Última atualização: 01/08/2018

Capítulo Único


… And never dreams that something might be coming?
Just around the Riverbend...


O dia havia amanhecido como todos os outros, era outono, as folhas amareladas caíam das árvores formando um manto em cima da grama seca e do asfalto cinza, contrastando também com algumas flores que teimavam em crescer naquela época do ano em que elas deveriam cair. Uma garota residia na sacada de mais um hotel que havia passado em toda a sua vida, olhava para fora admirando a paisagem e os pequenos prédios que agora tinham naquele lugar. Algumas pessoas elegantes, e outras nem tanto, passando pelas ruas, apressadas com suas pastas, provavelmente indo para alguma reunião de negócios.
A garota suspirou e sentiu a brisa gelada passar por sua pele, balançando seus longos cabelos castanhos, aspirou aquele ar gélido do outono europeu e deixou um sorriso escapar no canto de seus lábios. Estava se sentindo em casa depois de muito tempo, apesar de tudo o que havia acontecido com ela.
null então rumou para dentro do seu quarto novamente, fechando atrás de si a porta que dava caminho para a sacada do hotel onde estava hospedada. Assim que sentou na cama para desfazer sua pequena mala, o som característico do toque do seu celular começou a reverberar pelas paredes do cômodo. Apesar de tanto tempo que havia adquirido aquela tecnologia, ainda não havia se acostumado com aquele toque irritante e preferia passar mensagens para as pessoas a falar com elas por chamada. Olhou no visor e viu o rosto de null sorrindo. Claro que seria null.
— Alô — null atendeu o telefone, sorrindo.
— Olá, querida! Chegou bem? — a voz do outro lado da linha perguntou.
— Cheguei, null! Como se você não soubesse. — as duas riram.
— Você virá aqui em casa? — null perguntou.
— Claro, null! Mas antes preciso fazer uma coisa. — um longo silêncio se instalou entre as duas.
— Sim, querida. — null falou, tentando confortá-la — Tenha o seu tempo.
Então as duas desligaram a ligação.
null passou a mão por entre seu cabelo e secou as palmas das mãos, passando-as da calça jeans, tentando secar o suor que começara a brotar ali juntamente com o nervosismo. Havia muitos anos que null não voltava para aquele lugar, a Polônia do século XXI. Estava muito diferente da Polônia do século XVI, a qual conhecera em meio ao turbilhão de emoções que tomou seu corpo só com aquela menção. null deixou uma lágrima escapar de seus olhos, coisa que não acontecia por aquele motivo, ou qualquer outro que fosse, há muito tempo, como se fosse um sinal, ou algum tipo de conforto. Um vento forte o bastante para abrir a porta da sacada do quarto e balançar as cortinas brancas, preenchendo o quarto todo com um ar gélido parecendo que ali havia um abraço, tratou de secar as lágrimas que insistiam em rolar por sua face corada agora por causa do frio.
null não era desse tempo, havia passado por muitas coisas as quais endureceram seu coração, mas o que mais marcou e machucou o coração, que um dia foi caloroso, foi o evento que começou tudo isso e por esse motivo também havia voltado à Polônia.
Não podia esperar mais, tinha que ir àquele lugar que não ia há vários anos. Pegou sua bolsa e rumou para fora do hotel ao caminho do que antes foi sua casa.
null olhava pela janela do trem que a levava até o interior da Polônia, até Zalipie. As árvores passavam como um vulto misturado ao céu cinzento, deixando como uma pintura abstrata aos olhos da garota. Deixou que algumas lembranças viessem a sua mente enquanto admirava a paisagem.


flashback on

null corria com seus cabelos soltos, fazendo uma dança juntamente com o vento que batia em sua face, deixando-a rosada, corria como se não houvesse amanhã. Foi então que evitou a grande árvore e o lago que costumava ir com seu melhor amigo todas as tardes depois da oração diária.
Podia-se ver ao longe a grande igreja do vilarejo e atrás uma grande casa aonde null morava com várias outras garotas, o orfanato regido pelas freiras e o padre da região. Várias meninas viviam ali, desde meninas que os pais optaram para viver ali pagando alguma promessa que foi feita para alguma santa da época; ou crianças como null, que não sabia quem eram seus pais e a única lembrança que tinha era sempre viver dentro daquelas paredes de madeira maciça e ouvir o sino da igreja na hora da missa todos os dias nos mesmos horários. Era só uma criança, e aqueles momentos a lembravam daquilo, que a vida era simples.
Enquanto corria, pode ver a silhueta de seu amigo, null, jogando pedrinhas no lago e vendo-as quicar.
null! — null gritou, levantando seus braços para chamar a atenção do amigo.
O garoto virou em sua direção e pode-se ver o grande sorriso se abrir para a garota, mas um pequeno detalhe chamou sua atenção: faltava um dente na boca de null, o que não passou despercebido e fez com que null caísse na gargalhada. O garoto imediatamente fechou o semblante, que anteriormente era apenas sorrisos.
— O que houve com seu dente, null — a garota ria enquanto apontava para a boca do amigo.
— Ele caiu! Oras! — o garoto respondeu indignado — Até parece que seus dentes nunca caíram.
— Não que eu me lembre. — null jogou os cabelos para trás em sinal de superioridade.
— Minha mãe disse que é muito normal os dentes das crianças caírem, porque é sinal de que já estão virando homens. — null disse aquilo com muito orgulho, inflando o peito de ar. null revirou os olhos para aquela atitude um tanto quanto boba do seu amigo.
— Deixa com essas ideias bobas, null. Sua mãe disse isso só pra te deixar feliz, porque você está r i d í c u l o — a garota falou a última palavra colocando as mãos na cintura e balançando a cabeça em tom de deboche, o que deixou o garoto com raiva.
— Ah, é? Você vai ver só. — e bateu o pé no chão. — É melhor você correr, null!
Foi então que null saiu de sua posição ameaçadora e bateu em retirada em volta da grande árvore e do lago que eles sempre se encontravam. As risadas e as gargalhadas tomaram conta do lugar

flashback off


null deixou que um sorriso escapasse de seus lábios com aquela lembrança tão pura que invadiu sua mente naquele momento. O trem continuava seu caminho, levando com ele a garota com o coração que partiu há tempo demais. Fez uma parada em alguma estação para pessoas descerem e outras subirem, seguindo o seu caminho logo em seguida. Parecia que agora o transporte ia mais devagar, pois null conseguia ver todas as paisagens que antes eram só um borrão. Agora conseguia observar as crianças correndo pelos parques com seus pais em sua volta, casais sentados nos bancos das praças se conhecendo, e alguns mais velhos passeando de mãos dadas. A cidade parecia tão calma, que, por um momento, sentiu saudade daquele lugar ao invés da movimentada Nova York onde morava.


flashback on

Já era tarde, o sino da última missa já havia tocado há tempos, noviças e freiras já rumavam ao caminho do dormitório para aprontar-se para o momento de dormir e sua última oração.
null já estava em seus 15 anos e se aprontava para se tornar finalmente POSTULANTADO. null penteava seus longos cabelos castanhos em frente ao pequeno espelho velho e sujo que ficava na parade em cima da sua cama. Só havia ali uma pequena cama de madeira com um colchão fino. Na parede, um quadro com a imagem de Nossa Senhora, seu espelho sujo, em cima de sua janela, uma cruz morava. Isso era apenas o que null tinha, alguns pensamentos soltos rolavam por sua cabeça enquanto olhava e penteava seus cabelos, os quais agora, por causa do orneado, deveriam ficar escondidos. Ouviu pedras serem jogadas na sua janela de madeira, que estava fechada para o frio da noite não entrar para o cômodo pequeno, levantou-se calmamente para ver se não era algum bicho preso, abriu sua janela e conseguiu ver quem estava a incomodando em seu momento sagrado.
Era null. Seu coração estranhamente apertou no peito e pode sentir algo se mexendo no seu estômago. Não via o amigo há meses, pois o mesmo havia ido com seu avô, o padre da paróquia, para evangelizar em outros vilarejos.
null... — o garoto embaixo da janela falou baixinho, jogando as pedras no chão.
null... — a garota respondeu — Quando você voltou? — tentou falar com tranquilidade para não transparecer o estranho nervosismo que tomava conta de seus pequeno e magro corpo.
Sem pensar duas vezes, null conseguiu pular a janela do quarto de null –– já que estavam no primeiro andar, não era difícil ––, mas, em todos esses anos que se conheciam, ele nunca havia feito aquilo, talvez por falta de coragem ou talvez porque antes não sentia aquilo borbulhar em seu peito no momento em que viu null parada em frente à porta com suas bochechas rosadas e os cabelos cacheados que não via há muito tempo por conta do véu que usava para escondê-lo.
Os dois parados em frente à janela, embaixo do crucifixo que morava ali em cima, com o vento gélido vindo do lado de fora envolvendo os dois.
null se atreveu a passar a ponta de seus dedos no rosto corado null enquanto a mesma fechou os olhos em reflexo para sentir o toque do garoto. Deixou que seus dedos se perdessem no mar que era aqueles cabelos há tanto tempo escondidos. Por instinto, seus rostos se aproximaram, null não tirou os olhos dos olhos de null, era como se uma ligação estranha partisse de um corpo para o outro, ligando-os de uma maneira estranha, juntando as sensações novas nos pequenos corpos que borbulhavam a todo vapor aquele momento. As mãos tremiam e suavam como nunca antes na vida, os corações batiam como asas de colibri as ocas entreabertas em um momento de desejo ingênuo, querendo uma a outra. null tomou coragem e colou os lábios, null respondeu ao toque, suas mãos então foram parar na cintura do garoto, aproximando ainda mais os corpos. O vento gélido agora mais forte lá fora entrou pela pequena janela enchendo o cômodo com uma atmosfera gelada apagando todas as velas ali antes acesas. Aquele momento parecia que duraria a vida inteira.
Os lábios se desencontraram e dois adolescentes envergonhados residiam no mesmo lugar, agora mirando os pés um dos outros, onde antes os olhos estavam conectados.
— Eu senti a sua falta — null disse, quebrando o silêncio, deixando um sorriso escapar de seus lábios e olhando novamente para o garoto parado em sua frente.
null abraçou a garota tão forte como se não quisesse que fugisse de entre de seus braços.
— Eu também, pequena. Eu também. — foi só o que foi dito aquela noite antes de null sair do quaro de null às pressas, e foi ali que tudo começou a mudar.
Depois daquela noite, algo havia mudado, mas nenhum deles queria admitir que entre a amizade perfeita de antes havia mais alguma coisa. Rotularam aquela noite como a ''a noite da saudade'', em que foram movidos por sentimentos e que não estavam em seu juízo perfeito.
A pessoa que mais se justificava era null, não queria que null saísse dos caminhos que já estavam traçados para ele há anos, com o seu avô já muito velho e seu pai falecido, a família queria que o rapaz virasse o próximo padre da cidade, mesmo aquilo não sendo algo que aflorasse a vida do garoto, mas null sabia que nada poderia mudar o destino dos dois. Ela seria freira e ele padre.
Alguns anos se passaram depois daquela ocasião, o Padre Kristofer não olhava para ela da mesma forma que sempre olhou desde que era criança, agora olhava-a com desprezo e evitava falar com null nos corredores da paróquia.
Há muito tempo havia rumores de bruxas por todo o país e null ouvia desde sempre algumas histórias que as freiras contavam para ela, mas ali tal mal nunca havia chegado.
A garota estava sentada encostada na árvore, dando de comer para os patos que nadavam no lago. Era verão e podia se ouvir os pássaros cantando nas árvores e alguns outros bichos correndo por dentro da floresta e da campina. Pode ouvir o sino tocar avisando que era o início da missa, mas não se levantou para sair correndo em direção à Igreja. Não queria, não hoje, estava estranhamente deprimida. Os pães que havia levado para alimentar os patos já haviam acabado e agora estava simplesmente encostada à árvore, abraçando suas pernas com os braços e descansando sua cabeça entre eles, olhando para o horizonte. Já havia caído a noite e o vento gélido já se fazia presente no ambiente, mas null não sentia nada, apenas as lágrimas que teimavam em cair por sua face. A escuridão já estava presente, de longe pode ouvir gritos e ovações. Mais uma mulher havia sido morta porque acreditavam que fazia bruxaria. Não aguentava ver, ouvir ou sentir o cheiro de carne queimada que subia e parecia que entranhava em cada cômodo de cada casa daquele vilarejo e em sua roupa, sua pele. Não queria mais voltar para aquele lugar, queria fugir dali, mas para onde ir? Não tinha família, não tinha ninguém que poderia lhe acudir naquele momento.
As lágrimas secaram, os gritos e ovações haviam terminado e o dia havia raiado, null continuou no mesmo lugar sem mover nem um músculo.
Ouviu seu nome de longe, cada vez mais alto e desesperado, mas nada importava.
null! null!
Levantou sua cabeça por um instante e viu null à sua frente com as feições preocupadas. Abraçou-a em um rompante e pode ouvir seus soluços enquanto chorava com null entre seus braços. Suas lágrimas se juntaram às dela e não sabiam há quanto tempo já estavam ali em meio ao um turbilhão de emoções que vazavam em lágrimas.
null... — null disse com a voz embargada — O que houve?
— Nada... Eu apenas fiquei aqui... — null respondeu, simplesmente olhando novamente para qualquer lugar que não fosse para null.
— Eu fiquei tão preocupado com você ontem à noite.
— Por quê?
— Nada...
null, me diz...
null... Eu te amo. — aquilo saiu dos lábios de null como se fosse algo que já estava para ser dito há muito tempo, há anos, há muitos anos. Mas que estava guardado dentro do seu peito.
null olhava para null atentamente, pensando que aquilo tudo que estava acontecendo era apenas uma alucinação, não sabia, ou não queria admitir que queria ouvir aquilo e queria dizer também, mas não podia.
null... Eu... A gente...
— Shiu.. — null colou seus lábios novamente com a intenção de calar null e qualquer palavra que não fosse de amor.
— Nós podemos fugir de você quiser, pequena, eu quero ficar com você... Eu quero viver com você! Nada no mundo é mais importante do que estar assim, com você entre meus braços... Podendo sentir o calor da sua pele, o cheiro dos seus cabelos. — falando isso, null tirou o véu que cobria os longos cabelos cacheados deixando-os livres, jogando aquele pedaço de pano longe — Eu quero me casar com você, quero uma família, quem sabe 3 filhos?
— Mas, null, seu avô nunca vai deixar isso acontecer, você será padre desse lugar...
— Eu não me importo com isso, meu amor — aquelas últimas palavras entraram pelos ouvidos de null de uma maneira que encheu seu peito de alegria. — Por favor, vamos fugir, vamos ficar juntos.
— Quando vamos fazer isso? — null perguntou um pouco incrédula.
— Hoje! Agora! Se você quiser, nesse momento! O mundo será nosso! — o garoto falava, levantando seus braços para o céu de uma maneira engraçada. Antes onde havia lágrimas e uma tristeza estranha, agora null estava deixando que a felicidade entrasse por seus poros, deixando uma pontada de esperança de que seria feliz com null ao seu lado, que finalmente teria uma família junto a ele.
— Ok. — ela disse simplesmente.
— O quê!? Você aceita!? Não acredito. Sou o homem mais feliz do mundo — null gritou em felicidade, fazendo os dois rirem em seguida.
Não se sabe ao certo quanto tempo ficaram ali, enroscando em seus abraços, em seus calores, e alguns beijos castos e roubados debaixo daquela grande árvore com o barulho dos patos e da água do lago como testemunhas do amor que foi sendo criado e cultivado há tantos anos finalmente ganhando vida.
Foi como um estouro, uma explosão, gritos e ovações começaram a ser escutadas. Já havia anoitecido e não haviam percebido em meio as carícias e sorrisos.
Os gritos ficavam mais altos.
Cada vez mais altos.
Cada vez mais perto.
E pode-se ouvir:
— Bruxa! Bruxa! Queimem a bruxa!
Uma multidão com tochas, enxadas e lanças ia em direção ao lago onde estavam os recém namorados alheios a qualquer coisa, mas aquele barulho tirou-os de dentro da bolha de paixão em que estavam.
— Bruxa! — e mais alto. Foi então que os dois, no escuro da noite, viraram-se e observaram a multidão indo de encontro a eles. Não estavam na cidade fazendo mais um sacrifício, cometendo mais um assassinato, estavam ali na floresta em direção a eles. Em direção a ela.
null se desesperou.
null, vamos, vamos, pequena! Precisamos sair daqui. Depressa. Agora! — null disse aquelas palavras com urgência na voz, talvez tentando disfarçar o desespero, mas em vão, pois null, assim que viu as pessoas marchando para onde estavam, sabiam mesmo que no fundo de sua alma, que aquilo era para ela, mesmo sem razão alguma aparente.

flashback off


null já havia descido na última estação, aquela onde iria saltar para ir de encontro ao seu destino, já sabia de cor e salteado de tantas vezes que já havia estudado esse caminho antes de finalmente voltar ali. Mesmo estando completamente diferente de como era há vários séculos, null reconheceu o lugar, o vilarejo onde havia crescido.
Havia uma praça com algumas crianças correndo de um lado para o outro, com bancos pintados de cores divertidas, contrastando com o amarelado das folhas caídas na caixa de areia,. Por todo o dia, o sol se manteve escondido por trás das nuvens acinzentadas cheia de chuva, mas, naquele momento, o Sol apareceu por entre as nuvens, banhando com alguns raios solares aquele lugar.
null andava lentamente, fechando o zíper do seu casaco e apertando os braços em sua volta, na esperança de afastar o frio que, mesmo com o Sol aparecendo por alguns instantes, ainda teimava em cortar. Sabia que aqueles atos eram porque os abrasadores sentimentos e dores daquele dia estavam vindo como uma onda, destruindo as barreiras que havia construído em séculos, junto com todas aquelas memórias felizes, mas que a deixavam angustiada.
A garota caminhava, aparentemente sem rumo, por todo aquele lugar, mas sabia que tinha um único destino. Estava indo para o lugar onde havia sido morta e onde tinha sido a última vez que havia visto o seu amor.


flashback on

Palavras de ordem eram ditas juntamente com seu nome por todas aquelas pessoas que estavam ali. Gritavam com agressividade em meio àqueles rostos conhecidos dos amigos com quem havia crescido no vilarejo e com quem brincava todos os dias, ou os órfãos com quem cresceu a vida toda. Sua família a queria morta. Em meio àquela multidão, emergiu o avô de null com a expressão de horror e ódio direcionado à garota, que estava nos braços de seu neto, e, com uma força gutural, puxou-a pelo braço com a intenção de afastá-la de null.
— Bruxa! Aqui está a bruxa que tirou meu neto do caminho do Senhor! — o padre gritava a plenos pulmões com os olhos transbordando raiva.
A partir dali, tudo parecia ter acontecido lentamente. Desde o momento em que a arrancaram dos braços do homem que amava com agressividade, o momento em que o homem que a viu crescer gritou que ela era uma bruxa, uma vagabunda; desde sendo arrastada, xingada e cuspida pelos rostos conhecidos das pessoas que haviam crescido com ela, seus amigos a arrastando.
A arrastando para a morte.
Apesar de todas aquelas pessoas à sua frente, a única que importava e que seus olhos captavam era o rosto de null em desespero, tentando se soltar dos braços dos dois homens que o impediam de ir até ela. Via o rosto do homem que amava cada vez ficar mais distante e que, em meio ao desespero, conseguiu gritar que a amava, logo em seguida, levando um murro e caindo desacordado.
Diferente do que haviam feito com as outras moças que foram acusadas de bruxaria, decidiram não queimá-la viva, mas sim afogá-la.
Foi colocada de pé em cima da ponte que ligava o vilarejo onde morava com outros vilarejos. Queriam deixá-la morta ali, bem na entrada, para que todos soubesse que naquele lugar bruxas não seriam aceitas, e porque ela havia estado com o neto do padre.
Estava sendo condenada por pecados que nem sabia que haviam sido cometidos, estava sendo condenada por amar.
Amarram uma corda grossa com uma grande pedra na ponta, que só conseguiu ser erguida por três homens. As lágrimas não paravam de rolar em seu rosto, o vento vinha tão forte que era possível ouvir seu assovio, as árvores balançavam de tal maneira que entortavam seus galhos de uma maneira nunca vista antes. null apenas conseguia mirar seus pés descalços e seus braços recém machucados por aquela gente que um dia havia sido sua família. Levantou sua cabeça e observou a sua volta, na esperança de que alguém submergisse daquela multidão e a tirasse dali, a salvasse da morte eminente.
O padre se posicionava em cima de um caixote improvisado com seu terço e sua bíblia nas mãos. Por um breve momento, as pessoas pararam de mirá-la e xingá-la e levaram sua atenção para o homem pálido de cabeça grisalha que lia um versículo da bíblia, mas todos sabiam que o homem já sabia de cor o que iria dizer a partir dali.
— ''Fora ficam os cães, os que praticam feitiçaria, os que cometem imoralidades sexuais, os assassinos, os idólatras e todos os que amam e praticam a mentira.'' — o mais velho citava o Apocalipse — Agora mataremos mais uma abominação do demônio! Mataremos uma a uma até conseguirmos expulsar o pecado do mundo e as abominações que o propagam!
Em um rompante, null sentiu ser jogada para dentro daquele rio, com as veste rasgadas e o sangue escorrendo das suas feridas recém adquiridas. A pedra amarrada em seus pés não deixou que a chegada até a água fosse demorada, fechou seus olhos com toda a força que tinha, fazendo a última lágrima escorrer de seus olho e se misturar à água, que havia batido com toda a força.
Em meio ao desespero, com seus olhos fechados, conseguiu ver, em sua imaginação, o rosto de null em sua frente, lhe sorrindo em todas as épocas da sua vida: desde a infância, quando roubavam frutas das árvores da paróquia, ou quando faziam alguma travessura com as madres; até mesmo o primeiro beijo roubado quando null havia voltado de mais uma viagem com seu avô. Mas, antes que a água tomasse conta de suas vias aéreas, a última lembrança que veio à sua mente foi o momento em que null disse que a amava. Logo depois, a escuridão tomou conta.

flashback off


A tirando de seus pensamentos e memórias mais profundas, seu celular tocou, revelando ser null com sua foto sorrindo no visor do aparelho.
— Alô. — null se limitou a dizer com a garganta seca.
— Olá, querida. — a mais velha disse do outro lado da linha — Como você está?
— Eu estou bem. Achei que seria mais difícil, mais doloroso, mas... estou bem. — null disse aquelas palavras olhando para o horizonte e deixando uma lágrima teimosa rolar por sua bochecha.
— Aí, querida... você não sabe como me arrependo das coisas que fiz, das coisas que fizemos você sofrer.
— Nada disso, null! Você me salvou de todas as formas que eu poderia imaginar, pôs sua vida na frente da minha. Eu sou muito grata por você ter feito isso.
Com essas palavras, mais uma lembrança veio à sua memória como uma enxurrada.


flashback on

Não sentia suas pernas nem seus braços. Na verdade, não sentia nada, era como se um torpor tomasse conta de todo o seu corpo, era como se estivesse flutuando ou boiando em direção ao nada. Foi quando uma queimação tomou conta de sua garganta e uma dor de cabeça dilacerante passava pela sua cabeça, o torpor que anteriormente era dono do seu pequeno corpo machucado, deu lugar a dores por toda a extensão dele.
Seus sentidos começaram a voltar lentamente ao normal, conseguiu abrir lentamente seus olhos e o que viu foi apenas escuridão, total e completa escuridão.
Estava morta. Teve certeza disso.
Seu nariz começou a captar algum cheiro, cheiro de algo queimando.
Cheiro de carne queimando.
Estava morta. Estava no inferno.
Uma sensação de desespero tomou conta de seu corpo, descarga de adrenalina foi jogada por toda a parte, fazendo com que seu coração batesse mais forte e ela ouvisse os batimentos no seu ouvido. Quando conseguiu virar sua cabeça em outra direção, viu uma silhueta de costas para ela e uma grande fogueira à sua frente. A coisa, que antes estava concentrada em seus afazeres, percebeu que algo havia se mexido, que null havia se mexido.
Virou-se para ela e null, num instinto e em um ato um tanto quanto infantil, fechou seus olhos com a força recém adquirida, na intenção de que a silhueta não a visse ou que pensasse que ainda estivesse morta.
null... — a voz disse e pode sentir que estava se aproximando.
null... — disse mais uma vez, mais próxima.
A garota reconheceu a voz. Era null.
Meu Deus, seria possível? null também era uma bruxa e foi morta juntamente com ela? Não, não havia a visto em parte alguma quando foi assassinada.
Em um momento de coragem, abriu seus olhos lentamente para ter certeza que seria a voz de uma pessoa conhecida ali naquele lugar escuro.
— Oh, null... Você está viva... — null disse em um fio de voz, tampando o rosto com suas mãos.
null não conseguia entender nada, como estaria viva? No momento em que sentiu suas vias sendo inundadas pelas águas daquele rio, sentiu a morte vindo em sua direção, sabia que dali em diante não seria mais nada a não ser uma lembrança boa para poucas pessoas e uma lembrança amaldiçoada para muitos.
— O... Que. Houve... — tentou dizer em meio às dores.
— Oh, querida, eu vou te contar tudo. — a mulher tirou suas mãos do rosto, em que antes havia uma expressão de desespero e que agora voltava à expressão de mulher mais velha centrada e tranquila, a expressão que null sempre reconheceu em null. — null, nós somo bruxas. — disse claramente.
— O quê? — a garota estava assustada.
— Sim. Deixe-me te contar tudo. — a mais velha deu um longo suspiro e começou a sua história. — “Há milhares de anos, havia, na Terra, elfos, fadas, deuses, ninfas e nós, as bruxas. Vivíamos em uma harmonia velada, tínhamos muitas regras e leis para que nenhum desses povos entrasse em conflito e quebrasse tudo o que haviam conseguido há muitos anos. Depois de uma batalha sangrenta com os vampiros, que queriam de uma vez por toda tomar conta, se tornar o clã mais poderoso de todos os reinos e tomar o lugar dos deuses, perdemos pessoas de todas as formas e de todos os reinos, havia muito sangue. Em todas aquelas perdas, Zeus tinha uma última arma que poderia jogar contra todos esses que tentavam destruir a harmonia dos reinos por conta do poder.
”A última arma do apocalipse seria seu raio, que, quando fosse jogado, não mataria só os opositores, mas conseguiria extinguir grande parte de pessoas inocentes e de seus leais seguidores — null deu um suspiro longo e continuou contar a sua história. “Houve uma grande luta entre Zeus e Ambrogio, o vampiro que havia começado toda aquela guerra. Em um ato de coragem e ressentimento, Zeus jogou seu raio com todas as forças que tinha em seu corpo, acabando com Ambrogio e dizimando terras.”
— O quê? Não pode ser... — null olhava espantada para null.
—”Zeus também havia morrido, havia feito um sacrifício para que a harmonia e as criaturas que sobrevivessem pudessem continuar vivendo e perpetuando a espécie. Com isso, seu filho mais velho, Apolo, se tornou o grande deus, mas seria necessário firmar um acordo mais forte de um jeito que Ambrogio e seus seguidores continuassem mortos e não pudessem reviver. Sua mãe, null, era a princesa de uma grande linhagem de bruxas, as do Ar, que tinha um grande poder entre guerra. Sua mãe era Margery Jourdemayne, com a morte de seus pais, também na grande guerra, foi obrigada prematuramente a tomar conta da grande linhagem.
Os dois povos mais fortes e que, por consequência, haviam sido os sobreviventes, foram eleitos os grandes poderosos da antiguidade, tendo então firmado um acordo selado com o casamento entre os Deuses e os Bruxos. Aqueles tempos foram os mais produtivos de todas as formas do mundo. Seus pais, apesar de tudo, eram felizes juntos, e dessa união nasceu você, null, aquela que une a beleza e que cativa os homens. Você, querida, foi a única criança que nasceu de uma relação entre um deus e uma bruxa. Foi uma grande festa, você era a o símbolo da união estável que aquela aliança trouxe. Nesse momento, foi selado que você deveria unir mais um povo com os deuses e as bruxas, você deveria se unir ao clã dos lobisomens para fortalecer a unificar ainda mais os reinos. O príncipe com quem você deveria se unir era null Lowe.
— O quê? — em um rompante, null se levantou de onde estava, esquecendo qualquer dor que antes tinha em todas as suas terminações nervosas. — null? null Lowe? Meu null? — null fazia aquelas perguntas completamente confusa. Como assim? Que história era aquela? Como seu melhor amigo e seu amor poderia ser um lobisomem, estando prometidos ao matrimônio há séculos, e, meu Deus, como ela poderia ser uma bruxa?
— Sente-se, querida, é melhor. — null pousou sua mão sobre o ombro de null, que pode observar que estavam faltando três dedos de sua mão direita.
null... seus dedos? O que houve? — disse horrorizada, olhando para suas mãos e para o rosto da mais velha.
— Sente-se, que lhe contarei isso também.
null sentou novamente no chão, mas agora encostada em uma pedra, pois as dores haviam voltado, lhe dilacerando de dentro para fora.
— “Então, vocês se conheciam desde sempre — null continuou sua história —, desde a infância brincavam juntos e era engraçado, era como se vocês dois tivessem nascido um para o outro, e que, antes mesmo daquela aliança ter sido selada, seus corações já estavam prometidos um ao outro. Quando completaram 19 anos, seria o momento certo para o casamento, mas não esperávamos o que tinha por vir.
”Ambrogio havia tido um filho com uma humana, gerando o maldito Lestat, que, desde o ventre da sua mãe, tinha a promessa de acabar com tudo o que não ficasse aos seus pés e vingar a morte de seu pai e a quase extinção de sua espécie.
No dia da grande festa, quando você se uniria ao null, Lestat invadiu o reino com grande força. Ele havia conseguido unir forças com os humanos, eles tinham armas que nem nós conseguiríamos manter distantes por muito tempo. Tomamos a decisão de que precisávamos salvar suas vidas. Unimos as bruxas e bruxos mais poderosos de todo o reino, juntamente com os deuses, e fizemos um grande feitiço que congelaria nossas almas dentro da grande cripta e, no momento certo, as despertaria.
Lestat conseguiu invadir o castelo e a cripta enquanto estávamos finalizando o feitiço, fazendo com que nós apenas conseguíssemos guardar sua alma e a de null, e que o meu corpo fosse congelado para que, quando eu acordasse, guiasse os dois novamente um ao outro e retomássemos a paz.
— Mas como? Como eu não me lembro de nada disso? Se você congelou nossas almas com 19 anos como eu me lembro da minha infância com null aqui?
— Porque, no momento em que soltei suas almas novamente para que pudessem se encontrar, foram para as crianças que estavam nascendo naquele momento.
— Mas, null... null sabe disso?
— Não. Ele não sabe de nada disso. Apenas saberia se nós fizéssemos um feitiço de revelação.
— Como assim, quando morresse? — null indagou.
— Vocês, nós, somos imortais.
— Mas eu senti como se estivesse morta, como?
— Eu também não entendo, null. Quando te resgatei da água, você deveria depois de minutos acordar novamente, mas não acordava, fiz um feitiço para ver sua linha da vida e já estava por um fio, precisei fazer um feitiço de ressurreição e, por isso — null levantou sua mão direita agora com quatro dedos —, tive que fazer um pequeno sacrifício para te trazer de volta à vida.
— Precisamos voltar e salvar null!
— Não. Não podemos. Agora minha prioridade é você! Não sei por qual motivo, de um dia para o outro, resolveram te acusar de bruxaria ou como descobriram sobre você. Precisamos sair daqui e ir para o mais longe possível.
— Não. Não. Não! — null parecia uma menina mimada — Precisamos salvar null! — era como se uma chama de esperança tomasse conta do seu pequeno corpo machucado. Não poderia deixar null para trás!
null, se voltarmos, vão matar nós duas! Precisamos ir para o mais longe possível, e depois nós voltamos e salvamos a vida de null.

flashback off


null já havia terminado da ligação e agora ia de encontro à beira do rio onde null havia a encontrado e retomado novamente sua vida. Agora ali havia uma escola de ensino médio, poderia ver alguns alunos correndo, pois provavelmente era o horário da saída. Pais e crianças se misturavam à paisagem gélida do lugar. Apertou ainda mais os braços em sua volta na esperança de se aquecer, ela sabia algum feitiço de aquecimento, mas não usaria ali, queria sentir cada vibração, cada textura, tudo que aquele lugar lhe proporcionava e, por alguns momentos, o frio apaziguava a dor que estava sentindo em seu coração.
Foi então que o viu, o mesmo cabelo castanho, o mesmo sorriso com a covinha na bochecha direita, conversando e rindo com alguns adolescentes que estavam em sua volta prestando atenção em tudo que ele falava.
Não podia ser. null sentiu em seu corpo uma descarga elétrica, seu coração bateu tão forte, bombeando sangue para o seu cérebro tão rápido, que se sentiu tonta, se segurou na árvore que estava ao seu lado. A respiração acelerada fez com que seu peito subisse e descesse de um modo acelerado. Quando percebeu, algumas lágrimas saíam de seus olhos e pingavam na grama, que, estranhamente, debaixo daquela árvore, estava verde, diferentemente do restante do parque, que estava banhado pela cor marrom do outono.
Não. Não podia ser! null estava vivo. Não. Era uma ilusão da sua mente já cansada de sofrer pelo homem que amava. Depois de um tempo que havia fugido com null do vilarejo onde crescera, elas retornaram com a intenção de resgatarem null de qualquer vida que não fosse estar do lado de null, mas, chegando lá, souberam que, meses depois do assassinato de null, ele havia se tornado padre e logo em seguida se jogado de cima do lugar mais alto da igreja onde ministrava a missa juntamente com seu avô. Não havia conseguido superar a morte da mulher que amava. null havia dito que, se ela ou null ceifasse a própria vida, eles nunca saberiam o que realmente tinha acontecido na sua vida passada e que não conseguiriam fazer o feitiço de ressurreição.
Em um ímpeto de coragem, levantou sua cabeça novamente em direção aonde havia visto a alucinação do amor da sua vida e o mesmo estava olhando em sua direção com uma expressão de espanto.
null encontrava-se encostada na árvore do outro lado do rio onde costumava se encontrar com null desde sempre. Os olhos se encontraram com o rio separando os dois, foi como se uma conexão instantânea se estabelecesse ali. Não se sabe ao certo quanto tempo ficaram se mirando, se reconhecendo, se amando. Pode ver que null veio correndo em sua direção sem se desconectar da ligação que seus olhos haviam estabelecido.
null parou a alguns passos de null. Os corpos estavam trêmulos e os corações batiam tão rápido que escutavam as batidas nos ouvidos, os olhos marejados com lágrimas. null deu um passo para frente na esperança de diminuir a distância entre os corpos quentes cheios de saudade e perguntas sem respostas, null mantia as mãos junto ao peito com medo que ele saísse do seu peito. null já chegava cada vez mais perto com as mãos indo em direção ao seu rosto para poder sentir novamente sua pele macia em suas mãos depois de tantos anos.
null... — null disse apenas.
E, como se fosse a primeira vez que se beijavam, null tomou os lábios de null para si. Os lábios se encontraram com paixão, mas com delicadeza, na intenção de se sentirem novamente. Seus toques, seus gostos, nada havia mudado depois de tantos anos, depois de tantos séculos! Separaram seus lábios durante alguns minutos, juntaram suas testas, fechando seus olhos para sentir ainda mais aquele momento, os dois com medo de que aquele momento fosse terminar em um piscar de olhos. Era como se debaixo de suas peles houvesse brasa e uma saudade que tomava forma, deixando o ar do lugar quente.
Abriram seus olhos lentamente, na esperança de ainda estarem ali e que não fosse apenas um sonho. Onde havia tristeza, mágoas e culpas, tomou conta um amor que superou obstáculos e que estava destinado a mantê-los juntos.
null... meu amor. — null disse mais uma vez enquanto dava pequenos beijos por toda a parte do rosto da garota. — Eu pensei que nunca mais te veria!
— Meu amor, eu achei... achei que você estivesse morto. — null disse aquelas palavras com dor. — O que aconteceu? Eu soube que você havia morrido.
— Como vou começar a explicar isso? — null suspirou e continuou — Após a sua morte, eu me desesperei, mas eu me mantive em pé por causa da comunidade, eles precisavam de mim após meu avô ter falecido. Sua lembrança se manteve viva em minha memória, me dando força para acabar com aquela matança de jovens inocentes que estava acontecendo em nosso vilarejo.
— Eu soube que você tinha se jogado da torre da igreja, que você tinha se matado.
— Não. Eu nunca faria isso. Depois que conseguimos diminuir e muito, quase que desarmando esses assassinatos a jovens, eu comecei a receber algumas ameaças e logo em seguida tentaram me matar, me jogando de cima da igreja. Eu acordei dentro de uma cova rasa com terra por todos os lugares e com lembranças que eu achava não serem minhas. Eu vi o dia em que meus pais e seus pais morreram, eu vi nós dois correndo junto com a madre null, vi uns seres que nunca imaginava existir, eram lembranças demais que vinham na minha memória, como um soco no meu estômago. Eu consegui sair da cova, mas para onde eu iria? Se eu voltasse para o vilarejo, as pessoas se assustariam, eu estava morto com o pescoço virado ao contrário e agora eu estava em pé, andando em direção a eles? Então, em meio a todas aquelas lembranças, me veio uma de que nós dois não poderíamos morrer. — nesse momento, null deu um pequeno sorriso, passando os dedos novamente nas bochechas de null, que o sorriu de volta. — Fui atrás de você, mas não tinha por onde começar, eu não tinha ideia. Fiz algumas pesquisas e achei uma família de lobisomens que me encontrou dormindo em uma floresta, eles me acolheram e aí eu tive ainda mais suporte para ir atrás de você, mas, Deus! Eu nunca te achava. — ss dois se permitiram rir.
— Eu acho que você nunca me acharia. Depois que null me acordou e me contou tudo o que havia acontecido comigo, o que havia acontecido com a gente, ela pôs um feitiço de proteção.
— Tem alguns anos que eu decidi voltar para cá, comecei a dar aula nessa escola na esperança de você voltar para cá e eu te encontrar.
— E cá estamos nós. — a garota disse, abraçando mais uma vez null. — Juntos de novo, apesar de tudo o que passamos para chegarmos até aqui.
Debaixo daquela mesma árvore onde tudo havia começado a degringolar, debaixo daquela árvore onde foi retirada com brutalidade dos braços do amor da sua vida. Depois de tantos anos, eles conseguiram compreender que o amor dos dois vinha de séculos e séculos antes, que estavam predestinados a terminarem juntos, inicialmente para selar a paz entre os povos da antiguidade, mas, agora, no século atual, nada disso tinha mais prioridade em suas vidas. Agora a prioridade era o amor que foi tentado ceivar várias vezes, o amor que durou e que permaneceu depois de vários séculos, aquele amor que ninguém consegue explicar: o primeiro amor.
Ali, com as árvores e o céu como testemunhas daquele grande amor que finalmente tomava forma, os dois fizeram juras de amor que, a partir daquele momento, seja qual for a dificuldade ou leis cósmicas de séculos anteriores, nada os afastaria, pois eram imortais e seu amor também.


Fim.



Nota da autora: Meninx espero que tenham gostado da história porque nossa! Como eu amei escrever! Estou pensando em até transformar essa em longfic. Qualquer coisa se quiser conversar comigo vocês me acham no twitter @gottabebts ou no instagram @eitamisha.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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