Capítulo Único
Aviso de gatilho: Atenção! Essa história retrata uma pessoa que sofre de Depressão.
tocou a campainha da casa dos pais e que foi o seu lar durante vinte e cinco anos. A porta abriu e foi recebida com um abraço caloroso da sua mãe, Alana. Assim que a trancou atrás de si, deu de cara com o seu irmão caçula jogado no sofá, com fones de ouvidos e mexendo no celular.
— Como foi a semana de vocês? — Perguntou ao envolver a mãe pelos ombros, um sorriso animado em seu rosto. Ambas eram muito parecidas fisicamente, mas a personalidade da mais jovem tinha sido herdada do pai.
A mais velha se livrou do aperto e apressou-se para a cozinha, sendo seguida. não se surpreendeu ao encontrar a mesa com os seus quitutes favoritos para o café da tarde.
— O movimento na loja está bem devagar, mas no geral está tudo bem. E você? Alguma novidade? — Ocuparam as cadeiras em frente uma à outra, começando a se servir e deliciar.
— Passei a semana no estúdio com os meninos, mas já está tudo acertado para o lançamento do nosso álbum. A previsão é para o próximo mês. — O sorriso animado acompanhado do brilho da expectativa nos olhos evidenciava o quanto estava feliz pela conquista. O ano anterior foi muito difícil e poder dizer que estava verdadeiramente alegre era satisfatório, muito mesmo.
Alana segurou uma das mãos da filha e sorriu genuinamente.
era cantora e fazia parte de uma banda chamada The Neighbourhood.
Passaram uma hora conversando, até que olhou a mensagem de Zach dizendo que iria buscá-la com as coisas em duas horas, por isso levantou e espreguiçou-se.
— Zach vai vir daqui duas horas para me pegar — contou ao guardar o celular no bolso traseiro do short jeans. — Tomara que eu encontre o caderno dentro dessas caixas, queria muito encontrar aquela música. — Pensou cabisbaixa.
— Eu separei as caixas com todos os seus cadernos, coloquei no antigo quarto do seu irmão — anunciou a mãe enquanto começava a tirar a mesa.
— Deixa que eu lavo a louça. — Seguiu para pegar as coisas, mas foi parada pelo gesto da mulher.
— Nem pensar! Você é visita! Deixa que o Filipe vai lavar depois — falou mais alto essa última parte para que o caçula ouvisse, mas sabia que o irmão estava mais concentrado no celular do que na conversa das duas.
— Tem certeza?
— Claro! — Jogou um dos braços pelo ombro da filha e guiou-a para a sala. — Suba e vá caçar o caderno, eu tenho que voltar para a loja, pois já deixei seu pai muito tempo sozinho. — Depositou um beijo na testa dela. — Estou feliz em te ver! Vê se não some novamente e nada de ficar se enchendo de porcarias! — Avisou séria, mas sorriu em seguida. — Amo você.
— Também amo você. — Abraçou-a e depois seguiu até as escadas. Parou a tempo de ver a mulher se despedir do filho e sair.
Filipe encarou a irmã mais velha, o sorriso de provocação explícito em seu rosto.
— Ué, lembrou que tem família?
Ela revirou os olhos.
— Espero que esteja cuidando direitinho do papai e da mamãe, além de não estar dando estresse.
— Feito um anjo.
— Ah tá! — Riu irônica.
— E você? — O rosto ficou cuidadoso, ela reconheceu o gesto e ficou mais na defensiva, pois sabia exatamente ao que ele se referia. — Está bem?
— Não tive nenhuma recaída.
Ele sorriu orgulhoso, mas logo voltou para o caminho da provocação.
— Quando vai ficar famosa? Não esqueça que prometeu passe livre nas festas com os famosos.
Ela revirou os olhos e começou a subir as escadas.
— Vai sonhando, bebê! — Zoou.
Seguiu até o corredor do segundo andar, a porta do antigo quarto do irmão estava aberta e assim que passou da soleira, avistou quatro caixas de papelão. Um suspiro derrotado escapou por seus lábios enquanto ajoelhava-se, escolhendo uma e abrindo. Tinha vários cadernos, diversos tamanhos com capas rabiscadas ou com temas de ursinhos, carros, heróis, filmes favoritos, fotos suas, adesivos aleatórios, cada uma representava uma fase da sua vida que ia da infância até a vida adulta. Descobriu o amor pela música ainda na infância e principalmente a facilidade em compor músicas ainda mais se fosse sobre as situações que enfrentava ou que as pessoas próximas a ela enfrentavam. Caiu sentada quando as pernas começaram a ficar dormentes por se manter muito tempo na mesma posição. Escolheu um caderno de capa preta sem qualquer adesivo na frente e abriu no mesmo instante. Ao ler a primeira folha, reconheceu o que continha. Prendeu a respiração enquanto lia cada linha, as lembranças atacando-a fortemente. Aquelas páginas continham os relatos do último ano, o período mais difícil da sua vida.
My current state is heavy, hope it's a phase or something...
Meu estado atual é pesado, espero que seja uma fase ou algo assim...
Um ano atrás…
O dia estava uma porcaria. Trabalhou com os pais na loja de materiais de construção todo o dia, ajudando-os em cada tarefa. Praticamente não deixava que eles fizessem as coisas, tomando a frente para executar e deixá-los descansar. Entretanto, o seu empenho diário em ser útil e poupá-los do cansaço de uma rotina de trabalho não era o suficiente para evitar as perguntas sobre uma faculdade ou emprego. estava com vinte e quatro anos, deveria estar formada e com um emprego, morando sozinha, totalmente independente, todo dia a mesma pressão. O problema é que ela sempre batia o pé, dizendo que queria viver de música e que não via uma segunda opção, um outro caminho para seguir, e os pais não aceitavam o pensamento. Nos últimos meses, os questionamentos que resultaram em discussões foram enchendo-a de inseguranças, o medo de ser uma fracassada e a dúvida de si mesma. Houve momentos em que cogitou ser uma imprestável e aí a cereja do bolo foi o e-mail de uma gravadora que recebeu o material da banda, informando que por enquanto eles não se encaixavam no que procuravam.
Costumava sacudir a poeira a cada rejeição, mas não sabia se foi por causa das discussões frequentes, os pensamentos dolorosos ou as próprias expectativas; a tristeza veio, entretanto, não partiu depois de uma semana.
Fechou a porta do quarto, arrastou-se até a cama e deitou. Abraçou o travesseiro com toda força, como se a maciez do tecido pudesse confortar o seu coração enquanto a angústia pesava em seu peito. Escondeu o rosto quando as lágrimas começaram a escorrer e os ombros tremeram com o choro abafado.
Será que deveria desistir do seu sonho? No que era boa? Desde a adolescência parecia certo seguir na música, mas as constantes tentativas que resultaram em fracasso estavam cada vez piores. Não seria feliz sem estar em um palco, não seria, mas e se fosse um sonho frustrado? Ela era insegura com coisas novas. Quando pensava em tentar algo que pudesse agradar os pais, não se sentia capaz de ir em frente, afinal, a única coisa que conseguia fazer tão facilmente como respirar, era cantar e escrever suas músicas. Às vezes ela só queria sumir ou renascer com uma outra vocação, algo que trouxesse mais felicidade.
O celular vibrou no bolso traseiro da calça, ignorou e continuou afundada em sua tristeza. Minutos depois, alguém bateu na porta e ela permaneceu no lugar, fingindo que dormia.
— — Filipe chamou-a ao abrir a porta, mas mudou o som para um sussurro. — Ela está dormindo, Zach. — Parecia estar falando ao telefone. A porta fechou em seguida, ela deixou um suspiro de alívio escapar enquanto deitava de lado na cama, o travesseiro ainda em seus braços. Vez ou outra, o corpo tremia pelos resquícios do choro.
Começou com o estresse do desentendimento com os pais, que insistiam para que ela finalmente escolhesse uma profissão e desistisse da banda, o próprio desespero.
Não estava bem para o ensaio da noite, os meninos teriam que perdoá-la.
XXX
Na manhã seguinte, quando abriu os olhos e tomou consciência de mais um dia, a tristeza não havia sumido. O dia na loja foi um castigo e, por não estar bem, tudo incomodava e não conseguia controlar a irritação. Pensou que a noite estava se aproximando e logo teria que comparecer ao ensaio, mas não estava bem o suficiente para ir e realmente não queria, por isso pegou o celular e mandou uma mensagem no grupo, inventando uma desculpa boba.
— , venha cá — o pai chamou-a a sério.
Era final de tarde, a loja estava vazia e em alguns minutos eles iriam fechar, por isso ela estava organizando alguns produtos na prateleira. Parou a tarefa e seguiu até o balcão. A mãe não estava presente, ela tinha saído para resolver algumas coisas.
— Senhor.
— Você se decidiu? — Perguntou num tom sério e que ela reconheceu a postura como a que costumava usar para indicar que não estava aberta a uma discussão saudável, apenas impor sua vontade. O que foi um péssimo sinal para ela.
— Sobre?
— A faculdade. — Voltou a atenção para o dinheiro que contava e a anotação no caderno.
— Ainda não me decidi.
— Então, decida logo ou terá que abandonar a banda — sentenciou. — Eu e sua mãe fomos pacientes o suficiente para deixá-la tentar seguir com esse sonho infantil e que não está dando certo. — Olhou-a duramente. — Você fará vinte e cinco anos, uma mulher, mora com os pais, não cursou uma faculdade. Na sua idade, eu…
— Pai, não…
— Você tem que agir como uma adulta, não é assim que quer ser tratada? Então tome uma decisão, e rápido.
— A vida é minha! — Soltou num tom mais alto, a voz embargada. Segurou as lágrimas.
— Mas quem te sustenta sou eu!
— Sustenta, mas eu trabalho para você! — Rebateu.
— Não interessa! Você vive debaixo do meu teto — insistiu duramente.
— E isso não dá o direito de o senhor escolher a minha vida por mim — falou friamente.
— Estou dando a oportunidade de você fazê-la, senão eu mesmo serei obrigado — finalizou e amarrou o dinheiro com um elástico. — Agora para de chorar e feche a loja. — Virou as costas, ignorando-a e dando o assunto por encerrado.
segurou-se para não explodir em respeito ao pai, pois o amava e sabia que ele sentia o mesmo, mas estava sendo muito difícil. Respirou fundo diversas vezes, secou uma lágrima ou outra que escorreu pela bochecha, depois seguiu para fazer o que ele havia mandado.
XXX
O celular tocou pela quinta vez, mas ignorou. Acomodou-se melhor na cama, os olhos inchados pelas lágrimas. Não quis comer quando retornou da loja e seguiu direto para o quarto, sem dar uma palavra aos pais. Estava há horas deitada na cama, a melancolia banhada por pensamentos raivosos e tristes.
— Oi — atendeu o aparelho, a voz rouca pelo choro.
— Até que enfim, ! — Zach disse num tom de alívio. — Pensei que tinha morrido.
— Seria até melhor.
— Pirou? Não fala uma maluquice dessa — repreendeu-a. — Aconteceu alguma coisa? Você não é de faltar aos ensaios e nem de falar esse tipo de coisa.
Ela pensou em expor tudo que estava acontecendo, a forma que se sentia nos últimos dias, mas segurou-se porque acreditava que o amigo e companheiro de banda não entenderia.
— Ah, estou resfriada e a minha voz está querendo sumir — mentiu. Secou as lágrimas, o coração dolorido. — Por isso, estou evitando a friagem e acho que não vou render no ensaio, talvez seja melhor dar um descanso. — Achei que estava chorando — confessou parecendo realmente aliviado, riu sem graça. — Pela voz rouca e tal. Mas se está doente, então fique tranquila e quando melhorar, você vem.
XXX
How can you feel the way that I'm feeling
Como você pode sentir a maneira que eu estou sentindo
If you're not inside my head?
Se você não está dentro da minha cabeça?
As batidas na porta soaram fortes, forçando-a a abrir os olhos por ser despertada de forma tão repentina.
— , estamos saindo! — A mãe avisou, a voz abafada por trás da porta. — Vê se não enrola.
— O Filipe não pode ir em meu lugar? — Perguntou com a voz rouca.
— Por quê? Está doente? — Preocupação evidente enquanto abria a porta e enfiava a cabeça.
— Não estou me sentindo bem. — Abraçou o travesseiro mais forte.
— Está sentindo o quê? Você tem andado muito desanimada, comendo pouco e dormindo muito. — Uma mistura de dúvida e preocupação dominava suas feições. — Presa nesse quarto, não tem ido ensaiar…
— É que… — tentou falar, mas parou repentinamente, um pensamento surgindo em sua mente. Suspirou desolada. — Só não estou me sentindo bem, tenho certeza de que logo vou ficar cem por cento novamente. — Forçou um sorriso.
A mãe encarou-a em silêncio por alguns segundos, analisando-a atentamente.
— Você sabe que pode conversar comigo, né? Também tive sua idade. Só não enfrentei as mesmas cobranças, porque tinha uma filha pequena na época e estava casada. — O tom amoroso. — Se quiser conversar, estou aqui. — Aproximou-se da cama e fez um carinho na cabeça da filha, depositou um beijo na testa e saiu do quarto.
A jovem prendeu a respiração e fechou os olhos com força, tentando impedir o choro que pareceu ser ativado após as palavras da mulher. A dor e a angústia foram tão fortes que não suportou por muito tempo, chorou novamente, as mãos cobriram o rosto que abafava os soluços. Parecia estar enfrentando um declínio, pois a cada manhã acordava sentindo-se pior, a tristeza mais forte, sem ânimo para levantar da cama, trabalhou com muito esforço. Nesta manhã, não queria mesmo ter que sair e enfrentar o mundo, ela queria ficar quietinha com os seus pensamentos.
— , você… — O irmão abriu a porta e parou assustado por encontrá-la chorando. — Aconteceu alguma coisa? — O tom de voz cauteloso.
— Não — apressou-se em negar e secou as lágrimas com as costas das mãos.
Ele agachou na frente da cama e tocou levemente uma das pernas, o rosto preocupado.
— Me conta o que está acontecendo, por favor. Posso não ser o irmão caçula mais legal do mundo, mas não gosto de te ver sofrendo. — O tom de tristeza.
— Não tem nada acontecendo, eu só não estou me sentindo bem hoje.
— Mentira. Você está muito triste há dias.
— Eu só quero ficar um pouco sozinha.
— Você pode desabafar comigo — insistiu delicadamente.
Ela suspirou frustrada.
— Você não entende.
— Como pode ter certeza? Você nem me disse o que está passando nessa sua cabecinha.
— É que… — Respirou fundo e criou coragem para ignorar os pensamentos ruins e que gritavam que o caçula jamais entenderia o que estava acontecendo com ela. — É que está muito difícil suportar as pressões do pai sobre o meu futuro. Fico me perguntando se sou uma fracassada e se realmente a música vai dar certo na minha vida em algum momento. Quando percebo, estou muito mal. — Deu de ombros, a voz rouca pelo choro. Secou algumas lágrimas que escorreram pelo rosto.
Ele encarou-a pensativo por algum tempo.
— Eu sei que o papai pega pesado com você, mas você não pode se deixar levar por causa disso. Ele te ama e só está preocupado.
— É difícil suportar quando você mesma já tem os próprios fardos para carregar, e ver quem você ama jogando ainda mais nos seus ombros se torna insuportável. Enfim, você não vai conseguir me entender — resignou-se, deitou na cama novamente e jogou a coberta pela cabeça.
— Você não pode se prender a essas inseguranças…
— Me deixe sozinha, por favor — pediu num fio de voz, o sofrimento evidente.
Ouviu o irmão reclamar baixinho e a porta bateu em seguida.
Como alguém entenderia o que estava dentro da cabeça dela se nem ela estava sendo capaz de compreender o que verdadeiramente estava errado?
XXX
Alana tomou um gole do café, colocou outro biscoito na boca, o olhar perdido na parede branca atrás da sua amiga Cláudia, que ocupava uma cadeira em frente a ela. Na última semana, os seus pensamentos estavam sempre ocupados com e a preocupação pela forma como a filha vinha agido. Não aguentava mais vê-la enfiada embaixo das cobertas. Não cantarolava ou ia aos ensaios da banda, parou de trabalhar na loja.
— Alana.
— Sim? — A expressão de distração.
— Está tudo bem? — A mulher avaliou-a atentamente enquanto bebia da sua própria xícara. — Você parece muito preocupada.
— Não é nada grave…
— Você pode me contar se quiser. Não posso te atender como psicóloga, mas vou te ouvir como amiga. — Sorriu. Estendeu uma das mãos por cima da mesa e apertou a mão da amiga para confortá-la.
A mulher sorriu levemente.
— Estou preocupada com a . Quase não come, dorme muito, vive enfiada na cama. Parou de ensaiar com a banda e trabalhar, não canta mais, não conversa… — Respirou fundo para afastar as lágrimas de preocupação. — Ela nunca agiu assim. Eu pensei que fossem apenas dias ruins, mas passaram semanas e nada mudou. Na verdade, parece que piorou. Estou preocupada, porque tudo que digo parece deixá-la pior — confessou frustrada. — E eu não faço ideia de como agir. — A voz embargou ao admitir o que vinha corroendo-a. — Sou uma péssima mãe! Eu deveria saber o que dizer para ajudá-la a melhorar.
— Calma, Alana! Você não tem culpa de nada — apressou-se em acalmá-la. — Olha, serei bem sincera com você, mas antes preciso que você mantenha a calma e me escute com bastante atenção. Estou supondo algo com base no que você me contou.
— É grave? — Preocupação evidente.
A amiga ajeitou os óculos no rosto e voltou a segurar as mãos da amiga.
— Suspeito que seja depressão — soltou sem rodeios. — Por questões de ética profissional, eu não posso atendê-la para confirmar o diagnóstico e indicar tratamento. O melhor que eu posso fazer é pedir para vocês irem ao meu consultório amanhã que uma das meninas irá atendê-la.
Alana cobriu o rosto, a mente a mil.
— Depressão? Como assim?
Cláudia interrompeu-a, agarrou as mãos novamente.
— Depressão é uma doença, Alana. Você pode sofrer com qualquer idade. Afeta o apetite, onde você tem muita fome ou pouca, ansiedade, irritabilidade, falta de libido e forte desesperança — explicou calmamente. — Além de perder a vontade de viver.
A mulher começou a chorar copiosamente. Cláudia levantou e agachou ao lado da outra, envolveu-a em um abraço confortador.
— A vai ficar bem, mas, para isso acontecer, você tem que ser forte e ajudá-la a iniciar o tratamento. Não vai ser fácil, ela vai ter recaídas, mas no final, tudo vai dar certo. — Depositou um beijo na cabeça da amiga.
XXX
— Zach? Já vai? — Alana perguntou preocupada ao ver a expressão irritada do rapaz ao descer as escadas. A mais velha havia acabado de entrar em casa, a cabeça estava um turbilhão depois da conversa que teve com a Cláudia.
— Eu não sei o que tem de errado com a , dona Alana — confessou. — Acabei de dar a notícia das nossas vidas e ela, ao invés de comemorar, parecer feliz, o que ela fez? — Perguntou ao esfregar as mãos no rosto, um gesto de irritação. — Abriu a boca para dizer que está fora da banda! A nossa vocalista! Ela fundou a banda comigo e os rapazes, enfrentou todos os perrengues e agora que surge uma esperança de alcançarmos o sucesso ela cai fora? Cadê a consideração?
A mulher aproximou-se delicadamente do rapaz.
— Zach, eu preciso que você mantenha a calma e me escute.
Ele encarou-a com dúvida no olhar.
— A não está bem e precisa de todo apoio possível para melhorar. — Colocou uma das mãos no ombro dele. — Por favor, não fique chateado com ela.
— O que ela tem?
— Ainda não sabemos ao certo, mas amanhã iremos ao médico.
— O que posso fazer para ajudar?
— No momento, dar andamento nas coisas da banda até que ela esteja bem para voltar a cantar — pediu. — A música é a vida da minha filha e eu sei que logo vai estar nos palcos novamente. Posso contar com você para não a abandonar nesse momento difícil?
O rapaz encarou-a determinado, um sorriso no rosto.
— Sempre.
— Obrigada. — Abraçaram-se fortemente.
XXX
— A foi ao banheiro, mas ela já vem — Paula avisou. — Nós conversamos e após análise ficou claro que ela sofre de depressão. Expliquei a ela toda a situação, como vai funcionar o tratamento e o quanto é importante o apoio nesse momento. — Abraçou a prancheta na frente do corpo. — Ela será encaminhada ao psiquiatra que será responsável pelos dois tratamentos, onde ela fará uso de antidepressivos e terá atendimento psicológico.
— O Fábio, nosso psiquiatra, estará aqui hoje — avisou Cláudia.
— E como ela reagiu? Aceitou fazer o tratamento? — Alana perguntou preocupada. — Foi muito difícil tirá-la da cama hoje. Chorou por horas, insistiu que não queria sair… — A angústia presente na voz.
— Fique tranquila que sua filha é uma moça muito forte! — Paula sorriu.
— Obrigada. — Alana secou algumas lágrimas.
XXX
— Está tudo bem, ? — Alana perguntou ao entrar repentinamente no antigo quarto de Filipe. Avistou a filha secando algumas lágrimas enquanto lia um de seus cadernos, preocupação dominou suas feições.
Ela apenas fechou o caderno no colo, secou algumas lágrimas com as palmas da mão e levantou num pulo, jogou-se na direção da mãe e abraçou-a fortemente.
— Obrigada, mãe! Muito obrigada por ter me ajudado a procurar tratamento! — Agradeceu com a voz rouca pela emoção.
— Eu não deveria ter deixado você mexer nesses cadernos… — falou preocupada.
libertou-a de seus braços, um sorriso mais feliz em seu rosto, e voltou para pegar o caderno que estava no chão.
— Não vou mentir que doeu reviver esses momentos, mas eu quero colocar isso para fora.
XXX
A música de estreia da banda The Neighbourhood “Wiped Out!” alcançou a 10ª posição no The Hot 100 da Billboard pela terceira semana consecutiva.
tocou a campainha da casa dos pais e que foi o seu lar durante vinte e cinco anos. A porta abriu e foi recebida com um abraço caloroso da sua mãe, Alana. Assim que a trancou atrás de si, deu de cara com o seu irmão caçula jogado no sofá, com fones de ouvidos e mexendo no celular.
— Como foi a semana de vocês? — Perguntou ao envolver a mãe pelos ombros, um sorriso animado em seu rosto. Ambas eram muito parecidas fisicamente, mas a personalidade da mais jovem tinha sido herdada do pai.
A mais velha se livrou do aperto e apressou-se para a cozinha, sendo seguida. não se surpreendeu ao encontrar a mesa com os seus quitutes favoritos para o café da tarde.
— O movimento na loja está bem devagar, mas no geral está tudo bem. E você? Alguma novidade? — Ocuparam as cadeiras em frente uma à outra, começando a se servir e deliciar.
— Passei a semana no estúdio com os meninos, mas já está tudo acertado para o lançamento do nosso álbum. A previsão é para o próximo mês. — O sorriso animado acompanhado do brilho da expectativa nos olhos evidenciava o quanto estava feliz pela conquista. O ano anterior foi muito difícil e poder dizer que estava verdadeiramente alegre era satisfatório, muito mesmo.
Alana segurou uma das mãos da filha e sorriu genuinamente.
era cantora e fazia parte de uma banda chamada The Neighbourhood.
Passaram uma hora conversando, até que olhou a mensagem de Zach dizendo que iria buscá-la com as coisas em duas horas, por isso levantou e espreguiçou-se.
— Zach vai vir daqui duas horas para me pegar — contou ao guardar o celular no bolso traseiro do short jeans. — Tomara que eu encontre o caderno dentro dessas caixas, queria muito encontrar aquela música. — Pensou cabisbaixa.
— Eu separei as caixas com todos os seus cadernos, coloquei no antigo quarto do seu irmão — anunciou a mãe enquanto começava a tirar a mesa.
— Deixa que eu lavo a louça. — Seguiu para pegar as coisas, mas foi parada pelo gesto da mulher.
— Nem pensar! Você é visita! Deixa que o Filipe vai lavar depois — falou mais alto essa última parte para que o caçula ouvisse, mas sabia que o irmão estava mais concentrado no celular do que na conversa das duas.
— Tem certeza?
— Claro! — Jogou um dos braços pelo ombro da filha e guiou-a para a sala. — Suba e vá caçar o caderno, eu tenho que voltar para a loja, pois já deixei seu pai muito tempo sozinho. — Depositou um beijo na testa dela. — Estou feliz em te ver! Vê se não some novamente e nada de ficar se enchendo de porcarias! — Avisou séria, mas sorriu em seguida. — Amo você.
— Também amo você. — Abraçou-a e depois seguiu até as escadas. Parou a tempo de ver a mulher se despedir do filho e sair.
Filipe encarou a irmã mais velha, o sorriso de provocação explícito em seu rosto.
— Ué, lembrou que tem família?
Ela revirou os olhos.
— Espero que esteja cuidando direitinho do papai e da mamãe, além de não estar dando estresse.
— Feito um anjo.
— Ah tá! — Riu irônica.
— E você? — O rosto ficou cuidadoso, ela reconheceu o gesto e ficou mais na defensiva, pois sabia exatamente ao que ele se referia. — Está bem?
— Não tive nenhuma recaída.
Ele sorriu orgulhoso, mas logo voltou para o caminho da provocação.
— Quando vai ficar famosa? Não esqueça que prometeu passe livre nas festas com os famosos.
Ela revirou os olhos e começou a subir as escadas.
— Vai sonhando, bebê! — Zoou.
Seguiu até o corredor do segundo andar, a porta do antigo quarto do irmão estava aberta e assim que passou da soleira, avistou quatro caixas de papelão. Um suspiro derrotado escapou por seus lábios enquanto ajoelhava-se, escolhendo uma e abrindo. Tinha vários cadernos, diversos tamanhos com capas rabiscadas ou com temas de ursinhos, carros, heróis, filmes favoritos, fotos suas, adesivos aleatórios, cada uma representava uma fase da sua vida que ia da infância até a vida adulta. Descobriu o amor pela música ainda na infância e principalmente a facilidade em compor músicas ainda mais se fosse sobre as situações que enfrentava ou que as pessoas próximas a ela enfrentavam. Caiu sentada quando as pernas começaram a ficar dormentes por se manter muito tempo na mesma posição. Escolheu um caderno de capa preta sem qualquer adesivo na frente e abriu no mesmo instante. Ao ler a primeira folha, reconheceu o que continha. Prendeu a respiração enquanto lia cada linha, as lembranças atacando-a fortemente. Aquelas páginas continham os relatos do último ano, o período mais difícil da sua vida.
My current state is heavy, hope it's a phase or something...
Meu estado atual é pesado, espero que seja uma fase ou algo assim...
Um ano atrás…
O dia estava uma porcaria. Trabalhou com os pais na loja de materiais de construção todo o dia, ajudando-os em cada tarefa. Praticamente não deixava que eles fizessem as coisas, tomando a frente para executar e deixá-los descansar. Entretanto, o seu empenho diário em ser útil e poupá-los do cansaço de uma rotina de trabalho não era o suficiente para evitar as perguntas sobre uma faculdade ou emprego. estava com vinte e quatro anos, deveria estar formada e com um emprego, morando sozinha, totalmente independente, todo dia a mesma pressão. O problema é que ela sempre batia o pé, dizendo que queria viver de música e que não via uma segunda opção, um outro caminho para seguir, e os pais não aceitavam o pensamento. Nos últimos meses, os questionamentos que resultaram em discussões foram enchendo-a de inseguranças, o medo de ser uma fracassada e a dúvida de si mesma. Houve momentos em que cogitou ser uma imprestável e aí a cereja do bolo foi o e-mail de uma gravadora que recebeu o material da banda, informando que por enquanto eles não se encaixavam no que procuravam.
Costumava sacudir a poeira a cada rejeição, mas não sabia se foi por causa das discussões frequentes, os pensamentos dolorosos ou as próprias expectativas; a tristeza veio, entretanto, não partiu depois de uma semana.
Fechou a porta do quarto, arrastou-se até a cama e deitou. Abraçou o travesseiro com toda força, como se a maciez do tecido pudesse confortar o seu coração enquanto a angústia pesava em seu peito. Escondeu o rosto quando as lágrimas começaram a escorrer e os ombros tremeram com o choro abafado.
Será que deveria desistir do seu sonho? No que era boa? Desde a adolescência parecia certo seguir na música, mas as constantes tentativas que resultaram em fracasso estavam cada vez piores. Não seria feliz sem estar em um palco, não seria, mas e se fosse um sonho frustrado? Ela era insegura com coisas novas. Quando pensava em tentar algo que pudesse agradar os pais, não se sentia capaz de ir em frente, afinal, a única coisa que conseguia fazer tão facilmente como respirar, era cantar e escrever suas músicas. Às vezes ela só queria sumir ou renascer com uma outra vocação, algo que trouxesse mais felicidade.
O celular vibrou no bolso traseiro da calça, ignorou e continuou afundada em sua tristeza. Minutos depois, alguém bateu na porta e ela permaneceu no lugar, fingindo que dormia.
— — Filipe chamou-a ao abrir a porta, mas mudou o som para um sussurro. — Ela está dormindo, Zach. — Parecia estar falando ao telefone. A porta fechou em seguida, ela deixou um suspiro de alívio escapar enquanto deitava de lado na cama, o travesseiro ainda em seus braços. Vez ou outra, o corpo tremia pelos resquícios do choro.
Começou com o estresse do desentendimento com os pais, que insistiam para que ela finalmente escolhesse uma profissão e desistisse da banda, o próprio desespero.
Não estava bem para o ensaio da noite, os meninos teriam que perdoá-la.
Na manhã seguinte, quando abriu os olhos e tomou consciência de mais um dia, a tristeza não havia sumido. O dia na loja foi um castigo e, por não estar bem, tudo incomodava e não conseguia controlar a irritação. Pensou que a noite estava se aproximando e logo teria que comparecer ao ensaio, mas não estava bem o suficiente para ir e realmente não queria, por isso pegou o celular e mandou uma mensagem no grupo, inventando uma desculpa boba.
— , venha cá — o pai chamou-a a sério.
Era final de tarde, a loja estava vazia e em alguns minutos eles iriam fechar, por isso ela estava organizando alguns produtos na prateleira. Parou a tarefa e seguiu até o balcão. A mãe não estava presente, ela tinha saído para resolver algumas coisas.
— Senhor.
— Você se decidiu? — Perguntou num tom sério e que ela reconheceu a postura como a que costumava usar para indicar que não estava aberta a uma discussão saudável, apenas impor sua vontade. O que foi um péssimo sinal para ela.
— Sobre?
— A faculdade. — Voltou a atenção para o dinheiro que contava e a anotação no caderno.
— Ainda não me decidi.
— Então, decida logo ou terá que abandonar a banda — sentenciou. — Eu e sua mãe fomos pacientes o suficiente para deixá-la tentar seguir com esse sonho infantil e que não está dando certo. — Olhou-a duramente. — Você fará vinte e cinco anos, uma mulher, mora com os pais, não cursou uma faculdade. Na sua idade, eu…
— Pai, não…
— Você tem que agir como uma adulta, não é assim que quer ser tratada? Então tome uma decisão, e rápido.
— A vida é minha! — Soltou num tom mais alto, a voz embargada. Segurou as lágrimas.
— Mas quem te sustenta sou eu!
— Sustenta, mas eu trabalho para você! — Rebateu.
— Não interessa! Você vive debaixo do meu teto — insistiu duramente.
— E isso não dá o direito de o senhor escolher a minha vida por mim — falou friamente.
— Estou dando a oportunidade de você fazê-la, senão eu mesmo serei obrigado — finalizou e amarrou o dinheiro com um elástico. — Agora para de chorar e feche a loja. — Virou as costas, ignorando-a e dando o assunto por encerrado.
segurou-se para não explodir em respeito ao pai, pois o amava e sabia que ele sentia o mesmo, mas estava sendo muito difícil. Respirou fundo diversas vezes, secou uma lágrima ou outra que escorreu pela bochecha, depois seguiu para fazer o que ele havia mandado.
O celular tocou pela quinta vez, mas ignorou. Acomodou-se melhor na cama, os olhos inchados pelas lágrimas. Não quis comer quando retornou da loja e seguiu direto para o quarto, sem dar uma palavra aos pais. Estava há horas deitada na cama, a melancolia banhada por pensamentos raivosos e tristes.
— Oi — atendeu o aparelho, a voz rouca pelo choro.
— Até que enfim, ! — Zach disse num tom de alívio. — Pensei que tinha morrido.
— Seria até melhor.
— Pirou? Não fala uma maluquice dessa — repreendeu-a. — Aconteceu alguma coisa? Você não é de faltar aos ensaios e nem de falar esse tipo de coisa.
Ela pensou em expor tudo que estava acontecendo, a forma que se sentia nos últimos dias, mas segurou-se porque acreditava que o amigo e companheiro de banda não entenderia.
— Ah, estou resfriada e a minha voz está querendo sumir — mentiu. Secou as lágrimas, o coração dolorido. — Por isso, estou evitando a friagem e acho que não vou render no ensaio, talvez seja melhor dar um descanso. — Achei que estava chorando — confessou parecendo realmente aliviado, riu sem graça. — Pela voz rouca e tal. Mas se está doente, então fique tranquila e quando melhorar, você vem.
How can you feel the way that I'm feeling
Como você pode sentir a maneira que eu estou sentindo
If you're not inside my head?
Se você não está dentro da minha cabeça?
As batidas na porta soaram fortes, forçando-a a abrir os olhos por ser despertada de forma tão repentina.
— , estamos saindo! — A mãe avisou, a voz abafada por trás da porta. — Vê se não enrola.
— O Filipe não pode ir em meu lugar? — Perguntou com a voz rouca.
— Por quê? Está doente? — Preocupação evidente enquanto abria a porta e enfiava a cabeça.
— Não estou me sentindo bem. — Abraçou o travesseiro mais forte.
— Está sentindo o quê? Você tem andado muito desanimada, comendo pouco e dormindo muito. — Uma mistura de dúvida e preocupação dominava suas feições. — Presa nesse quarto, não tem ido ensaiar…
— É que… — tentou falar, mas parou repentinamente, um pensamento surgindo em sua mente. Suspirou desolada. — Só não estou me sentindo bem, tenho certeza de que logo vou ficar cem por cento novamente. — Forçou um sorriso.
A mãe encarou-a em silêncio por alguns segundos, analisando-a atentamente.
— Você sabe que pode conversar comigo, né? Também tive sua idade. Só não enfrentei as mesmas cobranças, porque tinha uma filha pequena na época e estava casada. — O tom amoroso. — Se quiser conversar, estou aqui. — Aproximou-se da cama e fez um carinho na cabeça da filha, depositou um beijo na testa e saiu do quarto.
A jovem prendeu a respiração e fechou os olhos com força, tentando impedir o choro que pareceu ser ativado após as palavras da mulher. A dor e a angústia foram tão fortes que não suportou por muito tempo, chorou novamente, as mãos cobriram o rosto que abafava os soluços. Parecia estar enfrentando um declínio, pois a cada manhã acordava sentindo-se pior, a tristeza mais forte, sem ânimo para levantar da cama, trabalhou com muito esforço. Nesta manhã, não queria mesmo ter que sair e enfrentar o mundo, ela queria ficar quietinha com os seus pensamentos.
— , você… — O irmão abriu a porta e parou assustado por encontrá-la chorando. — Aconteceu alguma coisa? — O tom de voz cauteloso.
— Não — apressou-se em negar e secou as lágrimas com as costas das mãos.
Ele agachou na frente da cama e tocou levemente uma das pernas, o rosto preocupado.
— Me conta o que está acontecendo, por favor. Posso não ser o irmão caçula mais legal do mundo, mas não gosto de te ver sofrendo. — O tom de tristeza.
— Não tem nada acontecendo, eu só não estou me sentindo bem hoje.
— Mentira. Você está muito triste há dias.
— Eu só quero ficar um pouco sozinha.
— Você pode desabafar comigo — insistiu delicadamente.
Ela suspirou frustrada.
— Você não entende.
— Como pode ter certeza? Você nem me disse o que está passando nessa sua cabecinha.
— É que… — Respirou fundo e criou coragem para ignorar os pensamentos ruins e que gritavam que o caçula jamais entenderia o que estava acontecendo com ela. — É que está muito difícil suportar as pressões do pai sobre o meu futuro. Fico me perguntando se sou uma fracassada e se realmente a música vai dar certo na minha vida em algum momento. Quando percebo, estou muito mal. — Deu de ombros, a voz rouca pelo choro. Secou algumas lágrimas que escorreram pelo rosto.
Ele encarou-a pensativo por algum tempo.
— Eu sei que o papai pega pesado com você, mas você não pode se deixar levar por causa disso. Ele te ama e só está preocupado.
— É difícil suportar quando você mesma já tem os próprios fardos para carregar, e ver quem você ama jogando ainda mais nos seus ombros se torna insuportável. Enfim, você não vai conseguir me entender — resignou-se, deitou na cama novamente e jogou a coberta pela cabeça.
— Você não pode se prender a essas inseguranças…
— Me deixe sozinha, por favor — pediu num fio de voz, o sofrimento evidente.
Ouviu o irmão reclamar baixinho e a porta bateu em seguida.
Como alguém entenderia o que estava dentro da cabeça dela se nem ela estava sendo capaz de compreender o que verdadeiramente estava errado?
Alana tomou um gole do café, colocou outro biscoito na boca, o olhar perdido na parede branca atrás da sua amiga Cláudia, que ocupava uma cadeira em frente a ela. Na última semana, os seus pensamentos estavam sempre ocupados com e a preocupação pela forma como a filha vinha agido. Não aguentava mais vê-la enfiada embaixo das cobertas. Não cantarolava ou ia aos ensaios da banda, parou de trabalhar na loja.
— Alana.
— Sim? — A expressão de distração.
— Está tudo bem? — A mulher avaliou-a atentamente enquanto bebia da sua própria xícara. — Você parece muito preocupada.
— Não é nada grave…
— Você pode me contar se quiser. Não posso te atender como psicóloga, mas vou te ouvir como amiga. — Sorriu. Estendeu uma das mãos por cima da mesa e apertou a mão da amiga para confortá-la.
A mulher sorriu levemente.
— Estou preocupada com a . Quase não come, dorme muito, vive enfiada na cama. Parou de ensaiar com a banda e trabalhar, não canta mais, não conversa… — Respirou fundo para afastar as lágrimas de preocupação. — Ela nunca agiu assim. Eu pensei que fossem apenas dias ruins, mas passaram semanas e nada mudou. Na verdade, parece que piorou. Estou preocupada, porque tudo que digo parece deixá-la pior — confessou frustrada. — E eu não faço ideia de como agir. — A voz embargou ao admitir o que vinha corroendo-a. — Sou uma péssima mãe! Eu deveria saber o que dizer para ajudá-la a melhorar.
— Calma, Alana! Você não tem culpa de nada — apressou-se em acalmá-la. — Olha, serei bem sincera com você, mas antes preciso que você mantenha a calma e me escute com bastante atenção. Estou supondo algo com base no que você me contou.
— É grave? — Preocupação evidente.
A amiga ajeitou os óculos no rosto e voltou a segurar as mãos da amiga.
— Suspeito que seja depressão — soltou sem rodeios. — Por questões de ética profissional, eu não posso atendê-la para confirmar o diagnóstico e indicar tratamento. O melhor que eu posso fazer é pedir para vocês irem ao meu consultório amanhã que uma das meninas irá atendê-la.
Alana cobriu o rosto, a mente a mil.
— Depressão? Como assim?
Cláudia interrompeu-a, agarrou as mãos novamente.
— Depressão é uma doença, Alana. Você pode sofrer com qualquer idade. Afeta o apetite, onde você tem muita fome ou pouca, ansiedade, irritabilidade, falta de libido e forte desesperança — explicou calmamente. — Além de perder a vontade de viver.
A mulher começou a chorar copiosamente. Cláudia levantou e agachou ao lado da outra, envolveu-a em um abraço confortador.
— A vai ficar bem, mas, para isso acontecer, você tem que ser forte e ajudá-la a iniciar o tratamento. Não vai ser fácil, ela vai ter recaídas, mas no final, tudo vai dar certo. — Depositou um beijo na cabeça da amiga.
— Zach? Já vai? — Alana perguntou preocupada ao ver a expressão irritada do rapaz ao descer as escadas. A mais velha havia acabado de entrar em casa, a cabeça estava um turbilhão depois da conversa que teve com a Cláudia.
— Eu não sei o que tem de errado com a , dona Alana — confessou. — Acabei de dar a notícia das nossas vidas e ela, ao invés de comemorar, parecer feliz, o que ela fez? — Perguntou ao esfregar as mãos no rosto, um gesto de irritação. — Abriu a boca para dizer que está fora da banda! A nossa vocalista! Ela fundou a banda comigo e os rapazes, enfrentou todos os perrengues e agora que surge uma esperança de alcançarmos o sucesso ela cai fora? Cadê a consideração?
A mulher aproximou-se delicadamente do rapaz.
— Zach, eu preciso que você mantenha a calma e me escute.
Ele encarou-a com dúvida no olhar.
— A não está bem e precisa de todo apoio possível para melhorar. — Colocou uma das mãos no ombro dele. — Por favor, não fique chateado com ela.
— O que ela tem?
— Ainda não sabemos ao certo, mas amanhã iremos ao médico.
— O que posso fazer para ajudar?
— No momento, dar andamento nas coisas da banda até que ela esteja bem para voltar a cantar — pediu. — A música é a vida da minha filha e eu sei que logo vai estar nos palcos novamente. Posso contar com você para não a abandonar nesse momento difícil?
O rapaz encarou-a determinado, um sorriso no rosto.
— Sempre.
— Obrigada. — Abraçaram-se fortemente.
— A foi ao banheiro, mas ela já vem — Paula avisou. — Nós conversamos e após análise ficou claro que ela sofre de depressão. Expliquei a ela toda a situação, como vai funcionar o tratamento e o quanto é importante o apoio nesse momento. — Abraçou a prancheta na frente do corpo. — Ela será encaminhada ao psiquiatra que será responsável pelos dois tratamentos, onde ela fará uso de antidepressivos e terá atendimento psicológico.
— O Fábio, nosso psiquiatra, estará aqui hoje — avisou Cláudia.
— E como ela reagiu? Aceitou fazer o tratamento? — Alana perguntou preocupada. — Foi muito difícil tirá-la da cama hoje. Chorou por horas, insistiu que não queria sair… — A angústia presente na voz.
— Fique tranquila que sua filha é uma moça muito forte! — Paula sorriu.
— Obrigada. — Alana secou algumas lágrimas.
— Está tudo bem, ? — Alana perguntou ao entrar repentinamente no antigo quarto de Filipe. Avistou a filha secando algumas lágrimas enquanto lia um de seus cadernos, preocupação dominou suas feições.
Ela apenas fechou o caderno no colo, secou algumas lágrimas com as palmas da mão e levantou num pulo, jogou-se na direção da mãe e abraçou-a fortemente.
— Obrigada, mãe! Muito obrigada por ter me ajudado a procurar tratamento! — Agradeceu com a voz rouca pela emoção.
— Eu não deveria ter deixado você mexer nesses cadernos… — falou preocupada.
libertou-a de seus braços, um sorriso mais feliz em seu rosto, e voltou para pegar o caderno que estava no chão.
— Não vou mentir que doeu reviver esses momentos, mas eu quero colocar isso para fora.
A música de estreia da banda The Neighbourhood “Wiped Out!” alcançou a 10ª posição no The Hot 100 da Billboard pela terceira semana consecutiva.
FIM
Nota da autora: Oi, jovem! A Depressão é uma doença e é essencial procurar ajuda médica, por isso fique atento aos sinais. Lembre-se: você não está sozinho!
E se gostou dessa fic, também confere as outras.
Outras Fanfics:
→ Bônus: Leaving Tonight [Ficstape #124 — The Neighbourhood: I Love You — Finalizada]
→ Bônus: Baby Came Home [Ficstape #124 — The Neighbourhood: I Love You — Finalizada]
→ Café com Pattinson [Atores — Em Andamento]
→ Dark Angels [Restritas – Originais – Em Andamento]
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Para saber quando essa fanfic vai atualizar, acompanhe aqui.
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