais tarde. Nossa mãe era dona de casa e costureira, tinha seu ateliê em uma peça nos fundos de casa com suas máquinas. O trabalho dela completava a renda da nossa família e, graças a Deus, vivíamos bem.
- Rafaela, vai se pentear logo e desça para o café. Não quero atrasos. Filho meu, cumpre os horários na escola. Ande logo! E tu, trate de se alimentar melhor, estás muito magricela. Tome todo esse café e coma ao menos uma fatia de pão. – essa é dona Martina, mandona e protetora até o último nível!
- Está certo, dona Martina! – disse, a fazendo sorrir.
Rafaela desceu logo em seguida, bem penteada, maquiada, de calça jeans, um moletom e all star vermelho, combinando com a cor do moletom. Deixou a mochila do lado da minha e veio se servir. Me levantei primeiro, já me dirigindo para o sofá e pegando minha mochila. Rafaela não demorou a seguir meu exemplo. Nos despedimos de nossa mãe, pegamos nossas bicicletas e seguimos o caminho para o colégio.
- , se arrumar melhor e ter um estilo, te ajudaria na sua jornada de conquistar a . Eu posso te ajudar nisso! – Rafaela disse e sorriu contente com a possibilidade de me transformar no próximo galã de Malhação.
- Desiste disso. Se eu tiver que mudar o jeito que me visto para conquistar alguém, já começarei tudo errado. Se ela tiver que me olhar, que me olhe como sou. Pensei que soubesse que não vivo no teu mundo e nem sou como os guris que tu costumas andar. Que a propósito, estou de olho, viu? Está sempre com aquele Murilo para cima e para baixo.
- Eu sei que seu senso de moda é escasso. E quanto ao Murilo, cuide da tua vida e largue do meu pé. Gaste o seu tempo com a . Seria bem mais útil, te garanto. – Rafaela disse e fincou o pé no pedal, passando de mim.
¬ Alcancei minha irmã e tratei de trocar de assunto, conversando sobre o que cada um faria nas férias de julho. Rafaela me contou que ia pedir permissão para nossos pais para viajar com a Beatriz e Sabrina para passar a semana no Rio de Janeiro. A família de Beatriz tinha familiares para aquelas bandas, então iriam visitar, e minha irmã era louca para conhecer aquela cidade, estava bem empolgada com a ideia. Já eu ia ficar em casa mesmo. O que fez minha irmã rolar os olhos de tédio por mim. Chegamos na frente do colégio, passamos as correntes nas bicicletas por segurança. Quando virei, Rafaela já estava com parte da gang pink tagarelando sem parar, espero que ela não abra a boca sobre eu gostar da . Falando nela, ainda não havia chegado. Como de costume passei pelas gurias, cumprimentei e fui sentar no banco de frente para entrada. Erick e Marlon, meus melhores amigos, já me esperavam.
- Fala, tchê*! Hoje está um frio de renguiar cusco*! – Erick esfregava a mão uma na outra para esquentá-las. - Vamos lá para dentro? Está muito frio para ficar aqui fora! – Marlon estava ao lado de Erick com as mãos no bolso.
- Se quiserem ir, podem ir! Eu vou ficar aqui mais um pouco. – disse, tentando disfarçar o meu real motivo de permanecer naquele frio ao invés de ir pro saguão onde era mais quente. - Cada louco com suas manias! Nos vemos depois. – Os guris seguiram para o saguão e eu fiquei ali feito um tonto esperando ela chegar. Mais dois minutos e o sinal ia bater. Foi então que eu a vi, chegando apressada. Vestia um casaco longo, calça jeans e bota. Ah, e uma manta cor vinho combinando com a cor da boina que ela usava naquele dia. Não sei o que houve, mas ela se distraiu e deixou os livros caírem no chão. Corri para ajudá-la.
- Obrigada! Estou atrasada hoje, o despertador não tocou. – ela se levantou do chão, pegando o último livro dos três que caíram. Apesar de sermos colegas, nunca tive tanta aproximação com ela como naquele momento. Não deixei escapar a chance de olhar profundamente em seus olhos castanhos escuros, que pareciam duas bolitas* grandes. Acho que ela acabou por perceber minha invasão e piscou algumas vezes, acredito que desconcertada por meu atrevimento em encará-la daquela maneira.
- Não foi nada. E quanto ao despertador, acontece com todos. – Dei o melhor sorriso que encontrei para ela. Se eu achava ela linda, agora tão perto, estava achando que ela era um anjo.
- Bom, vamos indo, o sinal vai tocar e se não estivermos na porta da sala, seremos trancados fora dela! – disse e riu. Começamos a caminhar a passos largos até nossa sala. – É o irmão da Rafa, né? – perguntou.
- Sim! O irmão invisível. – tentei fazer piada e ela riu.
- Você é engraçado... – parou no meio da frase, tentando lembrar o meu nome.
- . – respondi a pergunta deixada no ar por ela. - Me perdoe, tenho memória fraca para nomes. Obrigada de novo. – disse e sorriu.
O sinal já havia tocado e a professora já vinha em nossa direção, abriu a porta e entramos na sala. Ela foi se juntar a outra integrante da gang, mais precisamente com a Beatriz. Pela graça do Pai, que elas não estudavam todas na mesma sala, credo, seria o fim da minha paciência! As aulas se passaram normais, eu com meus amigos no canto de sempre e a princesa na sua torre com a sua fiel escudeira, sentadas nas mesas que ficavam de frente para o professor. O sinal do intervalo tocou e eu observei sair com a Beatriz, o que eu não esperava é que ela olhasse em minha direção e me flagrasse olhando-a. Mas que merda! E pior ainda foi ela ignorar para não me deixar sem graça. E logo após saiu com a amiga, com certeza para se juntar a minha irmã e a Sabrina.
- Agora nos conte, o que foi aquilo?! – Erick disse, me tirando no transe.
- Aquilo o quê?
- Como aquilo o quê?! Tu e a miss Santa Maria chegando na maior conversa para aula! – Erick me respondeu.
- Se declarou? Ela te quis? Não, sério! – Marlon falou debochando, imbecil.
- Que me declarei o quê! Nem gosto dela. Só fiz o favor de ajudá-la com os livros. – respondi, saindo da sala com meus amigos no meu encalço.
- Não gosta dela... Te faz de doido para passar bem, ou o quê? Qual é, , sabemos que tu morres pelo cérebro de ameba líder! – Marlon disse.
- Não fale dela assim, tu nem a conhece para falar isso. Respeite a . – respondi irritado, só porque ela parecia fútil ela não necessariamente seria assim. Tem tanta gente que aparenta ser o que não é.
- Ei, baixa essa bola! Falei por falar. Só acho que elas são fúteis e estão sempre rebaixando quem elas julgam não ser dignos de dar oi a elas. – Marlon não pensava assim, falava isto por ser apaixonado por minha irmã, e quando foi se declarar levou um baita fora, e desde então desdenha as gurias. Marlon tinha que parar com isso.
- Tu sabes bem que isso não verdade. Só fala isso porque é apaixonado pela Rafaela. Ela só não gosta de ti, aceita e não ofende para tentar atingir ela. Ou simplesmente, te acalma e tenta de novo. – disse e Marlon riu fraco, acertei em cheio.
- Ela está ficando com o Murilo. Aquele ela quer, é presidente do grêmio estudantil, já eu sou um zé ninguém. Tua irmã não é como nós. E se eu fosse você, tirava a da cabeça, ela logo aparece com o Gustavo. – Marlon disse e se sentou em dos bancos vagos no sol. Em dias frios achar bancos vazios no sol, era raridade no Instituto Santa Maria.
- Chega desse assunto. Vamos marcar nosso jogo pro sábado? O campo perto de casa vai estar vago, falei com a gurizada lá e está tudo combinado! – troquei de assunto rapidamente, meu amigo não entenderia nada sobre meus sentimentos, visto que a situação dele tinha dado errada. Claro que ele acharia que a minha daria no mesmo, ele estava agindo de modo egoísta mas, mesmo assim, querendo me poupar de passar o que ele passa pela minha irmã.
- Opa, falou futebol, ditou meu nome! – Erick veio se juntar a nós com um pacotão de Fandangos.
Varri com os olhos naquele pátio até achar a gang pink. E quando encontrei, a vi sentada com as gurias em um banco que ficava do outro lado, perto de uma árvore. A observei nos mínimos detalhes, seu cabelo ondulado caído num lado só, acho que era algum penteado, estava sentada encolhida pelo frio, conversava alegre com as amigas, seu sorriso era tão ou mais radiante que o sol que nos iluminava e nos esquentava naquela manhã. Eu precisava conquistar essa guria, mas de que jeito? De repente, apareceu o tal Gustavo e o Murilo, ficante ou sei lá o que da minha irmã. Notei que Marlon fez uma careta quando se deparou com a cena. Observei o comportamento de quando Gustavo se aproximou dela. Ela me pareceu ser educada com ele e ficaram conversando, toda vez que ele tentava abraçá-la ou tocá-la, ela desviava e sorria, mas não de timidez, e sim nervosismo, como se quisesse mandá-lo para o raio que o partisse. Gostei disso, gostei muito.
- Mas são dois patetas mesmo! Ficam aí babando pelas bonitas e não tomam atitude nenhuma. Honrem essas calças, bah*! – Erick disse, chamando minha atenção.
- Olha, falou o galanteador. Tu não pega nem gripe, vai te esconder. – disse rindo da cara de bunda que Erick fez.
- Vocês que pensam! Vou pegar um cineminha maroto com a Beatriz no domingo. E aí, o que me dizem?
- QUÊ? – Murilo e eu exclamamos ao mesmo tempo. Não era possível que o mais lerdo de nós três tenha conseguido tamanha proeza!
- Enquanto vocês ficam bancando os tontos aí, eu faço acontecer.
- Mas como assim? Nem para contar pra gente que estava de olho cumprido pro lado da Beatriz! Bem amigo tu hein! Diz aí, como se deu esse milagre? – perguntei.
- Que drama! Não contei porque não contei. Tô contando agora. Simples, semana passada, quando fomos na tua casa fazer o trabalho de química, pedi o número da Beatriz para a Rafaela e ela me deu. Passei um whats e vamos sair domingo. Dormir no ponto, definitivamente, não é comigo, e isso que sou taxado como o lerdo do trio. – disse e gargalhou da nossa cara.
- Tiro meu chapéu pra ti, cara! – disse.
- Desde quando tu ages assim, Erick? É um orgulho esse guri! Bom... Ao menos um está dando sorte com os cérebros de amebas. – Erick e eu olhamos para ele bem feio. – Vão à merda. – foi o que Marlon nos disse e caímos na gargalhada, os três. Meus amigos eram como meus irmãos, amava aqueles caras.
“Pela primeira vez na vida pude contemplar o olhar de , e como dizem os poetas: “os olhos são o espelho da alma.” E era a alma daquela guria tão linda que eu queria conhecer. Sua beleza exterior eu já conhecia, assim como todos. Mas eu queria saber mais além. Saber seu interior, chegar até o coração daquela guria, tão misteriosamente bela. Era intrigante o fato dela ser desejada por todos, todos queriam ter ela como namorada, principalmente aquele galãzinho de meia tigela do Gustavo. Ela tinha um jeito meio pimpona de ser, nariz empinado, se achando a última peruca do Egito. Ah é, sou noveleiro, além de nerd. No momento, não perco um capitulo de Os Dez Mandamentos. Vai ver é por isso que ando mais romântico que o normal. Minha irmã me chama de o último romântico e me acha patético por querer surpreender com um buquê de rosas, se caso fôssemos namorados. Mas voltando ao dia de hoje, nos falamos e ela foi gentil comigo, coisa que achei que não seria e me espantei que lembrasse de mim, ok que por ser irmão de uma das suas amigas inseparáveis, mas ainda sim, uma surpresa. Graças a Deus eu não banquei o doido e soube me comportar bem em sua presença e até a fiz rir. Preciso achar uma maneira de conquistá-la. Não me importa o quanto possa ser difícil e impossível! Eu a quero e vou ter. Só tenho que botar esse cérebro brilhante, que tenho desde que nasci, para funcionar. Uma forcinha dos céus, seria muito bem-vinda! – parei de escrever e olhei para o teto do meu quarto e fiz uma cara de pidão. – Não vou perder minha confiança, se até o Erick teve coragem e tomou uma atitude, eu não posso ficar parado e deixar essa barreira de que populares não se misturam com os nerds e oprimidos, isso é clichê de filme, pode até ser verdade, mas eu não aceito. seria minha namorada, e mesmo que eu levasse um toco, seria depois de tentar muito e perceber que realmente não conseguiria nada. Vá a luta, . Já diz o ditado que Deus ajuda quem cedo madruga. Tá certo que esse ditado é mais para usar em metáforas de trabalho, mas vocês entenderam.”
- Escrevendo outra vez! Morro de curiosidade para ler o que tanto digita nesse treco! – Rafaela apareceu na porta. Ela jamais perde a mania de aparecer do nada.
- E vai ficar morrer na curiosidade. – disse e ri da cara de emburrada que ela fez. – Olha, tu poderia dar uma maneirada com o Murilo? O Marlon fica péssimo quando vê vocês.
- Ah, é que... Ai, ele tem que entender que nós não vamos ter nada um com o outro. Eu gosto do Murilo. – minha irmã respondeu de um modo estranho. Era impressão minha ou ela estava afim do Marlon, mas namorava o Murilo por ser melhor para o currículo de pegas dela?
- Por um acaso tu dispensou o Marlon por que ele é da parte inferior do colégio ou por que é amigo do seu irmão nerd, estranho e loser? – perguntei sério e ela me olhou sem ação. – Mas não é possível, Rafinha! Desse jeito eu vou concordar com o Marlon, que todas vocês são uns cérebros de amebas.
- Marlon fala isso de mim? E tu deixa? Belo irmão eu fui arrumar. – disse e colocou as mãos na cintura sem me olhar diretamente. Ela e mamãe tinham essa mania de desviar o olhar e pôr as mãos na cintura quando queriam desviar do assunto.
- Eu te defendo, mas vendo o que está fazendo... Está sendo infantil e idiota.
- Falou o que acha que vai namorar a , te enxerga! E vai te catar com suas opiniões de quem eu devo ou não ficar. – Rafaela saiu do meu quarto batendo a porta com toda força.
Típica reação quando eu descubro suas artimanhas. É difícil lidar com ela, mas era minha irmã e queria o melhor para ela. Estava se deixando levar por Beatriz e Sabrina, aquelas sim, são insuportáveis! Espero que ela caia em si. Salvei o arquivo do Word, desliguei o notebook, vesti minha calça de pijama e um moletom surrado e me enfiei debaixo das cobertas. Acionei o alarme do celular, virei para o canto e então tentei adormecer, só tentei mesmo. não saía dos meus pensamentos de jeito nenhum. Eu gostava daquela guria, como nunca tinha gostado de nenhuma outra antes e logo a que nunca me deu um indício que eu podia ter esperanças. Não pude frear as lembranças que vieram a seguir na minha mente, o dia que a conheci.
“Era uma sexta-feira, o dia da semana que todo aluno ou aquele que não trabalha no fim de semana almeja que chegue o mais rápido possível. Estava sentado no banco que ficava perto da entrada do colégio, esperava minha irmã para irmos embora, estava louco para chegar em casa e passar a tarde inteira de boas jogando vídeo game. Algumas risadas me chamaram a atenção, minha irmã vinha com suas amigas do peito, porém, uma me era desconhecida. Quem era aquela? Elas se aproximavam cada vez mais de onde eu estava, e com mais nitidez, pude ver quem era a tal guria. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo meio pro lado, fazendo com que o cabelo ficasse caído no seu ombro esquerdo. Vestia uma calça jeans e uma camiseta, e mesmo com aquela combinação ultra simples, ela estava linda, ainda bem que estava sentado, assim não precisei pagar um mico de cair pra trás e ainda com cara de trouxa. Minha irmã chegou e logo nos apresentou.
- Maninho, essa é a , ela chegou hoje ao nosso colégio. , esse é meu irmão mala, . – Rafaela disse e eu quase disse um palavrão bem dito pra ela. Fica queimando meu filme com as amigas delas, que raiva.
- Oi! Prazer em conhecê-lo! Vocês estão sendo bem simpáticos comigo. Começo minhas aulas na segunda, hoje vim só saber os horários e em qual turma irei pertencer. – disse e sorriu em minha direção. Que isso, cara, ela era de outro mundo, estava babando por ela.
- Seja, é... – travei no começo da frase, mas me recuperei logo para ao menos desejar boas-vindas a ela. – Seja bem-vinda! Em que turma ficou?
- Na turma 308. Fica na sala 20.
- Olha que coincidência, é a minha turma e a do também! – Beatriz disse alegre como se tivessem dito que na esquina ia ter feira de roupa por metade do preço. Eu só fiquei parado tentando não parecer bobão.
- Já terei amigos, isso é bom! Vir no último ano para uma escola diferente e em outro estado é complicado. Bom, tive sorte. – ela disse e sorriu. Podia ficar anos vendo aquele sorriso, por um momento pensei em como seria se aquele sorriso fosse pra mim, por minha causa.
- É. – disse e sorri para ela. Me pareceu corar e logo se recompôs.
- Vou indo, até segunda, meninas! Tchau, . – disse e se despediu das gurias com beijinhos no rosto e fez o mesmo comigo, nem preciso dizer que congelei nesse minuto e fui zoado pela minha irmã pelo resto do dia.”
É claro que essa lembrança já estava registrada nos meus rabiscos digitais no Word. Claro que a não ficou minha amiga, se juntou com a chata da minha irmã e as amiguinhas dela e se tornou a líder delas. Vocês que pensam que isso de grupo de populares só tem em história fictícia, lhes digo que existe na realidade, não sei se em todos colégios do mundo, mas no meu tinha. Desejaria com todas as forças que fosse uma das gurias comuns, ou até mesmo das que eu tinha uns rolos, seria tudo mais fácil e poderíamos estar até namorando, talvez. Mas não, ela tinha que ser a rainha e eu um simples camponês. Com a alma romântica de um escritor. Adormeci em meio a mais uma das minhas lamentações por gostar da garota errada.
- Oi, irmãozinho, o que tanto tu escreves nesse notebook? Posso ver? – Rafaela disse e se jogou do meu lado na cama, guria folgada.
- Não e não. – fechei meu notebook antes que ela visse o que eu escrevia.
- , tu achas que sou fofoqueira? Vou publicar o que quer que seja que venha escrevendo nesse notebook no Balanço Geral? Poxa! – Rafaela bufou e se ajeitou ao meu lado. – Me diz, vai, me conta!
- Mas tu és chata, hein!? – soltei um suspiro derrotado e contei logo. Ela não me deixaria em paz se eu optasse pelo contrário. – Estou escrevendo coisas que se passam comigo, quem sabe um dia posso publicar e virar livro. Satisfeita?
- , escritor! Olha, olha... Nesse porte a até que olharia pra ti. – Rafaela disse aquilo sem mais e nem menos. Largou a bomba e saiu de fininho e ainda riu da minha cara de espanto. Mas eu guardava tão bem meus sentimentos pela , estava dando para notar? Se eu estivesse dando na vista teria que me controlar.
XXX
06h00 da manhã e aquele despertador já estava berrando nos meus ouvidos. Vida de estudante não é fácil amigos, nada fácil. Tateei o celular ainda sonolento e desativei o alarme, me forçando a levantar da cama para não perder o meu tempo de ir ao banheiro. Eu e Rafaela dividíamos o tempo para que pudéssemos usar o banheiro sem brigas. Eu ia primeiro, por ser mais rápido, e assim, dando o tempo que ela queria para se embonecar. Mulheres! Depois de ficar mais alerta, peguei minha toalha e fui tomar banho antes que minha irmã tivesse um ataque desnecessário. Gastei minha meia-hora e quando abri a porta, Rafaela já estava de prontidão para usar o banheiro.
- Bom dia! Agora sai logo que eu preciso tomar banho e me arrumar. – disse impaciente.
- Bom dia pra ti também! – disse. – Ei, sobre o que tu falaste ontem sobre a , de onde tirou que eu gosto dela? – perguntei antes que ela batesse a porta e só saísse de lá depois que estivesse como se fosse estrelar: As Patricinhas de Beverly Hills.
- Vou ser breve, porque não posso perder meu rico tempo de beleza. Ora, maninho, eu lhe conheço bem, apesar de não parecer, e acho que até o zelador se for esperto percebe seus olhares apaixonados em direção dela. Ou tu achas que eu não sei que fica sentado naquele banco revisando a matéria do primeiro período porque é o melhor lugar para ver todos passarem para suas salas? E tu não sai de lá enquanto ela não chega. – Fiquei sem reação alguma, tinha sido pego. – Ah, quer um conselho? Se a quer, se mexa! Porém, já te aviso de antemão, não me peça para fazer ponte, mandar recadinho, falar bem de ti pra ela que eu não vou. Não é má vontade, . É que eu a conheço e nada do que eu faça vai ajudar, e acredite em mim, o fato de tu ser meu irmão dificulta isso. Ela pensaria que estou puxando sardinha pro teu lado e não me daria ouvidos. – continuei ouvindo minha irmã sem me pronunciar, não acreditando que meu segredo tinha sido descoberto. – Arrume um jeito de ao menos tentar conquistá-la. Vou torcer por ti! E sabe, não é má ideia ter a como cunhada. E, agora, para de me enxer que tenho que me arrumar. – Rafaela entrou e fechou a porta. Eu permaneci ali pensando, em como agir. Para começo de conversa, preciso me vestir e parar de ficar igual um lerdo com uma toalha enrolada na cintura no meio do corredor.
Quando desci para o café, a mesa já estava posta e papai tomava seu último gole de café. Ele se despediu de mamãe, depois de mim e gritou um tchau para Rafaela, que desceu correndo as escadas toda despenteada para abraçá-lo antes que ele fosse trabalhar. Nosso pai saía bem cedo, mas hoje em especial havia ganhado um agrado do chefe por suas horas extras e saiu mais tarde. Nossa mãe era dona de casa e costureira, tinha seu ateliê em uma peça nos fundos de casa com suas máquinas. O trabalho dela completava a renda da nossa família e, graças a Deus, vivíamos bem.
- Rafaela, vai se pentear logo e desça para o café. Não quero atrasos. Filho meu, cumpre os horários na escola. Ande logo! E tu, trate de se alimentar melhor, estás muito magricela. Tome todo esse café e coma ao menos uma fatia de pão. – essa é dona Martina, mandona e protetora até o último nível!
- Está certo, dona Martina! – disse, a fazendo sorrir.
Rafaela desceu logo em seguida, bem penteada, maquiada, de calça jeans, um moletom e all star vermelho, combinando com a cor do moletom. Deixou a mochila do lado da minha e veio se servir. Me levantei primeiro, já me dirigindo para o sofá e pegando minha mochila. Rafaela não demorou a seguir meu exemplo. Nos despedimos de nossa mãe, pegamos nossas bicicletas e seguimos o caminho para o colégio.
- , se arrumar melhor e ter um estilo, te ajudaria na sua jornada de conquistar a . Eu posso te ajudar nisso! – Rafaela disse e sorriu contente com a possibilidade de me transformar no próximo galã de Malhação.
- Desiste disso. Se eu tiver que mudar o jeito que me visto para conquistar alguém, já começarei tudo errado. Se ela tiver que me olhar, que me olhe como sou. Pensei que soubesse que não vivo no teu mundo e nem sou como os guris que tu costumas andar. Que a propósito, estou de olho, viu? Está sempre com aquele Murilo para cima e para baixo.
- Eu sei que seu senso de moda é escasso. E quanto ao Murilo, cuide da tua vida e largue do meu pé. Gaste o seu tempo com a . Seria bem mais útil, te garanto. – Rafaela disse e fincou o pé no pedal, passando de mim.
¬ Alcancei minha irmã e tratei de trocar de assunto, conversando sobre o que cada um faria nas férias de julho. Rafaela me contou que ia pedir permissão para nossos pais para viajar com a Beatriz e Sabrina para passar a semana no Rio de Janeiro. A família de Beatriz tinha familiares para aquelas bandas, então iriam visitar, e minha irmã era louca para conhecer aquela cidade, estava bem empolgada com a ideia. Já eu ia ficar em casa mesmo. O que fez minha irmã rolar os olhos de tédio por mim. Chegamos na frente do colégio, passamos as correntes nas bicicletas por segurança. Quando virei, Rafaela já estava com parte da gang pink tagarelando sem parar, espero que ela não abra a boca sobre eu gostar da . Falando nela, ainda não havia chegado. Como de costume passei pelas gurias, cumprimentei e fui sentar no banco de frente para entrada. Erick e Marlon, meus melhores amigos, já me esperavam.
- Fala, tchê*! Hoje está um frio de renguiar cusco*! – Erick esfregava a mão uma na outra para esquentá-las. - Vamos lá para dentro? Está muito frio para ficar aqui fora! – Marlon estava ao lado de Erick com as mãos no bolso.
- Se quiserem ir, podem ir! Eu vou ficar aqui mais um pouco. – disse, tentando disfarçar o meu real motivo de permanecer naquele frio ao invés de ir pro saguão onde era mais quente. - Cada louco com suas manias! Nos vemos depois. – Os guris seguiram para o saguão e eu fiquei ali feito um tonto esperando ela chegar. Mais dois minutos e o sinal ia bater. Foi então que eu a vi, chegando apressada. Vestia um casaco longo, calça jeans e bota. Ah, e uma manta cor vinho combinando com a cor da boina que ela usava naquele dia. Não sei o que houve, mas ela se distraiu e deixou os livros caírem no chão. Corri para ajudá-la.
- Obrigada! Estou atrasada hoje, o despertador não tocou. – ela se levantou do chão, pegando o último livro dos três que caíram. Apesar de sermos colegas, nunca tive tanta aproximação com ela como naquele momento. Não deixei escapar a chance de olhar profundamente em seus olhos castanhos escuros, que pareciam duas bolitas* grandes. Acho que ela acabou por perceber minha invasão e piscou algumas vezes, acredito que desconcertada por meu atrevimento em encará-la daquela maneira.
- Não foi nada. E quanto ao despertador, acontece com todos. – Dei o melhor sorriso que encontrei para ela. Se eu achava ela linda, agora tão perto, estava achando que ela era um anjo.
- Bom, vamos indo, o sinal vai tocar e se não estivermos na porta da sala, seremos trancados fora dela! – disse e riu. Começamos a caminhar a passos largos até nossa sala. – É o irmão da Rafa, né? – perguntou.
- Sim! O irmão invisível. – tentei fazer piada e ela riu.
- Você é engraçado... – parou no meio da frase, tentando lembrar o meu nome.
- . – respondi a pergunta deixada no ar por ela. - Me perdoe, tenho memória fraca para nomes. Obrigada de novo. – disse e sorriu.
O sinal já havia tocado e a professora já vinha em nossa direção, abriu a porta e entramos na sala. Ela foi se juntar a outra integrante da gang, mais precisamente com a Beatriz. Pela graça do Pai, que elas não estudavam todas na mesma sala, credo, seria o fim da minha paciência! As aulas se passaram normais, eu com meus amigos no canto de sempre e a princesa na sua torre com a sua fiel escudeira, sentadas nas mesas que ficavam de frente para o professor. O sinal do intervalo tocou e eu observei sair com a Beatriz, o que eu não esperava é que ela olhasse em minha direção e me flagrasse olhando-a. Mas que merda! E pior ainda foi ela ignorar para não me deixar sem graça. E logo após saiu com a amiga, com certeza para se juntar a minha irmã e a Sabrina.
- Agora nos conte, o que foi aquilo?! – Erick disse, me tirando no transe.
- Aquilo o quê?
- Como aquilo o quê?! Tu e a miss Santa Maria chegando na maior conversa para aula! – Erick me respondeu.
- Se declarou? Ela te quis? Não, sério! – Marlon falou debochando, imbecil.
- Que me declarei o quê! Nem gosto dela. Só fiz o favor de ajudá-la com os livros. – respondi, saindo da sala com meus amigos no meu encalço.
- Não gosta dela... Te faz de doido para passar bem, ou o quê? Qual é, , sabemos que tu morres pelo cérebro de ameba líder! – Marlon disse.
- Não fale dela assim, tu nem a conhece para falar isso. Respeite a . – respondi irritado, só porque ela parecia fútil ela não necessariamente seria assim. Tem tanta gente que aparenta ser o que não é.
- Ei, baixa essa bola! Falei por falar. Só acho que elas são fúteis e estão sempre rebaixando quem elas julgam não ser dignos de dar oi a elas. – Marlon não pensava assim, falava isto por ser apaixonado por minha irmã, e quando foi se declarar levou um baita fora, e desde então desdenha as gurias. Marlon tinha que parar com isso.
- Tu sabes bem que isso não verdade. Só fala isso porque é apaixonado pela Rafaela. Ela só não gosta de ti, aceita e não ofende para tentar atingir ela. Ou simplesmente, te acalma e tenta de novo. – disse e Marlon riu fraco, acertei em cheio.
- Ela está ficando com o Murilo. Aquele ela quer, é presidente do grêmio estudantil, já eu sou um zé ninguém. Tua irmã não é como nós. E se eu fosse você, tirava a da cabeça, ela logo aparece com o Gustavo. – Marlon disse e se sentou em dos bancos vagos no sol. Em dias frios achar bancos vazios no sol, era raridade no Instituto Santa Maria.
- Chega desse assunto. Vamos marcar nosso jogo pro sábado? O campo perto de casa vai estar vago, falei com a gurizada lá e está tudo combinado! – troquei de assunto rapidamente, meu amigo não entenderia nada sobre meus sentimentos, visto que a situação dele tinha dado errada. Claro que ele acharia que a minha daria no mesmo, ele estava agindo de modo egoísta mas, mesmo assim, querendo me poupar de passar o que ele passa pela minha irmã.
- Opa, falou futebol, ditou meu nome! – Erick veio se juntar a nós com um pacotão de Fandangos.
Varri com os olhos naquele pátio até achar a gang pink. E quando encontrei, a vi sentada com as gurias em um banco que ficava do outro lado, perto de uma árvore. A observei nos mínimos detalhes, seu cabelo ondulado caído num lado só, acho que era algum penteado, estava sentada encolhida pelo frio, conversava alegre com as amigas, seu sorriso era tão ou mais radiante que o sol que nos iluminava e nos esquentava naquela manhã. Eu precisava conquistar essa guria, mas de que jeito? De repente, apareceu o tal Gustavo e o Murilo, ficante ou sei lá o que da minha irmã. Notei que Marlon fez uma careta quando se deparou com a cena. Observei o comportamento de quando Gustavo se aproximou dela. Ela me pareceu ser educada com ele e ficaram conversando, toda vez que ele tentava abraçá-la ou tocá-la, ela desviava e sorria, mas não de timidez, e sim nervosismo, como se quisesse mandá-lo para o raio que o partisse. Gostei disso, gostei muito.
- Mas são dois patetas mesmo! Ficam aí babando pelas bonitas e não tomam atitude nenhuma. Honrem essas calças, bah*! – Erick disse, chamando minha atenção.
- Olha, falou o galanteador. Tu não pega nem gripe, vai te esconder. – disse rindo da cara de bunda que Erick fez.
- Vocês que pensam! Vou pegar um cineminha maroto com a Beatriz no domingo. E aí, o que me dizem?
- QUÊ? – Murilo e eu exclamamos ao mesmo tempo. Não era possível que o mais lerdo de nós três tenha conseguido tamanha proeza!
- Enquanto vocês ficam bancando os tontos aí, eu faço acontecer.
- Mas como assim? Nem para contar pra gente que estava de olho cumprido pro lado da Beatriz! Bem amigo tu hein! Diz aí, como se deu esse milagre? – perguntei.
- Que drama! Não contei porque não contei. Tô contando agora. Simples, semana passada, quando fomos na tua casa fazer o trabalho de química, pedi o número da Beatriz para a Rafaela e ela me deu. Passei um whats e vamos sair domingo. Dormir no ponto, definitivamente, não é comigo, e isso que sou taxado como o lerdo do trio. – disse e gargalhou da nossa cara.
- Tiro meu chapéu pra ti, cara! – disse.
- Desde quando tu ages assim, Erick? É um orgulho esse guri! Bom... Ao menos um está dando sorte com os cérebros de amebas. – Erick e eu olhamos para ele bem feio. – Vão à merda. – foi o que Marlon nos disse e caímos na gargalhada, os três. Meus amigos eram como meus irmãos, amava aqueles caras.
XXX
“Pela primeira vez na vida pude contemplar o olhar de , e como dizem os poetas: “os olhos são o espelho da alma.” E era a alma daquela guria tão linda que eu queria conhecer. Sua beleza exterior eu já conhecia, assim como todos. Mas eu queria saber mais além. Saber seu interior, chegar até o coração daquela guria, tão misteriosamente bela. Era intrigante o fato dela ser desejada por todos, todos queriam ter ela como namorada, principalmente aquele galãzinho de meia tigela do Gustavo. Ela tinha um jeito meio pimpona de ser, nariz empinado, se achando a última peruca do Egito. Ah é, sou noveleiro, além de nerd. No momento, não perco um capitulo de Os Dez Mandamentos. Vai ver é por isso que ando mais romântico que o normal. Minha irmã me chama de o último romântico e me acha patético por querer surpreender com um buquê de rosas, se caso fôssemos namorados. Mas voltando ao dia de hoje, nos falamos e ela foi gentil comigo, coisa que achei que não seria e me espantei que lembrasse de mim, ok que por ser irmão de uma das suas amigas inseparáveis, mas ainda sim, uma surpresa. Graças a Deus eu não banquei o doido e soube me comportar bem em sua presença e até a fiz rir. Preciso achar uma maneira de conquistá-la. Não me importa o quanto possa ser difícil e impossível! Eu a quero e vou ter. Só tenho que botar esse cérebro brilhante, que tenho desde que nasci, para funcionar. Uma forcinha dos céus, seria muito bem-vinda! – parei de escrever e olhei para o teto do meu quarto e fiz uma cara de pidão. – Não vou perder minha confiança, se até o Erick teve coragem e tomou uma atitude, eu não posso ficar parado e deixar essa barreira de que populares não se misturam com os nerds e oprimidos, isso é clichê de filme, pode até ser verdade, mas eu não aceito. seria minha namorada, e mesmo que eu levasse um toco, seria depois de tentar muito e perceber que realmente não conseguiria nada. Vá a luta, . Já diz o ditado que Deus ajuda quem cedo madruga. Tá certo que esse ditado é mais para usar em metáforas de trabalho, mas vocês entenderam.”
- Escrevendo outra vez! Morro de curiosidade para ler o que tanto digita nesse treco! – Rafaela apareceu na porta. Ela jamais perde a mania de aparecer do nada.
- E vai ficar morrer na curiosidade. – disse e ri da cara de emburrada que ela fez. – Olha, tu poderia dar uma maneirada com o Murilo? O Marlon fica péssimo quando vê vocês.
- Ah, é que... Ai, ele tem que entender que nós não vamos ter nada um com o outro. Eu gosto do Murilo. – minha irmã respondeu de um modo estranho. Era impressão minha ou ela estava afim do Marlon, mas namorava o Murilo por ser melhor para o currículo de pegas dela?
- Por um acaso tu dispensou o Marlon por que ele é da parte inferior do colégio ou por que é amigo do seu irmão nerd, estranho e loser? – perguntei sério e ela me olhou sem ação. – Mas não é possível, Rafinha! Desse jeito eu vou concordar com o Marlon, que todas vocês são uns cérebros de amebas.
- Marlon fala isso de mim? E tu deixa? Belo irmão eu fui arrumar. – disse e colocou as mãos na cintura sem me olhar diretamente. Ela e mamãe tinham essa mania de desviar o olhar e pôr as mãos na cintura quando queriam desviar do assunto.
- Eu te defendo, mas vendo o que está fazendo... Está sendo infantil e idiota.
- Falou o que acha que vai namorar a , te enxerga! E vai te catar com suas opiniões de quem eu devo ou não ficar. – Rafaela saiu do meu quarto batendo a porta com toda força.
Típica reação quando eu descubro suas artimanhas. É difícil lidar com ela, mas era minha irmã e queria o melhor para ela. Estava se deixando levar por Beatriz e Sabrina, aquelas sim, são insuportáveis! Espero que ela caia em si. Salvei o arquivo do Word, desliguei o notebook, vesti minha calça de pijama e um moletom surrado e me enfiei debaixo das cobertas. Acionei o alarme do celular, virei para o canto e então tentei adormecer, só tentei mesmo. não saía dos meus pensamentos de jeito nenhum. Eu gostava daquela guria, como nunca tinha gostado de nenhuma outra antes e logo a que nunca me deu um indício que eu podia ter esperanças. Não pude frear as lembranças que vieram a seguir na minha mente, o dia que a conheci.
“Era uma sexta-feira, o dia da semana que todo aluno ou aquele que não trabalha no fim de semana almeja que chegue o mais rápido possível. Estava sentado no banco que ficava perto da entrada do colégio, esperava minha irmã para irmos embora, estava louco para chegar em casa e passar a tarde inteira de boas jogando vídeo game. Algumas risadas me chamaram a atenção, minha irmã vinha com suas amigas do peito, porém, uma me era desconhecida. Quem era aquela? Elas se aproximavam cada vez mais de onde eu estava, e com mais nitidez, pude ver quem era a tal guria. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo meio pro lado, fazendo com que o cabelo ficasse caído no seu ombro esquerdo. Vestia uma calça jeans e uma camiseta, e mesmo com aquela combinação ultra simples, ela estava linda, ainda bem que estava sentado, assim não precisei pagar um mico de cair pra trás e ainda com cara de trouxa. Minha irmã chegou e logo nos apresentou.
- Maninho, essa é a , ela chegou hoje ao nosso colégio. , esse é meu irmão mala, . – Rafaela disse e eu quase disse um palavrão bem dito pra ela. Fica queimando meu filme com as amigas delas, que raiva.
- Oi! Prazer em conhecê-lo! Vocês estão sendo bem simpáticos comigo. Começo minhas aulas na segunda, hoje vim só saber os horários e em qual turma irei pertencer. – disse e sorriu em minha direção. Que isso, cara, ela era de outro mundo, estava babando por ela.
- Seja, é... – travei no começo da frase, mas me recuperei logo para ao menos desejar boas-vindas a ela. – Seja bem-vinda! Em que turma ficou?
- Na turma 308. Fica na sala 20.
- Olha que coincidência, é a minha turma e a do também! – Beatriz disse alegre como se tivessem dito que na esquina ia ter feira de roupa por metade do preço. Eu só fiquei parado tentando não parecer bobão.
- Já terei amigos, isso é bom! Vir no último ano para uma escola diferente e em outro estado é complicado. Bom, tive sorte. – ela disse e sorriu. Podia ficar anos vendo aquele sorriso, por um momento pensei em como seria se aquele sorriso fosse pra mim, por minha causa.
- É. – disse e sorri para ela. Me pareceu corar e logo se recompôs.
- Vou indo, até segunda, meninas! Tchau, . – disse e se despediu das gurias com beijinhos no rosto e fez o mesmo comigo, nem preciso dizer que congelei nesse minuto e fui zoado pela minha irmã pelo resto do dia.”
É claro que essa lembrança já estava registrada nos meus rabiscos digitais no Word. Claro que a não ficou minha amiga, se juntou com a chata da minha irmã e as amiguinhas dela e se tornou a líder delas. Vocês que pensam que isso de grupo de populares só tem em história fictícia, lhes digo que existe na realidade, não sei se em todos colégios do mundo, mas no meu tinha. Desejaria com todas as forças que fosse uma das gurias comuns, ou até mesmo das que eu tinha uns rolos, seria tudo mais fácil e poderíamos estar até namorando, talvez. Mas não, ela tinha que ser a rainha e eu um simples camponês. Com a alma romântica de um escritor. Adormeci em meio a mais uma das minhas lamentações por gostar da garota errada.
Capítulo 2
Eu não conseguia tirar a cena de ontem da minha cabeça, esteve tão perto de mim como nunca esteve desde que entrou para o Instituto Santa Maria. Aqueles olhos me analisando pareciam me atormentar aonde eu fosse. E para piorar tinha que ouvir o Erick falar da Beatriz o tempo todo, aquele estava apaixonado sem nem se dar conta. A professora de literatura nos passou um trabalho que deveria ser feita em duplas, deveríamos criar uma história e apresentá-la a turma. Fiquei empolgado com o trabalho. De repente a voz da minha irmã veio em minha mente:
Se a quer, se mexa!
E o que fiz a seguir, nem eu acreditei que fui capaz de fazer tamanho feito.
- ! – exclamei meio nervoso ao lado da mesa dela e então ela se virou e sorriu.
- Sim.
- Quero te convidar para ser minha dupla nesse trabalho, topa? – disse tentando não me atrapalhar nas palavras e sendo o mais normal possível.
- Ah, bom... Espere! – ela se virou para falar com a amiga. – Beatriz, se importa se eu fizer o trabalho com o ? – torci mentalmente para que a amada do Erick dissesse que não e facilitasse o meu lado.
- Se o se deu o trabalho de sair de seu canto isolado na sala para vir até aqui te convidar, é porque realmente quer fazer o trabalho contigo. Ou quer é ter a sua companhia? – Beatriz disse e me olhou com um sorrisinho debochado nos lábios, mas que raiva! pareceu bem incomodada com aquela insinuação de que eu queria usar o trabalho para chegar nela. E Beatriz ao perceber, desfez o sorriso e se desculpou, mais com a do que comigo. Isso me intrigou tanto que até não me importei de ter ficado desconcertado com aquela situação.
- Então aceito! – meus amigos, eu só não gritei de euforia por aquela atitude de supetão ter dado certo, porque iriam me chamar de maluco. – Me espera quando der o sinal do intervalo? Aí a gente combina como vamos fazer o trabalho! Pode ser?
- Cla...ro. Digo, fechou! – sorri e me encaminhei ao meu lugar na velocidade da luz, encontrando meus amigos em estado de choque. Provavelmente olhando aquela cena de fora eu também estaria.
- Como tu fez isso? Eu estou alucinando ou tu foi convidar a miss beleza para fazer dupla contigo? – Marlon como sempre se admirando das minhas atitudes, mas essa eu até deixava passar porque foi inédita.
- Só pensei e fiz. E é só um trabalho, nada demais. – disse, desconversando e copiando as instruções que precisaríamos para o trabalho.
- É a tua chance, cara. – Erick se pronunciou entusiasmado com minha atitude.
- Eu torço para que ao menos tu e o Erick consigam alguma coisa positiva. – Marlon disse e me pareceu sincero e melancólico. Me deu pena do meu amigo, ele realmente gosta da minha irmã e ela é tão patética ao ponto de preferir aparecer com o Murilo ao invés de dar uma chance para ele.
- Parem de me estressar. Vão copiar as coisas em silêncio. – meus amigos riram e enfim me deixaram em paz.
E eu? Fiquei contando os minutos para o bendito sinal tocar e o intervalo chegasse de uma vez.
Estava sentado em um banco que ficava mais afastado do pátio, perto de uma das árvores, esperando ela. Não vou mentir, estava tão nervoso... Muito mais nervoso de quando eu estava na fila da montanha-russa do Beto Carreiro. Avistei ela falando alguma coisa com as amigas e virou-se para me procurar – imagino que era isso – e me encontrou e sorriu dando um até mais para as amigas, vindo para onde eu a esperava.
- Oi, ! Desculpa meu atraso de... – ela checou a hora em seu relógio para ter certeza do quanto havia se atrasado. – três minutos!
- Relaxa. E então... Já tem ideias sobre nossa história? – perguntei, ainda agindo feito um pateta. Melhore, !
- Ah... Tenho vontade de escrever sobre um romance! Um romance colegial. – falou , animada. Como ela consegue ser tão linda? – Leio muitas histórias online com esse tema, sim, eu sei que você deve estar pensando que é clichê e ninguém curtiria ler, mas quando gostamos de um assunto, acredito que devemos escrever sobre ele, mesmo que muitos já tenham feito antes de você. – ela respirou fundo e tornou a falar, visto que eu não dei resposta alguma. – Claro, se minha dupla não tiver outra ideia para debater.
Foi então que tive a ideia de usar minha própria história e assim me declarar entre linhas para ela, bom, eu esperava que ela notasse isso.
- Sabe, vou contar um segredo que poucos conhecem. Posso confiar em ti? – perguntei e ela assentiu curiosa, seu olhar brilhou. – Eu escrevo. E por uma feliz coincidência, posso assim dizer, o que estou produzindo é um romance colegial.
- Sério? Ai meu Deus! Que lindo, você escreve. Admiro tanto quem tem esse dom. – disse e por breves segundos nos olhamos e, num lapso de coragem, segurei seu olhar e rapidamente percebendo isso, ela quebrou o contado visual um pouco incomodada. Devo pegar isso como um sinal de esperança? Entre o sim e o não, prefiro o sim.
- Obrigado pela parte que me toca, . – disse e sorri. – Então como vamos fazer para nos reunirmos para que eu te mostre o que tenho escrito?
- Pode ser na sua casa? A minha está em obras e aquela barulheira não vai nos permitir pensar com calma para o trabalho!
- Claro! – falei rapidamente mostrando empolgação excessiva. Ótimo.
- Vou passar o sábado na sua casa! Já tinha falado com a Rafaela de passar um sábado com ela e assim eu faço as duas coisas! Passo um tempo com a minha amiga e damos início ao nosso conto de literatura! Combinado? – disse e se levantou. – Falta um minuto para tocar o sinal, vamos?
- Sim e sim! – disse e rimos.
O resto da manhã seguiu normal, tirando minha ansiedade para sábado. Eu vou passar um tempo com a , só eu e ela. Não podia de jeito nenhum ser um pateta - não que eu não fosse um – mas perto dela não podia ser, definitivamente.
Se a quer, se mexa!
E o que fiz a seguir, nem eu acreditei que fui capaz de fazer tamanho feito.
- ! – exclamei meio nervoso ao lado da mesa dela e então ela se virou e sorriu.
- Sim.
- Quero te convidar para ser minha dupla nesse trabalho, topa? – disse tentando não me atrapalhar nas palavras e sendo o mais normal possível.
- Ah, bom... Espere! – ela se virou para falar com a amiga. – Beatriz, se importa se eu fizer o trabalho com o ? – torci mentalmente para que a amada do Erick dissesse que não e facilitasse o meu lado.
- Se o se deu o trabalho de sair de seu canto isolado na sala para vir até aqui te convidar, é porque realmente quer fazer o trabalho contigo. Ou quer é ter a sua companhia? – Beatriz disse e me olhou com um sorrisinho debochado nos lábios, mas que raiva! pareceu bem incomodada com aquela insinuação de que eu queria usar o trabalho para chegar nela. E Beatriz ao perceber, desfez o sorriso e se desculpou, mais com a do que comigo. Isso me intrigou tanto que até não me importei de ter ficado desconcertado com aquela situação.
- Então aceito! – meus amigos, eu só não gritei de euforia por aquela atitude de supetão ter dado certo, porque iriam me chamar de maluco. – Me espera quando der o sinal do intervalo? Aí a gente combina como vamos fazer o trabalho! Pode ser?
- Cla...ro. Digo, fechou! – sorri e me encaminhei ao meu lugar na velocidade da luz, encontrando meus amigos em estado de choque. Provavelmente olhando aquela cena de fora eu também estaria.
- Como tu fez isso? Eu estou alucinando ou tu foi convidar a miss beleza para fazer dupla contigo? – Marlon como sempre se admirando das minhas atitudes, mas essa eu até deixava passar porque foi inédita.
- Só pensei e fiz. E é só um trabalho, nada demais. – disse, desconversando e copiando as instruções que precisaríamos para o trabalho.
- É a tua chance, cara. – Erick se pronunciou entusiasmado com minha atitude.
- Eu torço para que ao menos tu e o Erick consigam alguma coisa positiva. – Marlon disse e me pareceu sincero e melancólico. Me deu pena do meu amigo, ele realmente gosta da minha irmã e ela é tão patética ao ponto de preferir aparecer com o Murilo ao invés de dar uma chance para ele.
- Parem de me estressar. Vão copiar as coisas em silêncio. – meus amigos riram e enfim me deixaram em paz.
E eu? Fiquei contando os minutos para o bendito sinal tocar e o intervalo chegasse de uma vez.
XXX
Estava sentado em um banco que ficava mais afastado do pátio, perto de uma das árvores, esperando ela. Não vou mentir, estava tão nervoso... Muito mais nervoso de quando eu estava na fila da montanha-russa do Beto Carreiro. Avistei ela falando alguma coisa com as amigas e virou-se para me procurar – imagino que era isso – e me encontrou e sorriu dando um até mais para as amigas, vindo para onde eu a esperava.
- Oi, ! Desculpa meu atraso de... – ela checou a hora em seu relógio para ter certeza do quanto havia se atrasado. – três minutos!
- Relaxa. E então... Já tem ideias sobre nossa história? – perguntei, ainda agindo feito um pateta. Melhore, !
- Ah... Tenho vontade de escrever sobre um romance! Um romance colegial. – falou , animada. Como ela consegue ser tão linda? – Leio muitas histórias online com esse tema, sim, eu sei que você deve estar pensando que é clichê e ninguém curtiria ler, mas quando gostamos de um assunto, acredito que devemos escrever sobre ele, mesmo que muitos já tenham feito antes de você. – ela respirou fundo e tornou a falar, visto que eu não dei resposta alguma. – Claro, se minha dupla não tiver outra ideia para debater.
Foi então que tive a ideia de usar minha própria história e assim me declarar entre linhas para ela, bom, eu esperava que ela notasse isso.
- Sabe, vou contar um segredo que poucos conhecem. Posso confiar em ti? – perguntei e ela assentiu curiosa, seu olhar brilhou. – Eu escrevo. E por uma feliz coincidência, posso assim dizer, o que estou produzindo é um romance colegial.
- Sério? Ai meu Deus! Que lindo, você escreve. Admiro tanto quem tem esse dom. – disse e por breves segundos nos olhamos e, num lapso de coragem, segurei seu olhar e rapidamente percebendo isso, ela quebrou o contado visual um pouco incomodada. Devo pegar isso como um sinal de esperança? Entre o sim e o não, prefiro o sim.
- Obrigado pela parte que me toca, . – disse e sorri. – Então como vamos fazer para nos reunirmos para que eu te mostre o que tenho escrito?
- Pode ser na sua casa? A minha está em obras e aquela barulheira não vai nos permitir pensar com calma para o trabalho!
- Claro! – falei rapidamente mostrando empolgação excessiva. Ótimo.
- Vou passar o sábado na sua casa! Já tinha falado com a Rafaela de passar um sábado com ela e assim eu faço as duas coisas! Passo um tempo com a minha amiga e damos início ao nosso conto de literatura! Combinado? – disse e se levantou. – Falta um minuto para tocar o sinal, vamos?
- Sim e sim! – disse e rimos.
O resto da manhã seguiu normal, tirando minha ansiedade para sábado. Eu vou passar um tempo com a , só eu e ela. Não podia de jeito nenhum ser um pateta - não que eu não fosse um – mas perto dela não podia ser, definitivamente.
Capítulo 3
Ouvi uma gargalhada vinda do que me pareceu a distância, era da porta do meu quarto, era minha querida irmã.
- É sério que tu vai vestir isso? – ela apontou pra mim com cara de desdém. Estava vestindo uma calça de moletom, uma jaqueta de nylon, uma touca e tênis.
- O que tem de errado? – perguntei.
- Por incrível que pareça, maninho, só a jaqueta e a touca! – sua cara de desdém agora era de surpresa. – Cadê seu moletom preto? Aquele que comprou semana passada. – perguntou já revirando meu guarda-roupa atrás do moletom. – Ah! Aqui, achei! Tire essa jaqueta e vista o moletom. Agora vou procurar uma touca que combine com esse estilo. Essa que tu escolheste está muito: vamos esquiar. – Rafaela fez cara de desdém outra vez e abriu a gaveta onde guardava minhas toucas e enquanto isso vesti o moletom. – Agora troque a touca por essa. – toda sorridente me alcançou a touca cinza que combinava com o tom da calça.
- E agora?
- Perfeito! Agora é contigo, já te fiz o favor de te vestir com um pingo de senso de moda. E antes que reclame, não está parecendo quem não é, só um pouco mais ajeitado! – Rafaela disse animada.
- Bom, até que tu acertaste desta vez. Estou bonito! Mas... – não consegui completar a frase. Essa seria minha chance com a e não poderia desperdiçar.
- Mano, só seja tu mesmo. Se a tiver que gostar de ti, ela irá gostar. Eu sei que sou uma irmã chata e talvez não responda suas expectativas. – Rafinha suspirou, imaginei que estivesse querendo se desculpar por não assumir seu interesse em Marlon. Ah, minha irmã é tão difícil de lidar. – Mas eu quero de coração que tu consigas conquistá-la. Qualquer uma teria uma baita sorte de estar do teu lado e, claro, ganhar uma cunhada antenada na moda, como eu. – ela disse e riu com o final de seu discurso.
- Estamos muito melancólicos esta manhã, não? Tu és como é, e eu a amo assim. Creio que esse assunto do seu coração só irá resolver se tomar coragem, hum. Meu ato de coragem súbita veio de um empurrãozinho seu, quem sabe um meu não te ajude também. – sorri e a abracei.
- Como assim? – perguntou ela com aquele velho ar conhecido por mim: a curiosidade.
- Se a quer, se mexa! Essa frase cravou na minha mente.
- Sou demais, pode dizer! – Rafaela disse e em seguida me deixou sozinho para ir atender a porta.
Parecia que tinha levado um soco na boca do estômago. Era nove horas, portanto eu só a cumprimentaria, pois durante a manhã ela ficaria com a Rafaela fofocando e depois do almoço focaríamos no nosso trabalho literário.
O convite repentino de me deixou surpresa, devo admitir. Nunca fomos próximos, mesmo que ele seja o irmão de umas das minhas amigas. Desde que meu pai foi transferido de São Paulo para Santa Maria, no Rio Grande do Sul, custei a me adaptar. Tudo novo, vizinhança, colégio, amigos. Acredito que dei sorte de me enturmar tão rápido por aqui. Acabei me tornando uma das populares, o que pra mim é uma piada, já que onde eu estudava não passava de uma aluna comum que sentava no fundão da sala, e acreditem, pouco sociável. Tinha meu grupinho e raramente conversava com alguém de fora. Sempre fora muito tímida. E com a mudança de estado, decidi que mudaria de atitudes, chega de ficar escondida. Chegando no Instituto Santa Maria, respirei fundo e determinei minha mudança. Foi quando conheci a Rafaela, e suas amigas. Depois de um mês, eu já estava conhecida na escola inteira, talvez por ser pequena, me senti acolhida como nunca antes. Espero que papai fique por muito tempo por aqui. O sotaque das pessoas por aqui é encantador, aos poucos ainda estou me acostumando com ditos, palavras que eles dizem que eu não conheço, as meninas me ajudam nisso, e sempre é um momento de risadas. Agora estou aqui, pensando que daqui a pouco vou me reunir com o para realizarmos o trabalho de Literatura. Ele me pareceu ser um garoto sensível e inteligente, e um pouco atrapalhado, o que o deixava fofo. Não, , seu coração não está pronto, e nem você. Mas sinto que uma amizade pode surgir, ele sempre foi reservado, mesmo sendo meu colega de classe, e o fato dele escrever me encantou. Sou apaixonada por leitura, meu quarto tem uma estante lotada de livros, é o que mais compro. Existe aquela história que toda patricinha vive só pra maquiagens e compras. Não generalize, eu sou toda livros! Chega de pensar, é hora de me arrumar. Olhei para cama vendo meu look separado: calça de veludo vinho, blusa de lã gola alta, um coletinho para esquentar, e o moletom branco com estampa de um urso panda e bota de camurça, porque estava um frio danado. Coloquei tudo que precisava na mochila e desci, encontrando minha mãe sentada no sofá, fazendo seu crochê.
- Mãe, já estou indo para casa da Rafaela! Volto depois das 18h00.
- Se cuide meu bem, e bom trabalho! Qualquer coisa me ligue. – mamãe se levantou e me deu um beijo na testa, sorri e saí.
Ouvi a voz da na sala, já estava rindo de alguma coisa que a Rafaela dizia. Dei uma última olhada no espelho para ver se eu estava apresentável, não me julguem, hoje eu ia me declarar para guria mais linda da escola, e o medo que eu estava de levar um fora? Ah, meu amigo, nem te conto! Desci as escadas tentando ser descontraído e espantar aquele maldito nervosismo!
- Olá! – disse assim que apontei na escada e avistando as duas no sofá da sala. – Qual a piada?
- Oi, ! Só estávamos pondo umas fofocas em dia! – disse .
- Vocês andam sempre grudadas e mesmo assim tem papo para pôr em dia? – perguntei me aproximando delas.
- Claro! Amigas nunca terminam seus assuntos! – Rafaela disse.
- Gostei do moletom! – disse e em seguida não contive o sorriso, e quando olhei para minha irmã ela piscou esperta pra mim.
- Ah... Valeu! Vou deixar vocês conversando, tenho que terminar minha parte no trabalho de geografia, do contrário Marlon vai me encher a vida! Até depois. – disse e sorri para , ela desviou o olhar do meu e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. Linda...
Meu pai não estava em casa, tinha ido com uns amigos na cidade vizinha. Então para o almoço ficou , minha mãe, minha irmã e eu. Mamãe fez um sopão, daqueles que se tu não repetir o prato, está se fazendo de louco. O almoço foi tranquilo, falamos do colégio, das notas, coisas assim. Me levantei, peguei meu prato e deixei na pia, pedi licença e subi para meu quarto para separar as coisas para fazer o trabalho com .
- Que quarto legal! – ouvi a voz de atrás de mim e levei um susto.
- Que susto! Tem muito tempo que está aí? – perguntei pra ela, me virando por fim.
- Não, não! Cheguei agora, me desculpe se fui intrometida. Eu...
- Bem capaz*, tudo bem linda! – disse e ela sorriu para mim. – Senta aí, já vou pegar o caderno com minhas ideias, para começarmos.
sentou na cadeira da escrivaninha, ainda observando a decoração do meu quarto. Ela tirou um caderno e um estojo azul da mochila. Me sentei na cama mesmo, mas antes liguei o aquecedor, porque ninguém queria congelar ali.
- E o que tem em mente, ? – perguntou.
- Como disse, tenho engatado um romance colegial. Nessa história o guri é muito apaixonado por uma das gurias mais populares do colégio dele. Mas ao contrário de contos que o nerd se sente inferior, ele não é assim. É confiante e quer lutar para conquistar o coração dela. Na história ele é músico e planeja mostrar uma música que ele compôs a ela, é sua declaração mais nua e crua para que ela entenda que ele a ama.
- Uau. Você realmente tem uma mente brilhante, ! – disse ela.
- Obrigado. – sorri desajeitado.
- Sabe, amo seu sotaque. Rafaela tem mais sotaque que você.
- Ah, é que como eu leio mais e fico direto na internet, meu sotaque se perdeu um pouco.
- Mas continua lindo! Sabe, para desenvolver uma história assim, das duas uma, ou se inspirou em algo, ou está apaixonado. E algo me diz que é a segunda opção. – ela disse e franziu o cenho me observando.
- E como toda guria observadora, que está se revelando ser, acertou. Deveria ter tido coragem antes para me aproximar, é uma ótima companhia, . – disse mantendo a calma, ganhando a simpatia dela antes de lhe falar sobre meus sentimentos.
- É, ser “popular” corre as pessoas. – ela disse e veio se sentar ao meu lado. – Sabe, contarei algo que nem a Rafaela sabe. No meu outro colégio, em São Paulo, eu era a invisível do fundão com a turminha limitada. Nunca me dei muito bem em ser sociável, ser tímida é um problema, às vezes. Mas decidi mudar e bem, estou aqui sendo uma das Rosas e sendo sua amiga. – ela disse e ficamos nos olhando por alguns segundos até, como sempre, ela desviar.
- Meio difícil imaginar tu sendo invisível, apagada.
- Mas acredite, eu era. E, bom, me conta por quem está apaixonado? Talvez eu possa usar minha posição de elite para te ajudar! – disse sorridente e deu uma piscadela.
- Tenho medo que ela não me queira por ser quem sou. Quer dizer, olha pra mim. Não jogo no time, não sou do grêmio estudantil, nem do clube do cálculo que dá prêmios pro colégio, eu sou. E ela, bem... ela é incrível. – disse vendo uma confusa, tentando me entender.
- Olha, se você continuar a se diminuir desta maneira, é bem provável que ela não te queira mesmo. , a pessoa tem que te amar pelo que você é, não pelo que ela quer que você seja.
- Realmente ela é incrível, sabe. Na última... – chequei o tempo em que estávamos conversando no relógio. – meia-hora, só confirmei e me apaixonei ainda mais por ela.
Pronto, havia jogado os sentimentos na mesa. Que Deus me ajude! pareceu congelar, mesmo com o aquecedor ligado no 25ºC.
- Você está se... está...
- Sim, estou. A guria por quem estou e sempre estive apaixonado, desde o começo do ano é você. Desde que chegou e fomos apresentados eu não me lembro um dia sequer que não pensasse em ti.
Me aproximei dela devagar, seu olhar estava assustado e surpreso, conforme a distância entre nós ia diminuindo, o que não era tanta porque ela estava quase do meu lado, sua respiração acelerava, estava a deixando nervosa. Seria um indício que podia ser correspondido? Quando enfim toquei seus lábios, ela se levantou rapidamente, me deixando na vontade de provar seus lábios.
- Não, . Me desculpe, mas não posso. Não me leve a mal por favor, não é você e nem por tudo que falou. Eu só não estou preparada para isso.
- Por quê? Alguém te feriu? Está apaixonada por outro? Deixou alguém em São Paulo? – perguntei aflito, algo me dizia que ela também me correspondia.
- Não, é só que... Vamos deixar isso aqui, tá? Decidimos o que faremos pelo whats. Eu vou indo. – se virou e caminhou alguns passos até a escrivaninha para arrumar suas coisas na mochila.
- Me desculpe, não deveria ter feito isso. Me declarar, assim. Que ridículo. Me sinto um idiota. – disse.
- Não, . Foi lindo! Acho que nunca se declaram pra mim, nada parecido, é só que... – novamente ela travou. Mas que raios a está afligindo? – Amigos, sim? – ela estendeu a mão em minha direção. – Só amigos. – estendi minha mão com o coração apertado e completei nosso aperto de mão. Então ela sorriu pequeno e sumiu pela porta, sem olhar para atrás.
- , o que houve? saiu e nem se despediu direito! – nem tive tempo de processar o que aconteceu e minha irmã já estava na porta do meu quarto fazendo perguntas.
- Não sei. Eu só me declarei e tentei beijá-la.
- Tu fizeste o quê? Não, pera! Realmente tentou beijá-la? – Rafaela estava surpresa.
- Não, tô zoando! Claro né, Rafaela. Mas acho que fiz algo errado, não sei.
Pelo jeito minha irmã não entendeu o que aconteceu, pois sua confusão era visível. Mas não era possível que eu tinha estragado aquela chance de conquistar a . Só acontece comigo.
Quando cheguei em casa, já eram quatro horas. Minha mãe achou estranho quando me viu subir as escadas o mais rápido que pude e veio atrás de mim, toda preocupada.
- O que houve? Chegou antes das seis! – mamãe entrou e fechou a porta.
- Mãe, o irmão da Rafaela, o , o garoto que é minha dupla no trabalho de literatura. – mamãe assentiu e me permitiu continuar sem falar nada. - Tentou me beijar!
- E o que tem de mau nisso? Não gosta dele? Ele foi invasivo? – perguntou mamãe.
- Não! Ele é um fofo, lindo. Se declarou pra mim. Mas... Poxa, mãe, eu tenho só 17 anos, e nunca beijei! Isso é uma tragédia, sou a única do meu grupo de amigas e elas não sabem disso. Pensam que eu só optei por não namorar por enquanto. – estava sentada na beira da cama olhando pro chão, me sentindo patética.
- Ai, minha princesa, não é o fim do mundo não ter sido beijada na sua idade. – ia protestar mas ela levantou o dedo indicador para não interromper, assim fiz. – É normal seu nervosismo, do nada o garoto se declarou e tentou te beijar, você não estava preparada. Em segundo, isso não tem nada de tragédia, se suas amigas já beijaram é porque elas acharam o momento certo e você não! Isso vai de cada um, meu amor. Seja sincera com o garoto e não tenha medo de contar as suas amigas, ser sempre você mesma com as pessoas é importante. – finalizou ela com um sorriso doce.
- Isso é tão complicado. Eu pareço ser tão confiante, mas quando gosto de um garoto isso muda, eu tenho medo de fazer tudo errado. – disse.
- São fases, que todas nós um dia já passamos. Tenha calma, o momento certo irá chegar. Não cometa o erro de achar que é obrigada a beijar alguém porque suas amigas já beijaram. – disse mamãe e sentou-se ao meu lado.
- E como vou saber quando esse momento certo chegar? – perguntei.
- Seu coração ficará leve e você irá optar por tentar. – minha mãe tinha o poder de me acalmar com sua compreensão e amor.
Ouvimos o som da campainha, mamãe me deu um breve abraço e foi atender a porta. Não demorou muito e vi Rafaela aparecer na porta. Era o que faltava, ter que dar explicações. Mas minha mãe estava certa, tinha que ser sincera.
- Amiga, me contou o que houve. O pobre está envergonhado, achou que tu ia amar a declaração. Ele sempre foi apaixonado por ti, isso eu asseguro. Mas como tu sempre te mostra relutante a relacionamentos, achei melhor não me meter e dar força pro meu irmão. Sabe, eu e ele brigamos muito, mas nos amamos e não quero que ele se iluda e sofra. – Rafaela disse e sentou-se no meu puff azul que ficava de frente pra cama.
- Eu... Eu tenho que te contar algo. Desde que cheguei aqui, fui tão bem recebida que até fiquei no meio dos populares do Instituto Santa Maria, e de onde vim, não cheguei nem perto disso. – Rafaela me ouvia atentamente. – E por eu ser tão tímida eu só ficava entre meus amigos, e eu...
- Fale, ! Eu sei que tenho um jeito muito bruto às vezes e bem patricinha, mas tenho um coração e sei ser compreensiva. – Rafaela disse e nós rimos.
- Eu sei bem! E teimosa que só você. Sabemos que esse coração bate por alguém, que não é o Murilo. – disse e vi minha amiga fechar o sorriso imediatamente.
- Não desvia o assunto, guria! Estamos falando de vossa pessoa. Continue!
- Está bem, está bem. É que... ok! Nunca beijei ninguém. Fiquei em pânico quando tentou me beijar e fugi. Pode rir de mim, agora. – disse e coloquei as mãos no rosto.
- Rir de quê? Pare de palhaçada! Tá que se fomos olhar de um modo geral, 17 anos já é uma idade que a maioria já beijou, mas cada um é cada um. O que eu posso fazer para te ajudar? – Rafaela disse, levantou-se do puff e veio me abraçar.
- Obrigada por me compreender, Rafa. É importante pra mim. Quero que desiluda o . Diga que eu gosto do Gustavo.
- Quê? Por quê? Ele é pouco pra ti? – Rafaela perguntou confusa.
- Claro que não! Ele é um lindo, pensei muito nele desde que me convidou para ser sua dupla. – disse e logo me vi sorrindo como boba.
- Ok, você gosta dele mas prefere dar razão ao teu medo de estragar o beijo, ou que ele te ache ridícula por não ter beijado antes. Mas olha, te garanto, o não é assim!
- Por favor, só faça o que te pedi! – pedi a ela com a cara do gato de botas, sempre funcionava.
- Essa carinha... Está certo, ! Não concordo, mas está bem. – ela me disse e rolou os olhos achando tudo muito dramático.
- É sério que tu vai vestir isso? – ela apontou pra mim com cara de desdém. Estava vestindo uma calça de moletom, uma jaqueta de nylon, uma touca e tênis.
- O que tem de errado? – perguntei.
- Por incrível que pareça, maninho, só a jaqueta e a touca! – sua cara de desdém agora era de surpresa. – Cadê seu moletom preto? Aquele que comprou semana passada. – perguntou já revirando meu guarda-roupa atrás do moletom. – Ah! Aqui, achei! Tire essa jaqueta e vista o moletom. Agora vou procurar uma touca que combine com esse estilo. Essa que tu escolheste está muito: vamos esquiar. – Rafaela fez cara de desdém outra vez e abriu a gaveta onde guardava minhas toucas e enquanto isso vesti o moletom. – Agora troque a touca por essa. – toda sorridente me alcançou a touca cinza que combinava com o tom da calça.
- E agora?
- Perfeito! Agora é contigo, já te fiz o favor de te vestir com um pingo de senso de moda. E antes que reclame, não está parecendo quem não é, só um pouco mais ajeitado! – Rafaela disse animada.
- Bom, até que tu acertaste desta vez. Estou bonito! Mas... – não consegui completar a frase. Essa seria minha chance com a e não poderia desperdiçar.
- Mano, só seja tu mesmo. Se a tiver que gostar de ti, ela irá gostar. Eu sei que sou uma irmã chata e talvez não responda suas expectativas. – Rafinha suspirou, imaginei que estivesse querendo se desculpar por não assumir seu interesse em Marlon. Ah, minha irmã é tão difícil de lidar. – Mas eu quero de coração que tu consigas conquistá-la. Qualquer uma teria uma baita sorte de estar do teu lado e, claro, ganhar uma cunhada antenada na moda, como eu. – ela disse e riu com o final de seu discurso.
- Estamos muito melancólicos esta manhã, não? Tu és como é, e eu a amo assim. Creio que esse assunto do seu coração só irá resolver se tomar coragem, hum. Meu ato de coragem súbita veio de um empurrãozinho seu, quem sabe um meu não te ajude também. – sorri e a abracei.
- Como assim? – perguntou ela com aquele velho ar conhecido por mim: a curiosidade.
- Se a quer, se mexa! Essa frase cravou na minha mente.
- Sou demais, pode dizer! – Rafaela disse e em seguida me deixou sozinho para ir atender a porta.
Parecia que tinha levado um soco na boca do estômago. Era nove horas, portanto eu só a cumprimentaria, pois durante a manhã ela ficaria com a Rafaela fofocando e depois do almoço focaríamos no nosso trabalho literário.
XXX
O convite repentino de me deixou surpresa, devo admitir. Nunca fomos próximos, mesmo que ele seja o irmão de umas das minhas amigas. Desde que meu pai foi transferido de São Paulo para Santa Maria, no Rio Grande do Sul, custei a me adaptar. Tudo novo, vizinhança, colégio, amigos. Acredito que dei sorte de me enturmar tão rápido por aqui. Acabei me tornando uma das populares, o que pra mim é uma piada, já que onde eu estudava não passava de uma aluna comum que sentava no fundão da sala, e acreditem, pouco sociável. Tinha meu grupinho e raramente conversava com alguém de fora. Sempre fora muito tímida. E com a mudança de estado, decidi que mudaria de atitudes, chega de ficar escondida. Chegando no Instituto Santa Maria, respirei fundo e determinei minha mudança. Foi quando conheci a Rafaela, e suas amigas. Depois de um mês, eu já estava conhecida na escola inteira, talvez por ser pequena, me senti acolhida como nunca antes. Espero que papai fique por muito tempo por aqui. O sotaque das pessoas por aqui é encantador, aos poucos ainda estou me acostumando com ditos, palavras que eles dizem que eu não conheço, as meninas me ajudam nisso, e sempre é um momento de risadas. Agora estou aqui, pensando que daqui a pouco vou me reunir com o para realizarmos o trabalho de Literatura. Ele me pareceu ser um garoto sensível e inteligente, e um pouco atrapalhado, o que o deixava fofo. Não, , seu coração não está pronto, e nem você. Mas sinto que uma amizade pode surgir, ele sempre foi reservado, mesmo sendo meu colega de classe, e o fato dele escrever me encantou. Sou apaixonada por leitura, meu quarto tem uma estante lotada de livros, é o que mais compro. Existe aquela história que toda patricinha vive só pra maquiagens e compras. Não generalize, eu sou toda livros! Chega de pensar, é hora de me arrumar. Olhei para cama vendo meu look separado: calça de veludo vinho, blusa de lã gola alta, um coletinho para esquentar, e o moletom branco com estampa de um urso panda e bota de camurça, porque estava um frio danado. Coloquei tudo que precisava na mochila e desci, encontrando minha mãe sentada no sofá, fazendo seu crochê.
- Mãe, já estou indo para casa da Rafaela! Volto depois das 18h00.
- Se cuide meu bem, e bom trabalho! Qualquer coisa me ligue. – mamãe se levantou e me deu um beijo na testa, sorri e saí.
XXX
Ouvi a voz da na sala, já estava rindo de alguma coisa que a Rafaela dizia. Dei uma última olhada no espelho para ver se eu estava apresentável, não me julguem, hoje eu ia me declarar para guria mais linda da escola, e o medo que eu estava de levar um fora? Ah, meu amigo, nem te conto! Desci as escadas tentando ser descontraído e espantar aquele maldito nervosismo!
- Olá! – disse assim que apontei na escada e avistando as duas no sofá da sala. – Qual a piada?
- Oi, ! Só estávamos pondo umas fofocas em dia! – disse .
- Vocês andam sempre grudadas e mesmo assim tem papo para pôr em dia? – perguntei me aproximando delas.
- Claro! Amigas nunca terminam seus assuntos! – Rafaela disse.
- Gostei do moletom! – disse e em seguida não contive o sorriso, e quando olhei para minha irmã ela piscou esperta pra mim.
- Ah... Valeu! Vou deixar vocês conversando, tenho que terminar minha parte no trabalho de geografia, do contrário Marlon vai me encher a vida! Até depois. – disse e sorri para , ela desviou o olhar do meu e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. Linda...
Meu pai não estava em casa, tinha ido com uns amigos na cidade vizinha. Então para o almoço ficou , minha mãe, minha irmã e eu. Mamãe fez um sopão, daqueles que se tu não repetir o prato, está se fazendo de louco. O almoço foi tranquilo, falamos do colégio, das notas, coisas assim. Me levantei, peguei meu prato e deixei na pia, pedi licença e subi para meu quarto para separar as coisas para fazer o trabalho com .
- Que quarto legal! – ouvi a voz de atrás de mim e levei um susto.
- Que susto! Tem muito tempo que está aí? – perguntei pra ela, me virando por fim.
- Não, não! Cheguei agora, me desculpe se fui intrometida. Eu...
- Bem capaz*, tudo bem linda! – disse e ela sorriu para mim. – Senta aí, já vou pegar o caderno com minhas ideias, para começarmos.
sentou na cadeira da escrivaninha, ainda observando a decoração do meu quarto. Ela tirou um caderno e um estojo azul da mochila. Me sentei na cama mesmo, mas antes liguei o aquecedor, porque ninguém queria congelar ali.
- E o que tem em mente, ? – perguntou.
- Como disse, tenho engatado um romance colegial. Nessa história o guri é muito apaixonado por uma das gurias mais populares do colégio dele. Mas ao contrário de contos que o nerd se sente inferior, ele não é assim. É confiante e quer lutar para conquistar o coração dela. Na história ele é músico e planeja mostrar uma música que ele compôs a ela, é sua declaração mais nua e crua para que ela entenda que ele a ama.
- Uau. Você realmente tem uma mente brilhante, ! – disse ela.
- Obrigado. – sorri desajeitado.
- Sabe, amo seu sotaque. Rafaela tem mais sotaque que você.
- Ah, é que como eu leio mais e fico direto na internet, meu sotaque se perdeu um pouco.
- Mas continua lindo! Sabe, para desenvolver uma história assim, das duas uma, ou se inspirou em algo, ou está apaixonado. E algo me diz que é a segunda opção. – ela disse e franziu o cenho me observando.
- E como toda guria observadora, que está se revelando ser, acertou. Deveria ter tido coragem antes para me aproximar, é uma ótima companhia, . – disse mantendo a calma, ganhando a simpatia dela antes de lhe falar sobre meus sentimentos.
- É, ser “popular” corre as pessoas. – ela disse e veio se sentar ao meu lado. – Sabe, contarei algo que nem a Rafaela sabe. No meu outro colégio, em São Paulo, eu era a invisível do fundão com a turminha limitada. Nunca me dei muito bem em ser sociável, ser tímida é um problema, às vezes. Mas decidi mudar e bem, estou aqui sendo uma das Rosas e sendo sua amiga. – ela disse e ficamos nos olhando por alguns segundos até, como sempre, ela desviar.
- Meio difícil imaginar tu sendo invisível, apagada.
- Mas acredite, eu era. E, bom, me conta por quem está apaixonado? Talvez eu possa usar minha posição de elite para te ajudar! – disse sorridente e deu uma piscadela.
- Tenho medo que ela não me queira por ser quem sou. Quer dizer, olha pra mim. Não jogo no time, não sou do grêmio estudantil, nem do clube do cálculo que dá prêmios pro colégio, eu sou. E ela, bem... ela é incrível. – disse vendo uma confusa, tentando me entender.
- Olha, se você continuar a se diminuir desta maneira, é bem provável que ela não te queira mesmo. , a pessoa tem que te amar pelo que você é, não pelo que ela quer que você seja.
- Realmente ela é incrível, sabe. Na última... – chequei o tempo em que estávamos conversando no relógio. – meia-hora, só confirmei e me apaixonei ainda mais por ela.
Pronto, havia jogado os sentimentos na mesa. Que Deus me ajude! pareceu congelar, mesmo com o aquecedor ligado no 25ºC.
- Você está se... está...
- Sim, estou. A guria por quem estou e sempre estive apaixonado, desde o começo do ano é você. Desde que chegou e fomos apresentados eu não me lembro um dia sequer que não pensasse em ti.
Me aproximei dela devagar, seu olhar estava assustado e surpreso, conforme a distância entre nós ia diminuindo, o que não era tanta porque ela estava quase do meu lado, sua respiração acelerava, estava a deixando nervosa. Seria um indício que podia ser correspondido? Quando enfim toquei seus lábios, ela se levantou rapidamente, me deixando na vontade de provar seus lábios.
- Não, . Me desculpe, mas não posso. Não me leve a mal por favor, não é você e nem por tudo que falou. Eu só não estou preparada para isso.
- Por quê? Alguém te feriu? Está apaixonada por outro? Deixou alguém em São Paulo? – perguntei aflito, algo me dizia que ela também me correspondia.
- Não, é só que... Vamos deixar isso aqui, tá? Decidimos o que faremos pelo whats. Eu vou indo. – se virou e caminhou alguns passos até a escrivaninha para arrumar suas coisas na mochila.
- Me desculpe, não deveria ter feito isso. Me declarar, assim. Que ridículo. Me sinto um idiota. – disse.
- Não, . Foi lindo! Acho que nunca se declaram pra mim, nada parecido, é só que... – novamente ela travou. Mas que raios a está afligindo? – Amigos, sim? – ela estendeu a mão em minha direção. – Só amigos. – estendi minha mão com o coração apertado e completei nosso aperto de mão. Então ela sorriu pequeno e sumiu pela porta, sem olhar para atrás.
- , o que houve? saiu e nem se despediu direito! – nem tive tempo de processar o que aconteceu e minha irmã já estava na porta do meu quarto fazendo perguntas.
- Não sei. Eu só me declarei e tentei beijá-la.
- Tu fizeste o quê? Não, pera! Realmente tentou beijá-la? – Rafaela estava surpresa.
- Não, tô zoando! Claro né, Rafaela. Mas acho que fiz algo errado, não sei.
Pelo jeito minha irmã não entendeu o que aconteceu, pois sua confusão era visível. Mas não era possível que eu tinha estragado aquela chance de conquistar a . Só acontece comigo.
XXX
Quando cheguei em casa, já eram quatro horas. Minha mãe achou estranho quando me viu subir as escadas o mais rápido que pude e veio atrás de mim, toda preocupada.
- O que houve? Chegou antes das seis! – mamãe entrou e fechou a porta.
- Mãe, o irmão da Rafaela, o , o garoto que é minha dupla no trabalho de literatura. – mamãe assentiu e me permitiu continuar sem falar nada. - Tentou me beijar!
- E o que tem de mau nisso? Não gosta dele? Ele foi invasivo? – perguntou mamãe.
- Não! Ele é um fofo, lindo. Se declarou pra mim. Mas... Poxa, mãe, eu tenho só 17 anos, e nunca beijei! Isso é uma tragédia, sou a única do meu grupo de amigas e elas não sabem disso. Pensam que eu só optei por não namorar por enquanto. – estava sentada na beira da cama olhando pro chão, me sentindo patética.
- Ai, minha princesa, não é o fim do mundo não ter sido beijada na sua idade. – ia protestar mas ela levantou o dedo indicador para não interromper, assim fiz. – É normal seu nervosismo, do nada o garoto se declarou e tentou te beijar, você não estava preparada. Em segundo, isso não tem nada de tragédia, se suas amigas já beijaram é porque elas acharam o momento certo e você não! Isso vai de cada um, meu amor. Seja sincera com o garoto e não tenha medo de contar as suas amigas, ser sempre você mesma com as pessoas é importante. – finalizou ela com um sorriso doce.
- Isso é tão complicado. Eu pareço ser tão confiante, mas quando gosto de um garoto isso muda, eu tenho medo de fazer tudo errado. – disse.
- São fases, que todas nós um dia já passamos. Tenha calma, o momento certo irá chegar. Não cometa o erro de achar que é obrigada a beijar alguém porque suas amigas já beijaram. – disse mamãe e sentou-se ao meu lado.
- E como vou saber quando esse momento certo chegar? – perguntei.
- Seu coração ficará leve e você irá optar por tentar. – minha mãe tinha o poder de me acalmar com sua compreensão e amor.
Ouvimos o som da campainha, mamãe me deu um breve abraço e foi atender a porta. Não demorou muito e vi Rafaela aparecer na porta. Era o que faltava, ter que dar explicações. Mas minha mãe estava certa, tinha que ser sincera.
- Amiga, me contou o que houve. O pobre está envergonhado, achou que tu ia amar a declaração. Ele sempre foi apaixonado por ti, isso eu asseguro. Mas como tu sempre te mostra relutante a relacionamentos, achei melhor não me meter e dar força pro meu irmão. Sabe, eu e ele brigamos muito, mas nos amamos e não quero que ele se iluda e sofra. – Rafaela disse e sentou-se no meu puff azul que ficava de frente pra cama.
- Eu... Eu tenho que te contar algo. Desde que cheguei aqui, fui tão bem recebida que até fiquei no meio dos populares do Instituto Santa Maria, e de onde vim, não cheguei nem perto disso. – Rafaela me ouvia atentamente. – E por eu ser tão tímida eu só ficava entre meus amigos, e eu...
- Fale, ! Eu sei que tenho um jeito muito bruto às vezes e bem patricinha, mas tenho um coração e sei ser compreensiva. – Rafaela disse e nós rimos.
- Eu sei bem! E teimosa que só você. Sabemos que esse coração bate por alguém, que não é o Murilo. – disse e vi minha amiga fechar o sorriso imediatamente.
- Não desvia o assunto, guria! Estamos falando de vossa pessoa. Continue!
- Está bem, está bem. É que... ok! Nunca beijei ninguém. Fiquei em pânico quando tentou me beijar e fugi. Pode rir de mim, agora. – disse e coloquei as mãos no rosto.
- Rir de quê? Pare de palhaçada! Tá que se fomos olhar de um modo geral, 17 anos já é uma idade que a maioria já beijou, mas cada um é cada um. O que eu posso fazer para te ajudar? – Rafaela disse, levantou-se do puff e veio me abraçar.
- Obrigada por me compreender, Rafa. É importante pra mim. Quero que desiluda o . Diga que eu gosto do Gustavo.
- Quê? Por quê? Ele é pouco pra ti? – Rafaela perguntou confusa.
- Claro que não! Ele é um lindo, pensei muito nele desde que me convidou para ser sua dupla. – disse e logo me vi sorrindo como boba.
- Ok, você gosta dele mas prefere dar razão ao teu medo de estragar o beijo, ou que ele te ache ridícula por não ter beijado antes. Mas olha, te garanto, o não é assim!
- Por favor, só faça o que te pedi! – pedi a ela com a cara do gato de botas, sempre funcionava.
- Essa carinha... Está certo, ! Não concordo, mas está bem. – ela me disse e rolou os olhos achando tudo muito dramático.
Capítulo 4
Já fazia duas semanas após o episódio da declaração arruinada, e a única coisa boa em tudo isso foi que consegui escrever mais uns cinco capítulos do meu livro. Agora totalizava dez capítulos prontos. Estou começando a postá-lo no wattpad, uma plataforma onde é postado histórias. E tem sido bem aceito, o que me deixa bem feliz. E, claro, meu trabalho de Literatura com a foi bem elogiado, o nosso conto foi algo parecido com o que venho escrevendo, porém mais compactado e não tão dramático. Rafaela está relutante em me contar o que de fato conversou com a , porque aquela história que ela gosta do Gustavo não tem sentido algum! Se isso fosse mesmo verdade estariam namorando há tempos ou ao menos ficado, ele vive atrás dela. E agora minha irmã, Sabrina e Beatriz, andavam grudada na , parece que queriam protegê-la sei lá do que. Tem algo aí e eu vou descobrir!
Decidi ir nos guris. Me arrumei e desci as escadas, Rafaela estava na sala assistindo um filme, me aproximei e ela nem percebeu tamanha era sua atenção na cena. Um cara cabeludo, acompanhado da banda do colégio, estava cantando uma canção para chamar a atenção da guria que ele estava a fim. E aquilo me deu uma ideia, arriscada, e podia acabar com a minha imagem no colégio, ficaria conhecido como o guri que pagou o mico do ano, mas não me importo, vai dar certo, vai dar certo! Perguntei para Rafaela o nome do filme, 10 Coisas Que Odeio Em Você, depois que chegasse em casa, assistiria o filme e focaria no que faria no dia seguinte.
Lá estava eu, com um violão que pedi emprestado do meu primo, os guris conseguiram com um amigo do irmão do Marlon um som que tem entrada para microfone, e com alto-falante. Erick e Marlon me ajudaram com tudo e até a Rafaela se prontificou para levar a para o lugar combinado. Ela inventaria alguma coisa para irem sentar no banco que ficava perto do portão, eu ia fazer aquela cena do filme, e eu não sei cantar bem, nunca passou de micos diante da família no karaokê. E hoje a escola inteira ia ver isso, no intervalo. Bom, quem vai pra chuva é pra se molhar! Então, siga-me os bons!
As meninas estavam estranhas, inventaram que estavam fazendo um book de fotos, e que precisava ter a paisagem que tinha perto do banco que ficava perto portão da escola. Mas que tipo de paisagem elas queriam? O portão? Estavam aprontando alguma coisa, até que ouvimos um zunido forte, parecia um zunido de conexão, um chiado que vem de caixa de som. Seria alguma propaganda de show local, passando perto daqui? E aí foi o momento que eu paralisei. Senti mais vergonha do que ter que contar eu que nunca havia sido beijada para Sabrina e Beatriz. estava subindo numa árvore, com Erick lhe dando apoio e do lado estava Marlon, ajeitando um som que é de onde vinha o chiado. Erick jogou um microfone para , que prendeu o mesmo no moletom, parecia o Silvio Santos. Nisso já tinha uma aglomeração de alunos em volta da arvore e ele piscou para mim e começou a cantar.
O inglês do não era dos melhores, já notava alguns risos da galera, ai meu Deus! Ele também percebeu, mas não se abalou diante daquilo e continuou.
Era a música que o personagem dele do livro estava compondo para a menina. Ele simplesmente estava a cantando para mim? Não sabia o que pensar, nem como reagir. As meninas ao meu lado estavam eufóricas. Me senti na novela Rebelde sendo a Mia na cena que o Miguel faz aquela serenata e as minhas amigas alegres do meu lado achando tudo lindo. De fato, estava lindo todo desajeitado em cima daquela árvore.
Então ele finalizou a música e me direcionou um olhar que pude compreender que ele não desistiria de mim. Meu coração pulou no peito. O que eu iria fazer? Rafaela pareceu ler meus pensamentos e me trouxe a resposta.
- Acho que está na hora de criar coragem como meu irmão e se declarar. Ser sincera, como foi com a gente. – minha amiga tinha razão. – E sabe de uma coisa, meu irmão me fez perceber que não importa a opinião alheia, devemos fazer o que queremos, ser feliz. E é isso que vou fazer agora. E espero que tu faças também! – Rafaela disse isso e se afastou.
Fiquei observando o que ela iria fazer, a vi se aproximar do Murilo e falar algo pra ele, o que o deixou bem irritado pois ele ficou vermelho e tentou segurá-la, o que não adiantou. Então ela se encaminhou para direção onde estava seu irmão, Erick e Marlon. Os meninos ficaram a olhando sem entender o que ela estava fazendo, quando ela chegou no destino, parou na frente de Marlon e o puxou pela nuca tascando um beijão nele, parecia que eu estava no set de gravação de Malhação. Marlon ficou surpreso, mas logo se deu conta do que o acontecia e tratou de corresponder Rafaela! As meninas ficaram de boca aberta e eu estava orgulhosa dela, foi corajosa o suficiente para assumir seu amor diante do nosso colégio que era idiota ao ponto de se dividir por populares e invisíveis. Depois da cena, ela partiu o beijo com um selinho, ela sorriu pra ele e o abraçou. Foi lindo, e até receberam palmas da plateia. Claro que houve resmungos de muitos, era de esperar. Murilo saiu furioso. O sinal já ia bater, eu precisava ir falar com o , mas quem disse que eu ia? Fiz o que uma covarde como eu faria, me infiltrei no meio dos alunos e fugi outra vez, ainda consegui ver o me procurando. , sendo idiota pela milésima vez. Parabéns, sua mula.
Eu estava tão nervoso que nem sei como consegui cantar, em cima de uma árvore, e ainda como se fosse pouco, cantar em inglês, eu nem sabia esse idioma direito. Deve ter saído de tudo, menos inglês. Eu estava confiante, mesmo ciente que iam pegar no meu pé até o final do ano e certamente algum engraçadinho ia dar um jeito de passar isso no dia formatura. Que se dane, o importante era acreditar de uma vez por todas que eu a amava e iria lutar contra o que fosse que a impedia de me deixar chegar perto. Bom, eu esperava que ela notasse, porque a escola inteira notou que aquilo tudo foi pra ela. Ao menos Marlon lucrou com a minha ideia, pois finalmente minha irmã decidiu assumir seus sentimentos, e de um jeito que até eu fiquei surpreso. Rafaela é impossível! Vamos torcer para que eu lucre também. Quando desci da árvore percebi que em pouco tempo o sinal ia bater e procurei por e não a encontrei, porcaria! Ajudei os guris com as coisas e pedimos para seu Antônio, o guarda da escola, cuidar até que fossemos embora. Na sala, como já era de se esperar, ficavam me olhando e cochichando, um saco.
- Calma, cara, tu sabias que ia ser assim. Logo eles esquecem isso. – disse Erick dando um aperto no meu ombro, passando compreensão.
- nem me olha! Não sei como fui pensar que podia rolar algo entre nós. O nerd e a popular ou vice e versa só dá certo nos clichês de Hollywood. E infelizmente minha história é um desastre, e não um clichê americano.
- Se não ir falar com ela, não vai entendê-la. Nem tudo que parece ser, é. Só reclame e julgue depois de saber o que se passa com ela. Eu julguei mal tua irmã e olha o que ela fez, sério, te liga! Invés de choramingar, te levanta vivente*! – Marlon disse e voltou a copiar a matéria de história. Ele tinha razão, ia confrontar a na hora da saída, ou seria dispensado ou teria uma chance, estou torcendo para a segunda hipótese. Se aproximava da hora de saída, guardei meus materiais de qualquer jeito na mochila e esperei o sinal para correr atrás de .
- ! ! Espera. – ela caminhava rápido demais, claramente tentando me ignorar.
- O que foi que eu te disse? – de repente ela se virou e se dirigiu a mim irritada. – Que era para deixar como estava e ponto. Não que você subisse em uma árvore para cantar seu amor por mim.
- Não gostou? – perguntei.
- Gostei, . Mas isso foi demais, eu já disse que não posso namorar. – ela disse e sua feição se tornou dolorida. O que é que tá acontecendo?
- O que tá rolando? Me conta! – disse com toda doçura que encontrei no meu ser para tratá-la.
- Ok! Me encontra na praça, às três horas e conversamos. Tchau. – soltou a bomba e saiu de fininho. Tínhamos um encontro? Não me cabia de felicidade, saí pulando feito um canguru. Segura Instituto Santa Maria, que o aqui, logo entrará de mãos dadas pelo portão com a guria mais linda desse lugar, minha !
Eu marquei um encontro com o para falar o porquê tenho fugido, é chegada a hora da mudança total! Estava sentada no banco da praça esperando o , amarrei meu cabelo num rabo de cavalo firme e fiquei com a roupa que vesti para ir ao colégio mesmo.
- Oi!
- Ah! – dei um gritinho de surpresa, era .
- Desculpa, não quis te assustar. Bem, estou aqui como me pediu. Quer alguma coisa? Eu compro pra ti! – disse, notei que estava nervoso. Não mais que eu, aposto.
- Não, obrigada. É bom eu começar a falar, antes que eu fuja outra vez. Somente me ouça, ok? – mesmo querendo falar, se limitou a assentir. – , o problema não é eu gostar de você e ter vergonha como a Rafaela tinha do Marlon. Pelo contrário, eu gosto de você. – senti minhas bochechas esquentarem. Coragem, . – Como eu já havia comentado com você, eu era totalmente diferente do que sou agora e decidi mudar! Só que uma coisa não mudou e é essa coisa que me faz ficar em pânico, me impede de ficar com você. Não me ache boba, é só que... Eu nunca beijei, ninguém. Com 17 anos isso é meio raro, eu sei. Mas nunca encontrei alguém que me fizesse ter segurança para dar tal passo, é só um beijo, mas eu quero que seja especial, com alguém especial. – disse por fim tudo que deveria ter dito no sábado quando ele se declarou, olhei para e ele estava sorrindo. Ah não, ele ia tirar onda da minha cara!
- Não consigo acreditar que linda dessa maneira, ainda não tenha beijado! – ele mantinha o sorriso no rosto e então segurou minha mão. A mão dele estava gelada, seria o frio? – Acho que fiquei mais apaixonado. Se achou que me importaria com isso, achou errado. Não existe idade certa pra isso ou aquilo, é nós que decidimos e mais ninguém. Não importa se tu tens 20 anos e nunca beijou, ninguém tem a ver com isso. E se aceitar namorar comigo, eu prometo não ficar forçando te beijar. Peço desculpas por sábado, se eu soubesse jamais tentaria. E então, o que me diz jovem princesa, aceita esse plebeu como seu namorado? – acho que de tanto ler se tornou aqueles cavalheiros antigos, e eu amei isso nele. - Promete não contar para os seus amigos? Sei que meninos são linguarudos! – disse e não contive um sorriso de alívio. - Nunca ousaria! - Então acho que posso aceitar! – disse, e quando dei por mim estava levantada no ar, envolvida pelos braços de . – Ei, seu maluco! - Ter atos de coragem, te levam além! Se eu tivesse ficado parado não estaria aqui contigo, sabia que seria minha.
Decidi ir nos guris. Me arrumei e desci as escadas, Rafaela estava na sala assistindo um filme, me aproximei e ela nem percebeu tamanha era sua atenção na cena. Um cara cabeludo, acompanhado da banda do colégio, estava cantando uma canção para chamar a atenção da guria que ele estava a fim. E aquilo me deu uma ideia, arriscada, e podia acabar com a minha imagem no colégio, ficaria conhecido como o guri que pagou o mico do ano, mas não me importo, vai dar certo, vai dar certo! Perguntei para Rafaela o nome do filme, 10 Coisas Que Odeio Em Você, depois que chegasse em casa, assistiria o filme e focaria no que faria no dia seguinte.
Lá estava eu, com um violão que pedi emprestado do meu primo, os guris conseguiram com um amigo do irmão do Marlon um som que tem entrada para microfone, e com alto-falante. Erick e Marlon me ajudaram com tudo e até a Rafaela se prontificou para levar a para o lugar combinado. Ela inventaria alguma coisa para irem sentar no banco que ficava perto do portão, eu ia fazer aquela cena do filme, e eu não sei cantar bem, nunca passou de micos diante da família no karaokê. E hoje a escola inteira ia ver isso, no intervalo. Bom, quem vai pra chuva é pra se molhar! Então, siga-me os bons!
XXX
As meninas estavam estranhas, inventaram que estavam fazendo um book de fotos, e que precisava ter a paisagem que tinha perto do banco que ficava perto portão da escola. Mas que tipo de paisagem elas queriam? O portão? Estavam aprontando alguma coisa, até que ouvimos um zunido forte, parecia um zunido de conexão, um chiado que vem de caixa de som. Seria alguma propaganda de show local, passando perto daqui? E aí foi o momento que eu paralisei. Senti mais vergonha do que ter que contar eu que nunca havia sido beijada para Sabrina e Beatriz. estava subindo numa árvore, com Erick lhe dando apoio e do lado estava Marlon, ajeitando um som que é de onde vinha o chiado. Erick jogou um microfone para , que prendeu o mesmo no moletom, parecia o Silvio Santos. Nisso já tinha uma aglomeração de alunos em volta da arvore e ele piscou para mim e começou a cantar.
Waking up from another day
I'm feeling so insane
'Cause ever since I saw your face
I got it tattooed on my brain
O inglês do não era dos melhores, já notava alguns risos da galera, ai meu Deus! Ele também percebeu, mas não se abalou diante daquilo e continuou.
Did you know that you came and you got me like this
'Cause I know you're the one I wanna be with
You gotta know that I'd do anything
To get you to notice me
What do I gotta do to get into my life?
I can be your bad boy, or baby I could be nice
I could give you all the stars if you give me the night
Or morning
Era a música que o personagem dele do livro estava compondo para a menina. Ele simplesmente estava a cantando para mim? Não sabia o que pensar, nem como reagir. As meninas ao meu lado estavam eufóricas. Me senti na novela Rebelde sendo a Mia na cena que o Miguel faz aquela serenata e as minhas amigas alegres do meu lado achando tudo lindo. De fato, estava lindo todo desajeitado em cima daquela árvore.
There's a million pretty girls all over
But they got nothing to you
Been all around the world
But no one gets me like you do
Baby I thought that you should know
None of the rest are even close
There's a million pretty girls all over
But you know this song's for you
This song's for you
Então ele finalizou a música e me direcionou um olhar que pude compreender que ele não desistiria de mim. Meu coração pulou no peito. O que eu iria fazer? Rafaela pareceu ler meus pensamentos e me trouxe a resposta.
- Acho que está na hora de criar coragem como meu irmão e se declarar. Ser sincera, como foi com a gente. – minha amiga tinha razão. – E sabe de uma coisa, meu irmão me fez perceber que não importa a opinião alheia, devemos fazer o que queremos, ser feliz. E é isso que vou fazer agora. E espero que tu faças também! – Rafaela disse isso e se afastou.
Fiquei observando o que ela iria fazer, a vi se aproximar do Murilo e falar algo pra ele, o que o deixou bem irritado pois ele ficou vermelho e tentou segurá-la, o que não adiantou. Então ela se encaminhou para direção onde estava seu irmão, Erick e Marlon. Os meninos ficaram a olhando sem entender o que ela estava fazendo, quando ela chegou no destino, parou na frente de Marlon e o puxou pela nuca tascando um beijão nele, parecia que eu estava no set de gravação de Malhação. Marlon ficou surpreso, mas logo se deu conta do que o acontecia e tratou de corresponder Rafaela! As meninas ficaram de boca aberta e eu estava orgulhosa dela, foi corajosa o suficiente para assumir seu amor diante do nosso colégio que era idiota ao ponto de se dividir por populares e invisíveis. Depois da cena, ela partiu o beijo com um selinho, ela sorriu pra ele e o abraçou. Foi lindo, e até receberam palmas da plateia. Claro que houve resmungos de muitos, era de esperar. Murilo saiu furioso. O sinal já ia bater, eu precisava ir falar com o , mas quem disse que eu ia? Fiz o que uma covarde como eu faria, me infiltrei no meio dos alunos e fugi outra vez, ainda consegui ver o me procurando. , sendo idiota pela milésima vez. Parabéns, sua mula.
XXX
Eu estava tão nervoso que nem sei como consegui cantar, em cima de uma árvore, e ainda como se fosse pouco, cantar em inglês, eu nem sabia esse idioma direito. Deve ter saído de tudo, menos inglês. Eu estava confiante, mesmo ciente que iam pegar no meu pé até o final do ano e certamente algum engraçadinho ia dar um jeito de passar isso no dia formatura. Que se dane, o importante era acreditar de uma vez por todas que eu a amava e iria lutar contra o que fosse que a impedia de me deixar chegar perto. Bom, eu esperava que ela notasse, porque a escola inteira notou que aquilo tudo foi pra ela. Ao menos Marlon lucrou com a minha ideia, pois finalmente minha irmã decidiu assumir seus sentimentos, e de um jeito que até eu fiquei surpreso. Rafaela é impossível! Vamos torcer para que eu lucre também. Quando desci da árvore percebi que em pouco tempo o sinal ia bater e procurei por e não a encontrei, porcaria! Ajudei os guris com as coisas e pedimos para seu Antônio, o guarda da escola, cuidar até que fossemos embora. Na sala, como já era de se esperar, ficavam me olhando e cochichando, um saco.
- Calma, cara, tu sabias que ia ser assim. Logo eles esquecem isso. – disse Erick dando um aperto no meu ombro, passando compreensão.
- nem me olha! Não sei como fui pensar que podia rolar algo entre nós. O nerd e a popular ou vice e versa só dá certo nos clichês de Hollywood. E infelizmente minha história é um desastre, e não um clichê americano.
- Se não ir falar com ela, não vai entendê-la. Nem tudo que parece ser, é. Só reclame e julgue depois de saber o que se passa com ela. Eu julguei mal tua irmã e olha o que ela fez, sério, te liga! Invés de choramingar, te levanta vivente*! – Marlon disse e voltou a copiar a matéria de história. Ele tinha razão, ia confrontar a na hora da saída, ou seria dispensado ou teria uma chance, estou torcendo para a segunda hipótese. Se aproximava da hora de saída, guardei meus materiais de qualquer jeito na mochila e esperei o sinal para correr atrás de .
- ! ! Espera. – ela caminhava rápido demais, claramente tentando me ignorar.
- O que foi que eu te disse? – de repente ela se virou e se dirigiu a mim irritada. – Que era para deixar como estava e ponto. Não que você subisse em uma árvore para cantar seu amor por mim.
- Não gostou? – perguntei.
- Gostei, . Mas isso foi demais, eu já disse que não posso namorar. – ela disse e sua feição se tornou dolorida. O que é que tá acontecendo?
- O que tá rolando? Me conta! – disse com toda doçura que encontrei no meu ser para tratá-la.
- Ok! Me encontra na praça, às três horas e conversamos. Tchau. – soltou a bomba e saiu de fininho. Tínhamos um encontro? Não me cabia de felicidade, saí pulando feito um canguru. Segura Instituto Santa Maria, que o aqui, logo entrará de mãos dadas pelo portão com a guria mais linda desse lugar, minha !
XXX
Eu marquei um encontro com o para falar o porquê tenho fugido, é chegada a hora da mudança total! Estava sentada no banco da praça esperando o , amarrei meu cabelo num rabo de cavalo firme e fiquei com a roupa que vesti para ir ao colégio mesmo.
- Oi!
- Ah! – dei um gritinho de surpresa, era .
- Desculpa, não quis te assustar. Bem, estou aqui como me pediu. Quer alguma coisa? Eu compro pra ti! – disse, notei que estava nervoso. Não mais que eu, aposto.
- Não, obrigada. É bom eu começar a falar, antes que eu fuja outra vez. Somente me ouça, ok? – mesmo querendo falar, se limitou a assentir. – , o problema não é eu gostar de você e ter vergonha como a Rafaela tinha do Marlon. Pelo contrário, eu gosto de você. – senti minhas bochechas esquentarem. Coragem, . – Como eu já havia comentado com você, eu era totalmente diferente do que sou agora e decidi mudar! Só que uma coisa não mudou e é essa coisa que me faz ficar em pânico, me impede de ficar com você. Não me ache boba, é só que... Eu nunca beijei, ninguém. Com 17 anos isso é meio raro, eu sei. Mas nunca encontrei alguém que me fizesse ter segurança para dar tal passo, é só um beijo, mas eu quero que seja especial, com alguém especial. – disse por fim tudo que deveria ter dito no sábado quando ele se declarou, olhei para e ele estava sorrindo. Ah não, ele ia tirar onda da minha cara!
- Não consigo acreditar que linda dessa maneira, ainda não tenha beijado! – ele mantinha o sorriso no rosto e então segurou minha mão. A mão dele estava gelada, seria o frio? – Acho que fiquei mais apaixonado. Se achou que me importaria com isso, achou errado. Não existe idade certa pra isso ou aquilo, é nós que decidimos e mais ninguém. Não importa se tu tens 20 anos e nunca beijou, ninguém tem a ver com isso. E se aceitar namorar comigo, eu prometo não ficar forçando te beijar. Peço desculpas por sábado, se eu soubesse jamais tentaria. E então, o que me diz jovem princesa, aceita esse plebeu como seu namorado? – acho que de tanto ler se tornou aqueles cavalheiros antigos, e eu amei isso nele. - Promete não contar para os seus amigos? Sei que meninos são linguarudos! – disse e não contive um sorriso de alívio. - Nunca ousaria! - Então acho que posso aceitar! – disse, e quando dei por mim estava levantada no ar, envolvida pelos braços de . – Ei, seu maluco! - Ter atos de coragem, te levam além! Se eu tivesse ficado parado não estaria aqui contigo, sabia que seria minha.
Capítulo Final
Sei que estão aí se perguntando, mas rolou aquele beijo ou não? Rolou sim, e a seguir irei contar.
Era de tarde, tinha acabado de almoçar, e havia ido pra minha casa passar a tarde lá. Devidamente já havíamos sidos apresentados oficialmente como namorados a ambas as famílias. Semana passada havia terminado a canção dos personagens para aquele conto que fizemos para literatura e que mais tarde seria parte do meu livro. E naquele dia também estávamos completando um mês de namoro, e eu iria mostrar a ela o pedacinho que faltava na letra.
- Olha, amor, vou te mostrar a letra de Song For You terminada. Leia e me diga se ficou boa. – coloquei o notebook em seu colo para que ela pudesse ler e opinar.
- Want you all for myself and I don't want to share... – cantarolei no ouvido dela um dos versos que mais dizia o que eu sentia por ela.
Eu senti que era a hora de avançar, afinal, depois de um mês ela já confiava em mim. A olhei e pedi aos céus que de alguma maneira ela percebesse que eu estava pedindo permissão para beijá-la. Ela sorriu e fechou os olhos. O momento que toquei seus lábios, meu coração estava acelerado, ela não sabia bem o que fazer, mas acompanhou meu ritmo calmo, e aos poucos estávamos conhecendo a boca um do outro, moldando o beijo, o nosso primeiro beijo, não queria que aquele momento tivesse fim. Com um selinho demorado, selamos aquele momento tão especial.
- Eu acho que te amo. – foi o que ela disse ainda de olhos fechados.
- Que bom, porque eu também. – disse me sentindo o guri mais sortudo da face da Terra.
- E agora eu digo, eu te amo e não poderia ter escolhido melhor garoto para dar meu primeiro beijo. – disse ao terminar de ler meu livro em seu tablet.
Sim, eu lancei meu livro, por enquanto estava disponível em e-book, mas daqui três meses estaria à venda nas livrarias. Não é incrível?
- E sou honrado por ter sido seu escolhido. – disse e lhe roubei um beijo.
, autor de O diário de um apaixonado.
*Tchê: é uma expressão coloquial utilizada pelos povos gaúchos. Uma saudação e tem o mesmo sentido de amigo.
*Renguear cusco: cusco vem do espanhol. Renguear é o mesmo que tremer. Então a expressão que “está frio de renguear cusco” é o mesmo que dizer que está tão frio que até os cachorros estão encolhidos.
*Bolitas: bolinhas de gude.
*Bah: Uma exclamação como, nossa ou poxa! Expressão de alívio como ufa! Usada para expressar sentimentos. É uma abreviação de "barbaridade".
*Bem capaz: claro que não.
*Vivente: pessoa, criatura.
Fim
Nota da autora: Sem nota.
Nota da beta:
Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.
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