Capítulo Único
Hoje null saiu de sua casa com uma sensação diferente. Uma sensação positiva.
Ela não podia deixar isso de lado, ela tinha uma sensibilidade inacreditável, sempre seguia seus instintos. Como um sexto sentido.
Sorriu para o motorista que estava pronto para levá-la até sua empresa.
Seu trabalho não era fácil, ser CEO de uma empresa da grande São Paulo, não é para qualquer um. Principalmente quando essa pessoa, é uma mulher.
Todos os dias, null tinha que lidar com alguns comentários machistas de certos funcionários.
Ela não se importava, ela sabia seu valor, ela sabia que tinha um talento.
Ela sabia que conseguiria ficar à frente daquela empresa, e por anos se duvidar.
Enquanto olhava pelas ruas pela janela de seu carro, lembrava-se das palavras de uma amiga sua, null.
“null, minha querida. Eu acredito em você, sério. Não há ninguém melhor do que você para ser uma CEO desta empresa. Você é maravilhosa, completamente focada e determinada. Você é perfeita para este cargo. Nunca duvide de você mesma, essa é maior arma contra os fracos. Quando questionamos nossa própria capacidade, nos colocamos lá no fundo do poço, e com isso, você perde totalmente sua força”.
Sua amiga era uma mulher sábia. Quantas vezes as palavras de null ajudaram null a seguir em frente? Quantas vezes null estendeu sua mão, e falou meia dúzia de palavras, fazendo null chorar até se sentir leve?
null chorava desesperadamente, em seus pensamentos a sua vida já não tinha mais solução.
Sofrer humilhação em sua casa, e ainda em seu trabalho. Era demais para a jovem.
Trancou-se dentro do banheiro e olhou para os lados, como se buscasse por alguma solução de seus problemas.
Seu nível de depressão aumentava a cada semana. Cada dia era uma batalha para a jovem sair da cama e terminar sua faculdade.
Ela não aguentava mais. Ela não queria suportar aquela dor.
Implorava em sussurros para Deus tirar sua vida de uma vez por todas.
Olhou-se para o espelho do banheiro e viu em seu próprio reflexo, uma garota acabada, destruída, sem esperanças, sem vida.
Seus olhos estavam vermelhos e inchados de tanto chorar.
Choro de desespero e de dor. Dor… que ela nunca mais iria sentir, se tudo sair do seu jeito.
Entre os soluços, ela suspirou e tomou sua decisão.
Muitos pensavam que ela foi fraca e covarde. Mas ninguém sabe o quanto ela aguentou para chegar até onde conseguiu chegar.
Sua vida era um peso. Um peso que ela não queria sentir nunca mais.
null deu um soco forte contra o vidro, e pegou um pedaço grande que conseguiu quebrar.
Respirou profundamente.
Ela nunca foi uma pessoa corajosa, mas agora pensava que, se esse fosse seu último momento nesta Terra, ela teria que ser corajosa.
Pelo menos uma vez na vida.
Vida. Vida. Vida.
Ela não sabia o que era vida há anos, e muito menos o que era viver.
null tentou controlar o tremor de suas mãos aos poucos enquanto tocava sua pele com o vidro.
Barulhos do outro lado da porta assustou a garota e por reflexo abaixou seu braço rapidamente.
Suspirou, e tentou novamente.
Suas mãos tremiam, e seu coração batia em um ritmo acelerado. Tocou com o lado pontudo do vidro em sua pele, causando um corte superficial. Em seguida, seguiu uma risca pelo pulso.
Seu braço começou a arder, e ela controlou seus gemidos de dor.
Soluçou alto, derramando suas lágrimas amargas. Perfurou sua pele com mais profundidade e gritou.
Uma batida forte na porta fez a garota se calar.
- Quem está aí?
Ela não respondeu.
- Olá! É a null?
A garota estremeceu.
- null, se você estiver aí, me responda.
null deu alguns passos para trás e seu corpo se chocou com a parede fria.
- null… olha, eu sei que você está aí! Eu vi tudo o que aqueles caras fizeram, e eu sinto muito. Digo, você ainda é uma estagiária, e para eles, isso é motivo de diversão.
null permaneceu quieta, com o seu coração acelerado.
- null, eu nem sei o que te dizer, isso é horrível. Eu me lembro de quando eu era uma estagiária, e te garanto, não foi nada fácil. Mas você não pode deixar isso te derrubar, querida. Se você chegou até aqui é porque você tem talento. Você pode ser muito mais, null. Acredite em você.
null respirava com dificuldades.
Sua mente queria escutar null e continuar com sua vida, mas um lado sombrio dentro dela, gritava e implorava para ela acabar com tudo.
- null, seja orgulhosa e corajosa, querida. Não desista de algo só porque ainda não aconteceu. Aguarde seu tempo, se prepare, viva sua vida. Eu digo isso porque eu sei o que é viver sem a garantia do amanhã. - null respirou pesadamente e continuou - Me tiraram muitas coisas, null. Muitas… mas eu não reclamo, não me desespero, sabe por quê? - ela não esperou nenhuma resposta e prontamente respondeu - Porque em meio ao caos, sempre há algo bom. E no meu caso, eu aprendi a valorizar a vida. Viver é algo muito precioso para mim, estar aqui é algo precioso. Se você se sentir fraca e incapaz, lembre-se de que você está viva, respirando… se há vida, ainda há esperanças, e se há esperanças, então certamente você é capaz de fazer tudo, entende?
null estava em um estado de choque, sem reação para expressar o que sentiu com as palavras de null.
null, por outro lado, sentiu-se aliviada.
Ela retirou um peso enorme de seus ombros com aquele desabafo.
Sua doença era algo que ninguém sabia, e que consumia a cada dia a vida dela. Mas ela não podia desistir, ainda tinha esperanças… porque ela estava viva.
null, em um transe absoluto caminhou até a porta, e sem pensar no seu ato, destrancou.
null levantou-se rapidamente do chão, e abriu a porta. Entrando no banheiro e dando de cara com uma garota com o braço esquerdo sangrando, e com sua aparência lamentável.
Sem pensar duas vezes, envolveu o corpo de null em seus braços aconchegantes.
null abraçava a garota com toda a sua força, como se com aquele gesto, a dor de null tornasse sua.
Então, null desmoronou.
Chorou com desespero e angústia nos ombros de null.
A mulher jogou o caco de vidro para longe e acariciou os cabelos de null. Em um gesto completamente carinhoso, para mostrar que ela estava ali e sempre estaria.
Depois de longos minutos, naquele momento das duas, null se recuperou.
Inalava e soltava o ar, relaxando seus músculos aos poucos. E então, null abriu um sorriso grande para a garota.
- Lembre-se null, se há vida, há esperança. Você é capaz de tudo, querida.
null sorriu.
Há quanto tempo ela não sorria?
null não podia negar que sentia falta de sua grande amiga. Depois daquele dia, as duas desenvolveram uma amizade e criaram um laço de afeto. As duas sempre compartilharam momentos juntos, e sempre estiveram apoiando e incentivando uma a outra. null foi a maior inspiração de null. A mesma não tinha uma mãe viva, e então a imagem da amiga em sua vida, era extremamente importante. null ensinou à null o que era viver realmente. E cada dia ao lado da amiga, era algo inspirador.
null achava estranho o fato da mulher sempre murmurar que a vida era algo precioso. null não entendia a estranha "obsessão" de null em sempre dizer as palavras:
"A vida é algo valioso".
E então, tudo se esclareceu.
De repente, tudo fez sentido.
null e null desceram do carro, e seguiram em direção à casa da mais velha. null abriu a porta, e deu passagem para a sua amiga entrar.
null sempre visitava null, então não ficou em choque com os móveis de luxo da mulher.
Ela estava um pouco tensa. null avisou a jovem que precisavam conversar seriamente. E o sexto sentido de null, gritava dizendo que não era algo bom.
null sentou-se de frente para null.
A mulher não tinha um expressão muito boa em seu rosto, ela parecia preocupada e nervosa.
Para quebrar o clima tenso, null quebrou o silêncio dizendo:
- O que você queria dizer… de tão importante? null mirou seus olhos verdes intensos na garota, e sem pensar muito, colou seus lábios com os de null.
null arregalou os olhos quando sentiu os lábios de null chocando-se contra os seus. Antes da mulher aprofundar o beijo, null recuou assustada.
- O que… eu… - gaguejou enquanto passava as mãos pelos lábios.
null bateu sua mão contra a testa, pensando na idiotice que fez, e jogou seu corpo contra o sofá.
- null… por que… isso? - murmurou null.
null não sabia explicar o que sentia em relação à null.
Ela não tinha tempo para compreender qualquer sentimento, era tarde demais para isso.
- null… me perdoe - suspirou e se endireitou no sofá, sentando-se.
- Por que eu te perdoaria, null? - perguntou null, mirando seus olhos magoados na direção da mulher.
null respirou fundo.
Ela já escondeu por tempo demais seu segredo. Precisava falar. Agora.
Enquanto havia tempo.
- Eu… eu nem sei por onde começar, null.
- Pelo começo, é uma boa. O que acha?
Ela concordou em um gesto afirmativo. E ergueu o seu olhar para a jovem em sua frente.
- Eu não tenho muito tempo de vida, null - murmurou.
null pensou ter ouvido errado e se aproximou para perto dela.
- Não entendi…
- Eu vou morrer, null.
null deu um sorriso debochado, um pouco desacreditada.
- Todos nós vamos morrer um dia, null.
null levantou-se e agarrou a garota pelos ombros. Olhando no fundo dos olhos dela.
- Eu vou morrer, null. Eu tenho um câncer raro. Já fiz vários tratamentos, e nada. Eu posso morrer amanhã mesmo, null. - falou em um tom desesperado.
Os olhos de null se encheram de lágrimas. Ela não poderia acreditar que perderia sua amiga.
- Quanto tempo? - murmurou
null deu um passo para trás e suspirou pesadamente enquanto passava suas mãos pelos fios de cabelo.
- Da última vez que eu fui ao médico, ele me deu um mês e meio, quase.
- Quando foi a última vez?
Os olhos de null ficaram úmidos e suas mãos tremiam levemente.
- Um mês atrás.
E então, sem perceber que chorava, correu para os braços de null.
Chorando desesperadamente no ombro da garota, como ela fizera um tempo atrás.
Quando teve seu momento de fraqueza e null esteve lá para ajudá-la.
null por sua vez estava em choque. Abismada demais para ter qualquer reação.
Sua amiga poderia morrer a qualquer momento, pensava.
Quando seus pensamentos fizeram um pouco de sentido, ela afastou null de seus braços para olhá-la firmemente.
- Uma vez alguém me disse que se há vida, também há esperanças, você não vai morrer, null.
E então, foi a vez de null chorar nos ombros de null.
As duas se encontravam calmas e relaxadas. Decidiram não se preocupar com o amanhã e aproveitar somente a companhia de ambas.
Adormeceram no sofá, enquanto assistiam a uma maratona de Greys Anatomy.
null acordou um pouco assustada com os raios solares que entrava pela janela. Despertou completamente e estranhou quando não viu null ao seu lado.
Levantou-se e caminhou até o quarto da mulher. Abriu a porta, um pouco hesitante, não era acostumada a entrar em cômodos sem permissão.
Olhou em volta, estranhando o fato de null não estar ali.
- null - chamou alto.
Caminhou pela extensão do quarto, chamando pela amiga.
De repente, sentiu algo duro em seus pés.
Olhou para o chão e seu coração doeu ao avistar o corpo de null estirado no chão.
Seus olhos se encheram de lágrimas e suas pernas vacilaram, caindo de encontro com o corpo.
Tomou o rosto da amiga em mãos e deu vários tapinhas fracos no rosto pálido da mulher. Numa tentativa falha de acordá-la.
- null… não, por favor, não… - gemeu em sofrimento contra o corpo de null.
Seu corpo tremia por causa dos soluços e seu coração parecia bater trezentas vezes mais rápido.
- null… não me deixe… não.
Soltou um choro em agonia, repleto de dor.
Sua respiração estava ofegante e null se posicionou em cima do corpo de null, enquanto chorava.
Murmurava palavras desconexas e gritava em negação. Simplesmente não queria acreditar em sua partida.
Tomou o pulso de null em mãos e gritou alto quando não sentiu sua pulsação.
null estava morta.
null ficou a manhã toda contra o corpo de null, chorando e negando a si mesma que sua amiga tinha morrido.
Se null soubesse desde o início, ela teria aproveitado mais a companhia de null, sem dúvidas. Sempre que relembrava da morte de sua amiga, do corpo estirado no chão frio, seu coração se aperta. Nenhuma dor é comparada com o dia da morte de null. Nem mesmo as dores da humilhação, da maldita depressão.
null desceu do carro e se despediu-se do motorista, entrando com passos firmes na empresa. Hoje seria um dia especial.
Um dia importante para null.
Deu um bom dia para a recepcionista, e entrou dentro do elevador. Apertou o número do quarto andar, e esperou calmamente. As portas do elevador se abriram, e null saiu. Poderosa e decidida. Sua entrada obteve olhares de todos em sua pessoa. null caminhou até o palco que estava ali e então, subiu. Ela entendia o porquê dos olhares surpresos das pessoas. Muitos pensavam que ela não iria aparecer, mas bom... eles estavam enganados.
Ajeitou o pequeno microfone e respirou fundo.
- Bom dia à todos.
Todos presentes no local, responderam em uníssono à null.
- Bom... vocês devem estar se perguntando por que de eu estar aqui, né?
Algumas pessoas se entreolharam, visivelmente confusos.
- Eu estou aqui pelo mesmo motivo de vocês. Estou aqui por a dona dessa empresa, null null.
Retomou o fôlego e continuou:
- Uma vez, essa mulher maravilhosa me disse algo, e até hoje eu me lembro, perfeitamente bem. Ela me disse que se há vida, há esperança de algo. E vocês devem estar se perguntando, o que isso tem haver? Deixe-me esclarecer, eu percebi que ficar jogada na minha cama, lamentando por algo que já aconteceu, é estúpido. Definitivamente estúpido! - esbravejou - null null lutava bravamente por todos os dias de sua vida! Ela lutava contra um câncer muito raro e ainda assim, continuava com as esperanças de que tudo iria ficar bem. - praticamente berrou com os olhos marejados. - Ela me ensinou que se estamos respirando é porque ainda temos chances. Você tem a chance de ser melhor, de ser feliz, de ser o que você quiser, porque você ainda está aqui, você está vivo.
null olhou para frente e manteve o controle de sua voz para não desabar ali.
- Eu desperdicei meses da minha vida em um quarto, eu não vivi. Eu simplesmente pensei que com essa atitude, ela estaria de volta, mas não. Ela não voltou, e infelizmente não voltará, nunca mais. Mas eu sei que, iremos nos encontrar novamente, eu sei. E ela estará lá, de braços abertos me esperando com seu sorriso no rosto. - falou entre as malditas lágrimas que caíam. - null me ensinou a valorizar a vida. Ela me ensinou a viver a vida, e eu quero agradecer eternamente à ela por isso. Obrigada, null. Você foi minha luz na escuridão, e será para sempre minha inspiração, te amo!
null não aguentou, e chorou.
Todos da plateia olhavam em choque para null. E então, as palmas preencheram o ambiente, se misturando com os soluços baixos dela. Ela sabia que null estaria orgulhosa. Olhou para o telão que estava em suas costas, e sorriu ao ver a imagem da amiga. Sorriu em meio ao caos. Sorriu no meio daquela tristeza.
Saiu do palco, e correu entre as pessoas. Rapidamente, entrou no elevador e apertou o botão do térreo. Em segundos, o elevador parou e abriu as portas. null saiu correndo e passou como um flash pela recepcionista. Abriu as portas da empresa e correu até a rua, gritando alto.
Gritou, gritou, gritou.
Gritou até seus pulmões doerem e sua respiração faltar.
Suas lágrimas se misturaram com as gotas finas da chuva e então, o vento levou o cabelo da garota para trás.
Ela respirou profundamente e se arrepiou.
Ela sabia, null estava com ela.
Ela sorriu para o vento, e fechou os olhos, aproveitando melhor daquela sensação.
E novamente, o vento retornou a soprar forte em seu rosto.
Mais lágrimas rolaram por suas bochechas.
A sensação de ser abraçada novamente por null era maravilhosa.
null não fazia ideia do quanto sentiu falta que seu abraço. Mas aproveitou de cada segundo, de cada soprar pelo seu corpo.
Sentiu um vento mais forte perto de seu ouvido, e aquilo causou mais arrepios no corpo da garota.
Ela ouviu.
Seu coração bateu mais rápido e seu peito se encheu de orgulho.
null tinha deixado uma mensagem à ela.
null abriu seus olhos ainda cheios de lágrimas, e olhou para o céu estrelado.
- Obrigada, null. Eu te amo, para todo sempre - murmurou.
Sorriu enquanto pensava nas palavras que escutou de sua amiga.
"Você foi minha inspiração desde o começo, sem você em minha vida, eu não teria chegado até onde eu cheguei. Mas a Terra não foi o suficiente para mim, querida. Agora estou em outro lugar, maior do que esse, o meu lugar. Fico feliz que você tenha aprendido a lição, minha querida. Te amo para todo sempre, minha querida null.
E ali olhando para o céu, uma estrela grande e brilhante chamou sua atenção.
Não tinha dúvidas. Aquela estrela era sua amiga, null.
null, a estrela mais brilhante de todo o céu.
Ela não podia deixar isso de lado, ela tinha uma sensibilidade inacreditável, sempre seguia seus instintos. Como um sexto sentido.
Sorriu para o motorista que estava pronto para levá-la até sua empresa.
Seu trabalho não era fácil, ser CEO de uma empresa da grande São Paulo, não é para qualquer um. Principalmente quando essa pessoa, é uma mulher.
Todos os dias, null tinha que lidar com alguns comentários machistas de certos funcionários.
Ela não se importava, ela sabia seu valor, ela sabia que tinha um talento.
Ela sabia que conseguiria ficar à frente daquela empresa, e por anos se duvidar.
Enquanto olhava pelas ruas pela janela de seu carro, lembrava-se das palavras de uma amiga sua, null.
“null, minha querida. Eu acredito em você, sério. Não há ninguém melhor do que você para ser uma CEO desta empresa. Você é maravilhosa, completamente focada e determinada. Você é perfeita para este cargo. Nunca duvide de você mesma, essa é maior arma contra os fracos. Quando questionamos nossa própria capacidade, nos colocamos lá no fundo do poço, e com isso, você perde totalmente sua força”.
Sua amiga era uma mulher sábia. Quantas vezes as palavras de null ajudaram null a seguir em frente? Quantas vezes null estendeu sua mão, e falou meia dúzia de palavras, fazendo null chorar até se sentir leve?
null chorava desesperadamente, em seus pensamentos a sua vida já não tinha mais solução.
Sofrer humilhação em sua casa, e ainda em seu trabalho. Era demais para a jovem.
Trancou-se dentro do banheiro e olhou para os lados, como se buscasse por alguma solução de seus problemas.
Seu nível de depressão aumentava a cada semana. Cada dia era uma batalha para a jovem sair da cama e terminar sua faculdade.
Ela não aguentava mais. Ela não queria suportar aquela dor.
Implorava em sussurros para Deus tirar sua vida de uma vez por todas.
Olhou-se para o espelho do banheiro e viu em seu próprio reflexo, uma garota acabada, destruída, sem esperanças, sem vida.
Seus olhos estavam vermelhos e inchados de tanto chorar.
Choro de desespero e de dor. Dor… que ela nunca mais iria sentir, se tudo sair do seu jeito.
Entre os soluços, ela suspirou e tomou sua decisão.
Muitos pensavam que ela foi fraca e covarde. Mas ninguém sabe o quanto ela aguentou para chegar até onde conseguiu chegar.
Sua vida era um peso. Um peso que ela não queria sentir nunca mais.
null deu um soco forte contra o vidro, e pegou um pedaço grande que conseguiu quebrar.
Respirou profundamente.
Ela nunca foi uma pessoa corajosa, mas agora pensava que, se esse fosse seu último momento nesta Terra, ela teria que ser corajosa.
Pelo menos uma vez na vida.
Vida. Vida. Vida.
Ela não sabia o que era vida há anos, e muito menos o que era viver.
null tentou controlar o tremor de suas mãos aos poucos enquanto tocava sua pele com o vidro.
Barulhos do outro lado da porta assustou a garota e por reflexo abaixou seu braço rapidamente.
Suspirou, e tentou novamente.
Suas mãos tremiam, e seu coração batia em um ritmo acelerado. Tocou com o lado pontudo do vidro em sua pele, causando um corte superficial. Em seguida, seguiu uma risca pelo pulso.
Seu braço começou a arder, e ela controlou seus gemidos de dor.
Soluçou alto, derramando suas lágrimas amargas. Perfurou sua pele com mais profundidade e gritou.
Uma batida forte na porta fez a garota se calar.
- Quem está aí?
Ela não respondeu.
- Olá! É a null?
A garota estremeceu.
- null, se você estiver aí, me responda.
null deu alguns passos para trás e seu corpo se chocou com a parede fria.
- null… olha, eu sei que você está aí! Eu vi tudo o que aqueles caras fizeram, e eu sinto muito. Digo, você ainda é uma estagiária, e para eles, isso é motivo de diversão.
null permaneceu quieta, com o seu coração acelerado.
- null, eu nem sei o que te dizer, isso é horrível. Eu me lembro de quando eu era uma estagiária, e te garanto, não foi nada fácil. Mas você não pode deixar isso te derrubar, querida. Se você chegou até aqui é porque você tem talento. Você pode ser muito mais, null. Acredite em você.
null respirava com dificuldades.
Sua mente queria escutar null e continuar com sua vida, mas um lado sombrio dentro dela, gritava e implorava para ela acabar com tudo.
- null, seja orgulhosa e corajosa, querida. Não desista de algo só porque ainda não aconteceu. Aguarde seu tempo, se prepare, viva sua vida. Eu digo isso porque eu sei o que é viver sem a garantia do amanhã. - null respirou pesadamente e continuou - Me tiraram muitas coisas, null. Muitas… mas eu não reclamo, não me desespero, sabe por quê? - ela não esperou nenhuma resposta e prontamente respondeu - Porque em meio ao caos, sempre há algo bom. E no meu caso, eu aprendi a valorizar a vida. Viver é algo muito precioso para mim, estar aqui é algo precioso. Se você se sentir fraca e incapaz, lembre-se de que você está viva, respirando… se há vida, ainda há esperanças, e se há esperanças, então certamente você é capaz de fazer tudo, entende?
null estava em um estado de choque, sem reação para expressar o que sentiu com as palavras de null.
null, por outro lado, sentiu-se aliviada.
Ela retirou um peso enorme de seus ombros com aquele desabafo.
Sua doença era algo que ninguém sabia, e que consumia a cada dia a vida dela. Mas ela não podia desistir, ainda tinha esperanças… porque ela estava viva.
null, em um transe absoluto caminhou até a porta, e sem pensar no seu ato, destrancou.
null levantou-se rapidamente do chão, e abriu a porta. Entrando no banheiro e dando de cara com uma garota com o braço esquerdo sangrando, e com sua aparência lamentável.
Sem pensar duas vezes, envolveu o corpo de null em seus braços aconchegantes.
null abraçava a garota com toda a sua força, como se com aquele gesto, a dor de null tornasse sua.
Então, null desmoronou.
Chorou com desespero e angústia nos ombros de null.
A mulher jogou o caco de vidro para longe e acariciou os cabelos de null. Em um gesto completamente carinhoso, para mostrar que ela estava ali e sempre estaria.
Depois de longos minutos, naquele momento das duas, null se recuperou.
Inalava e soltava o ar, relaxando seus músculos aos poucos. E então, null abriu um sorriso grande para a garota.
- Lembre-se null, se há vida, há esperança. Você é capaz de tudo, querida.
null sorriu.
Há quanto tempo ela não sorria?
null não podia negar que sentia falta de sua grande amiga. Depois daquele dia, as duas desenvolveram uma amizade e criaram um laço de afeto. As duas sempre compartilharam momentos juntos, e sempre estiveram apoiando e incentivando uma a outra. null foi a maior inspiração de null. A mesma não tinha uma mãe viva, e então a imagem da amiga em sua vida, era extremamente importante. null ensinou à null o que era viver realmente. E cada dia ao lado da amiga, era algo inspirador.
null achava estranho o fato da mulher sempre murmurar que a vida era algo precioso. null não entendia a estranha "obsessão" de null em sempre dizer as palavras:
"A vida é algo valioso".
E então, tudo se esclareceu.
De repente, tudo fez sentido.
null e null desceram do carro, e seguiram em direção à casa da mais velha. null abriu a porta, e deu passagem para a sua amiga entrar.
null sempre visitava null, então não ficou em choque com os móveis de luxo da mulher.
Ela estava um pouco tensa. null avisou a jovem que precisavam conversar seriamente. E o sexto sentido de null, gritava dizendo que não era algo bom.
null sentou-se de frente para null.
A mulher não tinha um expressão muito boa em seu rosto, ela parecia preocupada e nervosa.
Para quebrar o clima tenso, null quebrou o silêncio dizendo:
- O que você queria dizer… de tão importante? null mirou seus olhos verdes intensos na garota, e sem pensar muito, colou seus lábios com os de null.
null arregalou os olhos quando sentiu os lábios de null chocando-se contra os seus. Antes da mulher aprofundar o beijo, null recuou assustada.
- O que… eu… - gaguejou enquanto passava as mãos pelos lábios.
null bateu sua mão contra a testa, pensando na idiotice que fez, e jogou seu corpo contra o sofá.
- null… por que… isso? - murmurou null.
null não sabia explicar o que sentia em relação à null.
Ela não tinha tempo para compreender qualquer sentimento, era tarde demais para isso.
- null… me perdoe - suspirou e se endireitou no sofá, sentando-se.
- Por que eu te perdoaria, null? - perguntou null, mirando seus olhos magoados na direção da mulher.
null respirou fundo.
Ela já escondeu por tempo demais seu segredo. Precisava falar. Agora.
Enquanto havia tempo.
- Eu… eu nem sei por onde começar, null.
- Pelo começo, é uma boa. O que acha?
Ela concordou em um gesto afirmativo. E ergueu o seu olhar para a jovem em sua frente.
- Eu não tenho muito tempo de vida, null - murmurou.
null pensou ter ouvido errado e se aproximou para perto dela.
- Não entendi…
- Eu vou morrer, null.
null deu um sorriso debochado, um pouco desacreditada.
- Todos nós vamos morrer um dia, null.
null levantou-se e agarrou a garota pelos ombros. Olhando no fundo dos olhos dela.
- Eu vou morrer, null. Eu tenho um câncer raro. Já fiz vários tratamentos, e nada. Eu posso morrer amanhã mesmo, null. - falou em um tom desesperado.
Os olhos de null se encheram de lágrimas. Ela não poderia acreditar que perderia sua amiga.
- Quanto tempo? - murmurou
null deu um passo para trás e suspirou pesadamente enquanto passava suas mãos pelos fios de cabelo.
- Da última vez que eu fui ao médico, ele me deu um mês e meio, quase.
- Quando foi a última vez?
Os olhos de null ficaram úmidos e suas mãos tremiam levemente.
- Um mês atrás.
E então, sem perceber que chorava, correu para os braços de null.
Chorando desesperadamente no ombro da garota, como ela fizera um tempo atrás.
Quando teve seu momento de fraqueza e null esteve lá para ajudá-la.
null por sua vez estava em choque. Abismada demais para ter qualquer reação.
Sua amiga poderia morrer a qualquer momento, pensava.
Quando seus pensamentos fizeram um pouco de sentido, ela afastou null de seus braços para olhá-la firmemente.
- Uma vez alguém me disse que se há vida, também há esperanças, você não vai morrer, null.
E então, foi a vez de null chorar nos ombros de null.
As duas se encontravam calmas e relaxadas. Decidiram não se preocupar com o amanhã e aproveitar somente a companhia de ambas.
Adormeceram no sofá, enquanto assistiam a uma maratona de Greys Anatomy.
null acordou um pouco assustada com os raios solares que entrava pela janela. Despertou completamente e estranhou quando não viu null ao seu lado.
Levantou-se e caminhou até o quarto da mulher. Abriu a porta, um pouco hesitante, não era acostumada a entrar em cômodos sem permissão.
Olhou em volta, estranhando o fato de null não estar ali.
- null - chamou alto.
Caminhou pela extensão do quarto, chamando pela amiga.
De repente, sentiu algo duro em seus pés.
Olhou para o chão e seu coração doeu ao avistar o corpo de null estirado no chão.
Seus olhos se encheram de lágrimas e suas pernas vacilaram, caindo de encontro com o corpo.
Tomou o rosto da amiga em mãos e deu vários tapinhas fracos no rosto pálido da mulher. Numa tentativa falha de acordá-la.
- null… não, por favor, não… - gemeu em sofrimento contra o corpo de null.
Seu corpo tremia por causa dos soluços e seu coração parecia bater trezentas vezes mais rápido.
- null… não me deixe… não.
Soltou um choro em agonia, repleto de dor.
Sua respiração estava ofegante e null se posicionou em cima do corpo de null, enquanto chorava.
Murmurava palavras desconexas e gritava em negação. Simplesmente não queria acreditar em sua partida.
Tomou o pulso de null em mãos e gritou alto quando não sentiu sua pulsação.
null estava morta.
null ficou a manhã toda contra o corpo de null, chorando e negando a si mesma que sua amiga tinha morrido.
Se null soubesse desde o início, ela teria aproveitado mais a companhia de null, sem dúvidas. Sempre que relembrava da morte de sua amiga, do corpo estirado no chão frio, seu coração se aperta. Nenhuma dor é comparada com o dia da morte de null. Nem mesmo as dores da humilhação, da maldita depressão.
null desceu do carro e se despediu-se do motorista, entrando com passos firmes na empresa. Hoje seria um dia especial.
Um dia importante para null.
Deu um bom dia para a recepcionista, e entrou dentro do elevador. Apertou o número do quarto andar, e esperou calmamente. As portas do elevador se abriram, e null saiu. Poderosa e decidida. Sua entrada obteve olhares de todos em sua pessoa. null caminhou até o palco que estava ali e então, subiu. Ela entendia o porquê dos olhares surpresos das pessoas. Muitos pensavam que ela não iria aparecer, mas bom... eles estavam enganados.
Ajeitou o pequeno microfone e respirou fundo.
- Bom dia à todos.
Todos presentes no local, responderam em uníssono à null.
- Bom... vocês devem estar se perguntando por que de eu estar aqui, né?
Algumas pessoas se entreolharam, visivelmente confusos.
- Eu estou aqui pelo mesmo motivo de vocês. Estou aqui por a dona dessa empresa, null null.
Retomou o fôlego e continuou:
- Uma vez, essa mulher maravilhosa me disse algo, e até hoje eu me lembro, perfeitamente bem. Ela me disse que se há vida, há esperança de algo. E vocês devem estar se perguntando, o que isso tem haver? Deixe-me esclarecer, eu percebi que ficar jogada na minha cama, lamentando por algo que já aconteceu, é estúpido. Definitivamente estúpido! - esbravejou - null null lutava bravamente por todos os dias de sua vida! Ela lutava contra um câncer muito raro e ainda assim, continuava com as esperanças de que tudo iria ficar bem. - praticamente berrou com os olhos marejados. - Ela me ensinou que se estamos respirando é porque ainda temos chances. Você tem a chance de ser melhor, de ser feliz, de ser o que você quiser, porque você ainda está aqui, você está vivo.
null olhou para frente e manteve o controle de sua voz para não desabar ali.
- Eu desperdicei meses da minha vida em um quarto, eu não vivi. Eu simplesmente pensei que com essa atitude, ela estaria de volta, mas não. Ela não voltou, e infelizmente não voltará, nunca mais. Mas eu sei que, iremos nos encontrar novamente, eu sei. E ela estará lá, de braços abertos me esperando com seu sorriso no rosto. - falou entre as malditas lágrimas que caíam. - null me ensinou a valorizar a vida. Ela me ensinou a viver a vida, e eu quero agradecer eternamente à ela por isso. Obrigada, null. Você foi minha luz na escuridão, e será para sempre minha inspiração, te amo!
null não aguentou, e chorou.
Todos da plateia olhavam em choque para null. E então, as palmas preencheram o ambiente, se misturando com os soluços baixos dela. Ela sabia que null estaria orgulhosa. Olhou para o telão que estava em suas costas, e sorriu ao ver a imagem da amiga. Sorriu em meio ao caos. Sorriu no meio daquela tristeza.
Saiu do palco, e correu entre as pessoas. Rapidamente, entrou no elevador e apertou o botão do térreo. Em segundos, o elevador parou e abriu as portas. null saiu correndo e passou como um flash pela recepcionista. Abriu as portas da empresa e correu até a rua, gritando alto.
Gritou, gritou, gritou.
Gritou até seus pulmões doerem e sua respiração faltar.
Suas lágrimas se misturaram com as gotas finas da chuva e então, o vento levou o cabelo da garota para trás.
Ela respirou profundamente e se arrepiou.
Ela sabia, null estava com ela.
Ela sorriu para o vento, e fechou os olhos, aproveitando melhor daquela sensação.
E novamente, o vento retornou a soprar forte em seu rosto.
Mais lágrimas rolaram por suas bochechas.
A sensação de ser abraçada novamente por null era maravilhosa.
null não fazia ideia do quanto sentiu falta que seu abraço. Mas aproveitou de cada segundo, de cada soprar pelo seu corpo.
Sentiu um vento mais forte perto de seu ouvido, e aquilo causou mais arrepios no corpo da garota.
Ela ouviu.
Seu coração bateu mais rápido e seu peito se encheu de orgulho.
null tinha deixado uma mensagem à ela.
null abriu seus olhos ainda cheios de lágrimas, e olhou para o céu estrelado.
- Obrigada, null. Eu te amo, para todo sempre - murmurou.
Sorriu enquanto pensava nas palavras que escutou de sua amiga.
"Você foi minha inspiração desde o começo, sem você em minha vida, eu não teria chegado até onde eu cheguei. Mas a Terra não foi o suficiente para mim, querida. Agora estou em outro lugar, maior do que esse, o meu lugar. Fico feliz que você tenha aprendido a lição, minha querida. Te amo para todo sempre, minha querida null.
E ali olhando para o céu, uma estrela grande e brilhante chamou sua atenção.
Não tinha dúvidas. Aquela estrela era sua amiga, null.
null, a estrela mais brilhante de todo o céu.
Fim.
Nota da autora: GENTE, ESTOU SEM ESTRUTURAS! A ideia do começo não era ter matado uma personagem, mas aos poucos minha mente criou essa belezura e aqui está! Eu amei demais essa fic, null é uma das melhores personagens que eu tive o prazer de criar. Eu simplesmente amei essa mulher!
Se você chorou, sinto muito mas esse era o ponto hahaha
Eu espero que vocês tenham gostado e captado a mensagem da fic, por que para mim foi algo inspirador.
Adorei esse ficstape e beijos, se quiserem entrem no grupo no Facebook amores 🧡.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Se você chorou, sinto muito mas esse era o ponto hahaha
Eu espero que vocês tenham gostado e captado a mensagem da fic, por que para mim foi algo inspirador.
Adorei esse ficstape e beijos, se quiserem entrem no grupo no Facebook amores 🧡.
