Capítulo Único
Estava sentada no pátio da escola lendo um livro qualquer quando senti meu celular vibrar no bolso traseiro da minha calça jeans.
“ E aí, girls. O que faremos hoje?”
Era a null.
“Tenho uma ideia que pode ser interessante...”
null se pronunciou.
“A gente se encontra depois da aula”
Digitei rapidamente e voltei ao meu livro.
Olhei para o céu por um instante. O dia estava lindo, o céu estava lindo e ventava de forma refrescante. Éramos um quarteto e tanto. null era o cérebro do grupo, salvava nós todas nas vésperas das provas e era extremamente inteligente. null era a modelo, tinha um corpo escultural e era considerada uma das garotas mais bonitas da escola, se é que não era a mais bonita. A null era nossa esportista, adorava jogar futebol e era a estrela do time. E tinha eu, null, completando o quarteto, a escritora do grupo.
Todas temos a mesma idade, 16 anos, nos conhecemos quando tínhamos 6 anos em um parque aquático. Nossas mães também se tornaram tão amigas quanto nós. Apesar de sermos tão diferentes, termos vidas diferentes, sempre fomos melhores amigas. Todas sabem de tudo umas das outras, segredos, medos, confissões.
- null? – Eu estava totalmente distraída em pensamentos. – null?
- Oi! – Respondi assustada. – Ei null, desculpa. Estava distraída.
- Eu percebi. – Ela disse. – Você sabe qual é a ideia da null pra hoje? Da última vez quase fomos presas.
- Eu não faço a menor ideia. Mas com certeza será algo perigoso.
Flashback
- null, você tem certeza de que isso é uma boa ideia? – null questionou enquanto dirigia.
- Claro! É a melhor ideia que tive na minha vida.
- Isso é perigoso. Não sei que eu quero fazer isso. – Eu disse do banco traseiro.
- Confiem em mim. Só vamos fazer compras.
- Sem dinheiro, você quer dizer.
- null, a gente só quer se divertir. Achei que “se divertir” – fiz aspas com as mãos – era beber e fumar cigarros.
- Comigo não. Vocês vão gostar.
null estacionou em uma vaga qualquer no shopping e descemos todas. Fomos andando em direção à entrada principal do shopping enquanto aguardávamos por null para nos dizer qual era o próximo passo.
- O que acham de óculos novos? A Connor está com uma coleção incrível.
Todas assentimos. A gente nem sabia direito o que fazer, então só nos restava concordar.
null explicou detalhadamente o que faríamos. Cada uma de nós entraria na loja separadamente, olharíamos tudo e experimentaríamos os óculos até acharmos um que nos agradasse. Em seguida era só retirar a etiqueta e a proteção presa com senha. A senha era sempre 000, sem a menor criatividade. Se a gente percebesse que estavam gritando por nós era só correr para despistar qualquer segurança que pudesse nos alcançar.
- Eu só posso estar louca por concordar com essa ideia maluca. – Eu disse.
- Shhh. Se separem. Nos encontramos no carro da null. Divirtam-se. – null disse e se afastou.
Entramos na loja, uma para cada lado como conversamos. A gente ia experimentando os óculos e não demorou muito para null escolher o dela, tirou a etiqueta, desativou a trava de segurança e foi andando em direção a saída. Quando chegou na entrada da loja, virou-se, deu uma piscadela e se afastou. A mesma coisa aconteceu com null e null, elas saíram tranquilamente e despercebidas na loja. Faltava apenas eu e estava sem coragem alguma de cometer aquele delito. Era diversão. Era diversão. Tentava me convencer de que não era errado mesmo sabendo que poderia ser presa a qualquer momento.
Eu fiz tudo exatamente como minhas amigas, porém na hora que passei pela entrada da loja o alarme soou e eu não tive outra reação senão correr. Comecei a correr pelo shopping sem nem saber se alguém corria mesmo atrás de mim. Enquanto corria pude ver as meninas vindo em minha direção.
- CORRE! – Foi o que consegui gritar devida distância que estava das minhas amigas.
Elas prontamente atenderam e fomos correndo em direção ao carro da null. A corrida parecia que nunca terminaria, eu já estava exausta.
O carro finalmente chegou, entramos rapidamente e null saiu dirigindo.
- Mas que merda deu errado, null? – null perguntou sentada no banco da frente.
- Eu sei lá. O alarme da loja soou e eu não tive alternativa. Corri.
Todas rimos dentro do carro. O caminho para casa foi até divertido.
- Poderíamos ter sido presas. – null diz. – Nunca mais me arrastem para um lugar desses.
- Isso foi só o começo. – null disse.
Fim de Flashback
- O que as princesas tanto pensam enquanto admiram esse belo dia? – null se aproximou com sua mochila nas costas.
- Estávamos lembrando do dia em que quase fomos pegas com essa sua ideia absurda de roubar óculos em lojas no shopping. – Eu expliquei.
- Vocês nem imaginam o que preparei para hoje. – null continuou. – Sexta-feira. Dia de diversão.
- Espero que não ultrapasse as bebidas e cigarros, coisas que adolescentes normais fazem. – null se aproximou e o quarteto estava completo mais uma vez.
- Agora que estamos completas, vão pra casa, se arrumem. A noite promete. Nos vemos as 19h. – null disse. Soltou beijos no ar para nós e foi para casa.
***
No horário combinado nos encontramos na casa da null. Decidimos o ponto de encontro por mensagem durante a tarde. Todas nós estávamos muito bonitas mesmo sem nem saber para onde iríamos, com exceção da null que planejou cada detalhe da noite.
- A gente vai se divertir. Eu prometo.
- null, você disse isso da última vez. – null a advertiu.
- Hoje é a vez da null dirigir. – Eu disse e null assentiu.
Nosso combinado era cada uma dirigir a cada saída. A ordem foi sorteada para ficar justo e todas concordamos com o resultado. null é uma excelente motorista e eu vou ao seu lado na parte dianteira do carro. null, como sempre, nos surpreende com as playlists que ela prepara para cada ocasião. Cantávamos ao som de Beyoncé quando null pediu para null estacionar em um fast food que tinha no caminho. Era oficial. A noite havia começado.
- Coloquem essas máscaras para cobrirem seus rostos. O que acham de fazermos um lanche? – null tinha um sorriso maléfico nos lábios.
- Vamos roubar um fast food? Você ta de sacanagem, null? – null sequer desligou o carro. null assentiu sorrindo descaradamente.
- Eu me recuso. – null e eu dissemos em um uníssono.
- Calma. Não é roubar um fast food. É roubar as pessoas que estão lá dentro também. Não se preocupem, depois iremos a uma festa.
- O que você tem em mente? – Decidi concordar. null arregalou os olhos e quase se engasgou com o vento ao me ouvir dizer aquilo.
- Fácil. Olha o que tenho aqui. – null abriu a bolsa e tirou de lá algumas armas de brinquedo. Eram idênticas a armas de verdade, porém, no máximo, liberavam água no rosto das pessoas.
Segundo as orientações de null, cada uma de nós pegou uma arma, uma máscara e descemos do carro. null disse que precisava de álcool para ter coragem de cometer esse delito. null deu vodka a todas nós. Ela tinha mesmo pensado em tudo.
null quis ir na frente. Empurrou a porta do restaurante e deu início ao show.
- Todo mundo em silêncio. Ninguém se mexe. – Ela era boa nisso.
- Eu quero todo o dinheiro que vocês têm. A minha amiga aqui vai passar recolhendo. SEJAM RÁPIDOS. – null colaborou.
Eu passaria para recolher o dinheiro. Se eu tivesse que dizer palavras como essa, com certeza molharia as calças. null berrou para as mulheres da cozinha prepararem nossa comida e todas atenderam na mesma hora. As armas falsas fizeram toda a diferença.
- Anda com essa merda. Eu estou faminta. – null berrou enquanto se debruçava no balcão.
- Muito bem, todo mundo contribuindo. – null assumiu a fala.
- Eu adorei essa blusa, tira e me dá. – null se aproximou de uma garota que parecia ter mais ou menos nossa idade e ordenou pela blusa. A garota, assustada, tirou a blusa e entregou, ficando apenas em peças íntimas.
De longe, pude ouvir uma sirene. Polícia? Eu não queria ficar para descobrir. Até agora não consegui dizer uma palavra. Talvez fosse o meu momento.
- Quem foi o idiota que chamou a polícia? – Eu disse tentando soar firme. Sem respostas. – Ninguém vai se manifestar?
Nos olhamos e decidimos ir embora. Tínhamos dinheiro, comida, coragem. A sirene policial continuava a se aproximar, mas null tomou as rédeas do volante e, logo, não ouvimos nada além dos nossos gritos e o rádio. Todas estávamos bebendo muito e isso não era nada bom. Comíamos, bebíamos, brincávamos. Tudo parecia perfeitamente bem.
- Acelera, null. Temos uma festa para ir! – Eu estava feliz demais. Efeito do álcool.
Olhei pelo retrovisor e vi luzes vermelhas e azuis piscando. Não conseguia ouvir a sirene, talvez devido à altura do rádio e tamanha era minha proximidade das caixas de som. Com certeza a polícia continuava atrás de nós.
- Abaixa o som. – Eu disse, fria.
- Não abaixa! Mais alto! – null estava completamente bêbada. Nem sei como conseguia formar frases inteiras devido a quantidade de álcool que havia ingerido de uma única vez.
- A polícia está bem atrás de nós. – Eu tentei outra vez.
- Melhor encostarem o carro, garotas. Temos muito o que conversar. – Um policial berrou pela janela ao deixar o carro paralelo ao nosso.
null obedeceu ao policial e todas saímos do carro. null mal conseguia se manter em pé de tanto que havia bebido. Parecia pouco, mas ela, que não tem experiência alguma com álcool, estava completamente embriagada. null fingia que nada estava acontecendo e tentava controlar a null. null decidiu acompanhar os policiais, mas não era uma boa ideia já que também estava bebendo. E eu, me borrando de medo como sempre, tentava ser simpática e agradável para tentar nos livrar dessa enrascada.
- Mocinhas, tem álcool demais aqui. – Um dos policiais disse.
- Encontrei uma coisa. – Outro policial gritou, chamando a atenção de todos. null estava branca como um papel. – Armas.
- São de brinquedo. – null logo se apressou. – Esguicham água.
- E esse dinheiro todo? Vocês assaltaram um banco? – Um policial disse em um tom até divertido, mas nós mal assimilamos a piada.
- Estamos indo a uma festa. – Tentei contornar a situação. – Esse dinheiro é do grupo inteiro, estamos indo comprar algumas bebidas.
- Mas e essas bebidas que estão no carro? – Policial adora perguntar.
- São minhas! – null apareceu. – É tudo meu, amigos. Tudinho meu.
- Senhorita, - o policial se dirigiu a null – precisamos que faça o teste do bafômetro. Todas vocês, na verdade. Em seguida, iremos para a delegacia.
- DELEGACIA? – Nós quatro dissemos enquanto trocávamos olhares assustados.
Os policiais apenas balançaram a cabeça em sinal de afirmação.
Cada um deles levaria um carro. Duas de nós foram na viatura e as outras duas no carro da null. Estávamos algemadas. Antes de irmos, fizemos o teste do bafômetro e estava mais que comprovado que todas estávamos alcoolizadas, incluindo null que deveria estar sóbria por estar dirigindo.
Chegamos a delegacia rapidamente e os policiais nos tiraram do carro e nos levaram até uma cela e nos trancaram lá.
- Eu tenho direito a uma ligação. Eu exijo minha ligação. – null berrou da cela.
- Cala essa boca, garota. – Uma policial qualquer disse enquanto passava pelo corredor.
- MINHA LIGAÇÃO. É MEU DIREITO. – null continuou.
Um policial, após revirar os olhos, veio se arrastando e deu permissão para null sair da cela e dar um telefonema.
- Mãe?
- null? Onde você está uma hora dessas? - A mãe da null atendeu.
- Na delegacia. Preciso que você venha nos buscar.
- O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO EM UMA DELEGACIA? COM QUEM VOCÊ ESTÁ?
- null, null e null. Por favor, avisa as mães delas. Precisamos de vocês para sermos liberadas.
- Estamos indo. Por ironia do destino, estamos todas reunidas aqui em casa. Chegamos em 20 minutos.
null foi levada de volta para a cela e nos disse que nossas mães estavam a caminho.
***
Nossas mães chegaram e nem quiseram nos ver. Resolveram o que foi preciso e conseguimos ser liberadas. Vieram em dois carros e fomos todas para a casa da null. A bronca seria coletiva.
- De onde surgiu essa ideia absurda de beber, dirigir, roubar ou seja lá o que vocês fizeram essa noite? – A mãe da null perguntou. null levantou a mão.
- Claro. Isso não poderia vir de outra pessoa. – A mãe da null a acusou.
- O que vocês tinham na cabeça? – Minha mãe disse ainda incrédula.
- A gente só queria se divertir. – null tentou nos defender.
- Caladas. As quatro. Não queremos ouvir uma palavra. – A mãe da null mais uma vez sendo firme.
- O que vocês fizeram não tem lógica, sentido, cabimento. Eu nem sei que tipo de punição vocês merecem. – A mãe da null finalmente disse algo.
- Eu sinceramente quero trancar a null em uma torre igual a Rapunzel e deixa-la presa lá um bom tempo. – Minha mãe era louca.
- Enlouqueceu, mãe? A gente só queria se divertir, não foi nada de mais. – Eu tentava amenizar a situação ainda sob efeito do álcool.
Eu sabia que seríamos castigadas da pior maneira possível. Também sabia que merecíamos qualquer punição que viesse.
Mas o que importava para nós quatro naquele momento era que nos divertimos muito. Mesmo indo parar na delegacia. A gente só queria se divertir e conseguimos. Não tínhamos culpa, medo ou preocupação com o que viria a seguir. Tudo o que importava mais nós quatro era que tínhamos mais uma história para contarmos que vivemos juntos. O quarteto mais diferente, confuso, unido e incrível que existe.
“ E aí, girls. O que faremos hoje?”
Era a null.
“Tenho uma ideia que pode ser interessante...”
null se pronunciou.
“A gente se encontra depois da aula”
Digitei rapidamente e voltei ao meu livro.
Olhei para o céu por um instante. O dia estava lindo, o céu estava lindo e ventava de forma refrescante. Éramos um quarteto e tanto. null era o cérebro do grupo, salvava nós todas nas vésperas das provas e era extremamente inteligente. null era a modelo, tinha um corpo escultural e era considerada uma das garotas mais bonitas da escola, se é que não era a mais bonita. A null era nossa esportista, adorava jogar futebol e era a estrela do time. E tinha eu, null, completando o quarteto, a escritora do grupo.
Todas temos a mesma idade, 16 anos, nos conhecemos quando tínhamos 6 anos em um parque aquático. Nossas mães também se tornaram tão amigas quanto nós. Apesar de sermos tão diferentes, termos vidas diferentes, sempre fomos melhores amigas. Todas sabem de tudo umas das outras, segredos, medos, confissões.
- null? – Eu estava totalmente distraída em pensamentos. – null?
- Oi! – Respondi assustada. – Ei null, desculpa. Estava distraída.
- Eu percebi. – Ela disse. – Você sabe qual é a ideia da null pra hoje? Da última vez quase fomos presas.
- Eu não faço a menor ideia. Mas com certeza será algo perigoso.
- null, você tem certeza de que isso é uma boa ideia? – null questionou enquanto dirigia.
- Claro! É a melhor ideia que tive na minha vida.
- Isso é perigoso. Não sei que eu quero fazer isso. – Eu disse do banco traseiro.
- Confiem em mim. Só vamos fazer compras.
- Sem dinheiro, você quer dizer.
- null, a gente só quer se divertir. Achei que “se divertir” – fiz aspas com as mãos – era beber e fumar cigarros.
- Comigo não. Vocês vão gostar.
null estacionou em uma vaga qualquer no shopping e descemos todas. Fomos andando em direção à entrada principal do shopping enquanto aguardávamos por null para nos dizer qual era o próximo passo.
- O que acham de óculos novos? A Connor está com uma coleção incrível.
Todas assentimos. A gente nem sabia direito o que fazer, então só nos restava concordar.
null explicou detalhadamente o que faríamos. Cada uma de nós entraria na loja separadamente, olharíamos tudo e experimentaríamos os óculos até acharmos um que nos agradasse. Em seguida era só retirar a etiqueta e a proteção presa com senha. A senha era sempre 000, sem a menor criatividade. Se a gente percebesse que estavam gritando por nós era só correr para despistar qualquer segurança que pudesse nos alcançar.
- Eu só posso estar louca por concordar com essa ideia maluca. – Eu disse.
- Shhh. Se separem. Nos encontramos no carro da null. Divirtam-se. – null disse e se afastou.
Entramos na loja, uma para cada lado como conversamos. A gente ia experimentando os óculos e não demorou muito para null escolher o dela, tirou a etiqueta, desativou a trava de segurança e foi andando em direção a saída. Quando chegou na entrada da loja, virou-se, deu uma piscadela e se afastou. A mesma coisa aconteceu com null e null, elas saíram tranquilamente e despercebidas na loja. Faltava apenas eu e estava sem coragem alguma de cometer aquele delito. Era diversão. Era diversão. Tentava me convencer de que não era errado mesmo sabendo que poderia ser presa a qualquer momento.
Eu fiz tudo exatamente como minhas amigas, porém na hora que passei pela entrada da loja o alarme soou e eu não tive outra reação senão correr. Comecei a correr pelo shopping sem nem saber se alguém corria mesmo atrás de mim. Enquanto corria pude ver as meninas vindo em minha direção.
- CORRE! – Foi o que consegui gritar devida distância que estava das minhas amigas.
Elas prontamente atenderam e fomos correndo em direção ao carro da null. A corrida parecia que nunca terminaria, eu já estava exausta.
O carro finalmente chegou, entramos rapidamente e null saiu dirigindo.
- Mas que merda deu errado, null? – null perguntou sentada no banco da frente.
- Eu sei lá. O alarme da loja soou e eu não tive alternativa. Corri.
Todas rimos dentro do carro. O caminho para casa foi até divertido.
- Poderíamos ter sido presas. – null diz. – Nunca mais me arrastem para um lugar desses.
- Isso foi só o começo. – null disse.
- O que as princesas tanto pensam enquanto admiram esse belo dia? – null se aproximou com sua mochila nas costas.
- Estávamos lembrando do dia em que quase fomos pegas com essa sua ideia absurda de roubar óculos em lojas no shopping. – Eu expliquei.
- Vocês nem imaginam o que preparei para hoje. – null continuou. – Sexta-feira. Dia de diversão.
- Espero que não ultrapasse as bebidas e cigarros, coisas que adolescentes normais fazem. – null se aproximou e o quarteto estava completo mais uma vez.
- Agora que estamos completas, vão pra casa, se arrumem. A noite promete. Nos vemos as 19h. – null disse. Soltou beijos no ar para nós e foi para casa.
No horário combinado nos encontramos na casa da null. Decidimos o ponto de encontro por mensagem durante a tarde. Todas nós estávamos muito bonitas mesmo sem nem saber para onde iríamos, com exceção da null que planejou cada detalhe da noite.
- A gente vai se divertir. Eu prometo.
- null, você disse isso da última vez. – null a advertiu.
- Hoje é a vez da null dirigir. – Eu disse e null assentiu.
Nosso combinado era cada uma dirigir a cada saída. A ordem foi sorteada para ficar justo e todas concordamos com o resultado. null é uma excelente motorista e eu vou ao seu lado na parte dianteira do carro. null, como sempre, nos surpreende com as playlists que ela prepara para cada ocasião. Cantávamos ao som de Beyoncé quando null pediu para null estacionar em um fast food que tinha no caminho. Era oficial. A noite havia começado.
- Coloquem essas máscaras para cobrirem seus rostos. O que acham de fazermos um lanche? – null tinha um sorriso maléfico nos lábios.
- Vamos roubar um fast food? Você ta de sacanagem, null? – null sequer desligou o carro. null assentiu sorrindo descaradamente.
- Eu me recuso. – null e eu dissemos em um uníssono.
- Calma. Não é roubar um fast food. É roubar as pessoas que estão lá dentro também. Não se preocupem, depois iremos a uma festa.
- O que você tem em mente? – Decidi concordar. null arregalou os olhos e quase se engasgou com o vento ao me ouvir dizer aquilo.
- Fácil. Olha o que tenho aqui. – null abriu a bolsa e tirou de lá algumas armas de brinquedo. Eram idênticas a armas de verdade, porém, no máximo, liberavam água no rosto das pessoas.
Segundo as orientações de null, cada uma de nós pegou uma arma, uma máscara e descemos do carro. null disse que precisava de álcool para ter coragem de cometer esse delito. null deu vodka a todas nós. Ela tinha mesmo pensado em tudo.
null quis ir na frente. Empurrou a porta do restaurante e deu início ao show.
- Todo mundo em silêncio. Ninguém se mexe. – Ela era boa nisso.
- Eu quero todo o dinheiro que vocês têm. A minha amiga aqui vai passar recolhendo. SEJAM RÁPIDOS. – null colaborou.
Eu passaria para recolher o dinheiro. Se eu tivesse que dizer palavras como essa, com certeza molharia as calças. null berrou para as mulheres da cozinha prepararem nossa comida e todas atenderam na mesma hora. As armas falsas fizeram toda a diferença.
- Anda com essa merda. Eu estou faminta. – null berrou enquanto se debruçava no balcão.
- Muito bem, todo mundo contribuindo. – null assumiu a fala.
- Eu adorei essa blusa, tira e me dá. – null se aproximou de uma garota que parecia ter mais ou menos nossa idade e ordenou pela blusa. A garota, assustada, tirou a blusa e entregou, ficando apenas em peças íntimas.
De longe, pude ouvir uma sirene. Polícia? Eu não queria ficar para descobrir. Até agora não consegui dizer uma palavra. Talvez fosse o meu momento.
- Quem foi o idiota que chamou a polícia? – Eu disse tentando soar firme. Sem respostas. – Ninguém vai se manifestar?
Nos olhamos e decidimos ir embora. Tínhamos dinheiro, comida, coragem. A sirene policial continuava a se aproximar, mas null tomou as rédeas do volante e, logo, não ouvimos nada além dos nossos gritos e o rádio. Todas estávamos bebendo muito e isso não era nada bom. Comíamos, bebíamos, brincávamos. Tudo parecia perfeitamente bem.
- Acelera, null. Temos uma festa para ir! – Eu estava feliz demais. Efeito do álcool.
Olhei pelo retrovisor e vi luzes vermelhas e azuis piscando. Não conseguia ouvir a sirene, talvez devido à altura do rádio e tamanha era minha proximidade das caixas de som. Com certeza a polícia continuava atrás de nós.
- Abaixa o som. – Eu disse, fria.
- Não abaixa! Mais alto! – null estava completamente bêbada. Nem sei como conseguia formar frases inteiras devido a quantidade de álcool que havia ingerido de uma única vez.
- A polícia está bem atrás de nós. – Eu tentei outra vez.
- Melhor encostarem o carro, garotas. Temos muito o que conversar. – Um policial berrou pela janela ao deixar o carro paralelo ao nosso.
null obedeceu ao policial e todas saímos do carro. null mal conseguia se manter em pé de tanto que havia bebido. Parecia pouco, mas ela, que não tem experiência alguma com álcool, estava completamente embriagada. null fingia que nada estava acontecendo e tentava controlar a null. null decidiu acompanhar os policiais, mas não era uma boa ideia já que também estava bebendo. E eu, me borrando de medo como sempre, tentava ser simpática e agradável para tentar nos livrar dessa enrascada.
- Mocinhas, tem álcool demais aqui. – Um dos policiais disse.
- Encontrei uma coisa. – Outro policial gritou, chamando a atenção de todos. null estava branca como um papel. – Armas.
- São de brinquedo. – null logo se apressou. – Esguicham água.
- E esse dinheiro todo? Vocês assaltaram um banco? – Um policial disse em um tom até divertido, mas nós mal assimilamos a piada.
- Estamos indo a uma festa. – Tentei contornar a situação. – Esse dinheiro é do grupo inteiro, estamos indo comprar algumas bebidas.
- Mas e essas bebidas que estão no carro? – Policial adora perguntar.
- São minhas! – null apareceu. – É tudo meu, amigos. Tudinho meu.
- Senhorita, - o policial se dirigiu a null – precisamos que faça o teste do bafômetro. Todas vocês, na verdade. Em seguida, iremos para a delegacia.
- DELEGACIA? – Nós quatro dissemos enquanto trocávamos olhares assustados.
Os policiais apenas balançaram a cabeça em sinal de afirmação.
Cada um deles levaria um carro. Duas de nós foram na viatura e as outras duas no carro da null. Estávamos algemadas. Antes de irmos, fizemos o teste do bafômetro e estava mais que comprovado que todas estávamos alcoolizadas, incluindo null que deveria estar sóbria por estar dirigindo.
Chegamos a delegacia rapidamente e os policiais nos tiraram do carro e nos levaram até uma cela e nos trancaram lá.
- Eu tenho direito a uma ligação. Eu exijo minha ligação. – null berrou da cela.
- Cala essa boca, garota. – Uma policial qualquer disse enquanto passava pelo corredor.
- MINHA LIGAÇÃO. É MEU DIREITO. – null continuou.
Um policial, após revirar os olhos, veio se arrastando e deu permissão para null sair da cela e dar um telefonema.
- Mãe?
- null? Onde você está uma hora dessas? - A mãe da null atendeu.
- Na delegacia. Preciso que você venha nos buscar.
- O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO EM UMA DELEGACIA? COM QUEM VOCÊ ESTÁ?
- null, null e null. Por favor, avisa as mães delas. Precisamos de vocês para sermos liberadas.
- Estamos indo. Por ironia do destino, estamos todas reunidas aqui em casa. Chegamos em 20 minutos.
null foi levada de volta para a cela e nos disse que nossas mães estavam a caminho.
Nossas mães chegaram e nem quiseram nos ver. Resolveram o que foi preciso e conseguimos ser liberadas. Vieram em dois carros e fomos todas para a casa da null. A bronca seria coletiva.
- De onde surgiu essa ideia absurda de beber, dirigir, roubar ou seja lá o que vocês fizeram essa noite? – A mãe da null perguntou. null levantou a mão.
- Claro. Isso não poderia vir de outra pessoa. – A mãe da null a acusou.
- O que vocês tinham na cabeça? – Minha mãe disse ainda incrédula.
- A gente só queria se divertir. – null tentou nos defender.
- Caladas. As quatro. Não queremos ouvir uma palavra. – A mãe da null mais uma vez sendo firme.
- O que vocês fizeram não tem lógica, sentido, cabimento. Eu nem sei que tipo de punição vocês merecem. – A mãe da null finalmente disse algo.
- Eu sinceramente quero trancar a null em uma torre igual a Rapunzel e deixa-la presa lá um bom tempo. – Minha mãe era louca.
- Enlouqueceu, mãe? A gente só queria se divertir, não foi nada de mais. – Eu tentava amenizar a situação ainda sob efeito do álcool.
Eu sabia que seríamos castigadas da pior maneira possível. Também sabia que merecíamos qualquer punição que viesse.
Mas o que importava para nós quatro naquele momento era que nos divertimos muito. Mesmo indo parar na delegacia. A gente só queria se divertir e conseguimos. Não tínhamos culpa, medo ou preocupação com o que viria a seguir. Tudo o que importava mais nós quatro era que tínhamos mais uma história para contarmos que vivemos juntos. O quarteto mais diferente, confuso, unido e incrível que existe.