Capítulo Único
Estou apenas te deixando ser você
Então não pense em
Sentar como uma foto
Quando nossos olhos se encontram
Tudo parece perfeito
Eu vou correr para você, agitado
Para que possamos cruzar caminhos
en·tal·pi·a
(en- + grego thálpos, -eos, -ous, calor + -ia)
substantivo feminino
[Física] Propriedade termodinâmica de um sistema, definida como a soma da sua energia interna mais o produto do seu volume pela pressão exterior (símbolo: H).
não conseguiu evitar o sorriso malicioso quando chegou, como sempre, atrasado em sua primeira aula de química do último ano do Ensino Médio. A segunda bancada do canto direito da sala era a única que havia um espaço vazio e, para completar sua maré de sorte logo no início do ano letivo, sua parceira de química inevitavelmente seria , a garota que há um ano vinha perseguindo seus pensamentos e colocando em cheque toda a reputação de conquistador que demorou anos a fio para construir. não fora a primeira garota a lhe dizer um não, porém foi sua rejeição marcou muito mais que as outras que acumulou em sua breve carreira de cafajeste. Com o olhar vazio e desinteressado, ela pronunciou sua indiferença como se fosse a coisa mais óbvia da face da terra, sem nem pena ou remorso. Qualquer outro sentimento não lhe transparecia e aquilo despertou a curiosidade máxima do rapaz desleixado e quase igualmente letárgico.
No segundo ano, passou a observar a garota nas poucas aulas que dividiam. Além de bonita, era um tanto arrogante e assustadoramente genial. Seu temperamento passivo-agressivo intimidava a maior parte dos caras da escola que, em sua maioria, estavam apenas interessados nos benefícios puramente sexuais das relações humanas. , entretanto, não se encaixava naquele padrão e parecia ser mais adepta aos relacionamentos que lhe trariam um pouco mais do que a satisfação do corpo, nem que fosse apenas uma boa conversa. Tinha poucos amigos, ele notou, mas era unicamente boa com todos eles e era respeitada pelos demais da turma, muito longe dos estereótipos das garotas nerds e tímidas.
- Senhor, , pode se sentar agora, se quiser. - a voz da professora o acordou de seus pensamentos e ele nem se deu conta que estava parado na porta da sala olhando fixamente para a cadeira vazia ao lado de . - Posso garantir que a senhorita não vai te morder, pelo menos não durante a minha aula.
- Uma pena, professora. - respondeu, arrancando risadas de toda a sala e um suspiro derrotado da discente que, no momento, questionava-se a respeito da profissão.
Ele caminhou pela sala como o dono do pedaço, sob olhares invejosos, desejosos, admirados e odiosos aos quais estava terrivelmente acostumado, nunca se importou de qualquer forma. Bastou puxar a cadeira ao lado de para receber dela um olhar enigmático como se estudasse todo o complexo ser humano que seria seu acompanhante pelo resto do ano naquela matéria. queria apostar que ela havia pensando algo como “deveria ter optado por química avançada” assim que percebeu a enrascada em que se meteu involuntariamente. Não que ela não soubesse lidar com caras como , mas o trabalho sempre não valia a pena.
- Sinto em lhe informar, , que não tenho o menor interesse em te morder ou qualquer coisa parecida. - ela diz assim que ele se ajeita e chega perto o suficiente para que sua voz baixa e controlada seja ouvida de forma clara, mas sem interferir na aula.
- Uma pena, pois estaria disponível para o serviço a qualquer momento. - o rapaz sussurrou com um sorriso de canto.
A garota apenas levantou uma de suas sobrancelhas antes de ignorá-lo e voltar sua atenção completamente para a aula. manteve o sorriso mesmo que sentisse um incômodo no fundo do estômago lhe dizendo que aquela atitude jamais passaria despercebida pelo seu coração. Aliás, muito traiçoeiro, já que não queria se acalmar de jeito nenhum com a presença da garota, seu cheiro irritantemente bom, a forma como escrevia e mexia nas pontas do cabelo… Seria um ano torturante para ele, considerando ainda que era péssimo em química. No entanto, sua personalidade positiva via aquela tortura como o único caminho para conseguir um pouco de ambrosia e seguir o caminho até o Olimpo.
- Hey, já que está tão concentrado em minhas anotações, por que não as copia? - ouviu pela segunda vez a voz da garota e por fim deu de ombros fingindo que estava interessado na matéria.
A estudante, por sua vez, observou-o de soslaio copiar de suas frases muito bem pensadas com rapidez e habilidade, reparou na letra bonita e suave que desenhava a linha do caderno simples ao lado e ficou surpresa. Daquele ângulo, poderia até ser um tanto atraente e intelectual, se forçasse um pouco a barra. Decidiu que era isso que teria de fazer durante o ano, forçar a barra, para não acabar perdendo a paciência com seu parceiro.
Naquela primeira aula de poucas palavras trocadas entre os dois, o conceito de entalpia se sobressaía com a lição da professora. O calor que estava presente em um sistema de troca de energias. Ninguém percebeu, mas a melhor metáfora estava ali mesmo dentro daquela sala e se tornou ligeiramente mais nítida nos dias subsequentes, quando o rapaz esbarrava com a garota no corredor e trocavam olhares suspeitos, espirituosos.
- Você realmente gosta de me ver pelos corredores, não é? - Certo dia, comentou quando se encostou no armário ao lado do dela olhando o mundo de pessoas caminhando nos corredores confusos da escola.
O rapaz a olhou e sorriu do jeito de sempre, meio de lado e enigmático como quem tem segundas intenções. , entretanto, era imune àquele tipo de abordagem e sua sinceridade não permitia que o deixasse em paz.
- Não que eu esteja te perseguindo, mas não posso dizer que não aprecio as coincidências. – Respondeu, virando seu corpo para ela, olhando-a fixamente no rosto.
- Para mim, essas coincidências ficaram um pouco mais frequentes depois que descobrimos ser parceiros durante as aulas de química. - cruzou os braços na altura do peito enquanto observava o risinho um tanto irônico que ele soltou.
- Talvez agora que vamos trabalhar juntos, você está reparando mais em mim e na minha presença nos corredores, . - o jeito que ele disse seu nome a fez arrepiar levemente, controlou sua garganta para que não engolisse seco e abriu um leve sorriso.
- Tem razão, talvez você não seja tão “reparável” como considera. – rebateu, encostando sua cabeça no armário de ferro.
- Uau, você é bem cruel… - fechou os olhos e não desmanchou o sorriso, se sentia mal pelo desdém da garota, mas jamais deixaria que isso fosse derrotá-lo. - A verdade é que não me considero “reparável”, mas já que usou esse adjetivo para se referir a mim, posso ficar lisonjeado.
- Não sou cruel, você é bom em palavras e por isso gosta de brincar com elas, devo pensar que com pessoas faz o mesmo? - ela brincou e arrancou uma risada um pouco mais descontraída do jovem. Viu-o passar a mão pelos fios castanhos escuros, bagunçando o cabelo já um tanto desalinhado. Pela primeira vez nos três anos de Ensino Médio, ela achou que aquele rapaz era sim tão sexy como as pessoas diziam.
- Você pode apenas me observar e tirar as próprias conclusões que quiser. - o sorriso de canto aumento nos lábios do rapaz. - Afinal, estará ao meu lado durante todo ano naquele laboratório chato.
E depois disso ele se descolou do armário abrindo-o e pegando um livro qualquer. nunca tinha notado que estavam tão perto. Escaninhos colados e ela nunca teve a pachorra de reparar de um modo um pouco mais profundo. Assistiu caminhar para longe sem falar mais nada, ela também não se atreveu. Estava intrigada demais em seus pensamentos para pensar em respostas inteligentes e assertivas para provocá-lo. No entanto, ela sentiu o calor que circulava entre os dois pela primeira vez. Algo diferente, como se as energias entrassem em sintonia ou apenas estivessem se bagunçando.
- O que foi isso?! - ela ouviu , também conhecida como sua melhor amiga, questionar. Os olhos arregalados e um sorriso malicioso inconfundível adornavam o belo rosto da garota.
- Isso o quê? - tentou disfarçar, mas falhou miseravelmente quando percebeu que ainda tinha o mesmo sorriso idiota que mostrou para o rapaz.
- Você sabe muito bem. Não sabia que tinha interesse em garotos como .
- E não tenho. - Ela respondeu rápida. - Pelo menos não por enquanto.
- E há chances de algo acontecer mais tarde? - A amiga perguntou, curiosa. Sua espontaneidade e jeito brincalhão sempre cativava as pessoas que quase sempre se viam obrigados a responder suas perguntas insistentes e ao mesmo tempo deliberadas.
- Talvez, ele é meu parceiro de química, afinal.
- Bom, se tem uma coisa que posso confirmar é que existe química entre vocês…
riu da própria piada sem graça e por mais que aquele humor besta revirasse o estômago de , não conseguia parar de pensar que aquilo poderia ser verdade. Ela não gostou de admitir, mas era necessário enxergar que em poucos dias o rapaz que até então passava-se despercebido aos seus olhos, tornou-se centro de sua atenção de um modo peculiar. A garota ainda não conseguia entender a onda de calor que borbulhava dentro de si, mas estava ansiosa para saber onde todas aquelas reações iriam dar.
Não há ganho nenhum
Na distância que põem entre a gente
E em todas as suas defesas
Afinidade química
Essa propriedade diz respeito à capacidade que uma substância tem de reagir com a outra, pois mesmo se duas ou mais substâncias forem colocadas em contato, mas não houver afinidade entre elas, não ocorrerá a reação. Nesse aspecto ainda há outra questão, o fato de que quanto maior a afinidade entre as substâncias, maior será a velocidade da reação.
jamais iria confessar, mas estava adorando ter como seu parceiro de química. No final das contas, o rapaz provou ser o contrário de tudo o que ela achou que ele seria. Mesmo sendo considerada inteligente, a menina não se importava de errar e alguns equívocos sempre traziam boas coisas a sua vida. Ver o rapaz de jaleco branco murmurar palavrões enquanto tentava entender a tarefa da vez era uma delas. A genuinidade em sua confusão com a química divertia a garota mais do que ela gostaria e além do mais ele era engraçado e brutalmente sincero com todos. Claro, seu jeito maroto e conquistador ainda se fazia marca registrada em suas expressões e diálogos, entretanto, a jovem aprendeu a apreciar sua personalidade única com a convivência de pouco mais de três meses.
- Nessa reação você precisa de um catalisador! - disse de maneira divertida enquanto observava a expressão irritada e confusão do parceiro.
- E eu vou lá saber o que é isso?! - Ele resmungou baixo olhando a bancada repleta de elementos aos quais ele nunca ouviu falar. Química só podia ser uma arte mágica maligna.
- É algo que você coloca para acelerar a reação. - Ela explicou pacientemente enquanto pegava um dos frascos e adicionava a mistura.
Claro, ela obteve sucesso em seu experimento e apenas conseguia observar admirado a leveza com que ela tratava as várias quinquilharias líquidas e sólidas dispostas em sua frente. De repente, de arte das trevas, aquilo parecia realmente ciência ou até mesmo a receita mágica de uma fada. carregava um sorriso leve nos lábios enquanto cumpria os comandos da aula e explicava para ele cada uma de suas ações. Não que compreendesse alguma coisa do que ela dizia, apenas gostava de ouvi-la falar. Com aquele tempo de parceria, já não lhe era novidade que aquela era a disciplina favorita da jovem e a provável carreira que seguiria, certamente, brilhantemente. Por algum tempo, o rapaz invejou o potencial da garota e seu futuro que já parecia estar traçado de sucesso enquanto ele era o adolescente desviado cujo único talento real era na música.
ainda não sabia disso.
- Você ouviu alguma coisa do que eu falei? - Ele despertou com o tom desconfiado e um tanto bravo da menina.
- Ouvi, apenas não registrei nada. - A moça revirou os olhos e soltou um suspiro. Não havia nada a ser feito de qualquer forma então apenas deu de ombros.
- Tudo bem, você escapa dessa vez, mas algum dia terá que aprender isso!
- Se você insistir em me ensinar, farei todo o esforço possível.
Ele abriu aquele sorriso de canto que já começava a gelar a pele de . Há algumas semanas sentia que estava perdendo sua pose de garota inalcançável e se rendendo às estranhas reações que seu corpo tinha frente a . Ela gostava de se comparar como um elemento químico que tinha uma estranha afinidade com o rapaz. O problema era que aquela afinidade levaria a reações e relações problemáticas. Entretanto, não conseguia fugir, a necessidade de ficar perto, conhecê-lo melhor, aumentava a cada aula de química, a cada encontro no corredor e a cada despedida informal na saída da escola. já achava que estava caidinha pelo garoto meio desleixado e tão diferente dos padrões que todos atribuíam à moça. Talvez apenas sua amiga soubesse que, de fato, se atraía por seus opostos e brincava que a garota levava as leis químicas longe demais.
- Vou pensar no seu caso. - Ela sorriu de canto, um pouco travessa, algo que estava aprendendo com ele. Gostava de provocá-lo na mesma proporção que se sentia provocada e, recentemente, via que aquilo surtia efeito do jovem.
percebia seu olhar escurecer e sua garganta engolir seco, os músculos do pescoço se tensionando levemente enquanto a vermelhidão subia até a ponta das orelhas. No final, ele sempre ria e a garota não sabia distinguir se era por constrangimento ou encanto. Limitava-se a retribuir a risada controlando as borboletas em sua barriga. Não que já não se sentisse assim antes, mas dava um jeito de fazê-la se sentir ainda melhor consigo mesma. pensou que aquilo era o que todo homem deveria fazer.
Provavelmente aquela era a primeira vez que via fora do ambiente escolar. Ela voltava de sua livraria favorita e ia em direção a algum lugar que pudesse lhe servir um bom café e um bolo, quase lhe passou despercebida a figura desleixada e atraente do rapaz que vinha caminhando em sua direção. Um violão encapado pendurado nas costas, calças pretas rasgadas, camiseta vermelha e o sorriso de sempre no rosto. Ela parou quando o reconheceu e parecia que o rapaz tinha a avistado de longe.
- Olha só quem sai durante os finais de semana! - Ele brincou assim que chegou perto o suficiente da garota.
- Você realmente me vê como uma eremita não é mesmo? - Ela retruca tentando ficar séria e cruzando os braços da altura do peito, sua expressão suave, entretanto, entrega o bom humor ao vê-lo.
- Talvez… Está indo ou voltando de algum lugar? - questiona despretensioso, mas em seu peito, sentia seu coração dar pequenos pulinhos em nervosismo. Ela não percebeu, mas ele segurou com um pouco mais de força a alça do violão.
- Voltando da livraria e indo a um café. - Ela disse e ele apenas assentiu com a cabeça. não pensou muito e sequer esperou o rapaz tomar ar para comentar algo. - Gostaria de ir comigo?
Um breve silêncio pairou no ar e teve que se concentrar muito para voltar ao seu estado mental normal.
- Está me chamando para um encontro, ? - A garota não conseguiu disfarçar seu desconforto, denunciado pela vermelhidão das bochechas e a leve gagueira.
- N-não é bem isso! Um encontro de amigos!
- Somos amigos agora, é? - O rapaz quis perturbá-la, mas não negou a pontada de tristeza que sentiu no meio do estômago.
- Ora… Somos, não somos? - A moça olhou confusa e suspirou e sorriu.
- Claro que somos. - Ele disse abraçando-a pelos ombros, o contato repentino quase a fez pular e ele riu afrouxando o abraço, mas não desfez o contato. - Por isso vou te levar a um lugar que vai amar!
duvidou das palavras do então amigo e mais uma vez foi surpreendida pelos gostos singulares e agradáveis do rapaz. Andaram pouco mais de 10 minutos até chegarem a uma loja pequena, o ambiente era tranquilo e tinha um ar retrô, o tema não poderia ser melhor, filmes dos anos 80. Cartazes por todos os lados, mesas como nos filmes que amava. Ela quase implorou para que se sentassem perto do pôster de “De Volta para o Futuro”.
- Não sabia que gostava tanto de filmes antigos! - comentou rindo da euforia da garota que olhava de um lado para o outro como se estivesse em um paraíso.
- Está brincando?! Eu simplesmente amo! Principalmente os da década de 80. A cultura pop é incrível!
- Bom, então deixe-me fazer um questionamento importante. - O rapaz disse com uma seriedade assustadora. A garota se posicionou melhor na cadeira e aguçou os ouvidos. - Clube dos Cinco ou Curtindo a Vida Adoidado?
- Clube dos Cinco! - A moça não demorou para responder, sorrindo largamente ao se lembrar de um de seus filmes favoritos com temática adolescente.
- Ok, , nós não podemos mais ser amigos. - cruzou os braços e balançou a cabeça negativamente. - Não consigo confiar em quem não coloca “Curtindo a Vida Adoidado” como o melhor filme do mundo.
- Céus, ! - A garota riu gostosamente e não demorou para que ele sorriso ao observar o riso espontâneo de .
A conversa fluiu tão naturalmente que nem viram o tempo passar. Entre cafés diferentes, bolos e tortas, a tarde correu como um relâmpago e sentiu algo que não era familiar há muito tempo. A sensação intensa de se conectar a outra pessoa, de compartilhar gostos, sentimentos, percepções, filosofias. era tão mais do que o garoto problemático que se sentava no fundo da sala e sem que notasse, a jovem já estava com a expressão abobalhada no rosto das pessoas que estão prestes a se apaixonar. Havia afinidade demais entre os elementos, ela pensou e ela teve medo das reações que poderiam sair dali.
Por enquanto, estava satisfeita com a amizade e a descoberta das coisas em comum, mas, no fundo, sabia que a data para que aquela reação liberasse todo seu calor não podia estar tão longe.
- Está tarde, tenho que voltar para casa… Meus pais devem estar se perguntando por que estou demorando tanto. - comentou ao checar o celular, uma mensagem da mãe logo brotou na tela do aparelho.
- Eu te levo. - disse e logo foi se levantando sem deixar ela questionar muito.
Dividiram a conta e saíram rua a fora. não morava longe dali, era relativamente perto da escola que frequentavam e a rua principal era repleta de locais interessantes para se visitar. Muitos deles que a garota não conhecia, como a própria cafeteria temática. A maior parte do caminho foi em silêncio, a confortável falta de diálogo que só a cumplicidade e a confiança podem gerar entre duas pessoas.
- Não sabia que era músico, sequer perguntei sobre esse violão... - ela foi a primeira a cortar o silêncio depois de cinco minutos de caminhada, eles pararam brevemente e ela levou os dedos a capa do instrumento.
- Não sei se levo jeito para a coisa… - ele disse recomeçando a andar, indicava o caminho, mas queria andar um pouco mais devagar, apenas para aproveitar um pouco mais daquela companhia. - Mas gosto do violão, de cantar… Queria me dedicar mais a música.
- E por que não pode? Não seria bom se fosse a uma faculdade especializada.
- Seria perfeito. - confessou e só então percebeu que o sorriso que habitava seus lábios era triste. - Mas não tenho tanto apoio dos meus pais, eles acham que é só um hobbie e que deveria seguir uma carreira mais promissora.
- Bom… Se quer saber, para mim, a carreira promissora de alguém é aquela que ela escolheu fazer por amor. - atraiu o olhar do rapaz como um imã. - Se você realmente ama a música, deveria convencê-los de que terá sucesso.
sorriu de um jeito terno e virou-se para ficar de frente à garota, seus olhos grandes e reluzentes lhe davam um pouco de esperança, talvez o suficiente para tentar um pouquinho mais e não desistir. Agradecido pelas palavras carinhosas, ele ergueu uma das mãos para tocar o seu rosto. era absolutamente incrível. Sentiu a garota ficar tensa por alguns segundos, mas não removeu a mão de sua bochecha.
- Obrigado, você tem o coração bom demais para um mundo como esses.
O rapaz praticamente sussurrou e removeu a mão rapidamente da pele da garota, que havia ficado quente demais.
- Vamos andando antes que seus pais descubram que se atrasou por causa de um desajustado.
não riu da piada que tentou fazer. Estava mais preocupada com o olhar triste e sem esperança que viu há alguns minutos. As trivialidades que conversaram no caminho não afastaram os questionamentos que a menina fazia enquanto observava o garoto caminhar ao seu lado. A silhueta despreocupada, o sorriso fácil e sempre sedutor, admirava a facilidade com que ele transparecia sensualidade e carisma, mas o que mais a intrigava ainda eram os segredos obscuros que poderiam estar guardados ali.
- Você alguma vez pensou que estaria andando e conversando amigavelmente com um cara que rejeitou há um ano? - Ele perguntou pegando-a de surpresa. Estavam já na esquina de sua casa.
- Do que está falando, ?
- Daquela vez na festa do segundo ano em que me aproximar de você e fui brutalmente rejeitado.
Oh! Ela se lembrava levemente daquilo, uma pontada de arrependimento atingiu em cheio seu coração. A garota olhou para o chão tentando esconder o constrangimento já exposto em seu rosto. Mordeu o lábio inferior e antes que pudesse falar algo, escutou a risada de .
- Desculpe, é um assunto idiota.
Infelizmente ou não para , eles praticamente já haviam chegado em sua casa. A garota preferiu ignorar o assunto a passar por outro momento de vergonha extrema e acabar revelando um pouco mais de seu lado meio patético de menina apaixonada arrependida e que, agora, considerava-se uma imbecil.
- É ali. - Ela apontou para a casa simples no meio do quarteirão. - Acho que agora estou segura, apesar de ter apreciado a escolta.
- Sou um bom segurança. - respondeu rindo.
O silêncio pairou por alguns breves segundos até pegar a mão da garota e levá-la até seus lábios, beijando a pele com suavidade. A menina riu sem tentar ignorar o rubor das bochechas e da nuca.
- Foi um prazer, milady. - Ele brincou pela última vez antes de soltá-la e permitir que a garota se afaste com uma pequena reverência e um acenar tímido.
Ela não viu o sorriso terno que habitava os lábios do rapaz, e nem o suspiro até um pouco doloroso que escapou dos seus lábios enquanto observava caminhar rapidamente até sua casa. A jovem viu apenas quando ele acenou se despedindo assim que chegou em seu portão, mas daquela distância era impossível ela ouvir o sussurrar de .
“Acho que eu gosto mesmo de você, ”
Naquela noite, o vento não carregou as palavras, mantendo-as para si e dissipando-as no ar.
Quando eu sigo seu movimento
E apenas quando nos aproximamos, querida
Você começa a perder o foco
Quanto mais abrasivos ficamos, eu sei com certeza
Que a única coisa que queremos agora
É sentir um ao outro um pouco mais, sim
Reações Exotérmicas
É uma reação química cuja energia total (entalpia) dos seus produtos é menor que a de seus reagentes.
Isso significa que ela libera energia, na forma de calor.
É uma reação química cuja energia total (entalpia) dos seus produtos é menor que a de seus reagentes.
Isso significa que ela libera energia, na forma de calor.
o viu de longe no corredor, escorado no escaninho com os fones de ouvido, a pose sempre desleixada e os olhos pregados no celular. A garota nunca pensou que a visão daquele rapaz iria lhe causar tantos sentimentos ao mesmo tempo e vinha refletindo isso desde a noite em que ele a levou em casa, há quase dois meses. Lembrou-se do tal dia da rejeição que ele havia referido o que também a fez lembrar os motivos de proferir o “não” mais seco e sincero de sua vida. Até então, não gostava de , não o conhecia, e tudo o que via naquele jeito despojado e despreocupado era sua fama de mulherengo e então ela lutou para não cair na lábia de seus encantos.
Desde o início do ano, porém aquela imagem havia mudado completamente, da água para o vinho e descobriu que por trás daquela figura de conquistador, habitava um rapaz sensível, meio desajeitado, inteligente e terrivelmente eloquente.
- O que está fazendo parada no corredor, doida? - Ouviu a voz de e deu um sobressalto assustado arrancando risadas da melhor amiga.
- Nada! Apenas pensando… - A jovem até tentou consertar sua postura e cessar seus devaneios, desde que se descobriu apaixonada por , vinha passando por situações vergonhosas com mais frequência.
Opa. Ela realmente usou a palavra apaixonada.
Céus! Queria explodir nesse exato momento.
- Pensando em quê… Ah, esquece! Já vi, ele está parado do lado do seu armário, amiga… - disse olhando diretamente para o rapaz que quase passava despercebido encostando em um dos cantos do corredor. Talvez sentiu a pressão dos olhares e finalmente ergueu o rosto em direção as duas garotas. Assim que viu , sorriu brilhante, como se a menina fosse o único ponto seguro em toda a sua volta. - Uau, acho que você já pode parar de pensar e ir falar com ele antes que aquele olhar te devore.
- Cala a boca, . - respondeu, envergonhada, mas não pestanejou em seguir o conselho.
Ignorando a amiga, ela caminhou até o garoto, o andar compassado e forte, a expressão se suavizou à medida que se aproximou do jovem que já havia tirado as costas do armário para recebê-la de frente. Nem esperou que ela dizer algo e passou um dos braços pelo seu ombro.
- Hey, ! - A animação dele era estranha e um pouco irritante considerando o horário tão cedo, mas decidiu ignorar, estava mais preocupada com o toque tão íntimo e ao mesmo tempo casual que se fazia presente. - Estava te esperando, queria lhe fazer um convite.
- Que tipo de convite, ? - Ela arqueou uma das sobrancelhas enquanto os lábios se puxavam para o canto esquerdo da boca, o rapaz titubeou brevemente antes de se concentrar no que tinha que dizer e não naqueles lábios absurdamente convidativos.
- Infelizmente, não é do tipo que está pensando agora… - ele retrucou no mesmo tom sedutor que ela usara. - É para uma festa com alguns amigos que tenho fora daqui. Não é nada do que você pode pensar, é tranquilo, poucas pessoas, sem muito barulho…
- Eu não pensei em nada ainda! - riu do comportamento do amigo. - Mas confesso que me interessei, quero saber que tipos de festa o grande frequenta!
- Muito grato pelo seu reconhecimento. - Ele comentou e ela revirou os olhos.
Antes que pudessem continuar o diálogo, foi impossível para os dois não escutar os comentários baixos que os circundava. sempre se surpreendia como ele conseguia fazer com que o mundo desaparecesse durante suas conversas e interações, mas, naquele momento, o mundo apareceu para os dois e quase instantaneamente a ficha caiu de que esse mesmo mundo era cruel.
“Olha lá, não é que o conseguiu mesmo pegar a menina mais difícil do colégio”
“Aposto que ela é péssima de cama, ele está ali só pelo desafio”
“Porque alguém tão bonita e inteligente como ela está saindo com um desajustado?”
“Ela é boa demais para ele, devem ser só amigos, ou talvez esteja enganando com uma amizade só para dormir com ela”
A chuva de comentários caiu como uma bigorna esmagadora e o primeiro instinto do rapaz foi retirar as mãos dos ombros da garota, afastando-se quase três passos. Era como se ele tivesse uma doença infecciosa e a possibilidade de contaminá-la lhe apavorava e arrepiava todos os fios de cabelo. O silêncio entre os dois se tornou estarrecedor, pesado e quase insuportável. abaixou a cabeça envergonhada e não sabia o que dizer.
- Hey… - ele foi o primeiro a tentar. - Você sabe que todas essas coisas são mentira, não é?
- Sim, eu sei. - Ela demorou dois segundos para responder e a voz trêmula fez o coração do jovem rapaz parar em decepção. Ele soltou um suspiro e abriu um sorriso triste.
- Que bom… E… Não precisa ir na festa se não quiser, eu só…
- Eu vou! - quase gritou. Percebendo a hesitação e frustração no rosto de , ela se sentiu culpada pela confusão que aqueles comentários causaram em sua cabeça. Por mais que sua natureza desconfiada gritasse para fugir daquele homem, ela não queria. Na verdade, desejava profundamente provar que todos estavam errados sobre ele, que não era só o malandro desleixado da escola. Isso incluía a si mesma. - Me mande todos os detalhes, eu estarei lá.
Ela disse com a convicção que ele precisava para se sentir um pouco melhor, então abriu um sorriso terno e sincero.
- Obrigado.
Ele sussurrou, mas ouviu claramente. E não era um simples agradecimento por aceitar sua proposta, mas pelo voto de confiança, pela cumplicidade e pela confirmação da amizade, mesmo que turbulenta, que os dois haviam estabelecido ao longo dos últimos meses. A garota sorriu enquanto o via se virar de costas e andar pelo corredor. Qualquer um ali facilmente perceberia que estava completamente apaixonada por , bastasse olhar em sua cara.
Pela primeira vez, ela não se importou.
estava nervosa, as mãos suavam levemente quando tocou a campainha da casa grande e bonita em um bairro que nunca foi na vida. Podia ouvir música dentro do lugar, mas era algo diferente do que esperava. Nada de batidas, canções pop ou falação. Apenas melodias tranquilas e vozes harmoniosas saíam do lugar, como se estivesse em um ensaio de banda indie. Durante os poucos segundos que se distraiu com a música, a porta se abriu revelando um dos homens mais belos que já viu na vida. Ela se sobressaltou, assustada com a rapidez com que foi recebida e ainda mais receosa por dar de cara com um lindo estranho logo nos primeiros momentos da noite.
sentiu vontade de praguejar por toda eternidade já que a sua péssima melhor amiga havia recusado acompanhá-la naquela aventura completamente impensável há poucos meses.
- Oi! Você deve ser a convidada do . - Ele disse e arqueou uma das sobrancelhas e sorriu com o apelido que escutou.
- Sim! Muito prazer, sou . - Ela se apresentou ainda tímida, mas a educação do jovem a sua frente passava-lhe confiança, por isso abriu seu melhor sorriso.
- Pode ter certeza que o prazer é todo meu. - O rapaz respondeu com descontração e uma dose de malícia, não passou despercebido à garota o olhar que percorreu todo o seu corpo por breves segundos. - Meu nome é , entre, seja bem-vinda!
Ela apenas assentiu sorrindo ainda mais e andando pela passagem que o rapaz abrira ao se afastar ligeiramente da porta. Seus olhos vagaram pela sala vazia e estranharam o lugar vazio demais. Ouviu o som leve da risada do rapaz e logo encarou seu sorriso que parecia naturalmente travesso.
- Ele não te falou nada, não é?
- E tinha que dizer algo?
- Bom… Não necessariamente, mas acho que a sua surpresa vai ser para melhor. - O belo rapaz disse enquanto seguia atravessando a enorme sala.
preferiu não dizer nada e apenas acompanhou os passos calmos do rapaz, os olhos atentos à casa bonita e luxuosa. Atravessaram a cozinha e saíram no lado de trás do terreno, onde havia uma espécie de jardim gigantesco, milimetricamente ordenado e decorado com flores, plantas diversas e móveis confortáveis. Um pequeno caminho de pedra levava para o centro do lugar e, de longe, a menina reconheceu com um sorriso no rosto e uma lata de cerveja na mão, seu riso era tão genuíno que a hipnotizou por alguns instantes. Quase não reparou nas outras pessoas que estavam ali, mais três meninos e duas garotas. Todos pareciam ter pulado diretamente de alguma novela.
- Hey! ! Sua convidada chegou! - berrou e engoliu seco por alguns segundos. Sentindo as bochechas corarem enquanto todos os olhos se direcionaram para si, a jovem apenas focou em que se levantava, depositando a lata na mesa de centro e a olhava como se estivesse parado no altar, assistindo o desfilar de sua noiva.
- ! - Ele a pegou pela mão puxando-a para mais perto. - Que bom que veio.
Ele foi sincero e a garota se sentiu mais tranquila.
- Pessoal, essa é a , minha amiga que falei para vocês. - Ela foi apresentada e bombardeada de cumprimentos amistosos e simpáticos e apenas riu enquanto deixava a menina conhecer um pouco das pessoas ali. O rapaz estava feliz, unindo as pessoas que considerava mais importantes em sua vida.
- Você a olha como se fosse uma deusa. - comentou observando as garotas puxarem algum papo com .
- Ela é. - apenas respondeu dividindo um olhar de cumplicidade com o amigo que riu baixinho antes de se sentar.
A jovem sentiu o constrangimento voltar ligeiramente à medida que interagia com as outras pessoas dali, mas aquelas todos eram tão alegres, divertidos e acolhedores que era impossível não se soltar um pouco. nem percebeu que o tempo tinha passado e até então havia trocado poucas palavras com . Estava entretida na pequena roda, no violão que um dos meninos resolveu tocar e nas canções que eles dividiam em cantar. Somente quando foi a vez do amigo se mostrar que voltou sua atenção completamente a ele.
Seus olhos se arregalaram levemente quando viu o garoto colocar o violão no colo, as notas saíram simples, harmônicas, gostosas, e sua voz a encantou desde o primeiro momento. Parecia que a garota estava sendo transportada para outro mundo onde tudo o que conseguia ver e ouvir era aquele rapaz que cantava de olhos fechados e serenidade no toque. Era como se ele fosse feito para a música.
- Uau. - Foi o que ela sussurrou quando terminou de ouvi-lo, ainda estática em seu pequeno mundo centralizado na figura deslumbrante de . se sentiu um pouco mais apaixonada.
- Ele é muito bom. - comentou com a garota que apenas assentiu. - É a primeira vez que o ouve?
- Sim… sempre manteve escondida de mim essas habilidades extraordinárias…
- Há quanto tempo eu não escuto alguém chamá-lo pelo nome! - riu e antes que ela pudesse perguntar, já responde a indagação muda de sua expressão curiosa. - Nós só os chamamos de por aqui, é um nome artístico. É o sonho dele seguir essa carreira…
- Conversamos sobre isso uma vez. - respondeu, lembrando-se da tarde que passaram juntos.
- Eu sei. - sorriu, a expressão maliciosa estava ali novamente. - E o que você disse a ele naquele dia o fez a ter um pouco mais de esperança nisso. Estava quase desistindo...
abriu a boca surpresa, mas as palavras não saíram. Gostaria tanto de saber mais sobre isso. Queria entender o motivo que levava a se esconder do mundo e cultivar seus talentos musicais de um jeito tão distante, mas ainda apaixonado. Ela ia perguntar mais sobre o assunto, mas foi impedida quando o próprio surgiu por detrás de suas costas.
- Posso sequestrar essa senhorita por alguns minutos? - Ele disse e ela se virou para olhá-lo
- Claro! Fique à vontade. - respondeu com uma piscadela que não entendeu bem, mas preferiu não pensar muito sobre. Viu o dono da casa se afastar para se juntar aos outros amigos e pela primeira vez na noite, ficou sozinha com .
- Achei que não teria tempo com você hoje. - Ele confessou sentando-se ao lado da moça.
- Seus amigos são muito atenciosos, não pensei que poderia ser tão bem relacionado. - Ela comentou rindo baixo e encarando o rapaz com um sorriso, seus olhos vagaram brevemente até a latinha de cerveja que ele carregava. Ofereceu a ela, mas a menina negou.
- Achou mesmo que você era a única pessoa decente com quem eu conseguia manter uma conversa?
- Até pouco tempo… Talvez. - respondeu com um sorriso.
riu e olhou para cima. O céu estava estrelado. Lindo. E a noite estava fresca, perfeita para praticamente tudo.
- Queria te mostrar um lugar. - Ele disse levantando-se repentinamente. Ela o olhou desconfiada.
- Não está me levando para nenhum lugar esquisito para que no final eu seja o sacrifício de uma seita satânica, certo? - cruzou os braços na altura do peito e fez cara de quem estava genuinamente preocupada.
- Como você é boba! - riu e estendeu sua mão a ela pela segunda vez na noite. A jovem pegou e se levantou apenas para ficar perigosamente perto do rapaz, o cheiro de álcool levemente a embriagando-a, como se a figura do rapaz por si só já não o fizesse. - Venha, tem um lugar incrível aqui, você vai gostar.
Novamente a menina apenas assentiu e se pôs a seguir o jovem. Não soltou sua mão e encarava sua nuca vermelha, suas costas belas e a pose despojada com o qual andava. Deixou-se ser guiada até algumas escadas. Subiram ao segundo andar e depois um terceiro, indo parar numa espécie de sótão com uma pequena varanda aberta e meio escura. Os olhas da menina brilharam mais um pouco ao notar como estavam perto do céu e como a paisagem dali era maravilhosa.
- Céus! Que lugar incrível! Como seu amigo consegue ter algo assim dentro de casa!?
- As coisas são mais fáceis quando se tem dinheiro, … - respondeu um tanto melancólico e a moça preferiu não dizer nada. Eles se sentaram um ao lado do outro, olhando para cima, cercados de estrelas e em um silêncio confortável.
- Você tem uma voz incrível. - Ela disse baixinho para não quebrar o clima pleno, o comentário pegou de surpresa e ele sentiu a nuca e as maçãs do rosto se esquentarem. - E canta com a alma. Nunca imaginei que escondesse tantas coisas de mim.
- Hey… Não é que eu escondi… Só não acho grande coisa, não sou um gênio da música como você é em química… - A última parte saiu dois tons mais baixo e ela mordeu o lábio voltando-se para a expressão perdida do homem.
- Você tem razão… - ela disse soltando um suspiro. Ele a encarou, assustado com sua prepotência, mas não bastou muito tempo para que percebesse que tinha a atitude contrária. - Você é muito diferente, é um amante da música, é algo muito maior… Um sonhador. Eu posso gostar e ser boa em química … Mas nunca vou tocar as pessoas como você consegue.
Seus olhares se encontraram por um breve momento e, pela primeira vez na vida, sentiu que havia alguém no mundo que o admirava, que o entendia ou estava disposto a fazê-lo. Era como se apesar de toda sua solidão natural, ter alguém tornava tudo diferente e a presença de se transformava em algo incrivelmente necessário. Ele soltou todo o ar que estava nos pulmões e se jogou ao chão, deitando-se com o braço cobrindo os olhos.
- Porque está tornando as coisas tão difíceis para mim, ? - Ela soltou em um suspiro um tanto desesperado e ela não entendeu o rumo da conversa.
- Do que está falando? - Ela o cutucou brevemente no braço e ele o abaixou ficando em silêncio por alguns segundos. Os olhos vidrados no rosto confuso da menina.
- De como tudo o que você faz ou fala já é perfeito e de repente você me surpreende e diz exatamente o que preciso ouvir. - Ele disparou enquanto olhava fixamente para os olhos dela. Sua imagem reluzia sob a luz das estrelas e da lâmpada baixa do sótão, conseguia ver cada traço do seu rosto perfeito e de sua expressão engraçada de perda total. - Está cada vez mais difícil não gostar de você, mais do que deveria, mas acho que é meio tarde demais.
Ele soltou e foi como se o mundo de inteiro caísse de uma vez. Seu rosto se avermelhou e as palmas das mãos se encharcaram com o nervosismo. O estômago dava cambalhotas com centenas de borboletas em seu interior, brincando de fazer náuseas e cócegas gostosas e incômodas em seu interior.
- Como assim, ? O que está dizendo? - Ela perguntou, séria e olhando fixamente para ele. Precisava saber.
- Estou dizendo que continuo me apaixonando por você todos os dias e não estou pronto para ser rejeitado de novo.
Segundos de silêncio se passaram até que a ficha caísse para a garota. já visualizava sua derrota quando ela soltou as palavras.
- E quem disse que vou te rejeitar?
Não houve tempo para que ele pensasse qualquer coisa para dizer e logo a garota veio com o corpo para cima do seu, sentando em seu colo sob a luz da lua e das estrelas refletidas em sua silhueta perfeitamente desenhada. Ele ergueu o tronco para alcançar o rosto da garota.
- Você não está brincando comigo, não é? - ergueu os olhos, ela estava tão perto. Podia sentir o hálito quente dela em seu nariz, a boca próxima, semiaberta.
- Bobo… - levantou as mãos para o rosto do rapaz, acariciando-o e mordendo o lábio em seguida. - Como eu poderia?
Era tudo o que ele precisava para, finalmente selar os lábios aos dela.
E um boom de energia foi liberado em forma de calor.
Para causar um impacto
Você sente isso se fechando sobre nós?
Eu quero que foquemos em sentir a mesma coisa
Nós nem podemos parar isso
Então vamos deixar tudo pelo amor
Equilíbrio Químico
Um equilíbrio químico é a situação em que a proporção entre os reagentes e produtos de uma reação química se mantém constante ao longo do tempo.
Um equilíbrio químico é a situação em que a proporção entre os reagentes e produtos de uma reação química se mantém constante ao longo do tempo.
Todas as vezes que pensava em “equilíbrio”, vinha o desejo de uma relação tão simples e balanceada quanto contas e cálculos exatos da química. Jamais havia imaginado que o equilíbrio químico podia vir de outros jeitos. Da troca de calor intensa, da liberação de energia, das reações perfeitas. E na verdade, desconhecia conceito químico que poderia contemplar parte do que sentia naquele momento. O corpo em chamas que ardia ainda mais sob o toque de , o arrepio que lhe percorria a espinha ao mesmo tempo. As sensações dos beijos, abraços, tato que se afundavam em sua pele e marcavam ligeiramente seu corpo.
Reações eram bagunça, de corpos, de elementos, de energia, de desejos engaiolados por muito tempo. Bem mais do que o necessário. E as ligações que se formavam vagarosamente, de uma hora para outra estabeleciam-se em força e na impossibilidade de se acabar.
No sótão da casa de um desconhecido, praticamente implorou para que lhe invadisse, que se ligasse, que se perdesse em seu corpo quantas vezes fossem necessárias até o famoso equilíbrio e o sentimento constante de que tudo estava no lugar. Se amaram pela primeira vez naquele lugar e deram-se por satisfeitos apenas quando já não era possível mais.
As energias se esvaíram. E ele tomou sua mão novamente para levar aos lábios e depositar um beijo singelo, mas que acabou selando a paixão que ainda pairava por ali.
não disse nada naquela noite, não porque não queria, mas porque sua voz fora gasta com outros trabalhos. Então, apenas foi capaz de proferir juras de amor cantadas que funcionou como o rito perfeito para a ninar. E quando acordou, no outro dia, não se assustou ou se intimidou ao se ver nua ao lado do rapaz a quem vinha admirando há tempos. Ela sorriu. Esquecendo-se da exatidão do mundo, da química, da física, da matemática e de tudo mais.
- Hey. - Ela sussurrou quando viu o rapaz abrir os olhos, o calor do sol havia substituído o corpo dela e já sentia falta.
- Hey. - Ele respondeu com um sorriso, admirando a face amassada do rapaz. - No que está pensando?
- Constantes de equilíbrio. - Ela mentiu e esperou a reação escandalosa do rapaz. Ele revirou os olhos e ergueu o corpo para encarar toda aquela beleza com os resquícios de sua coragem.
- E que merda é essa? Esperava que dessa vez você poderia estar dedicando a mim essas suas metáforas e caraminholas. - apenas riu, sem conseguir ignorar o rubor que subia pela pele dele e que, provavelmente, refletia-se na sua.
- Talvez tenha alguma relação com você sim, porque não pensa mais um pouco… - Quase não houve tempo dela terminar a frase e foi puxada para o colo do rapaz, ela perdeu o ar por alguns instantes sentindo seu corpo seminu em contato tão íntimo ao dela, como fizeram durante toda a noite.
- Você não vai fazer isso comigo. - Ele murmurou se aproximando mais, a boca escorregando pelo pescoço ainda com pequenas marcas, ela fechou os olhos e respirou fundo.
- Fazer o quê? - Ela perguntou.
- Esses seus jogos de palavras, eu não quero agora, eu só quero você… - ele disse contra sua pele. Alcançando devagar sua boca e beijando-a com paixão, como se segurasse toda sua vida em suas mãos.
- Acho que vai gostar de saber… - ela respondeu um pouco sem fôlego quando ele se afastou brevemente. - Saber que esse equilíbrio que pensei é totalmente sua culpa. Que você ateou fogo e manteve o calor, me manteve aquecida. Eu tenho certeza que gostaria de saber que estou me apaixonando por você um pouco mais a cada minuto. E isso é o meu equilíbrio.
Ele se calou um instante admirando a face avermelhada da garota, antes de abraçá-la fortemente, abriu um sorriso singelo, de canto, orgulhoso.
- Céus… Você é incrível… - ele sussurrou, os lábios roçando no pescoço da garota. O rapaz levantou o rosto alguns centímetros para encará-la com o sorriso maldoso. - E o que acontece se eu atear um pouco mais de calor?
revirou os olhos, mas nem tentou esconder o repuxar dos lábios.
- Bom… Vou ser obrigada a gastar essa energia.
Fim.
Extra
- Acho que agora eles pararam de uma vez. - ouviu um dos amigos dizer baixinho, o riso contido ecoou pelo quarto.
- Céus! Finalmente, estava louco para dormir e ter meus sonhos eróticos sem correr o risco de ouvir os gemidos de no plano de fundo. - suspirou e se ajeitou novamente na cama. Fechou os olhos deixando o corpo se soltar devagar. Ignorou as risadas dos amigos e apenas desejava a tão sonhada noite de sono.
Ahhnnnnnn
- PORRA, ?! DE NOVO? - protestou arrancando gargalhadas dos amigos.
- Deixa o cara, ele estava há muito tempo esperando. - O mais novo comentou. - E a ideia de fazer uma festa para ele apresentar a foi sua.
- Me lembrem de nunca mais bancar o cupido na vida! - Ele disse pegando os fones de ouvido na cabeceira da cama.
- Céus! Finalmente, estava louco para dormir e ter meus sonhos eróticos sem correr o risco de ouvir os gemidos de no plano de fundo. - suspirou e se ajeitou novamente na cama. Fechou os olhos deixando o corpo se soltar devagar. Ignorou as risadas dos amigos e apenas desejava a tão sonhada noite de sono.
Ahhnnnnnn
- PORRA, ?! DE NOVO? - protestou arrancando gargalhadas dos amigos.
- Deixa o cara, ele estava há muito tempo esperando. - O mais novo comentou. - E a ideia de fazer uma festa para ele apresentar a foi sua.
- Me lembrem de nunca mais bancar o cupido na vida! - Ele disse pegando os fones de ouvido na cabeceira da cama.
Nota da autora: Olá, pessoinhas lindas! Confesso que essa fic foi um parto para sair, mas eu amei cada momento. Queria passar a vibe leve e sensual que a música me transmite, não sei se alcancei o objetivo, mas espero que gostem!
Nota da beta: Que história mais light e calma! Que delícia! Acho que demorei uma hora para revisar por ela dar uma calmaria gostosa no coração
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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