Capítulo Único
Universidade de Columbia, Nova York, dias atuais.
Ele me perguntou se eu estava arrependido.
Matt chegou ao apartamento naquela sexta, pouco antes de trombar com uma Natalie satisfeita na porta, e me encarou como se eu não tivesse mais salvação; de repente eu não tinha mesmo. Então, quando ele viu minha atual condição, senti que Matt estava enxergando minha alma. Eu não ligo para essas merdas de papo profundo, conversa gay e coisas assim, mas quando encarei os olhos castanhos dele, senti que ele enxergava dentro de mim. Observou meu estado com certa vergonha, coisa que eu também sentia, e então mandou a pergunta que eu sabia que estava presa há tempo:
- Cara, você não está nem um pouco arrependido?
Olhei para cima, a fim de ver Matt melhor.
- Ninguém manda em mim, ninguém manda mensagens chatas de madrugada dizendo que sente minha falta e se manda eu ignoro, porque eu simplesmente não ligo para isso. Posso comer quantas garotas eu quiser, posso comer duas ao mesmo tempo, se eu quiser e na hora que eu quiser. Eu tenho mulheres, tenho emprego, tenho amigos, tenho tudo, não me falta nada, cara, nada. Se olhar minha vida agora, está perfeita, nada me faz pensar que eu precise dela, nada nem na minha lembrança me faz acreditar que um dia eu tenha precisado. Ontem, quando a vi com aquele ridículo do Turner na boate, toda alegre, linda, bêbada – dei um sorriso, sem perceber. – Eu pensei em falar com ela, pensei em, sabe, só verificar se tinha perdido alguma coisa de verdade. Mas... quando eu cheguei perto o suficiente e vi como ela estava feliz e como ela nunca tinha sorrido daquele jeito para mim... eu tive a certeza de que nunca na minha vida me arrependi tanto de alguma coisa.
Não percebi que estava de pé, e deixei Matt plantado no meio da sala de estar, indo em direção ao meu quarto. Odiava quando precisava admitir para mim mesmo que, sim, eu sentia uma falta do caralho dela. Uma falta enorme. Que tudo que eu mais queria agora era receber uma mensagem dela dizendo que sentia minha falta. Odiava Matt por me ter feito admitir isso, mas eu precisava dizer, e como. Tenho vivido como um adolescente no último mês. Faculdade, casa, cama com garota, expulsa garota de casa. Era um ciclo vicioso, degradante e mesmo sem querer eu sabia que estava arrastando muita gente comigo, inclusive Matt. Inclusive ela.
era incrível. Sei que essa parte da história, onde eu exalto a garota maravilhosa que eu deixei escapar, é clichê e entediante, mas eu preciso fazer esse relato se quiser saber o que aconteceu. É de conhecimento comum que ela era dedicada e amorosa, gostava de ajudar e estava quase sempre sorrindo, mas era transparente e as pessoas sempre sabiam o que ela estava sentindo. Se estivesse feliz, ela ria; se estivesse triste, ela chorava; se estava brava, ela gritava; e se sentia medo ela fechava os olhos e dizia a si mesma que tudo ia ficar bem. O dia que ela deixou de fazer isso para grudar no meu braço em busca de proteção, foi provavelmente o dia que eu me senti um homem de verdade.
estava abrindo mão de sua coragem e de sua própria capacidade de se acalmar, porque sentia que eu a protegeria melhor do que si mesma e isso me deixou alegre e assustado ao mesmo tempo. Alegre porque eu me sentia capaz de defendê-la de qualquer um e assustado porque foi naquele exato momento que entendi que sempre estaria na minha vida, e que eu estava completamente apaixonado por ela; senti medo porque nunca na minha vida havia amado ninguém que eu precisasse cuidar e fiquei com medo de que me deixasse. Como eu já disse, ela era incrível e merecia alguém muito melhor que eu; o dia que ela finalmente percebesse isso, seria meu fim.
Por causa disso, e tenho vergonha em admitir, comecei a me afastar. Ela sempre conseguia me trazer de volta, mas era questão de tempo até que eu visse em alguém alguma qualidade que eu não tinha e tentasse de novo. De tão afastado que eu estava, começou a se sentir sozinha e eu comecei a sentir que não gostava dela mais como antes; talvez ela tivesse perdido o encanto. Ficava dias sem falar com ela, e quando dei por mim, um mês havia se passado sem que eu lhe desse notícias. Aconteceu de repente e eu percebi que não, ela não tinha perdido o encanto, era , a garota que sempre me resgatava.
Quando bati na porta de seu apartamento imaginando se tinha sido tarde demais, me atendeu, com um sorriso de orelha a orelha, murmurando um quase inaudível “eu sabia que você ia voltar”. Eu entrei e a abracei, chorei como nunca havia chorado, enquanto o colo de e suas carícias leves nos meus cabelos já bagunçados tratavam de me acalmar e acolher. Ela esperou eu parar de chorar para me dizer que sentiu minha insegurança e prometeu esperar o tempo que fosse até que eu voltasse. Ela olhou no fundo dos meus olhos, me dizendo que nunca e em hipótese nenhuma iria me deixar; e eu acreditei nela, mas não me ocorreu na hora devolver o juramento, pareceu-me que não era necessário. nunca iria me deixar. Um juramento infantil, claro e fiel. Não iria decepcioná-la tentando afastar-me novamente e iria manter minha segurança em nossa relação tomando como base a promessa que ela me fizera. parecia acreditar nisso também.
O que foi uma droga, porque fui eu quem a deixou.
Ok, não tenho como me defender, mas talvez você me entenda se eu contar exatamente o que levou isso a acontecer. Não tenho como me defender porque eu sei que sou o babaca da história, então pode me odiar antecipado, se quiser.
Universidade de Columbia, Nova York, dois meses antes.
- Você tem que me ensinar a fazer isso um dia! – Gritou ela, chegando até mim.
- É, tipo, super fácil, poderia aprender no YouTube se quisesse.
revirou os olhos, enganchando os braços nos meus.
- Que tipo de namorado você seria se me deixasse aprender sozinha?
- Um namorado que sabe que você é capaz de qualquer coisa. –Respondi, sabiamente. corou e eu sabia que tinha vencido.
- Cala a boca, . – Murmurou, sem graça.
“Cala boca, ” era um jeito fofo de dizer “Ok, não tenho mais argumentos para isso”, mas nunca admitiria isso; mas é claro que não.
- Você me irrita. –
Acusei, fazendo-a revirar os olhos e mostrar a língua.- Tenho que ir pra aula. A gente se vê depois? – Perguntou, me dando um beijo no rosto.
- Claro. – Despedi-me, com um beijo carinhoso em sua testa. Ela contribuiu afagando minhas costas e se foi.
nunca me irritava, apesar de eu dizer isso a ela várias vezes. Ela sabia que eu estava apenas curtindo com a cara dela. Só revirava os olhos e mostrava a língua como uma criança de cinco anos. Eu amava isso.
Aquela garota me mudou, ela me fez querer ser um homem melhor. E de repente eu vi que não tinha porque querer ser bom para nenhuma outra mulher além dela, não tinha o menor sentido. Conseguia me ver me formando com ela, daqui a alguns anos. Céus, eu conseguia me ver casando com ! Quando um homem como eu pensaria em casar? E ter filhos, envelhecer ao lado de qualquer pessoa? Eu não sabia ao certo como era aquilo, mas gostei do sentimento. Ele era estável e me dava uma certeza de futuro, tudo que eu precisava.
Nunca tive muita perspectiva de futuro. Sou órfão desde que me entendo por gente, cresci em um orfanato só para meninos nos arredores de Manhattan, nunca tive nenhuma família de sangue. Mas não pense você que esse é o motivo de eu ser como eu sou hoje. Não! Todas as crianças do orfanato, todos nós juntos, formávamos uma espécie de família, éramos unidos. As cuidadoras eram afáveis e nunca me deixaram faltar nada. Tomar atitudes rebeldes está longe da minha índole, jamais teria atitudes tão ingratas.
Foi naquelas salas de aulas primitivas que eu escrevi minha primeira palavra. Foi naquelas camas que me deram conforto e onde jamais passei frio, por estar sempre atolado de cobertas. Foi naquele grande pátio que eu aprendi a andar de bicicleta sem rodinhas. Foi naqueles corredores meio escuros que dei meu primeiro beijo (não foi em um rapaz ok, era a sobrinha de uma cozinheira que estava visitando). Ainda me lembrava de quando um dos meus dentes caiu durante a refeição e todos riram de mim; ou quando Rick Parks colocou uma almofada de pum na cadeira da Diretora Winner e ele se abaixou na cadeira se achando o ser mais brilhante do planeta. Ou ainda a única vez que eu quebrei o pé quando eu e uns garotos subíamos numa mangueira tentando olhar por cima do muro onde tinha um convento; e também quando Jacob Ross, o único garoto de 14 anos, foi adotado, apesar de ser o mais velho de nós. Passei praticamente minha vida toda lá e eu tive uma infância feliz, pelo menos o mais feliz possível que os orfanatos podem ser. Tinha consciência de que por não ter nenhuma família, eu poderia estar morrendo de fome e de frio nas ruas, mas eu estava protegido. Eu era grato.
Mas na época da universidade, alguma coisa mudou. Eu entrei naquele mundo pensando saber de tudo, mas o orfanato me limitava mais do que eu sequer imaginava.
A faculdade me levou para o lado negro da força. Conheci Matt em uma festa de calouros e ele estava procurando alguém pra dividir o apartamento. Por causa da minha idade avançada, eu estava praticamente sendo expulso do orfanato, então aceitei. Do jeito que eu era, não imaginava que sairia dessa com um colega de quarto e um novo melhor amigo, mas foi justamente isso que aconteceu. Matt é uma das pessoas mais importantes para mim, mas apesar de ser um bom garoto, eu não cheguei a imitá-lo. Ele era sempre o cara que ficava no apartamento estudando no sábado, enquanto eu saía para explorar um mundo de liberdade que eu não conhecia. O orfanato era cheio de regras, então nunca me ocorreu encher a cara para passar o mês lavando privadas; eu simplesmente precisava evitar.
Quando descobri a liberdade da faculdade, demorou um pouco para entender que as consequências vinham. Demoravam um pouco, mas sempre vinham. Como por exemplo quando Matt já tinha decorado o livro texto e podia sair para desestressar um pouco enquanto eu estudava todo o conteúdo do semestre freneticamente um dia antes do teste. A vida dá dessas. E repetia para eu mesmo que semestre que vem as coisas seriam diferentes, mas nunca era; eu nunca mudava. A cada mês que passava, fui ficando cada vez mais nem aí. O orfanato nos deu tudo, mas não nos deu expectativa de futuro. Não que isso seja culpa deles, mas tampouco é a minha. No segundo semestre eu fiz minha primeira tatuagem e um ano depois já tinha tantas que o tatuador me conhecia pelo nome e me dava descontos. Eu não fumava e nem bebia, mas em festas e bares estava sempre com um copo na mão e fingia que sim, porque as garotas aparentemente gostavam disso e eu gostava de ter garotas.
Foi em uma dessas festas que eu conheci . Ela estava tão estranha naquele lugar, tão deslocada. Tinha um olhar meio perdido, do tipo que se pergunta o que está fazendo ali. Passei um tempo a observando, mas depois perdi de vista. Ignorei, não era importante. Dei um gole na água que estava bebendo.
- Seus amigos sabem que está bebendo água? – Ela perguntou, sabiamente. Dei uma risada cínica.
- Como pode saber que é água?
Ela deu de ombros.
- Você é o único que não faz caretas enquanto bebe. – Fez uma pausa dramática. – Ou talvez porque vi você encher o copo na torneira da cozinha.
Certo, aquela garota era divertida.
- E por isso veio falar comigo?
- Bom, você é supostamente o mais sóbrio. Vim com uma amiga, mas ela meio que... Sumiu.
Levantei as sobrancelhas.
- Quer procurar nos quartos?
corou, abaixando os olhos.
- É... não, melhor não. Vou dar uma olhada por aí. – Comentou, saindo de costas para mim, mas depois voltou. – Você... Você quer ir lá fora conversar comigo?
Eu a encarei surpreso, tanto pelo pedido quanto pelo fato de ela ter me chamado para conversar. O que aquela garota doce teria para falar comigo? Mas no fim consenti. Quando ela se apresentou como , fiz aquele nome ecoar no fundo da minha mente várias vezes. Eu sabia que ela era diferente. Se ela fosse qualquer garota, teria feito uma investida que a levaria para cama, e ela teria ido e no dia seguinte eu nem sequer me lembraria do seu nome. Mas ela não parecia ser qualquer garota e eu por algum motivo não queria me esquecer dela.
Sentamos nos muros de pedras ao redor da casa e não fizemos nada além de conversar, a uma distância respeitável. Trocamos números de telefone, e ela disse que só me deu porque eu estava verdadeiramente sóbrio e que as tatuagens não a intimidavam; achei graça. E também me sugeriu que eu a convidasse para próxima festa se quisesse a companhia de alguém sóbria e careta.
Foi uma das melhores noites da minha vida.
Eu estava olhando conversar com Mike Turner no Point Coffe, tentando não deixar o ciúme transparecer, quando ela me notou e acenou. Nós tínhamos uma ligação mental decifrável, então quando ela fez uma careta meio rindo eu entendi como um "desmancha essa cara feia" e quando eu revirei os olhos ela entendeu como "pede pra esse ridículo sair do seu pé".
Porém, ao chegar perto dos dois, desmanchei a tal cara feia. Ela sorriu, satisfeita.
- E aí, . – Cumprimentou Turner, quando me viu.
- Ei. – Foi tudo que respondi. notou meu aparente desconforto e resolveu sair da situação.
- Bom, Mike, precisa estar lá as seis, senão não pode garantir uma senha. Fica por sua conta e risco! – O pai dela tinha uma empresa, ela provavelmente estava falando sobre emprego. – Agora eu vou sair com meu bonitão. Tchau, Turner!
Ela deu uma acenadinha, pegou suas coisas, automaticamente transferindo sua mochila para os meus braços e foi em direção à porta.
- ! Ei! – Nos viramos para ver o que ele queria. – A festa?
franziu a face, como se tentasse lembrar de algo. Depois sorriu.
- Ah, claro, a festa. Veremos.
Depois seguiu caminho comigo em seu encalço.
- Festa? – Perguntei quando estávamos do lado de fora.
- Os pais dele viajaram. Ele está oferecendo uma festa.
Epa.
- Turner te convidou para uma festa? Na casa dele?
- Não, , Turner convidou nós dois para uma festa na casa dele.
Parei um momento, para refletir.
- Nós vamos. – Eu disse.
Ela me encarou confusa, mas depois recomeçou a andar.
- Nós vamos?
- Porque a surpresa? Eu nunca recuso uma festa.
- Sei lá, achei que não gostava dele.
Dei risada, era verdade, mas só porque ele dava em cima dela descaradamente e ela nem percebia.
- Não gosto mesmo, mas até o melhor de nós tem que admitir que o cara sabe dar uma festa. - Respondi, piscando.
riu, balançando a cabeça.
- Vou chamar a Lola e a Ally, nesse caso. Vai levar alguém?
Pensei um pouco, depois sorri diabolicamente.
- Posso levar o Keith.
- Keith? Keith... Walls? Ally vai infartar...
Rimos, seguindo para o alojamento dela. Era uma rotina: eu a buscava, íamos para a aula, depois a acompanhava até aqui e íamos pra casa. Às vezes nós saíamos.
- Está entregue. - Disse. Ela subiu nas pontas dos pés para dar um beijo na minha bochecha e depois me deu um selinho.
- Até mais tarde.
- Até. - Respondi docilmente.
Já eram quase nove da noite e eu estava esperando Keith há quarenta minutos. Estava um pouco impaciente, mas tentava não demonstrar. Combinei de me encontrar com e suas amigas as 20:00, mas como já estava bastante atrasado, pedi para elas irem na frente. E quanto mais o relógio avançava, mais crescia a possibilidade das mensagens raivosas de .
Então, você pretende chegar hoje???
Foi a última que ela enviou.
Acho que o Keith está fabricando suas roupas, está se arrumando há quase uma hora.
Não demorou dois minutos para a resposta chegar.
Definitivamente, o ar está cheirando a sexo.
Dei risada, já pensando na resposta.
- Tá rindo de quê? – Perguntou Keith, aparecendo na sala. Levantei-me do sofá, dando um soco no seu ombro; de leve, eu acho.
- De como você e a Ally vão se pegar de jeito hoje. – Respondi, quase rindo novamente da cara surpresa de Keith, como se o fato de ele querer pegar a Ally fosse um grande segredo. E tinha razão, dava para sentir o cheiro de testosterona a quilômetros de distância. – Sem pressão. – Acrescentei, quando ele não disse nada.
Saímos da fraternidade e fomos em direção ao seu carro, onde Keith parece ter pensado numa resposta à altura.
- Eu não quero pegar a Ally. Não fala essas coisas.
Reprimi minha risada.
- Claro.
- Eu notei que você foi irônico.
- Não, eu não fui irônico. – Menti. Keith era um pouco tapado, então acreditou, ou fingiu que sim, arrancando com o carro.
Chegamos quinze minutos depois e eu dei um tapinha em suas costas indo até a porta da casa de Turner.
- Use camisinha.
Saí antes que Keith pudesse protestar e fui procurar .
Quando a vi naquela pista de dança, meu coração acelerou. Era como se algo tomasse conta de mim.
Porque ela não estava sozinha.
estava dançando com Mike Turner e ela estava adorando aquilo. Ele quase passava as mãos pelo seu quadril e ela erguia os braços e se sacudia, quase encostando nele. Mas não chegava a encostar, parecia que eles estavam se provocando de propósito, parecia um jogo.
Fiquei bravo e fiquei mais bravo ainda quando ela me viu e ao invés de ficar assustada por ter pegado ela no flagra, só sorriu e acenou para que eu fosse até ela. Sacudi a cabeça e fui até o lado de fora.
- ? – Escutei ela chamar. Não me virei. – Ei, .
Ela encostou no meu ombro, obrigando-me a olhar para ela.
- Desencosta.
Ela se afastou, como se eu tivesse dado um tapa.
- Ei, o que deu em você? – Perguntou calma.
- Que merda foi aquela na pista de dança? – Perguntei de volta.
Ela franziu a testa.
- Não se de uma de inocente agora, , você estava quase transando com ele.
ofegou.
- Transando? Céus, estávamos apenas dançando. Eu nem sequer encostei nele.
- Dançando igual uma vadia. – Falei. Sei que passei dos limites, mas simplesmente escapou. deu o segundo passo para trás. Conforme ela se afastava literalmente de mim, imaginei que se afastava emocionalmente também. Eu sabia que a amava, apesar de nunca ter dito isso a ela, mas também sabia que estava com raiva e que não queria olhar para ela agora, nem nunca.
- Igual uma... vadia? – Questionou. Ela estava chateada, mas eu, cego de raiva, não foquei nisso por muito tempo.
- , faz o seguinte: me esquece.
Ela suspirou fundo. Alguma coisa me dizia que o que eu estava dizendo era totalmente irracional, infantil e sem sentido, mas eu vi, eu vi ele flertando e eu vi que ela gostava disso.
Eu vi.
- Esquecer você? Esquecer você, ? Qual é, bateu o recorde dessa vez! Foram quase três meses sem me deixar. – Eu sabia que ela estava sendo sarcástica. Como eu disse, ela sempre foi muito transparente.
- Eu tô falando sério.
me encarou, cruzando os braços.
- Você nunca me deixou. Eu permitia que fizesse isso, era uma escolha minha permitir que me deixasse e era uma escolha minha permitir que voltasse para mim. Desde o começo, sempre fui eu.
- , só...
- Não acabei! Eu deixei você me despedaçar em um milhão de pedacinhos, esperei você voltar pra mim, aguentei sua ignorância durante meses por causa da sua insegurança. Eu respeitei isso. Prometi que nunca ia te deixar e você vem e me diz uma coisa dessas?
Eu não estava mais no controle, não sabia o que estava fazendo ou porque estava terminando com ela. Era como se outra pessoa entrasse no meu corpo e o controlasse por mim.
- , só chega! Eu não aguento mais isso, não aguento mais todos dando em cima de você!
- Mas eu sou sua! Que se danem os outros! Eu escolhi você, você, !
- Não dá, não preciso de você.
Isso a fez parar. Eu precisava parar de me iludir e achar que eu poderia ser bom. Mike era muito melhor que eu, apesar de odiá-lo.
se encolheu, se abraçando com os braços.
Se protegendo.
- Achei que tinha salvado você, achei que tinha te mantido seguro sobre... Nós. –Ela não estava chorando, mas eu conseguia ver o esforço dela para não fazer isso. –Mas é o contrário. Você é um ótimo namorado, nunca pensei em algo contrário a isso; seria um excelente marido também. Você é extremamente importante para mim, mas sou eu que não preciso de você, . Você precisa de mim; e você sempre vai precisar de mim. Lembre-se disso.
E então ela foi embora, passando direto por mim e indo de encontro com Ally, que havia vindo de carro. Podia imaginá-la chorando dentro do carro, Ally e Lola xingando até minha décima geração, e me senti um idiota por fazer tudo isso. Me senti o maior lixo do planeta inteiro.
Hoje eu havia passado completamente dos limites e ela jamais iria me perdoar.
E era isso.
Eu havia deixado , a melhor coisa que aconteceu comigo.
Universidade de Columbia, Nova York, dias atuais.
Tudo bem, sei que estou sendo odiado agora. Não estou tentando me defender, sei que errei.
Quando acordei no dia seguinte, pensei muito e quase chorei quando lembrei o que eu tinha feito. Eu amava . Eu amava e ela nem sabia disso. Amava e nunca mais a teria de volta.
Para mostrar que não sou um completo babaca, tentei pelo menos pedir desculpas, por tê-la chamado de vadia e por todo o resto, mas ela não atendeu, nem o celular e nem a porta do apartamento. Tentei no dia seguinte, no outro e no outro, mas não queria falar comigo. Esbarrei em Lola na fila do café e pedi que lhe passasse um recado, mas Lola me olhou como se não me conhecesse e não me disse nada. Então é por isso que estou agindo assim.
simplesmente esqueceu que eu existo. Ela me esqueceu, fez exatamente o que eu pedi para ela fazer.
E eu simplesmente aceitei.
Voltei a ser quem eu era antes de encontrá-la. Pelo menos eu não ficava bebendo, fumando e nem nada disso, mas era muito depravado para compensar a falta dessas substâncias.O que disse a Matt realmente aconteceu. Três semanas e meia depois de terminar com ela, desde a última vez que nos falamos, estava no boate de sempre quando entrou com Mike Turner. De todas as pessoas do mundo, Mike Turner estava puxando pela mão. Ela estava um pouco diferente; eu nunca a tinha visto de maquiagem e salto alto, mas era assim que ela estava. Quase como se jogasse na minha cara: me chamou de vadia, vou me parecer com uma.
Ela sabia que eu estaria lá, por isso que ela foi, eu tinha certeza disso. Conhecia há um pouco mais de um ano, mas sabia quase tudo sobre ela, assim como sabia que ela estava lá só para provar algo para si mesma.
Ela não precisa de mim.
E ela queria que eu soubesse, que ela estava bem e que não precisava de mim. Não precisava dizer essas palavras, eu era capaz de ler sua expressão.
ainda não tinha me visto, mas desde quando ela entrou eu não desgrudei dela. Em um determinado momento, eu não me aguentei. Sai de onde estava a passos lentos, caso me arrependesse dava para dar meia volta. Mas quando eu cheguei perto o suficiente para notar que ela estava rindo e estava bêbada, mas feliz, dançando com Mike de um jeito nada vadia, eu simplesmente não consegui. Só sai do bar e fui pra casa, e venho agindo como o pior babaca desde então.
- ? – Escutei a batida de Matt na porta do meu quarto.
- Entra.
Matt entrou e se sentou na minha cama, onde eu estava deitado.
- Você gosta dela, não gosta? – Começou.
Pensei em fazer ele parar, mas eu meio que precisava de um conselho. Ainda a queria, mas não disse nada.
- O que você fez foi ridículo. Sabe disso, certo?
- Ela estava se esfregando no Mike! Ele sempre a persegue! Queria que eu fizesse o quê?
- Deixasse ela se explicar, . Se você deixasse a falar antes de chamá-la de vadia, você iria saber que o Mike é gay.
Acho que parei de respirar.
- Turner é gay?
- Sim.
- Assumido?
- Nem tanto. Algumas pessoas sabem.
Uau, por essa eu não esperava! Agora que estava bem claro, se tornou ainda mais importante eu reparar aquele erro e ter de volta. Eu era mesmo um idiota.
- Eu amo aquela mulher. – Suspirei, aliviado por ter dito isso em voz alta.
Senti Matt sorrir.
- Então diga isso a ela.
- Como? Ela não quer falar comigo.
- Quer sim.
- Não quer. – Insisti. – Ela não quer.
- Ela quer, . Ela quer que você se esforce.
- Como sabe disso? – Questionei, desesperançado. Será que ela queria?
- Porque ela é mulher e mulheres são previsíveis. – Ele fez uma pausa. – E também porque ela me disse.
Sentei-me na cama, alarmado.
- Ela te disse? Quando falou com ela?
Matt deu risada, negando com a cabeça.
- Só se esforce, está bem?
Ele nem precisou me incentivar mais. Assim que Matt saiu do meu quarto, tomei um banho, vesti uma roupa limpa e me coloquei a caminho do campus.
Eu não tinha nenhum plano e só pensei nisso quando entrei no carro.
Teria que improvisar, mas era a melhor saída? Ele pediu para eu me esforçar. queria que eu me esforçasse.
Mas a possibilidade de ter de volta falou mais alto que tudo e eu não pensei em mais nada além de que teria que pedir desculpas.
e eu nunca brigávamos. De verdade, sempre fomos um casal que se comunicava muito bem. Então acho que é normal essa minha inquietação, já que eu nunca preciso pedir desculpas.
Sou péssimo nisso.
Bati na porta do apartamento três vezes, mas ninguém atendia. Estava quase desistindo, quando ouvi:
- Acho que ele já foi. – Era Ally, seguida de um tapa.
- Sua imbecil! – Voz da Lola.
E depois, silêncio. Bati na porta mais uma vez.
- Eu já escutei vocês aí!
- Mas não queremos abrir, volte nunca mais! – Gritou Ally de volta. Revirei os olhos, ela era irritante.
- Por favor, , se estiver aí me deixa falar com você, por favor. –Falei, do jeito mais doce que consegui. Em seguida, apelei. – Eu estou me esforçando.
- Tchau, ! – Gritou Lola.
- Abre a porta. – Falou . Silêncio.
- Mas...
- , você não...
- Abre a porta, Ally.
E a porta foi aberta, foi relevada e eu a encarava como se fosse a primeira vez que eu a via. Ela estava um pouco diferente, mas ainda era ela mesma. Os cabelos loiros estavam mais ondulados e acho que ela estava de rímel, mas ainda era a mesma .
- Deixou a barba crescer. – Foi a primeira coisa que ela me disse.
- É.
Ela deu uma risada cômica.
- Está ridículo.
Não pude aguentar, ri com ela.
- O que você veio fazer aqui, ? – Perguntou. Percebi que Lola e Ally não estavam mais ali e gesticulei para o lado de fora. fechou a porta e me acompanhou até o parapeito do edifício.
- Eu vim me desculpar. Sei que você provavelmente não vai, mas queria pedir desculpas mesmo assim.
Ela sacudiu a cabeça.
- Não, , não faz isso. Não quero sentir tudo de novo, se foi pra isso que veio, vá embora.
Ela começou a se afastar, mas eu segurei seu cotovelo.
- , me escuta, só me escuta.
- , eu...
- Só queria saber se é muito tarde para te pedir desculpas. Eu sei que você ficou com raiva de toda minha sinceridade. Você... Você sabe que eu estou tentando, mas não me dou muito bem com desculpas, é um pouco difícil. Mas eu espero que ainda tenha tempo, porque só preciso de mais uma chance para ser perdoado. –Soltei o cotovelo de , fazendo uma pausa. – Você sabe que eu cometi aqueles mesmos erros uma, duas, milhares de vezes. Te deixei. Então por favor, deixa eu me redimir agora, porque eu só preciso de mais uma tentativa de segunda chance.
- Não acho que eu seja capaz de...
- , é muito tarde para eu pedir desculpas? Eu não estou falando isso só pra você voltar comigo. Eu sinto saudades de você inteira e eu sei que preciso de você. Sei que decepcionei mais do que você gostaria de admitir, mas, por favor, me responda se agora já é tarde demais para te pedir desculpas.
não disse nada. Ela estava quase chorando e, pela primeira vez desde que eu a conheci, não consegui identificar a emoção que estava cruzando seu rosto.
- E se apenas dizermos as palavras e esquecermos tudo isso?
- Que palavras? - disse; mal passava de um sussurro.
Suspirei, tomando a mão dela.
- Eu te amo, .
Ela não me respondeu e eu continuei.
- Eu te amo desde quando te conheci, eu te amo por tudo que você é, amo por estar sempre certa e também amo por aceitar quando erra, amo essa pinta na linha da sobrancelha que você odeia, amo o fato de você colecionar pedras, amo sua fixação por estrelas. Eu te amo, . Nunca disse isso, deveria ter dito, mas...
- Não é tarde demais. – Ela disse, devagar. Encarei , sem entender muito bem. – Não é tarde demais para me pedir desculpas. Eu te amo, . Eu te amo tanto que dói, eu te amo tanto que nem pude ficar feliz um só dia desde aquela briga. Só consegui ficar feliz quando estava bêbada, que era quando conseguia te esquecer, mas eu te amo tanto que só fiz isso uma vez, porque por mais machucada que estava, eu não queria te esquecer. Doa o quanto doer, eu te amo, . Sempre amei.
Fiquei parado por um momento sem saber como reagir. Obviamente estava sorrindo que nem um idiota, mas não sabia se aquilo significava que ela queria voltar comigo.
- Isso significa que...?
- Sei o que pensou. E foi um mal entendido bem ridículo, mas você escandalizou tudo e tornou tudo pior. Eu achei que você sabia que o Turner era gay, fui tão burra.
Comentou, passando a mão na testa.
- Não podemos voltar ainda, ok? – Ela disse, para o meu desespero.
Não foi bem assim que imaginei o dia acabando. Estava imaginando ela dormindo na minha cama e não... isso.
- Eu espero. – Respondi, mesmo assim.
- E não é por causa da sua barba ridícula. – Sinceridade sempre.
- Sem problemas.
se aproximou e beijou meu rosto. Eu me senti corar, uma coisa incomum.
- A gente se vê por aí. – Falou, antes de se afastar.
- Sim.
A gente se vê por aí???
Qual era o sentido do amor reciproco? Ambos se amavam e não estávamos juntos, mas pelo menos agora ela não ignorava completamente minha existência. sempre foi minha, ela iria voltar pra mim.
E quando eu a reconquistasse, e dessa vez é sério, ela seria minha para sempre.
FIM
Olá, lindinhas! Se você estava super ansiosa para ler essa história da sua música predileta e eu acabei de te decepcionar tipo MUITO: Is it too late now to say sorry? Kkkk Espero que não. Eu sinto muito mesmo, até porque estou decepcionada comigo mesma. Queria ter pensado em algo legal, mas CADÊ O TEMPO?
Mas se você gostou da escrita e deseja me dar uma segunda chance, já que todos merecemos, aqui vão algumas de minhas outras filhas que talvez você goste (Está na ordem do meu ranking de preferidas):
Outras Fanfics:
*BurnWithYou {Outros, Finalizada}
*Just A Girl {One Direction, Finalizada}
*02. Good Thing {Ficstape In The Lonely Hour, Sam Smith, Finalizada}
*01. Welcome To New York {Ficstape1989, Taylor Swift, Finalizada}
*Chemical Of Love {Outros, Em andamento}
*04. Show Me The Meaning Of Being Lonely {Ficstape Backstreat Boys, Finalizada}
*17. Still The One {Ficstape Take Me Home, One Direction, Finalizada}
*06. Unbroken {Ficstape Unbroken, Demi Lovato, Finalizada}
* Gotta Be You {Ficstape Up All Night, One Direction, Finalizada}
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