Capítulo Único
O cheiro de cigarro inundava todos os cômodos do pequeno apartamento de um quarto.
A silhueta do homem encostado na janela da sala, olhando para fora, trazia um misto de emoções que Bianca não conseguia nem definir. O observava fumar enquanto bebia, sentada no sofá.
- Você é muito gata, baby. Eu tô muito na sua. - Ele murmurou. Apagando o cigarro num cinzeiro improvisado em uma latinha vazia de cerveja, a puxou pela mão para um abraço.
Estava tão alterada que não conseguia se importar com o que os vizinhos falariam caso vissem o casal nus na janela. Entretanto, tinha uma coisinha dentro dela, um sentimento cretino que provavelmente jamais iria embora, que era o sentimento de comparação.
💔
Bianca havia conhecido Henrique na fila de uma boate, ou como gostavam de dizer para as pessoas, na frente da igreja, uma vez que na frente da balada tinha uma igreja. Sua amiga esbarrou no rapaz de propósito, para que tivessem um motivo para se aproximar e, ali mesmo, antes de entrar na festa a fantasia, já conversavam animadamente.
Passaram a festa toda juntos. Intercalando entre beijos, danças e conversas. Ela não era muito de acreditar em destino e todo esse blá blá blá que as coisas tinham que acontecer e tudo mais, só que, conhecer ele, naquele dia, não tinha como ser coincidência.
A festa acabou e foram embora com a promessa de um encontro no dia seguinte.
Para ela, a viagem seria longa, ainda mais sem bateria no celular. Morava em outra cidade e pegaria o primeiro ônibus para lá.
Em casa, com a primeira carga no aparelho, ela teve certeza que aquela não tinha sido uma festa qualquer:
"Tentei te ligar e não consegui. Eu estou muito preocupado. Espero que esteja bem. Me avise assim que ler essa mensagem e que chegar em casa. Adorei conhecer você e seus amigos, principalmente você. Durma bem e até amanhã."
💔
A primeira semana, conhecendo-o era um misto de emoções maravilhosas. Ainda fazia faculdade, então, todos os dias, ele a visitava. Mesmo que fosse só para um oi no intervalo entre as aulas, ou para levar um casaco para ela porque o inverno estava impossível. Estar com ele era a sensação mais estranha que já havia sentido na vida e, ela sabia que de longe, era a melhor.
Todos em sua volta falavam para ela tomar cuidado e ir com calma, mas ela sabia que nada como aquilo poderia ser ruim.
💔
Com o tempo, estar com Henrique havia se tornado algo natural. Passavam os finais de semana juntos na casa dele, já que durante a semana era impossível, devido ao fato de morarem em cidades distintas e terem suas vidas corridas.
Ele adorava jogos, de todos os tipos, trabalhava com isso então, era boa parte de sua vida. Já Bianca odiava jogos. Adorava baladas e festas num geral, assistir séries, ler e estudar.
Eram completamente o oposto, e mesmo assim, funcionavam extremamente bem.
Pelo menos, ela achava que sim.
💔
- Você é muito gostosa. Nunca tinha conhecido alguém como você. Deveríamos sair de novo, viajar. Você gosta de lagos? Eu quero conhecer todos os lagos do país. Você tem que ir comigo. Transaríamos em todos eles.
O rapaz falava e fazia planos enquanto Bianca só queria que aquilo acabasse. Não queria fazer planos com ninguém nem imaginar o seu futuro.
- Podemos ver. - Ela murmurou, dando mais um gole em sua cerveja.
Já estava tonta e não queria continuar conversando.
- Não me ache emocionado, é o primeiro encontro. Mas já acho que tô apaixonado.
Bianca limitou-se a sorrir e o beijou.
💔
Com um ano de namoro, Bianca decidiu que pediria Henrique em casamento. Por mais que fosse loucura, que fossem muito jovens e todos os outros "por mais" que existissem, ela tinha toda certeza que era com ele que ela queria ficar.
Planejou tudo, iriam num show de um grupo brega que ela gostava numa boate na capital. Lá ela conhecia algumas pessoas que a ajudariam no pedido, exatamente quando o grupo cantasse a música deles. E, foi assim que aconteceu.
Casaram-se um ano e meio depois daquele dia. E ela nunca esteve tão feliz.
Alugaram um apartamento pequeno e adotaram um gato. Assistiam várias séries, cozinhavam juntos, passavam horas planejando o futuro.
Até que com o tempo, isso foi diminuindo.
Henrique já não queria assistir mais séries. Já não brincava mais com o gato. Já não queria mais sair para a balada com Bianca. Ficava até mais tarde no trabalho e não queria ficar horas conversando. E, cada dia que passava, ela ia se afundando em seu próprio buraco negro.
Num dia ensolarado, depois de ter saído na noite anterior com os amigos, veio a notícia que ele queria o divórcio. Estava decidido, não tinha volta.
Alegava que tinha perdido a sua identidade e que estava se afogando naquele relacionamento. Queria se encontrar e não poderia fazer aquilo junto com ela.
Bianca tentou argumentar, tinha acabado de começar a tratar seus demônios e não poderia fazer sozinha. Havia o ajudado em seus momentos mais obscuros e quando precisava da ajuda dele, ele havia desistido.
Era uma luta perdida. Henrique já estava com sua mochila arrumada e iria para a praia no carnaval com amigos que ela não conhecia. Sua vida já estava se encaminhando sem que ela percebesse.
Não houve discussão, não houve choro nem consideração. Apenas um adeus sem graça e sem emoção. Como se a vida juntos não tivesse valido nada.
💔
- Baby?- O rapaz perguntou, atraindo a sua atenção.
- Ah, oi?
- Vamos para o quarto? Já estou a fim de você de novo. - Ele sorriu e ela sabia, no fundo do seu coração, que era genuíno.
Olhou para a porta mais uma vez, imaginando estar olhando dentro daqueles olhos mais uma vez. Torcendo para que ele viesse. Para que a porta fosse arrombada e ela fosse levada embora de tudo aquilo. Para que tudo fosse uma mentira, uma ilusão, um sonho. Sem mais erros, porque eram naqueles olhos que ela gostaria de ficar.
Respirou fundo para espantar todos aqueles demônios, terminou o conteúdo de seu copo, colocou o melhor sorriso que poderia em seu rosto e levantou.
- Vamos sim.
A silhueta do homem encostado na janela da sala, olhando para fora, trazia um misto de emoções que Bianca não conseguia nem definir. O observava fumar enquanto bebia, sentada no sofá.
- Você é muito gata, baby. Eu tô muito na sua. - Ele murmurou. Apagando o cigarro num cinzeiro improvisado em uma latinha vazia de cerveja, a puxou pela mão para um abraço.
Estava tão alterada que não conseguia se importar com o que os vizinhos falariam caso vissem o casal nus na janela. Entretanto, tinha uma coisinha dentro dela, um sentimento cretino que provavelmente jamais iria embora, que era o sentimento de comparação.
Bianca havia conhecido Henrique na fila de uma boate, ou como gostavam de dizer para as pessoas, na frente da igreja, uma vez que na frente da balada tinha uma igreja. Sua amiga esbarrou no rapaz de propósito, para que tivessem um motivo para se aproximar e, ali mesmo, antes de entrar na festa a fantasia, já conversavam animadamente.
Passaram a festa toda juntos. Intercalando entre beijos, danças e conversas. Ela não era muito de acreditar em destino e todo esse blá blá blá que as coisas tinham que acontecer e tudo mais, só que, conhecer ele, naquele dia, não tinha como ser coincidência.
A festa acabou e foram embora com a promessa de um encontro no dia seguinte.
Para ela, a viagem seria longa, ainda mais sem bateria no celular. Morava em outra cidade e pegaria o primeiro ônibus para lá.
Em casa, com a primeira carga no aparelho, ela teve certeza que aquela não tinha sido uma festa qualquer:
"Tentei te ligar e não consegui. Eu estou muito preocupado. Espero que esteja bem. Me avise assim que ler essa mensagem e que chegar em casa. Adorei conhecer você e seus amigos, principalmente você. Durma bem e até amanhã."
A primeira semana, conhecendo-o era um misto de emoções maravilhosas. Ainda fazia faculdade, então, todos os dias, ele a visitava. Mesmo que fosse só para um oi no intervalo entre as aulas, ou para levar um casaco para ela porque o inverno estava impossível. Estar com ele era a sensação mais estranha que já havia sentido na vida e, ela sabia que de longe, era a melhor.
Todos em sua volta falavam para ela tomar cuidado e ir com calma, mas ela sabia que nada como aquilo poderia ser ruim.
Com o tempo, estar com Henrique havia se tornado algo natural. Passavam os finais de semana juntos na casa dele, já que durante a semana era impossível, devido ao fato de morarem em cidades distintas e terem suas vidas corridas.
Ele adorava jogos, de todos os tipos, trabalhava com isso então, era boa parte de sua vida. Já Bianca odiava jogos. Adorava baladas e festas num geral, assistir séries, ler e estudar.
Eram completamente o oposto, e mesmo assim, funcionavam extremamente bem.
Pelo menos, ela achava que sim.
- Você é muito gostosa. Nunca tinha conhecido alguém como você. Deveríamos sair de novo, viajar. Você gosta de lagos? Eu quero conhecer todos os lagos do país. Você tem que ir comigo. Transaríamos em todos eles.
O rapaz falava e fazia planos enquanto Bianca só queria que aquilo acabasse. Não queria fazer planos com ninguém nem imaginar o seu futuro.
- Podemos ver. - Ela murmurou, dando mais um gole em sua cerveja.
Já estava tonta e não queria continuar conversando.
- Não me ache emocionado, é o primeiro encontro. Mas já acho que tô apaixonado.
Bianca limitou-se a sorrir e o beijou.
Com um ano de namoro, Bianca decidiu que pediria Henrique em casamento. Por mais que fosse loucura, que fossem muito jovens e todos os outros "por mais" que existissem, ela tinha toda certeza que era com ele que ela queria ficar.
Planejou tudo, iriam num show de um grupo brega que ela gostava numa boate na capital. Lá ela conhecia algumas pessoas que a ajudariam no pedido, exatamente quando o grupo cantasse a música deles. E, foi assim que aconteceu.
Casaram-se um ano e meio depois daquele dia. E ela nunca esteve tão feliz.
Alugaram um apartamento pequeno e adotaram um gato. Assistiam várias séries, cozinhavam juntos, passavam horas planejando o futuro.
Até que com o tempo, isso foi diminuindo.
Henrique já não queria assistir mais séries. Já não brincava mais com o gato. Já não queria mais sair para a balada com Bianca. Ficava até mais tarde no trabalho e não queria ficar horas conversando. E, cada dia que passava, ela ia se afundando em seu próprio buraco negro.
Num dia ensolarado, depois de ter saído na noite anterior com os amigos, veio a notícia que ele queria o divórcio. Estava decidido, não tinha volta.
Alegava que tinha perdido a sua identidade e que estava se afogando naquele relacionamento. Queria se encontrar e não poderia fazer aquilo junto com ela.
Bianca tentou argumentar, tinha acabado de começar a tratar seus demônios e não poderia fazer sozinha. Havia o ajudado em seus momentos mais obscuros e quando precisava da ajuda dele, ele havia desistido.
Era uma luta perdida. Henrique já estava com sua mochila arrumada e iria para a praia no carnaval com amigos que ela não conhecia. Sua vida já estava se encaminhando sem que ela percebesse.
Não houve discussão, não houve choro nem consideração. Apenas um adeus sem graça e sem emoção. Como se a vida juntos não tivesse valido nada.
- Baby?- O rapaz perguntou, atraindo a sua atenção.
- Ah, oi?
- Vamos para o quarto? Já estou a fim de você de novo. - Ele sorriu e ela sabia, no fundo do seu coração, que era genuíno.
Olhou para a porta mais uma vez, imaginando estar olhando dentro daqueles olhos mais uma vez. Torcendo para que ele viesse. Para que a porta fosse arrombada e ela fosse levada embora de tudo aquilo. Para que tudo fosse uma mentira, uma ilusão, um sonho. Sem mais erros, porque eram naqueles olhos que ela gostaria de ficar.
Respirou fundo para espantar todos aqueles demônios, terminou o conteúdo de seu copo, colocou o melhor sorriso que poderia em seu rosto e levantou.
- Vamos sim.