Capítulo Único
Os dias de mudaram da água para o vinho desde que assumiu seu relacionamento com Weasley. No salão comunal da Sonserina, sua presença era ignorada a maior parte do tempo e, nestes momentos, ela agradecia aos céus pelos minutos de paz, porque quando eles se lembravam que ela existia, o inferno estava em terra. Eles. Ele, na verdade. Draco Malfoy. Era quase insuportável permanecer no mesmo cômodo que ele. Xingamentos, ofensas, expressões de repulsa. Não restara um sinal sequer do Draco pelo qual se apaixonara no ano anterior. Cada ofensa proferida doía, apesar dos esforços que a morena fazia para separar o loiro que habitava suas memórias do escroto que agora vivia naquela carne. Cercado por Crabbe, Goyle e pela vitoriosa Pansy Parkinson, Malfoy dedicava seu tempo livre a atormentar a jovem . Talvez tê-lo exposto em frente a tantos alunos como fizera ao terminar com ele não tivesse sido a melhor opção. No momento fora hilário confrontá-lo, vê-lo dar chilique por ter perdido a garota para o Weasley e ser petrificado logo em seguida. Porém, um mês depois, pensando friamente, a se ressentia daquela ideia. Naquele jardim, ela arranjara um inimigo com o ego bastante ferido.
Como parte da cadeia de comando da Brigada Inquisitorial de Dolores Umbridge, Draco tinha autoridade para colocar outros alunos atrás de seu novo desafeto, esperando uma brecha para atormentá-la. Umbridge, ciente dos acontecimentos, viu na ira de Malfoy uma possibilidade de conseguir informações. , apesar de aluna da Sonserina, passou a ser vista na companhia de grifinórios, principalmente de e seu gêmeo, . A inquisidora sabia que os alunos da Grifinória estavam envolvidos até o pescoço com a organização denominada de Armada de Dumbledore. Se Ronald Weasley, braço direito de Harry Potter, fazia parte, seus irmãos mais velhos com enorme talento para arranjar confusão com certeza também fariam. possivelmente toparia de tudo para se sentir aceita no novo meio, já que fora escorraçada pelos colegas de casa, que a consideravam baixa por se envolver com um Weasley. Toparia até mesmo se juntar à organização. Ao ser devidamente intimidada, seguramente entregaria o local onde as reuniões da Armada de Dumbledore ocorriam. Por isso, a Brigada Inquisitorial julgava como errada toda e qualquer coisa que a morena fizesse, mantendo-a sempre em detenção na sala da inquisidora, onde exaustivos interrogatórios eram realizados, ao passo que deixavam os gêmeos aos cuidados de Argo Filch.
O Paraíso, porém, existia e podia ser encontrado no corredor do terceiro andar, atrás do quadro da velha bruxa segurando um lampião. Como vinha fazendo todos os dias entre os horários apertados das aulas e detenções, atravessou a imagem de Geneviève , sua bisavó, e não pôde conter o sorriso. pendurava novas lamparinas pelo teto, transformando a cor escura das paredes em um agradável tom de cobre. No dia anterior, ele havia trago um tapete felpudo e bastante confortável, que juntamente com almofadões, trouxeram aconchego para aquele recanto onde eles podiam aproveitar a companhia um do outro.
— Boa noite, srta. . - cumprimentou-a com um sorriso no rosto, segurando sua mão com a delicadeza de um gentleman, arrancando risos da sonserina. - Espero que goste das reformas no nosso cafofinho do amor.
— Pelo amor de Merlin, ! - ela mal conseguia falar em meio às gargalhadas.
— O orçamento é baixíssimo, por isso algumas das peças aqui expostas foram delicadamente cedidas pelo digníssimo sr. Filch. - apontou para as prateleiras recém-instaladas contendo livros, tinteiros, pergaminhos e caixas cujo conteúdo ainda era desconhecido à morena. Ela sabia, mesmo sem analisar de perto, que nada ali era inofensivo como parecia. - Relíquias deixadas por outros casais apaixonados e por gênios incompreendidos ao longo de todos esses anos. Seria um desperdício não as aproveitar, não é mesmo?
— Você não existe, Weasley. - passou os braços pelo pescoço do ruivo, encostando seus lábios nos do mais alto. - Ficou lindo, você é um ótimo decorador. Mas Filch não achou estranho você carregar isso tudo pra fora da sala dele?
— Ora, que bobinha. e eu reduzimos tudo, enfiamos nos bolsos e saímos de lá apenas levemente curvados pelo peso. Ele deve ter até ficado feliz, achando que estávamos com dor nas costas depois de polir todas as superfícies planas naquela sala. Nós passamos mais tempo com o velho Filch do que com muitos professores ao longo desses sete enormes anos, sabemos como enganá-lo.
sentou-se em uma das almofadas, puxando o Weasley pelo braço para que ele fizesse o mesmo.
— Abaffiato. Agora estamos seguros. Só não podemos perder o horário do jantar. Como você tá, princesa?
— Exausta. Umbridge está de olho em mim desde a última detenção. - desabafou a - Não posso nem respirar que me arranjam mais uma hora com ela. Na próxima ela vai perguntar até o tamanho das suas calças, viu?
— Credo. Nem a tia Muriel me dá calças de presente. Mas se você quiser tirá-las pra conferir o tamanho certo, fique à vontade. - ele falou estranhamente sério.
permaneceu em silêncio, aguardando o momento em que iria rir e quebrar a tensão. Contrariando suas expectativas, o gêmeo beijou-a, sugando seu lábio inferior, pedindo passagem para que as línguas pudessem se encontrar. O hálito quente de fez suspirar. Tudo em Weasley era quente. Sua pele, seu cheiro, seu sorriso, sua personalidade, seus toques. Tudo transmitia calor. Tudo a fazia querer ceder à investida dele. A destra do gêmeo escorregou para sua cintura, puxando-a para mais perto de si. Os lábios pousaram na curva do pescoço da quintanista, onde uma lufada de respiração pesada fez a pele arrepiar. Curtos beijos formaram uma trilha úmida que se estendeu até a clavícula delicadamente exposta pela abertura do uniforme. A morena suspirou, pendendo a cabeça para o outro lado a fim de conceder mais espaço.
Quente.
Muito quente.
Mas não era que estava queimando-a. A dor obrigou-a a voltar a si, reconhecendo a pequena adaga pendurada em seu pescoço como sendo a culpada. Quente como em brasa. Era hora de parar.
— … - tocou em seu peito, empurrando levemente. - Devagar.
— Epa. - pigarreou claramente sem jeito. - Onde estávamos mesmo? Ah, sim! Reclamando da sapa da Umbridge.
— Você fica fofo corado. - ela comentou.
— São as velas. Tudo fica meio vermelho por aqui, sabe como é. - desconversou.
— Vivi pra te ver com vergonha. - acariciou os fios ruivos. - Eu também quero, . Mas não tá na hora ainda.
— Por quê?
alcançou a varinha no bolso e com um leve movimento as paredes acobreadas transformaram-se em uma densa floresta com altos pinheiros nevados, o tapete e as almofadas foram diretamente transportados para a clareira cercada por aquelas árvores. O sol se punha dourado no horizonte.
estava embasbacado.
— Puta merda. Você é uma bruxa fantástica, ! Fantástica! O que você fez? - olhou ao redor. Não havia sinal que o recordasse do cômodo onde estavam até então exceto pelo tapete. Ele podia sentir o vento fresco roçar em seu cabelo. - Entre pra Armada, eu juro que nunca mais te peço nada.
— É só uma projeção da floresta de Loch Ard, ao redor da minha casa. Transfiguração avançada. - deu de ombros com uma expressão orgulhosa tomando-lhe a face. - É por isso que eu não posso, . Meu aniversário de dezesseis anos é logo após voltarmos do Natal, daqui a pouquíssimo tempo. Veja a coluna de fumaça em meio às árvores. Ali estão as forjas dos .
A testa enrugada do Weasley denunciava o quanto ele estava confuso e ainda pasmo.
— No retrato da minha bisavó, ela carrega um lampião, certo? - o ruivo acenou em concordância. - Aquele é o Instrumento dela. Um artefato mágico forjado por ela mesma aos dezesseis anos. É a tradição da família. Agora é a minha vez.
— E isso quer dizer que?...
— Que minha mente tem de estar focada e esvaziada de tudo que possa trazer tremulações às minhas mãos e pensamentos, ou o fogo não vai me aceitar. Preciso ser virgem como o metal. - disse a morena, abaixando o olhar para evitar encarar o namorado.
Antes que ela pudesse continuar, envolveu-a em um abraço apertado.
— Eu não sabia, princesa. - afagou-a - Pensei que no tempo com o Malfoy, vocês já…
— Não. Nunca. - falar sobre esse assunto deixava bastante constrangida, era difícil conter o incômodo.
— Desculpa. - beijou-a delicadamente - Tá tudo bem, eu posso te esperar o tempo que for. Sei que vai valer a pena. - piscou.
A garota acenou em silêncio, com o coração ligeiramente mais tranquilo. A dor causada pela queimadura do colar, porém, seguia intensa. Ela desvencilhou-se do ruivo para observar o local machucado e espantou-se ao descobrir que a pele estava intacta. Aparentemente, mesmo estando tão próximo à corrente que sustentava o pingente, o Weasley não sentiu a quentura se espalhar pela joia. Óbvio, o aviso não era para ele, tampouco deveria ser visível. Era de para .
— Agora, no meio dessa bela floresta, onde espero que os possíveis animais ferozes e devoradores de pessoas também sejam projeções, você poderia me dizer se quer entrar pra Armada de Dumbledore ou não? - perguntou.
— Melhor não. Umbridge pode me usar pra chegar até vocês, ninguém sabe do que essa mulher é capaz. No dormitório eu teoricamente fico mais suscetível a qualquer merda que ela ou Draco tentem fazer porque tô cercada de pessoas que querem cuspir em mim. Não quero ser um problema pra vocês, .
— Você teria muito a nos ensinar, . Se Hermione descobrisse que você já faz feitiços mudos ela teria uma síncope. - sorriu ao imaginar a Granger enfurnada na biblioteca, estudando desesperadamente - Harry nos ensinou o Patrono.
O garoto se levantou ligeiramente para tirar a varinha do bolso traseiro.
— Expecto Patronum.
Um pássaro envolto em aura brilhante voou ao redor do casal, uma pega-rabuda com as asas perfeitamente alinhadas, o patrono de . Pulando da ponta da varinha da , um guaxinim rechonchudo correu em direção à ave, que desceu para bem próximo ao solo, de modo a permitir que as mãozinhas do guaxinim pudessem alcançá-la.
— Genial! - aplaudiu - Você sabe se essa garota da Sonserina, a tal , tem namorado? Tenho muito interesse nela.
— Acho que ela tem alguma coisa com um dos gêmeos Weasley. , talvez?
— Maldito Weasley! - fingiu-se raivoso.
Os animais etéreos desfizeram-se em um sopro, levando com eles a floresta que os abrigara. Por mais talentosa que a quintanista fosse, sustentar feitiços deste porte por um longo tempo era desgastante.
Nos minutos que restaram até ser necessário deixar o conforto daquele abrigo, confiou a detalhes sobre o importante ritual de sua família e como isso estava tirando seu sono. Os Instrumentos acompanham os bruxos por toda a vida e, quando esta se findava, eram derretidos para que magia contida nos metais utilizados retornasse para ser utilizada pelas próximas gerações. Era uma grande responsabilidade desenvolver um Instrumento. Ele seria seu parceiro pelo resto da vida. Defini-lo significava estabelecer, também, uma perspectiva de futuro muito maior do que ela já havia feito até então. E se ela não conseguisse? E se o fogo não a aceitasse? E se o Instrumento se partisse por imperícia? E se não fosse um bom condutor mágico? Eram muitas incógnitas a se considerar.
— Nossa, que complexo. - o ruivo mexeu no queixo, pensativo - Nunca mais reclamo de ter ganho um relógio quando fiz dezessete anos. Mas não fique com medo, você vai fazer um Instrumento tão radiante que vai parar na capa d’O Profeta Diário.
— Às vezes é muita coisa pra aguentar sozinha.
— Como você vai usar magia fora da escola se é menor de idade? - perguntou.
— A magia não parte de mim, o metal já é mágico por si mesmo. Tenho de moldá-lo juntamente com a magia que ele carrega. Essa é a parte mais difícil. Nem sei o que vai ser meu Instrumento!
— Segue seu coração, princesa. - guiou a mão de até o peito da mesma, onde pousava a simples tulipa que ele havia dado a ela, finamente ornada e transformada em broche pela habilidade da morena de manusear magicamente os metais. - Vamos, tá na hora do jantar. - levantou-se e estendeu a mão para que ela o seguisse.
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Dois dias depois, tão logo chegou ao Salão Principal para tomar café da manhã, a notou o vazio na mesa da Grifinória. As duas cabeças ruivas que sorriam e acenavam para ela todas as manhãs não estavam ali, tampouco Ron e Gina. Qual a probabilidade de que todos os Weasley tivessem dormido demais? Potter e Granger também não tinham aparecido.
Algo estava errado.
Umbridge achou a Armada de Dumbledore… Era isso. virou-se e desatou a correr em direção à torre da Grifinória, não dando atenção às pessoas de quem desviava até ouvir seu nome ser chamado.
— Srta. . - Minerva McGonagall referiu-se a ela. - Pare de correr.
— Professora! - ofegou - Os Weasley su-
— A senhorita perdeu um livro de capa laranja na minha sala. Venha comigo, por favor.
A morena olhou para os dois lados, havendo apenas o corredor vazio ao redor delas, por isso, seguiu a professora. Nenhuma palavra foi trocada no caminho, não era necessário, ela havia compreendido a mensagem. A sala estava vazia, McGonagall fechou a pesada porta e sentou-se em sua mesa, com parada a sua frente.
— Nesta manhã, Arthur Weasley foi levado ao St. Mungus após ter sido atacado enquanto fazia rondas pelo Ministério da Magia. - falou baixo e pausadamente - Os filhos dele foram encontrá-lo no hospital, srta. .
— Como? - perguntou incrédula.
— Weasley foi demasiadamente gentil em pedir que eu transmitisse esta informação à senhorita. Que ela não saia desta sala.
— Sim, professora. - respirou fundo e dirigiu-se à saída. - Obrigada pelo livro. - agradeceu a ajuda antes de fechar a porta.
passou o dia preocupada com o que acontecera com o Sr. Weasley, tendo dificuldade de se concentrar nos estudos para os N.O.M.s. Mesmo sem maiores informações, sua mente alertava para o perigo que se aproximava. Se Arthur Weasley estava patrulhando o Ministério durante a madrugada, alguma coisa importante estava sendo guardada lá. Seja quem fosse que quisesse tirá-lo do caminho, era perigoso. A escuridão tomava conta de Hogwarts dia após dia, e ela não se referia ao sol que enfraquecia com a chegada do inverno. Todos a viam, mas ninguém parecia fazer algo sobre. Talvez Dumbledore exergasse o que realmente estava acontecendo no mundo bruxo, pena que ninguém sabia por onde ele andava.
No dia seguinte os alunos deixariam o castelo para o recesso de Natal, ficaria dez dias sem ver e sequer pudera se despedir dele. Tudo em seu coração era aflição e pesar.
Faltavam doze dias para seu aniversário.
Quando amanheceu, era a primeira na fila para utilizar a Rede Flu. Em casa ela se sentiria mais segura. A notícia do incidente com o Sr. Weasley se espalhara pelas masmorras entre sussurros, toda a Sonserina sabia o que tinha acontecido. Malfoy soltara uma ou duas piadas sobre ser o próximo enquanto aguardava a chegada de Snape para abrir a Rede Flu. Era fácil deduzir de onde partiam as informações que alimentavam os burburinhos. Ela estava cercada por filhos de antigos partidários das Trevas. Não havia mais como duvidar de Harry Potter.
A lareira da residência dos foi tomada por chamas verdes, anunciando a chegada de . A casa estava vazia. Normalmente seus pais ou seus avós esperariam por ela na sala. Será que tinha se adiantado muito? Realmente tinha feito esforço para ser a primeira a deixar o castelo. Deixou o malão ao lado da lareira, desfez-se da fuligem que cobria suas roupas e decidiu procurar pela família. Os dois andares estavam vazios. A última opção era ir até as forjas. Poucos metros floresta a dentro, encontrou seus avós.
— Vó? - chamou de longe.
— ! O que você está fazendo em casa?
Bernadette parecia assustada. Seu avô, Gordon, olhou nos arredores antes de se aproximar e abraçar a neta.
— Chegou cedo, minha filha. Não esperávamos te ver antes do almoço. - tentou devolvê-la à trilha que levaria-a de volta à casa, porém encontrou resistência por parte da menina.
— Onde estão meus pais? - se esticou para tentar enxergar por entre as árvores.
— Foram comprar presentes! - exclamou a avó forçadamente animada.
tinha visto as caixas sob a árvore assim que chegou, em número exato para todos os familiares. Atrás da velha , três pares de pegadas seguiam pela trilha que levava à beira do lago de Loch Ard. Uma delas pertencia a uma pessoa manca. O pé direito pisava mais forte que o esquerdo. Nenhum dos nem os poucos amigos próximos da família mancava.
— Por que usaram a chave de portal, então? Eles podiam aparatar diretamente no Beco Diagonal.
— Lá não tinha o que eles queriam. Por que não entramos, querida? Você precisa organizar suas coisas. - Gordon convidou-a novamente a seguí-los.
— Não vendem presentes na floresta de Yorkshire Dales, vovô.
deu as costas aos mais velhos e tomou a trilha até o lago a passos largos.
— Volte aqui, . - ordenou a avó. - Não tem nada para você ver lá.
— Desculpa, vovó, mas eu não sou mais criança.
Prevendo o que poderia acontecer pela desobediência, apressou-se ainda mais, começando a correr. Segundos depois, tombou no chão com os braços e pernas paralisados, amarrados por uma pesada corda de metal trançado.
— Onde está indo, mocinha? Isso é forma de falar com sua avó?
Do meio das árvores, seu pai olhava-a com reprovação. Sua mãe vinha logo atrás, caminhando em direção à filha.
— Pai, me solta. - se mexeu tentando aliviar o aperto da corda - Eu estava indo atrás de vocês. Quem veio aqui? Me solta! - continuou a se debater - Por que tem sangue na sua roupa?
— Anna, o que estão ensinando a essas crianças em Hogwarts hoje em dia? - ele perguntou à esposa. - Não foi essa a criação que te demos, .
— Por que tem sangue na sua roupa? - repetiu.
Um javali selvagem foi lançado no chão à sua frente. O pescoço do animal fora quebrado e a barriga, aberta.
— Satisfeita? - questionou-a ironicamente. - Seu pai ainda é um bom caçador.
— Solte ela, Milo. É o suficiente. - a mulher de meia-idade pediu ao marido. A corda voltou ao cinto de Milo , acomodando-se sozinha ao lado de um grande facão. - , vá para casa agora mesmo. Você ainda está de uniforme e suja de fuligem.
— Mas, mãe-
— Nem um pio. Só vá. Aproveite que chegou cedo para fazer algo útil ao invés de ficar falando abobrinhas.
Mesmo cabisbaixa, podia enxergar pelas laterais seus pais cercando-a. Seus avós nada falavam, mal pareciam respirar. Por instantes, a mais nova teve dúvidas se tinha ido para o lugar certo. Aqueles pareciam seus pais, mas não agiam como eles. Nunca foram agressivos ou ríspidos daquela forma. Por Merlin, até em casa estava tudo de cabeça para baixo. O melhor, naquele momento, era manter-se em silêncio. Alguém havia entrado na propriedade da família, uma visita aparentemente indesejada. Disso ela tinha certeza. Quem fora e o que queria eram perguntas que ainda permaneceriam em aberto por algum tempo.
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Nos dois dias que antecediam o Natal, mal viu a família. Cruzava ocasionalmente com o pai ou com a avó nas forjas, enquanto alimentava os fornos. Seguia tentando dar vida ao seu Instrumento, enriquecendo a liga de metais cuidadosamente selecionados entre os que anteriormente pertenciam a seus antepassados.
— O que vai usar, querida? - Bernadette parou ao lado da neta, vendo-a separando os metais com cautela.
— Ouro branco. - respondeu sem tirar os olhos do forno que amolecia a liga. - Com paládio.
— Espero que esteja ciente do quão temperamental é o paládio. O fogo pode simplesmente cuspí-lo sobre você.
— Tenho minhas razões, vovó. - manteve-se firme. - Vai dar certo. Já fiz um teste.
Prata, pensou, pela lembrança da Sonserina. A casa que a permitiu vislumbrar as muitas possibilidades do mundo mágico. A visão do fundo do Lago Negro cativara seu coração no primeiro momento que pisou no salão comunal, espalhando a luz esverdeada por todo o lugar. Seu espírito certamente era verde como a Sonserina. As desavenças com outros alunos da casa não mudaram em nada seu carinho pelo brasão que representava seu lar nos últimos cinco anos.
Paládio, pela excelente condutibilidade mágica. Era um desafio a si mesma conseguir fazê-lo aceitar ser manipulado. Se fosse capaz, garantiria um Instrumento capaz de reconhecer e responder às mínimas flutuações de magia a grandes distâncias.
E o ouro, porque ele era leal. Facilmente impregnável com magia, o ouro sempre via com carinho aqueles que o manuseavam respeitosamente e não se esquecia destes. Lealdade do Instrumento a seu ferreiro, lealdade do ferreiro ao propósito que o sustentara durante o duro processo de forja. O brilho dourado do ouro trazia à a mesma sensação de estar olhando os raios de sol que os fios ruivos e bagunçados de . Ele era o próprio ouro.
— Certo. Vou te deixar sozinha mais um pouco. - olhou de relance a neta recitar os antigos encantamentos, passados de geração em geração, para formar a liga, equilibrando a força dos metais. - Daqui em diante é tudo questão de concentração e respeito. Não perca a hora do jantar, já está ficando tarde.
Ao anoitecer, estava sentada à mesa com os pais e os avós dividindo a ceia de Natal. Sem vestígios do desconforto de dias atrás, apenas uma família feliz comemorando as Festas. Eles riam e conversavam, cantarolavam as músicas que tocavam no rádio no famoso especial de Natal da Celestina Warbeck. A música, no entanto, não foi capaz de abafar o som de algo se espatifando contra a janela da cozinha da casa dos . Gordon levantou-se para verificar o que tinha causado tamanho barulho. estranhou o avô sair para investigar com a varinha em riste, ele não era do tipo desconfiado.
— É uma coruja! - gritou para que os demais ouvissem. - Parece que vai morrer a qualquer momento, coitada.
Uma coruja à beira da morte? Não era possível que fosse…
— Errol! - exclamou quando o avô voltou à sala de jantar amparando a velha ave em seus braços. - É o Errol.
— Você conhece essa coruja, filha? - Anna perguntou à mais nova.
— É a coruja dos Weasley. - respondeu com um enorme sorriso no rosto. Errol largou a caixa de primeiros socorros que trazia presa ao bico assim que se aproximou.
— Weasley? - Bernadette perguntou confusa. - Cuidado, Gordon, não toque nisso. Não sabemos o que tem aí dentro.
— É pra mim, vovó. Vou levar pro meu quarto, mais tarde eu abro. - completou ao ver a surpresa na expressão da avó. - Mãe, a senhora pode dar um pouco de água pro Errol? Ele fez uma longa viagem.
— Abra aqui, . - ordenou Milo. - Nada de segredos nessa casa. O que uma coruja dos Weasley traz para você? Ou melhor, por quê?
A garota respirou fundo, preparando toda a paciência para o interrogatório que com certeza viria a seguir. Arrumou a caixa num canto da mesa e puxou a trava, abrindo-a. Fogos de artifício saltaram para fora, enchendo o cômodo com suas luzes.
— O que é isso? Feche essa caixa! - exclamou o patriarca dos .
As faíscas transformaram-se repentinamente em pétalas das mais variadas cores, cujo perfume alcançou a todos. Tudo foi tomado por flores. Os olhos de brilhavam tanto quanto os fogos haviam cintilado, ela estava encantada. Ela começou a desbravar a pequena caixa, cujo interior era muito maior. Lá dentro, um gnomo com cara de profundo ódio vestindo um tutu de bailarina ridículo e uma peruca ruiva segurava a placa com os dizeres “a alegria da sua árvore de Natal”. Ao lado dele, sapos de chocolate e balas de alcaçuz cercavam uma belíssima torta de maçã com os cumprimentos de Molly Weasley à família .
— A Sra. Weasley nos deu uma torta, mamãe! - mostrou a sobremesa para a mãe, que acenou em concordância.
Em outro canto, um cachecol preto enfeitado com um laço de presente. Ao desfazer o laço, a morena viu os delicados detalhes: tulipas vermelhas. Com certeza a peça havia sido tricotada pela matriarca dos Weasley. Ela enrolou-o no pescoço, mesmo que não estivesse frio dentro da casa. Após todos os itens terem sido retirados, restou no fundo somente um pequeno envelope vermelho.
— Ah, não! É um berrador! - tampou os ouvidos, esperando os gritos que viriam.
Contrariando as expectativas, o berrador emitiu a ritmada voz de .
Queria te dar um pelúcio pra te encher de moedinhas,
Mas esse ano ainda não rolou.
Então espero que goste do gnomo.
Era isso ou uma das galinhas.
Saudades, princesa. Amo você. Tenha um feliz Natal.
O envelope rasgou-se sozinho, deixando no lugar em que flutuava uma embalagem de presente. A mais nova dos agarrou-a antes que caísse, dando de encontro com uma camisa do uniforme de Hogwarts com o brasão e a gravata da Grifinória. O cheiro de adentrou suas narinas, fazendo-a abraçar a camisa como se pudesse impregná-lo em si. O sorriso estampado em sua face era impossível de disfarçar. pegou-se girando no próprio eixo, agarrada ao cachecol e à camisa que recebera de presente, num estado de abobalhamento nunca visto pelas pessoas ali presentes. Ela juntou rapidamente os itens e subiu as escadas em direção ao quarto, deixando sua família falando sozinha por alguns instantes, todos bastante espantados. Voltou com uma caixinha diminuta de veludo escuro nas mãos, deixando-a aos cuidados de Errol.
— Leve pro assim que você estiver em condições, Errol. - acariciou a cabeça da ave, onde já faltavam algumas penas.
Sentou-se novamente à mesa, pronta para continuar a ceia, porém os demais não se achavam no mesmo estado de espírito.
— Agora que terminou o show, nos explique o que acabou de acontecer, . - disse seu pai. - Você tem um minuto a partir de agora.
— Família querida, estou namorando Weasley. Minha mãe sabia, se ela não contou, não é culpa minha. - deu de ombros. Olhares de julgamento por parte de Milo pesaram sobre e Anna.
— Achei que você estava com o menino dos Malfoy. - mencionou Bernadette, sendo rebatida com uma negativa por parte da neta.
— Não mais.
— Melhor assim. - disse Gordon. - Vamos comer antes que esse velho desmaie de fome.
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Desde o Natal, todos os dias antes do sol nascer, já podia ser vista nas forjas da família. Os cabelos pretos amarrados em um rabo de cavalo pela gravata vermelha e dourada que ganhara de pingavam suor. A temperatura do ambiente era tão alta que talvez fosse mais fresco no inferno. Alicates, martelos, barris de óleo e de água, pinças e outras ferramentas estavam por toda parte. O fogo estalava dentro do forno, sendo potencializado pela corrente de vento criada pelo leque que a garota portava. Dos lábios da morena saíam apenas murmúrios, como se hipnotizasse a liga metálica para responder à sua vontade.
Faltava pouco.
A lua subiu aos céus e a fumaça ainda pairava acima dos pinheiros. Era o último dia de , ela precisava terminar seu Instrumento ou voltaria à Hogwarts sem ter completado sua tarefa. Era questão de honra concluir com perfeição dentro do prazo estabelecido. Somado a isto, desde que a camisa de passou a ser sua companheira durante o sono foi se tornando mais difícil para a garota cogitar estender o voto de castidade em prol da forja de seu Instrumento.
Mais alguns ajustes e estaria pronto.
Às onze da noite, os pingentes em formato de adaga de todos os espalhados pelo mundo se acenderam. concluira seu Instrumento.
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De volta às chamas esverdeadas na sala de estar dos , foi engolida por um turbilhão. Ao abrir os olhos, a mão da Professora Sprout estava estendida para recebê-la.
— Bem-vinda de volta, querida. Teve um bom Natal? - a idosa sorridente perguntou.
— Tive sim, professora. Obrigada.
Bateu rapidamente a fuligem das vestes e ajustou o cachecol de tulipas antes de buscar cabeças ruivas entre a multidão de alunos que se acumulavam retornando pela Rede Flu. Seu braço foi puxado repentinamente por mãos quentes apesar do frio do inverno britânico.
— Você fica linda de todo jeito, não é mesmo?
— ! - a sonserina abraçou o pescoço do mais alto que sorria abertamente.
Os lábios tocaram-se rapidamente, em um selo apressado.
— Beijos nos corredores estão proibidos pelo Decreto Educacional número vinte e seis de Dolores Umbridge, Sr. Weasley. - ela brincou. - Você tá a menos de três metros de mim.
— Gemialidades Weasley são proibidas pelo Decreto número trinta e mesmo assim não perdi nem um pence desde que ele foi publicado. Que se dane a Umbridge. - riu enquanto fazia careta.
Os raios do frágil sol de inverno refletiram no novo prendedor na gravata do rapaz, que brilhava em ouro branco. A estrutura detalhada que ornava o pulso de foi iluminada pelos reflexos vindos do clipe de .
Um ouroboros que sustentava em suas escamas uma tulipa com pétalas de rubis e folhas de esmeraldas abriu os olhos.
— Temos muito o que conversar, .
Como parte da cadeia de comando da Brigada Inquisitorial de Dolores Umbridge, Draco tinha autoridade para colocar outros alunos atrás de seu novo desafeto, esperando uma brecha para atormentá-la. Umbridge, ciente dos acontecimentos, viu na ira de Malfoy uma possibilidade de conseguir informações. , apesar de aluna da Sonserina, passou a ser vista na companhia de grifinórios, principalmente de e seu gêmeo, . A inquisidora sabia que os alunos da Grifinória estavam envolvidos até o pescoço com a organização denominada de Armada de Dumbledore. Se Ronald Weasley, braço direito de Harry Potter, fazia parte, seus irmãos mais velhos com enorme talento para arranjar confusão com certeza também fariam. possivelmente toparia de tudo para se sentir aceita no novo meio, já que fora escorraçada pelos colegas de casa, que a consideravam baixa por se envolver com um Weasley. Toparia até mesmo se juntar à organização. Ao ser devidamente intimidada, seguramente entregaria o local onde as reuniões da Armada de Dumbledore ocorriam. Por isso, a Brigada Inquisitorial julgava como errada toda e qualquer coisa que a morena fizesse, mantendo-a sempre em detenção na sala da inquisidora, onde exaustivos interrogatórios eram realizados, ao passo que deixavam os gêmeos aos cuidados de Argo Filch.
O Paraíso, porém, existia e podia ser encontrado no corredor do terceiro andar, atrás do quadro da velha bruxa segurando um lampião. Como vinha fazendo todos os dias entre os horários apertados das aulas e detenções, atravessou a imagem de Geneviève , sua bisavó, e não pôde conter o sorriso. pendurava novas lamparinas pelo teto, transformando a cor escura das paredes em um agradável tom de cobre. No dia anterior, ele havia trago um tapete felpudo e bastante confortável, que juntamente com almofadões, trouxeram aconchego para aquele recanto onde eles podiam aproveitar a companhia um do outro.
— Boa noite, srta. . - cumprimentou-a com um sorriso no rosto, segurando sua mão com a delicadeza de um gentleman, arrancando risos da sonserina. - Espero que goste das reformas no nosso cafofinho do amor.
— Pelo amor de Merlin, ! - ela mal conseguia falar em meio às gargalhadas.
— O orçamento é baixíssimo, por isso algumas das peças aqui expostas foram delicadamente cedidas pelo digníssimo sr. Filch. - apontou para as prateleiras recém-instaladas contendo livros, tinteiros, pergaminhos e caixas cujo conteúdo ainda era desconhecido à morena. Ela sabia, mesmo sem analisar de perto, que nada ali era inofensivo como parecia. - Relíquias deixadas por outros casais apaixonados e por gênios incompreendidos ao longo de todos esses anos. Seria um desperdício não as aproveitar, não é mesmo?
— Você não existe, Weasley. - passou os braços pelo pescoço do ruivo, encostando seus lábios nos do mais alto. - Ficou lindo, você é um ótimo decorador. Mas Filch não achou estranho você carregar isso tudo pra fora da sala dele?
— Ora, que bobinha. e eu reduzimos tudo, enfiamos nos bolsos e saímos de lá apenas levemente curvados pelo peso. Ele deve ter até ficado feliz, achando que estávamos com dor nas costas depois de polir todas as superfícies planas naquela sala. Nós passamos mais tempo com o velho Filch do que com muitos professores ao longo desses sete enormes anos, sabemos como enganá-lo.
sentou-se em uma das almofadas, puxando o Weasley pelo braço para que ele fizesse o mesmo.
— Abaffiato. Agora estamos seguros. Só não podemos perder o horário do jantar. Como você tá, princesa?
— Exausta. Umbridge está de olho em mim desde a última detenção. - desabafou a - Não posso nem respirar que me arranjam mais uma hora com ela. Na próxima ela vai perguntar até o tamanho das suas calças, viu?
— Credo. Nem a tia Muriel me dá calças de presente. Mas se você quiser tirá-las pra conferir o tamanho certo, fique à vontade. - ele falou estranhamente sério.
permaneceu em silêncio, aguardando o momento em que iria rir e quebrar a tensão. Contrariando suas expectativas, o gêmeo beijou-a, sugando seu lábio inferior, pedindo passagem para que as línguas pudessem se encontrar. O hálito quente de fez suspirar. Tudo em Weasley era quente. Sua pele, seu cheiro, seu sorriso, sua personalidade, seus toques. Tudo transmitia calor. Tudo a fazia querer ceder à investida dele. A destra do gêmeo escorregou para sua cintura, puxando-a para mais perto de si. Os lábios pousaram na curva do pescoço da quintanista, onde uma lufada de respiração pesada fez a pele arrepiar. Curtos beijos formaram uma trilha úmida que se estendeu até a clavícula delicadamente exposta pela abertura do uniforme. A morena suspirou, pendendo a cabeça para o outro lado a fim de conceder mais espaço.
Quente.
Muito quente.
Mas não era que estava queimando-a. A dor obrigou-a a voltar a si, reconhecendo a pequena adaga pendurada em seu pescoço como sendo a culpada. Quente como em brasa. Era hora de parar.
— … - tocou em seu peito, empurrando levemente. - Devagar.
— Epa. - pigarreou claramente sem jeito. - Onde estávamos mesmo? Ah, sim! Reclamando da sapa da Umbridge.
— Você fica fofo corado. - ela comentou.
— São as velas. Tudo fica meio vermelho por aqui, sabe como é. - desconversou.
— Vivi pra te ver com vergonha. - acariciou os fios ruivos. - Eu também quero, . Mas não tá na hora ainda.
— Por quê?
alcançou a varinha no bolso e com um leve movimento as paredes acobreadas transformaram-se em uma densa floresta com altos pinheiros nevados, o tapete e as almofadas foram diretamente transportados para a clareira cercada por aquelas árvores. O sol se punha dourado no horizonte.
estava embasbacado.
— Puta merda. Você é uma bruxa fantástica, ! Fantástica! O que você fez? - olhou ao redor. Não havia sinal que o recordasse do cômodo onde estavam até então exceto pelo tapete. Ele podia sentir o vento fresco roçar em seu cabelo. - Entre pra Armada, eu juro que nunca mais te peço nada.
— É só uma projeção da floresta de Loch Ard, ao redor da minha casa. Transfiguração avançada. - deu de ombros com uma expressão orgulhosa tomando-lhe a face. - É por isso que eu não posso, . Meu aniversário de dezesseis anos é logo após voltarmos do Natal, daqui a pouquíssimo tempo. Veja a coluna de fumaça em meio às árvores. Ali estão as forjas dos .
A testa enrugada do Weasley denunciava o quanto ele estava confuso e ainda pasmo.
— No retrato da minha bisavó, ela carrega um lampião, certo? - o ruivo acenou em concordância. - Aquele é o Instrumento dela. Um artefato mágico forjado por ela mesma aos dezesseis anos. É a tradição da família. Agora é a minha vez.
— E isso quer dizer que?...
— Que minha mente tem de estar focada e esvaziada de tudo que possa trazer tremulações às minhas mãos e pensamentos, ou o fogo não vai me aceitar. Preciso ser virgem como o metal. - disse a morena, abaixando o olhar para evitar encarar o namorado.
Antes que ela pudesse continuar, envolveu-a em um abraço apertado.
— Eu não sabia, princesa. - afagou-a - Pensei que no tempo com o Malfoy, vocês já…
— Não. Nunca. - falar sobre esse assunto deixava bastante constrangida, era difícil conter o incômodo.
— Desculpa. - beijou-a delicadamente - Tá tudo bem, eu posso te esperar o tempo que for. Sei que vai valer a pena. - piscou.
A garota acenou em silêncio, com o coração ligeiramente mais tranquilo. A dor causada pela queimadura do colar, porém, seguia intensa. Ela desvencilhou-se do ruivo para observar o local machucado e espantou-se ao descobrir que a pele estava intacta. Aparentemente, mesmo estando tão próximo à corrente que sustentava o pingente, o Weasley não sentiu a quentura se espalhar pela joia. Óbvio, o aviso não era para ele, tampouco deveria ser visível. Era de para .
— Agora, no meio dessa bela floresta, onde espero que os possíveis animais ferozes e devoradores de pessoas também sejam projeções, você poderia me dizer se quer entrar pra Armada de Dumbledore ou não? - perguntou.
— Melhor não. Umbridge pode me usar pra chegar até vocês, ninguém sabe do que essa mulher é capaz. No dormitório eu teoricamente fico mais suscetível a qualquer merda que ela ou Draco tentem fazer porque tô cercada de pessoas que querem cuspir em mim. Não quero ser um problema pra vocês, .
— Você teria muito a nos ensinar, . Se Hermione descobrisse que você já faz feitiços mudos ela teria uma síncope. - sorriu ao imaginar a Granger enfurnada na biblioteca, estudando desesperadamente - Harry nos ensinou o Patrono.
O garoto se levantou ligeiramente para tirar a varinha do bolso traseiro.
— Expecto Patronum.
Um pássaro envolto em aura brilhante voou ao redor do casal, uma pega-rabuda com as asas perfeitamente alinhadas, o patrono de . Pulando da ponta da varinha da , um guaxinim rechonchudo correu em direção à ave, que desceu para bem próximo ao solo, de modo a permitir que as mãozinhas do guaxinim pudessem alcançá-la.
— Genial! - aplaudiu - Você sabe se essa garota da Sonserina, a tal , tem namorado? Tenho muito interesse nela.
— Acho que ela tem alguma coisa com um dos gêmeos Weasley. , talvez?
— Maldito Weasley! - fingiu-se raivoso.
Os animais etéreos desfizeram-se em um sopro, levando com eles a floresta que os abrigara. Por mais talentosa que a quintanista fosse, sustentar feitiços deste porte por um longo tempo era desgastante.
Nos minutos que restaram até ser necessário deixar o conforto daquele abrigo, confiou a detalhes sobre o importante ritual de sua família e como isso estava tirando seu sono. Os Instrumentos acompanham os bruxos por toda a vida e, quando esta se findava, eram derretidos para que magia contida nos metais utilizados retornasse para ser utilizada pelas próximas gerações. Era uma grande responsabilidade desenvolver um Instrumento. Ele seria seu parceiro pelo resto da vida. Defini-lo significava estabelecer, também, uma perspectiva de futuro muito maior do que ela já havia feito até então. E se ela não conseguisse? E se o fogo não a aceitasse? E se o Instrumento se partisse por imperícia? E se não fosse um bom condutor mágico? Eram muitas incógnitas a se considerar.
— Nossa, que complexo. - o ruivo mexeu no queixo, pensativo - Nunca mais reclamo de ter ganho um relógio quando fiz dezessete anos. Mas não fique com medo, você vai fazer um Instrumento tão radiante que vai parar na capa d’O Profeta Diário.
— Às vezes é muita coisa pra aguentar sozinha.
— Como você vai usar magia fora da escola se é menor de idade? - perguntou.
— A magia não parte de mim, o metal já é mágico por si mesmo. Tenho de moldá-lo juntamente com a magia que ele carrega. Essa é a parte mais difícil. Nem sei o que vai ser meu Instrumento!
— Segue seu coração, princesa. - guiou a mão de até o peito da mesma, onde pousava a simples tulipa que ele havia dado a ela, finamente ornada e transformada em broche pela habilidade da morena de manusear magicamente os metais. - Vamos, tá na hora do jantar. - levantou-se e estendeu a mão para que ela o seguisse.
Dois dias depois, tão logo chegou ao Salão Principal para tomar café da manhã, a notou o vazio na mesa da Grifinória. As duas cabeças ruivas que sorriam e acenavam para ela todas as manhãs não estavam ali, tampouco Ron e Gina. Qual a probabilidade de que todos os Weasley tivessem dormido demais? Potter e Granger também não tinham aparecido.
Algo estava errado.
Umbridge achou a Armada de Dumbledore… Era isso. virou-se e desatou a correr em direção à torre da Grifinória, não dando atenção às pessoas de quem desviava até ouvir seu nome ser chamado.
— Srta. . - Minerva McGonagall referiu-se a ela. - Pare de correr.
— Professora! - ofegou - Os Weasley su-
— A senhorita perdeu um livro de capa laranja na minha sala. Venha comigo, por favor.
A morena olhou para os dois lados, havendo apenas o corredor vazio ao redor delas, por isso, seguiu a professora. Nenhuma palavra foi trocada no caminho, não era necessário, ela havia compreendido a mensagem. A sala estava vazia, McGonagall fechou a pesada porta e sentou-se em sua mesa, com parada a sua frente.
— Nesta manhã, Arthur Weasley foi levado ao St. Mungus após ter sido atacado enquanto fazia rondas pelo Ministério da Magia. - falou baixo e pausadamente - Os filhos dele foram encontrá-lo no hospital, srta. .
— Como? - perguntou incrédula.
— Weasley foi demasiadamente gentil em pedir que eu transmitisse esta informação à senhorita. Que ela não saia desta sala.
— Sim, professora. - respirou fundo e dirigiu-se à saída. - Obrigada pelo livro. - agradeceu a ajuda antes de fechar a porta.
passou o dia preocupada com o que acontecera com o Sr. Weasley, tendo dificuldade de se concentrar nos estudos para os N.O.M.s. Mesmo sem maiores informações, sua mente alertava para o perigo que se aproximava. Se Arthur Weasley estava patrulhando o Ministério durante a madrugada, alguma coisa importante estava sendo guardada lá. Seja quem fosse que quisesse tirá-lo do caminho, era perigoso. A escuridão tomava conta de Hogwarts dia após dia, e ela não se referia ao sol que enfraquecia com a chegada do inverno. Todos a viam, mas ninguém parecia fazer algo sobre. Talvez Dumbledore exergasse o que realmente estava acontecendo no mundo bruxo, pena que ninguém sabia por onde ele andava.
No dia seguinte os alunos deixariam o castelo para o recesso de Natal, ficaria dez dias sem ver e sequer pudera se despedir dele. Tudo em seu coração era aflição e pesar.
Faltavam doze dias para seu aniversário.
Quando amanheceu, era a primeira na fila para utilizar a Rede Flu. Em casa ela se sentiria mais segura. A notícia do incidente com o Sr. Weasley se espalhara pelas masmorras entre sussurros, toda a Sonserina sabia o que tinha acontecido. Malfoy soltara uma ou duas piadas sobre ser o próximo enquanto aguardava a chegada de Snape para abrir a Rede Flu. Era fácil deduzir de onde partiam as informações que alimentavam os burburinhos. Ela estava cercada por filhos de antigos partidários das Trevas. Não havia mais como duvidar de Harry Potter.
A lareira da residência dos foi tomada por chamas verdes, anunciando a chegada de . A casa estava vazia. Normalmente seus pais ou seus avós esperariam por ela na sala. Será que tinha se adiantado muito? Realmente tinha feito esforço para ser a primeira a deixar o castelo. Deixou o malão ao lado da lareira, desfez-se da fuligem que cobria suas roupas e decidiu procurar pela família. Os dois andares estavam vazios. A última opção era ir até as forjas. Poucos metros floresta a dentro, encontrou seus avós.
— Vó? - chamou de longe.
— ! O que você está fazendo em casa?
Bernadette parecia assustada. Seu avô, Gordon, olhou nos arredores antes de se aproximar e abraçar a neta.
— Chegou cedo, minha filha. Não esperávamos te ver antes do almoço. - tentou devolvê-la à trilha que levaria-a de volta à casa, porém encontrou resistência por parte da menina.
— Onde estão meus pais? - se esticou para tentar enxergar por entre as árvores.
— Foram comprar presentes! - exclamou a avó forçadamente animada.
tinha visto as caixas sob a árvore assim que chegou, em número exato para todos os familiares. Atrás da velha , três pares de pegadas seguiam pela trilha que levava à beira do lago de Loch Ard. Uma delas pertencia a uma pessoa manca. O pé direito pisava mais forte que o esquerdo. Nenhum dos nem os poucos amigos próximos da família mancava.
— Por que usaram a chave de portal, então? Eles podiam aparatar diretamente no Beco Diagonal.
— Lá não tinha o que eles queriam. Por que não entramos, querida? Você precisa organizar suas coisas. - Gordon convidou-a novamente a seguí-los.
— Não vendem presentes na floresta de Yorkshire Dales, vovô.
deu as costas aos mais velhos e tomou a trilha até o lago a passos largos.
— Volte aqui, . - ordenou a avó. - Não tem nada para você ver lá.
— Desculpa, vovó, mas eu não sou mais criança.
Prevendo o que poderia acontecer pela desobediência, apressou-se ainda mais, começando a correr. Segundos depois, tombou no chão com os braços e pernas paralisados, amarrados por uma pesada corda de metal trançado.
— Onde está indo, mocinha? Isso é forma de falar com sua avó?
Do meio das árvores, seu pai olhava-a com reprovação. Sua mãe vinha logo atrás, caminhando em direção à filha.
— Pai, me solta. - se mexeu tentando aliviar o aperto da corda - Eu estava indo atrás de vocês. Quem veio aqui? Me solta! - continuou a se debater - Por que tem sangue na sua roupa?
— Anna, o que estão ensinando a essas crianças em Hogwarts hoje em dia? - ele perguntou à esposa. - Não foi essa a criação que te demos, .
— Por que tem sangue na sua roupa? - repetiu.
Um javali selvagem foi lançado no chão à sua frente. O pescoço do animal fora quebrado e a barriga, aberta.
— Satisfeita? - questionou-a ironicamente. - Seu pai ainda é um bom caçador.
— Solte ela, Milo. É o suficiente. - a mulher de meia-idade pediu ao marido. A corda voltou ao cinto de Milo , acomodando-se sozinha ao lado de um grande facão. - , vá para casa agora mesmo. Você ainda está de uniforme e suja de fuligem.
— Mas, mãe-
— Nem um pio. Só vá. Aproveite que chegou cedo para fazer algo útil ao invés de ficar falando abobrinhas.
Mesmo cabisbaixa, podia enxergar pelas laterais seus pais cercando-a. Seus avós nada falavam, mal pareciam respirar. Por instantes, a mais nova teve dúvidas se tinha ido para o lugar certo. Aqueles pareciam seus pais, mas não agiam como eles. Nunca foram agressivos ou ríspidos daquela forma. Por Merlin, até em casa estava tudo de cabeça para baixo. O melhor, naquele momento, era manter-se em silêncio. Alguém havia entrado na propriedade da família, uma visita aparentemente indesejada. Disso ela tinha certeza. Quem fora e o que queria eram perguntas que ainda permaneceriam em aberto por algum tempo.
Nos dois dias que antecediam o Natal, mal viu a família. Cruzava ocasionalmente com o pai ou com a avó nas forjas, enquanto alimentava os fornos. Seguia tentando dar vida ao seu Instrumento, enriquecendo a liga de metais cuidadosamente selecionados entre os que anteriormente pertenciam a seus antepassados.
— O que vai usar, querida? - Bernadette parou ao lado da neta, vendo-a separando os metais com cautela.
— Ouro branco. - respondeu sem tirar os olhos do forno que amolecia a liga. - Com paládio.
— Espero que esteja ciente do quão temperamental é o paládio. O fogo pode simplesmente cuspí-lo sobre você.
— Tenho minhas razões, vovó. - manteve-se firme. - Vai dar certo. Já fiz um teste.
Prata, pensou, pela lembrança da Sonserina. A casa que a permitiu vislumbrar as muitas possibilidades do mundo mágico. A visão do fundo do Lago Negro cativara seu coração no primeiro momento que pisou no salão comunal, espalhando a luz esverdeada por todo o lugar. Seu espírito certamente era verde como a Sonserina. As desavenças com outros alunos da casa não mudaram em nada seu carinho pelo brasão que representava seu lar nos últimos cinco anos.
Paládio, pela excelente condutibilidade mágica. Era um desafio a si mesma conseguir fazê-lo aceitar ser manipulado. Se fosse capaz, garantiria um Instrumento capaz de reconhecer e responder às mínimas flutuações de magia a grandes distâncias.
E o ouro, porque ele era leal. Facilmente impregnável com magia, o ouro sempre via com carinho aqueles que o manuseavam respeitosamente e não se esquecia destes. Lealdade do Instrumento a seu ferreiro, lealdade do ferreiro ao propósito que o sustentara durante o duro processo de forja. O brilho dourado do ouro trazia à a mesma sensação de estar olhando os raios de sol que os fios ruivos e bagunçados de . Ele era o próprio ouro.
— Certo. Vou te deixar sozinha mais um pouco. - olhou de relance a neta recitar os antigos encantamentos, passados de geração em geração, para formar a liga, equilibrando a força dos metais. - Daqui em diante é tudo questão de concentração e respeito. Não perca a hora do jantar, já está ficando tarde.
Ao anoitecer, estava sentada à mesa com os pais e os avós dividindo a ceia de Natal. Sem vestígios do desconforto de dias atrás, apenas uma família feliz comemorando as Festas. Eles riam e conversavam, cantarolavam as músicas que tocavam no rádio no famoso especial de Natal da Celestina Warbeck. A música, no entanto, não foi capaz de abafar o som de algo se espatifando contra a janela da cozinha da casa dos . Gordon levantou-se para verificar o que tinha causado tamanho barulho. estranhou o avô sair para investigar com a varinha em riste, ele não era do tipo desconfiado.
— É uma coruja! - gritou para que os demais ouvissem. - Parece que vai morrer a qualquer momento, coitada.
Uma coruja à beira da morte? Não era possível que fosse…
— Errol! - exclamou quando o avô voltou à sala de jantar amparando a velha ave em seus braços. - É o Errol.
— Você conhece essa coruja, filha? - Anna perguntou à mais nova.
— É a coruja dos Weasley. - respondeu com um enorme sorriso no rosto. Errol largou a caixa de primeiros socorros que trazia presa ao bico assim que se aproximou.
— Weasley? - Bernadette perguntou confusa. - Cuidado, Gordon, não toque nisso. Não sabemos o que tem aí dentro.
— É pra mim, vovó. Vou levar pro meu quarto, mais tarde eu abro. - completou ao ver a surpresa na expressão da avó. - Mãe, a senhora pode dar um pouco de água pro Errol? Ele fez uma longa viagem.
— Abra aqui, . - ordenou Milo. - Nada de segredos nessa casa. O que uma coruja dos Weasley traz para você? Ou melhor, por quê?
A garota respirou fundo, preparando toda a paciência para o interrogatório que com certeza viria a seguir. Arrumou a caixa num canto da mesa e puxou a trava, abrindo-a. Fogos de artifício saltaram para fora, enchendo o cômodo com suas luzes.
— O que é isso? Feche essa caixa! - exclamou o patriarca dos .
As faíscas transformaram-se repentinamente em pétalas das mais variadas cores, cujo perfume alcançou a todos. Tudo foi tomado por flores. Os olhos de brilhavam tanto quanto os fogos haviam cintilado, ela estava encantada. Ela começou a desbravar a pequena caixa, cujo interior era muito maior. Lá dentro, um gnomo com cara de profundo ódio vestindo um tutu de bailarina ridículo e uma peruca ruiva segurava a placa com os dizeres “a alegria da sua árvore de Natal”. Ao lado dele, sapos de chocolate e balas de alcaçuz cercavam uma belíssima torta de maçã com os cumprimentos de Molly Weasley à família .
— A Sra. Weasley nos deu uma torta, mamãe! - mostrou a sobremesa para a mãe, que acenou em concordância.
Em outro canto, um cachecol preto enfeitado com um laço de presente. Ao desfazer o laço, a morena viu os delicados detalhes: tulipas vermelhas. Com certeza a peça havia sido tricotada pela matriarca dos Weasley. Ela enrolou-o no pescoço, mesmo que não estivesse frio dentro da casa. Após todos os itens terem sido retirados, restou no fundo somente um pequeno envelope vermelho.
— Ah, não! É um berrador! - tampou os ouvidos, esperando os gritos que viriam.
Contrariando as expectativas, o berrador emitiu a ritmada voz de .
Mas esse ano ainda não rolou.
Então espero que goste do gnomo.
Era isso ou uma das galinhas.
Saudades, princesa. Amo você. Tenha um feliz Natal.
O envelope rasgou-se sozinho, deixando no lugar em que flutuava uma embalagem de presente. A mais nova dos agarrou-a antes que caísse, dando de encontro com uma camisa do uniforme de Hogwarts com o brasão e a gravata da Grifinória. O cheiro de adentrou suas narinas, fazendo-a abraçar a camisa como se pudesse impregná-lo em si. O sorriso estampado em sua face era impossível de disfarçar. pegou-se girando no próprio eixo, agarrada ao cachecol e à camisa que recebera de presente, num estado de abobalhamento nunca visto pelas pessoas ali presentes. Ela juntou rapidamente os itens e subiu as escadas em direção ao quarto, deixando sua família falando sozinha por alguns instantes, todos bastante espantados. Voltou com uma caixinha diminuta de veludo escuro nas mãos, deixando-a aos cuidados de Errol.
— Leve pro assim que você estiver em condições, Errol. - acariciou a cabeça da ave, onde já faltavam algumas penas.
Sentou-se novamente à mesa, pronta para continuar a ceia, porém os demais não se achavam no mesmo estado de espírito.
— Agora que terminou o show, nos explique o que acabou de acontecer, . - disse seu pai. - Você tem um minuto a partir de agora.
— Família querida, estou namorando Weasley. Minha mãe sabia, se ela não contou, não é culpa minha. - deu de ombros. Olhares de julgamento por parte de Milo pesaram sobre e Anna.
— Achei que você estava com o menino dos Malfoy. - mencionou Bernadette, sendo rebatida com uma negativa por parte da neta.
— Não mais.
— Melhor assim. - disse Gordon. - Vamos comer antes que esse velho desmaie de fome.
Desde o Natal, todos os dias antes do sol nascer, já podia ser vista nas forjas da família. Os cabelos pretos amarrados em um rabo de cavalo pela gravata vermelha e dourada que ganhara de pingavam suor. A temperatura do ambiente era tão alta que talvez fosse mais fresco no inferno. Alicates, martelos, barris de óleo e de água, pinças e outras ferramentas estavam por toda parte. O fogo estalava dentro do forno, sendo potencializado pela corrente de vento criada pelo leque que a garota portava. Dos lábios da morena saíam apenas murmúrios, como se hipnotizasse a liga metálica para responder à sua vontade.
Faltava pouco.
A lua subiu aos céus e a fumaça ainda pairava acima dos pinheiros. Era o último dia de , ela precisava terminar seu Instrumento ou voltaria à Hogwarts sem ter completado sua tarefa. Era questão de honra concluir com perfeição dentro do prazo estabelecido. Somado a isto, desde que a camisa de passou a ser sua companheira durante o sono foi se tornando mais difícil para a garota cogitar estender o voto de castidade em prol da forja de seu Instrumento.
Mais alguns ajustes e estaria pronto.
Às onze da noite, os pingentes em formato de adaga de todos os espalhados pelo mundo se acenderam. concluira seu Instrumento.
De volta às chamas esverdeadas na sala de estar dos , foi engolida por um turbilhão. Ao abrir os olhos, a mão da Professora Sprout estava estendida para recebê-la.
— Bem-vinda de volta, querida. Teve um bom Natal? - a idosa sorridente perguntou.
— Tive sim, professora. Obrigada.
Bateu rapidamente a fuligem das vestes e ajustou o cachecol de tulipas antes de buscar cabeças ruivas entre a multidão de alunos que se acumulavam retornando pela Rede Flu. Seu braço foi puxado repentinamente por mãos quentes apesar do frio do inverno britânico.
— Você fica linda de todo jeito, não é mesmo?
— ! - a sonserina abraçou o pescoço do mais alto que sorria abertamente.
Os lábios tocaram-se rapidamente, em um selo apressado.
— Beijos nos corredores estão proibidos pelo Decreto Educacional número vinte e seis de Dolores Umbridge, Sr. Weasley. - ela brincou. - Você tá a menos de três metros de mim.
— Gemialidades Weasley são proibidas pelo Decreto número trinta e mesmo assim não perdi nem um pence desde que ele foi publicado. Que se dane a Umbridge. - riu enquanto fazia careta.
Os raios do frágil sol de inverno refletiram no novo prendedor na gravata do rapaz, que brilhava em ouro branco. A estrutura detalhada que ornava o pulso de foi iluminada pelos reflexos vindos do clipe de .
Um ouroboros que sustentava em suas escamas uma tulipa com pétalas de rubis e folhas de esmeraldas abriu os olhos.
— Temos muito o que conversar, .
Fim
Nota da autora: Olá, obrigada por voltar! Esta fanfic é a continuação de "07. One", publicada no ficstape do álbum Divinely Uninspired to a Hellish Extent, do Lewis Capaldi. Se você não a leu, recomendo que o faça. Quer bater um papo? Minhas redes sociais estão listadas em algum lugar por aqui. Beijos de luz <3
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