Capítulo Único
— Estamos tão ansiosas, ! - Um sorriso tomou meu rosto assim que Lia bateu palmas animadas ao lado de Giulia, e eu contava os dias para abraçá-las porque aquela tela de computador de nada servia para matar as saudades.
— Também estou! Quatro anos pareceram quatro décadas. - Revirei os olhos, imaginando que faltavam poucos dias até que eu atravessasse o oceano e pudéssemos, finalmente, completar o nosso trio.
— Mostra o anel de novo? - Giu se aproximou da câmera assim que perguntou. Acatei ao pedido que, eu sabia que era de ambas e as vi vibrarem como se fosse a primeira vez que viam os quilates pendurados em meu dedo anelar esquerdo.
A joia fora pendurada há pouco mais de um ano e tudo acontecera rápido demais, mas ao mesmo tempo parecia ser o lugar que cada coisa se pertencia. O anel era o único artigo que luxo que eu possuía e me orgulhava de tal, até porque, com o homem que vou me casar, isso se tornaria um hábito comum.
— Me digam que está tudo certo com os vestidos de vocês. - As encarei. — Sei que gostam de deixar tudo pra última hora, mas dessa vez, sogrinha está me sufocando! - Bufei, algo que realmente se tornara usual quando citávamos a mãe do meu noivo. — Preciso ir, estou repassando os últimos relatórios para Andres. Em três dias nos vemos. Tomem anticoncepcional! - Brinquei, mandando um beijo no ar para as garotas e vendo-as retribuírem para desligarmos.
Sequer vi o horário de almoço passar, enquanto eu a Andres revíamos os últimos processos de compra dos imóveis residenciais que clientes começaram enrolar com as parcelas em que se dividiram. Tentei finalizar todos os processos de compra até a viagem, mas não mandava no bolso dos clientes, então, todos estavam nas mãos de Andrés e eu sabia, que eram as melhores mãos deste escritório.
Me joguei no sofá assim que atravessei as portas de casa, ouvindo os passos apressados das empregadas nos corredores da mansão, dado que faltava pouco para o horário da mesa de jantar ser posta. Subi as escadas, ouvindo os mesmos passos apressados às minhas costas, buscando pelas pastas que deixei no sofá e levando-as para o escritório. Adentrei o quarto e me esparramei pela cama que era confortável a qualquer hora do dia, mas agora me parecia mil vezes mais. Suspirei e fechei os olhos, buscando alguns minutos de silêncio para organizar os pensamentos, automaticamente sentindo uma enxurrada de pensamentos, como em uma retrospectiva e como as coisas mudaram, em tão pouco tempo, era quase surreal acreditar, inclusive, que em poucos dias, eu serei a senhora Morales.
Vi a maçaneta da porta girar e ela ser aberta, para os lindos olhos azuis aparecerem, acesos e intensos como de costume.
— Boa noite, senhor Senador. - O saudei, brincalhona, assim que o vi andar até mim, buscando um espaço para si na cama também.
— Boa noite, senhora Morales. - Depositou um selinho robótico em meus lábios.
— Apenas em alguns dias, cariño. - Segurei em seu queixo, beijando a ponta do seu nariz.
— Carlos quer mudar a arquitetura interna de todo o espaço, já fez uma votação para as cores das paredes e tudo mais. - Disparou a falar sobre o Palácio das Cortes de Madri.
— Mas o Palácio não é patrimônio nacional, ou algo assim?
— E adianta falar pra ele?
— E adianta eu dizer pra você não trazer os problemas do Congresso pra casa? - Alfonso bufou, caindo de costas na cama.
Me custou alguns suspiros para não o retrucar, mas agora, importava mais, descansar o que me era possível. Toda a tensão antes do casamento estava cada vez mais forte, somando aos nossos empregos tudo parecia conspirar contra nós e alguns contratos eu precisaria levar para a viagem, que não teria lua-de-mel. Estávamos próximos das eleições espanholas e Alfonso não poderia se afastar agora ou surgiriam projetos de Lei até do esgoto. Apressamos o casamento por uma superstição de sua mãe, Ana Flores, de que seu único filho deveria casar-se no trigésimo primeiro dia, após seu trigésimo primeiro ano de vida completo, para anos felizes e longínquos. Ouvimos batidas suaves na porta e ambos levantamos apernas a cabeça para saber de quem se tratava.
— A senhora Ana Flores ainda não chegou, devemos servir o jantar ou aguardá-la? - Perguntou Lola, um tanto acanhada, constantemente arrumando a gola do seu uniforme.
— Sirvam. - Alfonso se limitou, curto e grosso, dispensando-a com um aceno de mão.
— Você deveria ser mais gentil com elas, Alfonso. Não deve ser fácil manter uma casa deste tamanho em ordem e está sempre perfeita.
— Pagamos uma fortuna para cada uma delas. - Se limitou mais uma vez, massageando as têmporas. O observei mais alguns segundos, balançando minha cabeça negativamente, me levantando e seguindo para a sala de jantar.
Me sentei, encarando a mesa farta à minha frente e desviando o olhar até as empregadas enfileiradas antes do corredor que levava à cozinha. Céus, pareciam um exército em guerra. Era um tanto aflitivo vê-las da forma que estavam, mas Ana Flores mantinha o exército na linha e não havia quem ousasse contradizê-la.
Me ajeitei na cadeira, pondo o guardanapo em minhas coxas e assistindo Lola tirar a cloche que cobria meu prato. Agradeci e logo dei a primeira garfada, agradecendo a agilidade porque eu estava faminta. Pude ouvir os passos pesados de Alfonso até a sala de jantar, ainda com uma ruga entre as sobrancelhas e cara fechada. Sentou-se ao meu lado, na ponta da mesa como sua mãe exigia ser e teve sua cloche retirada também.
— Sequer pôde esperar por seu futuro marido, . - Exprimiu ranzinza e nada proferi, apenas finalizei a taça de vinho ao meu lado, sinalizando para que a enchessem mais uma vez.
O jantar seguiu silencioso e Alfonso reclamava de tudo que tinha direito, fazendo-me preferir ouvir apenas o tilintar dos talheres quando cada segundo durava uma eternidade. Para completar, Ana Flores logo anunciou sua entrada, triunfal como gostava de fazer e prontamente senti a comida perder o sabor.
— Como famintos, não puderam se segurar, certo? - Julgou-nos enquanto jantávamos.
— Alfonso autorizou que servissem. - Respondi de prontidão, vendo-a franzir o cenho.
— Seu papel mínimo como esposa era contê-lo.
Mais uma vez, talvez a milésima nesta noite, me contive para retrucá-la, eram tempos árduos para todos nós.
Após o jantar, Alfonso se virou e dormiu em um lado da cama, porém como já era de se esperar, demorei algumas horas, encarando o teto até que sentisse o cansaço pesar em meus olhos.
— ! ! ! - Senti um aperto em meu braço, até que ele me chacoalhou de uma vez, acordando-me. — Meu broche. Onde está?
— Não faço ideia, você só os usa em reuniões interestaduais.
— Por coincidência, hoje, . Acorde! Céus! - Chispou.
— Pra onde você vai? - Me sentei na cama, esfregando os olhos.
— Vamos para Vigo. Não vou viajar com você, vou depois.
— Mas, Alfonso...
— Precisamos percorrer Barcelona, Valência, Marbella e Valladolid. Não posso faltar, mas te mando mensagem. - Disse automático como um robô. — Me avise quando chegar lá. - Apressou-se até a porta do quarto, mandando um beijo no ar antes de sumir por ela.
Deveria ser alguma espécie de pecado capital ou sei lá, mas internamente, agradeci no primeiro segundo que o vi sumir porta afora e agradeci ainda mais, o silêncio que a casa inteira se tornou. Me afundei em meio os travesseiros, buscando apenas por meu celular e respondendo as mensagens mais importantes. Apaguei as luzes do quarto e liguei a TV, procurando séries dignas de maratonas pelo dia inteiro, porque era isso que eu iria fazer.
Phoebe, Ross, Monica, Chandler, Rachel e Joey me entretiveram durante parte generosa do dia e as horas, desta forma, passaram muito mais rápido do que imaginei, de maneira que levantei vez ou outra quando o Netflix perguntou se ainda havia alguém assistindo apenas para pegar alguma fatia de bolo ou algo do tipo para beliscar, dispensando os serviços de café da manhã e almoço. Ana Flores não dera as caras e não imaginava que o faria antes do jantar, por algum motivo, ela mantinha-se ocupada demais todos os dias, o dia inteiro e todas as providências do casamento já foram tomadas, predominantemente por ela. Em minhas mãos, estavam as funções de entrar em um vestido e dizer ‘sim’, de resto, ela já havia feito.
Criei coragem para levantar e tomar um banho, buscando acordar de uma vez, expulsando a preguiça do corpo. Tudo tornou mais fácil quando vi uma foto minha junto de Lia e Giulia, anos atrás e agora, eu só precisava arrumar as coisas na mala para voar até lá. Até onde eu nasci, cresci, aprendi, errei e me arrependi, no entanto, principalmente, onde eu fui mais feliz, sem via de dúvidas.
A primeira coisa que eu vou fazer no dia seguinte, é voar pra onde eu pertenço.
As malas se multiplicaram e percebi isso quando precisei de ajuda para deixá-las no andar inferior. Haviam coisas para devolver às meninas e a presenteá-las também, mãe e pai, então? Não consegui nem falar, era de partir o coração em mil pedaços.
Ouvi a voz de Ana Flores soar imponente pelos corredores e me deitei na cama, fingindo dormir, quando a ouvi murmurar algo colada à porta inspecionando o quarto que eu havia revirado de cabeça para baixo. Ela saiu e eu corri até a maçaneta, girando a chave para trancá-la, voltando a arrumar a mala, checando-as antes de trancar de uma vez.
O pôr do sol carioca era inigualável e o mundo inteiro sabia disso, mas era sempre bom deixar claro. Da janela do avião, via os prédios pequenos como moradias de formigas, todavia, era o suficiente para sentir meu coração acalentar sem ser por conta do calor na cidade maravilhosa.
No táxi, uma rádio estava sintonizada e algo como uma boa e velha bossa nova tocava, complementando o conjunto de pequenas coisas que me faziam amar esse lugar e a forma como nos recebia. O motorista dizia não sentir, mas eu sentia de longe o cheiro e o frescor do mar, tão diferentes dos espanhóis, tão menos intensos também.
Aproveitando que (ainda) não tinha Ana Flores à tiracolo, passei o endereço de Lia e Giulia para o motorista, mesmo que já pudesse ouvir mamãe reclamando.
O porteiro anunciou a minha subida e involuntariamente, um sorriso brotou nos meus lábios sabendo que assim que a porta do elevador abrisse, eu seria a pessoa mais feliz do universo. Não ouvi o elevador tilintar e isso não importava, porque eu tinha braços envoltos em mim, fortes, saudosos e quentinhos, como eu me lembrava de serem. Minhas amigas da vida inteira, irmãs, estavam finalmente, na minha frente.
— Eu nem acredito. - Disse da melhor forma possível, soando abafada pelos abraços.
— Desgraçada! Quase meia década! - Giulia me apertou mais e nós três rimos.
— Gente, o motorista do táxi me ajudou com as malas e eu preciso pagar a corrida. - Tentei me desvencilhar delas, ouvindo narizes fungarem após as lágrimas.
Voltei à portaria, pagando ao taxista que me fez a gentileza, sentindo o calor usual do Rio de Janeiro começar a aparecer. Quando subi, as meninas já haviam posto as malas para dentro e reclamavam da quantidade delas.
— Está se mudando de volta pra cá, ? - Lia tentou soar ranzinza como gostava de provocar, mas não conseguiu porque logo me abraçava mais uma vez. — Ei, onde está o noivo? - Revirei os olhos. Já era automático, fazer o quê?
— Ele ainda está na Espanha e vai demorar a vir. As eleições estão o prendendo lá e antes de chegar aqui tem uma lista de lugares para verificar. - Expliquei calmamente, sentando no sofá.
— Seus pais sabem que você veio direto pra cá? - Giu cruzou os braços, analisando-me.
— Nem sonham! - Rimos. — Eu quero ir pra praia! - Choraminguei.
Como boas e tradicionais cariocas, em segundos já vestíamos os biquinis e óculos de sol, sentindo o cheiro de mar que nos rodeava e com a tradicional bola debaixo do braço para o futevôlei.
Não fizemos muito além de manter o bronzeado em dia e fofocar por horas, já que as chamadas de vídeo não eram nem de longe a mesma graça de fofocar com água de coco do lado. As risadas eram livres e esta era uma das nossas maiores qualidades, independentemente do tempo que passasse, era como o dia em que, de volta à sexta série, nos juntamos em um grupo de ciências que a professora mesmo escolheu, que no começo reclamamos, mas que pagamos com a língua quinze anos depois.
Já o cronograma carioca havia sido concluído com sucesso, ou como diria Lia: “apenas parte dele”, porque o dia estava apenas começando e eu estava ansiosa.
Horas nos separaram até que pudéssemos nos arrumar para a girls night e Lia começasse a seguir uma espécie de itinerário que bolara. Duas ruas após a orla da praia que estávamos mais cedo, havia um letreiro chamativo e era nele em que minha amiga nos puxou. Uma balada convencional, sem surpresas, o que tornava tudo muito suspeito porque com Lia tudo era um grande rolê aleatório, mas logo entornamos doses de tequila e eu não ligava mais para itinerário ou surpresas, em razão que a bebida tornava meu corpo leve e fácil de se deixar levar pela música.
Balancei meu corpo da forma que bem entendia e da maneira que não fazia há tempos, do jeito que me sentia livre. Giulia escolhera shots com combinações esquisitas para testarmos e eu não ousava recusar nenhum deles. Lia buscou por nossas mãos e embrenhou em meio à multidão, mesmo que eu e Giu não fizéssemos ideia do acontecia. Pelo menos, não até puxarem uma cadeira para mim e prenderem um véu na minha cabeça.
Lia, você não fez isso.
Um holofote me cegou por alguns segundos e as músicas animadas continuaram, tentei me levantar, mas mãos fortes nos meus pulsos me ordenaram a permanecer onde estava.
Dois homens vestidos de policiais me encurralaram, estando um de cada lado, de roupas justas, corpos cheios de músculos à mostra e banhados em óleo corporal. Um deles buscou minha mão, pousando em seu peitoral, esfregando-a ali, ouvindo a aclamação dos demais à nossa volta. Ele buscou por minhas duas mãos, junto das suas, uma em cada lado de sua camisa, puxando para que rasgasse ao meio. Eu ria, claramente, de desespero, mas o strip-tease de despedida de solteira tinha lá sua graça.
O outro policial puxou sua calça por si só, indo até o pole dance, exibindo o corpo escultural e ouvindo poucas e boas palavras sujas em sua direção.
O show continuou e logo empurraram outra noiva, um pouco mais à frente, me oferecendo a deixa perfeita para sair dali. Ainda sentia a barriga doer das risadas que dei e o ar fresco que busquei do lado de fora, me ajudou a recuperar a sanidade que por pouco, não a perdia por completo. Mais afrente, apenas um estabelecimento aberto e o que vendia a única coisa que salivava pra matar as saudades, meu querido açaí.
Me sentei entre a orla e a areia, aproveitando a visão do mar que de noite era até um pouco sombrio enquanto tomava o açaí que era bom demais pra não ter dominado o mundo ainda. Verifiquei o visor do celular, ainda sem notificações, sem mensagens de Alfonso e logo o guardei no bolso novamente, deixando que o mar fizesse seu trabalho de limpar e organizar minha mente com toda a facilidade que tinha.
Alfonso já fora o homem mais encantador que eu já conheci, apesar de isso ser inimaginável agora, porque por algum motivo, nos últimos tempos, a única coisa que sabe fazer é reclamar mesmo após conseguir agarrar o trabalho que sempre sonhara. Eu sabia que o homem havia nascido para fazer exatamente o que exercia agora, mas pra ele não parecia ser o suficiente. A ganância começava a corrompê-lo e confundir seus ideais, inverter suas prioridades.
— É uma pena não ter ficado até o final do show, porque, foi um grand finale! - Ouvi a voz ao meu lado, assustando-me um pouco. Olhei seu rosto, mas não me era familiar. — Sou o DJ de lá. - Esclareceu.
— Ah, sim! - Sorri. — Não posso dizer que estou surpresa, porque é a cara das minhas amigas fazerem isso, mas ao mesmo tempo é uma puta surpresa ter dois homens daquele tamanho dançando exclusivamente pra você!
— Oh! Eu imagino! - Fez-se de afetado e eu ri nasalado, vendo-o sentar ao meu lado, bebendo uma cerveja. — Não vou dizer pra eles se veio aqui pra fugir do show deles!
— Nah! - Abanei com a mão. — Só vim tomar um ar, e consequentemente um açaí, mas queria mesmo era matar as saudades do mar.
— Soa como muita saudade acumulada. - Ele sussurrou, pensativo.
— Até demais. - Completei-o, olhando para ele atentamente pela primeira vez, vendo os olhos castanhos tão intensos quanto o mar àquela hora.
— Não é seguro nadar essa hora por causa das ressacas, mas se quiser molhar os pés eu também vou! - Mal esperei que ele terminasse a frase e já caminhávamos em direção ao mar, silenciosos, apreciando o que o local tinha de melhor.
A água gelada demais banhou meus pés e era o mesmo que ter banhado tomo meu corpo, tamanha era a intimidade que sentia com aquela terra.
— Cê’ não é daqui, então?
— Sou, mas moro na Espanha. Voltei pra me casar aqui.
— A maioria das despedias de soleira que rolam lá são armações, só pra pegarem uma amiga de surpresa, esperava que a sua fosse também. - Ri nasalado mais uma vez, mas desta vez ele me acompanhou.
— Então...
— . Prazer.
— . - Pisquei marota. — Então, , não vou demorar por aqui, logo volto, por isso a ansiedade de aproveitar o mar carioca.
— Está feliz?
— Com o casamento?
— Se assim prefere. - Deu de ombros.
— Ah, sim. Tem lá seus percalços, mas é normal, não é conto de fadas.
— Com esse anel de noivado, você constrói um mar carioca só pra você! - Ele riu.
— Já tentei, mas eles colocaram burocracia demais! - Segui em sua brincadeira, ouvindo nossas risadas aumentarem. — Desde quando é DJ?
— Mais um pouco e troco o nome pra David Guetta! Quer perguntar se esse é o meu emprego de verdade?
— Não queria... Mas, é? - Ele gargalhou, jogando a cabeça pra trás.
— Sim e não. Com o dinheiro de DJ pago a faculdade, e durante a semana trabalho de Sapateiro. E você?
— Sou Corretora de Imóveis.
— Uau. Em Barcelona?
— Madri.
— E o noivo?
— Ele é Senador, então precisa viajar um pouco pelo país antes de vir pra cá. As eleições de lá estão próximas e isso está enlouquecendo-o.
— Senador? Entendi o tamanho do anel! - Ele suspirou, permitindo que apenas o som dos nossos pés na água fosse ouvido. — Acho melhor voltarmos. - Assenti, cruzando os braços para disfarçar o frio que fazia e seguindo-o de volta até a balada. Aproveitei pra me sentar no banco onde começamos a conversar para calçar as sandálias. — Frio? - Maneei com a cabeça e o vi tirar a camisa que estava amarrada na cintura. — Fique com esta. - Vestiu-a em meus ombros antes que eu pudesse negar.
— Obrigada pela blusa e a companhia, foi um prazer, .
— Eu que agradeço a honra! Cuide da minha camisa, é uma das minhas melhores!
— Então, fique com ela!
— Nós ainda vamos nos encontrar! - Ele piscou e mordeu o lábio inferior, andando de costas enquanto me olhava, e eu nada fiz além de correspondê-lo com um sorriso: sincero e involuntário.
Adentrei a balada novamente, um bocado mais calmo e com menos gente do que quando chegamos o que tornou a tarefa de achar as meninas, fácil demais. Logo vi Lia no bar e me esgueirei até lá.
— Você está tomando água? - Questionei, assustando-a.
— Estava te procurando, passei tanto nervoso que apelei pra água. - Comentou mal-humorada.
— Cadê a Giu?
— Com um boy que não desgruda de jeito nenhum. E essa blusa? Você veio com ela?
— Essa xadrez? Estava amarrada na cintura!
Esperamos no bar por mais alguns minutos até que Giu aparecesse e demorou, mas deu as caras! Por mais horrível que fosse, quando chegamos em casa sequer tiramos a maquiagem, apenas nos jogamos na cama pra dormir e diferente dos demais dias, hoje eu tinha um sorriso pra pensar antes de dormir e rapidinho, eu já fechava meus olhos.
Lia nos acordou reclamando do sol que entrava através das cortinas que nenhuma de nós fechamos na noite passada, e isso bastou pra que não dormíssemos mais. Assim que tomamos banho e fizemos café da manhã, já descíamos pra praia mais uma vez.
Desta vez conseguimos uma galera pra um time de futevôlei muito maior e como esperávamos, ainda jogávamos tão bem quanto antes. Eles estavam em um grupo grande e pudemos nos juntar, como em um piquenique tamanho família, nos conhecendo muito melhor enquanto um ou outro soltava piadas constrangedoras sobre outrem. Saímos de lá com um convite pra um luau que aconteceria mais tarde, no final do pôr-do-sol.
Mas antes de qualquer luau, Giulia e Lia precisavam de vestidos de madrinha já tampouco haviam pensado sobre os vestidos, com os dias contados.
— Tenho ignorado as ligações da Ana Flores porque sei que ela quer saber dos vestidos de vocês.
— Alguma notícia do Alfonso? - Giu perguntou e eu neguei com a cabeça, sentindo o braço dela me puxar, fazendo-me encará-la. — Como não, ? Você não se preocupa? Ele não se preocupa com você? Como isso pode ser um casamento?
— Ela entende disso porque quase se casou ontem à noite! - Lia sussurrou brincalhona tentando aliviar o clima, mas o rosto Giu apenas ficou mais carrancudo.
— O que está acontecendo? - Lia se prontificou.
— Nada está acontecendo, só acho que esses dias longe um do outro vão ser bons pra nós, o casamento tem nos deixado com nervos à flor da pele! - Confessei.
— Certeza que é isso? - Giu encarou meus olhos.
— Não se case sem ter certeza, . - Lia completou.
— Podemos ver os vestidos? Porque sem madrinhas eu não caso! - Sorri e elas me acompanharam, para finalmente resolvermos os vestidos.
O vestido de Lia, era tomara-que-caia em um corpete que marcava a cintura fina dela e tinha o tecido fluído do quadril até os pés, em um efeito mini-princesa. Giu escolhera um estilo sereia, que marcava a cintura e as coxas, tornando-se aberto e esvoaçante do joelho para baixo. Ambos eram na cor salmão, que ao pôr-do-sol, ficariam praticamente acesos.
Chegamos em casa contando os minutos porque havíamos combinado de levar uma torta e um bolo para o luau já que a galera era realmente grande. Enquanto Lia tomava banho, eu fazia o bolo e Giu a torta, pude adiantar a cobertura enquanto assava pra que a torta pudesse assar sozinha. Enquanto a calda e o bolo esfriavam, me adiantei em tomar banho e enquanto a torta assava, Giu tomava banho e eu dava conta do que faltava para levarmos. Terminamos no que, para nós, fora tempo recorde e eu amarrava uma camisa na cintura quando demos tchau para o porteiro do prédio, porque mais uma vez naquele dia, descíamos lindas e belas em direção à praia, e eu poderia facilmente me acostumar a isso.
As roupas leves esvoaçavam com o vento e os cabelos antes molhados já secavam com o calor, mas também, os pés descalços já afundavam na areia.
O luau já começara e haviam algumas velas, como se além de criar um clima também demarcasse até onde poderíamos usufruir e mesmo assim era enorme. Um aqui e outro ali cantavam junto de quem tocava e cada vez tomavam mais voz, quando percebi também cantava. Após algumas músicas vi William passar o violão para uma menina baixinha e a garota passar para alguém ao seu lado: . Ele parecia ter acabado de chegar e não me visto ali, o que pra mim era uma espécie de crédito por poder observá-lo sem ser observada.
Ele tocava com destreza e tinha uma facilidade ímpar, como se tivesse nascido pra isso. Seus olhos fechados enquanto cantava, fazia com que sentíssemos o amor com que ele fazia aquilo e o quanto gostava. A voz dele era quase angelical de tão suave, mas ao mesmo tempo, confiante e dava vontade de escutá-la até o fim dos dias. Também fechei meus olhos, apreciando tudo que pudesse de sua voz, fazendo meu corpo se mexer levemente na música lenta, deixando um sorriso ancorado em meus lábios.
Abri os olhos, lentamente, sendo invadida pela intensidade dos seus, que me encaravam e ele não quis parar, então eu, muito menos.
Percebi que sua música já estava acabando e inventei alguma desculpa para as meninas, indo molhar os pés como na noite passada, esperando que ele viesse.
Senti alguns pingos pularem nas minhas costas e eu soube, que ele tinha vindo.
Ele chutou um pouco de água, molhando minhas pernas e senti o choque térmico me fazer tremer um pouco, ou o choque térmico poderia ser usado como uma boa desculpa.
— Eu sabia que a gente ia se ver de novo. - Ele falou.
— E eu acreditei.
— Ainda bem.
— Não sabia que você era, tipo, multitalentos.
— Há muito o que você não sabe, sirena.
— Andou treinando espanhol? - Sorri.
— Talvez. Preciso melhorar?
— Muito. Quer a sua camisa?
— Fica melhor em você.
— Deve ficar melhor em você.
— Quer testar? - Assenti, sentindo meus pés se afundarem na areia junto da água, tão gelada quanto a noite passada. Me aproximei de , desamarrando a camisa da minha cintura, para passá-la por seus ombros, sentindo seu perfume amadeirado. Pigarreei, recobrando a ordem dos pensamentos, deixando-a ali mesmo, tomando certa distância. — Viu? Melhor em você. - Fez um muxoxo com a boca, aniquilando a distância entre nós, devolvendo para onde antes ela estava, ainda que sem quebrar contato visual. Usou de um dedo para afastar, delicadamente, os cabelos que se soltavam e tampavam meus olhos, prendendo-os atrás da orelha.
— Obrigada. - Sussurrei, vacilando e encarando seus lábios por alguns segundos. Ele riu nasalado e segurou meu queixo.
— O que pensa que está fazendo, ? - Sussurrou tão vacilante quanto eu.
— Não faço ideia. - Dei mais um passo à frente, sendo capaz de sentir sua respiração bater em meu rosto.
— Está me enlouquecendo, mulher.
— Não sei o que é, então talvez eu sinta a mesma coisa. - Pousei uma mão na lateral de seu rosto, deixando-o junto ao meu, vendo o sol acender nossas írises.
Uma de suas mãos pousou em minha cintura, em uma lentidão quase torturante e uma chama equivalente ao laranja do sol se acendeu em mim. depositou um beijo carinhoso na minha testa e passeou o dedão na minha bochecha. Suspirei, levantando e ficando nas pontas dos pés, sentindo o ar quente da sua boca bater na minha. Fechei os olhos, enlaçando os braços em seus ombros, encostando nossos narizes, sentindo que nossos lábios se roçavam. Sorri para ele, vendo-o sorrir de volta, para então, não me segurar mais. Colei meus lábios nos dele, calmos e tímidos, até que houvesse passagem para a minha língua, que foi aceita de bom grado, sentindo sua mão em meus cabelos, como em um incentivo.
Seu gosto era adocicado e viciante, o beijo agora, já nem tão calmo assim, nos apresentava de uma forma que os olhares não permitiram, mas complementou tudo o que dissemos. O encaixe dos nossos corpos parecia velhos conhecidos e de nossas bocas, velhos amantes, mas não passavam de novos amores.
Eu havia muito o que agradecer à Alfonso e uma delas era por não me casar. Meu erro fora procurar amor em uma fonte seca, por tempo demais e me moldar para caber nos minimalismos do homem.
[...]
Esqueci de cuidar
Um pouco de mim
E aí, desapareci
Em ti
Dei tempo ao tempo
Tempo demais
Tenho tempo demais, tempo demais.
— Também estou! Quatro anos pareceram quatro décadas. - Revirei os olhos, imaginando que faltavam poucos dias até que eu atravessasse o oceano e pudéssemos, finalmente, completar o nosso trio.
— Mostra o anel de novo? - Giu se aproximou da câmera assim que perguntou. Acatei ao pedido que, eu sabia que era de ambas e as vi vibrarem como se fosse a primeira vez que viam os quilates pendurados em meu dedo anelar esquerdo.
A joia fora pendurada há pouco mais de um ano e tudo acontecera rápido demais, mas ao mesmo tempo parecia ser o lugar que cada coisa se pertencia. O anel era o único artigo que luxo que eu possuía e me orgulhava de tal, até porque, com o homem que vou me casar, isso se tornaria um hábito comum.
— Me digam que está tudo certo com os vestidos de vocês. - As encarei. — Sei que gostam de deixar tudo pra última hora, mas dessa vez, sogrinha está me sufocando! - Bufei, algo que realmente se tornara usual quando citávamos a mãe do meu noivo. — Preciso ir, estou repassando os últimos relatórios para Andres. Em três dias nos vemos. Tomem anticoncepcional! - Brinquei, mandando um beijo no ar para as garotas e vendo-as retribuírem para desligarmos.
Sequer vi o horário de almoço passar, enquanto eu a Andres revíamos os últimos processos de compra dos imóveis residenciais que clientes começaram enrolar com as parcelas em que se dividiram. Tentei finalizar todos os processos de compra até a viagem, mas não mandava no bolso dos clientes, então, todos estavam nas mãos de Andrés e eu sabia, que eram as melhores mãos deste escritório.
Me joguei no sofá assim que atravessei as portas de casa, ouvindo os passos apressados das empregadas nos corredores da mansão, dado que faltava pouco para o horário da mesa de jantar ser posta. Subi as escadas, ouvindo os mesmos passos apressados às minhas costas, buscando pelas pastas que deixei no sofá e levando-as para o escritório. Adentrei o quarto e me esparramei pela cama que era confortável a qualquer hora do dia, mas agora me parecia mil vezes mais. Suspirei e fechei os olhos, buscando alguns minutos de silêncio para organizar os pensamentos, automaticamente sentindo uma enxurrada de pensamentos, como em uma retrospectiva e como as coisas mudaram, em tão pouco tempo, era quase surreal acreditar, inclusive, que em poucos dias, eu serei a senhora Morales.
Vi a maçaneta da porta girar e ela ser aberta, para os lindos olhos azuis aparecerem, acesos e intensos como de costume.
— Boa noite, senhor Senador. - O saudei, brincalhona, assim que o vi andar até mim, buscando um espaço para si na cama também.
— Boa noite, senhora Morales. - Depositou um selinho robótico em meus lábios.
— Apenas em alguns dias, cariño. - Segurei em seu queixo, beijando a ponta do seu nariz.
— Carlos quer mudar a arquitetura interna de todo o espaço, já fez uma votação para as cores das paredes e tudo mais. - Disparou a falar sobre o Palácio das Cortes de Madri.
— Mas o Palácio não é patrimônio nacional, ou algo assim?
— E adianta falar pra ele?
— E adianta eu dizer pra você não trazer os problemas do Congresso pra casa? - Alfonso bufou, caindo de costas na cama.
Me custou alguns suspiros para não o retrucar, mas agora, importava mais, descansar o que me era possível. Toda a tensão antes do casamento estava cada vez mais forte, somando aos nossos empregos tudo parecia conspirar contra nós e alguns contratos eu precisaria levar para a viagem, que não teria lua-de-mel. Estávamos próximos das eleições espanholas e Alfonso não poderia se afastar agora ou surgiriam projetos de Lei até do esgoto. Apressamos o casamento por uma superstição de sua mãe, Ana Flores, de que seu único filho deveria casar-se no trigésimo primeiro dia, após seu trigésimo primeiro ano de vida completo, para anos felizes e longínquos. Ouvimos batidas suaves na porta e ambos levantamos apernas a cabeça para saber de quem se tratava.
— A senhora Ana Flores ainda não chegou, devemos servir o jantar ou aguardá-la? - Perguntou Lola, um tanto acanhada, constantemente arrumando a gola do seu uniforme.
— Sirvam. - Alfonso se limitou, curto e grosso, dispensando-a com um aceno de mão.
— Você deveria ser mais gentil com elas, Alfonso. Não deve ser fácil manter uma casa deste tamanho em ordem e está sempre perfeita.
— Pagamos uma fortuna para cada uma delas. - Se limitou mais uma vez, massageando as têmporas. O observei mais alguns segundos, balançando minha cabeça negativamente, me levantando e seguindo para a sala de jantar.
Me sentei, encarando a mesa farta à minha frente e desviando o olhar até as empregadas enfileiradas antes do corredor que levava à cozinha. Céus, pareciam um exército em guerra. Era um tanto aflitivo vê-las da forma que estavam, mas Ana Flores mantinha o exército na linha e não havia quem ousasse contradizê-la.
Me ajeitei na cadeira, pondo o guardanapo em minhas coxas e assistindo Lola tirar a cloche que cobria meu prato. Agradeci e logo dei a primeira garfada, agradecendo a agilidade porque eu estava faminta. Pude ouvir os passos pesados de Alfonso até a sala de jantar, ainda com uma ruga entre as sobrancelhas e cara fechada. Sentou-se ao meu lado, na ponta da mesa como sua mãe exigia ser e teve sua cloche retirada também.
— Sequer pôde esperar por seu futuro marido, . - Exprimiu ranzinza e nada proferi, apenas finalizei a taça de vinho ao meu lado, sinalizando para que a enchessem mais uma vez.
O jantar seguiu silencioso e Alfonso reclamava de tudo que tinha direito, fazendo-me preferir ouvir apenas o tilintar dos talheres quando cada segundo durava uma eternidade. Para completar, Ana Flores logo anunciou sua entrada, triunfal como gostava de fazer e prontamente senti a comida perder o sabor.
— Como famintos, não puderam se segurar, certo? - Julgou-nos enquanto jantávamos.
— Alfonso autorizou que servissem. - Respondi de prontidão, vendo-a franzir o cenho.
— Seu papel mínimo como esposa era contê-lo.
Mais uma vez, talvez a milésima nesta noite, me contive para retrucá-la, eram tempos árduos para todos nós.
Após o jantar, Alfonso se virou e dormiu em um lado da cama, porém como já era de se esperar, demorei algumas horas, encarando o teto até que sentisse o cansaço pesar em meus olhos.
— ! ! ! - Senti um aperto em meu braço, até que ele me chacoalhou de uma vez, acordando-me. — Meu broche. Onde está?
— Não faço ideia, você só os usa em reuniões interestaduais.
— Por coincidência, hoje, . Acorde! Céus! - Chispou.
— Pra onde você vai? - Me sentei na cama, esfregando os olhos.
— Vamos para Vigo. Não vou viajar com você, vou depois.
— Mas, Alfonso...
— Precisamos percorrer Barcelona, Valência, Marbella e Valladolid. Não posso faltar, mas te mando mensagem. - Disse automático como um robô. — Me avise quando chegar lá. - Apressou-se até a porta do quarto, mandando um beijo no ar antes de sumir por ela.
Deveria ser alguma espécie de pecado capital ou sei lá, mas internamente, agradeci no primeiro segundo que o vi sumir porta afora e agradeci ainda mais, o silêncio que a casa inteira se tornou. Me afundei em meio os travesseiros, buscando apenas por meu celular e respondendo as mensagens mais importantes. Apaguei as luzes do quarto e liguei a TV, procurando séries dignas de maratonas pelo dia inteiro, porque era isso que eu iria fazer.
Phoebe, Ross, Monica, Chandler, Rachel e Joey me entretiveram durante parte generosa do dia e as horas, desta forma, passaram muito mais rápido do que imaginei, de maneira que levantei vez ou outra quando o Netflix perguntou se ainda havia alguém assistindo apenas para pegar alguma fatia de bolo ou algo do tipo para beliscar, dispensando os serviços de café da manhã e almoço. Ana Flores não dera as caras e não imaginava que o faria antes do jantar, por algum motivo, ela mantinha-se ocupada demais todos os dias, o dia inteiro e todas as providências do casamento já foram tomadas, predominantemente por ela. Em minhas mãos, estavam as funções de entrar em um vestido e dizer ‘sim’, de resto, ela já havia feito.
Criei coragem para levantar e tomar um banho, buscando acordar de uma vez, expulsando a preguiça do corpo. Tudo tornou mais fácil quando vi uma foto minha junto de Lia e Giulia, anos atrás e agora, eu só precisava arrumar as coisas na mala para voar até lá. Até onde eu nasci, cresci, aprendi, errei e me arrependi, no entanto, principalmente, onde eu fui mais feliz, sem via de dúvidas.
A primeira coisa que eu vou fazer no dia seguinte, é voar pra onde eu pertenço.
As malas se multiplicaram e percebi isso quando precisei de ajuda para deixá-las no andar inferior. Haviam coisas para devolver às meninas e a presenteá-las também, mãe e pai, então? Não consegui nem falar, era de partir o coração em mil pedaços.
Ouvi a voz de Ana Flores soar imponente pelos corredores e me deitei na cama, fingindo dormir, quando a ouvi murmurar algo colada à porta inspecionando o quarto que eu havia revirado de cabeça para baixo. Ela saiu e eu corri até a maçaneta, girando a chave para trancá-la, voltando a arrumar a mala, checando-as antes de trancar de uma vez.
O pôr do sol carioca era inigualável e o mundo inteiro sabia disso, mas era sempre bom deixar claro. Da janela do avião, via os prédios pequenos como moradias de formigas, todavia, era o suficiente para sentir meu coração acalentar sem ser por conta do calor na cidade maravilhosa.
No táxi, uma rádio estava sintonizada e algo como uma boa e velha bossa nova tocava, complementando o conjunto de pequenas coisas que me faziam amar esse lugar e a forma como nos recebia. O motorista dizia não sentir, mas eu sentia de longe o cheiro e o frescor do mar, tão diferentes dos espanhóis, tão menos intensos também.
Aproveitando que (ainda) não tinha Ana Flores à tiracolo, passei o endereço de Lia e Giulia para o motorista, mesmo que já pudesse ouvir mamãe reclamando.
O porteiro anunciou a minha subida e involuntariamente, um sorriso brotou nos meus lábios sabendo que assim que a porta do elevador abrisse, eu seria a pessoa mais feliz do universo. Não ouvi o elevador tilintar e isso não importava, porque eu tinha braços envoltos em mim, fortes, saudosos e quentinhos, como eu me lembrava de serem. Minhas amigas da vida inteira, irmãs, estavam finalmente, na minha frente.
— Eu nem acredito. - Disse da melhor forma possível, soando abafada pelos abraços.
— Desgraçada! Quase meia década! - Giulia me apertou mais e nós três rimos.
— Gente, o motorista do táxi me ajudou com as malas e eu preciso pagar a corrida. - Tentei me desvencilhar delas, ouvindo narizes fungarem após as lágrimas.
Voltei à portaria, pagando ao taxista que me fez a gentileza, sentindo o calor usual do Rio de Janeiro começar a aparecer. Quando subi, as meninas já haviam posto as malas para dentro e reclamavam da quantidade delas.
— Está se mudando de volta pra cá, ? - Lia tentou soar ranzinza como gostava de provocar, mas não conseguiu porque logo me abraçava mais uma vez. — Ei, onde está o noivo? - Revirei os olhos. Já era automático, fazer o quê?
— Ele ainda está na Espanha e vai demorar a vir. As eleições estão o prendendo lá e antes de chegar aqui tem uma lista de lugares para verificar. - Expliquei calmamente, sentando no sofá.
— Seus pais sabem que você veio direto pra cá? - Giu cruzou os braços, analisando-me.
— Nem sonham! - Rimos. — Eu quero ir pra praia! - Choraminguei.
Como boas e tradicionais cariocas, em segundos já vestíamos os biquinis e óculos de sol, sentindo o cheiro de mar que nos rodeava e com a tradicional bola debaixo do braço para o futevôlei.
Não fizemos muito além de manter o bronzeado em dia e fofocar por horas, já que as chamadas de vídeo não eram nem de longe a mesma graça de fofocar com água de coco do lado. As risadas eram livres e esta era uma das nossas maiores qualidades, independentemente do tempo que passasse, era como o dia em que, de volta à sexta série, nos juntamos em um grupo de ciências que a professora mesmo escolheu, que no começo reclamamos, mas que pagamos com a língua quinze anos depois.
Já o cronograma carioca havia sido concluído com sucesso, ou como diria Lia: “apenas parte dele”, porque o dia estava apenas começando e eu estava ansiosa.
Horas nos separaram até que pudéssemos nos arrumar para a girls night e Lia começasse a seguir uma espécie de itinerário que bolara. Duas ruas após a orla da praia que estávamos mais cedo, havia um letreiro chamativo e era nele em que minha amiga nos puxou. Uma balada convencional, sem surpresas, o que tornava tudo muito suspeito porque com Lia tudo era um grande rolê aleatório, mas logo entornamos doses de tequila e eu não ligava mais para itinerário ou surpresas, em razão que a bebida tornava meu corpo leve e fácil de se deixar levar pela música.
Balancei meu corpo da forma que bem entendia e da maneira que não fazia há tempos, do jeito que me sentia livre. Giulia escolhera shots com combinações esquisitas para testarmos e eu não ousava recusar nenhum deles. Lia buscou por nossas mãos e embrenhou em meio à multidão, mesmo que eu e Giu não fizéssemos ideia do acontecia. Pelo menos, não até puxarem uma cadeira para mim e prenderem um véu na minha cabeça.
Lia, você não fez isso.
Um holofote me cegou por alguns segundos e as músicas animadas continuaram, tentei me levantar, mas mãos fortes nos meus pulsos me ordenaram a permanecer onde estava.
Dois homens vestidos de policiais me encurralaram, estando um de cada lado, de roupas justas, corpos cheios de músculos à mostra e banhados em óleo corporal. Um deles buscou minha mão, pousando em seu peitoral, esfregando-a ali, ouvindo a aclamação dos demais à nossa volta. Ele buscou por minhas duas mãos, junto das suas, uma em cada lado de sua camisa, puxando para que rasgasse ao meio. Eu ria, claramente, de desespero, mas o strip-tease de despedida de solteira tinha lá sua graça.
O outro policial puxou sua calça por si só, indo até o pole dance, exibindo o corpo escultural e ouvindo poucas e boas palavras sujas em sua direção.
O show continuou e logo empurraram outra noiva, um pouco mais à frente, me oferecendo a deixa perfeita para sair dali. Ainda sentia a barriga doer das risadas que dei e o ar fresco que busquei do lado de fora, me ajudou a recuperar a sanidade que por pouco, não a perdia por completo. Mais afrente, apenas um estabelecimento aberto e o que vendia a única coisa que salivava pra matar as saudades, meu querido açaí.
Me sentei entre a orla e a areia, aproveitando a visão do mar que de noite era até um pouco sombrio enquanto tomava o açaí que era bom demais pra não ter dominado o mundo ainda. Verifiquei o visor do celular, ainda sem notificações, sem mensagens de Alfonso e logo o guardei no bolso novamente, deixando que o mar fizesse seu trabalho de limpar e organizar minha mente com toda a facilidade que tinha.
Alfonso já fora o homem mais encantador que eu já conheci, apesar de isso ser inimaginável agora, porque por algum motivo, nos últimos tempos, a única coisa que sabe fazer é reclamar mesmo após conseguir agarrar o trabalho que sempre sonhara. Eu sabia que o homem havia nascido para fazer exatamente o que exercia agora, mas pra ele não parecia ser o suficiente. A ganância começava a corrompê-lo e confundir seus ideais, inverter suas prioridades.
— É uma pena não ter ficado até o final do show, porque, foi um grand finale! - Ouvi a voz ao meu lado, assustando-me um pouco. Olhei seu rosto, mas não me era familiar. — Sou o DJ de lá. - Esclareceu.
— Ah, sim! - Sorri. — Não posso dizer que estou surpresa, porque é a cara das minhas amigas fazerem isso, mas ao mesmo tempo é uma puta surpresa ter dois homens daquele tamanho dançando exclusivamente pra você!
— Oh! Eu imagino! - Fez-se de afetado e eu ri nasalado, vendo-o sentar ao meu lado, bebendo uma cerveja. — Não vou dizer pra eles se veio aqui pra fugir do show deles!
— Nah! - Abanei com a mão. — Só vim tomar um ar, e consequentemente um açaí, mas queria mesmo era matar as saudades do mar.
— Soa como muita saudade acumulada. - Ele sussurrou, pensativo.
— Até demais. - Completei-o, olhando para ele atentamente pela primeira vez, vendo os olhos castanhos tão intensos quanto o mar àquela hora.
— Não é seguro nadar essa hora por causa das ressacas, mas se quiser molhar os pés eu também vou! - Mal esperei que ele terminasse a frase e já caminhávamos em direção ao mar, silenciosos, apreciando o que o local tinha de melhor.
A água gelada demais banhou meus pés e era o mesmo que ter banhado tomo meu corpo, tamanha era a intimidade que sentia com aquela terra.
— Cê’ não é daqui, então?
— Sou, mas moro na Espanha. Voltei pra me casar aqui.
— A maioria das despedias de soleira que rolam lá são armações, só pra pegarem uma amiga de surpresa, esperava que a sua fosse também. - Ri nasalado mais uma vez, mas desta vez ele me acompanhou.
— Então...
— . Prazer.
— . - Pisquei marota. — Então, , não vou demorar por aqui, logo volto, por isso a ansiedade de aproveitar o mar carioca.
— Está feliz?
— Com o casamento?
— Se assim prefere. - Deu de ombros.
— Ah, sim. Tem lá seus percalços, mas é normal, não é conto de fadas.
— Com esse anel de noivado, você constrói um mar carioca só pra você! - Ele riu.
— Já tentei, mas eles colocaram burocracia demais! - Segui em sua brincadeira, ouvindo nossas risadas aumentarem. — Desde quando é DJ?
— Mais um pouco e troco o nome pra David Guetta! Quer perguntar se esse é o meu emprego de verdade?
— Não queria... Mas, é? - Ele gargalhou, jogando a cabeça pra trás.
— Sim e não. Com o dinheiro de DJ pago a faculdade, e durante a semana trabalho de Sapateiro. E você?
— Sou Corretora de Imóveis.
— Uau. Em Barcelona?
— Madri.
— E o noivo?
— Ele é Senador, então precisa viajar um pouco pelo país antes de vir pra cá. As eleições de lá estão próximas e isso está enlouquecendo-o.
— Senador? Entendi o tamanho do anel! - Ele suspirou, permitindo que apenas o som dos nossos pés na água fosse ouvido. — Acho melhor voltarmos. - Assenti, cruzando os braços para disfarçar o frio que fazia e seguindo-o de volta até a balada. Aproveitei pra me sentar no banco onde começamos a conversar para calçar as sandálias. — Frio? - Maneei com a cabeça e o vi tirar a camisa que estava amarrada na cintura. — Fique com esta. - Vestiu-a em meus ombros antes que eu pudesse negar.
— Obrigada pela blusa e a companhia, foi um prazer, .
— Eu que agradeço a honra! Cuide da minha camisa, é uma das minhas melhores!
— Então, fique com ela!
— Nós ainda vamos nos encontrar! - Ele piscou e mordeu o lábio inferior, andando de costas enquanto me olhava, e eu nada fiz além de correspondê-lo com um sorriso: sincero e involuntário.
Adentrei a balada novamente, um bocado mais calmo e com menos gente do que quando chegamos o que tornou a tarefa de achar as meninas, fácil demais. Logo vi Lia no bar e me esgueirei até lá.
— Você está tomando água? - Questionei, assustando-a.
— Estava te procurando, passei tanto nervoso que apelei pra água. - Comentou mal-humorada.
— Cadê a Giu?
— Com um boy que não desgruda de jeito nenhum. E essa blusa? Você veio com ela?
— Essa xadrez? Estava amarrada na cintura!
Esperamos no bar por mais alguns minutos até que Giu aparecesse e demorou, mas deu as caras! Por mais horrível que fosse, quando chegamos em casa sequer tiramos a maquiagem, apenas nos jogamos na cama pra dormir e diferente dos demais dias, hoje eu tinha um sorriso pra pensar antes de dormir e rapidinho, eu já fechava meus olhos.
Lia nos acordou reclamando do sol que entrava através das cortinas que nenhuma de nós fechamos na noite passada, e isso bastou pra que não dormíssemos mais. Assim que tomamos banho e fizemos café da manhã, já descíamos pra praia mais uma vez.
Desta vez conseguimos uma galera pra um time de futevôlei muito maior e como esperávamos, ainda jogávamos tão bem quanto antes. Eles estavam em um grupo grande e pudemos nos juntar, como em um piquenique tamanho família, nos conhecendo muito melhor enquanto um ou outro soltava piadas constrangedoras sobre outrem. Saímos de lá com um convite pra um luau que aconteceria mais tarde, no final do pôr-do-sol.
Mas antes de qualquer luau, Giulia e Lia precisavam de vestidos de madrinha já tampouco haviam pensado sobre os vestidos, com os dias contados.
— Tenho ignorado as ligações da Ana Flores porque sei que ela quer saber dos vestidos de vocês.
— Alguma notícia do Alfonso? - Giu perguntou e eu neguei com a cabeça, sentindo o braço dela me puxar, fazendo-me encará-la. — Como não, ? Você não se preocupa? Ele não se preocupa com você? Como isso pode ser um casamento?
— Ela entende disso porque quase se casou ontem à noite! - Lia sussurrou brincalhona tentando aliviar o clima, mas o rosto Giu apenas ficou mais carrancudo.
— O que está acontecendo? - Lia se prontificou.
— Nada está acontecendo, só acho que esses dias longe um do outro vão ser bons pra nós, o casamento tem nos deixado com nervos à flor da pele! - Confessei.
— Certeza que é isso? - Giu encarou meus olhos.
— Não se case sem ter certeza, . - Lia completou.
— Podemos ver os vestidos? Porque sem madrinhas eu não caso! - Sorri e elas me acompanharam, para finalmente resolvermos os vestidos.
O vestido de Lia, era tomara-que-caia em um corpete que marcava a cintura fina dela e tinha o tecido fluído do quadril até os pés, em um efeito mini-princesa. Giu escolhera um estilo sereia, que marcava a cintura e as coxas, tornando-se aberto e esvoaçante do joelho para baixo. Ambos eram na cor salmão, que ao pôr-do-sol, ficariam praticamente acesos.
Chegamos em casa contando os minutos porque havíamos combinado de levar uma torta e um bolo para o luau já que a galera era realmente grande. Enquanto Lia tomava banho, eu fazia o bolo e Giu a torta, pude adiantar a cobertura enquanto assava pra que a torta pudesse assar sozinha. Enquanto a calda e o bolo esfriavam, me adiantei em tomar banho e enquanto a torta assava, Giu tomava banho e eu dava conta do que faltava para levarmos. Terminamos no que, para nós, fora tempo recorde e eu amarrava uma camisa na cintura quando demos tchau para o porteiro do prédio, porque mais uma vez naquele dia, descíamos lindas e belas em direção à praia, e eu poderia facilmente me acostumar a isso.
As roupas leves esvoaçavam com o vento e os cabelos antes molhados já secavam com o calor, mas também, os pés descalços já afundavam na areia.
O luau já começara e haviam algumas velas, como se além de criar um clima também demarcasse até onde poderíamos usufruir e mesmo assim era enorme. Um aqui e outro ali cantavam junto de quem tocava e cada vez tomavam mais voz, quando percebi também cantava. Após algumas músicas vi William passar o violão para uma menina baixinha e a garota passar para alguém ao seu lado: . Ele parecia ter acabado de chegar e não me visto ali, o que pra mim era uma espécie de crédito por poder observá-lo sem ser observada.
Ele tocava com destreza e tinha uma facilidade ímpar, como se tivesse nascido pra isso. Seus olhos fechados enquanto cantava, fazia com que sentíssemos o amor com que ele fazia aquilo e o quanto gostava. A voz dele era quase angelical de tão suave, mas ao mesmo tempo, confiante e dava vontade de escutá-la até o fim dos dias. Também fechei meus olhos, apreciando tudo que pudesse de sua voz, fazendo meu corpo se mexer levemente na música lenta, deixando um sorriso ancorado em meus lábios.
Abri os olhos, lentamente, sendo invadida pela intensidade dos seus, que me encaravam e ele não quis parar, então eu, muito menos.
Percebi que sua música já estava acabando e inventei alguma desculpa para as meninas, indo molhar os pés como na noite passada, esperando que ele viesse.
Senti alguns pingos pularem nas minhas costas e eu soube, que ele tinha vindo.
Ele chutou um pouco de água, molhando minhas pernas e senti o choque térmico me fazer tremer um pouco, ou o choque térmico poderia ser usado como uma boa desculpa.
— Eu sabia que a gente ia se ver de novo. - Ele falou.
— E eu acreditei.
— Ainda bem.
— Não sabia que você era, tipo, multitalentos.
— Há muito o que você não sabe, sirena.
— Andou treinando espanhol? - Sorri.
— Talvez. Preciso melhorar?
— Muito. Quer a sua camisa?
— Fica melhor em você.
— Deve ficar melhor em você.
— Quer testar? - Assenti, sentindo meus pés se afundarem na areia junto da água, tão gelada quanto a noite passada. Me aproximei de , desamarrando a camisa da minha cintura, para passá-la por seus ombros, sentindo seu perfume amadeirado. Pigarreei, recobrando a ordem dos pensamentos, deixando-a ali mesmo, tomando certa distância. — Viu? Melhor em você. - Fez um muxoxo com a boca, aniquilando a distância entre nós, devolvendo para onde antes ela estava, ainda que sem quebrar contato visual. Usou de um dedo para afastar, delicadamente, os cabelos que se soltavam e tampavam meus olhos, prendendo-os atrás da orelha.
— Obrigada. - Sussurrei, vacilando e encarando seus lábios por alguns segundos. Ele riu nasalado e segurou meu queixo.
— O que pensa que está fazendo, ? - Sussurrou tão vacilante quanto eu.
— Não faço ideia. - Dei mais um passo à frente, sendo capaz de sentir sua respiração bater em meu rosto.
— Está me enlouquecendo, mulher.
— Não sei o que é, então talvez eu sinta a mesma coisa. - Pousei uma mão na lateral de seu rosto, deixando-o junto ao meu, vendo o sol acender nossas írises.
Uma de suas mãos pousou em minha cintura, em uma lentidão quase torturante e uma chama equivalente ao laranja do sol se acendeu em mim. depositou um beijo carinhoso na minha testa e passeou o dedão na minha bochecha. Suspirei, levantando e ficando nas pontas dos pés, sentindo o ar quente da sua boca bater na minha. Fechei os olhos, enlaçando os braços em seus ombros, encostando nossos narizes, sentindo que nossos lábios se roçavam. Sorri para ele, vendo-o sorrir de volta, para então, não me segurar mais. Colei meus lábios nos dele, calmos e tímidos, até que houvesse passagem para a minha língua, que foi aceita de bom grado, sentindo sua mão em meus cabelos, como em um incentivo.
Seu gosto era adocicado e viciante, o beijo agora, já nem tão calmo assim, nos apresentava de uma forma que os olhares não permitiram, mas complementou tudo o que dissemos. O encaixe dos nossos corpos parecia velhos conhecidos e de nossas bocas, velhos amantes, mas não passavam de novos amores.
Eu havia muito o que agradecer à Alfonso e uma delas era por não me casar. Meu erro fora procurar amor em uma fonte seca, por tempo demais e me moldar para caber nos minimalismos do homem.
Esqueci de cuidar
Um pouco de mim
E aí, desapareci
Em ti
Dei tempo ao tempo
Tempo demais
Tenho tempo demais, tempo demais.
Fim
Nota da autora: Hello, hello! ;D Tudo bem com vocês? Espero que sim! Porque comigo, tudo ótimo ♥
Cada vez que entrarem nesse site vocês verão meu nome. Em Ficstapes e Especiais? Eu estarei lá! Pois é! Não posso ver uma música vaga que já quero e essa é a prova viva disso, inclusive, a prova viva do meu amor por Tiago Iorc.
O que dizer deste casal que nos deixou com gostinho de quero mais, mas satisfeitos por excluir o embuste do Alfonso, hein?! Uma PP boazinha dessas, coraçãozinho puro, merece um amor à altura certo? Certo!
Espero que gostem! Porque eu a escrevi com todo o coração!
Até a próxima.
XOXO ♥
Achei essa história uma graça de fofa, Lívia, parabéns!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Cada vez que entrarem nesse site vocês verão meu nome. Em Ficstapes e Especiais? Eu estarei lá! Pois é! Não posso ver uma música vaga que já quero e essa é a prova viva disso, inclusive, a prova viva do meu amor por Tiago Iorc.
O que dizer deste casal que nos deixou com gostinho de quero mais, mas satisfeitos por excluir o embuste do Alfonso, hein?! Uma PP boazinha dessas, coraçãozinho puro, merece um amor à altura certo? Certo!
Espero que gostem! Porque eu a escrevi com todo o coração!
Até a próxima.
XOXO ♥
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