Parte 1
Perguntava-me até quando me sujeitaria a isso? Quantos dias a mais eu precisava para entender de uma vez por todas? Porém, carreguei comigo por longos anos, mesmo quando todos diziam para deixá-lo de lado, sempre tive a esperança que um dia responderia os meus e-mails, mas esse dia nunca chegava, ou melhor, nunca chegou. Abri a gaveta, encontrando o único bilhete que foi capaz de me enviar. Estava diante do meu pior inimigo, meu computador, o vilão que arruinou a minha vida, destruiu meus sonhos, roubou a minha felicidade e acabou com qualquer chance que tinha de estar conectada a ele.
“O primeiro dia de aula foi um horror e não consegui escapar do trote. Você perdeu uma bela oportunidade de me ver desfilar pelas ruas vestida de oncinha, mas prefiro que não tenha visto essa cena constrangedora. E eu quero que saiba que sinto muito sua falta, .”
Com amor, sua melhor amiga.
“Oi, esse é o milésimo e-mail que mando, na tentativa de uma resposta. Sinto a sua falta, ou melhor, sinto falta da nossa amizade. Eu sei que a universidade ocupa um pouco do tempo, você começou a estagiar, mas queria saber como você está. Queria contar que depois de muito tempo, decidi a área que irei me especializar e escolhi a pediatria. Confesso, você teve uma parcela de culpa em minha decisão, lembro-me que falava “você tem um dom com as crianças.” quando puder responde, por favor.”
Com amor, sua melhor amiga.
“Adivinha quem enfim, conseguiu tirar a carta? Depois da quarta tentativa consegui e estou tão feliz. Quem sabe agora posso marcar de ir visitá-lo, mas você precisa responder antes e me passar o endereço. Sinto muito a sua falta.”
Com amor, sua melhor amiga.
“Tive o meu primeiro encontro e não foi nada romântico como eu imaginava, o carinha me levou para uma festa da universidade, bebeu todas e quando achei que fosse me beijar, virou o rosto e vomitou na grama. E nessas horas tudo que eu queria era te abraçar, sua mania de fazer piadas de tudo me faria rir até mesmo nessa situação.”
Com amor, sua melhor amiga.
“Arrumando a gaveta encontrei nossas fotos quando ainda éramos duas crianças, cuja única responsabilidade que tínhamos era acordar cedo e brincar até tarde. Faz tanto tempo em que você não me responde, mas saiba que todos os dias penso em você e vou esperar que tenha um tempo pra nossa amizade.”
Com amor, sua melhor amiga.
Deus, como fui ingênua. Relendo todos os e-mails, senti uma raiva tão grande. Parei a minha vida por ele, por uma amizade que na verdade não existia. Ninguém disse que seria fácil ter uma amizade à distância, porém juro que pensei que a nossa seria diferente. Não era uma amizade normal, éramos inseparáveis. De repente, me assustei ao ver a barreira que colocou entre a nossa amizade. Tentei de todas as formas, lutei com todas as minhas armas e fui forte até a ótima gota de força, porém, com muita dor em meu coração, admito o fim de uma vez por todas de seis anos.
— , quando você vai sair desse computador? — Minha amiga diz e me olha com a mesma feição decepcionada de sempre. — Gosta de se autodestruir?
— Ninguém entende, mas preciso disso. — Grito. — Preciso dele mais que qualquer coisa.
— Não, você não precisa disso. — Grita e pega o notebook das minhas mãos. — Quando você vai perceber que ele não precisa de você?
— É que em muitos momentos da minha vida… — Fui interrompida pela minha amiga, que despejou as palavras mais verdadeiras do mundo, porém, diga isso para o meu coração.
— , em todo esse tempo o idiota, do seu ex-melhor amigo, nunca a procurou. — Coloca o computador em cima da mesa. — Eu sei que deve ser horrível, mas você não merece e muito menos, precisa se sujeitar a isso e sabe por quê? Nenhum sentimento deve ser implorado e desculpa, mas é isso que você faz quando por anos manda infinitos e-mails que nunca são respondidos. — Sua respiração é cansada. — , por mais que doa você precisa aceitar que ele — aponta para o porta-retratos a na cabeceira de minha cama — não a considera importante e sinceramente ele não faz questão alguma de ao menos saber se está bem ou não.
— Todas as noites — as lágrimas rolavam pelo meu rosto — ele me assombra em meus sonhos, lembro-me de todos os momentos que tivemos e os que não tivemos a chance.
E sempre me lembro de quando foi embora, sem dizer “até logo” ou um “adeus”. Apenas um bilhete que reli várias vezes, não acreditava que meu melhor amigo havia passado para uma das melhores faculdades de engenharia, moraria em São Paulo e não foi capaz de se despedir de mim antes de ir. Apenas um simples bilhete que dizia estar feliz por seu sonho ter acontecido e que me amava.
— — me encarou e ela sabia o quanto foi e é difícil lidar com tudo isso — eu sinto muito, amiga, mas chegou a hora de deixar tudo isso pra trás.
— Nem um abraço — digo e as lágrimas descem pelo meu rosto — nenhum beijo e sou obrigada a conviver com esse sentimento que nunca pude ao menos dizer pra ele.
Minha amiga levantou e me abraçou, enxugou as minhas lágrimas e puxou o canto da minha boca, uma tentativa de me forçar a sorrir o que de fato aconteceu.
— Gosto desse sorriso — minha amiga apertou minha bochecha — e não quero ver lágrimas por aquele desalmado do babaca .
Sorri ao notar a forma carinhosa como chama meu ex-melhor amigo.
— Pelo amor de Deus! — Minha mãe entrou no meu quarto, já estava preparada para ir pro hospital — alguém fala pra Aurora que o cabelo dela não parece uma palha e que ela não engordou.
Minha mãe estava engraçada, nas últimas semanas a missão da minha irmã era perturbar a tudo e todos com sua ansiedade para o casamento. E quando Gael não estava por perto, sobrava para meus pais, e inclusive, para mim mesma.
— Sinto muito — sacudi o jaleco e ela fez uma cara triste — tenho residência e estou atrasada.
Desci as escadas apressada, ouvindo minha mãe reclamar com sobre não aguentar mais a palavra casamento. E confesso, que a palavra mexia comigo, mas pelo fato da minha irmã ser noiva do irmão de , porém ninguém precisava saber desse detalhe.
— — Aurora disse com os olhos vermelhos — eu vou desistir do casamento.
Sacudi a cabeça, continuando a calçar meu tênis e sem vontade para os pensamentos negativos da minha irmã, e não só eu como minha família inteira e até mesmo o noivo da mesma, ninguém tinha paciência porque foram as semanas do casamento se aproximar pra passarmos a viver um drama por dia.
— Preciso ir — dei um beijo na bochecha da minha irmã, coloquei a mochila nas costas e peguei as chaves do carro — não me espere pro jantar, tenho plantão a madrugada toda.
Minha mãe sorriu indo para a cozinha, sentou ao lado da minha irmã e parecia consolá-la e não pude deixar de sorrir da cena. Desativo o alarme do carro e jogo minhas coisas no banco traseiro e dou partida no carro em direção a uma madrugada de correria na emergência do hospital.
- * -
Nas últimas semanas todos os assuntos começavam e terminavam em casamento, e por mais feliz que estivesse por minha irmã mais nova, minha paciência estava por um fio. E por mais cansada que estivesse, saí direto do plantão noturno e dirigi por duas horas até o ateliê da melhor amiga de Aurora. Estacionei o carro, Soltei os cabelos e ignorei as olheiras pela noite não dormida.
— Bom dia! — Disse e me entregou uma xícara de café.
— Sua irmã mudou de ideia em relação aos vestidos — apontou para uma arara no canto do ateliê — e se prepare para vestir a roupa mais cafona de toda sua vida.
Sorri ao ver chateada e abracei minha melhor amiga.
— Atrasada! — Minha irmã disse e quis socar a cara dela, porém ignorei e permaneci afastada apenas observando ela conversar animada com a amiga.
Minha querida irmã havia mudado de ideia em relação aos vestidos, ambos seriam padronizados e da mesma cor. E não posso deixar de dizer que além de escolher a cor verde, era um tomara que caia que não valorizaria meus seios e novamente quis socá-la.
— Eu gostava da sua irmã — disse e sorri enquanto uma mulher ajustava o vestido no meu corpo — e tenho certeza que inventou essas dos vestidos bregas iguais para somente ela mesma ficar bonita.
Não consegui conter o sorriso ao vê-la reclamar de Aurora.
— Cada dia ela quer algo — Sorri para a mulher que avisou que havia terminado — e dúvida que ela amanhã ela pode mudar de ideia novamente?
— Louca! — sorriu e não desmenti porque era verdade.
Joguei as chaves do carro nas mãos de , meus olhos lutavam para permanecerem abertos e não confiaria de ir dirigindo até a minha casa. E ao dar partida no carro notei a feição nervosa da minha melhor amiga e decidi deixar que contasse quando se sentisse confortável.
— vem para o casamento — disse e minhas mãos gelaram, tinha mais e com certeza, não gostaria — foi o escolhido como padrinho.
Sorri sem acreditar no que tinha ouvido porque minha irmã não faria algo de tamanha falta de noção, não, Aurora não colocaria o cara que eu chamei de melhor amigo que me ignorou nos últimos seis anos.
As lágrimas desceram pelo meu rosto, me encarava, mas nenhuma palavra saía da sua boca. E realmente era verdade, Aurora tinha passado dos limites em tentar nos reaproximar dessa forma.
— O meu vestido ficou perfeito, mãe — ouvi a voz da minha irmã — e decidi em relação as madrinhas.
Abri a porta e não escondi do meu pai que estava com raiva, caminhei apressada até a sala encontrando Aurora de mãos dadas com Gael enquanto minha mãe olhava para eles com um brilho no olhar.
— Aurora! — Gritei e me encararam assustados e minha irmã sabia o motivo porque levantou rapidamente, mas dei dois passos para trás.
— Tenta me entender — tentou se justificar — eu não poderia deixá-lo fora da lista do casamento e muito menos de ser um dos padrinhos.
Tentei, mas não consegui segurar as lágrimas e não acreditava que em um momento sequer cogitou que entrar de braços dados com alguém que me machucou por seis anos, seria algo bem doloroso para mim.
— Você não entende — disse triste — eu não importaria de ter que lidar com durante a cerimônia e a festa porque por mais que isso me machucasse era o seu dia e eu tenho plena noção que não pode exclui-lo de um momento como esse.
— Então por que isso? — Aurora disse impaciente e apenas sacudi a cabeça sem acreditar.
— Você — as palavras embolaram em minha garganta e meu pai fez um carinho no meu ombro — não pensou um segundo que isso me machucaria? Que entrar de braços dados na igreja com deixaria sua irmã triste? Com certeza, essa foi à última coisa que passou pela sua cabeça porque se importar com os outros não é algo do seu feitio.
Minha irmã tentou se aproximar, mas não deixei. Apenas peguei meu jaleco no chão e caminhei até a escada, mas parei na metade do segundo degrau.
— ! — Minha mãe me chamou e a encarei com os olhos marejados.
— Eu vou a cerimônia pode ficar tranquila — minha irmã sorriu e respirei fundo — eu vou entrar de braços dados com , vestir o vestido horrível que você escolheu, eu vou sorrir mesmo com meu coração machucado porque você quer assim e é o seu dia, Aurora, não o meu.
Subi as escadas e tranquei a porta do quarto, e encostada na mesma, senti meu corpo deslizar até o chão. As lágrimas desceram com intensidade e abracei as minhas pernas em busca de um conforto. Encarei o computador em cima da cama e não pensei duas vezes, durante todos os anos que não obtive uma resposta, não percebi que meus e-mails ignorados eram a minha válvula de escape.
“Oi… você ainda lembra de mim? Porque eu só consigo pensar em você nesse momento. Eu tive um plantão difícil essa noite, perdi um paciente de poucos minutos de vida e ninguém perguntou como eu me sinto, deveria estar acostumada, porém eu ainda espero que alguém vá fazer o que só você tinha a sensibilidade de fazer. Me enxergar. Me responde. Me explica o que aconteceu.“
Com amor, alguém que ainda te ama.
Abri o guarda-roupa e tirei do fundo de uma das gavetas, e um sorriso escapou dos meus lábios ao segurar a blusa preferida de . E deixo a água quente do chuveiro cair pelo meu corpo cansado e enrolo a toalha na cabeça. Escovo os dentes e após pentear os cabelos decido dormir com os cabelos molhados.
— Eu sinto sua falta. — Ajeito a blusa que era do meu melhor amigo e a falta do seu perfume me deixa triste.
Programo o despertador para algumas horas e enfim, deixo o sono vencer.
Estaciono o carro e pego um batom na bolsa, aproveito o espelho do carro e corro até a entrada do restaurante com quase quarenta minutos de atraso forço um sorriso para minha melhor amiga. — Desculpa? — Sorrio e me sento no banco ao lado. — O que eu posso fazer quando minha melhor amiga é médica? — sorriu e pediu mais uma cerveja.
Tinha algum tempo desde que aproveitamos uma simples cerveja e colocamos a conversa em dia, muitas vezes falhava com minha amiga pelos incontáveis plantões que empurravam para os novatos como eu. E não conseguia me controlar, contava sobre como negava seus sentimentos por ela, mas morria de ciúmes da mesma.
— Pior você não sabe — minha amiga deu um gole em sua cerveja — o cara disse para todos os nossos colegas de trabalho que eu tinha namorado.
— Se isso não é gostar — peço mais uma cerveja e minha amiga sorri.
— Da festa ele não me escapa — se refere ao casamento da minha irmã — e quero o ver negar seus sentimentos depois que beijar essa delicinha aqui.
Gargalho ao modo que se refere a si mesma e o garçom chega com o jantar. E meu estômago agradeceu na primeira garfada de macarronada, não conseguia dormir ou comer com muita frequência pelo pouco tempo entre um paciente e outro. A emergência infantil é mais movimentada que a adulta, sempre lotada e com muito trabalho.
— Amanhã temos o chá de panela — me lembrou antes de descer do carro e sorriu para Gael que dirigia meu carro.
— Compro as cervejas depois do plantão — grito com a cabeça pro lado de fora e apenas sorri antes de entrar no seu prédio.
Como médica, ou melhor, como ser humano sempre priorizei o certo, minha segurança, das pessoas que estão comigo no carro e principalmente das que estão nas ruas, no trânsito. E desde que tirei minha carta de motorista e comprei meu carro, jamais peguei no volante depois mesmo que seja uma pequena dose de álcool. Já presenciei famílias e vidas destruídas pela combinação de beber e dirigir, o mais triste e que na maioria as vítimas não tinham nada a ver com isso. E infelizmente não posso mudar a cabeça de pessoas sem noção como as que enchem a cara e saem por aí colocando si mesmos e os outros em risco, porém faço minha parte como cidadã que ainda tem esperança de um mundo melhor.
— Obrigada, Gael. — Sorrio para meu cunhado e o mesmo estaciona meu carro na minha vaga na garagem.
E quando estou prestes a sair do carro, ouço sua voz e permaneço no veículo e o encaro.
— Pode contar sempre comigo, você vive em plantões e quase nunca consegue se divertir — meu cunhado sorri e retribuo — e eu sinto muito pelo padrinho escolhido, sua irmã coloca algo na cabeça e move montanhas se for preciso para que saia do seu jeito, mas é o jeito dela de tentar consertar isso tudo.
Assinto com a cabeça, ele tem razão, porém Aurora tinha o dom de passar do limite do limite.
— Eu a amo e quero que seja muito feliz ao seu lado — digo e meu cunhado sorri, noto o quanto ficou parecido com o irmão mais velho — mas, por favor, se ela tentar alguma coisa sobre o assunto , não deixa porque eu estou lutando muito para não desabar.
Meu cunhado me abraça, uma lágrima chega a rolar pelo meu rosto, mas ele a enxuga. Gael era um homem, maravilhoso e faria minha irmã muito feliz por ser extremamente paciente, carinhoso e o único a aceitar as loucuras de Aurora com um sorriso no rosto.
Poderia chamá-lo de louco, mas prefiro o termo completamente apaixonado.
— Conte comigo. — Diz e me despeço do mesmo.
Entro em casa com cuidado para não fazer barulho, encontro Aurora deitada no sofá com revistas em cima dela e sorrio ao notar o quanto minha irmãzinha está feliz com seu casamento. E por mais que vacile como qualquer pessoa, eu a amo e faria qualquer coisa por ela.
— Ei — digo com cuidado e minha irmã abre o olho, porém faz uma careta — você dormiu no sofá.
— Eca — se levanta e tampa o nariz — você está cheirando a cerveja… Você veio dirigindo, ?
Não consigo deixar de rir, sempre metendo os pés pelas mãos, mas por amor. Essa era Aurora . Minha irmã.
— Ainda sou a mais velha — alerto e subo os primeiros degraus da escada, mas paro no caminho — e se me conhece muito bem sabe que jamais pego no volante depois de um pingo de álcool. E seu noivo, querido, meu cunhado foi me buscar.
— Explorando o coitado — Aurora brinca e caminha em direção a cozinha.
Com um sorriso nos lábios, caminho até meu quarto e jogo minhas coisas em cima da cadeira e por mais cansada que esteja não consigo evitar tomar banho. Novamente pego a blusa de , a tolha e uma peça de roupa intima.
— Como você está? — Pergunto a mim mesma me referindo ao meu melhor amigo enquanto a água quente caí sobre meu corpo cansado. E por mais idiota que seja jamais, nenhum dia sequer deixei de pensar nele.
Penteio os cabelos, pego um lenço demaquilante tirando o resto de batom dos meus lábios e escovei os dentes.
“O primeiro dia de aula foi um horror e não consegui escapar do trote. Você perdeu uma bela oportunidade de me ver desfilar pelas ruas vestida de oncinha, mas prefiro que não tenha visto essa cena constrangedora. E eu quero que saiba que sinto muito sua falta, .”
Com amor, sua melhor amiga.
“Oi, esse é o milésimo e-mail que mando, na tentativa de uma resposta. Sinto a sua falta, ou melhor, sinto falta da nossa amizade. Eu sei que a universidade ocupa um pouco do tempo, você começou a estagiar, mas queria saber como você está. Queria contar que depois de muito tempo, decidi a área que irei me especializar e escolhi a pediatria. Confesso, você teve uma parcela de culpa em minha decisão, lembro-me que falava “você tem um dom com as crianças.” quando puder responde, por favor.”
Com amor, sua melhor amiga.
“Adivinha quem enfim, conseguiu tirar a carta? Depois da quarta tentativa consegui e estou tão feliz. Quem sabe agora posso marcar de ir visitá-lo, mas você precisa responder antes e me passar o endereço. Sinto muito a sua falta.”
Com amor, sua melhor amiga.
“Tive o meu primeiro encontro e não foi nada romântico como eu imaginava, o carinha me levou para uma festa da universidade, bebeu todas e quando achei que fosse me beijar, virou o rosto e vomitou na grama. E nessas horas tudo que eu queria era te abraçar, sua mania de fazer piadas de tudo me faria rir até mesmo nessa situação.”
Com amor, sua melhor amiga.
“Arrumando a gaveta encontrei nossas fotos quando ainda éramos duas crianças, cuja única responsabilidade que tínhamos era acordar cedo e brincar até tarde. Faz tanto tempo em que você não me responde, mas saiba que todos os dias penso em você e vou esperar que tenha um tempo pra nossa amizade.”
Com amor, sua melhor amiga.
Deus, como fui ingênua. Relendo todos os e-mails, senti uma raiva tão grande. Parei a minha vida por ele, por uma amizade que na verdade não existia. Ninguém disse que seria fácil ter uma amizade à distância, porém juro que pensei que a nossa seria diferente. Não era uma amizade normal, éramos inseparáveis. De repente, me assustei ao ver a barreira que colocou entre a nossa amizade. Tentei de todas as formas, lutei com todas as minhas armas e fui forte até a ótima gota de força, porém, com muita dor em meu coração, admito o fim de uma vez por todas de seis anos.
— , quando você vai sair desse computador? — Minha amiga diz e me olha com a mesma feição decepcionada de sempre. — Gosta de se autodestruir?
— Ninguém entende, mas preciso disso. — Grito. — Preciso dele mais que qualquer coisa.
— Não, você não precisa disso. — Grita e pega o notebook das minhas mãos. — Quando você vai perceber que ele não precisa de você?
— É que em muitos momentos da minha vida… — Fui interrompida pela minha amiga, que despejou as palavras mais verdadeiras do mundo, porém, diga isso para o meu coração.
— , em todo esse tempo o idiota, do seu ex-melhor amigo, nunca a procurou. — Coloca o computador em cima da mesa. — Eu sei que deve ser horrível, mas você não merece e muito menos, precisa se sujeitar a isso e sabe por quê? Nenhum sentimento deve ser implorado e desculpa, mas é isso que você faz quando por anos manda infinitos e-mails que nunca são respondidos. — Sua respiração é cansada. — , por mais que doa você precisa aceitar que ele — aponta para o porta-retratos a na cabeceira de minha cama — não a considera importante e sinceramente ele não faz questão alguma de ao menos saber se está bem ou não.
— Todas as noites — as lágrimas rolavam pelo meu rosto — ele me assombra em meus sonhos, lembro-me de todos os momentos que tivemos e os que não tivemos a chance.
E sempre me lembro de quando foi embora, sem dizer “até logo” ou um “adeus”. Apenas um bilhete que reli várias vezes, não acreditava que meu melhor amigo havia passado para uma das melhores faculdades de engenharia, moraria em São Paulo e não foi capaz de se despedir de mim antes de ir. Apenas um simples bilhete que dizia estar feliz por seu sonho ter acontecido e que me amava.
— — me encarou e ela sabia o quanto foi e é difícil lidar com tudo isso — eu sinto muito, amiga, mas chegou a hora de deixar tudo isso pra trás.
— Nem um abraço — digo e as lágrimas descem pelo meu rosto — nenhum beijo e sou obrigada a conviver com esse sentimento que nunca pude ao menos dizer pra ele.
Minha amiga levantou e me abraçou, enxugou as minhas lágrimas e puxou o canto da minha boca, uma tentativa de me forçar a sorrir o que de fato aconteceu.
— Gosto desse sorriso — minha amiga apertou minha bochecha — e não quero ver lágrimas por aquele desalmado do babaca .
Sorri ao notar a forma carinhosa como chama meu ex-melhor amigo.
— Pelo amor de Deus! — Minha mãe entrou no meu quarto, já estava preparada para ir pro hospital — alguém fala pra Aurora que o cabelo dela não parece uma palha e que ela não engordou.
Minha mãe estava engraçada, nas últimas semanas a missão da minha irmã era perturbar a tudo e todos com sua ansiedade para o casamento. E quando Gael não estava por perto, sobrava para meus pais, e inclusive, para mim mesma.
— Sinto muito — sacudi o jaleco e ela fez uma cara triste — tenho residência e estou atrasada.
Desci as escadas apressada, ouvindo minha mãe reclamar com sobre não aguentar mais a palavra casamento. E confesso, que a palavra mexia comigo, mas pelo fato da minha irmã ser noiva do irmão de , porém ninguém precisava saber desse detalhe.
— — Aurora disse com os olhos vermelhos — eu vou desistir do casamento.
Sacudi a cabeça, continuando a calçar meu tênis e sem vontade para os pensamentos negativos da minha irmã, e não só eu como minha família inteira e até mesmo o noivo da mesma, ninguém tinha paciência porque foram as semanas do casamento se aproximar pra passarmos a viver um drama por dia.
— Preciso ir — dei um beijo na bochecha da minha irmã, coloquei a mochila nas costas e peguei as chaves do carro — não me espere pro jantar, tenho plantão a madrugada toda.
Minha mãe sorriu indo para a cozinha, sentou ao lado da minha irmã e parecia consolá-la e não pude deixar de sorrir da cena. Desativo o alarme do carro e jogo minhas coisas no banco traseiro e dou partida no carro em direção a uma madrugada de correria na emergência do hospital.
— Bom dia! — Disse e me entregou uma xícara de café.
— Sua irmã mudou de ideia em relação aos vestidos — apontou para uma arara no canto do ateliê — e se prepare para vestir a roupa mais cafona de toda sua vida.
Sorri ao ver chateada e abracei minha melhor amiga.
— Atrasada! — Minha irmã disse e quis socar a cara dela, porém ignorei e permaneci afastada apenas observando ela conversar animada com a amiga.
Minha querida irmã havia mudado de ideia em relação aos vestidos, ambos seriam padronizados e da mesma cor. E não posso deixar de dizer que além de escolher a cor verde, era um tomara que caia que não valorizaria meus seios e novamente quis socá-la.
— Eu gostava da sua irmã — disse e sorri enquanto uma mulher ajustava o vestido no meu corpo — e tenho certeza que inventou essas dos vestidos bregas iguais para somente ela mesma ficar bonita.
Não consegui conter o sorriso ao vê-la reclamar de Aurora.
— Cada dia ela quer algo — Sorri para a mulher que avisou que havia terminado — e dúvida que ela amanhã ela pode mudar de ideia novamente?
— Louca! — sorriu e não desmenti porque era verdade.
Joguei as chaves do carro nas mãos de , meus olhos lutavam para permanecerem abertos e não confiaria de ir dirigindo até a minha casa. E ao dar partida no carro notei a feição nervosa da minha melhor amiga e decidi deixar que contasse quando se sentisse confortável.
— vem para o casamento — disse e minhas mãos gelaram, tinha mais e com certeza, não gostaria — foi o escolhido como padrinho.
Sorri sem acreditar no que tinha ouvido porque minha irmã não faria algo de tamanha falta de noção, não, Aurora não colocaria o cara que eu chamei de melhor amigo que me ignorou nos últimos seis anos.
As lágrimas desceram pelo meu rosto, me encarava, mas nenhuma palavra saía da sua boca. E realmente era verdade, Aurora tinha passado dos limites em tentar nos reaproximar dessa forma.
— O meu vestido ficou perfeito, mãe — ouvi a voz da minha irmã — e decidi em relação as madrinhas.
Abri a porta e não escondi do meu pai que estava com raiva, caminhei apressada até a sala encontrando Aurora de mãos dadas com Gael enquanto minha mãe olhava para eles com um brilho no olhar.
— Aurora! — Gritei e me encararam assustados e minha irmã sabia o motivo porque levantou rapidamente, mas dei dois passos para trás.
— Tenta me entender — tentou se justificar — eu não poderia deixá-lo fora da lista do casamento e muito menos de ser um dos padrinhos.
Tentei, mas não consegui segurar as lágrimas e não acreditava que em um momento sequer cogitou que entrar de braços dados com alguém que me machucou por seis anos, seria algo bem doloroso para mim.
— Você não entende — disse triste — eu não importaria de ter que lidar com durante a cerimônia e a festa porque por mais que isso me machucasse era o seu dia e eu tenho plena noção que não pode exclui-lo de um momento como esse.
— Então por que isso? — Aurora disse impaciente e apenas sacudi a cabeça sem acreditar.
— Você — as palavras embolaram em minha garganta e meu pai fez um carinho no meu ombro — não pensou um segundo que isso me machucaria? Que entrar de braços dados na igreja com deixaria sua irmã triste? Com certeza, essa foi à última coisa que passou pela sua cabeça porque se importar com os outros não é algo do seu feitio.
Minha irmã tentou se aproximar, mas não deixei. Apenas peguei meu jaleco no chão e caminhei até a escada, mas parei na metade do segundo degrau.
— ! — Minha mãe me chamou e a encarei com os olhos marejados.
— Eu vou a cerimônia pode ficar tranquila — minha irmã sorriu e respirei fundo — eu vou entrar de braços dados com , vestir o vestido horrível que você escolheu, eu vou sorrir mesmo com meu coração machucado porque você quer assim e é o seu dia, Aurora, não o meu.
Subi as escadas e tranquei a porta do quarto, e encostada na mesma, senti meu corpo deslizar até o chão. As lágrimas desceram com intensidade e abracei as minhas pernas em busca de um conforto. Encarei o computador em cima da cama e não pensei duas vezes, durante todos os anos que não obtive uma resposta, não percebi que meus e-mails ignorados eram a minha válvula de escape.
“Oi… você ainda lembra de mim? Porque eu só consigo pensar em você nesse momento. Eu tive um plantão difícil essa noite, perdi um paciente de poucos minutos de vida e ninguém perguntou como eu me sinto, deveria estar acostumada, porém eu ainda espero que alguém vá fazer o que só você tinha a sensibilidade de fazer. Me enxergar. Me responde. Me explica o que aconteceu.“
Com amor, alguém que ainda te ama.
Abri o guarda-roupa e tirei do fundo de uma das gavetas, e um sorriso escapou dos meus lábios ao segurar a blusa preferida de . E deixo a água quente do chuveiro cair pelo meu corpo cansado e enrolo a toalha na cabeça. Escovo os dentes e após pentear os cabelos decido dormir com os cabelos molhados.
— Eu sinto sua falta. — Ajeito a blusa que era do meu melhor amigo e a falta do seu perfume me deixa triste.
Programo o despertador para algumas horas e enfim, deixo o sono vencer.
Estaciono o carro e pego um batom na bolsa, aproveito o espelho do carro e corro até a entrada do restaurante com quase quarenta minutos de atraso forço um sorriso para minha melhor amiga. — Desculpa? — Sorrio e me sento no banco ao lado. — O que eu posso fazer quando minha melhor amiga é médica? — sorriu e pediu mais uma cerveja.
Tinha algum tempo desde que aproveitamos uma simples cerveja e colocamos a conversa em dia, muitas vezes falhava com minha amiga pelos incontáveis plantões que empurravam para os novatos como eu. E não conseguia me controlar, contava sobre como negava seus sentimentos por ela, mas morria de ciúmes da mesma.
— Pior você não sabe — minha amiga deu um gole em sua cerveja — o cara disse para todos os nossos colegas de trabalho que eu tinha namorado.
— Se isso não é gostar — peço mais uma cerveja e minha amiga sorri.
— Da festa ele não me escapa — se refere ao casamento da minha irmã — e quero o ver negar seus sentimentos depois que beijar essa delicinha aqui.
Gargalho ao modo que se refere a si mesma e o garçom chega com o jantar. E meu estômago agradeceu na primeira garfada de macarronada, não conseguia dormir ou comer com muita frequência pelo pouco tempo entre um paciente e outro. A emergência infantil é mais movimentada que a adulta, sempre lotada e com muito trabalho.
— Amanhã temos o chá de panela — me lembrou antes de descer do carro e sorriu para Gael que dirigia meu carro.
— Compro as cervejas depois do plantão — grito com a cabeça pro lado de fora e apenas sorri antes de entrar no seu prédio.
Como médica, ou melhor, como ser humano sempre priorizei o certo, minha segurança, das pessoas que estão comigo no carro e principalmente das que estão nas ruas, no trânsito. E desde que tirei minha carta de motorista e comprei meu carro, jamais peguei no volante depois mesmo que seja uma pequena dose de álcool. Já presenciei famílias e vidas destruídas pela combinação de beber e dirigir, o mais triste e que na maioria as vítimas não tinham nada a ver com isso. E infelizmente não posso mudar a cabeça de pessoas sem noção como as que enchem a cara e saem por aí colocando si mesmos e os outros em risco, porém faço minha parte como cidadã que ainda tem esperança de um mundo melhor.
— Obrigada, Gael. — Sorrio para meu cunhado e o mesmo estaciona meu carro na minha vaga na garagem.
E quando estou prestes a sair do carro, ouço sua voz e permaneço no veículo e o encaro.
— Pode contar sempre comigo, você vive em plantões e quase nunca consegue se divertir — meu cunhado sorri e retribuo — e eu sinto muito pelo padrinho escolhido, sua irmã coloca algo na cabeça e move montanhas se for preciso para que saia do seu jeito, mas é o jeito dela de tentar consertar isso tudo.
Assinto com a cabeça, ele tem razão, porém Aurora tinha o dom de passar do limite do limite.
— Eu a amo e quero que seja muito feliz ao seu lado — digo e meu cunhado sorri, noto o quanto ficou parecido com o irmão mais velho — mas, por favor, se ela tentar alguma coisa sobre o assunto , não deixa porque eu estou lutando muito para não desabar.
Meu cunhado me abraça, uma lágrima chega a rolar pelo meu rosto, mas ele a enxuga. Gael era um homem, maravilhoso e faria minha irmã muito feliz por ser extremamente paciente, carinhoso e o único a aceitar as loucuras de Aurora com um sorriso no rosto.
Poderia chamá-lo de louco, mas prefiro o termo completamente apaixonado.
— Conte comigo. — Diz e me despeço do mesmo.
Entro em casa com cuidado para não fazer barulho, encontro Aurora deitada no sofá com revistas em cima dela e sorrio ao notar o quanto minha irmãzinha está feliz com seu casamento. E por mais que vacile como qualquer pessoa, eu a amo e faria qualquer coisa por ela.
— Ei — digo com cuidado e minha irmã abre o olho, porém faz uma careta — você dormiu no sofá.
— Eca — se levanta e tampa o nariz — você está cheirando a cerveja… Você veio dirigindo, ?
Não consigo deixar de rir, sempre metendo os pés pelas mãos, mas por amor. Essa era Aurora . Minha irmã.
— Ainda sou a mais velha — alerto e subo os primeiros degraus da escada, mas paro no caminho — e se me conhece muito bem sabe que jamais pego no volante depois de um pingo de álcool. E seu noivo, querido, meu cunhado foi me buscar.
— Explorando o coitado — Aurora brinca e caminha em direção a cozinha.
Com um sorriso nos lábios, caminho até meu quarto e jogo minhas coisas em cima da cadeira e por mais cansada que esteja não consigo evitar tomar banho. Novamente pego a blusa de , a tolha e uma peça de roupa intima.
— Como você está? — Pergunto a mim mesma me referindo ao meu melhor amigo enquanto a água quente caí sobre meu corpo cansado. E por mais idiota que seja jamais, nenhum dia sequer deixei de pensar nele.
Penteio os cabelos, pego um lenço demaquilante tirando o resto de batom dos meus lábios e escovei os dentes.
Parte 2
Saí do banheiro com a toalha enrolada na cabeça e cantarolo a música que saí pelos alto-falantes da televisão, porém ouço risadas atrás de mim e identifico como minha melhor amiga acompanhada pela minha irmã. E cinco minutos passam e ambas continuam gargalhando como se uma pessoa cantar fosse à coisa mais engraçada do mundo. — Parecem duas hienas! — Provoco e elas não parecem se incomodar.
Abri o guarda-roupa, pegando a primeira blusa e calça jeans que encontro.
— Preciso me trocar — digo e ambas trocam um olhar — não vão sair? Tudo que eu tenho vocês tem…
— Fala sério, ! — Minha melhor amiga pega as roupas escolhidas da minha mão. — Você não está indo para mais um plantão.
— Óbvio! — Sorri. — Se fosse um plantão usaria blusa e calça branca.
— Como ela é engraçada né, ? — Minha irmã me provoca e só então, percebo uma maleta de maquiagem em cima da cama e percebo que hoje serei tratada como uma boneca.
Vejo uma notificação no celular e dou risada ao perceber que uma colega chamou o diretor do hospital de chato, mas esqueceu de que o mesmo estava no grupo. Por isso, evitava falar em grupos para evitar certos micos porque acredito sou mestre nesse quesito.
— Não! — Sacudo a cabeça e deixo o celular carregando. — , não vou usar isso, tem anos que comprei essa saia e eu andei engordando, ou seja, se já era curta antes imagine agora?
Minha amiga separa a saia preta e tira uma camiseta de listrinhas preta e branca, me entrega e tento relutar, mas cansei na metade do seu discurso sobre o quão importante era valorizar as minhas curvas, que eu não me arrumava e antes que começasse a parte sobre viver em função dos plantões me dei por vencida e entrei no banheiro para me trocar.
— Gostosa! — Aurora me perturbou e apontou a cadeira.
Bufei ao imaginar a quantidade de maquiagem que minha irmã colocaria em meu rosto mas até que seria bom esconder uma olheira aqui e outra ali. Ser uma residente significa basicamente plantões nas madrugadas e estar sempre disponível mesmo que liguem em menos de quatro anos de chegar de um plantão.
— ! — sorri assim que minha irmã termina de aplicar os produtos em minha pele.
A curiosidade bate e corro para o espelho, e diferente do que penso não acho nada exagerado e sim na medida certa. Há muitos anos que não sabia o que era usar nada além de um batom tom de boca.
— Estou gostosa — digo e ambas sorriem — e estou cogitando aderir a maquiagem e mostrar as pernas.
Debocham e cantam “aleluia”, mas eu criei duas cobras mesmo.
A decoração estava impecável e me encantei ao ver o bolo que eram duas panelas uma em cima da outra, algo simples, mas que tornava o ambiente ainda mais especial, além das fotos de Aurora e Gael espalhadas pelas mesas, mas meus olhos pararam em um livro em cima de uma mesa. Ao pegá-lo identifiquei como um álbum de fotos para recados e não perdi tempo. E aproveitei para ler alguns dos recados já deixados, os noivos eram pessoas queridas e especiais na vida de muitas pessoas.
— Uma romântica incurável — sorri e senta ao meu lado — você costumava sonhar com momentos como esse.
Assinto com a cabeça e encaro o álbum, mas uma foto me chama atenção, abraçado ao irmão, porém só conseguia enxergar a camisa que havia dado de presente a ele quando completou oito anos.
— Não tenho mais tais sonhos — fecho o álbum, procura algo no cooler, mas provavelmente está vazio — e eu to bem quanto a isso.
Mentira sua mentirosa, você não está bem quanto a isso.
— Alguém não deixa um sonho tão facilmente — minha amiga é certeira em suas palavras e continua — medicina sempre foi o sonho de uma menina que corria pelo bairro usando a fantasia de enfermeira, falando que qualquer emergência poderiam procurar pela médica .
Sorrio com a lembrança e me sinto abençoada em ter realizado meu sonho, mesmo com muito sacrifício, noites sem dormir, provas e plantões noturnos.
— É diferente, amiga — admito — a medicina não me abandonou por seis anos ignorando a minha existência e eu me sinto patética por isso, por não conseguir beijar um cara — minha amiga me alerta de um dos residentes que andei dando uns beijos — até que teve um, mas eu o empurrei, eu corri do quarto dele como se fosse…
— — minha amiga me abraça — ser virgem aos vinte e quatro anos não faz de você isso que iria chamar a si própria, cada pessoa tem o seu tempo e o seu não chegou. Apenas isso e quando tiver que acontecer vai acontecer e aí você não para mais porque o negócio é gostoso pra caramba.
Sacudi a cabeça e não consegui segurar a risada, minha melhor amiga olhava com um sorriso malicioso na direção de , porém o moreno tentava desviar o olhar e quebrar o contato visual, porém não conseguia por muito tempo.
— Vou buscar mais cerveja — digo e faz menção em me acompanhar, mas algo me diz para deixá-la sozinha — não precisa, amiga.
Peguei uma bacia grande, joguei bastante gelo dentro da mesma e peguei as garrafas na geladeira, colocando-as uma a uma na bacia e a música estava alta e não segurei a risada ao ver que Gael e os amigos dançavam a dança da mãozinha totalmente duros e sem jeito para a coisa. Peguei a bacia em cima do balcão e com cuidado caminhava para a área externa da casa dos sogros da minha irmã, porém senti minhas mãos escorregarem e um barulho acompanhados por cacos de vidro espalhados pela cozinha.
— ! — Forcei minha garganta e as palavras saíram.
E ele apenas sorriu e como se nada tivesse acontecido, como se apenas a única pessoa afetada fosse eu mesma.
— ! — Sua voz rouca, como eu senti falta de ouvi-la. — Onde estão todos?
Apenas apontei para a porta e ele rapidamente saiu em direção à festa. E me perguntei se ele se lembrava de mim ou oque eu costumava representar na sua vida e eu corri até um dos banheiros, molhava meu rosto, mas as lágrimas continuavam caindo assim como meu mundo despencava diante dos meus olhos. Por muitas vezes imaginei esse encontro e essa não era uma das opções.
— Essa é a noite da Aurora — repito jogando água no rosto e o enxugando em seguida — e você vai sorrir.
Ensaio um sorriso forçado, várias vezes, falho em todas, porém lavo o rosto novamente e pego um prendedor de cabelo no bolso da saia, amarro os cabelos nos coques rotineiros e no rosto não tem quaisquer resquícios de maquiagem.
Pego uma pá na área de serviço e com auxílio da vassoura cato todos os cacos de vidros espalhados pelo chão da cozinha. E novamente encho uma bacia com cervejas, mas dessa vez consigo fazer com chegue ao seu destino.
— Como eu estou? — Pergunto e me encara sem entender. — Não pareço que estava no banheiro chorando até cinco minutos atrás?
— ! — larga o copo e me arrasta, passando pelas pessoas e as lágrimas dão indícios que estão voltando com força total, mas somos paradas na metade do caminho pela voz vinda do microfone.
— Agora a irmã da noiva — minha mãe diz alegre e sacode o microfone — quer falar algumas coisas para esse casal.
Nego com a cabeça, mas minha mãe parece insistente e pego o copo de , virando o mesmo de uma vez e sinto a garganta queimar. E caminho até onde minha mãe segura o microfone e ao pegá-lo meus olhos encontram os de , porém desvio nosso olhar.
— Aurora e Gael — Respiro fundo, abri e fecho meus olhos tentando evitar as lágrimas e meu cunhado olha para onde o irmão está — eu desejo a vocês uma vida feliz juntos e que vocês possam dar muitos netos para minha mãe porque quem sabe ela pare de me cobrar.
Os convidados sorriem e deixo o microfone de qualquer jeito em cima da mesa, caminho apressada, Aurora tenta me puxar, mas não deixo, não posso estragar a noite dela. E por sorte meu celular vibra no meu bolso e pela primeira sorrio com uma mensagem de plantão extra.
— — me chama e paro na metade do caminho — quer que eu vá com você?
— Não — nego e minha amiga ainda tenta me fazer reconsiderar, mas explico — um plantão extra.
me abraça e saio apressada da casa dos pais de Gael e . E quando entro em casa me permito chorar enquanto coloco minhas roupas, e prendendo meus cabelos em um coque vejo os olhos vermelhos, mas novamente jogo água gelada no rosto e o enxugo. E já com o jaleco no ombro e minha mochila nas costas vejo o motorista do aplicativo estacionar em frente a minha casa e desço as escadas apressada. Tranco a casa e o cumprimento e entro no banco traseiro.
Estava nervosa porque e eu havíamos decidido brincar sete minutos no paraíso com nossos amigos e dessa vez por uma coincidência tinha sido com ele que me trancaram no armário da garagem do seu pai.
— O que foi? — me encarou e ele sorria nem um pouco incomodado. — Não é a primeira vez que brincamos.
— É que é estranho — sorrio e ele me encara — antes eu vim com outros meninos e agora estou com meu melhor amigo.
E ele gargalha provavelmente achando engraçado e tinha escondido dele que não tinha beijado ainda, me odiei por mentir para ele, porém não o aguentava mais me zoando por ter dezesseis anos e ainda ser boca virgem.
— Mas eles não beijavam como eu — se gaba e dou um tapa em seu braço.
— Não sei te responder isso porque nunca ao menos beijei. — Deixo escapar e ele me encara como quem acabou de pegar alguém na mentira.
Segura meu rosto e me encara, sorrio e o que eu menos esperava acontece. Sinto seus lábios selarem os meus e me vejo cedendo ao seu beijo. Suas mãos seguram meu pescoço e seu beijo tem gosto de morango, diferente de tudo que imaginei foi o meu primeiro beijo.
— … — Digo ao afastar nossos lábios e ele beija minha testa.
— Já passou sete minutos — levanta e estende sua mão, a seguro e ele me ajuda a levantar.
E naquele dia descobri que eu era apaixonada por ele e essa era a resposta para todas as vezes que me incomodava vê-lo com outras garotas.
— Doutora! — Ouço a voz da enfermeira e foco no meu trabalho. — Um chamado importante na emergência e a solicitam.
Coloco o celular no bolso da calça e largo café de lado, corro pelos corredores e decido focar no meu trabalho que vem funcionando como uma ótima válvula de escape.
- * -
O motorista estaciona em frente a minha casa, agradeço ao mesmo e desço do seu carro com o corpo dolorido, já passava das oito da manhã e meu professor disse que não queria ver minha cara no hospital por hoje e sorri ao ver o cuidado que tinha com os residentes.
— Querida — meu pai me chama e o vejo regando as flores e sorrio para o mesmo — não deveria trabalhar tanto.
— Então escolhi a profissão errada — brinco e ele sorri — médica e não trabalhar tanto não estão na mesma frase.
— Sua mãe saiu com sua irmã — diz — e daqui a pouco irei com o Gael pegar nossos trajes para o casamento.
— Vou descansar — digo e ele sorri — ganhei o dia de folga, meu professor disse que não quer ver minha cara então, por favor, pede pra mamãe não me acordar cedo.
— Vou avisá-la. — Sorrio para ele e entro.
E passava das quatro quando acordei e desci pelas escadas encontrando todos reunidos na sala enquanto conversavam animados, limitei a um sorriso e fui direto para a cozinha fazendo um prato de comida e colocando para esquentar.
— Vamos beber. — Aurora disse animada ao entrar na cozinha.
— Quem? — Perguntei e dei uma garfada na maravilhosa lasanha que somente minha mãe sabe fazer.
— Eu, Gael, , , e você. — Diz animada e começo a rir.
— Definitivamente não — digo e coloco o prato na pia — mas divirtam-se.
— Ah, — Aurora choraminga — quando você tem folga? Nunca.
— Aurora eu não estou no clima de beber — tento fazer com que entenda — e tenho umas pesquisas para terminar.
— Caramba ! — Noto sua frustração.
— Caramba digo eu — mostro que estou irritada — não entende que eu não quero ir beber com a porcaria do meu ex-melhor amigo, que some durante seis anos e suas únicas palavras quando nos reencontramos são meu nome e “onde estão todos?”.
A deixo plantada no meio da cozinha e passo pela sala sem cumprimentar ninguém, me trancando no quarto.
Aproveitei o silêncio na casa para aproveitar e colocar as minhas séries em dia, com uma tigela de pipoca em mãos, me joguei no sofá e dei play no episódio, mas meu celular não para de toca, tentei ignorar, mas a pessoa estava insistindo bastante. E vi o nome de Gael no visor e decidi atender.
— Fala — digo e dou um gole no refrigerante.
— Aurora está na casa da árvore e não quer sair de lá. — Meu cunhado revela e tento entender o que a mesma foi fazer lá.
— Casa da árvore? — Pergunto entender. — Na minha casa e do ?
— Sim — diz e sua voz está estranha — por favor, vai conversar com ela.
— Ah, Gael — olho para a televisão e lembro que meus pais me ensinaram que família em primeiro lugar — vou me trocar e vou conversar com a maluca.
Desliga e me levanto para vestir algo descente e ir conversar com minha irmã que ultimamente vem tendo umas atitudes bem estranhas.
Subo as escadas da casa da árvore e sorrio ao lembrar de como me divertir na mesma, e para minha surpresa a porta está aberta e não encontro Aurora, provavelmente Gael deve ter a convencido a descer, mas me assusto ao perceber que está diante de mim e a porta é fechada com pressa. E corro para abri-la, porém está trancada.
— Não adianta — alerta e presto atenção nele — eles não vão abrir.
E são as únicas palavras que saem de sua boca, os minutos vão passando e ele encara a parede a sua frente, em um momento sequer faz menção em me olhar e as lágrimas rolam pelo meu rosto ao perceber que realmente ele se esqueceu de mim e quando dizia me amar eram apenas palavras jogadas da boca pra fora. E por mais que me machucasse ver que nossa amizade não significava nada para ele ou muito menos havia sentido falta, eu queria ouvir sua voz, sua explicação e até mesmo abraçá-lo, porém ele não fez nada.
Ouço alguém destrancar a porta, levanto e encaro o homem a minha frente, como é triste ver alguém tão especial se tornar um grande nada em sua vida.
— Aurora! — Grito e desço as escadas com raiva, ignorando os olhares por ver meu rosto banhado pôr minhas lágrimas.
— …
— Para de tentar fazer com que tudo fique bem — grito o mais alto que posso — porque não esta nada bem, há seis anos que nada está bem. E ele não faz questão alguma de tentar consertar.
— vocês poderiam se acertar e quem sabe dessa amizade não saia um…
— Eu sei que o mundo quer desesperadamente que eu me case, tenha uma família, mas vocês passaram dos limites dessa vez — as lágrimas descem e me sinto humilhada — e outra eu sei que imaginavam que seria eu quem casaria com um , mas muitas coisas mudaram, Aurora. Não estraga seu momento com algo que alguém quebrou, a culpa não é sua, nem do Gael.
— Eu sinto muito. — Sua mão toca meus cabelos e eu me afasto bruscamente.
— Por favor, não pisa mais nos meus sentimentos — enxugo minhas lágrimas e vejo os olhares preocupados direcionados a mim
— eu tento não demonstrar, parecer forte, mas essa história toda me machuca demais.
Eu me sinto como uma idiota que todos enganam, e no ato de raiva taco o vaso de plantas na parede e meus pais descem as escadas correndo. E seus olhos preocupados me encaram sem entender, mas eu não consigo dizer nada apenas sento no chão frio da sala. Minha mãe se aproxima e meu pai sai em direção a área de serviço.
— Vem com a mamãe — minha mãe senta ao meu lado, deito minha cabeça no seu colo e enquanto suas mãos acariciam meus cabelos, permito-me chorar sendo acalentada por ela.
— Conversa com a Aurora, mãe — digo em meio as lágrimas — por favor, não deixa ela fazer isso novamente.
Conto a história para minha mãe e ela me ouve com calma, me aconselha e sinto seu carinho direcionado a mim de uma forma que havia tempo que não sentia. E aos meus vinte e quatro anos me vi uma menina, chorando nos braços da mãe e procurando pelo seu colo.
— Obrigada, mãe — digo ao entrar no meu quarto e ela sorri entrando no dela — desculpa pelo vaso.
— Estou sempre aqui, meu amor —Sorri — e quero outro vaso.
Entro no meu quarto e me enrolo debaixo do cobertor, afinal preciso descansar para o grande dia.
- * -
Encarava as mulheres animadas a minha frente, Aurora havia fechado o seu salão preferido para que nos arrumássemos e com certeza, a maquiadora teria trabalho comigo porque além de não dormir mais que duas horas na noite anterior, chorei por horas remoendo tudo dentro de mim mesma.
— Não vai falar com Aurora? — sorriu e me entregou um copo café, peguei o mesmo e permaneci calada.
Não consigo falar, na maioria das vezes essa é uma das consequências de quando algo me afeta, o silêncio. E não consigo achar uma forma de explicar o que eu sinto nesse exato momento.
— Eu sei que se meter nesse assunto foi invasivo da parte dela — me encarava, algumas lágrimas já rolavam pelo meu rosto — mas ela tem essa mania que querer ver todo mundo bem, você é importante pra ela assim como é importante para o Gael.
— … — Minha amiga me interrompe e se explica.
— Ela o ama — entendo que minha amiga se refere aos sentimentos da minha irmã pelo noivo — e quer vê-lo feliz em um dia tão especial para eles dois.
— Tudo bem. — É apenas o que consigo dizer e sorrir.
Não me considero uma pessoa rancorosa, mas levo um tempo até digerir as coisas, não consigo ir até a minha irmã com um sorriso sincero, dizer que e amo e que já esqueci o que aconteceu ontem porque não consigo, porém não serei rude ou qualquer coisa do tipo. Farei com que se sinta especial porque hoje é um dos dias mais importantes da sua vida, me sinto feliz em vivê-lo ao seu lado.
— Você está linda — Digo ao entregar o buquê a minha irmã e ela me olha atenta as minhas palavras — seja muito feliz, Aurora.
Viro-me para ir ao encontro dos padrinhos e madrinhas, a cerimônia está prestes a começar. Mas paro na metade do caminho e minha irmã me pega de surpresa.
— Eu te amo — Aurora diz e fecho meus olhos, não poderia borrar a maquiagem — e eu sinto muito, de verdade.
Viro-me e ao encará-la vejo que está chorando, tiro um lenço da pequena bolsa em minha mão, enxugo seu rosto para não estragar sua maquiagem.
— Eu te amo muito — a abraço forte e seus braços me apertam contra si — e coloca um sorriso nesse rosto, é o seu dia, o mais importante de suas vidas.
— … — Aurora me encara.
— Eu vou ficar bem — digo tentando tranquilizá-la em relação a — e sua missão é esquecer de mim e pensar apenas em quem está te esperando para o início de uma vida juntos.
Não deixo que diga mais nada, me retiro e encontro minha mãe ouvindo tudo atrás da porta e apenas sorrio para a mesma antes de encontrar e as outras madrinhas na sala ao lado.
— Eu to bem. — Digo ao encontrar minha melhor amiga me encarando já de braços dados com e caminho em direção a sentado em uma poltrona no canto da sala.
Paro diante de e notando minha presença o mesmo levanta, seus olhos me encaram dos pés a cabeça, não consigo desviar minha atenção dele, com os olhos cheios de lágrimas não consigo deixar de pensar o porque dele não lembrar a razão pela qual me amava antes, e meu coração praticamente gritava para que por, pelo menos, mais uma vez lembrasse da ligação que costuma-vos ter, da importância que um tinha na vida do outro.
— Vamos, . — As palavras escaparam e ele pareceu surpreso ao ouvir chamá-lo pelo apelido que lhe dei quando éramos ainda crianças.
Abaixei a cabeça e fitei meus pés, foi natural, mas antes que pudesse falar algo mais senti sua mão segurar a minha e quando me dei conta já estávamos de braços dados.
— Pela Aurora e pelo Gael — ouvir sua voz desperta algo em mim e prossegue — bandeira branca.
— Tudo bem. — Concordo.
A música tem início, respiro fundo e pergunta se estou pronta e apenas sorrio em sua direção. E em passos lentos passeamos pelo tapete vermelho, agradeço a estar apoiada em seu braço porque as minhas pernas estão tremendo. Muitos olhares direcionados a nós dois, provavelmente muitos assim como eu achavam que seríamos nós dois nos casando, inclusive minha mãe que nos olhava encantada e eu queria chorar, correr dali, soltar os braços de , mas não podia porque o dia de hoje não é sobre mim.
— Sejam muito felizes — abracei minha irmã na porta da igreja em seguida, fui até meu cunhado fazendo o mesmo — e sobre os netos, por favor, façam esse favor para está filha que não aguenta mais esses pedidos.
E me afastei ao notar se aproximando, e seu braço bateu no meu ao passar por mim e o babaca fingiu não havia acontecido nada.
— Mulher! — disse em meio aos sorrisos, pegou o copo da minha mão e me entregou uma garrafa de água mineral.
— Ah, quero minha cerveja — pedi e minha amiga sorriu, mas negou.
— Vai por mim — minha amiga colocou uma bala na minha boca — você vai me agradecer quando subir no palco para falar para os noivos.
— E porque você acha que estou bebendo? —Disse e me sentei ao sentir uma leve tontura. — Não sei lidar com essa merda toda sóbria.
insistiu para que fosse para a pista de dança, mas não gostava de dançar e de fato estava um pouco alterada pela quantidade de cervejas que já havia tomado. E de longe eu percebia a sintonia entre ela e , de hoje não passaria.
— Então — Ouvi a voz de e virei-me para encará-lo já sentado na cadeira ao lado — o que falaremos?
O encarei sem entender e o mesmo sorriu.
— O que eu vou falar já sei — explico — mas o que você vai falar é problema seu.
— Sua mãe não te contou? — Sacudo a cabeça em negativa e ele logo, se explica — como padrinhos e irmãos dos noivos foi decidido que falaríamos juntos.
— Mas que porra é essa? — Levantei com pressa e cambaleei para o lado, mas suas mãos me seguraram.
— Você está bem? — Pergunta e seu rosto está muito perto do meu.
Putaquepariu!
— Pode me soltar, por favor. — Digo e ele me solta, levanta as mãos e não para de sorrir.
E quando já estava prestes a fugir, ouvi minha mãe nos chamando até o palco, todos os olhares direcionados em nossa direção e respirei fundo antes de puxar pela mão.
sorria percebendo que eu estava bêbada e seu celular estava virado em minha direção, eu era conhecida por falar o que não devia quando bebia além da conta.
— Eu sou a irmã da noiva — disse sorrindo mais que o normal, Aurora me encarava e sacudia a cabeça — e esse aqui é o menino do beijo dos setes minutos no paraíso quer dizer irmão do noivo.
Muitos de nossos amigos sorriam, enfim, conseguiram a confissão que a anos tentaram: saber quem eu tinha beijado na brincadeira.
— Você está tentando dar um vexame ou algo parecido? — sussurrou no meu ouvido e tentou puxar o microfone da minha mão, mas não deixei e ele sacudiu a cabeça.
— Alguém está com medo que eu fale o que não deve — gargalho, aponto para e minha mãe me encara preocupada — Aurora e Gael que o amor de vocês supere todas as dificuldades como os roncos da minha irmã e as noites que ela decidiu contar sua vida inteira enquanto dorme, nas crises de tpm que ela parece uma filha do diabo, mas ela é legal eu juro.
As risadas eram altas e inclusive os noivos gargalhavam, as pessoas estavam se divertindo, porém pegou o microfone da minha mão e todos os olhares se direcionaram a ele.
— Fico feliz em retornar a Curitiba e ver que meu irmão mais novo se tornou um homem e que começará ao lado de Aurora uma família e que vocês não se esqueçam nunca o motivo que os levaram a se casar.
coloca o microfone e tenta me puxar para descer do palco, e o encaro antes de dizer o que eu preciso dizer, estava engasgado na minha garganta.
— Nunca deixe de responder os e-mails que Aurora mandar pra você — para na metade do palco, minha irmã me encara e quando vejo as lágrimas já rolam pelo meu rosto — nunca a deixe ir dormir sem saber como você está, nunca deixem algo tão bonito ser estragado pelo tempo porque tudo que o outro precisa ouvir é um “estou com você”. E principalmente não deixem de dizer todos os dias o quanto amam um ao outro, não durmam brigados, não passe anos sem vê-la e jamais em hipótese alguma a abandone porque isso a machucaria.
Deixo o microfone, desço do palco e minha irmã tenta se aproximar, porém Gael a segura ao notar que vem logo atrás de mim tentando me alcançar, fazendo com que corra ainda mais e sinto o seu braço puxar o meu, tropeço caindo em cima do mesmo permanecendo assim por alguns segundos, mas logo me levanto.
— O que você queria com aquele discurso? — grita e não o encaro.
Sorrio fraco e caminho em direção a um banco, sento no mesmo e ele permanece parado na minha frente.
— Que eles não se tornassem dois estranhos como nós dois. — Digo e encaro a piscina coberta por balões de coração.
Os minutos passam, as lágrimas vêm, mas nenhuma palavra é dita e o silêncio nos faz companhia na área afastada da festa.
— Porque você é assim? — Grita e levanto para encará-lo.
— Por que eu sou assim? — Sorrio e sacudo a cabeça.
— Porque você bebe e esquece tudo — diz e não consigo entender aonde quer chegar — quer saber mesmo porque eu fui embora e porque eu não respondi nenhum e-mail?
— Quero — digo nervosa — quero entender o porquê você foi um babaca.
— No meu último final de semana em Curitiba fomos a uma festa e você encheu a cara, dançou em cima da mesa do bar, cantou no palco — sacode a cabeça e seus olhos fitam os meus — E na hora de ir embora você não aguentava andar, a carreguei em minhas costas, porém você disse que precisávamos parar e você simplesmente desceu do meu colo e me beijou. E eu embarquei na sua loucura ao retribuir seu beijo e confessar que eu a amava, que eu a queria como namorada e você aceitou.
bagunça os cabelos e solta um sorriso.
— Eu aceitei? — As palavras saem e ele continua sorrindo como se achasse graça.
— E apagou em seguida — sorriu ainda mais e levei a minha mão até a boca — a deixei em casa, seus pais me deram um esporro por deixá-la ficar bêbada.
As lágrimas desciam pelo meu rosto, tentava puxar da minha memória, mas a única coisa que lembrava era que realmente tínhamos ido a uma festa, juntos, lembro de Aurora e Gael com a gente e na época nem namoravam.
— Eu disse a mim mesmo que se você não lembrasse encararia como uma prova de que não deveria arriscar uma amizade, por um amor que nem sabia se era correspondido. — Despeja as palavras e minha cabeça gira.
— Eu não me lembro — passo a mão pelo meu rosto e ele continua sorrindo — eu não consigo me lembrar.
— E só então percebi que depois de te beijar pela segunda vez, de confessar meus sentimentos que ser apenas seu amigo não seria possível. — Confessa.
— Por favor, não me diz que se afastou por isso — grito e ele assente que sim — por favor, não diz que eu fui ignorada por seis anos por uma noite que eu estava bêbada.
— Sim — afirma e sinto um aperto no coração — eu me afastei de você porque eu não conseguia te olhar como amigo, não conseguia beijar seu rosto quando eu queria beijar sua boca, não conseguia responder seus e-mails me chamando de melhor amigo, não conseguia suportar que não lembrava daquela maldita noite.
Acerto seu rosto com um tapa forte e ele apenas fecha os seus olhos enquanto não consigo parar de chorar ao encará-lo.
— Sabe quantas vezes eu precisei de você? Várias — grito e ele me encara — quantas malditas vezes digitei e-mails após dias exaustivos na faculdade apenas para que de alguma forma você estivesse presente na minha vida? Quantas vezes eu me perguntei por que você não respondia, se estava bem, se estava comendo direito, se estava indo bem na faculdade ou simplesmente se estava precisando de um abraço?
E ele me encara, seus olhos estão molhados pelas lágrimas e eu sinto vontade de socar seu rosto.
— Você não sabe — grito o mais alto que posso — porque você estava me punindo por uma noite que eu bebi para comemorar a aprovação do meu melhor amigo em engenharia, naquela noite eu não contei a ninguém que eu havia sido aprovada para medicina porque eu queria que todo mundo visse que você era capaz, , que você calou a boca de todo mundo que não acreditou em você. Eu estava orgulhosa e eu bebi pela primeira vez na minha vida porque eu sabia que você cuidaria de mim, que não me deixaria fazer qualquer besteira.
tenta se aproximar, mas dou um passo para trás, como eu disse antes não guardo rancor, mas levo muito tempo para digerir.
— ! — Ouvir meu apelido sair dos seus lábios é como se um soco me acertasse em cheio. E tenta me puxar para si e eu sei que levará muito tempo para me consertar dessa bagunça toda.
Acerto outro tapa em seu rosto e me vejo descontrolada.
— Pelos anos que me puniu com sua ausência — grito — e esse que acabei de dar é pela covardia de não ter perguntado sobre meus reais sentimentos porque a resposta talvez o surpreenderia, porém sua atitude na verdade, interrompeu algo que poderia ter dado certo, porque eu te amava muito e por uma infelicidade do destino eu bebi naquela noite sem saber que a mesma seria a causadora da minha maior decepção.
Enxugo minhas lágrimas, pego a bolsa em cima do banco e não consigo olhar para ele, o deixo plantado e peço pelo aplicativo peço um carro para me deixar em casa. Com olhos ainda vermelhos adentro o salão, passo por algumas pessoas e chego até onde está, mas decido não atrapalhar os seus beijos com , porém esbarro em Aurora e ela olha para trás, faço o mesmo e vejo com os olhos vermelhos bebendo algo no bar. E no exato momento que olho para o desespero no olhar da minha irmã, vejo culpa, vejo omissões e apenas sacudo a cabeça negando que de fato ela havia mentido para mim.
— — segura meu braço — precisamos conversar.
— Não aqui — digo e solto sua mão — e muito menos agora.
Saio apressada e quando chego em frente a porta do salão não dá dois minutos e o carro estaciona para o meu alívio. E ao chegar em casa me desmonto, deixo a água quente cair pelo corpo levando embora a maquiagem, o penteado que levou horas para ser feito e que traz a tona muitas lágrimas. E decido fazer o que de melhor eu faço: salvar vidas.
E dentro do carro, levo o café puro até a boca, depois de todas as verdades me sinto mais sóbria do que nunca e ao adentrar a emergência recebo um olhar de uma colega da faculdade.
— Soube que estão com um a menos de plantão — digo e deixo minha bolsa no consultório e ela me encara.
— — fecha a porta e me encara — hoje não era o casamento da sua irmã? Até trocamos de plantão por isso.
— Sim — digo e visto meu jaleco pendurando meu estetoscópio no pescoço — e já fiz a minha parte e agora vim ajudar meus colegas.
— Tá tudo bem? — Minto e assinto que assim.
E me afogo naquilo que passei anos estudando, não queria perder meu tempo com o que um dia chamei de amizade, salvaria vidas mesmo sentindo a minha cada vez mais se afundando.
Abri o guarda-roupa, pegando a primeira blusa e calça jeans que encontro.
— Preciso me trocar — digo e ambas trocam um olhar — não vão sair? Tudo que eu tenho vocês tem…
— Fala sério, ! — Minha melhor amiga pega as roupas escolhidas da minha mão. — Você não está indo para mais um plantão.
— Óbvio! — Sorri. — Se fosse um plantão usaria blusa e calça branca.
— Como ela é engraçada né, ? — Minha irmã me provoca e só então, percebo uma maleta de maquiagem em cima da cama e percebo que hoje serei tratada como uma boneca.
Vejo uma notificação no celular e dou risada ao perceber que uma colega chamou o diretor do hospital de chato, mas esqueceu de que o mesmo estava no grupo. Por isso, evitava falar em grupos para evitar certos micos porque acredito sou mestre nesse quesito.
— Não! — Sacudo a cabeça e deixo o celular carregando. — , não vou usar isso, tem anos que comprei essa saia e eu andei engordando, ou seja, se já era curta antes imagine agora?
Minha amiga separa a saia preta e tira uma camiseta de listrinhas preta e branca, me entrega e tento relutar, mas cansei na metade do seu discurso sobre o quão importante era valorizar as minhas curvas, que eu não me arrumava e antes que começasse a parte sobre viver em função dos plantões me dei por vencida e entrei no banheiro para me trocar.
— Gostosa! — Aurora me perturbou e apontou a cadeira.
Bufei ao imaginar a quantidade de maquiagem que minha irmã colocaria em meu rosto mas até que seria bom esconder uma olheira aqui e outra ali. Ser uma residente significa basicamente plantões nas madrugadas e estar sempre disponível mesmo que liguem em menos de quatro anos de chegar de um plantão.
— ! — sorri assim que minha irmã termina de aplicar os produtos em minha pele.
A curiosidade bate e corro para o espelho, e diferente do que penso não acho nada exagerado e sim na medida certa. Há muitos anos que não sabia o que era usar nada além de um batom tom de boca.
— Estou gostosa — digo e ambas sorriem — e estou cogitando aderir a maquiagem e mostrar as pernas.
Debocham e cantam “aleluia”, mas eu criei duas cobras mesmo.
A decoração estava impecável e me encantei ao ver o bolo que eram duas panelas uma em cima da outra, algo simples, mas que tornava o ambiente ainda mais especial, além das fotos de Aurora e Gael espalhadas pelas mesas, mas meus olhos pararam em um livro em cima de uma mesa. Ao pegá-lo identifiquei como um álbum de fotos para recados e não perdi tempo. E aproveitei para ler alguns dos recados já deixados, os noivos eram pessoas queridas e especiais na vida de muitas pessoas.
— Uma romântica incurável — sorri e senta ao meu lado — você costumava sonhar com momentos como esse.
Assinto com a cabeça e encaro o álbum, mas uma foto me chama atenção, abraçado ao irmão, porém só conseguia enxergar a camisa que havia dado de presente a ele quando completou oito anos.
— Não tenho mais tais sonhos — fecho o álbum, procura algo no cooler, mas provavelmente está vazio — e eu to bem quanto a isso.
Mentira sua mentirosa, você não está bem quanto a isso.
— Alguém não deixa um sonho tão facilmente — minha amiga é certeira em suas palavras e continua — medicina sempre foi o sonho de uma menina que corria pelo bairro usando a fantasia de enfermeira, falando que qualquer emergência poderiam procurar pela médica .
Sorrio com a lembrança e me sinto abençoada em ter realizado meu sonho, mesmo com muito sacrifício, noites sem dormir, provas e plantões noturnos.
— É diferente, amiga — admito — a medicina não me abandonou por seis anos ignorando a minha existência e eu me sinto patética por isso, por não conseguir beijar um cara — minha amiga me alerta de um dos residentes que andei dando uns beijos — até que teve um, mas eu o empurrei, eu corri do quarto dele como se fosse…
— — minha amiga me abraça — ser virgem aos vinte e quatro anos não faz de você isso que iria chamar a si própria, cada pessoa tem o seu tempo e o seu não chegou. Apenas isso e quando tiver que acontecer vai acontecer e aí você não para mais porque o negócio é gostoso pra caramba.
Sacudi a cabeça e não consegui segurar a risada, minha melhor amiga olhava com um sorriso malicioso na direção de , porém o moreno tentava desviar o olhar e quebrar o contato visual, porém não conseguia por muito tempo.
— Vou buscar mais cerveja — digo e faz menção em me acompanhar, mas algo me diz para deixá-la sozinha — não precisa, amiga.
Peguei uma bacia grande, joguei bastante gelo dentro da mesma e peguei as garrafas na geladeira, colocando-as uma a uma na bacia e a música estava alta e não segurei a risada ao ver que Gael e os amigos dançavam a dança da mãozinha totalmente duros e sem jeito para a coisa. Peguei a bacia em cima do balcão e com cuidado caminhava para a área externa da casa dos sogros da minha irmã, porém senti minhas mãos escorregarem e um barulho acompanhados por cacos de vidro espalhados pela cozinha.
— ! — Forcei minha garganta e as palavras saíram.
E ele apenas sorriu e como se nada tivesse acontecido, como se apenas a única pessoa afetada fosse eu mesma.
— ! — Sua voz rouca, como eu senti falta de ouvi-la. — Onde estão todos?
Apenas apontei para a porta e ele rapidamente saiu em direção à festa. E me perguntei se ele se lembrava de mim ou oque eu costumava representar na sua vida e eu corri até um dos banheiros, molhava meu rosto, mas as lágrimas continuavam caindo assim como meu mundo despencava diante dos meus olhos. Por muitas vezes imaginei esse encontro e essa não era uma das opções.
— Essa é a noite da Aurora — repito jogando água no rosto e o enxugando em seguida — e você vai sorrir.
Ensaio um sorriso forçado, várias vezes, falho em todas, porém lavo o rosto novamente e pego um prendedor de cabelo no bolso da saia, amarro os cabelos nos coques rotineiros e no rosto não tem quaisquer resquícios de maquiagem.
Pego uma pá na área de serviço e com auxílio da vassoura cato todos os cacos de vidros espalhados pelo chão da cozinha. E novamente encho uma bacia com cervejas, mas dessa vez consigo fazer com chegue ao seu destino.
— Como eu estou? — Pergunto e me encara sem entender. — Não pareço que estava no banheiro chorando até cinco minutos atrás?
— ! — larga o copo e me arrasta, passando pelas pessoas e as lágrimas dão indícios que estão voltando com força total, mas somos paradas na metade do caminho pela voz vinda do microfone.
— Agora a irmã da noiva — minha mãe diz alegre e sacode o microfone — quer falar algumas coisas para esse casal.
Nego com a cabeça, mas minha mãe parece insistente e pego o copo de , virando o mesmo de uma vez e sinto a garganta queimar. E caminho até onde minha mãe segura o microfone e ao pegá-lo meus olhos encontram os de , porém desvio nosso olhar.
— Aurora e Gael — Respiro fundo, abri e fecho meus olhos tentando evitar as lágrimas e meu cunhado olha para onde o irmão está — eu desejo a vocês uma vida feliz juntos e que vocês possam dar muitos netos para minha mãe porque quem sabe ela pare de me cobrar.
Os convidados sorriem e deixo o microfone de qualquer jeito em cima da mesa, caminho apressada, Aurora tenta me puxar, mas não deixo, não posso estragar a noite dela. E por sorte meu celular vibra no meu bolso e pela primeira sorrio com uma mensagem de plantão extra.
— — me chama e paro na metade do caminho — quer que eu vá com você?
— Não — nego e minha amiga ainda tenta me fazer reconsiderar, mas explico — um plantão extra.
me abraça e saio apressada da casa dos pais de Gael e . E quando entro em casa me permito chorar enquanto coloco minhas roupas, e prendendo meus cabelos em um coque vejo os olhos vermelhos, mas novamente jogo água gelada no rosto e o enxugo. E já com o jaleco no ombro e minha mochila nas costas vejo o motorista do aplicativo estacionar em frente a minha casa e desço as escadas apressada. Tranco a casa e o cumprimento e entro no banco traseiro.
Estava nervosa porque e eu havíamos decidido brincar sete minutos no paraíso com nossos amigos e dessa vez por uma coincidência tinha sido com ele que me trancaram no armário da garagem do seu pai.
— O que foi? — me encarou e ele sorria nem um pouco incomodado. — Não é a primeira vez que brincamos.
— É que é estranho — sorrio e ele me encara — antes eu vim com outros meninos e agora estou com meu melhor amigo.
E ele gargalha provavelmente achando engraçado e tinha escondido dele que não tinha beijado ainda, me odiei por mentir para ele, porém não o aguentava mais me zoando por ter dezesseis anos e ainda ser boca virgem.
— Mas eles não beijavam como eu — se gaba e dou um tapa em seu braço.
— Não sei te responder isso porque nunca ao menos beijei. — Deixo escapar e ele me encara como quem acabou de pegar alguém na mentira.
Segura meu rosto e me encara, sorrio e o que eu menos esperava acontece. Sinto seus lábios selarem os meus e me vejo cedendo ao seu beijo. Suas mãos seguram meu pescoço e seu beijo tem gosto de morango, diferente de tudo que imaginei foi o meu primeiro beijo.
— … — Digo ao afastar nossos lábios e ele beija minha testa.
— Já passou sete minutos — levanta e estende sua mão, a seguro e ele me ajuda a levantar.
E naquele dia descobri que eu era apaixonada por ele e essa era a resposta para todas as vezes que me incomodava vê-lo com outras garotas.
— Doutora! — Ouço a voz da enfermeira e foco no meu trabalho. — Um chamado importante na emergência e a solicitam.
Coloco o celular no bolso da calça e largo café de lado, corro pelos corredores e decido focar no meu trabalho que vem funcionando como uma ótima válvula de escape.
— Querida — meu pai me chama e o vejo regando as flores e sorrio para o mesmo — não deveria trabalhar tanto.
— Então escolhi a profissão errada — brinco e ele sorri — médica e não trabalhar tanto não estão na mesma frase.
— Sua mãe saiu com sua irmã — diz — e daqui a pouco irei com o Gael pegar nossos trajes para o casamento.
— Vou descansar — digo e ele sorri — ganhei o dia de folga, meu professor disse que não quer ver minha cara então, por favor, pede pra mamãe não me acordar cedo.
— Vou avisá-la. — Sorrio para ele e entro.
E passava das quatro quando acordei e desci pelas escadas encontrando todos reunidos na sala enquanto conversavam animados, limitei a um sorriso e fui direto para a cozinha fazendo um prato de comida e colocando para esquentar.
— Vamos beber. — Aurora disse animada ao entrar na cozinha.
— Quem? — Perguntei e dei uma garfada na maravilhosa lasanha que somente minha mãe sabe fazer.
— Eu, Gael, , , e você. — Diz animada e começo a rir.
— Definitivamente não — digo e coloco o prato na pia — mas divirtam-se.
— Ah, — Aurora choraminga — quando você tem folga? Nunca.
— Aurora eu não estou no clima de beber — tento fazer com que entenda — e tenho umas pesquisas para terminar.
— Caramba ! — Noto sua frustração.
— Caramba digo eu — mostro que estou irritada — não entende que eu não quero ir beber com a porcaria do meu ex-melhor amigo, que some durante seis anos e suas únicas palavras quando nos reencontramos são meu nome e “onde estão todos?”.
A deixo plantada no meio da cozinha e passo pela sala sem cumprimentar ninguém, me trancando no quarto.
Aproveitei o silêncio na casa para aproveitar e colocar as minhas séries em dia, com uma tigela de pipoca em mãos, me joguei no sofá e dei play no episódio, mas meu celular não para de toca, tentei ignorar, mas a pessoa estava insistindo bastante. E vi o nome de Gael no visor e decidi atender.
— Fala — digo e dou um gole no refrigerante.
— Aurora está na casa da árvore e não quer sair de lá. — Meu cunhado revela e tento entender o que a mesma foi fazer lá.
— Casa da árvore? — Pergunto entender. — Na minha casa e do ?
— Sim — diz e sua voz está estranha — por favor, vai conversar com ela.
— Ah, Gael — olho para a televisão e lembro que meus pais me ensinaram que família em primeiro lugar — vou me trocar e vou conversar com a maluca.
Desliga e me levanto para vestir algo descente e ir conversar com minha irmã que ultimamente vem tendo umas atitudes bem estranhas.
Subo as escadas da casa da árvore e sorrio ao lembrar de como me divertir na mesma, e para minha surpresa a porta está aberta e não encontro Aurora, provavelmente Gael deve ter a convencido a descer, mas me assusto ao perceber que está diante de mim e a porta é fechada com pressa. E corro para abri-la, porém está trancada.
— Não adianta — alerta e presto atenção nele — eles não vão abrir.
E são as únicas palavras que saem de sua boca, os minutos vão passando e ele encara a parede a sua frente, em um momento sequer faz menção em me olhar e as lágrimas rolam pelo meu rosto ao perceber que realmente ele se esqueceu de mim e quando dizia me amar eram apenas palavras jogadas da boca pra fora. E por mais que me machucasse ver que nossa amizade não significava nada para ele ou muito menos havia sentido falta, eu queria ouvir sua voz, sua explicação e até mesmo abraçá-lo, porém ele não fez nada.
Ouço alguém destrancar a porta, levanto e encaro o homem a minha frente, como é triste ver alguém tão especial se tornar um grande nada em sua vida.
— Aurora! — Grito e desço as escadas com raiva, ignorando os olhares por ver meu rosto banhado pôr minhas lágrimas.
— …
— Para de tentar fazer com que tudo fique bem — grito o mais alto que posso — porque não esta nada bem, há seis anos que nada está bem. E ele não faz questão alguma de tentar consertar.
— vocês poderiam se acertar e quem sabe dessa amizade não saia um…
— Eu sei que o mundo quer desesperadamente que eu me case, tenha uma família, mas vocês passaram dos limites dessa vez — as lágrimas descem e me sinto humilhada — e outra eu sei que imaginavam que seria eu quem casaria com um , mas muitas coisas mudaram, Aurora. Não estraga seu momento com algo que alguém quebrou, a culpa não é sua, nem do Gael.
— Eu sinto muito. — Sua mão toca meus cabelos e eu me afasto bruscamente.
— Por favor, não pisa mais nos meus sentimentos — enxugo minhas lágrimas e vejo os olhares preocupados direcionados a mim
— eu tento não demonstrar, parecer forte, mas essa história toda me machuca demais.
Eu me sinto como uma idiota que todos enganam, e no ato de raiva taco o vaso de plantas na parede e meus pais descem as escadas correndo. E seus olhos preocupados me encaram sem entender, mas eu não consigo dizer nada apenas sento no chão frio da sala. Minha mãe se aproxima e meu pai sai em direção a área de serviço.
— Vem com a mamãe — minha mãe senta ao meu lado, deito minha cabeça no seu colo e enquanto suas mãos acariciam meus cabelos, permito-me chorar sendo acalentada por ela.
— Conversa com a Aurora, mãe — digo em meio as lágrimas — por favor, não deixa ela fazer isso novamente.
Conto a história para minha mãe e ela me ouve com calma, me aconselha e sinto seu carinho direcionado a mim de uma forma que havia tempo que não sentia. E aos meus vinte e quatro anos me vi uma menina, chorando nos braços da mãe e procurando pelo seu colo.
— Obrigada, mãe — digo ao entrar no meu quarto e ela sorri entrando no dela — desculpa pelo vaso.
— Estou sempre aqui, meu amor —Sorri — e quero outro vaso.
Entro no meu quarto e me enrolo debaixo do cobertor, afinal preciso descansar para o grande dia.
- * -
— Não vai falar com Aurora? — sorriu e me entregou um copo café, peguei o mesmo e permaneci calada.
Não consigo falar, na maioria das vezes essa é uma das consequências de quando algo me afeta, o silêncio. E não consigo achar uma forma de explicar o que eu sinto nesse exato momento.
— Eu sei que se meter nesse assunto foi invasivo da parte dela — me encarava, algumas lágrimas já rolavam pelo meu rosto — mas ela tem essa mania que querer ver todo mundo bem, você é importante pra ela assim como é importante para o Gael.
— … — Minha amiga me interrompe e se explica.
— Ela o ama — entendo que minha amiga se refere aos sentimentos da minha irmã pelo noivo — e quer vê-lo feliz em um dia tão especial para eles dois.
— Tudo bem. — É apenas o que consigo dizer e sorrir.
Não me considero uma pessoa rancorosa, mas levo um tempo até digerir as coisas, não consigo ir até a minha irmã com um sorriso sincero, dizer que e amo e que já esqueci o que aconteceu ontem porque não consigo, porém não serei rude ou qualquer coisa do tipo. Farei com que se sinta especial porque hoje é um dos dias mais importantes da sua vida, me sinto feliz em vivê-lo ao seu lado.
— Você está linda — Digo ao entregar o buquê a minha irmã e ela me olha atenta as minhas palavras — seja muito feliz, Aurora.
Viro-me para ir ao encontro dos padrinhos e madrinhas, a cerimônia está prestes a começar. Mas paro na metade do caminho e minha irmã me pega de surpresa.
— Eu te amo — Aurora diz e fecho meus olhos, não poderia borrar a maquiagem — e eu sinto muito, de verdade.
Viro-me e ao encará-la vejo que está chorando, tiro um lenço da pequena bolsa em minha mão, enxugo seu rosto para não estragar sua maquiagem.
— Eu te amo muito — a abraço forte e seus braços me apertam contra si — e coloca um sorriso nesse rosto, é o seu dia, o mais importante de suas vidas.
— … — Aurora me encara.
— Eu vou ficar bem — digo tentando tranquilizá-la em relação a — e sua missão é esquecer de mim e pensar apenas em quem está te esperando para o início de uma vida juntos.
Não deixo que diga mais nada, me retiro e encontro minha mãe ouvindo tudo atrás da porta e apenas sorrio para a mesma antes de encontrar e as outras madrinhas na sala ao lado.
— Eu to bem. — Digo ao encontrar minha melhor amiga me encarando já de braços dados com e caminho em direção a sentado em uma poltrona no canto da sala.
Paro diante de e notando minha presença o mesmo levanta, seus olhos me encaram dos pés a cabeça, não consigo desviar minha atenção dele, com os olhos cheios de lágrimas não consigo deixar de pensar o porque dele não lembrar a razão pela qual me amava antes, e meu coração praticamente gritava para que por, pelo menos, mais uma vez lembrasse da ligação que costuma-vos ter, da importância que um tinha na vida do outro.
— Vamos, . — As palavras escaparam e ele pareceu surpreso ao ouvir chamá-lo pelo apelido que lhe dei quando éramos ainda crianças.
Abaixei a cabeça e fitei meus pés, foi natural, mas antes que pudesse falar algo mais senti sua mão segurar a minha e quando me dei conta já estávamos de braços dados.
— Pela Aurora e pelo Gael — ouvir sua voz desperta algo em mim e prossegue — bandeira branca.
— Tudo bem. — Concordo.
A música tem início, respiro fundo e pergunta se estou pronta e apenas sorrio em sua direção. E em passos lentos passeamos pelo tapete vermelho, agradeço a estar apoiada em seu braço porque as minhas pernas estão tremendo. Muitos olhares direcionados a nós dois, provavelmente muitos assim como eu achavam que seríamos nós dois nos casando, inclusive minha mãe que nos olhava encantada e eu queria chorar, correr dali, soltar os braços de , mas não podia porque o dia de hoje não é sobre mim.
— Sejam muito felizes — abracei minha irmã na porta da igreja em seguida, fui até meu cunhado fazendo o mesmo — e sobre os netos, por favor, façam esse favor para está filha que não aguenta mais esses pedidos.
E me afastei ao notar se aproximando, e seu braço bateu no meu ao passar por mim e o babaca fingiu não havia acontecido nada.
— Mulher! — disse em meio aos sorrisos, pegou o copo da minha mão e me entregou uma garrafa de água mineral.
— Ah, quero minha cerveja — pedi e minha amiga sorriu, mas negou.
— Vai por mim — minha amiga colocou uma bala na minha boca — você vai me agradecer quando subir no palco para falar para os noivos.
— E porque você acha que estou bebendo? —Disse e me sentei ao sentir uma leve tontura. — Não sei lidar com essa merda toda sóbria.
insistiu para que fosse para a pista de dança, mas não gostava de dançar e de fato estava um pouco alterada pela quantidade de cervejas que já havia tomado. E de longe eu percebia a sintonia entre ela e , de hoje não passaria.
— Então — Ouvi a voz de e virei-me para encará-lo já sentado na cadeira ao lado — o que falaremos?
O encarei sem entender e o mesmo sorriu.
— O que eu vou falar já sei — explico — mas o que você vai falar é problema seu.
— Sua mãe não te contou? — Sacudo a cabeça em negativa e ele logo, se explica — como padrinhos e irmãos dos noivos foi decidido que falaríamos juntos.
— Mas que porra é essa? — Levantei com pressa e cambaleei para o lado, mas suas mãos me seguraram.
— Você está bem? — Pergunta e seu rosto está muito perto do meu.
Putaquepariu!
— Pode me soltar, por favor. — Digo e ele me solta, levanta as mãos e não para de sorrir.
E quando já estava prestes a fugir, ouvi minha mãe nos chamando até o palco, todos os olhares direcionados em nossa direção e respirei fundo antes de puxar pela mão.
sorria percebendo que eu estava bêbada e seu celular estava virado em minha direção, eu era conhecida por falar o que não devia quando bebia além da conta.
— Eu sou a irmã da noiva — disse sorrindo mais que o normal, Aurora me encarava e sacudia a cabeça — e esse aqui é o menino do beijo dos setes minutos no paraíso quer dizer irmão do noivo.
Muitos de nossos amigos sorriam, enfim, conseguiram a confissão que a anos tentaram: saber quem eu tinha beijado na brincadeira.
— Você está tentando dar um vexame ou algo parecido? — sussurrou no meu ouvido e tentou puxar o microfone da minha mão, mas não deixei e ele sacudiu a cabeça.
— Alguém está com medo que eu fale o que não deve — gargalho, aponto para e minha mãe me encara preocupada — Aurora e Gael que o amor de vocês supere todas as dificuldades como os roncos da minha irmã e as noites que ela decidiu contar sua vida inteira enquanto dorme, nas crises de tpm que ela parece uma filha do diabo, mas ela é legal eu juro.
As risadas eram altas e inclusive os noivos gargalhavam, as pessoas estavam se divertindo, porém pegou o microfone da minha mão e todos os olhares se direcionaram a ele.
— Fico feliz em retornar a Curitiba e ver que meu irmão mais novo se tornou um homem e que começará ao lado de Aurora uma família e que vocês não se esqueçam nunca o motivo que os levaram a se casar.
coloca o microfone e tenta me puxar para descer do palco, e o encaro antes de dizer o que eu preciso dizer, estava engasgado na minha garganta.
— Nunca deixe de responder os e-mails que Aurora mandar pra você — para na metade do palco, minha irmã me encara e quando vejo as lágrimas já rolam pelo meu rosto — nunca a deixe ir dormir sem saber como você está, nunca deixem algo tão bonito ser estragado pelo tempo porque tudo que o outro precisa ouvir é um “estou com você”. E principalmente não deixem de dizer todos os dias o quanto amam um ao outro, não durmam brigados, não passe anos sem vê-la e jamais em hipótese alguma a abandone porque isso a machucaria.
Deixo o microfone, desço do palco e minha irmã tenta se aproximar, porém Gael a segura ao notar que vem logo atrás de mim tentando me alcançar, fazendo com que corra ainda mais e sinto o seu braço puxar o meu, tropeço caindo em cima do mesmo permanecendo assim por alguns segundos, mas logo me levanto.
— O que você queria com aquele discurso? — grita e não o encaro.
Sorrio fraco e caminho em direção a um banco, sento no mesmo e ele permanece parado na minha frente.
— Que eles não se tornassem dois estranhos como nós dois. — Digo e encaro a piscina coberta por balões de coração.
Os minutos passam, as lágrimas vêm, mas nenhuma palavra é dita e o silêncio nos faz companhia na área afastada da festa.
— Porque você é assim? — Grita e levanto para encará-lo.
— Por que eu sou assim? — Sorrio e sacudo a cabeça.
— Porque você bebe e esquece tudo — diz e não consigo entender aonde quer chegar — quer saber mesmo porque eu fui embora e porque eu não respondi nenhum e-mail?
— Quero — digo nervosa — quero entender o porquê você foi um babaca.
— No meu último final de semana em Curitiba fomos a uma festa e você encheu a cara, dançou em cima da mesa do bar, cantou no palco — sacode a cabeça e seus olhos fitam os meus — E na hora de ir embora você não aguentava andar, a carreguei em minhas costas, porém você disse que precisávamos parar e você simplesmente desceu do meu colo e me beijou. E eu embarquei na sua loucura ao retribuir seu beijo e confessar que eu a amava, que eu a queria como namorada e você aceitou.
bagunça os cabelos e solta um sorriso.
— Eu aceitei? — As palavras saem e ele continua sorrindo como se achasse graça.
— E apagou em seguida — sorriu ainda mais e levei a minha mão até a boca — a deixei em casa, seus pais me deram um esporro por deixá-la ficar bêbada.
As lágrimas desciam pelo meu rosto, tentava puxar da minha memória, mas a única coisa que lembrava era que realmente tínhamos ido a uma festa, juntos, lembro de Aurora e Gael com a gente e na época nem namoravam.
— Eu disse a mim mesmo que se você não lembrasse encararia como uma prova de que não deveria arriscar uma amizade, por um amor que nem sabia se era correspondido. — Despeja as palavras e minha cabeça gira.
— Eu não me lembro — passo a mão pelo meu rosto e ele continua sorrindo — eu não consigo me lembrar.
— E só então percebi que depois de te beijar pela segunda vez, de confessar meus sentimentos que ser apenas seu amigo não seria possível. — Confessa.
— Por favor, não me diz que se afastou por isso — grito e ele assente que sim — por favor, não diz que eu fui ignorada por seis anos por uma noite que eu estava bêbada.
— Sim — afirma e sinto um aperto no coração — eu me afastei de você porque eu não conseguia te olhar como amigo, não conseguia beijar seu rosto quando eu queria beijar sua boca, não conseguia responder seus e-mails me chamando de melhor amigo, não conseguia suportar que não lembrava daquela maldita noite.
Acerto seu rosto com um tapa forte e ele apenas fecha os seus olhos enquanto não consigo parar de chorar ao encará-lo.
— Sabe quantas vezes eu precisei de você? Várias — grito e ele me encara — quantas malditas vezes digitei e-mails após dias exaustivos na faculdade apenas para que de alguma forma você estivesse presente na minha vida? Quantas vezes eu me perguntei por que você não respondia, se estava bem, se estava comendo direito, se estava indo bem na faculdade ou simplesmente se estava precisando de um abraço?
E ele me encara, seus olhos estão molhados pelas lágrimas e eu sinto vontade de socar seu rosto.
— Você não sabe — grito o mais alto que posso — porque você estava me punindo por uma noite que eu bebi para comemorar a aprovação do meu melhor amigo em engenharia, naquela noite eu não contei a ninguém que eu havia sido aprovada para medicina porque eu queria que todo mundo visse que você era capaz, , que você calou a boca de todo mundo que não acreditou em você. Eu estava orgulhosa e eu bebi pela primeira vez na minha vida porque eu sabia que você cuidaria de mim, que não me deixaria fazer qualquer besteira.
tenta se aproximar, mas dou um passo para trás, como eu disse antes não guardo rancor, mas levo muito tempo para digerir.
— ! — Ouvir meu apelido sair dos seus lábios é como se um soco me acertasse em cheio. E tenta me puxar para si e eu sei que levará muito tempo para me consertar dessa bagunça toda.
Acerto outro tapa em seu rosto e me vejo descontrolada.
— Pelos anos que me puniu com sua ausência — grito — e esse que acabei de dar é pela covardia de não ter perguntado sobre meus reais sentimentos porque a resposta talvez o surpreenderia, porém sua atitude na verdade, interrompeu algo que poderia ter dado certo, porque eu te amava muito e por uma infelicidade do destino eu bebi naquela noite sem saber que a mesma seria a causadora da minha maior decepção.
Enxugo minhas lágrimas, pego a bolsa em cima do banco e não consigo olhar para ele, o deixo plantado e peço pelo aplicativo peço um carro para me deixar em casa. Com olhos ainda vermelhos adentro o salão, passo por algumas pessoas e chego até onde está, mas decido não atrapalhar os seus beijos com , porém esbarro em Aurora e ela olha para trás, faço o mesmo e vejo com os olhos vermelhos bebendo algo no bar. E no exato momento que olho para o desespero no olhar da minha irmã, vejo culpa, vejo omissões e apenas sacudo a cabeça negando que de fato ela havia mentido para mim.
— — segura meu braço — precisamos conversar.
— Não aqui — digo e solto sua mão — e muito menos agora.
Saio apressada e quando chego em frente a porta do salão não dá dois minutos e o carro estaciona para o meu alívio. E ao chegar em casa me desmonto, deixo a água quente cair pelo corpo levando embora a maquiagem, o penteado que levou horas para ser feito e que traz a tona muitas lágrimas. E decido fazer o que de melhor eu faço: salvar vidas.
E dentro do carro, levo o café puro até a boca, depois de todas as verdades me sinto mais sóbria do que nunca e ao adentrar a emergência recebo um olhar de uma colega da faculdade.
— Soube que estão com um a menos de plantão — digo e deixo minha bolsa no consultório e ela me encara.
— — fecha a porta e me encara — hoje não era o casamento da sua irmã? Até trocamos de plantão por isso.
— Sim — digo e visto meu jaleco pendurando meu estetoscópio no pescoço — e já fiz a minha parte e agora vim ajudar meus colegas.
— Tá tudo bem? — Minto e assinto que assim.
E me afogo naquilo que passei anos estudando, não queria perder meu tempo com o que um dia chamei de amizade, salvaria vidas mesmo sentindo a minha cada vez mais se afundando.
Parte 3
Nos últimos dias praticamente morei dentro do hospital, aceitava plantões em cima de plantões, queria fugir o máximo de encarar a realidade da minha vida. Reconheço não saber como agir, não consigo encarar o meu melhor amigo de infância e o fato da minha irmã ter mentido sobre algo importante me machuca de tal forma que não sei nem dizer como realmente é.
— Vai pra casa — um dos amigos de faculdade diz e apenas nego pegando um café — você vai se matar assim.
E não era assim que eu estava por dentro?
— Pelo contrário — pego o prontuário de um paciente e antes de sair da sala concluo — isso aqui que me mantém viva mesmo depois de tudo.
Após fazer a ronda matutina, decidi ir até meu consultório pegar minha bolsa, precisava ir em casa tomar um banho e pegar um jaleco limpo porque o meu estava sujo de sangue. E ao adentrar meu consultório encontrei Aurora sentada e ela me encarou, mas não dei atenção. Sentei na minha cadeira e mexi em alguns papéis.
— O que a senhora deseja? — Disse sem encará-la. — A emergência adulta e no outro prédio.
— ! — Aurora praticamente implora, luto para manter as lágrimas dentro de mim, não me permito chorar, não mais.
— Estou em meu ambiente de trabalho — digo e ela me encara — não posso dizer o que eu tenho pra te dizer aqui, não quero que as pessoas escutem e muito menos vejam meu descontrole se fizer uma besteira.
— Eu sou sua irmã — ela diz e jogo minhas coisas dentro da bolsa.
— E você só lembra disso quando lhe convém não é mesmo? — Grito e sacudo a cabeça ao perceber que uma enfermeira passou e olhou assustada. — Olha oque eu fiz disse que não me descontrolaria em meu ambiente de trabalho e agora uma das enfermeiras acha que sou uma louca que grita com uma paciente.
Pego minha bolsa e saio do meu consultório, um bom banho e horas de sono me fariam bem. E não preciso olhar para trás para saber Aurora me segue, não me acho imatura por não querer falar com ela, a mentira era algo que eu não tolerava porque bastava uma delas para mudar o curso das coisas. E a mesma tem consciência do que fez, mas o motivo eu não tinha ciência, porém na hora certa deixaria que se explicasse, mas ela foi mais rápida e explodiu no estacionamento do hospital.
— Antes de ir embora mesmo alterada você foi ao banheiro, a acompanhei e você disse que beijaria — minha irmã diz e congelo, não a encaro — disse que essa era sua forma de comemorar sua aprovação para medicina, que declararia o seu amor por ele.
Viro-me para encará-la e seus olhos estão cheios de lágrimas e o que tanto lutei para evitar acontecesse, me desmancho em lágrimas.
— Nunca odiei ninguém — digo — mas se mentir eu vou escolher você como a primeira pessoa para tal sentimento, por favor, tenha cuidado com o que vai dizer.
E ela continua e eu sei que jamais verei minha irmã com os mesmos olhos.
— E eu convenci Gael a me acompanhar, seguimos vocês o tempo todo — diz e a encaro já sentindo as lágrimas rolando pelo rosto — e realmente você o beijou, e ele se declarou pra você, ele disse que te amava e queria namorar com você.
— Aurora — digo e sacudo a cabeça, não queria acreditar — você mentiu?
— Sim — afirma e sinto uma pontada em meu peito — eu menti para você, eu disse que nada tinha acontecido, que eu que tinha trago você pra casa e que tinha ido pra casa com uma garota qualquer depois de beijar você e dizer que foi uma brincadeira de amigos.
Grito e quando vejo minhas coisas já estão no chão, algumas pessoas olham sem entender e entro em uma crise de choro que não consigo controlar.
— Quando foi pra São Paulo — luto para conseguir falar — você o visitou não foi?
— Sim — minha irmã diz e ver suas lágrimas me enche de raiva — e a carta…
— Fala — grito — o que você fez com a carta?
Ela abaixa a cabeça e faz meu mundo desabar novamente.
— Eu rasguei — admite e a encaro sem saber quem é a pessoa a minha frente — eu não o achava a pessoa certa para você, se envolvia em confusão, você tinha um futuro brilhante pela frente, não queria alguém como ele destruísse isso.
Eu queria socar a cara da minha irmã, mas eu não tinha forças para me mover, as verdades vinham, me atingiam.
— Você é minha irmã? — Pergunto e ela continua.
— Ele iria para São Paulo, conheceria várias pessoas e isso acabaria te machucando — tenta se explicar — não queria que isso a desestabilizasse, medicina é um curso integral onde você precisa se doar por completo, nem os nossos pais concordavam com o jeito de , odiaram vê-la chegar bêbada em casa.
— Cala a boca — passo a mão no meu rosto — não quero saber de mais nada, por favor.
— Tem uma última coisa. — Minha irmã está chorando muito e olho para trás e vejo Gael no carro, seu olhar é de pena e sempre repudiei esse sentimento.
— O quê? — Pergunto sem esperar com que me decepcione mais.
— Eu disse para te esquecer — admitiu — que você me contou debochando que o otário do “ ” havia se declarado, mas que você amava outro, que você amava…
— Quem?
— Gael. — Admite e percebo então que acabou.
Caminhei até a minha irmã e a empurrei fazendo com que caísse de bunda no chão, cuspi na sua cara e deixei que visse como seus achismos haviam fodido com a minha vida inteira.
— ! — Minha irmã diz e acerto um tapa com força em seu rosto, depois outro e mais outro, mas sinto alguém me afastar e reconheço como meu cunhado, o empurro para longe de mim.
Caminho desorientada pelo estacionamento, todos me encaram, choro descontrolada, pego minha bolsa e minhas coisas no chão. Minha irmã já de pé tenta tocar meu braço, mas a empurro para longe e Gael fica entre nós duas.
— Você mentiu pra mim — grito e ela chora nos braços de Gael — vocês mentiram pra mim, por seis anos.
E continua tentar se aproximar, mas me afasto batendo contra o capô do carro e minhas lágrimas são tudo que consigo dizer.
— Eu sinto muito — minha irmã diz — de verdade.
— Vai se foder sua maldita — grito e ela chora ainda mais — você sente caralho nenhum porque eu que me fodi nessa história toda, eu perdi um amigo, perdi o homem que eu amo porque eu nunca deixei de amá-lo, e olha para mim hoje, não tenho um abraço para me consolar, não tenho um companheiro, mas você tem, você sempre teve tudo, Aurora. As melhores roupas, os melhores encontros, os melhores sorrisos do papai eram sempre pra você e você tirou a pessoa mais importante da minha vida, você mentiu pra mim, pra ele, você viu minhas lágrimas, você viu minha dor, mas, mesmo assim, continuou omitindo tudo por não achá-lo o cara certo, mas isso era eu que tinha que decidir.
— Eu te amo, irmã.
— Maldita — gritei e tentei segurar em seus cabelos — você desgraçou a minha vida e vem dizer que me ama?
E seu corpo abraçou o meu, permaneci parada, apenas a empurrei e novamente caiu no chão e me encarou com um olhar suplicando por perdão.
— Por favor, me perdoa? — se ajoelhou. — Por favor, me perdoa.
— Você se perdoaria? — Respondo e ela nega, ainda ajoelhada — então porque acha que eu tenho que fazer o mesmo por você?
— Eu sou a sua irmã — grita e Gael tenta segurá-la — a sua irmãzinha que sempre se espelhou em você.
— Eu sei que é minha irmã por isso que doí tanto, e tento entender quando eu fui uma pessoa fria que mente para a própria irmã — digo — eu sempre a amei, nunca deixei que ninguém te zoasse mesmo quando cortou a franja errada na quarta série, eu fui sua amiga, eu te abracei, eu aceitei entrar de braços dados na igreja com a pessoa me machucou porque eu te amava, mas você mentiu pra mim, não só isso, mas você me destruiu, você distorceu tudo, Aurora. E no final sempre quem perde sou eu, você tem um marido, você tem sua vida, você é feliz e em momento algum pensou em mim mesmo que use como desculpa que não achava a pessoa pra mim. E se eu não tivesse o encontrado, se eu não olhasse pra sua cara de culpa naquele dia talvez, a vida inteira você omitisse tudo de mim. E não tenta chegar perto de mim porque nesse momento eu não consigo olhar na sua cara, eu não consigo te amar, eu só consigo odiar a maldita da minha irmã mais nova.
Corro, entre lágrimas e a pontada no peito, passo pelos meus colegas de trabalho, adentro o elevador recebendo olhares curiosos, não disfarço o quão acabada estou, que se foda tudo. E bato na porta do diretor do hospital e o mesmo pede para que eu entre.
— ? — Seu olhar curioso sobre meu estado fica surpreso com a minha resposta.
— Eu aceito — enxugo as lágrimas — irei para o hospital de São Paulo, farei minha especialização em pediatria e aceitarei a ajuda da universidade.
— Você viaja em uma semana — me encara preocupado — tudo bem pra você?
— Eu vou hoje se quiserem — digo — tenho que pensar em mim, no meu futuro e na única coisa que me restou que é a minha carreira.
— Tudo bem, Senhorita ?
— Sim — minto — Com licença, senhor.
Retiro-me da sala do diretor do hospital, caminho devagar, adentro o elevador e quando chego ao estacionamento vejo caminhando pelos carros, perguntando se alguém tinha visto a menina da foto em sua mão: eu mesma.
— ! — Grito e ela corre até a mim.
Seu abraço é forte e eu desabo, caímos as duas sentadas no chão do estacionamento, minha amiga repete que tudo ficará bem, enquanto choro dentro do seu abraço sentindo como doí a decepção, sangue do meu sangue, vi crescer, cuidei para meus pais trabalharem e no final eu não consigo olhar para quem sempre amei.
— Eu estou aqui — disse entre meus soluços, meu corpo tremia e ela me apertava ainda mais contra si — eu estou sempre aqui com você.
— Minha vida — digo — está uma merda.
— Eu sei que parece que não tem mais jeito — diz e me abraça — mas tudo vai se resolver, você é .
me ajuda a levantar, abre a porta do carro e eu sento, minha amiga passa o cinto em volta do meu corpo e dá a volta no carro, da partida no carro e viro para a janela observando a rua enquanto as lágrimas descem pelo meu rosto.
— Vamos? — Minha amiga pergunta ao chegarmos na minha casa, desço do carro e a vizinha me olha preocupada, mas me guia até em casa.
Encontro todos sentados no sofá, minha mãe aos prantos e meu pai gritando com Aurora sobre como foi uma péssima irmã, meu cunhado não consegue me encarar e minha irmã corre ao me ver.
— Você está bem? — Ela pergunta.
— Você só pode estar de sacanagem, Aurora — diz impaciente — o mínimo que se pode esperar é que ela não esteja bem.
Subimos as escadas, escuto meu pai continuar com os sermões, minha mãe aos prantos, Aurora repetindo que vai conseguir meu perdão, Gael tentando tranquilizá-la. Volto na metade do caminho e despejo de uma vez.
— Não briguem, não chorem, não tente conseguir meu perdão porque eu não sou Deus — digo firme e continuo — me mudo para São Paulo em uma semana, não tentem me fazer mudar de ideia, não estou indo por ninguém além de mim mesma.
Ao chegar no meu quarto, fui direto para o banheiro, as roupas ficaram espalhadas no chão e sentei no chão, a água quente caía, e eu chorava mais e mais.
— Força, — repito para mim mesma — força.
- * -
A semana passou e minhas malas estavam prontas, apenas duas caixas, e o restante deixaria para trás, disposta a viver uma nova vida em São Paulo, pelo menos por um bom tempo. E pedi minha mãe que não fizesse festa de despedida, não aguentava mais suas tentativas em me reconciliar com Aurora, precisavam entender que levaria um bom tempo para olhar na cara da mesma. — Meu amor — minha mãe disse quando coloquei a última mala no meu carro — tem certeza? A especialização é, pelo menos, dois anos.
— Tenho certeza, mãe — digo e a abraço forte — pense que será bom para meus sentimentos, vou pensar com carinho nos acontecimentos, farei o possível para visitá-la sempre.
A minha mãe me abraça forte e luto para não chorar, sempre, mesmo sendo a mais velha fui a mais dependente dos meus pais, da minha família, tive oportunidades de morar sozinha, porém eu era apegada ao café da manhã em família, aos almoços de domingo, a olhar para o meu pai cuidando do jardim e ver Aurora brigando com Gael assistindo televisão. E o que eu não contei foi que me mudar foi doloroso, mas permanecer seria mais porque jamais conseguiria viver tudo aquilo com a mesma alegria, pegaram meu mundo virando de cabeça para baixo.
— Eu te amo — meu pai disse e o encarei, me abraçou forte e sorriu para mim orgulhoso, jamais havia visto esse sorriso para mim — eu tenho orgulho de você, ! Perdoe-me se eu não te dei o meu melhor sorriso, mas eu amo vocês duas da mesma forma. Não teve um dia em que achei uma melhor que a outra ou desejei que uma se desse melhor na vida do que a outra porque o amor é o mesmo.
O apertei forte contra meu corpo, nos seus braços chorei e ele beijou minha testa, novamente abriu um largo sorriso que guardaria para sempre em minhas memórias.
— Vaca! — disse e estava chorando, apenas a abracei forte. — Porque você é inteligente e virou médica?
— Eu te amo — seco suas lágrimas e ela me empurra — e não se livrará de mim, ligarei todos os dias, você, ou melhor, vocês dois irão me visitar e farei o possível para vir sempre.
— Pensa em me esquecer ou não me responder mais — brincou e sorri, sentiria falta da minha melhor amiga — que eu juro que armo um barraco para São Paulo inteira ficar sabendo.
E ela faria mesmo.
A abraço forte e ela me aperta forte, sua amizade seria uma das coisas que me faria falta, mas jamais me permitiria me afastar dela.
— Cuida da minha amiga — digo e me abraça — a faça feliz porque ela o ama há muito tempo e esperou muito por esse momento.
— Pode deixar, cunhadinha — brinca e me abraça novamente — feliz será o sobrenome da minha princesa.
Aurora me encarava ao lado de Gael e apenas acenei para eles.
— Até um dia. — Digo e minha irmã chora abraçada ao marido.
Entro no meu carro, coloco o cinto de segurança e olho para trás encontrando olhares com lágrimas, ligo rádio do carro e olho pela última vez antes de dar partida no carro rumo a São Paulo. E mesmo minha mãe pedindo que fosse de avião não quis porque queria levar o meu carro, não conseguiria me locomover com a rapidez precisa em casos de emergência e seriam apenas seis horas de viagem, mas pararia para descansar ao logo do caminho, não tinha pressa, me apresentaria no hospital na segunda-feira de manhã e ainda era sexta-feira.
— Boa noite — sorrio para o homem que deduzo ser o porteiro e o mesmo me encara atrás do portão — sou a a nova moradora.
O homem abre o portão e sorri pedindo para que eu entre.
— O síndico me avisou sobre a chegada da senhora — o homem sorriu e me entregou um mole de chaves e um controle de portão — são suas chaves e o controle para ter acesso ao estacionamento.
— Muito obrigada. — Agradeci e o homem simpático sorriu.
E uma vida nova começaria e pensei positivo sobre o futuro ainda desconhecido, mas acreditava que coisas boas aconteceriam, o sol ainda poderia surgir depois dessa tempestade.
— Vai pra casa — um dos amigos de faculdade diz e apenas nego pegando um café — você vai se matar assim.
E não era assim que eu estava por dentro?
— Pelo contrário — pego o prontuário de um paciente e antes de sair da sala concluo — isso aqui que me mantém viva mesmo depois de tudo.
Após fazer a ronda matutina, decidi ir até meu consultório pegar minha bolsa, precisava ir em casa tomar um banho e pegar um jaleco limpo porque o meu estava sujo de sangue. E ao adentrar meu consultório encontrei Aurora sentada e ela me encarou, mas não dei atenção. Sentei na minha cadeira e mexi em alguns papéis.
— O que a senhora deseja? — Disse sem encará-la. — A emergência adulta e no outro prédio.
— ! — Aurora praticamente implora, luto para manter as lágrimas dentro de mim, não me permito chorar, não mais.
— Estou em meu ambiente de trabalho — digo e ela me encara — não posso dizer o que eu tenho pra te dizer aqui, não quero que as pessoas escutem e muito menos vejam meu descontrole se fizer uma besteira.
— Eu sou sua irmã — ela diz e jogo minhas coisas dentro da bolsa.
— E você só lembra disso quando lhe convém não é mesmo? — Grito e sacudo a cabeça ao perceber que uma enfermeira passou e olhou assustada. — Olha oque eu fiz disse que não me descontrolaria em meu ambiente de trabalho e agora uma das enfermeiras acha que sou uma louca que grita com uma paciente.
Pego minha bolsa e saio do meu consultório, um bom banho e horas de sono me fariam bem. E não preciso olhar para trás para saber Aurora me segue, não me acho imatura por não querer falar com ela, a mentira era algo que eu não tolerava porque bastava uma delas para mudar o curso das coisas. E a mesma tem consciência do que fez, mas o motivo eu não tinha ciência, porém na hora certa deixaria que se explicasse, mas ela foi mais rápida e explodiu no estacionamento do hospital.
— Antes de ir embora mesmo alterada você foi ao banheiro, a acompanhei e você disse que beijaria — minha irmã diz e congelo, não a encaro — disse que essa era sua forma de comemorar sua aprovação para medicina, que declararia o seu amor por ele.
Viro-me para encará-la e seus olhos estão cheios de lágrimas e o que tanto lutei para evitar acontecesse, me desmancho em lágrimas.
— Nunca odiei ninguém — digo — mas se mentir eu vou escolher você como a primeira pessoa para tal sentimento, por favor, tenha cuidado com o que vai dizer.
E ela continua e eu sei que jamais verei minha irmã com os mesmos olhos.
— E eu convenci Gael a me acompanhar, seguimos vocês o tempo todo — diz e a encaro já sentindo as lágrimas rolando pelo rosto — e realmente você o beijou, e ele se declarou pra você, ele disse que te amava e queria namorar com você.
— Aurora — digo e sacudo a cabeça, não queria acreditar — você mentiu?
— Sim — afirma e sinto uma pontada em meu peito — eu menti para você, eu disse que nada tinha acontecido, que eu que tinha trago você pra casa e que tinha ido pra casa com uma garota qualquer depois de beijar você e dizer que foi uma brincadeira de amigos.
Grito e quando vejo minhas coisas já estão no chão, algumas pessoas olham sem entender e entro em uma crise de choro que não consigo controlar.
— Quando foi pra São Paulo — luto para conseguir falar — você o visitou não foi?
— Sim — minha irmã diz e ver suas lágrimas me enche de raiva — e a carta…
— Fala — grito — o que você fez com a carta?
Ela abaixa a cabeça e faz meu mundo desabar novamente.
— Eu rasguei — admite e a encaro sem saber quem é a pessoa a minha frente — eu não o achava a pessoa certa para você, se envolvia em confusão, você tinha um futuro brilhante pela frente, não queria alguém como ele destruísse isso.
Eu queria socar a cara da minha irmã, mas eu não tinha forças para me mover, as verdades vinham, me atingiam.
— Você é minha irmã? — Pergunto e ela continua.
— Ele iria para São Paulo, conheceria várias pessoas e isso acabaria te machucando — tenta se explicar — não queria que isso a desestabilizasse, medicina é um curso integral onde você precisa se doar por completo, nem os nossos pais concordavam com o jeito de , odiaram vê-la chegar bêbada em casa.
— Cala a boca — passo a mão no meu rosto — não quero saber de mais nada, por favor.
— Tem uma última coisa. — Minha irmã está chorando muito e olho para trás e vejo Gael no carro, seu olhar é de pena e sempre repudiei esse sentimento.
— O quê? — Pergunto sem esperar com que me decepcione mais.
— Eu disse para te esquecer — admitiu — que você me contou debochando que o otário do “ ” havia se declarado, mas que você amava outro, que você amava…
— Quem?
— Gael. — Admite e percebo então que acabou.
Caminhei até a minha irmã e a empurrei fazendo com que caísse de bunda no chão, cuspi na sua cara e deixei que visse como seus achismos haviam fodido com a minha vida inteira.
— ! — Minha irmã diz e acerto um tapa com força em seu rosto, depois outro e mais outro, mas sinto alguém me afastar e reconheço como meu cunhado, o empurro para longe de mim.
Caminho desorientada pelo estacionamento, todos me encaram, choro descontrolada, pego minha bolsa e minhas coisas no chão. Minha irmã já de pé tenta tocar meu braço, mas a empurro para longe e Gael fica entre nós duas.
— Você mentiu pra mim — grito e ela chora nos braços de Gael — vocês mentiram pra mim, por seis anos.
E continua tentar se aproximar, mas me afasto batendo contra o capô do carro e minhas lágrimas são tudo que consigo dizer.
— Eu sinto muito — minha irmã diz — de verdade.
— Vai se foder sua maldita — grito e ela chora ainda mais — você sente caralho nenhum porque eu que me fodi nessa história toda, eu perdi um amigo, perdi o homem que eu amo porque eu nunca deixei de amá-lo, e olha para mim hoje, não tenho um abraço para me consolar, não tenho um companheiro, mas você tem, você sempre teve tudo, Aurora. As melhores roupas, os melhores encontros, os melhores sorrisos do papai eram sempre pra você e você tirou a pessoa mais importante da minha vida, você mentiu pra mim, pra ele, você viu minhas lágrimas, você viu minha dor, mas, mesmo assim, continuou omitindo tudo por não achá-lo o cara certo, mas isso era eu que tinha que decidir.
— Eu te amo, irmã.
— Maldita — gritei e tentei segurar em seus cabelos — você desgraçou a minha vida e vem dizer que me ama?
E seu corpo abraçou o meu, permaneci parada, apenas a empurrei e novamente caiu no chão e me encarou com um olhar suplicando por perdão.
— Por favor, me perdoa? — se ajoelhou. — Por favor, me perdoa.
— Você se perdoaria? — Respondo e ela nega, ainda ajoelhada — então porque acha que eu tenho que fazer o mesmo por você?
— Eu sou a sua irmã — grita e Gael tenta segurá-la — a sua irmãzinha que sempre se espelhou em você.
— Eu sei que é minha irmã por isso que doí tanto, e tento entender quando eu fui uma pessoa fria que mente para a própria irmã — digo — eu sempre a amei, nunca deixei que ninguém te zoasse mesmo quando cortou a franja errada na quarta série, eu fui sua amiga, eu te abracei, eu aceitei entrar de braços dados na igreja com a pessoa me machucou porque eu te amava, mas você mentiu pra mim, não só isso, mas você me destruiu, você distorceu tudo, Aurora. E no final sempre quem perde sou eu, você tem um marido, você tem sua vida, você é feliz e em momento algum pensou em mim mesmo que use como desculpa que não achava a pessoa pra mim. E se eu não tivesse o encontrado, se eu não olhasse pra sua cara de culpa naquele dia talvez, a vida inteira você omitisse tudo de mim. E não tenta chegar perto de mim porque nesse momento eu não consigo olhar na sua cara, eu não consigo te amar, eu só consigo odiar a maldita da minha irmã mais nova.
Corro, entre lágrimas e a pontada no peito, passo pelos meus colegas de trabalho, adentro o elevador recebendo olhares curiosos, não disfarço o quão acabada estou, que se foda tudo. E bato na porta do diretor do hospital e o mesmo pede para que eu entre.
— ? — Seu olhar curioso sobre meu estado fica surpreso com a minha resposta.
— Eu aceito — enxugo as lágrimas — irei para o hospital de São Paulo, farei minha especialização em pediatria e aceitarei a ajuda da universidade.
— Você viaja em uma semana — me encara preocupado — tudo bem pra você?
— Eu vou hoje se quiserem — digo — tenho que pensar em mim, no meu futuro e na única coisa que me restou que é a minha carreira.
— Tudo bem, Senhorita ?
— Sim — minto — Com licença, senhor.
Retiro-me da sala do diretor do hospital, caminho devagar, adentro o elevador e quando chego ao estacionamento vejo caminhando pelos carros, perguntando se alguém tinha visto a menina da foto em sua mão: eu mesma.
— ! — Grito e ela corre até a mim.
Seu abraço é forte e eu desabo, caímos as duas sentadas no chão do estacionamento, minha amiga repete que tudo ficará bem, enquanto choro dentro do seu abraço sentindo como doí a decepção, sangue do meu sangue, vi crescer, cuidei para meus pais trabalharem e no final eu não consigo olhar para quem sempre amei.
— Eu estou aqui — disse entre meus soluços, meu corpo tremia e ela me apertava ainda mais contra si — eu estou sempre aqui com você.
— Minha vida — digo — está uma merda.
— Eu sei que parece que não tem mais jeito — diz e me abraça — mas tudo vai se resolver, você é .
me ajuda a levantar, abre a porta do carro e eu sento, minha amiga passa o cinto em volta do meu corpo e dá a volta no carro, da partida no carro e viro para a janela observando a rua enquanto as lágrimas descem pelo meu rosto.
— Vamos? — Minha amiga pergunta ao chegarmos na minha casa, desço do carro e a vizinha me olha preocupada, mas me guia até em casa.
Encontro todos sentados no sofá, minha mãe aos prantos e meu pai gritando com Aurora sobre como foi uma péssima irmã, meu cunhado não consegue me encarar e minha irmã corre ao me ver.
— Você está bem? — Ela pergunta.
— Você só pode estar de sacanagem, Aurora — diz impaciente — o mínimo que se pode esperar é que ela não esteja bem.
Subimos as escadas, escuto meu pai continuar com os sermões, minha mãe aos prantos, Aurora repetindo que vai conseguir meu perdão, Gael tentando tranquilizá-la. Volto na metade do caminho e despejo de uma vez.
— Não briguem, não chorem, não tente conseguir meu perdão porque eu não sou Deus — digo firme e continuo — me mudo para São Paulo em uma semana, não tentem me fazer mudar de ideia, não estou indo por ninguém além de mim mesma.
Ao chegar no meu quarto, fui direto para o banheiro, as roupas ficaram espalhadas no chão e sentei no chão, a água quente caía, e eu chorava mais e mais.
— Força, — repito para mim mesma — força.
— Tenho certeza, mãe — digo e a abraço forte — pense que será bom para meus sentimentos, vou pensar com carinho nos acontecimentos, farei o possível para visitá-la sempre.
A minha mãe me abraça forte e luto para não chorar, sempre, mesmo sendo a mais velha fui a mais dependente dos meus pais, da minha família, tive oportunidades de morar sozinha, porém eu era apegada ao café da manhã em família, aos almoços de domingo, a olhar para o meu pai cuidando do jardim e ver Aurora brigando com Gael assistindo televisão. E o que eu não contei foi que me mudar foi doloroso, mas permanecer seria mais porque jamais conseguiria viver tudo aquilo com a mesma alegria, pegaram meu mundo virando de cabeça para baixo.
— Eu te amo — meu pai disse e o encarei, me abraçou forte e sorriu para mim orgulhoso, jamais havia visto esse sorriso para mim — eu tenho orgulho de você, ! Perdoe-me se eu não te dei o meu melhor sorriso, mas eu amo vocês duas da mesma forma. Não teve um dia em que achei uma melhor que a outra ou desejei que uma se desse melhor na vida do que a outra porque o amor é o mesmo.
O apertei forte contra meu corpo, nos seus braços chorei e ele beijou minha testa, novamente abriu um largo sorriso que guardaria para sempre em minhas memórias.
— Vaca! — disse e estava chorando, apenas a abracei forte. — Porque você é inteligente e virou médica?
— Eu te amo — seco suas lágrimas e ela me empurra — e não se livrará de mim, ligarei todos os dias, você, ou melhor, vocês dois irão me visitar e farei o possível para vir sempre.
— Pensa em me esquecer ou não me responder mais — brincou e sorri, sentiria falta da minha melhor amiga — que eu juro que armo um barraco para São Paulo inteira ficar sabendo.
E ela faria mesmo.
A abraço forte e ela me aperta forte, sua amizade seria uma das coisas que me faria falta, mas jamais me permitiria me afastar dela.
— Cuida da minha amiga — digo e me abraça — a faça feliz porque ela o ama há muito tempo e esperou muito por esse momento.
— Pode deixar, cunhadinha — brinca e me abraça novamente — feliz será o sobrenome da minha princesa.
Aurora me encarava ao lado de Gael e apenas acenei para eles.
— Até um dia. — Digo e minha irmã chora abraçada ao marido.
Entro no meu carro, coloco o cinto de segurança e olho para trás encontrando olhares com lágrimas, ligo rádio do carro e olho pela última vez antes de dar partida no carro rumo a São Paulo. E mesmo minha mãe pedindo que fosse de avião não quis porque queria levar o meu carro, não conseguiria me locomover com a rapidez precisa em casos de emergência e seriam apenas seis horas de viagem, mas pararia para descansar ao logo do caminho, não tinha pressa, me apresentaria no hospital na segunda-feira de manhã e ainda era sexta-feira.
— Boa noite — sorrio para o homem que deduzo ser o porteiro e o mesmo me encara atrás do portão — sou a a nova moradora.
O homem abre o portão e sorri pedindo para que eu entre.
— O síndico me avisou sobre a chegada da senhora — o homem sorriu e me entregou um mole de chaves e um controle de portão — são suas chaves e o controle para ter acesso ao estacionamento.
— Muito obrigada. — Agradeci e o homem simpático sorriu.
E uma vida nova começaria e pensei positivo sobre o futuro ainda desconhecido, mas acreditava que coisas boas aconteceriam, o sol ainda poderia surgir depois dessa tempestade.
Parte 4
Gargalhava ao telefone com contando da reação da família ao conhecer e como queria ter visto a cena. Cumprimentei o porteiro da madrugada que praticamente dormia já passava de duas da manhã. Apertei o botão do elevador e a porta se abriu rapidamente, agradeci e apertei o número do meu andar.
— Quanto tempo você se mudou? — perguntou curiosa e respondeu ela mesma sua pergunta. — Quatro meses e ainda não conheceu o vizinho misterioso.
— Parece que temos horários diferentes — digo — provavelmente quando ele saí eu estou dormindo e quando eu chego é ele quem está dormindo.
— Até eu estou curiosa — minha amiga sorri e gargalho — e na reunião de condomínio?
— Nem sinal — digo e saio do elevador — parece que nunca participou apenas concorda com o quê e decidido.
— Deve ser um desses velhos que vivem em função do trabalho. — diz e sou obrigada a concordar com ela.
— Caralho! — Digo ao encarar meu vizinho.
se assusta e pergunta o que aconteceu, mas não consigo deixar de encarar o homem, misterioso não tão misterioso assim.
— ? — Pergunto e ele me encara curioso.
— Você que é a vizinha ocupada? — Sorri e sacode a cabeça.
— E você o vizinho misterioso? — Quando percebo já estou sorrindo sem saber o motivo.
Encerro a chamada e permaneço encarando o homem a minha frente e as mentiras de Aurora ecoam na minha cabeça e quando ele abre a porta para adentrar o seu apartamento apenas digo.
— Não amo Gael — digo e ele para, mas não me encara — nunca amei.
E ele adentra o apartamento, faço o mesmo e me jogo no sofá e pela primeira vez em muito tempo consigo sorrir apenas por saber que ele está tão perto de mim mesmo tão longe.
Olho para o celular vibrando e me dou um tapa na testa, aceito a chamada de vídeo de e a mesma começa um discurso sobre ter deixado a mesma falando sozinha, que não deixou ouvir a conversar com o vizinho misterioso.
— ! — Digo e ela solta um palavrão. — O vizinho misterioso é ele.
— Putaquepariu! — Solta e escuto pedir para ela falar mais baixo que ele está dormindo, gargalho da cena e ela levanta indo até a sala.
— Ai — começo e ela me encara atenta — eu gostei de saber que ao mesmo tempo em que estamos tão distante, eu o tenho ao meu lado.
— Nunca deixou de amá-lo. — Minha amiga conclui.
— Nenhum dia — admito — mas essa história toda é tão errada que não sei de mais.
— Tudo que é pra ser seu, será — minha amiga afirma — por mais que se afaste, você ache que perdeu o que é seu sempre voltará.
— Eu te amo. — Digo e minha amiga sorri convencida.
— Eu sou a melhor — se gaba — pode falar.
— Convencida! — Brinco e bocejo percebendo que não durmo a praticamente vinte quatro horas. — Tem quase um dia que não durmo.
— Vai descansar — manda um beijo — e não deixa de comer porque se ficar doente eu vou a São Paulo apenas para te bater.
— Entendido. — Sorrio e ela se despede encerrando a ligação.
- * -
Joguei o meu corpo cansado em um dos degraus da escada, respirei fundo e as lágrimas vieram com força, me vi fraca diante do que havia acontecido e de cabeça baixa deixei toda a minha raiva em não poder fazer nada, não acreditariam em mim e se alguém fosse pagar esse alguém, com certeza, seria eu mesma.
— ! — Ouço a voz de , mas não consigo encará-lo e ele senta ao meu lado na escada. — Aconteceu alguma coisa?
Apenas sacudo a cabeça afirmando, as lágrimas não param, o misto de dor e nojo tomam conta do meu corpo.
— Eu fui assediada no trabalho — digo e o escuto soltar um palavrão — o médico responsável pela minha especialização me chamou em seu consultório e ele me disse que poderia “facilitar” as coisas para mim, mas que precisaria fazer alguns favores.
Fecho os olhos ao lembrar do mesmo passando a mão sobre o volume da sua calça e senti vontade de vomitar.
— Que filho da puta. — diz e quando percebo sua mão está em meus cabelos acariciando-os. — Eu vou dar uma surra nele, por você e por todas as mulheres que esse babaca agiu dessa forma.
O encaro e seus olhos me fitam, apenas choro e seus dedos enxugam minhas lágrimas.
— Não vai adiantar — digo com uma tristeza nítida — no fim, nunca somos nós as que ganham a razão, ele vai dizer que não fez nada disso, que eu interpretei mal suas palavras e no final quem saíra perdendo sou eu.
— Que raiva que eu sinto de homens assim — diz e vejo que está irritado — esses vermes deveriam apodrecer na cadeia, mas infelizmente não é exatamente o que acontece.
— Eu quero voltar pra casa — digo e me vejo fraca como nunca estive — eu não posso lidar com isso, eu tenho medo, .
Seus braços me apertam contra si e me sinto em casa dentro do seu abraço. Como se quase sete anos não tivesse passado, como se esse tempo todo nada tivesse mudado.
— Olha para mim — segura meu rosto e não desvio o nosso olhar — você não vai desistir do seu sonho por um merda qualquer, você pode lidar com isso e não precisa ter medo porque a partir de agora eu estarei ao seu lado.
— , não precisa.
— Eu quero — acaricia minha bochecha e fecho meus olhos — e se esse babaca tentar qualquer coisa pode dizer que tem um namorado e que se ele continuar com as gracinhas vai dar uma boa surra nele.
— Namorado? — Pergunto sem entender e ele faz questão de se explicar.
— Que ele pense que somos namorados — se explica — e com certeza, ele se intimidará por saber que tem alguém. Caras como ele usam o fato de saber que uma mulher está sozinha para tentar se aproveitar, coagir e esses tipos de imbecilidades que são mestres.
— Obrigada, ! — Agradeço e o aperto forte.
— É bom ter você na minha vida, de novo. — Afirma e o aperto ainda mais.
Não consegui dizer mais nada apenas o abracei o mais forte que pude, por bastante tempo até ele se levantar e me puxar junto.
— Obrigada pelo jantar — agradeço sentada no sofá do apartamento de — e você conseguiu deixar lasanha congelada com um sabor especial.
— Descobrir a verdade me fez bem — diz e o encaro sem entender — Gael me contou tudo.
O encaro e deixo a xícara de café em cima da mesa de centro, levanto e ando de um lado para o outro.
— Eu me senti como um nada — digo e encaro a vista através da janela e noto sua presença ao meu lado — como se a minha vida nos últimos anos não tivesse passado de uma grande mentira.
— A mentira tem esse poder em nossas vidas. — afirma.
— Eu senti raiva de você, ainda não concordo com algumas atitudes — sou sincera — mas quanto a minha irmã, eu não consigo olhar pra ela, ouvir o seu nome ou lembrar das coisas que ela me contou me deixa enjoada.
— Quando ela disse que você amava o Gael — sacode a cabeça e fecha os olhos, abrindo-os rapidamente — foi como levar uma surra na alma, não podia ser seu amigo porque na minha cabeça você ficaria com meu irmão, e eu não poderia ter sentimentos amorosos pela minha cunhada, eu queria vê-la feliz mesmo que isso custasse a minha.
O encaro e as minhas lágrimas descem pelo meu rosto.
— Eu nunca debochei de você — afirmo — sonhava com o dia em que ouviria que me amava, esperei por muito tempo, mesmo sem saber que já tinha acontecido permaneci esperando.
— Não temos culpa — afirma e concordo — fomos vítimas de mentira, de atitudes precipitadas e pessoas que se meteram entre nós dois.
— Será que estaríamos casados? — Pergunto e escuto sua risada.
— Com certeza — afirma e algo em mim ascende — e seríamos muito felizes.
— Muito. — Afirmo e uma lágrima solitária escapa, mas a enxuga e me abraça forte.
E dormi tranquilamente como se todas as peças voltassem a se encaixar, a primeira vez em quase cinco meses em que não senti raiva de Aurora antes de dormir e pensar na minha vida. E o único pensamento era na conversa que tinha tido com , colocando todas as cartas na mesa, todas as mentiras que ouvimos por anos e vivemos nossas vidas baseadas nas mesmas.
- * -
Deixei o prontuário do paciente com uma das enfermeiras, passei em meu consultório e peguei as minhas coisas, aproveitei para soltar os cabelos ainda no corredor e me assustei ao encontrar conversando com o médico que havia me assediado. Corri até eles e ao me ver uniu as nossas mãos e sorriu para mim, apenas retribuí.
— O doutor — franze o cenho e fingi tentar lembrar algo — esqueci o seu nome, mas aproveitei para me apresentar enquanto esperava por você.
— Gastão. — O Médico diz e percebo que não gostou da brincadeira de , contenho-me, mas gargalho por dentro ao notar que está intimidado pela postura de que tem quase dois metros.
— Vamos, amor? — Entro na brincadeira e meu “namorado” sorri ainda mais.
— Gastão, foi um prazer — aperta a mão do médico, e ele usa um pouco mais de força — temos um filme para assistir.
O homem se afasta e me pego gargalhando ao lado de e ele não solta nossas mãos, porém não falo nada apenas aproveito e gosto da ideia de ter nossas mãos juntas.
— Obrigada — agradeço quando já estamos em seu carro — em uma única noite você me salvou duas vezes, meu carro que furou o pneu e o homem chato que acredito que depois de hoje não vai me dar nem um bom dia.
— Um favor que ele te faz — da partida no carro — e eu juro que da próxima vez não vou me segurar e vou arrebentar ele de porrada.
Gargalho e concordo, mas pedindo que não tenha uma segunda vez, como mulher eu me senti enojada ao vê-lo usar sua superioridade de forma tão suja.
— Shopping? — Pergunto ao perceber que adentramos o estacionamento e ele apenas sorri.
— Eu disse que tínhamos um filme para assistir. — Sorri e para o carro.
Ao descer do carro ele segura minha mão e a aperta, deixando um beijo na mesma e sorri envergonhada ao notar algumas pessoas nos observando.
— Obrigada. — Agradeço e ele beija minha bochecha.
- * -
Terminava de me olhar no espelho, observando a maquiagem que havia feito e sorrindo ao notar que novamente havia feito com que usasse uma saia que havia comprado por esses dias e ela sorria enquanto colocava os sapatos.
— O que houve, doida? — Digo encarando minha melhor amiga.
— Estamos nos arrumando para um encontro — fria a palavra encontro — duplo.
— Não é um encontro — explico e ela me encara sorrindo — apenas comentei com que você viria com para passar o final de semana e ele perguntou se poderia sair com nos três.
gargalha e sacudo a cabeça retocando o batom.
— Vocês dois estão nessa a uns dois meses? — Assinto que sim e ela continua. — Vocês se amam e isso está claro, eu vi os olhares no almoço e eu não me engano.
Vou até a porta e vejo se ou não estão próximos e volto até onde minha amiga está.
— Ele tentou me beijar ontem — grita e tapo sua boca — mas ainda estamos resolvendo as coisas do passado, tudo bem que Aurora fez uma filhadaputagem com nós dois, mas ele errou ao não me procurar e passar a história a limpo.
— Eu concordo com você — afirma e pega sua bolsa em cima da cama — mas eu acredito que se fosse eu ou você no lugar dele teríamos feito a mesma coisa, o cara se declarou, você o beijou, aceitou namorar com ele, não lembrou de nada e sua irmã ainda fez uns favores como dizer que você não o amava, que o achava otário e que amava o irmão dele.
Concordo e realmente eu teria feito a mesma coisa.
— Se ele tentar me beijar novamente — sorri animada e bate as mãos — se… não vou me permitir pensar no passado.
— Seja feliz — me abraça e a aperto forte — apenas isso.
Era a noite do funk na boate escolhida por e sorríamos ao notar sua animação, já rebolando animada e nos arrastou até o bar onde pedimos uma dose de tequila. Não pensei duas vezes em deixar o líquido descer pela garganta, queimava e ria da minha cara.
— Você fica bonitinha quando bebe — brinca e beija meu pescoço — bem bonitinha.
Sorrio e ele permanece no bar com enquanto me arrasta para a pista de dança, havia muitos anos que não me permitia dançar e minha melhor amiga já rebolava olhando diretamente para , enquanto apenas continuava sorrindo na direção de que gritou um “rebola pra mim” e ascendeu algo dentro de mim.
— Velhos tempos? — disse próximo ao meu ouvido e assenti que sim.
Minha amiga colocou a mão na minha cintura, rebolávamos até o chão e sorríamos como há muito tempo não fazíamos.
— Meu Deus! — Disse sentindo cede e me entregou uma cerveja gelada.
Sorria ao ver dançando com e era de fato engraçado vê-lo tentar acompanhar o ritmo da namorada e só confirmei que um era a alma gêmea do outro. Os olhares que trocavam eram de duas pessoas apaixonadas.
— Que cara é essa? — perguntou e tinha muitos planos maquinando em minha mente.
Segurei em sua mão e o puxei até a pista de dança, o mesmo tentou relutar, mas apoiei minha mão em seus ombros e as suas desceram até a minha cintura.
— Dança comigo? — Pedi e ele sorriu fazendo com que girasse e voltasse para seus braços.
Sorríamos dentro de nosso próprio mundo, não eram dois dançarinos, mas duas pessoas felizes que apenas viviam um momento o qual foi esperado por muito tempo.
— Eu vou te beijar — disse e apenas assenti que sim — a partir de agora ninguém tira você da minha vida, a não ser que essa pessoa seja você mesma, mas lhe darei motivos para jamais pensar nessa possibilidade.
— Então me beija — pedi — para sempre.
Seus dedos passearam pelo meu rosto, parando em meu pescoço segurando-o firme e sua boca tocou a minha depois de quase sete anos e retribuí seu beijo com intensidade. E era o momento certo, nem antes, nem depois, apenas o nosso momento, o começo da nossa história e algo me dizia que ainda ouviriam falar bastante de nós dois.
Meses depois
Não precisaria ser um gênio para perceber que claramente minha mãe armará ao me deixar responsável pela louça do almoço, com minha irmã. E agradeci ao seu favor, estava na hora de acertar algumas coisas, dois anos haviam passado, minha especialização em pediatria completa e havia pedido transferência para Curitiba após ser promovido para a empresa de engenharia que ele trabalha oferecer uma vaga em Curitiba.
— Então — minha irmã começou e sua voz parecia falhar — você e o .
— Um ano e seis meses — me refiro ao tempo que estamos juntos — e começamos os planos para o casamento.
— Eu fico muito feliz — minha irmã diz e vejo lágrimas em seus olhos — de verdade não sabe o quanto é aliviador saber que não destruí sua vida de forma irreparável.
Respiro fundo ao pensar nos últimos dois anos sem falar com a mesma, eu comentei que levava tempo para digerir certas coisas, não apressei meu tempo apenas deixei que o meu coração curasse toda raiva que senti ao descobrir toda a verdade. E a cura tem uma mão do meu noivo, me mostrou uma vida inédita, de felicidade, cumplicidade, companheirismo e o mesmo me fez acreditar que o que aconteceu com nos dois foi apenas para nos fortalecer, nos preparar para nosso momento certo vivermos da forma possível.
— Eu estou feliz — digo e recebo um olhar emocionado de Aurora — o que eu vivo com o hoje me fez enxergar muitas coisas e uma delas é que jamais poderemos mudar o que foi feito ou dito, mas, hoje, eu quero de volta a minha irmã porque o amor que eu sinto por ela só me fez perceber que eu nunca te odiei, eu quis muito, mas você será sempre a minha irmãzinha.
Aurora correu e me abraçou forte e choramos as duas juntas, minha mãe apareceu chorando e nos abraçou fortemente tornando o momento ainda mais especial.
— E tudo essas mulheres terminam em lágrimas — meu pai brincou e sorrimos para ele — essas mulheres da minha vida.
— Nossas vidas. — e Gael o corrigiram fazendo meu pai sorrir.
- * -
— — sorri ao vê-lo aumentando o volume da televisão e os primeiros acordes da música tão conhecida por nós dois — Dirty Dance?
Gargalhei ao notá-lo iniciando a coreografia, vestia apenas uma cueca e eu estava de calcinha e sutiã e o mesmo me puxou para perto de si.
— I’ve Had The time of my life — diz e me assusto como ele consegue lembrar todos os passos — sua valsa de quinze anos.
— Como fizemos aquele pulo? — Gargalhei e nossos corpos continuavam em sincronia.
Seus olhos estão brilhando e não conseguimos parar de sorrir, a música toca no quarto e quinze anos depois descubro que não esquecemos um detalhe de uma coreografia que levamos meses para aprender. E ele se afasta e me olha para que corra até seus braços e faça o tão esperado giro no ar que levaram meus convidados a loucura.
— — não consigo deixar de rir e ele faz sinal para ir até a ele — eu não to achando uma ideia boa.
— Vem — me incetiva e dá uma reboladinha me fazendo rir ainda mais — vem pro seu príncipe.
Fecho os olhos, corro até ele e seus braços mais musculosos do que a anos atrás me seguram e só consigo abrir os olhos ao notar que ele me gira no ar, desço dos seus braços e ele me agarra contra si, com sua boca buscando pela minha e retribuo com todo o amor que guardei pra mim mesma por anos. E dentro do seu abraço que me encontro depois de um dia cansativo de plantão, pra ele que eu corro quando algo me machuca, um relacionamento não é sinônimo de perfeição, e isso é o que menos me importa de verdade. Eu tenho um melhor amigo e eu sei que sou o mesmo para meu namorado.
— Eu te amo — digo e nossas testas estão coladas, minhas lágrimas já descem pelo meu rosto — eu vejo em você algo que na maioria das vezes não sei definir com palavras, mas apenas uma palavra me vem em minha mente “amor da minha vida”. Você me viu crescer, aprendemos a andar de bicicleta juntos, o único que não me zoou quando eu fiquei com janelinha na boca, eu assinei o seu gesso quando quebrou o braço, você me levou para andar no carrossel quando todo mundo queria ir aos brinquedos mais perigosos.
Minhas lágrimas rolavam pelo meu rosto, me apertou forte contra seu corpo, suas mãos acariciam meus cabelos e beijou minha testa.
— Realmente amor da minha vida — continuo e seus olhos marejados estão fixos nos meus — porque você faz parte dela e me vejo de cabelo branco, sentada em uma cadeira de balanço segurando a sua mão e te olhando com o mesmo amor que resistirá anos, crises e o que tivermos que passar pelo nosso amor.
O abraço ainda mais forte e minhas lágrimas se intensificam porque por um segundo pensei que havia esquecido da nossa história, quando o encontrei e trocamos apenas duas palavras pensei que ali tinha sido o fim, mas o tempo nos mostrou o que de fato havia conseguido, nos reaproximamos aos poucos, nos beijamos depois de anos e ali eu entendi que nosso momento havia chegado, que não tinha volta e eu não me arrependi um segundo se quer.
— Você me empurrou e eu comi terra — finge uma irritação e gargalho lembrando da cena — minha melhor amiga me derrubou porque eu aprendi a andar sem rodinha primeiro.
— Desculpa? — Sorri e ele selou nossos lábios.
— Desculpada — sorriu e colocou meu cabelo atrás da orelha — porque vê-la de janelinha foi recompensador.
Dei um tapa em seu braço e ele beijou minha mão.
— E eu te amo por tudo isso, — o encaro e sorrio perdidamente apaixonada — por poder compartilhar com você não os melhores momentos, mas sim a minha vida, sabe? Eu olho para cada cicatriz e lembro que boa parte delas foram por sua culpa e por ser tão desastrada. E toda vez que eu encaro o meu diploma na parede do meu apartamento eu lembro que quando ninguém acreditou em mim, você apenas você confiou.
O abraço forte, nosso silêncio permanece e nossas lágrimas dizem tudo o que está dentro de nós. Acaricio seu rosto e me sinto grata em poder compartilhar a minha vida com ele. Nem mais alto, com mais dinheiro, com os olhos de outra cor, apenas ele do seu jeito sem tirar e nem por absolutamente nada.
— ! — Me encara e sorrio sentindo minha felicidade completa. — Eu estou grávida.
Ele leva suas mãos até o rosto, caindo de joelhos no chão e abraça minha barriga, suas lágrimas molham minha barriga e me vejo hora sorrindo hora chorando.
— Eu te amo — um beijo — eu te amo — seus braços me rodopiam no ar e me vejo sorrindo sem parar.
Suas mãos seguram firmes nas minhas e quando estamos próximos a porta o puxo para lembrar como estamos vestidos e ele corre até o banheiro trazendo os roupões.
— já e tarde — digo ao lembrar que acabamos dormindo nos meus pais pela mudança só chegar no dia seguinte — amor vamos deixar pra amanhã.
Nega com a cabeça, bate na porta do quarto de Aurora que também ficou na casa dos nossos pais, fazendo o mesmo na porta dos quartos dos meus pais e não preciso dizer que os quatro apareceram sem entender o que de fato estava acontecendo, porém comigo em seu colo desceu a escada saltitando, parecia uma criança de quatro anos quando ganhava doce.
— que putaria é essa? — Gael disse e esfregava o rosto.
— Meu filho — meu pai disse cansado — não poderia esperar até amanhã?
E meu namorado começou a rir recebendo olhares confusos, andou de um lado para o outro e simplesmente gritou a notícia.
— — ele gritou animado e só conseguia sorrir — está grávida.
— Grávida? — Minha mãe disse assustada e se segurou no meu pai. — Grávida tipo grávida?
Putaquepariu.
— Sim, sogrinha — disse e acariciou minha barriga — tem um bebê nessa barriguinha linda.
Minha mãe soltou algumas palavras confusas, caindo nos braços do meu pai e Gael a colocou deitada ainda desmaiada no sofá.
— Caralho, ! — Disse assustada correndo até minha mãe já recobrando a consciência. — Quer deixar a criança sem avó antes de nascer.
Ambos sorriam, Aurora e Gael abraçaram meu namorado e minha mãe aos prantos me abraçou forte e meu pai fez o mesmo que ela. E começaram a falar sem parar, pelo menos os próximos dezoito anos da criança já estava decidido e só olhava tudo com um sorriso nos lábios.
— Eu vou ser tia — Aurora disse feliz e me abraçou — tia.
A apertei forte contra meu corpo e sorríamos juntas.
Mamãe decidiu às quatro da manhã preparar um lanchinho porque segundo ela eu estava bem magrinha precisando me alimentar melhor já que tenho um bebê dentro de mim e deixei que me mimasse o quanto quisesse. E com a minha volta para Curitiba acredito que ela fará isso sempre, ainda mais quando souber que compramos a nossa casa em um condomínio bem próximo das duas famílias.
— A minha transferência não podia vir em hora melhor — sorri e me ajeito em seu colo — e nem acredito que conseguiu a sua também.
Acaricio a barriga e ele sorri entendendo que nosso filho foi o suficiente para meu chefe não pensar duas vezes quando cheguei aos prantos dizendo que havia acabado de descobrir a gravidez, mas meu namorado tinha sido promovido na empresa de engenharia que trabalhava, mas precisaria voltar para Curitiba.
— O homem achou que havia enlouquecido no escritório dele — Gargalho e me olha atentamente ouvindo a história — porque eu chorava contando da sua transferência e da minha gravidez, mas em ordens totalmente misturaxas, mas, por fim, consegui explicar e ele não pensou duas vezes.
— Missão pais? — me encara e apenas assinto que sim.
— Missão pais. — selo nossos lábios rapidamente.
Sua boca procura pela minha e apoio em seus ombros, suas mãos apertam a minha cintura e sua boca beija desde o meu pescoço até a minha barriga. E deitada em seus braços me sinto realizada por completo.
— Quanto tempo você se mudou? — perguntou curiosa e respondeu ela mesma sua pergunta. — Quatro meses e ainda não conheceu o vizinho misterioso.
— Parece que temos horários diferentes — digo — provavelmente quando ele saí eu estou dormindo e quando eu chego é ele quem está dormindo.
— Até eu estou curiosa — minha amiga sorri e gargalho — e na reunião de condomínio?
— Nem sinal — digo e saio do elevador — parece que nunca participou apenas concorda com o quê e decidido.
— Deve ser um desses velhos que vivem em função do trabalho. — diz e sou obrigada a concordar com ela.
— Caralho! — Digo ao encarar meu vizinho.
se assusta e pergunta o que aconteceu, mas não consigo deixar de encarar o homem, misterioso não tão misterioso assim.
— ? — Pergunto e ele me encara curioso.
— Você que é a vizinha ocupada? — Sorri e sacode a cabeça.
— E você o vizinho misterioso? — Quando percebo já estou sorrindo sem saber o motivo.
Encerro a chamada e permaneço encarando o homem a minha frente e as mentiras de Aurora ecoam na minha cabeça e quando ele abre a porta para adentrar o seu apartamento apenas digo.
— Não amo Gael — digo e ele para, mas não me encara — nunca amei.
E ele adentra o apartamento, faço o mesmo e me jogo no sofá e pela primeira vez em muito tempo consigo sorrir apenas por saber que ele está tão perto de mim mesmo tão longe.
Olho para o celular vibrando e me dou um tapa na testa, aceito a chamada de vídeo de e a mesma começa um discurso sobre ter deixado a mesma falando sozinha, que não deixou ouvir a conversar com o vizinho misterioso.
— ! — Digo e ela solta um palavrão. — O vizinho misterioso é ele.
— Putaquepariu! — Solta e escuto pedir para ela falar mais baixo que ele está dormindo, gargalho da cena e ela levanta indo até a sala.
— Ai — começo e ela me encara atenta — eu gostei de saber que ao mesmo tempo em que estamos tão distante, eu o tenho ao meu lado.
— Nunca deixou de amá-lo. — Minha amiga conclui.
— Nenhum dia — admito — mas essa história toda é tão errada que não sei de mais.
— Tudo que é pra ser seu, será — minha amiga afirma — por mais que se afaste, você ache que perdeu o que é seu sempre voltará.
— Eu te amo. — Digo e minha amiga sorri convencida.
— Eu sou a melhor — se gaba — pode falar.
— Convencida! — Brinco e bocejo percebendo que não durmo a praticamente vinte quatro horas. — Tem quase um dia que não durmo.
— Vai descansar — manda um beijo — e não deixa de comer porque se ficar doente eu vou a São Paulo apenas para te bater.
— Entendido. — Sorrio e ela se despede encerrando a ligação.
— ! — Ouço a voz de , mas não consigo encará-lo e ele senta ao meu lado na escada. — Aconteceu alguma coisa?
Apenas sacudo a cabeça afirmando, as lágrimas não param, o misto de dor e nojo tomam conta do meu corpo.
— Eu fui assediada no trabalho — digo e o escuto soltar um palavrão — o médico responsável pela minha especialização me chamou em seu consultório e ele me disse que poderia “facilitar” as coisas para mim, mas que precisaria fazer alguns favores.
Fecho os olhos ao lembrar do mesmo passando a mão sobre o volume da sua calça e senti vontade de vomitar.
— Que filho da puta. — diz e quando percebo sua mão está em meus cabelos acariciando-os. — Eu vou dar uma surra nele, por você e por todas as mulheres que esse babaca agiu dessa forma.
O encaro e seus olhos me fitam, apenas choro e seus dedos enxugam minhas lágrimas.
— Não vai adiantar — digo com uma tristeza nítida — no fim, nunca somos nós as que ganham a razão, ele vai dizer que não fez nada disso, que eu interpretei mal suas palavras e no final quem saíra perdendo sou eu.
— Que raiva que eu sinto de homens assim — diz e vejo que está irritado — esses vermes deveriam apodrecer na cadeia, mas infelizmente não é exatamente o que acontece.
— Eu quero voltar pra casa — digo e me vejo fraca como nunca estive — eu não posso lidar com isso, eu tenho medo, .
Seus braços me apertam contra si e me sinto em casa dentro do seu abraço. Como se quase sete anos não tivesse passado, como se esse tempo todo nada tivesse mudado.
— Olha para mim — segura meu rosto e não desvio o nosso olhar — você não vai desistir do seu sonho por um merda qualquer, você pode lidar com isso e não precisa ter medo porque a partir de agora eu estarei ao seu lado.
— , não precisa.
— Eu quero — acaricia minha bochecha e fecho meus olhos — e se esse babaca tentar qualquer coisa pode dizer que tem um namorado e que se ele continuar com as gracinhas vai dar uma boa surra nele.
— Namorado? — Pergunto sem entender e ele faz questão de se explicar.
— Que ele pense que somos namorados — se explica — e com certeza, ele se intimidará por saber que tem alguém. Caras como ele usam o fato de saber que uma mulher está sozinha para tentar se aproveitar, coagir e esses tipos de imbecilidades que são mestres.
— Obrigada, ! — Agradeço e o aperto forte.
— É bom ter você na minha vida, de novo. — Afirma e o aperto ainda mais.
Não consegui dizer mais nada apenas o abracei o mais forte que pude, por bastante tempo até ele se levantar e me puxar junto.
— Obrigada pelo jantar — agradeço sentada no sofá do apartamento de — e você conseguiu deixar lasanha congelada com um sabor especial.
— Descobrir a verdade me fez bem — diz e o encaro sem entender — Gael me contou tudo.
O encaro e deixo a xícara de café em cima da mesa de centro, levanto e ando de um lado para o outro.
— Eu me senti como um nada — digo e encaro a vista através da janela e noto sua presença ao meu lado — como se a minha vida nos últimos anos não tivesse passado de uma grande mentira.
— A mentira tem esse poder em nossas vidas. — afirma.
— Eu senti raiva de você, ainda não concordo com algumas atitudes — sou sincera — mas quanto a minha irmã, eu não consigo olhar pra ela, ouvir o seu nome ou lembrar das coisas que ela me contou me deixa enjoada.
— Quando ela disse que você amava o Gael — sacode a cabeça e fecha os olhos, abrindo-os rapidamente — foi como levar uma surra na alma, não podia ser seu amigo porque na minha cabeça você ficaria com meu irmão, e eu não poderia ter sentimentos amorosos pela minha cunhada, eu queria vê-la feliz mesmo que isso custasse a minha.
O encaro e as minhas lágrimas descem pelo meu rosto.
— Eu nunca debochei de você — afirmo — sonhava com o dia em que ouviria que me amava, esperei por muito tempo, mesmo sem saber que já tinha acontecido permaneci esperando.
— Não temos culpa — afirma e concordo — fomos vítimas de mentira, de atitudes precipitadas e pessoas que se meteram entre nós dois.
— Será que estaríamos casados? — Pergunto e escuto sua risada.
— Com certeza — afirma e algo em mim ascende — e seríamos muito felizes.
— Muito. — Afirmo e uma lágrima solitária escapa, mas a enxuga e me abraça forte.
E dormi tranquilamente como se todas as peças voltassem a se encaixar, a primeira vez em quase cinco meses em que não senti raiva de Aurora antes de dormir e pensar na minha vida. E o único pensamento era na conversa que tinha tido com , colocando todas as cartas na mesa, todas as mentiras que ouvimos por anos e vivemos nossas vidas baseadas nas mesmas.
— O doutor — franze o cenho e fingi tentar lembrar algo — esqueci o seu nome, mas aproveitei para me apresentar enquanto esperava por você.
— Gastão. — O Médico diz e percebo que não gostou da brincadeira de , contenho-me, mas gargalho por dentro ao notar que está intimidado pela postura de que tem quase dois metros.
— Vamos, amor? — Entro na brincadeira e meu “namorado” sorri ainda mais.
— Gastão, foi um prazer — aperta a mão do médico, e ele usa um pouco mais de força — temos um filme para assistir.
O homem se afasta e me pego gargalhando ao lado de e ele não solta nossas mãos, porém não falo nada apenas aproveito e gosto da ideia de ter nossas mãos juntas.
— Obrigada — agradeço quando já estamos em seu carro — em uma única noite você me salvou duas vezes, meu carro que furou o pneu e o homem chato que acredito que depois de hoje não vai me dar nem um bom dia.
— Um favor que ele te faz — da partida no carro — e eu juro que da próxima vez não vou me segurar e vou arrebentar ele de porrada.
Gargalho e concordo, mas pedindo que não tenha uma segunda vez, como mulher eu me senti enojada ao vê-lo usar sua superioridade de forma tão suja.
— Shopping? — Pergunto ao perceber que adentramos o estacionamento e ele apenas sorri.
— Eu disse que tínhamos um filme para assistir. — Sorri e para o carro.
Ao descer do carro ele segura minha mão e a aperta, deixando um beijo na mesma e sorri envergonhada ao notar algumas pessoas nos observando.
— Obrigada. — Agradeço e ele beija minha bochecha.
— O que houve, doida? — Digo encarando minha melhor amiga.
— Estamos nos arrumando para um encontro — fria a palavra encontro — duplo.
— Não é um encontro — explico e ela me encara sorrindo — apenas comentei com que você viria com para passar o final de semana e ele perguntou se poderia sair com nos três.
gargalha e sacudo a cabeça retocando o batom.
— Vocês dois estão nessa a uns dois meses? — Assinto que sim e ela continua. — Vocês se amam e isso está claro, eu vi os olhares no almoço e eu não me engano.
Vou até a porta e vejo se ou não estão próximos e volto até onde minha amiga está.
— Ele tentou me beijar ontem — grita e tapo sua boca — mas ainda estamos resolvendo as coisas do passado, tudo bem que Aurora fez uma filhadaputagem com nós dois, mas ele errou ao não me procurar e passar a história a limpo.
— Eu concordo com você — afirma e pega sua bolsa em cima da cama — mas eu acredito que se fosse eu ou você no lugar dele teríamos feito a mesma coisa, o cara se declarou, você o beijou, aceitou namorar com ele, não lembrou de nada e sua irmã ainda fez uns favores como dizer que você não o amava, que o achava otário e que amava o irmão dele.
Concordo e realmente eu teria feito a mesma coisa.
— Se ele tentar me beijar novamente — sorri animada e bate as mãos — se… não vou me permitir pensar no passado.
— Seja feliz — me abraça e a aperto forte — apenas isso.
Era a noite do funk na boate escolhida por e sorríamos ao notar sua animação, já rebolando animada e nos arrastou até o bar onde pedimos uma dose de tequila. Não pensei duas vezes em deixar o líquido descer pela garganta, queimava e ria da minha cara.
— Você fica bonitinha quando bebe — brinca e beija meu pescoço — bem bonitinha.
Sorrio e ele permanece no bar com enquanto me arrasta para a pista de dança, havia muitos anos que não me permitia dançar e minha melhor amiga já rebolava olhando diretamente para , enquanto apenas continuava sorrindo na direção de que gritou um “rebola pra mim” e ascendeu algo dentro de mim.
— Velhos tempos? — disse próximo ao meu ouvido e assenti que sim.
Minha amiga colocou a mão na minha cintura, rebolávamos até o chão e sorríamos como há muito tempo não fazíamos.
— Meu Deus! — Disse sentindo cede e me entregou uma cerveja gelada.
Sorria ao ver dançando com e era de fato engraçado vê-lo tentar acompanhar o ritmo da namorada e só confirmei que um era a alma gêmea do outro. Os olhares que trocavam eram de duas pessoas apaixonadas.
— Que cara é essa? — perguntou e tinha muitos planos maquinando em minha mente.
Segurei em sua mão e o puxei até a pista de dança, o mesmo tentou relutar, mas apoiei minha mão em seus ombros e as suas desceram até a minha cintura.
— Dança comigo? — Pedi e ele sorriu fazendo com que girasse e voltasse para seus braços.
Sorríamos dentro de nosso próprio mundo, não eram dois dançarinos, mas duas pessoas felizes que apenas viviam um momento o qual foi esperado por muito tempo.
— Eu vou te beijar — disse e apenas assenti que sim — a partir de agora ninguém tira você da minha vida, a não ser que essa pessoa seja você mesma, mas lhe darei motivos para jamais pensar nessa possibilidade.
— Então me beija — pedi — para sempre.
Seus dedos passearam pelo meu rosto, parando em meu pescoço segurando-o firme e sua boca tocou a minha depois de quase sete anos e retribuí seu beijo com intensidade. E era o momento certo, nem antes, nem depois, apenas o nosso momento, o começo da nossa história e algo me dizia que ainda ouviriam falar bastante de nós dois.
— Então — minha irmã começou e sua voz parecia falhar — você e o .
— Um ano e seis meses — me refiro ao tempo que estamos juntos — e começamos os planos para o casamento.
— Eu fico muito feliz — minha irmã diz e vejo lágrimas em seus olhos — de verdade não sabe o quanto é aliviador saber que não destruí sua vida de forma irreparável.
Respiro fundo ao pensar nos últimos dois anos sem falar com a mesma, eu comentei que levava tempo para digerir certas coisas, não apressei meu tempo apenas deixei que o meu coração curasse toda raiva que senti ao descobrir toda a verdade. E a cura tem uma mão do meu noivo, me mostrou uma vida inédita, de felicidade, cumplicidade, companheirismo e o mesmo me fez acreditar que o que aconteceu com nos dois foi apenas para nos fortalecer, nos preparar para nosso momento certo vivermos da forma possível.
— Eu estou feliz — digo e recebo um olhar emocionado de Aurora — o que eu vivo com o hoje me fez enxergar muitas coisas e uma delas é que jamais poderemos mudar o que foi feito ou dito, mas, hoje, eu quero de volta a minha irmã porque o amor que eu sinto por ela só me fez perceber que eu nunca te odiei, eu quis muito, mas você será sempre a minha irmãzinha.
Aurora correu e me abraçou forte e choramos as duas juntas, minha mãe apareceu chorando e nos abraçou fortemente tornando o momento ainda mais especial.
— E tudo essas mulheres terminam em lágrimas — meu pai brincou e sorrimos para ele — essas mulheres da minha vida.
— Nossas vidas. — e Gael o corrigiram fazendo meu pai sorrir.
Gargalhei ao notá-lo iniciando a coreografia, vestia apenas uma cueca e eu estava de calcinha e sutiã e o mesmo me puxou para perto de si.
— I’ve Had The time of my life — diz e me assusto como ele consegue lembrar todos os passos — sua valsa de quinze anos.
— Como fizemos aquele pulo? — Gargalhei e nossos corpos continuavam em sincronia.
Seus olhos estão brilhando e não conseguimos parar de sorrir, a música toca no quarto e quinze anos depois descubro que não esquecemos um detalhe de uma coreografia que levamos meses para aprender. E ele se afasta e me olha para que corra até seus braços e faça o tão esperado giro no ar que levaram meus convidados a loucura.
— — não consigo deixar de rir e ele faz sinal para ir até a ele — eu não to achando uma ideia boa.
— Vem — me incetiva e dá uma reboladinha me fazendo rir ainda mais — vem pro seu príncipe.
Fecho os olhos, corro até ele e seus braços mais musculosos do que a anos atrás me seguram e só consigo abrir os olhos ao notar que ele me gira no ar, desço dos seus braços e ele me agarra contra si, com sua boca buscando pela minha e retribuo com todo o amor que guardei pra mim mesma por anos. E dentro do seu abraço que me encontro depois de um dia cansativo de plantão, pra ele que eu corro quando algo me machuca, um relacionamento não é sinônimo de perfeição, e isso é o que menos me importa de verdade. Eu tenho um melhor amigo e eu sei que sou o mesmo para meu namorado.
— Eu te amo — digo e nossas testas estão coladas, minhas lágrimas já descem pelo meu rosto — eu vejo em você algo que na maioria das vezes não sei definir com palavras, mas apenas uma palavra me vem em minha mente “amor da minha vida”. Você me viu crescer, aprendemos a andar de bicicleta juntos, o único que não me zoou quando eu fiquei com janelinha na boca, eu assinei o seu gesso quando quebrou o braço, você me levou para andar no carrossel quando todo mundo queria ir aos brinquedos mais perigosos.
Minhas lágrimas rolavam pelo meu rosto, me apertou forte contra seu corpo, suas mãos acariciam meus cabelos e beijou minha testa.
— Realmente amor da minha vida — continuo e seus olhos marejados estão fixos nos meus — porque você faz parte dela e me vejo de cabelo branco, sentada em uma cadeira de balanço segurando a sua mão e te olhando com o mesmo amor que resistirá anos, crises e o que tivermos que passar pelo nosso amor.
O abraço ainda mais forte e minhas lágrimas se intensificam porque por um segundo pensei que havia esquecido da nossa história, quando o encontrei e trocamos apenas duas palavras pensei que ali tinha sido o fim, mas o tempo nos mostrou o que de fato havia conseguido, nos reaproximamos aos poucos, nos beijamos depois de anos e ali eu entendi que nosso momento havia chegado, que não tinha volta e eu não me arrependi um segundo se quer.
— Você me empurrou e eu comi terra — finge uma irritação e gargalho lembrando da cena — minha melhor amiga me derrubou porque eu aprendi a andar sem rodinha primeiro.
— Desculpa? — Sorri e ele selou nossos lábios.
— Desculpada — sorriu e colocou meu cabelo atrás da orelha — porque vê-la de janelinha foi recompensador.
Dei um tapa em seu braço e ele beijou minha mão.
— E eu te amo por tudo isso, — o encaro e sorrio perdidamente apaixonada — por poder compartilhar com você não os melhores momentos, mas sim a minha vida, sabe? Eu olho para cada cicatriz e lembro que boa parte delas foram por sua culpa e por ser tão desastrada. E toda vez que eu encaro o meu diploma na parede do meu apartamento eu lembro que quando ninguém acreditou em mim, você apenas você confiou.
O abraço forte, nosso silêncio permanece e nossas lágrimas dizem tudo o que está dentro de nós. Acaricio seu rosto e me sinto grata em poder compartilhar a minha vida com ele. Nem mais alto, com mais dinheiro, com os olhos de outra cor, apenas ele do seu jeito sem tirar e nem por absolutamente nada.
— ! — Me encara e sorrio sentindo minha felicidade completa. — Eu estou grávida.
Ele leva suas mãos até o rosto, caindo de joelhos no chão e abraça minha barriga, suas lágrimas molham minha barriga e me vejo hora sorrindo hora chorando.
— Eu te amo — um beijo — eu te amo — seus braços me rodopiam no ar e me vejo sorrindo sem parar.
Suas mãos seguram firmes nas minhas e quando estamos próximos a porta o puxo para lembrar como estamos vestidos e ele corre até o banheiro trazendo os roupões.
— já e tarde — digo ao lembrar que acabamos dormindo nos meus pais pela mudança só chegar no dia seguinte — amor vamos deixar pra amanhã.
Nega com a cabeça, bate na porta do quarto de Aurora que também ficou na casa dos nossos pais, fazendo o mesmo na porta dos quartos dos meus pais e não preciso dizer que os quatro apareceram sem entender o que de fato estava acontecendo, porém comigo em seu colo desceu a escada saltitando, parecia uma criança de quatro anos quando ganhava doce.
— que putaria é essa? — Gael disse e esfregava o rosto.
— Meu filho — meu pai disse cansado — não poderia esperar até amanhã?
E meu namorado começou a rir recebendo olhares confusos, andou de um lado para o outro e simplesmente gritou a notícia.
— — ele gritou animado e só conseguia sorrir — está grávida.
— Grávida? — Minha mãe disse assustada e se segurou no meu pai. — Grávida tipo grávida?
Putaquepariu.
— Sim, sogrinha — disse e acariciou minha barriga — tem um bebê nessa barriguinha linda.
Minha mãe soltou algumas palavras confusas, caindo nos braços do meu pai e Gael a colocou deitada ainda desmaiada no sofá.
— Caralho, ! — Disse assustada correndo até minha mãe já recobrando a consciência. — Quer deixar a criança sem avó antes de nascer.
Ambos sorriam, Aurora e Gael abraçaram meu namorado e minha mãe aos prantos me abraçou forte e meu pai fez o mesmo que ela. E começaram a falar sem parar, pelo menos os próximos dezoito anos da criança já estava decidido e só olhava tudo com um sorriso nos lábios.
— Eu vou ser tia — Aurora disse feliz e me abraçou — tia.
A apertei forte contra meu corpo e sorríamos juntas.
Mamãe decidiu às quatro da manhã preparar um lanchinho porque segundo ela eu estava bem magrinha precisando me alimentar melhor já que tenho um bebê dentro de mim e deixei que me mimasse o quanto quisesse. E com a minha volta para Curitiba acredito que ela fará isso sempre, ainda mais quando souber que compramos a nossa casa em um condomínio bem próximo das duas famílias.
— A minha transferência não podia vir em hora melhor — sorri e me ajeito em seu colo — e nem acredito que conseguiu a sua também.
Acaricio a barriga e ele sorri entendendo que nosso filho foi o suficiente para meu chefe não pensar duas vezes quando cheguei aos prantos dizendo que havia acabado de descobrir a gravidez, mas meu namorado tinha sido promovido na empresa de engenharia que trabalhava, mas precisaria voltar para Curitiba.
— O homem achou que havia enlouquecido no escritório dele — Gargalho e me olha atentamente ouvindo a história — porque eu chorava contando da sua transferência e da minha gravidez, mas em ordens totalmente misturaxas, mas, por fim, consegui explicar e ele não pensou duas vezes.
— Missão pais? — me encara e apenas assinto que sim.
— Missão pais. — selo nossos lábios rapidamente.
Sua boca procura pela minha e apoio em seus ombros, suas mãos apertam a minha cintura e sua boca beija desde o meu pescoço até a minha barriga. E deitada em seus braços me sinto realizada por completo.
Fim.
Nota da autora: Felicidade em terminar essa história. E espero que eu consiga ter transmitido coisas boas até você que está lendo essa história porque eu amei escrever cada pedacinho. E pensar que essa ideia estava em meu notebook há anos, mas nada parecia combinar, nunca animava em escrevê-la e foi vagar essa música que de repente eu vi muitas coisas se encaixando. E não vou me prolongar muito porque se deixar faço de uma nota um livro. E agradeço a você que leu, mesmo que não tenha gostado agradeço por ter separado um tempo para dar uma chance a leitura. E as pessoas que estão nessa organização desde a organizadora até a beta meu agradecimento.
Forma de encontrar a autora?
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Forma de encontrar a autora?