Finalizada em: 07/03/2021

Capítulo Único

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Você está convidada para a primeira reunião de turma dos formados de 2011. A data, as instruções para o evento, juntamente ao endereço, se encontram no verso deste convite. Caso você não responda por esse nome, ignore este documento e retorne à agência de entrega.
Sua presença é muito importante!
Com amor, Melanie Scotty.


🦋


— Eu não sei se essa foi uma boa ideia — a mulher no volante repetiu a fala mais uma vez, insegura, aproveitando para respirar fundo ao presenciar o sinal fechar diante deles.
Do banco do passageiro, a encarou entediado.
— Não vai acontecer nada, — garantiu, fazendo carinhos na mão dela que estava sobre a marcha. — E se apertar o volante com mais força, ele vai virar pó — caçoou, seguindo com uma risadinha.
— É engraçado quando quem sofreu com piadinhas e brincadeiras de mal gosto no ensino médio não foi você!
odiava se sentir daquele jeito. Mesmo que tivesse se passado dez anos, as poucas lembranças do colegial ainda eram o suficiente para fazer todos seus ossos se comprimirem de medo.
Reunião de turma dos formandos de 2011.
Ela não conseguia entender o porquê de terem inventado uma dessas depois de uma década. Pior ainda era a constante sensação de que só havia sido lembrada e convidada para o evento, porque era a namorada de .
Um convite por tabela.
Era isso.
Quando a ex-colega de classe, também atual herdeira da maior rede de hotéis da cidade, surgiu nas mensagens privadas do Instagram para fazer o convite, quase a denunciou, achando que era uma brincadeira de mal gosto. Ao ver que tinha recebido a mesma coisa, ela não pôde evitar pensar que estava sujeita a protagonizar cenas similares aos do baile de Carrie, a Estranha.
— A escola nunca mereceu alguém tão especial como você, reiterou em tom terno. — Vou repetir isso até que as palavras finalmente entrem e não saiam mais de seus ouvidos. Éramos jovens e babacas. Não justifica, mas olhe só para mim... Sou a prova viva de que pessoas idiotas amadurecem, se tiverem as pessoas certas do lado.
não conseguiu esconder um sorriso fino.
— Você só era meio bundão e Maria-Vai-Com-As-Outras, amor. Maldade era o que os outros tinham — suspirou.
sempre quis sair de baixo das asas dos pais o quanto antes. Ela gostava da ideia de se tornar uma mulher independente e de negócios. Além da escola, arranjou um emprego para começar a guardar as próprias economias e colaborar com as contas.
Ser garçonete na lanchonete em frente ao colégio soou como uma boa ideia. Ela se locomoveria o mínimo, ganharia dinheiro e ainda teria acesso fácil à instituição sempre que precisasse voltar para pegar algum material.
De início, foi muito bom, até os colegas de classe a descobrirem lá. Depois disso, os acontecimentos seguiam como um filme clichê.
Da turma, foi o primeiro a se tornar um cliente assíduo da lanchonete. Eles conversavam bem. sentado em uma banqueta de um lado do balcão e ela fazendo café do outro. Enquanto ela lutava para juntar dinheiro, ele só estava ali para passar o tempo. Por compartilharem as mesmas aulas, era incrível para ambos poderem conversar com alguém sobre as coisas bobas de todos os dias.
Acabou virando um vício.
Era tão leve e descompromissado que havia dias onde se sentia mal por estar sendo paga por fazer o que gostava. No entanto, assim como a calmaria sucede a tempestade, a tempestade também pode vir depois da calmaria.
Um dia, apareceu acompanhado. Os proprietários só faltaram jogar confetes de satisfação ao ver que a clientela poderia estar se multiplicando. também não ligaria em ter que dar conta de atender mais seis cabeças, se os recém-chegados não agissem como as últimas bolachas do pacote. Faziam-lhe perguntas ignorantes sobre a profissão, miravam o lugar com superioridade e a chamavam de garçonete com um tom pejorativo.
tentava amenizar a situação dizendo que era brincadeira, contudo não se lembrava de ter achado graça. Os episódios tornaram-se corriqueiros e precisava sempre esperar todos saírem para pedir desculpas.
Ele não conseguia se impor.
— Todos cresceram, . Aquela mentalidade de adolescentes inconsequentes não existe mais, pelo menos na maioria. Se fosse ativa de verdade nas redes sociais, entenderia o que quero dizer. O mundo dá voltas. Vamos me usar como exemplo de novo: o maior perdedor da turma tem a sorte de estar acompanhado da mulher mais incrível do mundo!
— Você é sempre muito bom com as palavras — a mulher afirmou, inconformada, ajeitando a postura no banco, visto que o sinal para os carros ficara verde. — Às vezes, não sei se gosto de você, ou só te mantenho por perto para ouvir essas coisas — brincou com um sorriso ladino, focada nas ruas.
contraiu o maxilar.
— Meu bem... — Ele virou o tronco levemente em direção à companheira, depositando a mão pesada na coxa quente dela, ameaçando a subir para uma região mais sensível, fazendo-a ficar tensa. — Você com certeza gosta de muito de mim. — Apertou a carne, possessivo.
Os sentidos de ficaram nublados.

🦋


Enquanto desbravavam o hall de entrada do hotel luxuoso, sentiu a ansiedade marcar presença outra vez. Como resposta, firmou ainda mais o contato entre a mão de e a dela. Sentindo o que ela emanava, o homem deu outro aperto, seguindo de um sorriso encorajador.
— Vai dar tudo certo — murmurou próximo à orelha dela. — Estarei com você em todos os momentos.
— Você promete?
— Sem dúvidas.
Sorriram cúmplices.
precisou enfrentar o primeiro obstáculo logo na entrada. Disposta ao lado da porta que acompanhava toda a extensão do pé direito duplo, estava Melanie Scotty, anfitriã do evento, provável próxima dona do hotel e pessoa que havia os contatado.
engoliu seco.
Como nos tempos de colégio, Scotty trajava roupas que exalavam glamour e riqueza. Os cabelos escuros e longos marcados por ondas modelavam o rosto redondo e bronzeado. A ex-colega era o próprio retrato das mulheres que posavam para as revistas de moda descoladas. Por um momento, invejou a segurança e imponência dela.
e ! — A herdeira abriu um grande sorriso ao reconhecê-los. — Oh meu Deus, olhe só para vocês! Não envelheceram nada nesses anos.
— Fala, Melanie. Tudo bem com você? — tomou a iniciativa, cumprimentando-a com um beijo no rosto.
— Melhor impossível! — O olhar de águia pousou em , que travou.
O que ela poderia fazer? Nunca foram amigas próximas o suficiente para trocarem beijos na bochecha. Quando estava prestes a estender a mão, ela foi surpreendida por um abraço apertado.
— Estou muito feliz que tenham vindo! É bom te ver, . Por favor, entrem. Aproveitem e não façam nada que eu não faria. — Deu uma risada maliciosa. — Fiquem à vontade para desbravar nossas instalações. — Colocou uma mão ao lado da boca, como alguém prestes a contar um segredo. — A vista do terraço é de cair os queixos — fingiu sussurrar, abrindo mais um sorriso gigante.
Alguns passos depois, a mulher contestou:
? — Arqueou as sobrancelhas para o parceiro. — Ela nem olhava para a minha cara no ensino médio.
riu ao mesmo tempo em que rolava os olhos.
— Eu disse que está todo mundo diferente. Melanie é um pouco fútil, mas foi criada assim, não tem muito o que fazer. — Deu os ombros. — No fundo, ela é legal.
— Olha, estou começando a acreditar que sim... — soprou, lembrando-se do contato caloroso de instantes atrás. — Ou é o álcool agindo.
Ainda assim, ela parecia sincera.
Ambos deixaram os olhos passearem brevemente pelo local. Da mesma maneira que eram quando mais novos, as panelas estavam visivelmente formadas. Nesse momento, um garçom passou com uma bandeja e cada um aceitou uma bebida.
— Está vendo o cara na mesa de salgadinhos? — indicou com a taça discretamente. — É o Kevin que se sentava na primeira carteira. Tinha uma cabeça de gênio e agora é um potencial coach viciado em investir em bitcoin.
Com a taça nos lábios, analisou o antigo conhecido: ele não parecia nada com o garoto que andava quase corcunda de tão tímido. Quando Masou estava pronto para continuar as atualizações, um grupo se aproximou deles.
recuou alguns centímetros ao reconhecer o trio, posicionando-se atrás de , desejando evitar aquilo.
— Vai ficar tudo bem — reforçou.
!
Diferente de Kevin, Jessica Duran ainda era totalmente reconhecível.
— Jessie!
— Está bonitão, homem!
— E aí, caras? — precisou romper o contato com a namorada para trocar um toque de mãos com os ex-colegas.
preferiu permanecer calada. Ao presenciar Jessica a analisado da cabeça aos pés para em seguida fingir que não existia, o sangue começou a ferver.
— Tudo bem com você, Jessica? — Ela poderia jurar que não existia sorriso mais plástico do que o que estava exibindo.
— Desculpa, a gente se conhece?
havia se enganado, o tom da outra certamente era mais falso que as próprias expressões.
Sentindo o clima estranho que estava se instalando na roda, voltou a pegar na mão de , fazendo carinhos circulares com o polegar. O ato atraiu totalmente a atenção de Jessica, porém antes que pudesse perguntar outra vez, se adiantou:
— Gente, é a ! Lembram-se dela?
— A garçonete?
A fala fez se teletransportar para o passado. Ainda havia o mesmo teor de desprezo na palavra proferida por ela. Dos que a perturbavam, Jessica sempre se sobressaiu. Diferente dos demais do grupo, Duran teve a audácia de abrir pelo menos duas reclamações contra para os proprietários. A justificativa era tratamento ruim e atendimento de péssima vontade.
As mãos de tremeram de raiva.
O arrependimento que ficou foi de não ter rebatido à altura naquela época. Se tivesse a mentalidade dos dias atuais, teria perdido o emprego, mas não a oportunidade de arrancar os cabelos da outra.
— A garçonete? — Os dois homens que acompanhavam Jessica repetiram em coro.
Dessa vez, quem ficou descontente foi ao notar os olhares para cima da mulher.
— Eu mesma — forçou outro sorriso.
— Como vai a filha, Jessie? — quis mudar o foco.
quase tombou para trás. Jessica Duran era mãe?
— Perfeita! — A mulher disse orgulhosa. — As babás dizem que ela é uma garota muito inteligente e quase nem dá trabalho.
“Diferente da mãe”, respondeu mentalmente por pirraça, repreendendo-se em seguida por estar sendo demasiada infantil.
— Assim como a mãe — replicou para a surpresa de todos.
Jessica a mirou com suspeitas.
— Com certeza. — Empinou um pouco o nariz, voltando a atenção para — Mais um pouquinho do colegial e você poderia ter sido o pai dos meus filhos.
Segundos de silêncio se instalaram.
— Jessie! — Um dos caras repreendeu ao ver que tinha se engasgado com o champanhe.
optou por rir. Ele riu de nervoso, sabendo que era uma mentira. Jessica e ele nunca foi uma opção.
Como uma super heroína dos filmes fazendo a entrada triunfal, Melanie surgiu pedindo para que todos os formados se juntassem para uma foto de recordação, evitando que o grupo se estendesse na conversa desconfortável. Ainda próximos, o casal conseguiu ouvir Melanie repreender Jessica:
é tão minha convidada quanto qualquer um da turma. Eu não lembro quais eram os nossos problemas no ensino médio, mas não me força a te privar da festa, Jessie! Porra, é para ser um troço legal!
O coração da acelerou e ficou ainda mais quente pela defesa inesperada.
— Vamos criar uma recordação antes que todos fiquem bêbados demais para poder se lembrar do próprio nome — a herdeira pediu sorrindo, olhando para ela diretamente. — Todos para aquele canto, por favor.
Melanie era inacreditável. Até um falso cenário de fundo havia feito para a turma. Ela certamente não economizava nos detalhes.
— Por favor, não fica brava com as coisas que a Jessie diz, murmurou preocupado enquanto andavam para encontrar uma posição na foto.
— Ela está levando o tema da reunião a sério, né? Quase me senti no colegial de novo — caçoou. — Duran ainda fala do mesmo jeito.
— Juro que não sei o porquê de vocês não se darem bem.
— Não dá para agradar a todos, né? — deu os ombros. — Mas fica tranquilo, querido. Achei engraçadinha. Nem acredito que estava com medo deles no caminho.
— Vem, temos que pegar um lugar bom para mostrar os grandes gostosos que somos.
revirou os olhos enquanto era arrastada, soltando um riso fraco.

🦋


Daquele ponto em que estavam, até os maiores prédios da cidade se tornavam pontos luminosos no mapa. perdia o fôlego toda vez que olhava para baixo.
O terraço estava há vinte e quatro andares acima do salão onde estavam os colegas. Eles pareciam tão grandes dali.
aninhou a cabeça no peito de , circuncidando-o pela cintura com os braços. Ele a abraçava de lado, também encarando a paisagem.
— Sinto como se fôssemos deuses imbatíveis daqui de cima — ele compartilhou o pensamento.
— Inalcançáveis — completou, ela. — Como se nenhum mal pudesse me atingir.
a virou, fazendo com que os olhos se encontrassem.
— Antes de tudo, você tem a mim.
O casal trocou sorrisos.
sentiu os olhos arderem. Ambos eram muito sortudos por terem um ao outro para contar por tanto tempo.
— Não me sinto muito melhor — brincou, puxando-o pela camisa para ficarem mais próximos.
— Vamos ver se você vai continuar falando tanto quando chegarmos em casa.
— Já me conhece, querido. Se me quer calada, precisa ocupar a minha boca com um doce. — Molhou os lábios, de repente sedenta.
— Sei bem o doce que você quer, safada. — Apertou a cintura dela. — Por ora, não está fazendo por merecer.
— Quem sai perdendo é você. — deu os ombros.
Nos minutos seguintes, permaneceram quietos, apreciando a vista e a leve brisa da noite. O céu infinito estava preenchido por nuvens que impediam qualquer tentativa de enxergar as estrelas.
— Acabei de me lembrar de uma coisa que estava planejando a semana toda.
— Conta aí.
— Não tem cenário e momento melhor para isso.
— Para de me atiçar e fala, homem! — A voz dela subiu três oitavas.
encarou a mulher por uns instantes, sereno, e resolveu agir.
... — chamou, alcançando uma das mãos dela enquanto se ajoelhava, vendo-a arregalar os olhos. — Você aceita... — Enfiou a mão livre dentro do bolso interno do terno para alcançar algo e a mulher só faltou cair para trás com o choque, sentindo as batidas do coração irem para cima. — Ir comer um podrão da esquina, comigo? Com tudo que temos direito é claro. — Exibiu dois folhetos entre os dedos.
A mente dela girou.
O cérebro parecia tão mal oxigenado que os sistemas nervosos de sofreram de pane no sistema.
Os olhos horrorizados miraram o homem ainda ajoelhado diante de si e depois os papeis que segurava. “Sexta-feira é dia do gigante duplo” era o que estava escrito em negrito e em uma fonte agressiva nos cupons. Naquele momento, ela não soube decidir se ria ou chorava.
— O que você disse? — Replicou com outra pergunta, tendo a voz saído mais aguda do que o planejado.
— Comer um podrão. Vamos?
Entretanto, continuava embasbacada.
— O que foi? — mordeu o lábio para segurar uma risada. — Não imaginou que fosse outra coisa, não é? — Insinuou. — Você não acreditou mesmo que eu ia te pedir em casam...
— Não fala a palavra proibida, pelo amor de deus! — Ela fechou os olhos com força. — Por um segundo, eu achei mesmo, ‘tá legal? — Assumiu, carrancuda. — Ainda bem que não é, ou teria que arrebentar o seu coração.
— Você não ousaria... — desafiou, divertido, com os olhos semicerrados. — Casamento é o seu maior pesadelo e o meu também, — relembrou, se levantando com um puxão dela. — Mas nem você resistiria se o autor do pedido fosse essa gostosura toda em forma de gente. — Apontou para si mesmo, passando as mãos pelo corpo exageradamente.
— Sua gostosura vai ter que esperar. Nosso podrão também. Deveríamos voltar lá para baixo e nos juntar aos nossos colegas no torneio de beer pong. Afinal, é noite de reunião de turma.


FIM



Nota da autora: E a pergunta que não quer calar é: o que vocês colocam no cachorro-quente? KKK. Às vezes, tudo o que a gente precisa não está no casório, mas na barraquinha da esquina hahaha’. Se você acompanhou até o final, saiba que sou eternamente agradecida! Honradíssima em ter participado desse projeto lindíssimo que é o Ficstapes Perdidos <3
Obs.: A continuação do casal poderá ser encontrada em breve, por 05. Enquanto Eu Falo, no ficstape Rosas e Vinho Tinto do Capital Inicial! A gente se vê lá? Só aviso que nunca devemos dizer que dessa água não bebereis.
Xoxo, Ale.



Outras Fanfics:
Felicitatem Momentaneum [Harry Potter/Shortfic] — Principais interativos.
Finally Champion [Harry Potter/Shortfic] — Olívio Wood é o principal.
Finally the Refreshments [Harry Potter/Shortfic — Restrita] — Sequência de Finally Champion.
05. Mobile [Ficstapes Perdidos #06 — Shortfic]

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