Capítulo Único
“When I was 7, I wanted to be 8. When I was 8, I wanted to be 12. When I turned 12 I just wanted to be 18. Then after that I stopped wanting to be older. Now I'm ticking 16-24 boxes just to see if I can blag it! I feel like I’ve spent my whole life so far wishing it away. Always wishing I was older, wishing I was somewhere else, wishing I could remember and wishing I could forget too. Wishing I hadn’t ruined so many good things because I was scared or bored.
(…) And I’m sorry it took so long, but you know, life happened.”
- Adele
***
Meus melhores amigos estavam se casando. Eu os observava dançando juntos, trocando olhares apaixonados e sorri instantaneamente. Lembrei de como Meg parecia relutante à ideia de namorar alguém que ela conhecia desde sempre e como encorajei Danny a chamá-la para sair. Eles dançavam You and Me, do Lifehouse, a canção que estava tocando no meu aparelho de som quando eles se beijaram pela primeira vez, no meu aniversário de dezessete anos.
Onze anos atrás... Eu me lembrava da garotinha que eu era na época. Tão feliz, tão cheia de certezas e tão ansiosa por tudo que eu achava que meus dezoito anos trariam: liberdade, o início da vida adulta, o fim de todos meus medos e inseguranças... Como a gente se engana sobre ser “gente grande”, como fantasiamos essa fase da vida quando somos mais novos!
Suspirei, me sentindo nostálgica de repente. Eu estava parada de pé no fundo do jardim, onde a festa acontecia, e acompanhava a primeira dança dos meus amigos tendo uma visão geral da cena. Cada arranjo de flor, cada vela, cada luzinha... Era exatamente como Meg descrevia desde pequena. Naquele momento, eu me sentia observando um dos desenhos mentais de seu casamento. Me senti feliz por ela, mas ao mesmo tempo me senti velha... O grande dia que planejávamos desde que tínhamos sete anos havia chegado. O “quando eu crescer...” era aqui e agora.
E então eu o vi chegar. A festa toda o viu. Como se ele carregasse uma tocha por onde fosse, como se fosse impossível ignorar sua presença... O garoto de ouro da cidade, o queridinho dos pais, professores e de todas as garotas da nossa pequena cidade. Meu ex-namorado, o amor que nunca consegui superar... .
Como se estivesse hipnotizada, continuei olhando-o cumprimentar os pais de Danny e dar um abraço de lado no irmão mais velho do noivo. Eu não estava preparada para vê-lo, ninguém tinha me dito que ele havia sido convidado... E que havia aceitado.
A dança acabou e, quando os demais convidados começaram a ocupar a pista de dança, ele se aproximou de Meg e Daniel. ainda se parecia muito com o garoto que eu havia namorado, apesar de ter se transformado em um homem... Seu sorriso cativante, a risada alegre e alta e seu charme pareciam ter se multiplicado na capacidade de prender a atenção das pessoas. Eu não podia ouvir o que eles conversavam, é claro, mas parecia ser algo divertido... Os três riam e falavam animados, sendo interrompidos frequentemente por pessoas que queriam cumprimentar não só os noivos, mas também. Era como se ele nunca tivesse ido embora.
A não ser para mim.
Sete anos, dez meses e quatro dias... Esse era o tempo desde a última vez que nós nos vimos. O dia que nos despedimos e ele foi embora para os Estados Unidos. Seu pai era americano e estava disposto a investir em sua educação do outro lado do oceano, onde morava. Nós éramos de uma cidade minúscula, quase um vilarejo, e esse tipo de coisa não acontecia para pessoas como nós. Ele aceitou, logicamente, e num dia quente de julho nos abraçamos pela última vez e prometemos que nada mudaria entre nós.
Não éramos mais crianças quando isso aconteceu... Já tínhamos nossos vinte anos. Eu achava que AGORA SIM, sabia o que estava fazendo e tinha total controle do meu futuro. Eu e aguentaríamos os anos separados. Não era mais um amor adolescente, era real...
Mais uma vez, a vida provou que nós não sabemos de nada. Nunca.
“Um shot de tequila por seus pensamentos...” Ouvi uma voz conhecida dizer e percebi que havia me perdido em pensamentos por um tempo.
estava parado em minha frente. Parecia ainda mais bonito de perto e seus olhos e sorriso ainda mais encantadores. A mágoa que eu sentia ainda estava ali, sendo ajudada pela nostalgia que aquela festa estava me fazendo sentir e as duas apertavam minha caixa torácica desconfortavelmente. Mas ao vê-lo tão perto, sorri de volta. Sua voz era como música para meus ouvidos e a alegria de ouví-la de novo diminuía um pouco o incomodo que eu estava sentindo.
“Não bebo mais tequila...” Respondi. “Não tenho mais idade pra conviver com a ressaca no dia seguinte!”
“Somos dois! Meu fígado já não é mais o mesmo!”
Nós dois rimos e ele colocou as mãos nos bolsos, me lançando um de seus sorrisos de lábios fechados.
“Que bom te ver, !”
Só me chamava de . Engraçado é que nos dias atuais, eu costumava dizer que aquele era meu “apelido de infância”. E depois de tanto tempo, eu nem sabia mais se , corretora de imóveis, e , a garota que roubava tequila do pai para beber com o namorado e os amigos, eram a mesma pessoa. Muito menos se aprovaria as escolhas de vida que havia feito para as duas... Afinal, tinha grandes planos: ia chegar aos trinta anos feliz profissionalmente, casada com (seu ) e com filhos. , vinte e oito anos, não preenchia nenhuma daquelas opções.
“Bom te ver também, ” ele riu ao ouvir o apelido. Eu podia apostar que ninguém o chamava assim nos Estados Unidos. “Não achei que você viria hoje...”
“Não perderia o casamento de Danny por nada nesse mundo!”
Fiz que sim com a cabeça. Uma parte de mim queria muito saber se ele tinha estado ansioso para me ver.
“Fico feliz que ele tenha te convidado. Como está a vida do outro lado do Atlântico?”
Parecia tão quadrado perguntando aquilo. Éramos só dois estranhos fazendo comentários banais e perguntas sem profundidade. Me senti triste novamente... Triste por perceber que os laços que unem as pessoas por tanto tempo se afrouxam se não prestamos constante atenção a eles. Triste porque não temos controle da entrada e saída das pessoas das nossas vidas. Eu sabia que com algum esforço e mais cinco minutos de conversa, eu também sentiria como as outras pessoas ali presentes e seria “como se ele nunca tivesse partido”. Mas ainda assim, aquele fase estranha existiu e eu me senti impotente diante dela.
“Tudo bem. Sou diretor administrativo de uma das filiais da empresa do meu pai, em Boston.” Ele respondeu. “E você? Onde está morando?”
“Aqui...” Disse, sem emoção e seus olhos perderam um pouco do brilho. “Sou corretora de imóveis e trabalho com Mr. Harrison.”
Ficamos em silêncio por um tempo e eu percebi que também estava incomodado com aquela barreira que parecia haver entre nós.
Mas não se deixava perturbar por muito tempo. Não havia situação ruim que ele não pudesse contornar.
“Quer saber? Nosso tempo é muito curto para falarmos dos nossos empregos chatos!” Falou, o brilho voltando aos seus olhos e um sorriso travesso preenchendo seus lábios.
tomou minha mão e me puxou pela festa, indo em direção a mesa de bebidas. Rindo como o adolescente que eu costumava namorar, ele pegou uma garrafa de vinho e continuou me levando para longe da movimentação. Acabamos sentados nos degraus da varanda da frente da casa de Meg, onde a festa acontecia.
“Não sei como vinho aparece na sua classificação de ‘bebidas que causam ressacas desastrosas’, mas não achei nada melhor...” Ele disse, bebendo direto da garrafa e passando-a para mim.
“Aparece numa colocação melhor que a tequila, então tudo bem!” Falei, fazendo-o rir. Ele ficou me olhando por alguns segundos sem dizer nada. Eu me sentia frágil diante daquele olhar.
“Você está tão linda, !”
Sorri tímida, mas satisfeita em saber que era recíproco.
“Você também não está nada mal, . Acho que nunca tinha visto você de terno!”
Ele riu e pegou a garrafa da minha mão.
“Lembra como eu odiava roupas sociais? Irônico é eu ter que usar terno para trabalhar todo dia!”
“Você também não gostava de vinho...” Disse, me lembrando de como ele odiava até o cheiro da bebida.
“O que foi que nós viramos?” brincou, fazendo a indagação que eu já havia feito a mim mesmo há pouco tempo.
Dei de ombros e mais uma vez ficamos em silêncio, ouvindo a música que vinha baixinha da festa. Rimos ao perceber que a música era Cupid’s Chokehold.
“Eu ainda lembro a letra toda, até o rap!” Falei, gargalhando.
“Você me enchia o saco com essa música todo santo dia!” disse e me devolveu a garrafa de vinho.
“Você sente saudades?” Perguntei, ficando séria novamente e me virando para ele.
“De nós?”
Eu não estava preparada para aquela pergunta, não era nisso que eu estava pensando. E eu nem sabia se queria saber a resposta.
“Daqui. De tudo.”
“Claro que sinto! Eu cresci aqui, tinha família, amigos... Uma namorada aqui. Sinto saudades de tudo...”
Senti o coração apertar um pouquinho.
“Eu tenho vontade de voltar praquela época todos os dias! Ter dezessete anos de novo...” Confessei, sem saber se estava fazendo o certo. Para minha surpresa, porém, pareceu contrariado.
“Você não pode estar falando sério!” Retrucou.
“E por que não? Não ter responsabilidades, o começo do namoro de Meg e Danny, o ano que perdemos a virgindade...” Falei, empurrando-o com o ombro, como se estivesse tentando convencê-lo de que aquela havia sido a melhor época das nossas vidas. Mas apenas balançou a cabeça em negação.
“Você odiava ter dezessete anos! Odiava ter que pedir permissão aos seus pais para sair, odiava a escola, odiava as pessoas dessa cidade e queria se mudar o mais rápido possível... Além do mais, nós ficamos melhores no sexo depois dos dezessete!” Ele terminou piscando e eu ri, envergonhada. “Você está romantizando o passado. Não existe nada lá que você não possa ter agora. E melhor.”
Virei a garrafa na boca para evitar ter que olhá-lo ou responder ao que ele havia dito. Primeiro porque sim, havia algo daquela época que eu não tinha mais: ele. E segundo porque de alguma forma estava certo. Eu havia me esquecido como meus pais eram restritos com meus horários, até mesmo para sair com ele, que era meu namorado desde sempre. Como me irritava morar em uma cidade tão pequena...
Como tudo na vida, havia dois jeitos de analisar o passado. E até aquele momento, eu estava olhando para ele por um ângulo só. Me deixava tão brava estar ficando velha e distante dos meus próprios sonhos, que eu preferia me esconder em um lugar onde tudo ainda era possível. E onde tudo ainda era exatamente como eu havia deixado. Mas não era certo “morar” lá. Porque o passado não me pertencia mais... era como uma pena flutuando no vento.... Indo cada vez mais para longe.
E então, como alguém que havia acabado de perceber que precisava deixar o passado no passado, eu fiz a pergunta que me dava tanto medo. A pergunta que matava de vez a esperança.
“Você... Você... Tem alguém? Em Boston?”
encarou o horizonte e mordeu os lábios e eu soube a resposta antes que ele me dissesse.
“Eu vou me casar no outono, .”
Sem saber como agir, bebi mais vinho antes de dizer algo. É claro que ele tinha alguém! Ele era tudo que qualquer garota podia querer... As americanas deviam amar o sotaque dele. E seus olhos... E seu sorriso...
Pela minha reação, soube logo que 1) Eu não esperava que ele estivesse para casar e 2) EU não tinha ninguém.
“Bom, se você precisar de alguém pra organizar... Fui eu que montei esse casamento todinho!” Brinquei, do alto do meu transtorno, bebendo mais. Não tinha ideia do que estava dizendo.
Ele me olhou carinhoso e sorriu, tirando a garrafa da minha mão mais uma vez.
“Meg me contou. E você fez um trabalho espetacular! Você devia montar um buffet, . Você sempre amou cozinhar, organizar jantares e esse tipo de coisa... Não sei como acabou em um escritório!”
E era por isso que era tão especial... Depois de me jogar o maior balde de água fria de todos os tempos, ele apareceu com uma ideia brilhante. Algo que ninguém que havia convivido comigo em todos esses últimos anos havia me dito. E eu precisei me corrigir de algo que havia pensado mais cedo: Alguns laços nunca se desfaziam... Alguns laços eram, na verdade, nós de marinheiro.
Meu rosto se iluminou de repente com a possibilidade.
“É uma boa ideia. Eu... Vou pensar nisso.”
Ficamos em silêncio de novo. Eu tinha muito o que assimilar daquela conversa com ele.
“Me desculpa. Por não ter te dito antes que eu ia me casar. Ou por não ter mantido contato.” pediu, alcançando minha mão. “Não quer dizer que eu não pensei em você todo esse tempo. Mas você sabe... A vida tinha outros planos...”
“Eu sei.” Disse a ele, sorrindo e apertando sua mão que segurava a minha.
Não era culpa de . Nada era culpa dele, na verdade. E eu precisei que o próprio viesse até mim para me fazer enxergar que era hora de olhar para frente. Eu não era tão jovem mais, mas ainda tinha muita vida pela frente. Nós tinhamos. Eu, , Danny, Meg... Nossas histórias estavam só começando.
“Bom... acho que eu preciso ir...” disse, olhando para o relógio e depois pra mim. “Você vai ficar bem?”
Fiz que sim com a cabeça. Pela primeira vez naquela noite, e em muito tempo, me senti cheia de vida. Me levantei e , que ainda segurava minha mão, se levantou também.
Ficamos parados um tempo um de frente para o outro. Eu não queria me despedir, mas sabia que era necessário. Pelo menos dessa vez eu sabia o que esperar... Não era o fim que eu queria, mas era um fim definitivo. E capítulos novos sempre pareciam trazer coisas excitantes.
“Posso... Posso te dar um abraço?” Perguntei, meio sem jeito. riu e balançou a cabeça, como se eu fosse maluca de estar perguntando.
Antes que eu pudesse me dar conta, já estava sendo puxada para mais perto por ele, que me envolveu. Senti de novo a paz que estar entre seus braços sempre tinha me trazido. Ainda que dessa vez fosse totalmente diferente... Ele havia trocado de perfume, eu não podia mais afagar seu cabelo e sua nuca ou enterrar meu nariz em seu pescoço. Mas estranhamente, o efeito calmante era o mesmo. Quem quer que sua noiva fosse, era uma pessoa de sorte.
“Você cresceu, ...” Eu comentei, fazendo-o rir alto. Fechei os olhos ao ouvir aquele som de tão perto e sentir seu tórax se movimentar com as risadas. Ri também.
“Claro que não cresci. Deixa de ser maluca!”
Senti seu corpo se afastar um pouco e me afastei também. Nós dois sorríamos e ele me ofereceu a mão para voltarmos à festa. Eu me sentia leve e ligeiramente embriagada de algo que eu sabia não ser o vinho. Voltamos para o jardim e não passamos despercebidos da visão dos noivos.
“! ! Venham, precisamos tirar uma foto!” Meg chamou, vindo até nós. Ela me lançou um olhar preocupado, mas eu sorri e falei sem emitir som que estava tudo bem.
“Vamos! Antes que as rugas e os cabelos brancos comecem a aparecer!” brincou, passando o braço pela minha cintura.
“Bom, Danny precisa voltar uns 3 anos no tempo então!” Brinquei, puxando um noivo relutante para perto de mim, enquanto nós ríamos.
Senti então aquela serenidade de quem sabe que o tempo daria um jeito em tudo... Um dia aquela festa também seria uma lembrança do passado, como todas as outras coisas que eu vivi... E eu queria mais boas memórias para sentir saudade no futuro.
(…) And I’m sorry it took so long, but you know, life happened.”
- Adele
Meus melhores amigos estavam se casando. Eu os observava dançando juntos, trocando olhares apaixonados e sorri instantaneamente. Lembrei de como Meg parecia relutante à ideia de namorar alguém que ela conhecia desde sempre e como encorajei Danny a chamá-la para sair. Eles dançavam You and Me, do Lifehouse, a canção que estava tocando no meu aparelho de som quando eles se beijaram pela primeira vez, no meu aniversário de dezessete anos.
Onze anos atrás... Eu me lembrava da garotinha que eu era na época. Tão feliz, tão cheia de certezas e tão ansiosa por tudo que eu achava que meus dezoito anos trariam: liberdade, o início da vida adulta, o fim de todos meus medos e inseguranças... Como a gente se engana sobre ser “gente grande”, como fantasiamos essa fase da vida quando somos mais novos!
Suspirei, me sentindo nostálgica de repente. Eu estava parada de pé no fundo do jardim, onde a festa acontecia, e acompanhava a primeira dança dos meus amigos tendo uma visão geral da cena. Cada arranjo de flor, cada vela, cada luzinha... Era exatamente como Meg descrevia desde pequena. Naquele momento, eu me sentia observando um dos desenhos mentais de seu casamento. Me senti feliz por ela, mas ao mesmo tempo me senti velha... O grande dia que planejávamos desde que tínhamos sete anos havia chegado. O “quando eu crescer...” era aqui e agora.
E então eu o vi chegar. A festa toda o viu. Como se ele carregasse uma tocha por onde fosse, como se fosse impossível ignorar sua presença... O garoto de ouro da cidade, o queridinho dos pais, professores e de todas as garotas da nossa pequena cidade. Meu ex-namorado, o amor que nunca consegui superar... .
Como se estivesse hipnotizada, continuei olhando-o cumprimentar os pais de Danny e dar um abraço de lado no irmão mais velho do noivo. Eu não estava preparada para vê-lo, ninguém tinha me dito que ele havia sido convidado... E que havia aceitado.
A dança acabou e, quando os demais convidados começaram a ocupar a pista de dança, ele se aproximou de Meg e Daniel. ainda se parecia muito com o garoto que eu havia namorado, apesar de ter se transformado em um homem... Seu sorriso cativante, a risada alegre e alta e seu charme pareciam ter se multiplicado na capacidade de prender a atenção das pessoas. Eu não podia ouvir o que eles conversavam, é claro, mas parecia ser algo divertido... Os três riam e falavam animados, sendo interrompidos frequentemente por pessoas que queriam cumprimentar não só os noivos, mas também. Era como se ele nunca tivesse ido embora.
A não ser para mim.
Sete anos, dez meses e quatro dias... Esse era o tempo desde a última vez que nós nos vimos. O dia que nos despedimos e ele foi embora para os Estados Unidos. Seu pai era americano e estava disposto a investir em sua educação do outro lado do oceano, onde morava. Nós éramos de uma cidade minúscula, quase um vilarejo, e esse tipo de coisa não acontecia para pessoas como nós. Ele aceitou, logicamente, e num dia quente de julho nos abraçamos pela última vez e prometemos que nada mudaria entre nós.
Não éramos mais crianças quando isso aconteceu... Já tínhamos nossos vinte anos. Eu achava que AGORA SIM, sabia o que estava fazendo e tinha total controle do meu futuro. Eu e aguentaríamos os anos separados. Não era mais um amor adolescente, era real...
Mais uma vez, a vida provou que nós não sabemos de nada. Nunca.
“Um shot de tequila por seus pensamentos...” Ouvi uma voz conhecida dizer e percebi que havia me perdido em pensamentos por um tempo.
estava parado em minha frente. Parecia ainda mais bonito de perto e seus olhos e sorriso ainda mais encantadores. A mágoa que eu sentia ainda estava ali, sendo ajudada pela nostalgia que aquela festa estava me fazendo sentir e as duas apertavam minha caixa torácica desconfortavelmente. Mas ao vê-lo tão perto, sorri de volta. Sua voz era como música para meus ouvidos e a alegria de ouví-la de novo diminuía um pouco o incomodo que eu estava sentindo.
“Não bebo mais tequila...” Respondi. “Não tenho mais idade pra conviver com a ressaca no dia seguinte!”
“Somos dois! Meu fígado já não é mais o mesmo!”
Nós dois rimos e ele colocou as mãos nos bolsos, me lançando um de seus sorrisos de lábios fechados.
“Que bom te ver, !”
Só me chamava de . Engraçado é que nos dias atuais, eu costumava dizer que aquele era meu “apelido de infância”. E depois de tanto tempo, eu nem sabia mais se , corretora de imóveis, e , a garota que roubava tequila do pai para beber com o namorado e os amigos, eram a mesma pessoa. Muito menos se aprovaria as escolhas de vida que havia feito para as duas... Afinal, tinha grandes planos: ia chegar aos trinta anos feliz profissionalmente, casada com (seu ) e com filhos. , vinte e oito anos, não preenchia nenhuma daquelas opções.
“Bom te ver também, ” ele riu ao ouvir o apelido. Eu podia apostar que ninguém o chamava assim nos Estados Unidos. “Não achei que você viria hoje...”
“Não perderia o casamento de Danny por nada nesse mundo!”
Fiz que sim com a cabeça. Uma parte de mim queria muito saber se ele tinha estado ansioso para me ver.
“Fico feliz que ele tenha te convidado. Como está a vida do outro lado do Atlântico?”
Parecia tão quadrado perguntando aquilo. Éramos só dois estranhos fazendo comentários banais e perguntas sem profundidade. Me senti triste novamente... Triste por perceber que os laços que unem as pessoas por tanto tempo se afrouxam se não prestamos constante atenção a eles. Triste porque não temos controle da entrada e saída das pessoas das nossas vidas. Eu sabia que com algum esforço e mais cinco minutos de conversa, eu também sentiria como as outras pessoas ali presentes e seria “como se ele nunca tivesse partido”. Mas ainda assim, aquele fase estranha existiu e eu me senti impotente diante dela.
“Tudo bem. Sou diretor administrativo de uma das filiais da empresa do meu pai, em Boston.” Ele respondeu. “E você? Onde está morando?”
“Aqui...” Disse, sem emoção e seus olhos perderam um pouco do brilho. “Sou corretora de imóveis e trabalho com Mr. Harrison.”
Ficamos em silêncio por um tempo e eu percebi que também estava incomodado com aquela barreira que parecia haver entre nós.
Mas não se deixava perturbar por muito tempo. Não havia situação ruim que ele não pudesse contornar.
“Quer saber? Nosso tempo é muito curto para falarmos dos nossos empregos chatos!” Falou, o brilho voltando aos seus olhos e um sorriso travesso preenchendo seus lábios.
tomou minha mão e me puxou pela festa, indo em direção a mesa de bebidas. Rindo como o adolescente que eu costumava namorar, ele pegou uma garrafa de vinho e continuou me levando para longe da movimentação. Acabamos sentados nos degraus da varanda da frente da casa de Meg, onde a festa acontecia.
“Não sei como vinho aparece na sua classificação de ‘bebidas que causam ressacas desastrosas’, mas não achei nada melhor...” Ele disse, bebendo direto da garrafa e passando-a para mim.
“Aparece numa colocação melhor que a tequila, então tudo bem!” Falei, fazendo-o rir. Ele ficou me olhando por alguns segundos sem dizer nada. Eu me sentia frágil diante daquele olhar.
“Você está tão linda, !”
Sorri tímida, mas satisfeita em saber que era recíproco.
“Você também não está nada mal, . Acho que nunca tinha visto você de terno!”
Ele riu e pegou a garrafa da minha mão.
“Lembra como eu odiava roupas sociais? Irônico é eu ter que usar terno para trabalhar todo dia!”
“Você também não gostava de vinho...” Disse, me lembrando de como ele odiava até o cheiro da bebida.
“O que foi que nós viramos?” brincou, fazendo a indagação que eu já havia feito a mim mesmo há pouco tempo.
Dei de ombros e mais uma vez ficamos em silêncio, ouvindo a música que vinha baixinha da festa. Rimos ao perceber que a música era Cupid’s Chokehold.
“Eu ainda lembro a letra toda, até o rap!” Falei, gargalhando.
“Você me enchia o saco com essa música todo santo dia!” disse e me devolveu a garrafa de vinho.
“Você sente saudades?” Perguntei, ficando séria novamente e me virando para ele.
“De nós?”
Eu não estava preparada para aquela pergunta, não era nisso que eu estava pensando. E eu nem sabia se queria saber a resposta.
“Daqui. De tudo.”
“Claro que sinto! Eu cresci aqui, tinha família, amigos... Uma namorada aqui. Sinto saudades de tudo...”
Senti o coração apertar um pouquinho.
“Eu tenho vontade de voltar praquela época todos os dias! Ter dezessete anos de novo...” Confessei, sem saber se estava fazendo o certo. Para minha surpresa, porém, pareceu contrariado.
“Você não pode estar falando sério!” Retrucou.
“E por que não? Não ter responsabilidades, o começo do namoro de Meg e Danny, o ano que perdemos a virgindade...” Falei, empurrando-o com o ombro, como se estivesse tentando convencê-lo de que aquela havia sido a melhor época das nossas vidas. Mas apenas balançou a cabeça em negação.
“Você odiava ter dezessete anos! Odiava ter que pedir permissão aos seus pais para sair, odiava a escola, odiava as pessoas dessa cidade e queria se mudar o mais rápido possível... Além do mais, nós ficamos melhores no sexo depois dos dezessete!” Ele terminou piscando e eu ri, envergonhada. “Você está romantizando o passado. Não existe nada lá que você não possa ter agora. E melhor.”
Virei a garrafa na boca para evitar ter que olhá-lo ou responder ao que ele havia dito. Primeiro porque sim, havia algo daquela época que eu não tinha mais: ele. E segundo porque de alguma forma estava certo. Eu havia me esquecido como meus pais eram restritos com meus horários, até mesmo para sair com ele, que era meu namorado desde sempre. Como me irritava morar em uma cidade tão pequena...
Como tudo na vida, havia dois jeitos de analisar o passado. E até aquele momento, eu estava olhando para ele por um ângulo só. Me deixava tão brava estar ficando velha e distante dos meus próprios sonhos, que eu preferia me esconder em um lugar onde tudo ainda era possível. E onde tudo ainda era exatamente como eu havia deixado. Mas não era certo “morar” lá. Porque o passado não me pertencia mais... era como uma pena flutuando no vento.... Indo cada vez mais para longe.
E então, como alguém que havia acabado de perceber que precisava deixar o passado no passado, eu fiz a pergunta que me dava tanto medo. A pergunta que matava de vez a esperança.
“Você... Você... Tem alguém? Em Boston?”
encarou o horizonte e mordeu os lábios e eu soube a resposta antes que ele me dissesse.
“Eu vou me casar no outono, .”
Sem saber como agir, bebi mais vinho antes de dizer algo. É claro que ele tinha alguém! Ele era tudo que qualquer garota podia querer... As americanas deviam amar o sotaque dele. E seus olhos... E seu sorriso...
Pela minha reação, soube logo que 1) Eu não esperava que ele estivesse para casar e 2) EU não tinha ninguém.
“Bom, se você precisar de alguém pra organizar... Fui eu que montei esse casamento todinho!” Brinquei, do alto do meu transtorno, bebendo mais. Não tinha ideia do que estava dizendo.
Ele me olhou carinhoso e sorriu, tirando a garrafa da minha mão mais uma vez.
“Meg me contou. E você fez um trabalho espetacular! Você devia montar um buffet, . Você sempre amou cozinhar, organizar jantares e esse tipo de coisa... Não sei como acabou em um escritório!”
E era por isso que era tão especial... Depois de me jogar o maior balde de água fria de todos os tempos, ele apareceu com uma ideia brilhante. Algo que ninguém que havia convivido comigo em todos esses últimos anos havia me dito. E eu precisei me corrigir de algo que havia pensado mais cedo: Alguns laços nunca se desfaziam... Alguns laços eram, na verdade, nós de marinheiro.
Meu rosto se iluminou de repente com a possibilidade.
“É uma boa ideia. Eu... Vou pensar nisso.”
Ficamos em silêncio de novo. Eu tinha muito o que assimilar daquela conversa com ele.
“Me desculpa. Por não ter te dito antes que eu ia me casar. Ou por não ter mantido contato.” pediu, alcançando minha mão. “Não quer dizer que eu não pensei em você todo esse tempo. Mas você sabe... A vida tinha outros planos...”
“Eu sei.” Disse a ele, sorrindo e apertando sua mão que segurava a minha.
Não era culpa de . Nada era culpa dele, na verdade. E eu precisei que o próprio viesse até mim para me fazer enxergar que era hora de olhar para frente. Eu não era tão jovem mais, mas ainda tinha muita vida pela frente. Nós tinhamos. Eu, , Danny, Meg... Nossas histórias estavam só começando.
“Bom... acho que eu preciso ir...” disse, olhando para o relógio e depois pra mim. “Você vai ficar bem?”
Fiz que sim com a cabeça. Pela primeira vez naquela noite, e em muito tempo, me senti cheia de vida. Me levantei e , que ainda segurava minha mão, se levantou também.
Ficamos parados um tempo um de frente para o outro. Eu não queria me despedir, mas sabia que era necessário. Pelo menos dessa vez eu sabia o que esperar... Não era o fim que eu queria, mas era um fim definitivo. E capítulos novos sempre pareciam trazer coisas excitantes.
“Posso... Posso te dar um abraço?” Perguntei, meio sem jeito. riu e balançou a cabeça, como se eu fosse maluca de estar perguntando.
Antes que eu pudesse me dar conta, já estava sendo puxada para mais perto por ele, que me envolveu. Senti de novo a paz que estar entre seus braços sempre tinha me trazido. Ainda que dessa vez fosse totalmente diferente... Ele havia trocado de perfume, eu não podia mais afagar seu cabelo e sua nuca ou enterrar meu nariz em seu pescoço. Mas estranhamente, o efeito calmante era o mesmo. Quem quer que sua noiva fosse, era uma pessoa de sorte.
“Você cresceu, ...” Eu comentei, fazendo-o rir alto. Fechei os olhos ao ouvir aquele som de tão perto e sentir seu tórax se movimentar com as risadas. Ri também.
“Claro que não cresci. Deixa de ser maluca!”
Senti seu corpo se afastar um pouco e me afastei também. Nós dois sorríamos e ele me ofereceu a mão para voltarmos à festa. Eu me sentia leve e ligeiramente embriagada de algo que eu sabia não ser o vinho. Voltamos para o jardim e não passamos despercebidos da visão dos noivos.
“! ! Venham, precisamos tirar uma foto!” Meg chamou, vindo até nós. Ela me lançou um olhar preocupado, mas eu sorri e falei sem emitir som que estava tudo bem.
“Vamos! Antes que as rugas e os cabelos brancos comecem a aparecer!” brincou, passando o braço pela minha cintura.
“Bom, Danny precisa voltar uns 3 anos no tempo então!” Brinquei, puxando um noivo relutante para perto de mim, enquanto nós ríamos.
Senti então aquela serenidade de quem sabe que o tempo daria um jeito em tudo... Um dia aquela festa também seria uma lembrança do passado, como todas as outras coisas que eu vivi... E eu queria mais boas memórias para sentir saudade no futuro.
Fim
Nota da autora: Aquela sensação estranha de voltar a escrever fics depois de um ano parada. Espero que tenha ficado ok e, pra todo mundo que ama essa música tanto quanto eu, espero não ter decepcionado!
Como uma pessoa que se encontra nessa fase da vida em que tudo o que a gente imaginou na adolescência não faz mais sentido, eu tentei ser o mais real possível nas divagações da Liv sobre o passado e o futuro. Tem um pouco de autobiográfico, tem um pouco do que eu acho que a Adele quis dizer e também tem um pouco de observar amigas, amigos e conhecidos passando pelos vinte e poucos anos... E morrendo de saudade da adolescência. Se valeria a pena voltar tudo e ter “seventeen again” ou não, deixo para cada um decidir.
Enfim... Espero que vocês tenham gostado e, pelo sim ou pelo não, não deixem de comentar o que acharam!
Meus muuuuuito obrigadas especiais vão pra Thatha, que deu um empurrãozinho pra fic sair (e me lembrou que faltava um abraço ^^), Liih, que também deu uma força pra eu finalmente tirar as teias de aranha da minha pasta de fics e escrever essa e pra Fran, que se apaixonou pelo Sully comigo!! Sem vocês, a ideia não tinha vindo parar numa página de word <3
Pra quem tiver interesse em ler mais coisas que eu escrevi, entrem no meu grupo no facebook.
Obrigada por lerem, se puder comentem e até a próxima!!
Lary
Nota da beta: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Como uma pessoa que se encontra nessa fase da vida em que tudo o que a gente imaginou na adolescência não faz mais sentido, eu tentei ser o mais real possível nas divagações da Liv sobre o passado e o futuro. Tem um pouco de autobiográfico, tem um pouco do que eu acho que a Adele quis dizer e também tem um pouco de observar amigas, amigos e conhecidos passando pelos vinte e poucos anos... E morrendo de saudade da adolescência. Se valeria a pena voltar tudo e ter “seventeen again” ou não, deixo para cada um decidir.
Enfim... Espero que vocês tenham gostado e, pelo sim ou pelo não, não deixem de comentar o que acharam!
Meus muuuuuito obrigadas especiais vão pra Thatha, que deu um empurrãozinho pra fic sair (e me lembrou que faltava um abraço ^^), Liih, que também deu uma força pra eu finalmente tirar as teias de aranha da minha pasta de fics e escrever essa e pra Fran, que se apaixonou pelo Sully comigo!! Sem vocês, a ideia não tinha vindo parar numa página de word <3
Pra quem tiver interesse em ler mais coisas que eu escrevi, entrem no meu grupo no facebook.
Obrigada por lerem, se puder comentem e até a próxima!!
Lary
Nota da beta: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.