Última atualização: 28/02/2018

[Capítulo Único]

’s POV:
Estava no intervalo da aula, sentado no chão, perto das árvores e do portão da escola, observando a galera se dispersando para a quadra, quando um dos meus amigos se aproximou.
— Hey man, é verdade que você está saindo com a negrinha? — Peter se sentou ao meu lado, rindo fraco e eu o olhei com suavidade, pigarreando.
— Você se refere à ? — Ele assentiu — Estamos juntos sim, mas não economize em dizer o nome dela. Sabemos que ela não é só uma cor.
— Oh , agora você está ofendido por ela? — Ele soltou uma risada mais alta e eu ri sem humor. — Todo mundo sabe que você é o garanhão do colégio, o cara mais charmoso que todos conhecem, pode ter qualquer garota que quiser. — Ele dizia com firmeza e deu um leve soco em meu peito — Ninguém irá acreditar que você está com a negrinha.
— Por que? Ela não merece ser amada por ser negra? Eu não posso amá-la porque todos julgam que eu mereço algo melhor? — Ele fez uma expressão séria e eu continuei: — Man, eu realmente gosto daquela garota. — Ele revirou os olhos, impaciente. — Ela não é apenas a garota negra que vocês criticam, ela é a garota que faz o meu coração disparar, independente de sua cor, eu acredito mesmo que é especial. Ela faz eu me sentir como o cara mais sortudo do mundo.
— Não man, você é. Ela é quem deve se sentir assim por estar contigo.
— Peter, qual é a sua? Você está se ouvindo? — Eu balancei a cabeça em negação. — Se você continuar a tratando mal e dizendo coisas absurdas a respeito dela, eu esqueço que um dia fomos amigos.
— Vai jogar fora uma amizade de anos, por causa dessa garota?
— É você quem decide. — Eu respirei fundo, vendo Peter saindo do meu lado, como um soldado raivoso.

É muito cansativo sentir a cobrança e a pressão de todos os lados só por namorar uma garota negra, até parece que estou cometendo um crime. E como se já não bastasse as críticas em casa, ainda tenho que aturar as ofensas à na escola também.
Meu Deus, em qual século estamos mesmo?!

Avistei perto do bebedouro conversando uma amiga, segurando seu fichário nos braços. Seu vestido simples azul claro, por cima da camisa branca e larga, se destacava tanto em contraste com o seu tom de pele, e seu tênis branco combinava perfeitamente com as meias de mesma cor. Ela era tão linda e simples, delicada e especial, eu já nem conseguia mais me imaginar longe dela.
Cindy, sua amiga, apontou para mim e ela olhou em minha direção, abrindo o sorriso mais lindo que já vi, sorri junto ao vê-la tão animada. Oh, todos os dias penso no quão sortudo eu sou.
— Depois nos falamos melhor. — Cindy disse a , que sorriu. A menina acenou para mim, que retribui, logo sumindo do meu campo de visão.
— Olha — eu disse enquanto se aproximava — Se não é a menina mais linda do colégio.
— Oh , assim você me deixa envergonhada. — Ela deu uma tapinha em meu braço e eu ri fraco. se sentou entre as minhas pernas, descansando a cabeça em meu ombro. A apertei em um abraço, apreciando o perfume que exalava de seu cabelo. — Eu senti a sua falta durante a aula.
— É sério?! — Eu sorri abobalhado ao ouvi-la, sempre ficava assim quando ela me dizia coisas do tipo. Confesso que estou completamente apaixonado por esta garota. Sim, eu estou mesmo, não acredito que vocês ainda não haviam percebido! — Eu também senti a sua, assim como sinto sempre que estou longe de você.
— Você brigou com Peter, novamente? — Ela se afastou um pouco, e se virou de frente para mim. — Ele parecia irritado quando passou por mim.
— Ele te fal…
— Não, desta vez ele só me fulminou com os olhos, mas não disse nada.
— Menos mal. Porém, eu não quero falar sobre ele, não agora. — Eu suspirei e ela assentiu, compreensiva. — Hoje terá um jantar importante em minha casa, meus pais estão completando 30 anos de casamento e você foi convidada a comparecer na comemoração.
— Oh , eu não tenho certeza, não tenho roupas apropriadas.
— Mas o que é apropriado? — Eu a olhei, curioso — , eu sei no que você está pensando, mas não se preocupe com roupas e ou coisas do tipo.
— Como não me preocupar? Meu pai é carpinteiro, você sabe, não somos ricos, mas vivemos bem. Ainda assim eu não tenho roupas luxuosas.
— Sim, eu sei, você também o ajuda pintando as suas obras. — Eu assenti — Mas não se preocupe com isso, você é linda de qualquer forma.
— Exato. Eu sempre faço as pinturas de algumas peças que ele cria para vender na loja e eu adoro fazer isso. — Ela sorriu satisfeita — Quanto ao elogio, eu agradeço, mas você sabe que não é tão simples assim, .
— Mas o que te impede de ir à minha casa?
— Eu raramente saio para festas. — Eu já iria interrompê-la, mas ela não permitiu — Eu sei que é importante para você, mas não quero te envergonhar.
— Me envergonhar? , não pense assim, você só me traz orgulho. — Ela sorriu tímida e eu a acompanhei — Eu não me importo com nada do que tenho, você sabe disso.
— Sim, eu sei. Mas os seus pais não me conhecem e eu não sei como eles irão reagir. — Ela disse meio receosa, eu ainda não havia contado a ela sobre a reação contrária dos meus pais ao saber que a mesma é negra e tem um pai carpinteiro.
— Entendo a sua preocupação. — Ela assentiu — Bem, eu posso pagar por um belo vestido para você.
— Eu agradeço muito a sua boa intenção, mas não será necessário, guarde o seu dinheiro. — Eu abaixei um pouco o olhar, mas ela segurou meu rosto, e sorrindo disse: — Não se sinta triste por isso, eu irei à comemoração, independente das minhas vestes.
— É sério? — Ela balançou a cabeça positivamente e eu alarguei o sorriso. — Significa muito para mim que você esteja lá hoje, eu quero te apresentar a todos como a minha amada.

’s POV:
Meu relacionamento com parecia um sonho, nunca me imaginei com ele. Digo, eu sempre tive uma queda por ele, mas eu jamais pensei que o garoto mais charmoso e carismático de todo colégio olharia para mim com outro olhar que não fosse o de desprezo, pois é com este que eu estou acostumada.
Devia ser assim? Eu mereço isso? Eu não tenho culpa de ter nascido com o tom de pele escuro, tenho? Não, mas ainda assim, sou tratada como uma leprosa nos tempos antigos.
Já pensei, sim, em me isolar, e eu realmente fiz isso, mas percebi que eu precisaria me manter firme e encarar todos os golpes da vida, por mais pesados que fossem, e assim foram, quase que insuportáveis. Mas em um dia cruel, como todos os outros, me tirou da escuridão, que era a minha vida. Trouxe cores a ela, cores vivas e brilhantes, assim como ele. Então percebi que, na verdade, os olhares de desprezo não passam de frustração da outra parte. Sim, frustração das mais severas.
Mas agora, eu tenho aprendido a lidar com isso, me ajudou nisso. O garoto que sempre teve tudo que desejou, que sempre foi o melhor em tudo, que sempre foi o mais adorado e desejado por onde passava, me ensinou a como eu me sentir bem comigo mesma. E apesar de todas as suas regalias, ele é de uma humilde sem igual, e sempre faz eu me sentir… Hum, especial. Sim, especial, porque é isso que eu sou. Especial.

— Pai, eu já estou pronta. — Eu disse, enquanto me olhava no espelho. Peguei o vestido da minha mãe, o que ela usava quando meu pai a pediu em casamento. Branco com listras cinzas, era justo do busto até a cintura, alargando a sua costura até os joelhos. Calcei meus sapatos de meio salto preto e afofei o meu cabelo, queria dar mais volume a ele. Usei uma maquiagem simples, não gostava de exagerar em nada, além do batom.
— Uau! — Eu o olhei pelo espelho, sorria abobalhado. — Você está ainda mais parecida com a sua mãe.
— Sim — eu dei um giro rápido, fazendo a barra do vestido rodar. — Ela devia ficar linda vestida assim.
— Ela era linda até mesmo sem panos a cobrindo. — Eu arregalei os olhos, rindo e ele pôs a mão na boca, envergonhado por suas próprias palavras. — Milwa faz muita falta!
— Verdade. — Notei que meu pai já se emocionava. — Mas, não vamos chorar, não agora. Preciso manter a minha pele sem borrado. — Ele riu fraco — Como ficou o presente?
— Ótimo! — Ele pegou o quadro de tamanho médio, com detalhes delicados nas margens, que só o mesmo saberia como fazer, me deixando à mostra os rostos dos pais de , pintados em preto e branco. — Você se superou desta vez, minha filha.
— Obrigada, pai. — Eu embrulhei o presente com cuidado, mas de repente fiquei pensativa. — Acha que eles irão gostar do presente? O senhor sabe que eu pintei o quadro há uma semana, mas…
— Não há motivos para não gostar de um presente tão especial como este. — Eu sorri um pouco — Você fez com amor, é o que importa. E o resultado está maravilhoso, não podia ser diferente sendo feito pelas suas mãos.
— Agora eu estou mais aliviada, obrigada. — Suspirei fraco e ouvi uma batida na porta. — Deve ser . — Meu pai se direcionou até a porta, a abrindo.
— Boa noite, senhor . Vim buscar . — disse, apertando a mão do meu pai, que mantinha a sua expressão séria.
— Cuide bem da minha filha, rapaz! — Meu pai disse com voz imperativa e assentiu freneticamente, me fazendo rir. Só mesmo ele para acreditar que meu pai é durão.
— Pode deixar, senhor , sua filha é preciosa demais para mim, eu jamais a deixaria à própria sorte. — disse sincero.
— Hum, gostei de você, rapaz. — Meu pai me olhou e sorriu de lado — Além de me parecer uma boa pessoa, está fazendo um bem enorme à minha filha, ela está mais feliz desde que se aproximou de você.
— Eu fico feliz em ouvir isso — sorriu abobalhado, me olhando tímido. — É só o que eu quero, fazê-la feliz.
— E você faz. — Eu confessei, olhando em seus olhos.
— Tudo bem, acho que já está na hora dos pombinhos. — Meu pai nos expulsou, indiretamente — Não voltem tarde.
— Pai…
— Ele tem razão, . — Eu olhei surpresa para — Retornaremos em breve, senhor. — Ele disse confiante e meu pai assentiu, erguendo levemente o seu chapéu.

Caminhamos um pouco até nos aproximarmos de seu carro, abriu a porta e eu entrei, agradecendo pela gentileza e cavalheirismo.
Colocamos o quadro no banco traseiro e adentrou o veículo, logo dirigindo calmamente. Parecia aproveitar cada minuto ao meu lado, ele nunca escondia o seu entusiasmo ao me ver, e eu confesso que amo isso. Aliás, eu amo tudo nele.

’s POV:
Estacionei o carro na garagem de minha casa, dando a volta para ajudar a sair, peguei o presente no banco traseiro e o segurei para ela. Ajeitei o meu blazer vermelho aveludado, que eu usava por cima da camisa branca junto com a calça jeans clara e tênis de mesma tonalidade e adentramos a casa, que já estava cheia. Todos os olhares foram direcionados a nós, mas eu já sabia o porquê, então segurei firme na mão de e passei por alguns convidados, os cumprimentando educadamente, como sempre, e a apresentando a cada um deles.
Eu notava os olhares maldosos para e conseguia ouvir os cochichos, todas as vezes que eu me virava de costas. Por isso mantive por perto, eu percebia o seu desconforto naquele ambiente, era sempre assim quando estávamos juntos.

Caminhamos um pouco pelo corredor, até encontrarmos com os meus pais.
— Meu filho amado, por onde andou? Achei que não viria comemorar conosco o aniversário de casamento dos seus pais, em sua própria casa. — Minha mãe ignorou a presença de e me abraçou. — E o que houve com a sua formalidade? Você tem calças e sapatos sociais lindos, não os usou por quê?
— Me desculpem pelo atraso, eu fui buscar a minha namorada. — Minha mãe logo mudou sua expressão de alegria para espanto. — E eu gosto de como estou vestido, me sinto bem confortável assim.
— Namorada? — Ela perguntou, engolindo o seco. — Então esta é a famosa ?
— Sim. — Eu disse a abraçando e sorrindo satisfeito.
— É um prazer finalmente conhecê-los, senhor e senhora . — disse gentilmente e meus pais forçaram um sorriso, que eu sabia muito bem que era falso. — Eu trouxe isto como uma pequena lembrança, espero que gostem. — Eu os entreguei o presente e eles se entreolharam. Meu pai abriu o embrulho, deixando à mostra o lindo quadro dos dois.
— Foi você quem fez? — Meu pai perguntou interessado e assentiu.
— Tentei fazer o mais parecido possível com a foto que me mostrou. — Meu pai arqueou as sobrancelhas, parecia surpreso. — E meu pai fez a moldura.
— É de uma delicadeza sem igual — meu pai analisou o objeto com mais cuidado — Veja este acabamento, beirando a perfeição. — me olhou sorrindo, mas eu percebia o olhar de desdém que minha mãe a lançava. — Seu pai é muito talentoso!
— Eu agradeço por ele.
— Senhor é um ótimo carpinteiro.
— Carpinteiro? — Minha mãe frisou a palavra, me olhando de forma nada surpresa. — E sua mãe, o que ela faz? — Desviou o olhar para , que parecia um pouco afetada com a pergunta.
— Minha mãe faleceu há alguns anos. — Ela respondeu com as voz mais baixa e minha mãe pigarreou.
— Eu lamento. — Respondeu de forma simples e indiferente. — Eu estou agradecida pelo presente, é realmente magnífico.
— Fico feliz em saber que gostou. — sorriu inocentemente.
— Bem, você poderia nos dar licença por um instante? — Minha mãe perguntou, fazendo me olhar um tanto preocupada. Sabia que ela estava pensando nos convidados maldosos que estavam no salão de festas, na sala ao lado. — Eu gostaria de conversar a sós com o meu filho.
— Claro. — assentiu, suspirando fraco e já se retirando.
— Venha, eu lhe faço companhia. — Meu pai disse, me lançando uma piscadela, sabia tanto quanto eu que minha namorada estava desconfortável.
— Agora a conversa é só entre nós dois — minha mãe começou, me olhando raivosa — De todas as meninas que você poderia ter, escolheu logo essa negrinha, e como se isso já não fosse o bastante, ainda arrumou um sogro carpinteiro, sem posses. Não foi esse tipo de educação que eu lhe dei, . Eu lhe criei para ser...
— Um homem tão repulsivo quanto vocês. — Eu disse a interrompendo. Percebi que os seus olhos se apertaram mais e quando menos esperei, fui golpeado com uma tapa na face.
— Olhe o que você me obrigada a fazer. — Ela disse melancólica e eu apenas mantive a calma. — Por que está se envolvendo com aquela menina? É por…
— Mãe, eu a amo, não é difícil de entender.
— É difícil sim, eu não compreendo.
— Mas a senhora terá que se conformar, porque é com ela que eu pretendo viver o resto dos meus dias. — Ela arregalou os olhos, incrédula.
— Jamais permitirei tamanha afronta! — Ela firmou a voz e apontou para mim — Não queira me desafiar, .
— Mãe, eu…
— Assunto encerrado. — Ela olhou para o seu presente e pigarreou — Jogue este quadro no lixo, já vi muitos melhores.
fez com tanto carinho.
— E é com o mesmo carinho que eu o dispenso.

Minha mãe me deixou sozinho, olhando para o quadro mais bonito e significante que já tivemos em nossa casa. Vi Louise adentrando a cozinha e a segui, desconfiado. Ela olhava de um lado à outro e jogou uma das taças na lixeira.
— O que está fazendo, Louise?
— Me desculpe, senhor — ela se virou para me olhar, mas apenas manteve a cabeça baixa. — Sua mãe me pediu para jogar fora tudo em que a moça tocar.
— Qual moça? — Eu não tive dúvida alguma, mas precisava ouvi-la dizer.
— A moça que chegou acompanhada pelo senhor. — Eu abri a boca, mas não consegui dizer nada. A minha indignação era tamanha que retornei à sala e tomei dali, rapidamente, a conduzindo até o meu carro.
— O que aconteceu, ? Você parece nervoso. — Eu a olhei, tentando normalizar a minha respiração. parecia tão inocente, como se ela nem mesmo fizesse ideia do que poderia ser, e eu não queria ter que contar o motivo da minha indignação.
— Eu só não estou bem, tive uma discussão com a minha mãe.
— Por minha causa, eu sei — eu respirei fundo, ela parecia um pouco afetada. — Eu já sabia que isso aconteceria.
— Não se preocupe com nada, eu me entendo com a minha mãe e não irei permitir que ela te destrate. — assentiu e eu selei os nossos lábios. — Ainda quero que esta noite seja especial.
— Como? — Ela arqueou as sobrancelhas e eu sorri esperto.

Chegamos a uma das discotecas mais bem frequentada de toda cidade e nos sentamos um pouco afastados da pista de dança, já que muitos a dominava ao som de Black Or White. Os mesmos olhares maldosos nos rodeavam, mas me pedia para manter a calma e eu atendi ao seu pedido.
— Você quer um suco ou algo assim? Eu vou ali rapidinho pedir para você.
— Sim, quero suco de laranja, por favor.
— Tudo bem, eu não demoro. — A beijei rápido e me afastei, indo ao balcão.
— Hey man, àquela garota está com você? — Um dos funcionários da discoteca, que é meu amigo, perguntou apontando para .
— Sim, nós estamos juntos.
— Mas você sabe que ela…
— É negra? — Eu disse o óbvio e ele se calou, continuando a secar alguns copos — Bem, não é como se não desse para perceber, mas eu realmente não ligo. Para mim, não importa se ela é branca, preta, amarela ou rosa, eu a amo independente de sua cor. Assim como eu não me importo com o seu tom de pele, ou acha que eu deixaria de falar com você porque o meu tom de pele é mais claro que o seu?
— Eu não quis dizer isso, cara, é só que…
— Você quis sim, mas eu já me acostumei com essa má postura das pessoas. Principalmente das que são mais próximas de mim.
— Só estou… Surpreso. — Ele forçou um sorriso, me enojando.
— Eu também não tinha acreditado, até que ele me confirmou estar com a negrinha. — Peter se aproximou, já bêbado.
— Cara, qual é o seu problema com a cor dela?
— Oh , me poupe dessa sua encenação, nem mesmo você gostava de sua antiga cor. — Dei um soco em sua face, logo após ouvi-lo e não parei de o agredir.
— Seu babaca! Você sabe melhor que qualquer pessoa que eu sofri com essa doença.
— Não , você só arrumou essa desculpa para se transformar em outra pessoa. — Não o esperei terminar de falar, o agredi por mais uma vez, usando toda a minha força. E foi quando fomos expulsos do local.

— Me desculpe por fazer você passar por tudo isso, a culpa é minha. — disse cabisbaixa, quando já estávamos em frente à sua casa.
— Culpa sua? Você não tem culpa da babaquice das pessoas. — Ela forçou um sorriso. — Quero te pedir uma coisa. — Eu segurei levemente o seu queixo, fixando o olhar em seus olhos.
— Peça. — Respondeu, me olhando com curiosidade.
— Quer ser a minha esposa? — Perguntei de forma simples e ela arregalou os olhos até não poder mais, me fazendo rir fraco.
— ela tirou a minha mão de sua face e pigarreou, tentando normalizar sua respiração que estava falha. — Não brinque comigo desta maneira.
— Eu jamais brincaria com algo assim! — Ela esfregou os seus seus próprios braços, parecia nervosa. — , eu falo sério. Aliás, eu nunca falei tão sério, em toda minha vida. — Ela me olhou com os olhos encharcados, tentando segurar as próximas lágrimas que já caíam sobre seu rosto. Segurei em sua mão e a beijei com delicadeza. — E você ainda não me respondeu.
— Eu mal consigo respirar neste exato momento. — Nós rimos um pouco. — Mas a minha resposta é “sim”. — Eu a beijei mais uma vez. — Queria tanto que a minha mãe pudesse presenciar essa nova fase que se iniciará em minha vida, mas apesar disso, eu estou bem.
— Sim, eu até me espanto com o quanto você é conformada.
— O que mais eu poderia fazer além de me conformar? — Ela deu de ombros, suspirando fraco — Eu só me machucaria mais.
— Eu entendo.
— Mas, vamos voltar ao assunto anterior. — disse animada — Onde foi que paramos mesmo?
— Ah, acho que paramos na cena em que a linda mocinha era pedida em casamento pelo belo rapaz. — Eu disse, a arrancando altas risadas. — Bem, falando sério agora, eu preciso conversar com o seu pai.
— Tudo bem. — Ela adentrou a casa, me puxando pela mão. — Pai — o homem se virou para nos olhar, logo abaixando o volume da televisão. — quer falar com o senhor.
— Pois não?! — Ele cruzou os braços e eu engoli o seco, meu coração acelerou e a minha testa já começava a brotar suor, eu podia sentir.
— Eu gostaria de pedir a mão de sua filha em casamento.
— O quê? — O homem deu um leve salto do sofá. — Você tem noção do que está me pedindo?
— Sim, senhor.
— Você não deve estar falando sério. — Ele dizia sem nos encarar — Isso é uma paixão adolescente que vai passar daqui a um tempo e eu não posso permitir que você magoe a minha filha com decisões inconsequentes.
— Pai, eu também quero me casar com . — disse cautelosa e senhor a olhou, incrédulo.
— Senhor, eu amo a sua filha e tenho certeza de que é isso que desejo para a minha vida.
— Vocês são muito jovens, ainda estão terminando o colegial — ele andava de um lado à outro — Como isso daria certo?
— Pai, eu entendo a sua preocupação, mas a verdade é que eu amo o e não vejo problema em nos casarmos.
— E é por isso que eu estou aqui, para pensar em tudo por você. — me olhou, preocupada com a reação de seu pai. — Você quer abandonar os estudos?
— Não, de jeito nenhum. Eu quero ter uma formação superior depois do colegial, por isso não posso parar e eu nem quero. — Não que eu não goste do que faço, porém eu quero me aperfeiçoar.
— E-eu entendo, minha filha, mas preciso aceitar a ideia de te ver casada.
— Pai, nada irá mudar.
— Como não? Ele vai te levar para morar com ele e…
— Na verdade, eu pretendia morar aqui com e aprender com o senhor o ofício da carpintaria. — Eu disse, interrompendo senhor , que me olhava bem sério.
— Escute aqui, garoto, se você estiver iludindo a minha filha…
— Eu jamais faria isso, senhor! — Fui firme em minhas palavras — Tenho um amor enorme por , jamais a faria sofrer.
— Qualquer um pode dizer isso. — Ele disse simples, dando de ombros.
— Pai, jamais alguém disse algo assim para mim antes, muito menos vieram aqui para te pedir minha mão. — disse, fazendo senhor respirar fundo, ainda andando de um lado à outro. — Eu amo o e mesmo que o senhor não permita a nossa união, meu coração continuará pertencendo a ele.
— E quanto aos seus pais, garoto?
— Eles não aprovam a nossa relação. — Eu disse num tom mais baixo.
— Por que minha filha é negra e de classe baixa? — Eu me calei por alguns segundos — Responda! — Ele ordenou, elevando seu tom de voz.
— Sim. — Confessei.
— Então isso faz de você um corajoso — ele disse, me fazendo arregalar os olhos — Largar tudo que você tem para viver uma vida mais humilde por amor a minha filha, você é sim digno de tomar como sua esposa. — Eu suspirei aliviado, olhando para ela, que sorria largamente para mim. Ah, o sorriso que acelera o meu coração! — Trouxe as alianças?
— Bem, eu — tirei uma caixinha preta de dentro do bolso de minha calça e a abri, mostrando um par de alianças prateadas — Comprei com o meu próprio dinheiro, trabalhei alguns meses com o meu pai para isto.
— Pois bem, eu permito a união de vocês dois. — Senhor disse, sorrindo.
Me ajoelhei frente à e ela me olhou emocionada.
— Mais uma vez, eu te pergunto: quer ser a minha esposa? — Mordi o lábio inferior, sentindo o nervosismo transparecer em forma de suor.

— Sim, eu quero. — Ela respondeu não contendo as suas lágrimas e eu pus a aliança em seu dedo, a esperando fazer o mesmo comigo. Me levantei rapidamente, a beijando de forma intensa e apaixonada.

’s POV:
Depois de oficializar a nossa união, que não teve comemoração, decidimos morar na casa do meu pai mesmo. aprendeu com ele a como dar forma a móveis e outros objetos utilizando a madeira todos os dias, depois das aulas, enquanto eu continuava pintando, quando não estava na escola. Não poderia relaxar demais, perder a minha bolsa integral na escola seria uma imprudência sem tamanho e eu precisava terminar os estudos. Eu queria isso.

Observei uma movimentação estranha em frente à nossa casa e deixei um quadro pintado pela metade, me levantando do banquinho e olhando pela janela a família de se aproximar. O chamei, juntamente com o meu pai e naquele momento, o clima pesou de tal forma, que eu não sei explicar a sensação estranha que senti.
— Eu poderia dizer que vocês são bem-vindos em nosso lar, em consideração ao filho de vocês. Mas, o que fizeram passar foi de um desrespeito tremendo.
— Peço desculpas pela forma como tratamos a sua filha, a moça pela qual escolheu passar o resto da vida. — Senhor disse, demonstrando sinceridade. — Sei o quão talentosa essa menina é, e também o quanto o meu filho a ama. — Ele desviou o olhar para , que mantinha seus braços cruzados.
— Meu filho — senhora se aproximou de , o abraçando com força e o beijando na bochecha. Parecia não ver o filho há séculos, e realmente, havia tempos em que não o via. — Que saudade do meu menino!
— Mãe, qual é a sua real intenção vindo aqui com meu pai? — A senhora se afastou para o encarar, mas não se afetou, continuou mantendo a sua expressão séria.
— Como assim, meu filho? Sentimos a sua falta. — Senhor disse um tanto abalado.
— Depois de três meses, somente agora vocês sentiram a minha falta?
— Na verdade, sentimos a sua falta desde o dia em que você veio morar aqui — senhora confessou, tomando a liberdade de adentrar a casa e se sentar, com toda sua classe, no sofá. — Eu quase obriguei o seu pai a não vir aqui te incomodar, mas não adiantou porque ele vinha te observar de longe, todos os dias. — Ela riu sem humor, mas notei que se emocionou. — Eu errei com você. Eu errei com essa moça. Eu errei muito, meu filho.
— Queremos nos reconciliar. — Senhor disse de uma vez — Quero que você recupere o seu antigo cargo na nossa empresa. Não, agora que é casado e precisa arcar com os custos de uma casa, você receberá uma promoção.
— Pai, eu não quero nada disso.
— Mas filho…
— Eu amo a minha esposa, amo a minha casa, amo a vida que tenho levado e não sinto falta de nada. — me abraçou de lado — O conforto que vocês me ofereceram foi muito bom e eu sou grato a vocês pelos anos que desfrutei de tudo isso, mas agora a minha realidade é outra e eu não quero mudar isso. — Eu contive o sorriso, mas me senti orgulhosa de meu marido. — Meu sogro me ensinou a como sobreviver do suor do nosso próprio trabalho, e acreditem, vivemos muito bem assim.
— Vocês vivem bem assim? — Senhora observou a casa. — Olhem para este lugar, podemos lhe dar algo muito melhor.
— Financeiramente sim, mas nada paga o amor, união, harmonia e respeito que temos um pelo outro aqui nesta casa. — disse, desviando seu olhar de mim para meu pai — E é por isso que eu quero ficar. E se vocês realmente desejam se reconciliar conosco, aceitem a minha nova vida.
— Mas…
— Deixei o garoto viver a vida dele. — Senhor disse a esposa, que levou a mão na altura do coração. Ele se aproximou do filho com os olhos brilhantes e segurando o rosto dele com carinho, disse: — Você só me enche de orgulho.
— Obrigado. — não conteve suas lágrimas e abraçou o pai.
— Você — senhora apontou para mim — Enfeitiçou o meu filho com suas mandingas e o afastou dos seus próprios pais.
— Senhora, serei obrigado a te pedir que se retire da minha casa. — Meu pai disse furioso.
— Eu peço perdão pela minha esposa. — Senhor pediu, um tanto envergonhado.
— Não irei tolerar ofensas e desrespeito para com a minha filha, não mais. — Meu pai disse firme, fazendo a senhora suspirar.
— Eu também não — disse, surpreendendo a sua mãe — agora é a minha esposa, e a senhora deve respeitá-la como tal. Aliás, a respeite como o ser humano incrível que ela é.
— A verdade é que eu me sinto frustrada por ter me tornado uma mulher tão desprezível e imprestável. — Ela confessou amargurada.
— Oh mãe, não comece. — parecia impaciente.
— Deixe que ela desabafe. — Eu disse, o olhando e ele assentiu, dando de ombros.
— Eu sempre ouvi dos meus pais o quão ruim devia ser a vida das pessoas de sua cor, menina. Eu realmente cresci acreditando que uma vida digna era somente a que nós levávamos. — Ela afrouxou o seu cachecol marrom e continuou: — Mas desde que eu vi aquela pintura que você mesma, delicadamente fez, para mim e meu marido em comemoração ao nosso aniversário de casamento, juntamente com a qualidade e desenho impecável das margens do objeto feito pelo seu pai, pude perceber o quão talentosos vocês também são. E eu me refiro a todos os seus antepassados e pessoas comuns na atualidade. Passei a frequentar lugares populares, exposições enaltecendo a cultura racial, entre outros ambientes que antes eu jamais iria, e percebi o quanto o meu julgamento era pesado e cruel para com todos vocês.
— Senhora…
— Por favor, me deixe terminar, eu preciso dizer tudo — ela pediu, interrompendo meu pai. — Eu não culpo os meus pais por terem me ensinado dessa forma, pois eu fui crescendo e tomando consciência de que agir assim era errado, mas escolhi manter esses pensamentos errôneos e preconceituosos. Eu escolhi me afastar de pessoas como eu, que são tão diferentes, mas ao mesmo tempo tão iguais. — Ela se levantou do sofá e me olhou nos olhos, tocando em minha face — Eu jamais faria isso antes, sem que limpasse a minha mão, imediatamente. — Ela disse, se referindo ao seu gesto. — Mas, o que você tem de tão ruim que poderia passar a mim? Absolutamente nada. Eu não consigo enxergar nada além de gentileza e bondade. — Minhas lágrimas caíram, involuntariamente, mesmo eu tentando manter a firmeza no olhar. — Eu não espero que você me perdoe por tudo que já te disse e fiz, nenhuma mudança é tão repentina, e eu entendo que você não acredite em mim. Mas eu me sinto profundamente arrependida pela forma como tratei você, não só por ser a moça que faz o meu filho mais feliz todos os dias, como meu marido me contava, quando chegava em casa com notícias dele. Mas por você ser um ser humano e independente de como é, eu te devia respeito e nunca lhe dei isso. — Ela pousou sua mão na altura do meu peito — Eu não faço ideia do quanto esse coração deve ter sofrido, principalmente por minha causa, mas lhe peço que o limpe de toda mágoa, por mais difícil que seja para você liberar o perdão. Eu preciso que você me dê uma nova chance. — Eu suspirei alto. — Mas você está disposta a isso? Acha que eu mereço o seu perdão?
— Antes da minha mãe falecer, ela sempre me disse que o perdão faz bem a alma. — Senhora assentiu fielmente — Eu a perdoo não só porque a senhora me pediu isso, mas para eu mesma ter paz de espírito. Antes mesmo de me pedir, eu já havia a perdoado. — Eu disse entre lágrimas, mas com firmeza na voz. — Sei que a senhora se sente frustrada por ser uma mulher tão fina, e no entanto, tão pobre de espírito, enquanto vê que com tão pouco nós aqui somos felizes. — Ela respirou fundo, abaixando o seu olhar. — Mas eu realmente acredito que todo ser humano merece uma nova chance, e eu nunca me cansarei de perdoar, independente de quantas vezes for necessária. Eu quero ter a minha consciência tranquila e a paz interior que eu sempre busco, por isso sim, eu a perdoo. — Ela levantou o seu olhar, incrédula e eu engoli o choro. — A senhora terá sim uma nova chance de ser alguém melhor daqui para frente, ainda mais agora que será avó.
— O quê? — Meu pai, senhor e senhora disseram em uma só voz.
— É isso mesmo, estamos grávidos. — disse, se aproximando de mim e alisando a minha barriga.
— E-e-eu não acredito. — Meu pai disse, de olhos arregalados. — Seremos avós.
— Sim, teremos um netinho. — Senhor disse sorridente, abraçando o meu pai.
— Na verdade, vocês terão dois netinhos. — Olhei para , sorrindo — Estamos esperando por gêmeos.
— Ah meu Deus! — Senhora pôs a mão no peito e precisou ser amparada por . — Eu não tenho palavras para expressar o que estou sentindo agora, meu filho. — Ela disse o olhando com carinho e não hesitando em deixar as lágrimas rolarem — Eu sempre quis tanto ter um netinho, e agora terei dois.
— É realmente uma benção. — Meu pai disse sorrindo para mim e eu segurei em sua mão. — Que notícia maravilhosa, minha filha. Que felicidade!

Cinco meses depois, eu estava assistindo o segundo tempo de aula, quando eu comecei a sentir algumas pontadas fracas nas costas, junto com um desconforto, que começou a se intensificar com certa velocidade. Me remexi na cadeira por algumas vezes, acreditando que seria pela má posição, já que estava quase no final da gestação e aquele ambiente escolar não era nada confortável.
— professora Lyndie parou sua explicação e me olhou preocupada — Está sentindo algo?
— Eu acho que é só o desconforto da cadeira e… Ai! — Soltei um breve gemido ao sentir uma pressão abdominal mais forte. — Acho que são os bebês se mexendo.
— Professora, ela só não aguentou esperar até chegar ao banheiro. — Um dos engraçadinhos da turma disse, tentando fazer piada da situação, enquanto apontava para as minhas pernas.
— Não, a bolsa dela estourou. — Professora Lyndie disse, se aproximando de mim e eu olhei para abaixo da minha barriga, vendo o líquido escorrendo. — Cindy, vá chamar , imediatamente.
— Eu não entendo, não está no tempo ainda — eu disse preocupada — Eu não estou sentindo dores, isso é normal?
— Calma, não pense nisso agora. Respire fundo e aguente firme, você logo será levada ao hospital. — A professora segurou em minha mão e ficou me mostrando como eu deveria inspirar pelo nariz e expirar pela boca.
adentrou a sala como um louco e veio em minha direção — Como está se sentindo?
— Eu não sei explicar, é estranho. — Ele olhou para a professora, sem saber o que fazer.
— Ligue para os seus pais e a leve ao hospital, agora! — Professora Lyndie disse um tanto nervosa e a obedeceu.

Em poucos minutos, eu já estava sendo levada ao hospital, mas continuava sentindo a sensação estranha de não ter dor, apenas sentia pressão, como se o bebê já estivesse saindo. Não conseguia fazer nada além de apertar a mão de e chorar de apavoramento.
— Filha — vi meu pai já no hospital, enquanto me colocavam na cadeira de rodas — Vai dar tudo certo, confie. — Eu assenti, tentando lembrar da respiração que professora Lyndie me pediu para fazer.
— Com licença, mas precisamos levá-la à sala de pré-parto e eu preciso de algum de vocês para me acompanhar com ela. — Uma das enfermeiras disse, me levando para a maca.
— Vá logo, meu filho. — Senhor disse a , que acompanhou a enfermeira.

Depois de um tempo já na sala e sendo examinada, continuava me sentindo assustada, mesmo na companhia de meu marido.
— Está sentindo contrações com pausas de quantos minutos?
— Eu não estou sentindo contrações. Digo, eu não sei bem o que estou sentindo. — Respondi confusa e estranhando o lugar. — Não sinto dores terríveis, apenas um desconforto inexplicável.
— Certo, deixa eu medir a sua pressão sanguínea — suspirei alto, odiava ter aquele aparelho apertando o meu braço — Está normal.
— Moça, por que isso está acontecendo agora? Eu fiz oito meses no começo da semana. — Eu disse apavorada e chorando.
— Se acalme, por favor, não é bom que você fique nervosa. — Eu assenti temerosa — É comum em alguns casos que o parto gemelar seja antecipado.
— Mas por que?
— Os seus bebês são grandes e estão sem espaço dentro do seu útero. — A obstetra disse, depois de avaliar os exames — Mas eles estão bem, apenas tem pressa em conhecer a mamãe e o papai. — Ela disse em um tom divertido, mas eu não conseguia controlar o nervosismo. — Deixa eu medir novamente o seu tanto de dilatação. — Ela arregalou os olhos e eu chorei mais forte, desesperada.
— O que está acontecendo?
— A cabeça do primeiro bebê já está coroando. — Ela disse, chamando o resto da equipe para começar o parto. O hospital era um dos melhores, foi pago pelos pais de , eles fizeram questão que os bebês e eu tivessem o melhor atendimento possível. — Fique tranquila e respire fundo, contando até dez, logo após faça força. — Eu assenti a obedecendo e olhei para , que me observava apreensivo. — Isso, você está indo muito bem! Mas preciso que você segure o ar por mais dez segundos e faça força.
Fiz força por mais uma vez até que o primeiro bebê foi saindo, me fazendo sentir uma pressão muito grande na parte abdominal e principalmente na região mais baixa. Ouvi um espirro e logo após, o seu chorinho forte, e eu sorri entre lágrimas, olhando para , que admirava o nosso bebê, emocionado.
— Olha como esse menino é forte e atrevido, veio quase que sem a ajuda da mamãe. Lindo! — A obstetra disse, enquanto uma das enfermeiras me trazia , o pousou sobre o meu peito e eu o olhei percebendo os seus olhinhos já abertos, se fechando a cada chorinho mais forte que ele dava. Chorei sem conter as lágrimas ao ver um ser tão pequeno e frágil, que acabara de sair de dentro de mim.
— Oh meu Deus, meu menininho — eu disse incrédula por vê-lo ali, tão perto de mim e fora da minha barriga. — Eu te amo tanto, meu amor.
— Ele se parece comigo. — disse orgulhoso e eu ri de sua expressão, já estava babando pelo filho — E chora tanto quanto você. — Disse rindo um pouco alto, enquanto chorava tão forte que estava nos deixando preocupados.
— Será que ele está sentindo dor? — Eu perguntei.
— Calma mamãe, é normal esse chorinho. — Uma das enfermeiras disse, levando para fazer um dos primeiros procedimentos.

— Agora continue respirando rápido em dez segundos e faça a força. — Assim eu fiz, mas a equipe médica parecia aflita, olhavam para o relógio e continuavam pedindo para eu fazer força. A obstetra forçou os braços sobre a minha barriga e por mais quatro vezes fiz força, até que finalmente a saiu.
Notei que a equipe a levou rapidamente e fizeram os primeiros procedimentos imediatamente, a obstetra tentava passar tranquilidade, terminando de retirar a minha placenta e eu olhei para , que estava visivelmente preocupado.
Eu não ouvia o choro da minha bebê, em momento algum, e isso me preocupava a cada segundo mais.
— Doutora, o que está acontecendo com a minha filha? — Perguntei chorosa, até que eu ouvi um chorinho baixo e melancólico.
— Que menina mais preguiçosa e charmosa, hein! Estava tão aconchegante na barriga da mamãe que nem quis sair, ora bolas. — A obstetra disse, me tranquilizando. Respirei aliviada, agradecendo a Deus por tudo ter dado certo e selou nossos lábios, quando uma das enfermeiras me trouxe .
— Oh minha filhinha, meu amor — eu disse sem conter o choro. Olhei para que mordia o lábio inferior, tentando segurar as lágrimas, mas sem sucesso. Vê-la chorando fraquinho e fazendo charme enchia o meu coração de gratidão e felicidade. — Eu te amo tanto.
— Ela se parece com você. — sussurrou, enquanto a enfermeira trouxe também.
— Eu acho que os dois são uma mistura nossa. — Eu o olhei, sorrindo.
— Uma mistura linda. — Ele beijou o topo da minha cabeça e eu suspirei, me sentindo completa. — Eu amo vocês.
— Não fiquem preocupados, os dois estão bem. nasceu mais rápido, parecia que já não aguentava mais esperar para sair e antes mesmo de chorar, ele espirrou. — A obstetra chefe nos disse divertida e eu ri um pouco. — Já nasceu dormindo, por isso eu precisei te ajudar a expeli-la. — Eu assenti, realmente aliviada. — Agora levaremos os dois para a UTI Neonatal para acompanharmos o desenvolvimento deles já fora do útero. A princípio eles estão bem sim, mas precisamos ser cautelosos.
— Eu entendo e agradeço muito por todo cuidado que vocês tiveram comigo e com meus bebês. — Eu disse sincera e agradecida.
— Sim, agradeço a você e a equipe pelo ótimo trabalho. Obrigado mesmo. — Vez de .
— Fazemos o nosso trabalho com muito amor e carinho, e desejamos uma boa recuperação a você e aos bebês.

Sessenta dias após o nascimento dos bebês, senhora estava fazendo a mamadeira deles. e meu pai estavam trabalhando duro para a construção de um móvel complexo, porém muito importante para um dos clientes, e que nos traria um lucro muito bem-vindo. Já senhor , viajava a trabalho e não pôde acompanhar a primeira semana dos netos em casa, mas todos os dias ligava e pedia por fotos de cada um deles. Eu dei uma breve pausa nos estudos, mas sempre tendo a ajuda de senhora , que demonstrava real arrependimento.

Eu segurava , o balançando de um lado para outro já que o mesmo se remexia com muita frequência, enquanto observava no berço, quietinha, chupando o dedinho.
Eles realmente estavam com fome, mas não demorou muito para a avó chegar com as mamadeiras.
— Estão no ponto — ela provou os leites e me entregou uma das mamadeiras, logo pegando no colo, a fazendo mamar. — está mesmo com fome.
— Sim — eu concordei, rindo um pouco do desespero dele em pegar o bico da mamadeira — Às vezes, me sinto mal por não produzir leite suficiente para os dois. Digo, eu não tenho leite nem mesmo para um deles.
— Oh , isso acontece muito, é normal. Eu mesma não tive leite para . — A olhei surpresa — Fiquei triste nos primeiros dias, mas depois eu fui me contentando e no fim, deu tudo certo.
— Senhora — eu chamei sua atenção e ela me olhou de relance — A senhora já notou que e é uma mistura minha com , não é mesmo?!
— Sim, é uma mistura linda de vocês dois. — Ela sorria, enquanto observava a neta mexendo as mãozinhas e a olhando de forma inocente — Apesar de se parecer mais com o e com você.
— Exatamente por isso, ela tem o tom de pele e a textura do cabelo mais parecidos com o meu, pois puxou essa parte minha. — Senhora me olhou, enquanto suspirava. — Não quero que ela passe pelas mesmas situações que eu passei.
— Ela não irá, eu não permitirei! — Respondeu com firmeza — Os meus netos são tudo em minha vida e eu jamais os trataria diferente pelo tom de pele deles, ou pelo cabelo diferente, ou por qualquer outra coisa. Eu já te disse o quanto me arrependo de ter te tratado mal, e não permitirei, de forma nenhuma, que façam o mesmo com eles. — Ela desviou o olhar de para , sorrindo — Eu os amo tanto, que nem consigo explicar esse sentimento, não quero que nada os magoe. E eu farei de tudo para que eles, além de serem respeitados como seres humanos, sejam notados.
— Então a senhora não se importa de ter netos, aparentemente, diferentes de vocês? — Perguntei, desviando o meu olhar de para ela.
— Não importa se eles são brancos, amarelos, pretos, azuis… Eu os amo da mesma forma, e assim será até o meu fim.




[Fim]



Nota da autora: Essa fanfic foi uma delícia de escrever, sério mesmo! E sobre o tema que abordei, brevemente, foi bem interessante e tornou a escrita mais especial para mim.
Eu amo demais o MJ e Black Or White é uma das minhas músicas favoritas dele, então a escrevi com todo amor e carinho e eu espero que vocês apreciem a leitura ao máximo.
A todos, BJoo ❤

E não se esqueçam: 70x7



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